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HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORANEO Prof. Maurício Bertola Aula 1: A Revolução de 1930 e o início da “Era Vargas” HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORANEO Aula 1: A Revolução de 1930 e o início da “Era Vargas” CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DESTA AULA: . Compreender o impacto da crise econômica de 1929/30 na economia brasileira; . Analisar os antecedentes e o desenvolvimento do movimento revolucionário de 1930 e suas consequências político econômicas da chamada “Era Vargas”; . Analisar a historiografia sobre a Revolução de 1930; HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORANEO Aula 1: A Revolução de 1930 e o início da “Era Vargas” INTRODUÇÃO: Procuraremos analisar o impacto da Revolução de 1930 na sociedade brasileira, as alterações de caráter econômico, político e sociais desencadeadas pelo movimento e suas relações com o ambiente político-econômico mundial. Também observaremos a forma como os historiadores analisaram e interpretaram a revolução do ponto-de-vista de seus componentes sociais constitutivos HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORANEO Aula 1: A Revolução de 1930 e o início da “Era Vargas” . Ao longo da 2ª metade do século XIX e dos trinta anos iniciais do século XX, consolidou-se no Brasil uma nova forma de inserção na economia mundial: A Economia Cafeeira. Tratava-se de uma nova articulação da velha estrutura econômica baseada na exportação, no latifúndio monocultor e, até 1888 no trabalho escravo, agora ligado ao Capitalismo Industrial Monopolista. O Estado Imperial, dominado pelas Elites Senhoriais Escravistas e depois da Proclamação da República pelas Oligarquias cafeeiras, excluía a maior parte da população da participação política através de uma série de práticas no qual se destacava o “voto de cabresto” e o “coronelismo”. HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORANEO Aula 1: A Revolução de 1930 e o início da “Era Vargas” Porém, o crescimento urbano-industrial e a imigração levaram ao crescimento do movimento operário e das classes-médias, que demandavam participação política. Movimentos grevistas eram tratados pelos governos oligárquicos como “caso de polícia” e a repressão era intensa. Nas classes-médias urbanas o descontentamento foi expresso por um difuso mas mui atuante movimento de militares de baixa patente, denominado “Tenentismo”, cujas ações radicais produziram o levante dos “18 do Forte de Copacabana”, a revolta de 1924, a “Comuna de Manaus” e a “Coluna Prestes”. Os “Tenentes” propunham um conjunto de reformas políticas que incluíam o voto secreto, educação pública e o fim do exclusivismo político das oligarquias. HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORANEO Aula 1: A Revolução de 1930 e o início da “Era Vargas” CONTINUAÇÃO Em 1929 sobreveio a Crise Econômica Mundial, desencadeada pela “quebra” da Bolsa de Valores de Nova York, que logo generalizou-se por toda a economia mundial e afetou duramente a Economia Cafeeira. Entre 1929 e 1939 o preço do café no mercado internacional despencou 70%, estando os estoques altos. As reservas cambiais brasileiras, da ordem de 30 bilhões de libras esterlinas, em fins de 1930 esgotaram-se, a renda monetária caiu 30%, o preço dos importados subiu 33% e o governo desvalorizou o Mil-Réis. A Oligarquia cafeeira paulista, principal beneficiária do regime da República Velha, estava falida, e com ela o sistema político. HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORANEO Aula 1: A Revolução de 1930 e o início da “Era Vargas” Em meio à crise, o presidente Washington Luís contrariou os acordos prévios da “política do café com leite” (aliança com a oligarquia mineira) indicando um também paulista para sucedê-lo, Julio Prestes, cujo objetivo era tentar manter a primazia paulista. A oligarquia mineira “deu o troco” aliando-se aos gaúchos, chefiados por Getúlio Vargas e paraibanos, cujo candidato à vice era João Pessoa. Esses grupos políticos fundaram, a Aliança Liberal para concorrer às eleições presidenciais de 1930,e cujo programa pregava o voto secreto, a independência do judiciário, a anistia para os tenentes (envolvidos nas diversas rebeliões ao longo dos anos 1920), a proteção à exportação do café e reformas sociais, como a proteção aos trabalhadores e a educação pública gratuita. HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORANEO Aula 1: A Revolução de 1930 e o início da “Era Vargas” Derrotada nas eleições, eivadas de fraudes e violências, a Aliança Liberal e Getúlio Vargas ainda tentaram compor com Washington Luís e Julio Prestes, mas, dada a recusa desses, o movimento revolucionário foi desencadeado a 3 de outubro de 1930, sendo depostos 8 governadores nordestinos pelos “Tenentes” liderados por Juarez Távora. No dia 10 Getúlio lançou um manifesto e partiu para o Rio de Janeiro e o confronto entre rebeldes e o governo parecia inevitável, mas altos chefes militares (Generais Tasso Fragoso e Mena Barreto e Almte. Isaías de Noronha) depuseram o presidente formando um Governo Provisório que passou o poder para Getúlio Vargas no dia 1 de novembro. HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORANEO Aula 1: A Revolução de 1930 e o início da “Era Vargas” Getúlio tornou-se chefe do Governo Provisório com amplos poderes. A constituição de 1891 foi revogada e Getúlio passou a governar por decretos. Getúlio nomeou interventores para todos os Governos Estaduais, com exceção de Minas Gerais. Esses interventores eram na maioria tenentes que participaram da Revolução de 1930. Esse governo logo foi marcado por disputas internas cujos protagonistas eram os “Tenentes”. Estes queriam uma maior centralização político-administrativa para impor reformas e desarticular o poder das oligarquias estaduais, porém, eram incompetentes para governar. Getúlio buscava equilibrar-se entre esses dois grupos, adotando uma política ambígua. HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORANEO Aula 1: A Revolução de 1930 e o início da “Era Vargas” A oligarquia paulista, marginalizada pelo governo provisório e prejudicada pela recessão, tentou retomar sua antiga posição hegemônica através da manipulação da opinião pública contra Vargas e os “Tenentes”, exigindo a saída do interventor João Alberto (que fazia péssimo governo) e sua substituição por um paulista, bem como pregava o lançamento de uma nova Constituição. Getúlio Vargas nomeou Pedro de Toledo (paulista) para governar São Paulo, publicou um novo código eleitoral e um anteprojeto constitucional como medidas protelatórias. A oligarquia paulista, representada pelo Partido Republicano Paulista e pelo Partido Democrático unidos na Frente Única, promovendo comícios e protestos. HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORANEO Aula 1: A Revolução de 1930 e o início da “Era Vargas” • Tumultos e manifestações eram constantes, e em 23 de maio de 1932 quatro estudantes foram mortos em confronto com a Legião Revolucionária, que apoiava o Governo Provisório. • Formou-se então o MMDC, organizado como sociedade secreta em 24 de maio de 1932, cujo objetivo era organizar a rebelião contra Getúlio Vargas e seu governo. • Em 9 de julho eclodiu o movimento revolucionário, com os paulistas acreditando possuir o apoio de outros estados, notadamente Minas Gerais, Rio Grande do Sul e do Mato Grosso, para a derrubada de Getúlio Vargas. Pedro de Toledo,foi proclamado governador de São Paulo e foi o comandante civil da revolução constitucionalista. HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORANEO Aula 1: A Revolução de 1930 e o início da “Era Vargas” Depois de 3 meses de combates o Governo Provisório venceu os paulistas, que ficaram isolados. Apesar da derrota foram convocadas eleições para uma Assembleia Nacional Constituinte, que foi promulgada em julho de 1934. Caracterizada por ser um mistura de ideias democráticos, liberais-burgueses, socialistas, autoritarismo e corporativistas, a Constituição de 1934 confirmou (por eleição indireta) Getúlio Vargas na presidência da República, instituiu o voto secreto e o voto feminino, a representação sindical; no que compete à legislação trabalhista, é bastante progressista, com influências claras das ideias socialistas, criando a jornada de trabalho de 8 horas, descanso semanal, férias remuneradas, indenizaçãopor demissão sem justa- causa, regulamentação profissional e proibição do trabalho infantil. HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORANEO Aula 1: A Revolução de 1930 e o início da “Era Vargas” Ela também confirmou o federalismo no Brasil, com estados autônomos em relação à União, mas na prática isso não ocorreu, pois o governo Vargas promoveu desde cedo a centralização do poder. O próprio Getúlio criticou severamente a Constituição, taxando-a de “inflacionária”, pois criava despesas sem receitas correspondentes e “direitos em excesso”. Dizia também ser a Carta. “liberal demais”, dificultando o combate à subversão (movimento operário e Partido Comunista). HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORANEO Aula 1: A Revolução de 1930 e o início da “Era Vargas” . O movimento revolucionário de 1930 pode ser visto como o desfecho do impasse em que se encontrava o sistema político da República Velha somado ao impacto da crise econômica de 1929. . O descontentamento das classes-médias urbanas em relação à participação política e a emergência do movimento operário mais as revoltas “tenentistas”. . O período pós-1932 marcará definitivamente a inserção desses segmentos, principalmente com a “encampação” dessas reinvindicações pelo “Estado Novo”. QUESTÕES SOBRE A REVOLUÇÃO DE 1930 HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORANEO Aula 1: A Revolução de 1930 e o início da “Era Vargas” Será também o Estado, cujo papel foi redefinido, que, através de uma política econômica fiscalista, proporcionará a possibilidade da industrialização e passará a atuar incisivamente no processo econômico. . Historiografia: 1) Barbosa Lima Sobrinho: O movimento é fruto de um discurso político característico da época – polarizado politicamente (esquerda/direita, fascismo/comunismo/liberalismo). Emergência das classes- médias como força política, cuja expressão é o “tenentismo”. 2) Caio Prado Jr.: A Revolução de 1930 é o marco inicial do Capitalismo brasileiro (identifica a “República Velha” com “pré”, ou “anti” capitalista. HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORANEO Aula 1: A Revolução de 1930 e o início da “Era Vargas” 3) Boris Fausto: A Revolução de 1930 teria sido o resultado de um “vazio de poder” criado com a falência da oligarquia cafeeira. Sobreveem então um “rearranjo” político entre as outras oligarquias. 4) Edgard DeDecca: A Revolução de 1930 surge também como “resposta” das elites ao movimento operário de 1928, expresso no “Bloco Operário Camponês” (BOC). Com o “vazio de poder” pós-1930 o Estado (redefinido e rearranjado), absorverá parte do discurso operário para sí (legislação trabalhista, benefícios sociais, etc), controlando-o.