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IV Semana de Ciência e Tecnologia do IFMG campus Bambuí IV Jornada Científica 6 a 9 de outubro de 2011 IMPORTÂNCIA DO COLOSTRO PARA OBTENÇÃO DE BEZERRAS SAUDÁVEIS Larisse PEREIRA1, Daviane Martinele COSTA1 , Liziana Maria RODRIGUES 2,Priscila Barbosa PEREIRA3, Lídia da Silva RODARTE1 , Angélica Campos MARTINS1 1 Alunas do curso de graduação em Zootecnia IFMG campus Bambuí 2 Professora do IFMG campus Bambuí 3Aluna do curso de Ciências Biológicas do UNI-BH RESUMO Colostro é a primeira secreção da glândula mamária após o parto, rica em nutrientes e anticorpos. Em virtude do tipo de placenta da vaca, que impede a transferência de anticorpos para o feto, as bezerras nascem praticamente desprovidas de defesa contra os agentes causadores de doenças. Os anticorpos são transferidos ao recém-nascido através da ingestão do colostro. A principal função do colostro é transferência de anticorpos (imunoglobulinas), essenciais para a defesa do organismo contra infecções. No entanto, o colostro exerce outras funções. É a primeira fonte de nutrientes para o bezerro recém-nascido, sendo essencial para a geração de calor e manutenção da temperatura corporal, uma vez que o animal possui poucas reservas corporais. Possui também fatores de crescimento e hormônios que são responsáveis pelo direcionamento do desenvolvimento de vários tecidos e órgãos corporais. Tem efeito laxativo que ajuda o jovem animal eliminar o mecônio ou primeiras fezes. É importante que a bezerra ingira o colostro dentro das 3 primeiras horas de vida, já que logo após o nascimento o intestino começa a perder a capacidade de absorver os anticorpos, há a produção de enzimas digestivas e a qualidade do colostro diminui após a 1ª ordenha . Palavras-chave: colostro, imunidade passiva, manejo de bezerras INTRODUÇÃO O colostro bovino consiste em uma mistura de secreções lácteas e constituintes do soro sangüíneo, principalmente imunoglobulinas e outras proteínas séricas, que se acumulam na glândula mamária durante o período final de gestação. O produto da primeira ordenha após o parto é verdadeiramente denominado de colostro, em seguida do ponto de vista da qualidade de anticorpos, IV Semana de Ciência e Tecnologia do IFMG campus Bambuí IV Jornada Científica 6 a 9 de outubro de 2011 o das ordenhas subseqüentes é denominado de leite de transição. Só a partir da 7ª ou 8ª ordenha que se obtém o leite inteiro (SANTOS et. al, 2002). Em virtude do tipo de placenta da vaca, que impede a transferência de anticorpos para o feto, os bezerros nascem desprovidos de defesa contra os agentes causadores de doenças. Os anticorpos são transferidos ao recém-nascido através da ingestão do colostro. Esse tipo de imunidade é denominada passiva e é essencial a ingestão e absorção de quantidades adequadas de imunoglobulinas do colostro nas primeiras horas de vida já que a integridade do sistema imune é componente crítico para a sobrevivência e crescimento das bezerras. A principal e mais conhecida função do colostro é transferência de anticorpos, no entanto, possui outras funções essenciais, assim, busca-se com este trabalho discorrer sobre as funções do colostro mostrando a importância do correto manejo para sobrevivência de bezerras. REFERENCIAL TEÓRICO Função Imunológica do colostro Existe uma variabilidade muito grande da concentração de anticorpos (imunoglobulinas) no colostro das vacas. Os principais são as IgG, IgA e IgM. (SANTOS et. al, 2002). A função da IgG e da IgM é a destruição de microrganismos que estão presentes no sangue (infecção sistêmica), IgA participa da proteção das membranas que cobrem a superfície de vários órgãos, especialmente o intestino, contra infecção e bloqueio da passagem de antígenos para o sangue (WATTIAUX, 2009). A qualidade do colostro quanto à quantidade de anticorpos pode ser estimada utilizando-se um hidrômetro (colostrômetro). Este equipamento classifica o colostro conforme a concentração de imunoglobulinas: pobre, com concentração de até 22 mg/mL; mediana, com concentração entre 22 a 50 mg/mL: boa, concentração maior que 50 mg/mL (COELHO, 2005). A ingestão do colostro de alta qualidade deve ser feita imediatamente após o nascimento. O aparelho digestivo dos bezerros é diferenciado nas primeiras horas de vida, não produzindo secreções e enzimas digestivas e o epitélio está apto a absorver moléculas grandes como as imunoglobulinas (CUNHA e MARTUSCELLO, 2009). Com a maturação do intestino delgado, que começa rapidamente após o nascimento a habilidade do intestino em absorver macromoléculas sem digestão é perdida (BESSI et al., 2002). Vinte e quatro horas após o parto, as paredes do intestino absorvem menos que 10% do que originalmente pode ser absorvido, além disso, a secreção de enzimas torna-se substancial por volta das 12 horas após o nascimento. Assim, o ideal é que a ingestão do colostro ocorra em até três horas de vida, visando maximizar as chances de sobrevivência (REHAGRO, 2003). IV Semana de Ciência e Tecnologia do IFMG campus Bambuí IV Jornada Científica 6 a 9 de outubro de 2011 A concentração de proteína total no soro até sete dias de idade pode ser utilizada para indicar como foi feita a colostragem. Esta concentração pode ser obtida pelo exame realizado em laboratório ou pode ser realizada na fazenda com a utilização de um refratômetro. Concentrações maiores que 5,5 g/dL indicam sucesso na transferência de imunidade; de 5,0 a 5,4 g/dL, moderado sucesso; e menor de 5,0 g/dL, falha na transferência de imunidade passiva (COELHO, 2005). Função Nutricional do colostro O colostro possui duas vezes mais sólidos totais que o leite. As percentagens de proteína e gordura são altas. Os minerais e vitaminas consumidos através do colostro podem evitar que ocorram deficiências durante o período de aleitamento, já que o leite possui baixa concentração de alguns minerais como ferro, cobre e vitaminas E e A (CUNHA e MARTUSCELLO, 2009). Segundo Coelho et al. (2010) o corpo do animal recém-nascido possui pouca reserva de gorduras, e a maior parte dos lipídeos é de origem estrutural e não pode ser mobilizada. As reservas de gordura corporal e glicogênio que podem ser mobilizadas se esgotam em 18 horas após o nascimento se os animais não forem alimentados. Assim, a manutenção da homeostasia torna-se dependente da quantidade e da qualidade nutricional do colostro ingerido. Função somatogênica do colostro O colostro possui vários peptídeos biologicamente ativos (PBA) e a função exata de muitos deles ainda não esta determinada. Os peptídeos presentes no colostro mais estudados são o fator de crescimento epidérmico (EGF) e os fatores de crescimento semelhantes à insulina I e II (IGF I e IGFII). O EGF é um peptídeo ácido-estavél, que resiste à degradação protéica estomacal. Sua principal atividade no trato gastrointestinal é de estimular a proliferação e diferenciação de células intestinais e a maturação do trato digestivo. Os fatores de crescimento semelhante à insulina I e II são peptídeos que têm a capacidade de estimular a síntese de DNA e a mitose em vários tipos de células e são promotores de crescimento do intestino em bezerros neonatos (COELHO, 2005). Função Laxativa do colostro O efeito laxativo do colostro é responsável pela desobstrução do intestino através da eliminação do mecônio, chamado também de primeiras fezes (secreções, fluidos, células e bili), produzidas e acumuladas no intestino durante a vida intra-uterina (EMBRAPA, 2005). IV Semana de Ciência e Tecnologia do IFMG campus Bambuí IV Jornada Científica 6 a 9 de outubro de 2011 Manejo de fornecimento Os fatores chave para o correto manejo do colostro são: volume ingerido, qualidade de imunoglobulinas e tempo decorrido após o nascimento para ingestão. Durante muito tempo a administração de 2 litros de colostro em2 alimentações foi recomendada. No entanto, com o aumento da preocupação em relação à qualidade do colostro, muitos pesquisadores agora recomendam o fornecimento de 3,78 litros de colostro na primeira alimentação, que deve ocorrer até 6 horas após o nascimento. Para bezerros de raças de pequeno porte a recomendação tem sido de 3 litros de colostro para o mesmo período (COELLHO, 2005). Em trabalhos realizados por Wattiaux (2009) para verificar o efeito da quantidade de colostro ingerido nas primeiras 12 horas após o nascimento, a mortalidade média entre a 1ª e 6ª semana foi de 15,3% em rebanhos onde as bezerras receberam ate 4 Kg de colostro enquanto para rebanhos onde as bezerras receberam ate 10 Kg a mortalidade reduziu para 6,5%. Mais importante do que a quantidade de colostro é a riqueza de anticorpos no colostro. A concentração é bem maior na primeira ordenha pós-parto, estima-se que o animal teria que ingerir uma quantidade seis vezes maior de colostro após a terceira ordenha para receber a mesma proteção conferida pelo colostro produzido nos primeiros momentos após o parto (EMBRAPA, 2005). Quanto à forma de fornecimento de acordo com Santos e Grongnet (1990), pode ser feita de três maneiras: permanência da bezerra junto ao “pé da vaca” durante toda a fase de aleitamento, permanência da bezerra junto ao “pé da vaca” somente nas primeiras 24h; com isso, a bezerra mama, em média, de 8 a 10 vezes no primeiro dia de vida e separação das bezerras logo após o nascimento, recebendo o colostro da primeira ordenha, em balde ou mamadeira. Em qualquer método empregado, o importante é assegurar que a bezerra ingira o colostro nas primeiras horas de vida. Caso a bezerra não mame nas primeiras 6h do nascimento, deve-se intervir. A utilização de uma sonda esofágica é a melhor opção em casos extremos da não ingestão voluntária (SANTOS E GRONGNET,1990). CONSIDERAÇÕES FINAIS Além da importância para aquisição de imunidade através dos anticorpos, o colostro é a primeira fonte de nutrientes para o bezerro recém-nascido, possui fatores somatogênicos e efeito laxativo para eliminação do mecônio. Contudo, fornecer colostro rico em imunoglobulinas às bezerras o mais cedo possível após o nascimento é essencial para aquisição de animais saudáveis e resistentes para reposição de matrizes do rebanho. IV Semana de Ciência e Tecnologia do IFMG campus Bambuí IV Jornada Científica 6 a 9 de outubro de 2011 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BESSI, R.; PAULETTI, P.; d’ARCE, R.D. et al. Absorção de anticorpos do colostro em bezerros. I. Estudo no intestino delgado proximal. Revista Brasileira de Zootecnia, v.31, n.6, p.2314-2324, 2002. COELHO, S. G. Alimentação da Bezerra – In: Anais V Simpósio Mineiro de Nutrição de gado de Leite – Belo Horizonte, MG: EV-UFMG, DZO, 2010. COELHO, S. G. Criação de Bezerros- In: II Simpósio Mineiro de Buiatria – Belo Horizonte, MG: EV-UFMG, DZO, 2005 CUNHA, D. N. F. V. e MARTUSCELLO, J. A. Criação de Bezerras de Rebanhos Leiteiros em Fase de Aleitamento – In Manejo e Administração em Bovinocultura Leiteira. Ed. : SILVA, J. C. P. et al. – Viçosa MG, 2009, 482 p. EMBRAPA- Criação de Bezerras em Sistemas de Produção de Leite. Circular técnica n°38, Aracaju – SE, 2005. 8 p. REHAGRO A importância do horário de fornecimento de colostro a bezerros recém-nascidos, 2003. Disponível em http://www.rehagro.com.br SANTOS, G. T.; DAMASCENO J.C.; MASSUDA, E.M; CAVALIERI, F.L.B. Importância do manejo e considerações econômicas na criação de bezerras e novilhas In: Anais do II Sul- Leite: – Maringá: UEM/CCA/DZO – NUPEL, 2002. 212p SANTOS, G.T.; GRONGNET, J.F.Transmissão da imunidade passiva colostral em ruminantes. Revista do Gado Holandês, n.178, setembro, p. 17-30, 1990 WATTIAX, M.A. Essenciais em Gado de Leite. 140p. 2009. Instituto Babcock para Pesquisa e Desenvolvimento da Pecuária- University of Wisconsin-Madison. Disponível em: http://babcock.wisc.edu/?q=pt-br/node/124 Acesso em 12 de novembro de 2010.