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Indaial – 2021 Sociedade, educação e cultura Prof. Carlos Odilon da Costa 2a Edição Copyright © UNIASSELVI 2021 Elaboração: Prof. Carlos Odilon da Costa Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: C837s Costa, Carlos Odilon da Sociedade, educação e cultura. / Carlos Odilon da Costa – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 228 p.; il. ISBN 978-65-5663-682-5 ISBN Digital 978-65-5663-683-2 1. Sociologia. 2. Antropologia - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 370 apreSentação Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao livro de Sociedade, Educação e Cultura. Nele, você percorrerá um caminho de conhecimentos ligados à Sociologia, à Antropologia e relacionados ao mundo da Educação. Os novos temas e conceitos presentes na Sociedade dita pós-moder- na e globalizada fazem parte do currículo das universidades e também das escolas de educação básica. O motivo é simples: é importante a compreensão crítica e mais ampla de mundo por parte dos profissionais e futuros profis- sionais da educação. O mundo atual está cada vez mais complexo e multifacetado. So- mente com olhares aprofundados das origens e desenvolvimento de alguns conceitos e temas é que o sujeito profissional se tornará um ser autônomo e cidadão consciente de seu papel na história humana. Para que esse aprendizado ocorra, na Unidade 1 estudaremos sobre a Sociologia, Autores e Conceitos, tendo como objetivo proporcionar a compre- ensão da origem histórica e da constituição do conhecimento na sociologia. Na Unidade 2 abordaremos os assuntos envolvendo Cultura e Educação para compreender como se configuraram os principais conceitos dos processos culturais e ambientais em sociedade. Na Unidade 3 focaremos Educação, Cultura e Sociedade em Sala de Aula, analisando as relações culturais e de consumo existentes em sociedade a partir das salas de aula. Bons estudos! Professor Carlos Odilon da Costa Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi- dades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE Sumário UNIDADE 1 — SOCIOLOGIA, AUTORES E CONCEITOS ......................................................... 1 TÓPICO 1 — ORIGEM DA SOCIOLOGIA ...................................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 IDADE MÉDIA E SOCIEDADE ....................................................................................................... 3 3 RENASCIMENTO E SOCIEDADE .................................................................................................. 9 4 AUGUST COMTE E SAINT SIMON ............................................................................................ 12 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 17 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 19 TÓPICO 2 — AUTORES CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA E A RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO ............................................................................................................. 21 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 21 2 SOCIOLOGIA, MODERNIDADE E CIÊNCIA ........................................................................... 21 3 ÉMILE DURKHEIM, MAX WEBER E A EDUCAÇÃO .............................................................. 28 4 KARL MARX E A EDUCAÇÃO ...................................................................................................... 38 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 48 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 50 TÓPICO 3 — AUTORES CONTEMPORÂNEOS DA SOCIOLOGIA E A RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO .................................................................................................. 53 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 53 2 SOCIOLOGIA E PÓS-MODERNIDADE ..................................................................................... 54 3 PIERRE BOURDIEU, MICHEL FOUCAULT E A EDUCAÇÃO ............................................... 70 4 ZYGMUNT BAUMAN, VIRTUALIDADE E A EDUCAÇÃO .................................................. 78 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 84 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 87 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 89 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 91 UNIDADE 2 — CULTURA E EDUCAÇÃO ..................................................................................... 95 TÓPICO 1 — CONCEITO DE CULTURA ....................................................................................... 97 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 97 2 ORIGEM DO CONCEITO DE CULTURA ................................................................................... 97 2.1 EDWARD BURNETT TYLOR (LONDRES 2 DE OUTUBRO DE 1832 – WELLINGTON 2 DE JANEIRO DE 1917) ...............................................................................98 2.2 FRANZ URI BOAS (MINDEN, 9 DE JULHO DE 1858 — NOVA IORQUE, 21 DE DEZEMBRO DE 1942) ..................................................................... 101 2.3 ALFRED LOUIS KROEBER (HOBOKEN, 11 DE JUNHO DE 1876 — PARIS, 5 DE OUTUBRO DE 1960) ........................................................................................... 102 3 CULTURA E IDENTIDADE .......................................................................................................... 114 4 EXEMPLOS DE IDENTIDADE CULTURAL ............................................................................. 115 5 CULTURA E DESCONSTRUÇÃO ............................................................................................... 117 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 119 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 121 TÓPICO 2 — DIVERSIDADE CULTURAL .................................................................................. 123 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 123 2 INCLUSÃO E CULTURA ............................................................................................................... 123 3 GÊNERO E CULTURA ................................................................................................................... 125 4 CULTURA E A TEORIA DECOLONIAL .................................................................................... 129 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 132 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 133 TÓPICO 3 — CULTURA E MEIO AMBIENTE ............................................................................. 135 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 135 2 CULTURA E SUSTENTABILIDADE ........................................................................................... 135 3 CULTURA E DIÁLOGO DOS SABERES ................................................................................... 139 4 CULTURAS E O BEM VIVER ....................................................................................................... 141 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 146 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 149 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 151 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 153 UNIDADE 3 — EDUCAÇÃO, CULTURA E SOCIEDADE EM SALA DE AULA ................. 159 TÓPICO 1 — INTERCULTURALIDADE EM SALA DE AULA ............................................... 161 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 161 2 MULTICULTURALIDADE ............................................................................................................ 161 3 INTERCULTURALIDADE ............................................................................................................. 166 4 PRÁTICAS INTERCULTURAIS EM SALA DE AULA ............................................................ 169 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 174 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 175 TÓPICO 2 — SALA DE AULA NO SÉCULO XXI ........................................................................ 177 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 177 2 SOCIEDADE DE CONSUMO E SALAS DE AULA ................................................................. 177 3 SOCIEDADE ALTERNATIVAS E SALAS DE AULA ............................................................... 180 4 SALAS DE AULAS CONECTADAS ............................................................................................ 185 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 189 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 190 TÓPICO 3 — BNCC: CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS ........................................................ 193 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 193 2 ESTRUTURA DA BNCC ................................................................................................................ 193 3 BNCC E A EDUCAÇÃO BÁSICA ................................................................................................ 197 4 BNCC: HUMANIDADE E SOCIEDADE ................................................................................... 207 4.1 COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS AO ENSINO MÉDIO ......................................................................................... 214 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 216 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 219 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 221 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 223 1 UNIDADE 1 — SOCIOLOGIA, AUTORES E CONCEITOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • desenvolver a capacidade de análise acerca dos fenômenos sociais e educacionais; • analisar aspectos do campo educacional a partir de uma perspectiva so- ciológica moderna; • identificar as principais características sociológicas nos autores pós-mo- dernos e na sociologia da virtualidade; • compreender a origem histórica e constituição do conhecimento socio- lógico. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – ORIGEM DA SOCIOLOGIA TÓPICO 2 – AUTORES CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA E A RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO TÓPICO 3 – AUTORES CONTEMPORÂNEOS DA SOCIOLOGIA E A RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 ORIGEM DA SOCIOLOGIA 1 INTRODUÇÃO A origem da Sociologia está vinculada à história do mundo europeu. Pen- sadores e obras do continente europeu iniciaram o debate e a reflexão em torno do que seria o conhecimento sociológico transformado em Ciência. Para melhor compreender esse debate sobre a origem e desenvolvimento da sociologia no solo europeu, é importante entender como era a Europa do início do processo de constituição da Sociologia. Na história da sociedade humana europeia, esse período de constituição da Sociologia tem suas basesno fim da Idade Média. Por isso, vamos entrar em nossos estudos no período conhecido como Idade Medieval. Veremos as principais características, como era organizada a So- ciedade, o principal conhecimento produzido na época e sua relação com o mo- vimento daqueles que defendiam o conhecimento sociológico ou aqueles fatos, acontecimentos e conhecimentos. 2 IDADE MÉDIA E SOCIEDADE A Idade Média, para a maioria dos pesquisadores, foi um período conhe- cido como a Idade das Trevas, ou seja, a Idade sem Luz, sem criatividade huma- na. A maior parte da história desse período teve como fonte de compreensão, de interpretação da vida e de tudo que se relacionava com a sociedade o conheci- mento religioso ou o conhecimento teológico. Quase tudo girava em torno das coisas de Deus ou do próprio Deus pre- gado e comunicado pela Igreja da época (Igreja Católica Apostólica Romana). Esse cenário começou a mudar por volta do ano 1.000, com o surgimento das pri- meiras Universidades, com o fim da Idade Média e com o espírito renascentista, que povoou a Europa. Observando a configuração da Sociedade através do tempo histórico, po- demos perceber que, no período medieval, a Sociedade apresentava algumas ca- racterísticas que identificamos como principais: Relação principal: do Senhor Feudal e o Servo da terra. O Servo trabalha- va nas terras do Senhor Feudal. Era considerado um produto da terra, se a terra fosse vendida, o Servo ficava nas terras como um produto a ser adquirido pelo comprador. A divisão social era hierárquica, dividida basicamente em quatro UNIDADE 1 — SOCIOLOGIA, AUTORES E CONCEITOS 4 estamentos ou estados: Rei, Nobreza, Clero e Servos, sendo que os dois primei- ros possuíam privilégios em relação ao último grupo subordinado. Economia ou modo de produzir as coisas: a produção basicamente girava em torno das grandes extensões de terras, os Feudos. Esse sistema ficou conhecido como Feu- dalismo. As leis e os códigos de condutas sociais eram elaborados a partir das Tradições da Nobreza e da interpretação Bíblica. A visão de mundo, religião, educação, conhecimento, meio ambiente e cultura: Nessa época, predominava o conhecimento Teológico, marcado pela supremacia da Igreja Católica Apostólica Romana (Igreja e Fiéis). A cultura era elaborada a partir do Teocentrismo. A na- tureza era obra de Deus e era perfeita. A vida na sociedade medieval se caracterizava por um forte apelo às ques- tões religiosas e rurais no sentido de que o modo de produção vigente, conhecido como Feudalismo, foi o mais usado em toda a história desse período, de grandes extensões de terras do Senhor Feudal, em que trabalha o servo, para fugir da mi- séria e buscar seu espaço no céu. Arte, Educação, Política, Religião, Leis, Cultura, entre outros setores da sociedade da época, eram fundamentadas no conheci- mento religioso ou teológico. O teocentrismo era a medida de todas as coisas. Teocentrismo é uma doutrina que toma Deus como elemento central. NOTA Viver na sociedade medieval era viver dentro dos limites da Igreja Ca- tólica Apostólica Romana. Diretrizes, princípios, normas estabelecidas na vida social tinham como parâmetro a interpretação da Bíblia por parte dos membros da Igreja. O destino da vida humana era imposto pela interpretação do clero, ou seja, o conhecimento produzido para interpretar e compreender a vida humana em todos os sentidos passava pelo crivo do conhecimento religioso amparado nas leituras bíblicas das autoridades religiosas da época. TÓPICO 1 — ORIGEM DA SOCIOLOGIA 5 FIGURA 1 – SOCIEDADE MEDIEVAL FONTE: <https://bit.ly/2W2jXNc>. Acesso em: 8 jan. 2021. Entraremos agora em algumas características importantes para a compre- ensão da configuração e condição da vida na sociedade medieval. De acordo com Schipansk e Pontarolo (2009), o tempo na Idade Média e a relação com elementos religiosos e sociais se apresentava da seguinte forma: QUADRO 1 – TEMPO E RELAÇÕES ESTABELECIDAS Tempo e relações estabelecidas Características Viver seu tempo Para nós pode parece estranha a forma como os ho- mens e mulheres medievais viam e viviam o seu tem- po, pois estamos habituados a uma rotina frenética, sempre correndo contra o tempo, preocupados com o próximo compromisso. A forma como os indivíduos entenderam e viveram o seu tempo é muito impor- tante para que possamos compreender sua sociedade. Multiplicidade de tempo No período medieval vemos uma força grandiosa da Igreja sobre muitos aspectos da sociedade e, de fato, o cristianismo influenciou profundamente a relação das pessoas com o tempo. Além disso, nesse período havia uma multiplicidade de tempos: o tempo natu- ral e rural; o tempo senhorial; o tempo religioso. UNIDADE 1 — SOCIOLOGIA, AUTORES E CONCEITOS 6 O tempo natural e rural Estamos falando de uma época em que a agricultura era a principal atividade econômica e, portanto, uma época em que a terra e o seu uso eram fundamentais para a sobrevivência. A natureza imperava na medição e contagem do tempo rural. Existia o tempo das chuvas e o das secas; o do dia e o da noite; o do plantio e o da colheita; o do inverno e do verão. É o tempo dos dua- lismos tão enfocados durante o período medieval: luz e escuridão, calor e frio, ócio e trabalho, vida e morte. Esse tipo de tempo é cíclico, lento e longo, e os camponeses estavam habituados a esperar, pacientes, pela mudança – se é que ela ocorreria. Esse cenário é uma representa- ção imagética do tempo cíclico: um fato precede o outro, mas voltará a acontecer – como as estações do ano. O tempo senhorial O tempo senhorial é, antes de tudo, militar, isso porque tem como pontos culminantes no ano os períodos dos combates, das reuniões da cavalaria e dos adoubements. O tempo religioso Os mosteiros levaram para além de suas muralhas o seu ritmo de vida. As atividades diárias eram ritma- das pelo badalo dos sinos e pelo eco das orações vin- das dos interiores dos mosteiros. A importância dos sinos na Idade Média era muito grande, pois cada som emitido significava um acontecimento diferente. Adubamento Cerimônia de iniciação dos jovens para a cavalaria, na qual acontecia a benção cristã do novo cavaleiro. O bater dos sinos Certamente, marcava os principais eventos da vida ur- bana, quer chamando os fiéis para a celebração dos ofí- cios divinos, quer anunciando as festas; ora avisando o início e o fim do trabalho, ora lembrando triste acon- tecimento ou, ainda, alertando as pessoas para uma ameaça iminente. Toda a população sabia o significado dos diversos toques, que, apesar de serem incessantes, não perdiam o seu efeito no espírito dos ouvintes. Liturgia O ano também era marcado pela liturgia e pelas datas festivas relacionadas à vida de Cristo, como o Natal, a Páscoa, a Ascensão e o Pentecostes. Aos poucos foram se inserindo festas em honra à Virgem Maria e aos demais santos. Esses festejos normalmente marcavam acontecimentos importantes para questões econômi- cas, como, por exemplo, o pagamento de tributos aos senhores ou a festa da colheita. TÓPICO 1 — ORIGEM DA SOCIOLOGIA 7 Clero O clero era, também, o responsável pela medição do tempo útil e também pelo tempo destinado ao descan- so no Domingo, pela liturgia cristã que definia quais eram os dias santos e de festa, bem como os dias de trabalho e os de jejum. O tempo da Igreja era domi- nante no medievo, mas pede que tomemos cuidado ao fazer essa afirmação, pois mesmo que a ideologia cris- tã tivesse total domínio sobre a população, a maioria dos camponeses não sabia e nem se importava que dia fosse (com exceção dos domingos e dias de festas), e é bem provável que não soubessem nem mesmo qual era sua própria idade e o dia do seu aniversário. Criação do mundo Segundo a narrativa da Igreja sobre a criação do mun- do e do homem, eles foram criados em seis dias e o Criador descansou no sétimo, contemplando a sua obra. O domingo representava esse dia, e por isso de- via ser reservado às orações e ao descanso.Horas canônicas Horas canônicas: São as várias partes do Ofício divi- no, escalonadas ao longo do dia: Laudes, como oração da manhã; horas menores (Tércia, Sexta e Nona, das quais se pode optar por uma única, hora intermédia, a mais adequada à hora do dia); Vésperas, ao anoite- cer (considerada hora principal, juntamente com Lau- des); Completas, ao deitar; e Ofício de Leitura, com o valor de tempo de oração meditativa durante a noite, embora podendo celebrar-se a qualquer hora. FONTE: Schipansk e Pontarolo (2009, p. 30-31) A relação das pessoas com o tempo na Idade Média explica muito sobre seu modo de vida. No entanto, vamos destacar outro aspecto fundamental dessa época: o espaço, os locais de reuniões, de trabalho, de estudos. Segundo Schipansk e Ponta- rolo (2009), assim se apresentava a relação espaço e ser humano no período medieval: QUADRO 2 – ESPAÇO E RELAÇÕES Espaços e relações Configurações Fixação ao solo A primeira condição para o funcionamento do sistema feu- dal era a fixação dos homens ao solo. Ora, a ligação dessas pessoas com a terra é indiscutível, pois a base da sobrevi- vência era a agricultura. Além do mais, é a organização es- pacial em feudos que estabelece o lugar de cada um: vassalo e suserano, servo ou senhor. UNIDADE 1 — SOCIOLOGIA, AUTORES E CONCEITOS 8 Paróquias A divisão espacial em paróquias mostra que a Igreja teve im- portância ímpar também nesse aspecto, a criação do quadro paroquial. A paróquia reunia os grupos, formando aldeias ao redor da igreja (que era um edifício sacralizado) e do cemité- rio. O lugar central e para onde convergiam as atenções e os olhares era o altar – lugar onde a Igreja confirmava sua uni- dade através da eucaristia. Essa distribuição populacional ao redor dos edifícios sagrados origina um espaço “heterogêneo e hierarquizado, polarizado pelos santos e suas relíquias”. Vínculo a terra No entanto, não podemos confundir vínculo à terra com imobilidade, pois, ao contrário do que se acredita, nem todos os homens e mulheres da Idade Média passavam a vida inteira no lugar onde nasceram, muitos deles viviam em constante movimentação e peregrinação. Aparece como um elemento fundamental do encelulamento, que contribui para a estabilidade das populações rurais e, então, para a solidez do laço entre os homens e o seu lugar, indispensável ao funcionamento da dominação feudal. Movimentação A movimentação se dava pelo fato de que, nesse tempo, as propriedades podiam ser provisórias. Os indivíduos es- tavam inseridos em uma hierarquia que determinava sua posição social: o senhor tinha todo o direito de retomar do servo ou do vassalo a extensão territorial a ele concedida, desde que o transferisse para outra da mesma proporção. Entretanto, esse novo local poderia estar situado bem longe do local de origem. Já a peregrinação estava associada às experiências de exterioridade e poderia funcionar como um meio de reforçar o vínculo com o lugar de origem. Religiosidade O espírito religioso que imperava nessa época empurrava as pes- soas para a estrada. A busca pelos lugares santos e pelas relíquias sagradas movia boa parte da população medieval. A travessia era, na maioria das vezes, cercada de dificuldades: os caminhos lon- gos e tortuosos, o frio e a fome, o medo da noite e da floresta, os ladrões e o mau estado das estradas e dos caminhos percorridos. Peregrinação A peregrinação, portanto, não visava a satisfação do dese- jo pessoal de conhecer novos lugares, nem mesmo era uma atividade de lazer. A peregrinação era praticada como uma penitência, como uma provação. Era uma das formas de pur- gar pecados graves, de se sacrificar pelo perdão divino. Essas mobilidades e deslocamentos deixavam cada vez mais clara para os indivíduos a importância dos seus lugares e isso rea- firmava neles o laço imaginário que os prendia ao seu espaço. FONTE: Schipansk e Pontarolo (2009, p. 32) TÓPICO 1 — ORIGEM DA SOCIOLOGIA 9 O feudalismo predominou na Idade Média. Sendo assim, a agricultura era a base econômica dos povos europeus ocidentais. Como se observa, em geral, a Idade Média foi sumariamente caracterizada por um sistema político, econômico e social denominado feudalismo. Queiroz e Junior (2015, p. 34), caracterizam o Feudalismo da seguinte maneira: O feudo era tido como um “modo de posse de bens reais” e ‘feudal’ re- lacionava-se não apenas ao feudo propriamente, mas também aos encar- gos decorrentes deste tipo de posse. Posteriormente, durante a monar- quia absolutista, a expressão que denominava o aspecto jurídico, passa a incorporar um conteúdo político. Com isso, passa-se a enfatizar como principais características do âmbito feudal os vários aspectos relativos à fragmentação da soberania. Mais tarde, a partir dos estudos e conceitos desenvolvidos por Karl Marx e Friedrich Engels, entre 1845 e 1846, o pe- ríodo medieval passa a ser visto pelos historiadores marxistas como um modo de produção, o chamado “modo de produção feudal”. Esse modo de perceber o feudalismo como fenômeno histórico implicava num enten- dimento em que a expressão “feudal” incorporasse também um conteúdo econômico, referindo-se não apenas à organização política e às relações pessoais estabelecidas entre os homens pertencentes às classes dominan- tes, mas também à própria maneira como estes sujeitavam uma popula- ção mais ampla para a organização de uma produção agrícola da qual to- dos dependiam para a sua subsistência. Assim, as relações verticais entre senhores e servos e todo um complexo sistema de trabalho e propriedade passavam a figurar o “modo de produção Feudal”. Portanto, o Feudalismo incluía tanto um sistema senhorial de exploração econômica-social, como o conjunto de mecanismos feudo-vassálicos, por onde se organizava a hierarquia. 3 RENASCIMENTO E SOCIEDADE Entre o final da Idade Média e início da Idade Moderna, o conhecimento dito científico começa a colocar em questão muitos conhecimentos da época e o próprio entendimento do mundo pelo conhecimento religioso/teológico. Por exemplo, lembremos a descoberta de que a Terra não era o centro do Universo. A Revolução Francesa, por exemplo, foi inspirada nas ideias iluministas e represen- ta o principal marco desse movimento intelectual (Renascentista). Iluminismo: Contrário à visão teocêntrica que dominava a Europa. Essa forma de pensamento tinha o propósito de iluminar as trevas em que se encontra- va a sociedade. De acordo com Mello e Donato (2011, p. 252), O pensamento iluminista tem como fundamentos a crença no poder da razão humana de compreender nossa verdadeira natureza e de ser consciente de nossas circunstâncias. O homem, então, creia ser o de- tentor de seu próprio destino, formulando o racionalismo e contra- riando as imposições de caráter religioso, sua “razão” divina de exis- tir, e os privilégios dados à nobreza e ao clero – ainda predominantes à época (séculos XVII e XVIII). UNIDADE 1 — SOCIOLOGIA, AUTORES E CONCEITOS 10 O iluminismo foi um movimento filosófico e intelectual que aconteceu entre os séculos XVII e XVIII na Europa, em especial, na França. Os pensadores iluministas defen- diam as liberdades individuais e o uso da razão para validar o conhecimento. Também chamado de “Século das Luzes”, o movimento iluminista representa a ruptura do saber eclesiástico, isto é, do domínio que a Igreja Católica exercia sobre o conhecimento. E dá lugar ao saber científico, que é adquirido por meio da racionalidade. O iluminismo é um movimento da Idade Moderna que rompeu com o teocentrismo – doutrina que coloca Deus no centro de tudo – e passou a ver o indivíduo como o centro do conhecimento. FONTE: <https://www.significados.com.br/iluminismo/>. Acesso em: 29 jul. 2021. NOTA O Racionalismo é uma corrente filosófica que atribui particular confiança à razão humana, ao passo que acredita que é dela que se obtém os conhecimentos. Somente o pensamento por meio da razão é capaz de atingir a verdade. Entende-se por Racionalismo,do ponto de vista da Teoria do Conhe- cimento o saber que se funda na razão. Todo conhecimento deriva de princípios (a priori), ou o conhecimento que independe da experiência sensível. O conhecimento adquirido somente pelos sentidos fornece, tão somente, uma ideia confusa e provisória da verdade. A filosofia do Racionalismo data do século XVII O Racionalismo, enquanto Teoria do Conhecimento pela razão opõe-se ao misticismo, aos dogmas religiosos, às superstições. A teoria do Racionalismo tem sido denunciada como si- nônimo de irreligião. Ou seja, o conhecimento que não aceita a Intuição, os valores humanos ligados aos sentimentos. O Racionalismo expandiu- -se, abrindo novos horizontes do conhecimento. Ainda no século XVII, conquistou espaços na política e nas artes (CRUZ; SILVA, 2011 p. 6421). O racionalismo descreve que há um tipo de conhecimento que surge dire- tamente da razão. É baseado nos princípios da busca da certeza e da demonstra- ção, fundamentados por um conhecimento que é elaborado somente pela razão. O racionalismo considera que o ser humano tem ideias inatas, ou seja, que não são derivadas da experiência, mas se encontram no ser humano desde seu nasci- mento e desconfia das percepções sensoriais. O Renascimento cultural foi um movimento artístico, cultural e científico, ocorrido nos séculos XIV, XV e XVI, marcando o início da Idade Moderna. Foi marcado pela crítica à cultura religiosa medieval, baseada na “fé cega”, quase que a rejeição da ideologia da Igreja Católica Romana, apesar dos temas religiosos presentes em algumas de suas manifestações artísticas. O movimento difundiu-se primeiramente na Península Itálica, devido à enriquecida burguesia da região que se beneficiou com o comércio mediterrânico ocidente-oriente na Itália, mais precisamente em cidades ligadas ao comércio, como Veneza, Pisa, Gênova e Florença. Tais cidades receberam uma forte influên- TÓPICO 1 — ORIGEM DA SOCIOLOGIA 11 cia dos sábios bizantinos. Além disso, após a Queda de Constantinopla, muitos pensadores do antigo Império Bizantino fugiram para a Itália, auxiliando na di- fusão dos saberes da cultura greco-romana clássica. Além dessa influência, havia os árabes que mantinham contatos comerciais com os italianos. FIGURA 2 – O AFRESCO ESCOLA DE ATENAS FONTE: <https://bit.ly/3mceizs>. Acesso em: 13 jan. 2021. O afresco Escola de Atenas, do pintor renascentista Rafael, mostra os filóso- fos Platão e Aristóteles (ao centro), além de outros estudiosos da Antiguidade. No Renascimento, o pensamento da Antiguidade clássica foi retomado como base para desenvolver novas ideias. Características do Renascimento a- Individualismo: valorização da capacidade do ser humano em fazer esco- lhas livremente, valendo-se de suas próprias forças b- Racionalismo: ênfase na razão como principal instrumento para compreen- der o Universo, a natureza e até mesmo Deus. c- Humanismo e Antropocentrismo: perspectiva de que o homem deveria ser o centro das indagações dos pensadores em detrimento do teocentrismo medieval, centrado na natureza de Deus. No entanto, o fato de os humanis- tas serem antropocêntricos não quer dizer que fossem ateus. Ao contrário, eles eram profundamente cristãos. Sem se afastarem da religião cristã, os humanistas fizeram da capacidade de conhecer as coisas através do uso da razão uma das qualidades mais elevadas do homem. A fim de poder empre- gar e desenvolver a inteligência humana eles defenderam o livre exame dos textos sagrados, inclusive da Bíblia. Foi essa imensa confiança nas qualida- des humanas que caracterizou o humanismo. d- Hedonismo: busca do prazer individual. Naturalismo: preocupações com a natureza, dentro de uma perspectiva metafísica sobre as coisas e sobre as capacidades da razão em moldar a realidade natural. UNIDADE 1 — SOCIOLOGIA, AUTORES E CONCEITOS 12 e- Neoplatonismo: ideia de que o homem deveria se elevar até Deus. Influên- cia da cultura Greco-Romana: o movimento se inspirou na cultura da an- tiguidade clássica, adaptando-a de acordo com os interesses da burguesia europeia da Idade Moderna. f- Mecenato: A Itália foi durante muito tempo apenas uma expressão geográ- fica e não um país. Desde a Idade Média ela era composta de uma multidão de cidades-estados independentes e assim continuou até sua unificação no século XIX. Na época do Renascimento, algumas cidades-estados, como Flo- rença, Milão e Veneza, destacavam-se não só pela riqueza, mas também pela proteção que dispensavam aos artistas e intelectuais. Os governantes dessas cidades representavam certas famílias, como a Sforza, de Milão, e os Medi- ci, de Florença, notabilizando-se como mecenas, isto é, como protetores e financiadores de sábios e artistas. FONTE: Adaptado de SEVCENKO, N. O renascimento. 4. ed. Campinas: Editora da Universida- de Estadual de Campinas, 1986. 4 AUGUST COMTE E SAINT SIMON O Iluminismo floresceu na França, na Inglaterra, na Alemanha e nos Paí- ses Baixos. A Filosofia Social Iluminista desdobrou-se em duas correntes: de um lado, os Reformadores Sociais Moderados que buscavam um ajuste na sociedade aos interesses da burguesia; de outro, os Radicais, que pareciam intuir vagamen- te os interesses de um futuro proletariado. Os Moderados deram origem ao que mais tarde ficou conhecido como o pensamento liberal conservador e positivista, e os Radicais deram origem aos Socialistas. A primeira corrente do pensamento sociológico propriamente dito foi o Positivismo, primeira teoria a organizar alguns princípios a respeito do ser hu- mano e da sociedade de forma cientifica. Seu primeiro representante foi o pensa- dor francês Auguste Comte, influenciado por Saint Simon. FIGURA 4 – CLAUDE HENRI DE ROUVROY, CONDE DE SAINT-SIMON FONTE: <https://bit.ly/3CTK7D0>. Acesso em: 19 mar. 2021. TÓPICO 1 — ORIGEM DA SOCIOLOGIA 13 Saint Simon foi o autor de muitas ideias atribuídas ao seu secretário particular August Comte. Seu pensamento ficou entre uma bifurcação ideológica: parte foi apro- veitada pelos conservadores e parte pelos socialistas. Foi o precursor do positivismo e, em alguns aspectos, das ideias de Karl Marx, o mais importante teórico do socialismo. Quais eram os principais pensamentos, ideias e princípios defendidos por Saint Simon? Vejamos a seguir. Sobre o Desenvolvimento da Humanidade, Bins (1990, p. 14) afirma: A humanidade progride por etapas. Na primeira a teológica, o mundo fora interpretado em termos religiosos. Na segunda a metafisica, por meio da filosofia e por fim, a positiva ou científica. O progresso para ele não se reduziria somente ao mundo das ideias, pois seria também material. Você pode notar acadêmico, que ele influenciou muito August Comte nes- sas ideias de que a humanidade progrediu por etapas. Ao que parece, ele olha a humanidade em seus tempos históricos: no início, a sociedade teria sido influen- ciada pela magia e rituais sagrados; depois, viria a instituição da religião (idade média); a crítica humana à influência religiosa no mundo (antropocentrismo e racionalismo), fase ou etapa dos intelectuais, pensadores e filósofos; e, por últi- mo, a busca pelo conhecimento científico. Olhando para educação e os conhecimentos criados e incorporados no dia a dia das escolas e universidades da época, seriam as seguintes possíveis etapas: co- nhecimento religioso, conhecimento filosófico e sociológico (com o suporte da geo- grafia e história entre outros conhecimentos) e, por fim, o conhecimento científico. Simon vivenciou a revolução Francesa, que interpretou como luta de classes: os industriais, os que produzem, contra a aristocracia parasi- tária. Não percebeu, porém, que esta categoria era composta por duas classes, a dos burgueses e a dos trabalhadores. Após a revolução, con- cluiu que se os industriais haviam teoricamente vencido, quem de fato tinha liderado o processo e continuava a manter o poder eram os meta- físicos, os advogados e outras categorias bastardas (BINS,1990, p. 14). Éo primeiro teórico que esboça a ideia da luta de classes, muito embora esse conceito seja divergente daquele apresentado por Marx. De acordo com Bins (1990, p. 15), “imaginava que para o futuro, as sociedades tornar- se-iam orgânicas, com suas partes perfeitamente integradas e sem conflitos, comandadas por uma elite técnica-científica”. Influenciou muitos pensadores com esse princípio de sociedades orgânicas, sobretudo Herbert Spencer, e a sociologia evolucionista, que permite conceber o sistema social composto por elementos interdependentes constituindo uma unidade própria, à semelhança dos organismos biológicos. Spencer buscou no evolucionismo os mecanismos e objetivos da sociedade, e defendeu o ensino da ciência para formar adultos competitivos. A concepção organicista, em oposição à perspectiva historicista, influenciou Durkheim e a corrente funcionalista. UNIDADE 1 — SOCIOLOGIA, AUTORES E CONCEITOS 14 Por último, a maior das contribuições. Segundo Bins (1990, p. 15), Simon “propôs a criação de uma ciência especializada, no estudo da conduta humana, a física social, depois rebatizada por Comte de sociologia”. Crítico ferrenho da aristocracia e do clero, Saint-Simon distingue nas transformações sociais de sua época os prenúncios de uma nova era na história da humanidade. Ele foi, ao mesmo tempo, o referencial ideológico dos socialistas, dos positivistas e dos anarquistas. Suas ideias para a Educação são notadas nessas três vertentes, nas concepções teóricas e práticas da educação usada por parte de professores e sistemas de ensino. Seu maior objetivo era a criação de uma sociedade ideal, mais justa e igualitária. Para alguns pensadores de Saint Simon, esse era o grande objetivo do Socialismo Utópico criado por ele. Outro grande pensador e fundador da Sociologia foi August Comte. FIGURA 5 – ISIDORE AUGUSTE MARIE FRANÇOIS XAVIER COMTE FONTE: <https://bit.ly/2W6TIWi>. Acesso em: 18 mar. 2021. Comte nasceu em Montpellier, França, em uma família católica e monar- quista. Viveu a infância na França napoleônica. Estudou no colégio de sua cida- de e depois em Paris, na escola Politécnica. Tornou-se discípulo de Saint Simon, de quem sofreu enorme influência. Devotou seus estudos à filosofia positivista, considerada por ele como uma religião da qual era o pregador. Segundo sua fi- losofia política, existiam na história três estados: um teológico; outro metafísico e, finalmente, o positivo. Esse último representava o coroamento do progresso da humanidade. Sobre as ciências, distinguia as abstratas das concretas, sendo que a ciência mais complexa e profunda seria a Sociologia, ciência que batizou na sua obra Curso de Filosofia Positiva, em seis volumes, publicada entre 1830 e 1842. Além dessa, publicou Discurso sobre o espírito positivo, Discurso sobre o conjunto do positivismo, Sistema de política positivista, Catecismo positivista e a Síntese subjetiva. Morreu em Paris (COSTA, 1987). TÓPICO 1 — ORIGEM DA SOCIOLOGIA 15 O positivismo foi uma corrente teórica criada por Auguste Comte que in- fluenciou a política praticada nos primeiros anos do período republicano no Brasil. QUADRO 3 – CORRENTE POSITIVISTA QUADRO 4 – PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS POSITIVISMO O positivismo foi uma corrente teórica criada pelo filósofo fran- cês Auguste Comte (1798-1857) que defendia que a regra para o progresso social seria a disciplina e a ordem, o que influenciou a teoria moral utilitarista de John Stuart Mill (1806-1873). Stuart Mill reformulou o primeiro utilitarismo fundado por seu professor, o filósofo e jurista Jerehmy Bentham. No Brasil, o positivismo políti- co de Comte, renovado pela carga moral utilitarista, influenciou a política praticada nos primeiros anos da Primeira República (1889- 1930), devido às referências positivistas trazidas pelos militares e pelo primeiro presidente, o marechal Manuel Deodoro da Fonseca. FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3CYrLR6>. Acesso em: 29 jul. 2021. Quais as principais características do positivismo? Confira: • Doutrina filosófica: como uma continuidade do Iluminismo, a inspiração política e científica do positivismo estava nos ideais iluministas. As aspirações dos primeiros filósofos iluministas de alcançar um estágio de desenvolvimento moral da sociedade foram mantidas. No entanto, um novo modo de agir era necessário para garantir a ordem social, desestabilizada após a Revolução Francesa. • Doutrina sociológica: visando garantir a ordem social, o positivismo atua como uma doutrina que, partindo dos estudos sociológicos, serve de base para o comportamento social e moral das pessoas. A Lei dos Três Estados estaria no topo dessa cadeia de desenvolvimento da sociedade. • Doutrina política: a disciplina, o rigor e a ordem social eram requisitos políticos para a garantia do avanço social na ótica positivista. • Desenvolvimento das ciências e das técnicas: o progresso social estaria intimamente ligado ao progresso intelectual, científico e tecnológico. A ideia de uma escola laica, universal e gratuita, que já havia ganhado certo espaço durante o Iluminismo, passou a ser defendida com mais força pelos intelectuais positivistas. • Religião positiva: Comte entendia que a humanidade precisava de relações de devoção. A devoção – antes baseada na fé em Deus ou nos deuses – no positivismo, dá lugar para a fé na ciência como única depositária de confiança da humanidade, surgindo o cientificismo, caracterizado pela aposta incondicional nas ciências como fonte total do conhecimento verdadeiro. FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3CYrLR6>. Acesso em: 12 mar. 2021. UNIDADE 1 — SOCIOLOGIA, AUTORES E CONCEITOS 16 FIGURA 6 – COMTE E O POSITIVISMO FONTE: <https://bit.ly/3CUztvJ>. Acesso em: 12 mar. 2021. O método geral do positivismo de Auguste Comte consiste na observação dos fenômenos, opondo-se ao racionalismo e ao idealismo, por meio da promoção do primado da experiência sensível, única capaz de produzir a partir dos dados concretos (positivos) a verdadeira ciência (na concepção positivista), sem qualquer atributo teológico ou metafísico, subordinando a imaginação à observação, tomando como base apenas o mundo físico ou material. O positivismo nega à ciência qualquer possibilidade de investigar a causa dos fenô- menos naturais e sociais, considerando este tipo de pesquisa inútil e inacessível, voltando-se para a descoberta e o estudo das leis (relações constantes entre os fenômenos observáveis). FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3iSsPxV>. Acesso em: 20 jan, 2021. NOTA 17 Neste tópico, você aprendeu que: RESUMO DO TÓPICO 1 • A origem da Sociologia está vinculada à história do mundo europeu. Pensa- dores e obras do continente europeu iniciaram o debate e a reflexão em torno do que seria o conhecimento sociológico transformado em Ciência. • A Idade Média teve como fonte de compreensão, de interpretação da vida e tudo que se relacionava com a sociedade, o conhecimento religioso ou o co- nhecimento teológico. • A vida na sociedade medieval se caracterizava por um forte apelo às questões religiosas e rurais no sentido de que o modo de produção vigente conhecido como Feudalismo foi o mais usado em toda a história desse período, onde grandes extensões de terras do Senhor Feudal eram usadas pelos servos para fugir da miséria e buscar seu espaço no céu. • O pensamento iluminista tem como fundamentos a crença no poder da razão humana de compreender nossa verdadeira natureza e de ser consciente de nossas circunstâncias. O homem, então, cria ser o detentor de seu próprio destino, formulando o racionalismo e contrariando as imposições de caráter religioso, sua “razão” divina de existir, e os privilégios dados à nobreza e ao clero, ainda predominantes à época (séculos XVII e XVIII). • O Renascimento cultural foi um movimento artístico, cultural e científico, ocorrido nos séculos XIV, XV e XVI, início da Idade Moderna. Foi marcado pela crítica à cultura religiosa medieval, baseada na “fé cega”, quaseque a rejeição da ideologia da Igreja Católica Romana, apesar dos temas religiosos presentes em algumas de suas manifestações artísticas. • Saint Simon foi o autor de muitas ideias atribuídas ao seu secretário particular August Comte. Seu pensamento ficou entre uma bifurcação ideológica: parte foi aproveitada pelos conservadores e parte pelos socialistas. Foi o precursor do positivismo e, em alguns aspectos, das ideias de Karl Marx, o mais impor- tante teórico do socialismo. 18 • Comte nasceu em Montpellier, França, em uma família católica e monarquis- ta. Viveu a infância na França napoleônica. Estudou no colégio de sua cidade e depois em Paris, na escola Politécnica. Tornou-se discípulo de Saint Simon, de quem sofreu enorme influência. Devotou seus estudos a filosofia positivis- ta, considerada por ele como uma religião da qual era o pregador. • O positivismo foi uma corrente teórica criada pelo filósofo francês Augus- te Comte (1798-1857), que defendia que a regra para o progresso social se- ria a disciplina e a ordem, o que influenciou a teoria moral utilitarista de John Stuart Mill (1806-1873). Stuart Mill reformulou o primeiro utilitaris- mo fundado por seu professor, o filósofo e jurista Jerehmy Bentham. No Bra- sil, o positivismo político de Comte, renovado pela carga moral utilitarista, influenciou a política praticada nos primeiros anos da Primeira República (1889-1930), devido às referências positivistas trazidas pelos militares e pelo primeiro presidente, o marechal Manuel Deodoro da Fonseca. 19 1 A Idade Média, para a maioria dos pesquisadores, foi um período conhe- cido Idade das Trevas, ou seja, a Idade sem Luz, sem criatividade humana. A maior parte da história desse período teve como fonte de compreensão, de interpretação da vida e tudo que se relacionava com a sociedade, o co- nhecimento religioso ou o conhecimento teológico. Referente ao modo de produzir as coisas na Idade Média, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) A produção basicamente girava em torno das grandes extensões de terras, os chamados Feudos, e tal sistema ficou conhecido como Feudalismo. b) ( ) A produção basicamente girava em torno das pequenas extensões de terras, os Feudos. Esse sistema ficou conhecido como Feudalismo. c) ( ) A produção basicamente girava em torno das grandes extensões de terras, os Feudos. Esse sistema ficou conhecido como Mercantilista. d) ( ) A produção basicamente girava em torno das grandes extensões de terras, os Burgos. Esse sistema ficou conhecido como Feudalismo. 2 Entre o final da Idade Média e início da Idade Moderna, o conhecimento dito científico começa a colocar em questão muitos conhecimentos da épo- ca, além do próprio entendimento do mundo pelo conhecimento religioso/ teológico. Exemplo disso foi a descoberta de que a Terra não era o centro do Universo. A Revolução Francesa foi inspirada nas ideias iluministas e representa o principal marco desse movimento intelectual. Sobre o Ilumi- nismo, analise as afirmativas a seguir: I- Iluminismo: contrário à visão teocêntrica que dominava a Europa. II- O pensamento iluminista tem como fundamentos a crença no poder da razão humana de compreender nossa verdadeira natureza e de ser cons- ciente de nossas circunstâncias. III- O Iluminismo foi um movimento artístico, cultural e científico, ocorrido nos séculos XIV, XV e XVI. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somente as afirmativas I e II estão corretas. b) ( ) Somente as afirmativas II e III estão corretas. c) ( ) Somente as afirmativas I e III estão corretas. d) ( ) Somente a afirmativa III está correta. 3 A primeira corrente do pensamento sociológico, propriamente dita, foi o Positivismo, primeira teoria a organizar alguns princípios a respeito do ser humano e da Sociedade. Seu primeiro representante foi o pensador francês Auguste Comte, influenciado por Saint Simon. Sobre August Comte, assina- le a alternativa CORRETA: AUTOATIVIDADE 20 a) ( ) Segundo a filosofia política de Comte, existiam na história três estados: um teológico; outro metafísico e, finalmente, o positivo. b) ( ) O positivismo foi uma corrente teórica criada por Auguste Comte que influenciou a política praticada nos primeiros anos do período republi- cano no Brasil. c) ( ) Na visão utópica de Comte, nessa sociedade transformada imperavam as noções de mérito e de cooperação. d) ( ) Comte entendia que a humanidade precisava de relações de devoção. A devoção, antes baseada na fé em Deus ou nos deuses, no positivismo, dá lugar para a fé na ciência como única depositária de confiança da humanidade, surgindo o cientificismo. 4 Ao longo da Idade Média, prevaleceu a concepção teocêntrica de mundo e sociedade. A partir do Renascimento e do início da Idade Moderna, esta concepção foi gradualmente sendo substituída pelo antropocentrismo, pro- vocando mudanças e transformações profundas na maneira de entender o homem, a religiosidade, a sociedade e a natureza. Diante disto, descreva duas mudanças apresentadas pela concepção de mundo no contexto do Re- nascimento e da Idade Moderna. 5 Auguste Comte desenvolveu, no campo teórico, os preceitos do Positivis- mo, que influenciaram tanto a compreensão da sociedade quanto da educa- ção ao longo da história. Um dos lemas desse pressuposto epistemológico é “Ordem e Progresso”, o qual também consta estampado na bandeira nacio- nal, símbolo de nosso país. Com base no exposto, disserte sobre o positivis- mo e sua relação com a sociedade. 21 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 AUTORES CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA E A RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO 1 INTRODUÇÃO Sociologia, modernidade e Ciência: esse Tópico servirá para situar a refle- xão trazida neste livro de estudos sobre origem e o desenvolvimento da sociologia, ou seja, apresentar o mundo europeu no início da modernidade e sua relação com os estudos da sociologia da época. A sociedade moderna se caracterizou por sím- bolos, valores, representações e instituições marcadas por determinadas formas de saber e de poder, ocupantes de uma posição hegemônica. O exercício dessa hege- monia dependeu, em grande medida, desde as conquistas dos grandes impérios sobre povos colonizados até os modelos mais avançados de dominação, de estraté- gias próprias de apropriação do espaço, origem e fundação de um território. Apresentaremos sobre Émile Durkheim, que nasceu em Épinal, na Alsácia, descendente de uma família de rabinos, e iniciou seus estudos filosóficos na Escola Normal Superior de Paris, indo depois para a Alemanha. Lecionou Sociologia em Bordéus, primeira cátedra dessa ciência na França. Max Weber nasceu na cidade de Erfurt, em uma família de burgueses liberais. Desenvolveu estudos de direito, filosofia, história e sociologia, constantemente interrompidos por uma doença que o acompanhava por toda a vida. Iniciou a carreira de professor em Berlim e, em 1895 foi catedrático em Heidelberg. Manteve contato permanente com intelectuais de sua época. No decorrer do Tópico 2 vamos estudar os principais conceitos e características da proposta sociológica desses autores e a relação com a educação. Por último, apresentaremos Karl Marx, que nasceu na cidade de Treves, na Alemanha. Em 1836 matriculou-se na Universidade de Berlim e doutorou-se em filosofia na Universidade de Jena. Foi redator de uma gazeta liberal em Colô- nia. Mudou-se em 1842 para Paris, onde conheceu Friedrich Engels, seu compa- nheiro de ideias e publicações por toda a vida. 2 SOCIOLOGIA, MODERNIDADE E CIÊNCIA Os Estados Nacionais foram constituídos a partir do ideal de nação em termos de uma identidade compartilhada e de território, concebido como a base homogênea para o desenvolvimento dessa identidade. 22 UNIDADE 1 — SOCIOLOGIA, AUTORES E CONCEITOS A vida humana se constitui dentro desse período por meio de grandes avanços e desenvolvimentos em diversas áreas, como a Política, a Economia, a Cultura e a Ciência. Angústias, certezas, esperanças, medos e mistérios cercaramo nascimento e desenvolvimento desse período na história humana. O ser huma- no do período moderno compreendeu que para viver e ser, nessa época, precisa- ria de muitos conhecimentos para ter um mínimo de visão sobre a compreensão de habitar esse planeta e se aculturar nas novas formas de convívio e de vida. No período conhecido como Idade moderna, as principais características da sociedade eram: Relação principal: no início do período o Rei e o Súdito simbolizavam a maior relação existente na sociedade da época. No final do período, o Governo e o trabalho aparecem como a relação que predominou. A divisão social: início das classes sociais descritas por Marx e outros pensadores que estudavam a socieda- de. Economia ou modo de produzir as coisas: surgimento das primeiras fábricas e oficinas. O capitalismo era mercantilista na época das grandes navegações, e no início da idade contemporânea o capitalismo industrial veio assim se caracteri- zando, com a revolução industrial. As leis e os códigos de condutas sociais: com o início das estruturações e configurações dos Estados-nações e, sobretudo, na Idade Contemporânea, com a Revolução Francesa, a questão do direito se tornou presente em muitos países. Surge a discussão sobre os Direitos Universais do Homem. A visão de mundo, religião, educação, conhecimento, meio ambiente e cultura: a visão de mundo passa pelo parâmetro do Antropocentrismo. A Igreja Protestante nasce com Lutero. Contrarreforma Católica com os Jesuítas. A nature- za é vista como algo a ser explorado para a produção de artefatos culturais. Nesse período, vigorava a ideia de que a natureza era fonte inesgotável de riquezas. Nascimento das primeiras Universidades Modernas, o conhecimento é ampliado em diversas disciplinas ou áreas, sobretudo aquelas que podem auxiliar o ser humano na compreensão do mundo, da sociedade que está sendo gestada. Forta- lecimento do liberalismo e início dos ideais comunistas/socialistas. FIGURA 8 – A CONQUISTA DE CONSTANTINOPLA PELOS OTOMANOS, EM 1453 FONTE: <https://bit.ly/37Nz0NH>. Acesso em: 13 mar. 2021. TÓPICO 2 — AUTORES CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA E A RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO 23 Você pode se perguntar: o que foi a Idade Moderna? QUADRO 5 – IDADE MODERNA Idade O que foi? Idade Moderna Foi uma das formas encontradas pelos historiadores para se divi- dir a história da humanidade. Seu recorte temporal inicia-se com a queda do Império Bizantino e a tomada da cidade de Constan- tinopla pelo Império Turco-Otomano, em 1453. Seu recorte final está delimitado com a Revolução Francesa, em 1789. Essa divisão é pautada na perspectiva histórica europeia, já que os marcos di- visórios referem-se indireta ou diretamente a fatos importantes para os europeus. A tomada de Constantinopla pelos turcos pôs fim ao Império Bizantino herdeiro direto do Império Romano da Antiguidade e surgido onde hoje é a Itália – e representou o fim de uma longa era. A concepção de uma Idade Moderna era também uma ruptura com o que foi considerado como uma Ida- de Média da História. Média, nesse sentido, era o período entre a Antiguidade e a Idade Moderna. A própria divisão histórica como conhecemos (Idades Antiga, Medieval, Moderna e Con- temporânea) surge nesse momento da História europeia. FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3jVmEZe>. Acesso em: 29 jul. 2021. Em síntese, como podemos compreender a Idade Moderna no âmbito de sociedade e vida? QUADRO 6 – COMO A IDADE MODERNA PODE SER ENTENDIDA Idade Síntese Idade Moderna Pode ser entendida pelas grandes transformações ocorridas no território europeu no período. Foi durante a Idade Moderna que os europeus realizaram as Grandes Navegações e a Ex- pansão Marítima, criando as condições para a dominação de continentes inteiros, como a África e a recém-conhecida Amé- rica. O domínio dessas regiões resultou na conquista de inú- meras riquezas por parte das classes dominantes europeias, criando as bases para que pudessem expandir, posteriormen- te, sua forma de organização social para o restante do mundo. FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3jVmEZe>. Acesso em: 29 jul. 2021. 24 UNIDADE 1 — SOCIOLOGIA, AUTORES E CONCEITOS Esses e outros fatores influenciaram a vida moderna (Capitalismo mer- cantilista, Grandes Navegações, Renascimento, Iluminismo, Reforma Luterana, Contrarreforma Católica). De uma vida essencialmente no campo, a Europa pas- sa a viver nas cidades que nascem com o capitalismo mercantilista e mais tarde com o capitalismo industrial. Também é possível destacar algumas características da Idade Moderna que ainda condicionam a vida em Sociedade: A Separação Tempo e Espaço: O ritmo das mudanças, que na modernida- de se dá de maneira muito mais acelerada do que acontecia nas sociedades pré- -modernas. As mudanças ocorridas nas sociedades pré-modernas aconteciam em uma localidade e ficavam ali restritas, sem influenciar outros centros ou localida- des. Isso não ocorreu na modernidade, em que diferentes áreas do planeta foram postas em interconexão. O papel dos agentes e instituições: tais como a família e a Igreja, se modificaram em termos econômicos e culturais, bem como o surgi- mento dos Estados Nações em oposição às cidades ou reinos. Desenvolvimento das cidades: o desenvolvimento de uma sociedade majoritariamente urbana, que acarretou profundas e diversas modificações na maneira de ser e estar no mundo. O centro condutor da vida: com a modernidade, há uma mudança significativa de mentalidade. O ser humano começa a valorizar com mais ênfase as suas ca- pacidades racionais (ampliação do conhecimento, maior uso do conhecimento científico, não somente do conhecimento religioso). Todas essas transformações, conhecimentos e invenções mudaram por completo a vida das pessoas que viviam na Europa, no início e durante a Idade Moderna. Novos conhecimentos foram produzidos para se compreender e viver em sociedade, as Universidades começaram a ter um importante papel para essa compreensão, bem como a educação começa a ser vista como direito e essencial à vida humana. Sobre o modo de produzir as coisas e de transformar a natureza em bens culturais ou objetos de uso, podemos citar que nesse período o desenvol- vimento do mercantilismo possibilitou a ruptura da economia feudal. O mercan- tilismo antecedeu o desenvolvimento da indústria e trouxe novas necessidades com o surgimento da burguesia, diferentes dos interesses da nobreza. Posterior- mente, o mercantilismo será substituído pelo capitalismo industrial. O que foi o Capitalismo Mercantilista ou Comercial? TÓPICO 2 — AUTORES CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA E A RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO 25 QUADRO 7 – PRIMEIRA FASE DO SISTEMA CAPITALISTA: CAPITALISMO COMERCIAL (MERCAN- TILISTA) – SÉCULO XV – XVIII A fase do capitalismo comercial é também chamada de pré-capitalista. Naquele momento ainda não havia industrialização e o sistema estava baseado em trocas comerciais. O modelo econômico adotado nesse período foi o mercantilismo, que tinha como principais características: • o controle estatal da economia – o Rei controlava o mercado; • o protecionismo – proteção do mercado interno; • o metalismo – acúmulo de metais preciosos; • e a balança comercial favorável – mais exportação do que importação. A crença naquele momento era de que a riqueza disponível no mundo não poderia ser aumentada, apenas redistribuída. Assim, os países buscavam a acumulação de riquezas por meio da proteção da economia local e acúmulo de metais decorrente das trocas comerciais que realizavam com outros países. Foi nesse período que nações europeias exploraram os recursos de suas colônias, como aconteceu aqui nas Américas. FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3iSO2b6>. Acesso em: 13 jan. 2021. A monetização é uma ação humana e significa o aproveitamento de algo como fonte de lucro. O termo é derivado do verbo monetizar, que designa o ato de trans- formar algo em dinheiro. Basicamente, qualquer coisa (objeto, informação, título, dívida etc.) pode ser usadapara monetização. Na atualidade até mesmo as relações entre pessoas. FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3xrHcNH.>. Acesso em: 30 jul. 2021. NOTA No início da Idade Moderna, a Europa ainda tinha como base religiosa a Igreja Católica Apostólica Romana. Essa liderança foi abalada, com um Mo- vimento liderado por um Monge Agostiniano, Martinho Lutero, que criticou as indulgências e certas normas católicas, provocando o Movimento de Reforma Luterana ou Protestante. 26 UNIDADE 1 — SOCIOLOGIA, AUTORES E CONCEITOS FIGURA 9 – 95 TESES, MARTINHO LUTERO FONTE: <https://m.media-amazon.com/images/I/51teWYvrUJL.jpg>. Acesso em: 12 jan. 2021. QUADRO 8 – REFORMA PROTESTANTE Reforma Protestante foi um movimento reformista cristão do século XVI lidera- do por Martinho Lutero, simbolizado pela publicação de suas 95 Teses em 31 de outubro de 1517 na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg. Tendo por ponto de partida as críticas às vendas de indulgências, o movimento de Lutero tornou- -se conhecido como um protesto contra os abusos do clero, evoluindo para uma proposta de reforma no catolicismo romano a partir da mudança em diversos pontos da doutrina da Igreja Católica Romana, com base no que Lutero entendia como um retorno às escrituras sagradas. Os princípios fundamentais extraídos da Reforma Protestante são conhecidos como os Cinco Solas. FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3iUaZuF>. Acesso em: 29 jul. 2021. A construção teológica iniciada por Martinho Lutero deu origem a um princípio conhecido como Cinco Solas: • Sola fide (somente a fé). • Sola scriptura (somente a Escritura). • Solus Christus (somente Cristo). • Sola gratia (somente a graça). • Soli Deo gloria (glória somente a Deus). TÓPICO 2 — AUTORES CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA E A RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO 27 QUADRO 9 – CAUSAS DA REFORMA PROTESTANTE A Reforma Protestante teve causas relacionadas a aspectos políticos, eco- nômicos e teológicos e resultou da corrupção existente na Igreja Católica. Além disso, resultado de interesses políticos oriundos de nobres que viram na reforma uma possibilidade de romper o vínculo de autoridade com o papa. Por fim, foi imposta a questão dos interesses econômicos, uma vez que a Igreja estipulava a cobrança de impostos de todos os seus fiéis. No aspecto teológico, o ponto imediato a ser destacado é a insatisfação de Martinho Lutero com as práticas da Igreja Católica. A Igreja de Roma era, naquele período, a maior autoridade da Europa Ocidental e detinha um imenso poder, uma vez que era dona de terras e riquezas gigantescas. Além disso, a autoridade do papa impunha-se além do campo religioso, alcançando o campo secular (político). Os reis da Europa tinham seu poder sustentado pela autoridade da Igreja, uma vez que era praticamente impossível manter-se no comando sem a aprovação do papa. Sendo assim, a Igreja Católica possuía o monopólio da vida política e religiosa europeia. Centrado no aspecto teológico, muitos começaram a questionar as posições da Igre- ja. Antes mesmo de Lutero, já haviam existido na Europa movimentos religiosos e figuras do clero católico que questionavam determinados princípios do catolicismo. Em longo prazo, pode-se ressaltar, por exemplo, os valdenses, que surgiram na França no final do século XII. Em um período imediato, isto é, poucos anos antes do início da reforma, existiram os pré-reformadores na Europa, que teceram críticas à Igreja de Roma. Dois nomes que se destacaram nesse contexto foram John Wyclif- fe e Jan Hus. O primeiro criticava o acúmulo de poder político e os desvios da Igreja dos verdadeiros ensinamentos de Jesus. O segundo tecia críticas parecidas contra o enriquecimento da Igreja e a venda de indulgências. Com relação às questões políticas, existia uma série de reis, nobres e autoridades em geral que estavam interessados em romper o poder secular com o religioso. Isso significa que muitos viam o rompimento como uma forma de consolidar ou de assegurar mais poder sem a necessidade de ter que se sujeitar a outra autoridade – no caso, o papa. Nas questões econômicas, há de se destacar que na região norte da Eu- ropa havia uma insatisfação muito grande com a quantidade de impostos que deveriam ser repassados para a Igreja. Tal questão intensificava-se em um con- texto em que as penínsulas Itálica e Ibérica estavam em franco desenvolvimento e enriquecimento, enquanto regiões como a que corresponde à atual Alemanha eram pobres e enfrentavam dificuldades econômicas. FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3iUkQ3F>. Acesso em: 29 jul. 2021. Martinho Lutero foi o fundador do protestantismo, vertente do cristianis- mo que rompeu com a Igreja Católica. 28 UNIDADE 1 — SOCIOLOGIA, AUTORES E CONCEITOS No aspecto cultural da Idade Moderna, podemos destacar o Antropocen- trismo e o Renascimento. Contrário ao Teocentrismo, o Antropocentrismo é um conceito filosofia que ressalta a importância do ser humano como um ser dotado de inteligência e, portanto, livre para realizar suas ações no mundo. A palavra vem do grego, significa o ser humano no centro, ou seja, todos os parâmetros para se viver em sociedade passam pelo ser humano. A Política, a Economia, a Religião e a Arte terão como centro o Ser Humano. Se na Idade Média a Cultura era permeada de anjos, igrejas, devoções, santos, das coisas de Deus, agora, na Idade Moderna, tudo aquilo que a representa ou está relacionado com a condição humana e o próprio ser humano passar ser um parâmetro norteador na produção cultural (peças teatrais, música, pinturas). Monalisa é um exemplo desse período. Ela é retratada sozinha, no centro. Centro e Individualização, duas características do Antropocentrismo. Importante sublinhar que durante a Idade Moderna o homem passa a dar maior importância a si mesmo, valorizando sua condição humana e sua capacidade de intervenção na natureza. A visão teocêntrica é sobreposta pela visão antropocêntrica da realidade. Essa perspectiva de mudança é inter-relacionada com dois novos valores da sociedade moderna, o individualismo – valorização do indivíduo, e o racionalis- mo – valorização da razão (RUSSELL, 2004, p. 67). FIGURA 10 – MONALISA FONTE: <https://bit.ly/3lotqcl>. Acesso em: 12 jan. 2021. 3 ÉMILE DURKHEIM, MAX WEBER E A EDUCAÇÃO Embora Comte seja considerado o Pai da Sociologia, entre outras coisas, por tê-la assim batizado, Durkheim é apontado como um dos seus primeiros grandes teóricos. Juntamente com seus colaboradores, esforçou-se por emancipar a Sociologia da Filosofia Social. TÓPICO 2 — AUTORES CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA E A RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO 29 FIGURA 11 – DAVID ÉMILE DURKHEIM FONTE: <https://slideplayer.com.br/9702941/31/images/slide_1.jpg>. Acesso em: 20 mar. 2021. Durkheim nasceu em Épinal, na Alsácia. Descendente de uma família de rabinos iniciou seus estudos filosóficos na Escola Normal Superior de Paris, indo depois para Alemanha. Lecionou Sociologia em Bordéus, primeira cátedra dessa ciência na França. Transferiu-se em 1902 para a Sorbonne, para onde levou inúme- ros cientistas, entre eles seu sobrinho Marcel Mauss, reunindo-se em um grupo que ficou conhecido como escola sociológica francesa. Morreu em Paris (COSTA, 1987). Em livros e cursos, sua preocupação foi definir com precisão o objeto, o método e as aplicações da nova Ciência. De acordo com Costa (1987, p. 51), “Durkheim formulou com clareza os tipos de acontecimentos sobre os quais o sociólogo deveria se debruçar: os fatos sociais. Estes constituem os objetos da Sociologia. Três são as características que Durkheim distingue nos fatos sociais”. FIGURA 12 – GENERALIDADE, EXTERIORIDADE E COERCITIVIDADE FONTE: <https://bit.ly/3xVRKoT>. Acesso em: 20 mar. 2020. 30 UNIDADE 1 — SOCIOLOGIA, AUTORES E CONCEITOS Os fatos sociais são apresentados por Durkheim como maneiras coletivas de pensar, de sentir e de agir que estão presentes na realidade das sociedades, estando diretamente vinculados aos aspectos morais que regem a vida das pesso- as e as relaçõesque estabelecem entre si. Valores, costumes, hábitos, regras, leis, normas e estruturas sociais são alguns dos componentes que dão forma aos fatos sociais e, sobretudo, a sua capacidade de influenciar o comportamento dos seres humanos a partir de fatores externos aos próprios indivíduos. QUADRO 10 – GENERALIDADE A generalidade Em primeiro lugar, a generalidade corresponde à capacidade dos fatos sociais exercerem o seu poder de influência sobre a totalidade ou sobre a maioria dos membros de uma socieda- de ou grupo social. Nesse sentido, a necessidade de obediên- cia às determinações não recai apenas sobre alguns indivídu- os, mas sobre todos aqueles reconhecidos como membros do corpo social ao qual são destinadas tais obrigações. A exterioridade Em segundo lugar, a exterioridade compreende e delimita a existência dos fatos sociais independentemente das von- tades pessoais. Portanto, são elementos cuja propriedade é exterior às consciências individuais, sendo, portanto, imu- táveis em curto prazo e aplicáveis coletivamente às pessoas. A coercitividade Por fim, a coercitividade representa a condição de coerção social, em que os indivíduos se tornam suscetíveis diante dos fatos sociais, o que não permite que suas estruturas se- jam alteradas sem grande capacidade de resistência. Desse modo, ocorre a imposição de comportamentos sob a con- dição de que, se necessário, para a manutenção da ordem e dos aspectos morais vigentes, as pessoas sejam reprimidas e sofram sanções em casos de condutas consideradas como inadequadas. No entanto, é importante destacar que nem toda coerção social exclui a personalidade individual, tor- nando-a um instrumento que impele a alienação de algu- mas das vontades individuais, porém não de todas – visto que o seu objetivo maior é a preservação da ordem social. FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3gdmBXY>. Acesso em: 10 abr. 2021. Além do Fato Social, quais as outras contribuições deixadas por Durkheim para a Sociologia? Foram diversas contribuições. no quadro a seguir apresenta- remos algumas: TÓPICO 2 — AUTORES CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA E A RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO 31 QUADRO 11 – CONCEITOS Instituição social e Anomia A instituição social é um mecanismo de organização da sociedade, é o conjunto de regras e procedimentos padronizados socialmente, reconhecidos, aceitos e sancionados pela sociedade, cuja importância estratégica é manter a organiza- ção do grupo e satisfazer as necessidades dos indivíduos que dele participam. As instituições são, portanto, conservadoras por essência, quer seja família, escola, governo, religião, polícia ou qualquer outra. Elas agem contra as mudanças, pela manutenção da ordem vigente. Durkheim registra, em sua obra, o quanto acredita que essas instituições são valorosas e parte em sua defesa, o que o deixou com certa reputação de conservador, que durante muitos anos causou antipatia a sua obra. No entanto, Durkheim não pode ser meramente tachado de conservador. Sua defesa das instituições se baseia num ponto fundamental, o ser humano neces- sita se sentir seguro, protegido e respaldado. Uma sociedade sem regras claras ("em estado de anomia"), sem valores e sem limites leva o ser humano ao de- sespero. Preocupado com esse desespero, Durkheim se dedicou ao estudo da criminalidade, do suicídio e da religião. Uma rápida observação do contexto histórico do século XIX nos permite perce- ber que as instituições sociais se encontravam enfraquecidas, havia muito ques- tionamento, valores tradicionais eram rompidos e novos surgiam, muita gente vivia em condições miseráveis, desempregados, doentes e marginalizados. Ora, numa sociedade integrada, essa gente não podia ser ignorada, de uma for- ma ou de outra, toda a sociedade estava ou iria sofrer as consequências. Aos pro- blemas que ele observou, considerou como patologia social, e chamou aquela sociedade doente de "Anomana". A anomia era a grande inimiga da sociedade, algo que devia ser vencido, e a sociologia era o meio para isso. O papel do soci- ólogo seria, portanto, estudar, entender e ajudar a sociedade. Em seus estudos, Durkheim concluiu que os fatos sociais atingem toda a sociedade, o que só é possível se admitirmos que a sociedade seja um todo integrado. Se tudo na sociedade está interligado, qualquer alteração afeta o geral, o que quer dizer que, se algo não vai bem em algum setor da sociedade, toda ela sentirá o efeito. Partindo desse raciocínio, desenvolve dois dos seus principais conceitos: Instituição social e Anomia. Solidariedade Social A solidariedade, segundo Durkheim , é oriunda de dois tipos de consciência: a cons- ciência coletiva (ou comum) e consciência individual. Cada indivíduo possui uma consciência individual que sofre influência da consciência coletiva, que nada mais é que a combinação das consciências individuais de todos os homens ao mesmo tem- po. A consciência coletiva seria responsável pela formação de nossos valores morais, e exerce uma pressão externa aos indivíduos no momento de suas escolhas. A soma da consciência individual com a consciência coletiva forma o ser social. Dentro da perspectiva sociológica durkheimniana, a existência de uma socie- dade só é possível a partir de um determinado grau de consenso entre seus membros constituintes: os indivíduos. Esse consenso se assenta, basicamente, no processo de adequação da consciência individual à consciência coletiva. De- pendendo do grau de consenso, temos dois tipos de solidariedade. 32 UNIDADE 1 — SOCIOLOGIA, AUTORES E CONCEITOS Solidariedade mecânica A sociedade em sua fase primitiva se organizava socialmente a partir das seme- lhanças psíquicas e sociais entre os membros individuais. Nessas sociedades, os indivíduos que as integravam compartilhavam dos mesmos valores sociais, tanto no que se refere às crenças religiosas como com relação aos interesses ma- teriais necessários à subsistência do grupo, essa correspondência de valores é que assegurava a coesão social. Solidariedade orgânica Já nas sociedades ditas "modernas" ou "complexas" do ponto de vista da maior diferenciação individual e social, existe a solidariedade orgânica. Nesse modelo, cada indivíduo tem uma função e depende dos outros para so- breviver. A Solidariedade Orgânica é fruto das diferenças sociais, já que são es- sas diferenças que unem os indivíduos pela necessidade de troca de serviços e pela sua interdependência. O indivíduo é socializado porque, embora tenha sua individualidade, depende dos demais e, por isso, se sente parte de um todo. FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/2XqRDVy>. Acesso em: 20 mar. 2021. Durkheim é considerado o criador da Sociologia da Educação. Para ele, a principal função do professor é formar cidadãos capazes de contribuir para a harmonia social. Qual seria a grande função da Educação segundo Durkheim? QUADRO 12 – CONTRIBUIÇÕES Durkheim não desenvolveu métodos pedagógicos, mas suas ideias ajudaram a compreender o significado social do trabalho do professor, tirando a educa- ção escolar da perspectiva individualista, sempre limitada pelo psicologismo idealista. Segundo Durkheim, o papel da ação educativa é formar um cidadão que tomará parte do espaço público, não somente o desenvolvimento individu- al do aluno. Portanto, "a educação tem por objetivo suscitar e desenvolver na criança estados físicos e morais que são requeridos pela sociedade política no seu conjunto". Tais exigências, com forte influência no processo de ensino, estão relacionadas à religião, às normas e sanções, à ação política, ao grau de desen- volvimento das ciências e até mesmo ao estado de progresso da indústria local. Se a educação for desligada das causas históricas, ela se tornará apenas exercício da vontade e do desenvolvimento individual, o que, para ele, era incompreen- sível: "Como é que o indivíduo pode pretender reconstruir, por meio do único esforço da sua reflexão privada, o que não é obra do pensamento individual?". Ele mesmo respondeu: "O indivíduo só poderá