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Fiel a sua missão de interiorizar o ensino superior no estado Ceará, a UECE, como uma instituição que participa do Sistema Universidade Aberta do Brasil, vem ampliando a oferta de cursos de graduação e pós-graduação na modalidade de educação a distância, e gerando experiências e possibili- dades inovadoras com uso das novas plataformas tecnológicas decorren- tes da popularização da internet, funcionamento do cinturão digital e massificação dos computadores pessoais. Comprometida com a formação de professores em todos os níveis e a qualificação dos servidores públicos para bem servir ao Estado, os cursos da UAB/UECE atendem aos padrões de qualidade estabelecidos pelos normativos legais do Governo Fede- ral e se articulam com as demandas de desenvolvi- mento das regiões do Ceará. Pr in cí pi os d e Fi si ol og ia V eg et al Ciências Biológicas Ciências Biológicas Roselita Maria de Souza Mendes Eliseu Marlônio Pereira de Lucena Jeanne Barros Leal de Pontes Medeiros Princípios de Fisiologia Vegetal U ni ve rs id ad e Es ta du al d o Ce ar á - U ni ve rs id ad e Ab er ta d o Br as il ComputaçãoQuímica Física Matemática PedagogiaArtes Plásticas Ciências Biológicas Geografia Educação Física História 9 12 3 Roselita Maria de Souza Mendes Eliseu Marlônio Pereira de Lucena Jeanne Barros Leal de Pontes Medeiros Princípios de Fisiologia Vegetal Ciências Biológicas 2ª edição Fortaleza - Ceará 2015 ComputaçãoQuímica Física Matemática PedagogiaArtes Plásticas Ciências Biológicas Geografia Educação Física História 9 12 3 Editora da Universidade Estadual do Ceará – EdUECE Av. Dr. Silas Munguba, 1700 – Campus do Itaperi – Reitoria – Fortaleza – Ceará CEP: 60714-903 – Fone: (85) 3101-9893 Internet: www.uece.br – E-mail: eduece@uece.br Secretaria de Apoio às Tecnologias Educacionais Fone: (85) 3101-9962 Copyright © 2015. Todos os direitos reservados desta edição à UAB/UECE. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autori- zação, por escrito, dos autores. Presidenta da República Dilma Vana Rousseff Ministro da Educação Renato Janine Ribeiro Presidente da CAPES Carlos Afonso Nobre Diretor de Educação a Distância da CAPES Jean Marc Georges Mutzig Governador do Estado do Ceará Camilo Sobreira de Santana Reitor da Universidade Estadual do Ceará José Jackson Coelho Sampaio Vice-Reitor Hidelbrando dos Santos Soares Pró-Reitora de Graduação Marcília Chagas Barreto Coordenador da SATE e UAB/UECE Francisco Fábio Castelo Branco Coordenadora Adjunta UAB/UECE Eloísa Maia Vidal Direção do CCS/UECE Glaúcia Posso Lima Coordenadora da Licenciatura em Ciências Biológicas Germana Costa Paixão Coordenadora de Tutoria e Docência em Ciências Biológicas Roselita Maria de Souza Mendes Editor da EdUECE Erasmo Miessa Ruiz Coordenadora Editorial Rocylânia Isidio de Oliveira Projeto Gráfico e Capa Roberto Santos Diagramador Francisco José da Silva Saraiva Revisora Ortográfica Fernanda Rodrigues Ribeiro Conselho Editorial Antônio Luciano Pontes Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes Emanuel Ângelo da Rocha Fragoso Francisco Horácio da Silva Frota Francisco Josênio Camelo Parente Gisafran Nazareno Mota Jucá José Ferreira Nunes Liduina Farias Almeida da Costa Lucili Grangeiro Cortez Luiz Cruz Lima Manfredo Ramos Marcelo Gurgel Carlos da Silva Marcony Silva Cunha Maria do Socorro Ferreira Osterne Maria Salete Bessa Jorge Silvia Maria Nóbrega-Therrien Conselho Consultivo Antônio Torres Montenegro (UFPE) Eliane P. Zamith Brito (FGV) Homero Santiago (USP) Ieda Maria Alves (USP) Manuel Domingos Neto (UFF) Maria do Socorro Silva Aragão (UFC) Maria Lírida Callou de Araújo e Mendonça (UNIFOR) Pierre Salama (Universidade de Paris VIII) Romeu Gomes (FIOCRUZ) Túlio Batista Franco (UFF) Editora Filiada à M538p Mendes, Roselita Maria de Souza. Princípios de fisiologia vegetal / Roselita Maria de Souza Mendes, Eliseu Marlônio Pereira de Lucena, Jeanne Barros Leal de Pontes Medeiros – 2. ed. – Fortaleza : EdUECE, 2015. 126 p. : il. ; 20,0cm x 25,5cm. (Ciências Biológicas) Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-7826-350-8 1. Fisiologia vegetal. 2. Fisiologia vegetal – Relações hídricas. 3. Fisiologia vegetal – Crescimento e desenvolvimento. 4. Nutrição mineral. 5. Fotossíntese. 6. Translocação no floema. I. Lucena, Eliseu Marlônio Pereira de. II. Medeiros, Jeanne Barros Leal de Pontes. III. Título. CDD 581.1 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Sistema de Bibliotecas Biblioteca Central Prof. Antônio Martins Filho Francisco Welton Silva Rios – CRB-3 / 919 Bibliotecário Sumário Apresentação ......................................................................................... 5 Capítulo 1 - Relações Hídricas ............................................................ 7 1.1. A água e as células vegetais .............................................................9 1.2. Balanço hídrico das plantas ...........................................................16 Capítulo 2 - Nutrição Mineral ............................................................. 31 2.1. O solo como fornecedor de nutrientes ............................................33 2.2. Elementos essenciais .....................................................................33 2.3. Técnicas especiais utilizadas em estudos nutricionais ...................38 2.4. Tratamento para deficiências nutricionais.......................................38 2.5. Fatores que afetam a absorção mineral .........................................40 2.6. Metabolismo do nitrogênio ..............................................................42 Capítulo 3 - Fotossíntese .................................................................... 49 3.1. Introdução .......................................................................................51 3.2. Processo fotoquímico .....................................................................52 3.3. Processo bioquímico ......................................................................55 3.4. Processo de difusão ........................................................................61 3.5. Aspectos ecofisiológicos associados à fotossíntese ......................62 Capítulo 4 - Translocação no Floema ............................................... 67 4.1. Introdução .......................................................................................69 4.2. Rotas de translocação ...................................................................69 4.3. Padrões de translocação: fonte-dreno ............................................70 4.4. Materiais translocados no floema ...................................................71 4.5. Taxas de movimento .......................................................................72 4.6. Modelo de fluxo de pressão para translocação ..............................72 4.7. Carregamento do floema ................................................................73 4.8. Descarregamento do Floema .........................................................74 4.9. Alocação e partição de fotoassimilados ..........................................75 Capítulo 5 - Respiração....................................................................... 81 5.1. Introdução .......................................................................................83 5.2. Bioquímica da respiração ...............................................................83 5.3. Respiração nos órgãos vegetais .....................................................90 Capítulo 5 - Crescimento e Desenvolvimento ................................ 95 6.1. Introdução .......................................................................................97 6.2. Conceitos ........................................................................................97 6.3. Análise quantitativado crescimento ................................................98 6.4. Hormônios vegetais .......................................................................100 6.5. Movimentos em plantas ................................................................ 113 6.6. Fisiologia da germinação .............................................................. 115 Sobre os autores ............................................................................... 126 Apresentação Muitos sabem o que acontece com os vegetais quando são expostos a deter- minadas condições ambientais ou a práticas culturais, mas poucos compre- endem o motivo de muitos fenômenos observados neles. O estudo desses fenômenos constitui o ramo da Botânica conhecido por Fisiologia Vegetal. Apresentamos, neste livro, alguns aspectos relevantes ao estudo da fisiologia de plantas. Inicialmente, abordamos a importância da água para as plantas, os me- canismos e as forças propulsoras que operam no transporte de água dentro da planta e entre a planta e seu ambiente, as relações solo-água-planta em culturas submetidas à deficiência hídrica, bem como os mecanismos fisiológi- cos de resposta da planta ao estresse hídrico. O segundo capítulo destaca as necessidades nutricionais das plantas, os fatores que afetam a absorção e os aspectos ambientais do uso de fer- tilizantes, bem como descreve a fixação, assimilação e perda de nitrogênio pelas plantas. No capítulo 3, descrevemos as reações luminosas e de carboxilação, o processo de fotorrespiração, as características peculiares às plantas C3, C4 e CAM, assim como os aspectos fisiológicos e ecológicos da fotossíntese. O capítulo 4 traz informações a respeito da estrutura do floema e suas funções na translocação e na distribuição de fotoassimilados. O capítulo 5 apresenta uma visão geral das vias bioquímicas da res- piração e suas características singulares, a respiração nos diversos órgãos vegetais e os fatores que a afetam. O último capítulo dá ênfase aos conceitos importantes para o estudo do crescimento e do desenvolvimento, à análise quantitativa do crescimento, à regulação do desenvolvimento pelos fitormônios, aos principais tipos de movi- mentos em plantas e à fisiologia da germinação em sementes. Esperamos, ao final deste livro, tornar sua caminhada pelo mundo das plantas bem mais fácil e mais segura. Os autores Capítulo 1 Relações Hídricas Fisiologia Vegetal 9 Objetivos •• Identificar os mecanismos e as forças propulsoras que operam no trans- porte de água dentro da planta e entre a planta e seu ambiente; •• Estudar as relações solo-água-planta em culturas submetidas à deficiên- cia hídrica; •• Analisar os mecanismos fisiológicos de resposta da planta ao estresse hídrico. 1.1. A água e as células vegetais 1.1.1. A água na vida das plantas Falar da importância da água para as plantas constitui um truísmo. Sabe- -se que a vida originou-se em ambiente aquático. A água representa de 80 a 95% da massa de tecidos vegetais em crescimento, sendo o principal constituinte do protoplasma; reagente em processos químicos (ex.: fotos- síntese, hidrólise de ATP, amido, lipídios etc); permite o desenvolvimento de pressão de turgescência na célula; é responsável por micromovimentos (estomático, de flores, folíolos etc.); é solvente e “veículo” de transporte de várias substâncias nas plantas; é também meio através do qual os game- tas móveis efetuam a fertilização, tornando-se essencial, na disseminação de esporos, frutos e sementes; além de ser um fator ambiental indispen- sável na distribuição dos vegetais na biosfera, limitando a produtividade agrícola e de ecossistemas naturais. Apesar da necessidade de garantir uma percentagem tão elevada de água no seu corpo, as plantas não podem deslocar-se para ir buscá-la. Assim, a compreensão da forma como as plantas vão obter, distribuir pelos diferentes tecidos do seu corpo e como a conseguem armazenar é um dos aspectos fundamentais da Fisiologia Vegetal. 1.1.2. Estrutura e propriedades da água A água apresenta propriedades especiais que lhe permitem agir como um excelente solvente e ser prontamente transportada através da planta. Tais pro- priedades estão intimamente relacionadas à sua estrutura eletrônica, ou seja, derivam primariamente da estrutura polar da molécula de água. Coesão, adesão e tensão superficial originam um fenômeno conhecido como capilaridade, que é o movimento ascendente da água por distâncias pequenas em um tubo de vidro ou numa parede celular. Quanto mais estreito é o tubo capilar, mais alto é o nível da água em equilíbrio. MENDES, R. M. de S; LUCENA, E. M. de P; MEDEIROS, J. B. L. de P. 10 A molécula de água consiste de um átomo de oxigênio covalentemente ligado a dois átomos de hidrogênio (Figura 1.1). A separação de cargas positi- vas e negativas gera uma atração elétrica mútua entre moléculas polares, que possibilita a formação das chamadas pontes de hidrogênio, responsáveis por muitas das propriedades incomuns da água, tais como alto calor espe- cífico (ajuda a manter a temperatura mais ou menos constante das plantas); alto calor latente de vaporização (permite às plantas se refrescarem por transpiração); elevados pontos de fusão e de ebulição; coesão; adesão e tensão superficial. Figura 1.1 Diagrama da molécula de água. As duas ligações intramoleculares hidro- gênio-oxigênio formam um ângulo de 105º. As cargas parciais opostas (δ- e δ+) na molécula de água, levam à formação das pontes de hidrogênio com outras moléculas de água. Fonte: TAIZ; ZEIGER (2009). 1.1.3. Processos de transporte de água A água se desloca do solo, através da planta, até a atmosfera por meios bas- tante variáveis. Logo, quando se estuda as relações hídricas nas plantas, é interessante que se conheça o que governa o movimento da água. O movi- mento da água é governado basicamente por três processos: o fluxo de mas- sa, a difusão e a osmose. a) Fluxo de massa Fluxo de massa é o movimento em conjunto de grupos de moléculas em massa, mais comumente em resposta a um gradiente de pressão (exem- plos: água movendo-se em uma mangueira de jardim ou em um rio, chuva caindo). O fluxo de massa da água movido por pressão é responsável pelo transporte de água de longa distância no xilema, pela maior parte do fluxo de água no solo e nas paredes celulares de tecidos vegetais. Fisiologia Vegetal 11 O fluxo de massa é explicado pela equação de Poiseuille, onde: a taxa de fluxo volumétrico (m3 s-1) depende do raio (r) do tubo, da viscosidade do líquido (η) e do gradiente de pressão (ψp/∆x) que governa o fluxo. b) Difusão A difusão pode ser interpretada como movimento de moléculas por agi- tação térmica aleatória de regiões de alta concentração (alta energia livre) para regiões de baixa concentração (baixa energia livre). A difusão é calcula- da pela Lei de Fick: Em que Js = densidade de fluxo [mol m -2 s-1]; Ds = coeficiente de difusão; DCs= diferença de concentração da substância “s”; ∆x = distância entre dois pontos. O sinal negativo na equação indica que o fluxo ocorre em direção à menor concentração. A difusão é rápida para curtas distâncias, mas extremamente lenta para longas distâncias. O tempo médio de difusão para uma distância L é igual a L = L2/Ds, onde Ds é o coeficiente de difusão, o qual depende da identidade da partícula e do meio onde ela se difunde. c) Osmose Da mesma forma como ocorre com a difusão molecular e o fluxo de massa governado por pressão, a osmose ocorre espontaneamente em res- posta a uma força propulsora. A osmose é definida como o movimento de água através de uma membrana seletivamente permeável devido a um gra- diente de potencial hídrico. Neste processo, os dois tipos de gradientes (con- centração de água e de pressão) influenciam o transporte, ou seja, a direção e a taxa de fluxo de água sobre a membrana são determinados pela soma dessas duas forças propulsoras. Durante anos, houve muitas dúvidas sobre o movimento daágua atra- vés de membranas vegetais. Com a descoberta das aquaporinas, essa in- certeza foi desfeita. As aquaporinas são proteínas integrais de membrana, as quais formam canais seletivos à água através da membrana (Figura 1.2).Uma vez que a água difunde-se mais rapidamente por meio desses canais que pela dupla camada lipídica, as aquaporinas facilitam o movimento de água para o interior das células vegetais. Em particular, a difusão é um importante fator no suprimento de CO2 para a fotossíntese, bem como para a perda de água por transpiração. MENDES, R. M. de S; LUCENA, E. M. de P; MEDEIROS, J. B. L. de P. 12 Figura 1.2 Água atravessando a membrana celular de plantas. (A) por difusão de mo- léculas individuais através da bicamada lipídica; (B) por fluxo em massa, através de poros seletivos formados por proteínas integrais da membrana, como as aquaporinas. Fonte: Costa (2001). 1.1.4. Potencial hídrico O potencial hídrico (Yw) tem ganhado aceitação pelos fisiologistas vegetais como medida fundamental do “status” energético da planta. É importante para permitir o estudo do movimento da água no complexo solo-planta- -atmosfera, uma vez que a água circula nesse sistema sob a ação dos gradientes de potencial hídrico. É uma medida da energia livre da água por unidade de massa (J kg-1) ou de volume (J m-3). Essas unidades são equivalentes a unidades de pressão, onde: 0,987atm (atmosfera) = 1 bar = 0,1 MPa (megapascal). Por definição: Em que: •• µ - µ º = diferença entre o potencial químico da água e o potencial químico da água pura (Yw = 0); •• V = volume molal parcial da água (volume de 1 mol de água:18x10-6 cm3 mol-1). 1.1.4.1. Componentes do potencial hídrico O potencial hídrico é resultante dos seguintes componentes: ψw = ψp + ψs + ψg + ψm Aquaporina (porp seletivo para a água) Moléculas de água Bicamada da membrana Fisiologia Vegetal 13 Os termos ψp, ψs, ψg e ψm denotam os efeitos da pressão, dos solutos, das forças de gravidade e de superfície, respectivamente, sobre a energia livre da água. Como o estado de referência foi estabelecido como zero (Yw= 0), os fatores supracitados podem aumentar ou diminuir o potencial hídrico, isto é, a energia livre capaz de realizar trabalho. Pressão – O termo ψp corresponde ao potencial de pressão ou pressão hidrostática. Pressão positiva aumenta o ψw, pressão negativa o reduz. A pres- são hidrostática positiva dentro de células é aquela que se refere à pressão de turgor. O ψp também pode ser negativo, tal como ocorre no xilema e nas pa- redes entre as células, ou pode ser igual a zero, como nas células em estado de plasmólise incipiente. Solutos – O termo ψs, denominado potencial osmótico ou de solutos representa o efeito de solutos dissolvidos sobre o potencial hídrico. Para solu- ções diluídas de substâncias indissociáveis, como a sacarose, o ψs pode ser estimado pela equação de van’t Hoff: ψs = - RTcs Onde: R = constante dos gases; T = temperatura absoluta (ºK); cs = concen- tração de soluto na solução, expressa como osmolalidade (mol L-1). O sinal negativo (-) indica que os solutos dissolvidos reduzem o ψw da solução em relação ao estado de referência da água pura. Gravidade – O ψg representa o potencial gravitacional e expressa a ação da gravidade sobre a energia livre da água. Depende da altura (h) da água acima do estado de referência dela, da densidade da água (ρw) e da aceleração da gravidade (g). Pode ser calculado pela equação: ψg = ρwgh Mátrico – o potencial mátrico (ψm) define as influências que as forças superficiais e espaços intermicelares exercem sobre o potencial químico da água. Pode ser desprezado ou ter valores negativos. É importante na carac- terização do processo de embebição pelas sementes e nas relações hídricas de solos. A tensão negativa formada nas paredes celulares e transmitida aos vasos do xilema é também referida como potencial mátrico. 1.1.4.2. Fluxo da água na célula ao longo de gradiente de potencial hídrico Para facilitar a compreensão dos conceitos de potencial hídrico e de seus componentes a nível celular, consideremos, então, as alterações sofridas por uma célula, conforme exemplificadas na Figura 1.3. Um ponto comum em todos esses exemplos merece destaque: o fluxo de água através de membra- nas é um processo passivo, ou seja, a água move-se em resposta a forças Em muitas situações, o valor do potencial gravitacional (ψg) é omitido (desprezível), como no transporte de água em nível celular. Nesses casos, o ψw pode ser expresso como se segue: ψw = ψp + ψs. MENDES, R. M. de S; LUCENA, E. M. de P; MEDEIROS, J. B. L. de P. 14 físicas, em direção a regiões de baixo potencial hídrico. Figura 1.3 Cinco exemplos ilustram o conceito de potencial hídrico e seus componen- tes. (A) Água pura; (B) Solução contendo 0,1 M de sacarose; (C) Célula flácida (em ar) é mergulhada na solução 0,1 M de sacarose (uma vez que Ψw inicial da célula é menor que o Ψw da solução, a célula absorve água. Após o equilíbrio, o Ψw da célula aumenta para igualar o Ψw da solução, e o resultado é uma célula com pressão de turgor positiva); (D) O aumento da [sacarose] na solução faz a célula perder água, reduzindo o Ψp no caso, o protoplasto é capaz de se afastar da parede celular ,isto é, a célula plasmolisa, pois moléculas de sacarose são capazes de passar pelos poros relativamente grandes das paredes celulares. Por outro lado, quando uma célula seca ao ar, como a célula flácida no painel C, a plasmólise não ocorre, uma vez que a água retida por forças capilares na parede celular impede a infiltração do ar para dentro de qualquer espaço vazio entre a membrana plasmática e a parede celular; e (E) Outra forma de fazer uma célula perder água é pressioná-la lentamente entre duas placas. Nesse caso, metade da água celular é removida, de forma que o potencial osmótico aumenta por um fator 2. Fonte: TAIZ; ZEIGER (2009). Fisiologia Vegetal 15 1.1.4.3. Avaliação do “status” hídrico da planta •• Determinação do potencial hídrico (Yw) O conceito de potencial hídrico tem dois usos principais: governa o trans- porte, através de membranas celulares, e é comumente utilizado como uma medida do “status” hídrico de uma planta. Pode ser determinado por vários métodos: bomba à pressão ou de Scholander (método mais utilizado, o qual mede a pressão hidrostática negativa - tensão - no xilema de muitas plantas, onde ψw = ψp xilema ); mudança de peso ou de volume (ausência de mudanças no peso ou no volume do tecido significa que o ψw da solução em questão é igual ao do tecido); entre outros. •• Determinação do déficit de saturação hídrica e do teor relativo de água O déficit de saturação hídrica (ΔWsat) indica a quantidade de água que a planta precisa para alcançar sua total saturação. O teor relativo de água (TRA) representa o conteúdo de água de um tecido comparado com o máximo que poderá reter, em um determinado tempo. As metodologias baseiam-se na ob- tenção dos pesos frescos (PF), secos (PS) e túrgidos (peso máximo) das fo- lhas. É estimado como se segue: TRA (%) = PF - PS x 100 ΔWsat (%) = PM - PF x 100 PM - PS PM – PS •• Outras características Alguns autores utilizam diversas variáveis que identificam, indiretamen- te, o “status” hídrico da planta. Essas variáveis devem ser analisadas, de pre- ferência em conjunto. Vejamos as mais importantes: •• Elasticidade da parede celular (ε) = (ΔΨp/ΔΨp). V; •• Condutância estomática (movimento dos estômatos); •• Variações no diâmetro do caule; •• Relação temperatura da folha / temperatura do ambiente; •• Murchamento visual. 1.1.4.4. Sensibilidade de processos fisiológicos ao potencial hídricoA sensibilidade de determinado processo fisiológico é, em grande parte, um re- flexo da estratégia da planta em lidar com a variação da disponibilidade de água no solo. O estado de hidratação das plantas pode variar tanto entre espécies de MENDES, R. M. de S; LUCENA, E. M. de P; MEDEIROS, J. B. L. de P. 16 diferentes estratos numa formação vegetal, quanto para as mesmas espécies em diferentes estações. Algumas das primeiras respostas à deficiência hídrica parecem ser mediadas, predominantemente, por eventos biofísicos, mais do que por alterações de reações químicas causadas pela desidratação. Na Figura 1.4, podemos observar a sequência de eventos que vão surgindo gradualmente à medida que o estresse hídrico vai se desenvolvendo. Figura 1.4 Respostas das plantas ao estresse hídrico. a) A sensibilidade das várias funções e processos celulares durante a deficência hídrica. As linhas horizontais contínuas mostram a gama de potencial hídrico para a qual, na maioria das plantas, ocorre uma resposta clara; a linha tracejada vertical mostra o início do fechamento estomático; b) Curso temporal das respostas metabólicas devido à perturbação da turgidez. Fonte: Larcher (2000); Costa (2001). 1.2. Balanço hídrico das plantas 1.2.1. Água no solo O conteúdo de água e sua taxa de movimento no solo dependem, em grande parte, do tipo e da estrutura do solo. Em solos arenosos, os espaços entre as partí- culas são largos, e a água tende a drenar entre eles, permanecendo somente nas superfícies das partículas e/ou nos interstícios entre elas. Nos solos argilosos, os canais são estreitos, e a água não drena facilmente. O conteúdo de água do solo que permanece retido por capilaridade após drenagem do excesso é chamado de capacidade de campo. Em solos muitos secos, o ψw pode cair até atingir o ponto de murcha permanente, quando não existe mais água disponível para as plantas, o qual depende do solo e da espécie de planta. 1.2.2. Absorção de água pelas raízes Nas raízes, o movimento de água dá-se das células epidérmicas até o cilindro central. Existem três rotas pelas quais a água pode fluir (Figura 1.5): a apo- plástica, a simplástica e a transcelular (ou transmembrana). Na endoderme, o fluxo de água através do apoplasto é obstruído pela estria de Caspary, rica em suberina (substância cerosa e hidrofóbica), forçando a água e os solutos a atravessarem pela membrana plasmática. Fisiologia Vegetal 17 Figura 1.5 Rotas para absorção de água pelas raízes. Na rota simplástica, a água flui entre células pelos plasmodesmas, sem atravessar a membrana plasmática. Na transcelular, a água move-se através das membranas plasmáticas. Na apoplástica, a água move-se pela parede celular sem atravessar a membrana, sendo bloqueada pela estria de Caspary. Fonte: COSTA (2001). 1.2.3. Transporte de água para a parte aérea A existência de plantas terrestres altas só se tornou possível quando as plan- tas adquiriram, no decorrer da evolução, um sistema vascular que permitiu um movimento rápido da água para a parte aérea onde ocorre a transpira- ção. O principal tecido condutor de água nas plantas é o xilema, responsável também pela condução de minerais e de algumas moléculas orgânicas pe- quenas. O movimento de água das raízes para a folha, via xilema, pode ocor- rer devido a uma pressão positiva na base (raiz) ou a uma pressão negativa (tensão), desenvolvida na parte aérea (folha). A pressão radicular é maior em plantas bem hidratadas e sob condições de alta umidade relativa do ar quando a transpiração é baixa. A maior evidência da ocorrência da pressão positiva nas raízes é um fenômeno conhecido por gutação, o qual acorre frequente- mente em plantas de florestas pluviais tropicais e nos ápices de folhas quando a umidade relativa do ar é alta (Figura 1.6). Em plantas com alta taxa transpiratória, a absorção, o transporte e a perda de água para a atmosfera são tão rápidas que a pressão positiva no xilema não se desenvolve. Nesses casos, ocorre o estabelecimento de uma pressão hidrostática negativa, gerada pela transpiração foliar, que puxa a água através do xilema. Transpiração: evaporação de água da superfície de folhas e de caules. Gutação: exsudação de líquido pelas folhas, devido à pressão de raiz. MENDES, R. M. de S; LUCENA, E. M. de P; MEDEIROS, J. B. L. de P. 18 Figura 1.6 Exemplo de gutação indica gotas de solução xilemática exsudadas através de hidatódios em folhas de plântulas de milho (Zea mays L.). Fonte: COSTA (2001). 1.2.4. Movimento de água da folha para a atmosfera A água move-se, na fase líquida, em toda extensão do sistema vascular, che- gando até os sítios de evaporação nas paredes celulares do parênquima la- cunoso das folhas. Daí, através das câmaras subestomáticas, dos ostíolos e da cutícula, ela se move para a atmosfera externa na fase de vapor. A cutícula cerosa é uma barreira efetiva no movimento de água. Estima-se que 5% da perda de água da folha seja pela cutícula. Os estômatos, por sua vez, aco- plam a absorção de CO2 (Fotossíntese) com a perda de água na forma de vapor (Transpiração), conforme pode ser observado na Figura 1.7. Existem dois tipos básicos de células condutoras no xilema, os traqueídes e os elementos de vaso, sendo ambos mortos. Os traqueídes, considerados evolutivamente mais primitivos que os elementos de vaso, são o único tipo de célula condutora nas gimnospermas. Fisiologia Vegetal 19 Figura 1.7 Trajetória da água pela folha. A água é puxada do xilema para as paredes celulares do mesófilo, de onde evapora para os espaços intercelulares dentro da fo- lha. O vapor da água difunde-se, então, pelos espaços intercelulares da folha, através do poro estomático e da camada limítrofe de ar parado, situada junto à superfície fo- liar. O CO2 difunde-se na direção oposta, ao longo de seu gradiente de concentração (baixa no interior, mas alta no exterior). Fonte: TAIZ; ZEIGER (2009). 1.2.4.1. Transpiração De toda a água absorvida pelas plantas, aproximadamente 95% é perdida pela transpiração, e o restante é utilizado no crescimento e no metabolismo. A transpiração pode ocorrer pelos estômatos (transpiração estomática), pela epiderme cutinizada (transpiração cuticular) e pelas superfícies suberizadas (transpiração peridérmica). A sua importância tem sido bastante discutida. Acredita-se que pode contribuir para a absorção e a distribuição de água e de sais minerais, para o resfriamento da planta e a turgidez ótima (vantagens), tornando-se a principal causa da perda da turgescência dos tecidos (desvantagem). A transpiração depende de dois fatores principais: a diferença na con- centração de vapor d’água entre a folha e a atmosfera externa, e a resistência difusional (r) dessa rota. Essa resistência consiste de dois componentes: re- sistência estomática (rs) e resistência da camada de ar limítrofe (rar). Assim, a taxa transpiratória (T), em mol m-2 s-1, é determinada pela seguinte equação: Cwv folha - Cwv ar T = ---------------------- rar + rs MENDES, R. M. de S; LUCENA, E. M. de P; MEDEIROS, J. B. L. de P. 20 1.2.4.2. Movimento estomático A maior parte da transpiração foliar resulta da difusão de vapor d’água através do poro estomático (Figura 1.7). As células-guarda, as células subsidiárias e o poro formam o complexo estomático (Figura 1.8). As células-guarda são importantes no movimento dos estômatos. Elas mostram grande diversidade morfológica, mas distinguem-se dois principais tipos: em formato de halteres e o outro, elíptico (Figura 1.9). Figura 1.8 Complexo estomático. Fonte: COSTA (2001). Câmara subestomática Célula-guarda Fisiologia Vegetal 21 Figura 1.9 Alterações nas dimensões das células-guarda, vistas de cima, e a influên- cia da orientação das microfibrilas e da espessura das paredes. a) Orientação das microfibrilas nas paredes de um estômato elíptico (dicotiledôneas, monocotiledôneas não-gramíneas, musgos, samambaias e gimnospermas): as setasindicam a direção da expansão das células-guarda e o movimento durante a abertura do estômato. b) Diagrama para as células de um estômato de gramíneas e palmeiras. Fonte: WEYERS; MEIDNER (1990). As células-guarda são peculiares entre as demais células da planta, devido à sua elevada sensibilidade aos estímulos ambientais e à rapidez nas mudanças de turgidez. Fatores ambientais, como intensidade e qualidade da luz, temperatura, umidade do solo, umidade relativa do ar, concentração interna de CO2 e velocidade do vento são percebidos por essas células e afetam a abertura estomática. Fatores endógenos, como O2 e inibidores res- piratórios, pH, absorção de potássio e hormônios também são responsáveis pelo movimento dos estômatos. Como resultado da interação desses fatores, ocorrem vários padrões diurnos de comportamento estomático. Quando a temperatura e o suprimento de água são adequados, e a luz solar favorece alta atividade fotossintética, a demanda por CO2 na folha é grande, induzindo a abertura estomática. A taxa transpiratória também é elevada. Por outro lado, em condições de deficiência hídrica, os estômatos abrirão menos ou permanecerão fechados em um dia ensolarado, evitando a desidratação da planta. Em algumas xerófitas, os estô- matos se abrem somente à noite. Essas plantas têm um metabolismo especial (Metabolismo Ácido das Crassuláceas-CAM), em que o CO2 é assimilado no escuro e usado na síntese de ácidos orgânicos, que são subsequentemente convertidos em açúcares, liberando o CO2 nas células das folhas, o qual pode ser usado para fotossíntese enquanto os estômatos estão fechados. Nesse caso, a água fica retida durante o dia, quando a temperatura é elevada, e a evaporação é muito rápida. MENDES, R. M. de S; LUCENA, E. M. de P; MEDEIROS, J. B. L. de P. 22 Os estômatos ocorrem, em maior quantidade, nas folhas, mas também são encontrados nos caules, pecíolos, flores e alguns frutos (feijão, ervilha, banana, pepino, pimentão). Eles variam consideravelmente em número e em forma nas diferentes espécies vegetais e podem estar distribuídos na superfí- cie superior ou adaxial (folha peristomática), inferior ou abaxial (folha hiposto- mática) ou em ambas (folha anfistomática). A capacidade da planta em moderar a perda de água, ao mesmo tempo em que permite a absorção de CO2, pode ser expressa pela eficiência no uso da água (moles), que é definida pela quantidade de CO2 assimilado na fotossíntese dividida pela quantidade de água transpirada pela planta. As plan- tas C4, em geral, são mais eficientes que as CAM e as C3. Esse assunto será discutido posteriormente no capítulo de Fotossíntese. 1.2.5. O Balanço hídrico como um equilíbrio dinâmico O balanço hídrico é a diferença entre a água absorvida e a água perdida. Para que seja mantido a níveis razoáveis, é necessário que as taxas de absorção, condução e perda de água pela planta se ajustem. Assim, o balanço hídrico duma planta está continuamente a oscilar entre desvios positivos e negativos. Essas oscilações podem ser de curta ou de longa duração. As oscilações de curto prazo refletem a ação combinada dos vários mecanismos reguladores do estado hídrico, particularmente, mudanças na abertura estomática (Figura 1.10). As oscilações ao longo do dia afastam- -se mais do equilíbrio, particularmente, na mudança entre o dia e a noite. Durante o dia, o balanço hídrico vai ficando, quase sempre, gradualmente negativo. Durante a noite, se houver água no solo, é o balanço restaurado para valores próximos de zero(Figura 1.11). Nos períodos de seca, o conteú- do hídrico frequentemente não é totalmente restabelecido durante a noite, de modo que o déficit acumula-se de dia para dia (Figura 1.11) até que volte a chover (oscilações sazonais). Fisiologia Vegetal 23 Figura 1.10 Oscilações de curto prazo da reposição, do balanço e do potencial hídri- co de folhas de algodoeiro. Durante a fase de transpiração rápida, o conteúdo hídrico das folhas diminui, e o potencial hídrico torna-se mais negativo. A quantidade de água que passa pelo pecíolo (absorção) segue uma curva oposta a do potencial hídrico. As flutuações na transpiração são consequências das diferentes aberturas estomáticas. Fonte: LARCHER (2000). Figura 1.11 Esquema de um decréscimo gradativo do potencial hídrico da folha, da raiz e do solo durante uma semana de seca. As flutuações maiores ocorrem nas fo- lhas, uma vez que estão sujeitas à transpiração durante o dia. O balanço hídrico não é restabelecido durante a noite (barras escuras), de modo que o potencial hídrico é gradualmente mais negativo de dia para dia. Fonte: LARCHER (2000). MENDES, R. M. de S; LUCENA, E. M. de P; MEDEIROS, J. B. L. de P. 24 1.2.6. Causas da deficiência hídrica A deficiência hídrica na planta ocorre basicamente por duas causas: •• Redução do potencial hídrico do solo: quando o ψw do solo sofre redu- ção, há uma concomitante redução no ψw da planta; •• Defasagem diária entre a transpiração e a absorção: ocorre como uma consequência de o ritmo de transpiração ser superior ao de absorção. Es- sas diferenças são motivadas basicamente pela resistência ao movimen- to de água através da planta e pelas taxas de absorção e de transpiração serem controladas por fatores distintos. Entre outros podemos citar: Fatores que afetam a transpiração: VPD (diferença de pressão de vapor); temperatura do ar; vento; área foliar; estrutura da folha; abertura dos estômatos; diferença de ψw entre a planta e o solo. Fatores que afetam a absorção: ritmo de perda d’água (transpiração); extensão e eficiência do sistema radicular; permeabilidade da raiz; temperatu- ra do solo; aeração do solo; ψw do solo e condutividade hidráulica. 1.2.7. Mecanismos de adaptação ao déficit hídrico Parece ser mais importante a planta tolerar a seca com alto ψw do que com níveis baixos. Sob condições de deficiência hídrica, uma planta que tolera a seca com alto ψw, além de sobreviver, pode manter sua atividade metabólica, crescer e desenvolver-se sob condições adversas. A Tabela 1.1 mostra que alguns mecanismos de adaptação à seca causam redução na atividade fotos- sintética. Em geral, a produção das plantas é afetada por esses mecanismos. Sob o ponto de vista da produtividade biológica, o mecanismo utilizado pelas plantas que aumenta a capacidade de absorção de água indica ser melhor do que os que reduzem a perda de água. Um mecanismo essencial para as plantas cultivadas é o escape à seca, quando ajustam seu ciclo de vida a pequenos períodos de suprimento ade- quado de água. Em regiões de seca, a extensão da produção das culturas tem sido acompanhada pelo desenvolvimento de cultivares precoces, que possibilitam à cultura escapar de um déficit hídrico mais severo. A perspectiva de sobrevivência de uma planta sob estresse hídrico ex- tremo é melhor quanto maior for o adiamento da redução do ψw do proto- plasma e a capacidade dele de tolerar a dessecação sem apresentar injúrias. Muitas medidas funcionais para evitar a dessecação são também refletidas na morfologia da planta. A Figura 1.12 mostra alguns exemplos de diferentes formas de vida que capacitam as plantas a sobreviverem à seca. Fisiologia Vegetal 25 1.2.8. Restrições impostas pelo ambiente natural O estresse é, na maior parte das definições, um desvio significativo das con- dições ideais para a vida, o que origina mudanças e respostas em todos os níveis do organismo. Essas respostas são inicialmente reversíveis, mas po- dem tornar-se irreversíveis. O estresse em plantas pode ser causado por fatores abióticos e bióti- cos. Entre os agentes causadores de estresses abióticos, muitos são climáti- cos, exercendo os seus efeitos na atmosfera e no solo: radiação, temperatura, água, gases, minerais e efeitos mecânicos. Os estresses bióticos são comuns em locais com alta densidade populacional, ou onde as plantas são muito utilizadas por animais ou microrganismos. Para além dos fatores naturais, os seres humanos são responsáveispor muitos estresses físicos e químicos, contra os quais as plantas não são capazes de desenvolver qualquer mecanismo de defesa. A Figura 1.13 resume os principais fatores causadores de estresse e algumas de suas múltiplas interrelações. Mecanismos Ativ. fotossintética 1. Fuga à seca 1.1. Rápido desenvolvimento fenológico não há redução 1.2. Plasticidade de desenvolvimento não há redução 2. Tolerância à seca em altos níveis de ψ w 2.1. Aumento da capacidade de absorção de água 2.1.1. Aumento da profundidade ou densidade do sistema radicular não há redução 2.1.2. Redução da resistência ao fluxo de água do solo para as folhas não há redução 2.2. Redução da perda de água 2.2.1. Aumento da resistência cuticular ou estomática há redução 2.2.2. Redução da qde. de radiação absorvida pelas folhas há redução 2.2.3. Redução da área do vegetal mais sujeita à evaporação há redução 3. Tolerância à seca em baixos níveis de ψ w 3.1. Manutenção da pressão de turgescência (ajustamento osmótico e/ou aumento da elasticidade da parede celular) não há redução 3.2. Tolerância à dessecação há redução Tabela 1.1 - Mecanismos de resistência à seca e seus efeitos na atividade fotossintética. Fonte: TÁVORA; PINHO (1999). MENDES, R. M. de S; LUCENA, E. M. de P; MEDEIROS, J. B. L. de P. 26 Figura 1.12 Alguns exemplos de diferentes formas que permitem às plantas sobre- viverem à seca. a) Árvores de folhas caducas que armazenam água nos troncos; b) suculentas que armazenam água no caule; c) suculentas que armazenam água nas folhas; d) árvores e arbustos sempre-verdes e com raiz principal profunda; e) arbustos de folhas caducas, frequentemente espinhosos; f) arbustos de caules clorofilados; g) gramíneas que formam tufos com gemas de renovo protegidas pelas baínhas das folhas e com sistema radicular extenso; h) plantas de hábito em roseta; i) geófitas com raízes de armazenamento; j) geófitas com bulbos ou tubérculos; k) pluvioterófitas (plantas anuais); l) plantas tolerantes à dessecação (tipo poiquilo-hídricas). Fonte: LARCHER (2000). Figura 1.13 Fatores causadores de estresse e algumas de suas múltiplas interrelações. Fonte: LARCHER (2000). Fisiologia Vegetal 27 Síntese do Capítulo A água representa cerca de 80 a 95% dos tecidos em crescimento, constituin- do-se o principal componente do protoplasma. Os mecanismos de transporte de água do solo, através do corpo da planta, para a atmosfera, incluem fluxo de massa, difusão e osmose, que estão associados a diferentes forças propul- soras. O movimento de água através de barreiras semipermeáveis depende da diferença de potencial hídrico (ψw), que é resultante dos seguintes com- ponentes: ψw = ψp + ψs + ψg + ψm. Além de governar o transporte pela planta, o ψw é utilizado como uma medida do seu “status” hídrico. O movimento de água das raízes para a folha, via xilema, pode ocorrer devido a uma pressão positiva na raiz ou a uma pressão negativa (tensão), desenvolvida na parte aérea. Em plantas com alta taxa transpiratória, a absorção, o transporte e a perda de água para a atmosfera são tão rápidas que a pressão positiva no xilema não se desenvolve. Nesses casos, ocorre o estabelecimento de uma pressão hidrostática negativa, gerada pela transpiração foliar. A planta pode desenvolver mecanismos de tolerância, a fim de manter sua atividade meta- bólica, crescer e desenvolver-se sob condições adversas, especialmente sob deficiência hídrica. Atividades de avaliação 1. Cite os componentes do potencial hídrico e analise o significado de cada um. 2. Duas células estão em contato. A célula A apresenta ψs = -5 bar e ψp = 1 bar. A célula B tem ψs = -6 bar e ψp = 3 bar. Qual a direção de difusão da água? 3. Descreva os processos de transporte de água realizados pelas plantas. 4. Faça uma análise sobre a sensibilidade de alguns processos fisiológicos à redução do potencial hídrico. 5. Comente a respeito da absorção de água e da transpiração, considerando: a) a importância para o crescimento e o desenvolvimento das plantas; b) as rotas de absorção de água pelas raízes; c) a defasagem diária entre absorção de água e a transpiração pela planta; MENDES, R. M. de S; LUCENA, E. M. de P; MEDEIROS, J. B. L. de P. 28 d) fatores que afetam esses processos. 6. Discorra sobre os principais tipos de estômatos e como os fatores am- bientais influenciam seu movimento. 7. Cite alguns mecanismos utilizados pelas plantas para se adaptarem à deficiência hídrica e seus efeitos na atividade fotossintética. Textos complementares A seca como um fator de estresse O termo “seca” significa um período sem precipitação apreciável, durante o qual o conteúdo de água no solo é reduzido, de forma que as plantas sofrem com a au- sência de água. Frequentemente, mas não invariavelmente, o estado de dessecação do solo é acompanhado de forte evaporação causada pela demanda evaporativa do ar e de altos níveis de radiação. Somente a deficiência de precipitação, entretanto, não é capaz de ocasionar a aridez. As regiões polares, por exemplo, apesar de baixa precipitação, não atingem a condição de aridez devido às baixas temperaturas; e, nas regiões secas, as raízes da vegetação aberta alcançam horizontes permanentemente úmidos na proximidade do lençol freático ou de rios (por exemplo, florestas de galeria e formações arbustivas nos solos dos vales). (...)Podem ser utilizados vários critérios baseados em medidas de umidade do solo e na análise da distribuição da precipitação para a avaliação do grau de estresse mo- mentâneo a que a planta está submetida em seu ambiente (informação especialmen- te importante para a agricultura e para a silvicultura). Do ponto de vista ecofisiológi- co, o conhecimento somente dos fatores externos proporciona uma base insuficiente de dados para a interferência de conclusões precisas sobre o grau de seca. Somente a planta por si mesma é capaz de mostrar, de maneira confiável, onde e quando a ausência de água se torna um fator de estresse. Essa situação é revelada da melhor maneira por meio do balanço hídrico do vegetal. O quanto uma planta sofre em seu habitat devido às condições de seca não depende somente de sua capaciadade de resistência à seca, mas também das condições pre- ponderantes no habitat. O índice relativo de dessecação (IRD), que compara o défi- cit de saturação hídrica momentâneo com um limite crítico de déficit de saturação hídrica para a espécie em questão, pode dar uma ideia das variações dos valores de deficiência hídrica no solo e na atmosfera, bem como o grau de seca atingido em um local, o que essencialmente define a distribuição de uma determinada espécie. Fonte: LARCHER (2000). Muitas plantas redistribuem a água do solo por ascensão hidráulica Tem sido demonstrado que, em muitas plantas, a água absorvida durante a noite pe- las raízes mais profundas, localizadas em zonas de solo úmido, é transferida para as zonas de solo seco, através das raízes mais superficiais. Esse fenômeno é conhecido como ascensão hidráulica. Apesar de acreditarmos que esse processo seja passivo ― impulsionado pelo gradiente de potencial hídrico da raiz e do solo ―, um papel Fisiologia Vegetal 29 ativo das raízes não pode ser descartado. A ascensão hidráulica não apenas melhora a condição hídrica da planta que exibe este fenômeno, como também a das plantas vizinhas, que podem utilizar uma proporção significativadessa porção de água. A ascensão hidráulica é aparentemente comum e tem sido descrita tanto em plantas adaptadas a condições áridas, como as artemísias e os carvalhos da região de chapar- ral da Califórnia (EUA), quanto em plantas de habitats mais úmidos, como a alfafa, a cevada e o milho. Mesmo o bordo (Acer saccharum), que cresce em ambientes úmidos, exibe a ascensão hidráulica. Todd Dawson, um ecologista vegetal da Cornell University (EUA), estimou que um bordo com 40 pés de altura é capaz de transferir de 150 a 230 litros de água para as zonas superiores do solo todas as noites. Diferen- ciando entre a água armazenada no solo e a água originada das chuvas de verão com base em seu conteúdo de isótopos de hidrogênio (a chuva tende a possuir uma con- centração mais alta do isótopo mais pesado de hidrogênio, o deutério, 2H). Dawson foi capaz de determinar a fonte de água absorvida pelas raízes vizinhas. Ele descobriu que muitas plantas, crescendo próximas aos bordos, utilizavam a água liberada por essas árvores. Fonte: RAVEN; EVERT; EICHHORN (2007). @ Leituras KERBAUY, G. B. Fisiologia vegetal. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koo- gan, 2004. 454p. NOGUEIRA, R. J. M.; MORAES, J. A. P. V de; BURITY, H. A.; BEZERRA NETO, E. Alterações na resistência à difusão de vapor das folhas e relações hídricas em aceroleiras submetidas a déficit de água. Revista Brasileira de Fisiologia Vegetal, v. 13, n. 1, p. 75-87, 2001. Disponível em: http://www.scie- lo.br/pdf/rbfv/v13n1/9275.pdf TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. Trad.: Eliane R. Santarém et al., 4 ed., Porto Alegre: Artmed, 2009. 848p. Sites Artigos científicos http: // www.scielo.br MENDES, R. M. de S; LUCENA, E. M. de P; MEDEIROS, J. B. L. de P. 30 Referências COSTA, A. R. As relações hídricas das plantas vasculares. Portugal: Uni- versidade de Évora, 2001. 107 p. FERRI, M. G. Fisiologia vegetal. v. 1. São Paulo: EPU, 1985. 350p. KERBAUY, G. B. Fisiologia vegetal. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koo- gan, 2004. 454p. LACERDA, C. F. Apostila de fisiologia vegetal. Fortaleza: UFC, 2002.356p. LARCHER, W. Ecofisiologia vegetal. Trad.: Carlos Henrique B. de A. Prado. São Carlos: RIMA, 2000. 531p. RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Biologia vegetal. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. 830p. TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. Trad.: Eliane R. Santarém et al., 4 ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. 848p. TÁVORA, F. J. A. F.; PINHO, J. L. N. Cadernos de fisiologia da produção: estresse hídrico nas plantas. Fortaleza: UFC,1999.137p. WEYERS, J. D. B.; MEIDNER, H. Methods in stomatal research. Longman Scientific and Technical, Essex, 1990. Capítulo 2 Nutrição Mineral Fisiologia Vegetal 33 Objetivos •• Avaliar as necessidades nutricionais das plantas e o modo como o solo e a estrutura radicular influenciam a transferência de nutrientes inorgânicos do ambiente para a planta; •• Analisar os aspectos ambientais do uso de fertilizantes; •• Descrever a fixação, a assimilação e a perda de nitrogênio pelas plantas. 2.1. O solo como fornecedor de nutrientes O solo é a fonte primária de nutrientes para os vegetais. É um complexo au- torrenovável de matéria viva – partículas minerais combinadas com matéria orgânica, microrganismos, ar e umidade essenciais à vida. Deve fornecer: um suporte físico para as plantas; nutrientes inorgânicos adequados; água e um ambiente gasoso ideal para o desenvolvimento do sistema radicular. O estudo do modo como as plantas obtêm e utilizam os nutrientes minerais é conhecido por nutrição mineral. Esta área do conhecimento é fundamental tanto para agricultura moderna quanto para a proteção ambiental. Altas produtividades agrícolas dependem diretamente da fertilização com elementos minerais. Entretan- to, as plantas cultivadas usam menos da metade do fertilizante aplicado. O restante pode ser lixiviado para águas superficiais ou subterrâneas, pode fixar-se às partícu- las do solo ou contribuir para a poluição do ar. A compreensão da origem dos solos, suas propriedades físicas e químicas e a relação desses fatores para o crescimento vegetal é fundamental para o planejamento da adubação das culturas. 2.2. Elementos essenciais 2.2.1. Classificação Para o seu desenvolvimento, as plantas necessitam de energia solar, arma- zenada sob a forma de ATP e NADPH, CO2, água e elementos minerais, tais como nitrogênio, fósforo, potássio, ferro, boro, zinco, entre outros. Todos es- ses elementos provêm do solo, com exceção do nitrogênio, que primeiramen- te passa pelo processo de fixação. Apenas alguns elementos minerais foram determinados como essen- ciais ao crescimento vegetal. O elemento é considerado essencial quando atende a três critérios, a saber: MENDES, R. M. de S; LUCENA, E. M. de P; MEDEIROS, J. B. L. de P. 34 •• O elemento deve agir diretamente no metabolismo da planta; •• Na ausência do elemento, a planta não completa seu ciclo de vida; •• O requerimento é específico e não pode ser substituído por outro elemento. Os elementos minerais essenciais são classificados em: macronutrien- tes (N, P, K, Ca, Mg, S) e micronutrientes (B, Fe, Cu Zn, Mn, Mo, Cl, Ni), conforme a quantidade requerida para o crescimento adequado da planta. Alguns autores consideram o silício e o sódio como elementos essenciais, mas há controvérsias (Tabela 2.1). Tabela 2.1 Níveis adequados no tecido de elementos que podem ser requeridos pelas plantas. Fonte TAIZ; ZEIGER (2009). 2.2.2. Elementos essenciais: principais funções e sintomas de deficiência Pesquisadores têm argumentado que, do ponto de vista fisiológico, a classi- ficação em macro e em micronutrientes é difícil de ser justificada. Mengel e Fisiologia Vegetal 35 Kirkby (1987), citados por Taiz e Geizer (2009), sugeriram que os elementos essenciais sejam classificados conforme seu papel bioquímico e sua função fisiológica, o que pode ser observado na Tabela 2.2. Nutriente Mineral Funções Grupo 1 N S Nutrientes que fazem parte de compostos de carbono; Constituinte de aminoácidos, amidas, proteínas, ácidos nucleicos, nucleotídeos, coenzimas, hexoaminas, etc; Componente da cisteína, cistina, metionina e proteínas. Constituinte do ácido lipoi- co, coenzima A, tiamina pirofosfato, glutationa, biotina, adenosina-5'-fosfossulfato e 3-fosfoadenosina. Grupo 2 P Si B Nutrientes que são importantes na armazenagem de energia e na integridade estrutural; Componentes de fosfato açúcares, ácidos nucleicos, nucleotídeos, coenzimas, fosfolipíde- os, ácido fítico etc. Tem papel central em reações que envolvem ATP; Depositado como silica amorfa em paredes celulares. Contribui para as propriedades mecânicas das paredes celulares, incluindo rigidez e elasticidade; Complexos com manitol, manans, ácido polimanurônico e outros constituintes das pare- des celulares. Envolvido no alongamento celular e no metabolismo de ácidos nucleicos. Grupo 3 K Ca Mg Cl Mn Na Nutrientes que permanecem na forma iônica; Requerido como cofator de mais de 40 enzimas. Principal cátion no estabelecimen- to do turgor celular e na manutenção da eletroneutralidade celular; Constituinte da lamela média das paredes celulares. Requerido como cofator por algumas enzimas envolvidas na hidrólise de ATP e de fosfolipídeos. Atua como mensageiro secundário na regulação metabólica; Requerido por muitas enzimas envolvidas na transferência de fosfatos. Constituinte da molécula de clorofila; Requerido para as reações fotossintéticas envolvendo a evolução de O 2 ; Requerido para a atividade de algumas desidrogenases, descarboxilases, quinases, oxidases e peroxidases. Envolvido com outras enzimas ativadas por cátions e na evolução fotossintética de O 2 ; Envolvido na regeneração do fosfoenolpiruvato em plantas C 4 e CAM. Substitui o potássio em algumas funções. Grupo 4 Fe Zn Cu Ni Mo Nutrientes que estão envolvidos em rações redox; Constituintede citrocromos e ferro-proteínas não-heme envolvidas na fotossíntese, fixação de N 2 e respiração; Constituinte da álcool desidrogenase, desidrogenase glutâmica, anidrase carbônica etc; Componente da ácido ascórbico oxidase, tirosinase, monoamina oxidase, uricase, citocro- mo oxidase, fenolase, lacase e plastocianina; Constituinte da urease. Em bactérias fixadoras de N 2 , é constituinte de hidrogenases' Constituinte da nitrogenase, nitrato redutase e xantina desidrogenase. Tabela 2.2 Classificação dos nutrientes minerais das plantas de acordo com a função bioquímica. Fonte TAIZ; ZEIGER (2009). MENDES, R. M. de S; LUCENA, E. M. de P; MEDEIROS, J. B. L. de P. 36 Outras funções relevantes, a forma de absorção e os principais sintomas de deficiência dos elementos essenciais em plantas serão discutidos a seguir: •• Nitrogênio – O nitrogênio pode ser absorvido pelas plantas nas formas iônicas NH4 + (íon amônio) e NO3 - (nitrato). É móvel no xilema e no floe- ma, podendo ser transportado na forma de nitrato ou de aminoácidos e amidas. A deficiência de N inibe o crescimento da planta e, se persiste, mostra clorose generalizada, especialmente nas folhas velhas, podendo levar à queda da folha. Algumas plantas exibem coloração púrpura devido à acumulação de antocianinas. Já o excesso de N atrasa a maturação; estimula o acamamento da planta e diminui a quantidade do produto ob- tido. A fixação, a assimilação e a perda de nitrogênio pelas plantas serão detalhadas posteriormente neste capítulo. •• Fósforo – A forma iônica preferida pelas plantas é H2PO4 -. O intemperis- mo das rochas e dos minerais constitui a fonte de maior quantidade de P na solução do solo e, em geral, é perdido por lixiviação e erosão. Sin- tomas visuais de deficiência de P consistem em coloração verde-escura de folhas velhas (inicialmente), associada ao surgimento da cor púrpura, devido ao acúmulo de antocianinas. Nos estágios mais avançados de crescimento, os caules atrofiam-se, e há diminuição no número de flores e de sementes. •• Potássio – O K+ exerce papel fundamental na ativação de enzimas da fotossíntese e da respiração; atua na regulação do potencial osmótico das células vegetais e, consequentemente, na transpiração. Folhas variegadas ou cloróticas com pequenas manchas de tecidos necróti- cos no ápice e na margem, bem como caules pequenos e fracos, são alguns sintomas de sua deficiência. •• Cálcio – É absorvido na forma de cátion bivalente (Ca2+). Sua importância se deve como, elemento estrutural, regulatório, com função na divisão e na extensão celular, entre outras. Apresenta baixa mobilidade na planta, tendo, como sintoma característico de sua deficiência, necrose nos ápi- ces caulinares e radiculares. •• Magnésio – O Mg2+ é bastante móvel no xilema e no floema. Suas fun- ções na planta são diversas, mas, certamente, sua principal função é es- trututal, como centro da molécula de clorofila. Um sintoma típico de sua deficiência é a clorose internervural, que ocorre inicialmente nas folhas velhas. Os ápices foliares e as margens tornam-se curvados para cima. Fisiologia Vegetal 37 •• Enxofre – É absorvido pelas raízes na forma de sulfato (SO4 2-). Seus sin- tomas de deficiência são similares aos de nitrogênio, no entanto, a clorose ocorre primeiramente nas folhas jovens, decorrência da baixa mobilidade do “S” na planta. •• Boro – O boro (B) é absorvido pelas plantas preferencialmente na forma mo- lecular (HB3O3). A sua baixa mobilidade na planta reflete um sintoma típico de sua deficiência, que é a necrose de folhas jovens e de gemas terminais. •• Cloro – É facilmente absorvido na forma de cloreto (Cl-). Os sintomas de deficiências caracterizam-se por folhas murchas com manchas cloróticas e necróticas. Elas tornam-se bronzeadas e ocorre inibição do crescimen- to das raízes. •• Cobre – É absorvido pelas raízes na forma Cu2+. Várias proteínas conten- do cobre são importantes nos processos da fotossíntese, da respiração, da desintoxicação dos radicais livres e da lignificação. O sintoma inicial de deficiência consiste de folhas jovens verde-escuras, enroladas, frequen- temente com manchas necróticas. •• Ferro – A planta absorve na forma reduzida (Fe2+). Como no caso do magnésio, a deficiência de Fe mostra-se como uma clorose internervural, só que ocorre primeiro nas folhas jovens, devido à sua baixa mobilidade na planta. •• Manganês – A função mais bem definida do Mn2+ é o seu envolvimento na reação da fotossíntese, na qual o O2 é produzido a partir da água (H2O). Como sintomas de deficiência, temos clorose internervural em folhas jo- vens ou velhas, associada com manchas necróticas, dependendo da es- pécie e da taxa de crescimento. •• Molibdênio – Íons Mo (Mo4+ a Mo6+) são necessários para a fixação de N e a redução do NO3 -. O primeiro indicativo de deficiência de molibdênio é a clorose generalizada entre as nervuras e a necrose das folhas mais velhas. •• Zinco – É absorvido pela planta na forma catiônica (Zn2+). Deficiência de zinco é caracterizada pela redução do tamanho da folha e no cum- primento do entrenó; afeta principalmente as folhas mais velhas. •• Níquel – É preferencialmente absorvido pelas plantas na forma de Ni2+. Foi o último elemento a ser acrescentado à lista de essenciais. Plantas com deficiência de Ni acumulam ureia nas folhas, o que pode causar necrose no ápice. Sob deficiência extrema, as folhas podem cair prematuramente. Os elementos minerais também são classificados com base na sua mobilidade na planta. São considerados móveis (N, P, K, Mg, Cl, Mo, Na e Zn) e imóveis (Ca, S, B, Cu e Fe). MENDES, R. M. de S; LUCENA, E. M. de P; MEDEIROS, J. B. L. de P. 38 2.3. Técnicas especiais utilizadas em estudos nutricionais No século XIX, vários pesquisadores, incluindo Saussure, Sachs, Boussingault e Knop, mostraram que as plantas podem crescer normalmente sem solo, com as raízes imersas em solução nutritiva, contendo apenas sais inorgânicos. Essa técnica é conhecida como Hidroponia, a qual é utilizada na produção comer- cial de muitas plantas cultivadas em estufas, como o tomate, o pepino e o alface. Muitas formulações têm sido empregadas para as soluções nutritivas, as quais devem fornecer elementos essenciais em concentrações que permitam o crescimento rápido da planta, sem causar toxicidade. Por isso, o cultivo hi- dropônico requer cuidados especiais, uma vez que são necessários grandes volumes de solução e frequente ajuste das concentrações dos nutrientes e do pH do meio. Além do mais, um suprimento de O2 é indispensável para a respiração das raízes. A Figura 2.1 mostra a analogia entre as origens dos nutrientes absorvidos por plantas cultivadas em solo e em hidroponia. Figura 2.1 Analogia entre as origens dos nutrientes absorvidos por plantas cultivadas em solo e em hidroponia. Fonte: FURLANI et al. (1999). 2.4. Tratamento para deficiências nutricionais 2.4.1. Considerações gerais sobre a adubação Antes da prática de adubação, deve-se verificar a necessidade de correção do solo, por acidez ou por salinidade. A adubação racional, quando corretamente executada, é responsável pelo aumento da produção. Porém, ela deve ser acompanhada de outras técnicas agrícolas, para que se obtenha aumento de Fisiologia Vegetal 39 produtividade, a saber: práticas conservacionistas; preparo adequado do solo; espaçamento recomendado; profundidade de plantio correta; uso de semen- tes selecionadas e tratos culturais bem executados. A aplicação ao solo dos nutrientes, conforme a análise do solo, é feita pelo uso de fertilizantes. 2.4.2. Fertilizantes Fertilizante é toda substância, mineral ou orgânica, natural ou sintética, forne- cedora de um ou mais nutrientes das plantas. Os fertilizantes químicos são denominados simples (contêm um nutriente mineral – ex.: N, P ou K) e com- postos ou mistos (contêm dois ou mais nutrientes – ex.: NPK). Os fertilizantes orgânicos originam-se de resíduos vegetais ou animais oude depósitos naturais em rochas. Para serem absorvidos pelas plantas, os compostos orgânicos são primeiramente degradados, pela ação de mi- crorganismos do solo, processo conhecido por mineralização. Esses adubos apresentam as seguintes vantagens: melhora as propriedades físicas do solo; aumenta a retenção de água durante o período seco; melhora a drenagem em períodos chuvosos e libera os nutrientes lentamente. No entanto, a taxa de mineralização é variável e a disponibilidade pode levar dias, meses ou anos (desvantagem). A taxa de mineralização varia com a temperatura, a disponibilidade de água e o oxigênio, além do tipo e do número de microrganismos presentes no solo. Baixa taxa de mineralização impede o uso eficiente de N ou P, e as plantações podem sofrer perdas ainda maiores de nutrientes do que quando se usam fertilizantes químicos. 2.4.3. Fórmulas comerciais para adubação Independentemente dos fatores climáticos, do potencial genético das semen- tes usadas e do estado fitossanitário das plantas, o sucesso da adubação baseia-se nos seguintes pontos: indicação correta das formulações, a cargo dos laboratórios de fertilidade e dos técnicos do setor; fórmulas homogêneas que contenham os nutrientes nas proporções indicadas (tarefa das indústrias); métodos e época de aplicação, de acordo com a orientação técnica. Recomenda-se evitar o contato dos fertilizantes com as sementes ou com as mudas, uma vez que prejudicaria o processo de germinação, acarre- tando consequentemente, a queda de produtividade. As misturas devem ser distribuídas sempre ao lado e abaixo das sementes. MENDES, R. M. de S; LUCENA, E. M. de P; MEDEIROS, J. B. L. de P. 40 2.4.4. Adubação foliar Além dos nutrientes adicionados ao solo, como fertilizantes, a planta também pode absorver os nutrientes minerais pelas folhas, através de aspersão, pro- cesso denominado de adubação foliar. Em alguns casos, esse método pode ter vantagens agronômicas, como: •• reduzir o tempo de retardo entre aplicação e absorção pela planta; •• contornar o problema de restrição de absorção de um nutriente do solo; •• prevenção de deficiências de micronutrientes em culturas anuais ou perenes. Entretanto, a adubação foliar pode ter alguns problemas: •• baixas taxas de penetração, principalmente em folhas com cutículas es- pessas (citros, café etc); •• escorrimento de superfícies hidrofóbicas; •• lavagem da folha pela chuva; •• secagem muito rápida da solução pulverizada; •• redistribuição limitada de Ca e B do local de aplicação e absorção para outras partes da planta, devido à baixa mobilidade no floema; •• quantidades limitadas de macronutrientes aproveitadas (± 1%) – exceção da ureia (10%); •• ocorrência de necrose ou de queima de folhas pela aplicação de solu- ções concentradas, principalmente de ureia. 2.5. Fatores que afetam a absorção mineral A absorção salina depende de uma série de fatores internos e externos, tais como: •• Aeração: o oxigênio é necessário nas oxidações biológicas, principalmen- te de carboidratos, indispensáveis à liberação de ATP usado no transporte ativo. Em uma concentração até 3% de O2, há aumento na absorção de íons. Práticas agrícolas, como a aração, a gradagem e a adição de corre- tivos, tendem a melhorar a aeração do solo. •• Temperatura: a faixa térmica de 0 a 30°C geralmente aumenta a ab- sorção de íons, em consequência de maior atividade metabólica. •• Umidade: apesar de a água ser o veículo natural dos sais, a absorção não se dá com a mesma velocidade: ânions (NO3 - > Cl- > SO4 2-> H2PO4 -); cátions (NH4 +> K+ > Mg2+ > Ca2+). Fisiologia Vegetal 41 •• Presença de outros íons: podem ocorrer três situações, a saber: Siner- gismo (aumento na absorção de um íon pela presença do outro; Antago- nismo (a presença de um íon diminui a absorção de outro, evitando a sua toxidez); Inibição (diminuição reversível ou não da absorção de um íon pela presença do outro). •• Presença de cálcio: o Ca2+ mantém a integridade funcional das mem- branas, estimulando a absorção de outros íons, desde que não esteja em concentração elevada. •• Estado iônico interno: se os sítios da raiz disponíveis para a troca inicial estiverem tomados, a possibilidade de absorção fica reduzida, o mesmo ocorre se o vacúolo estiver saturado. •• Concentração interna de açúcares: o teor adequado de carboidratos (CH2O)n nas plantas estimula a absorção ativa. •• Potencialidade genética: a capacidade de absorção de sais varia entre e dentro da própria espécie. •• pH: quando apenas se considera a absorção radicular; pH inferior a 7 favo- rece a absorção de ânions, e valores próximos a neutralidade, a de cátions. •• Micorrizas: as micorrizas (associações simbióticas de certos fungos e ra- ízes de plantas) aumentam a área efetiva do sistema radicular solubilizam alguns elementos do solo, colocando-os à disposição da planta (Figura 2.2). Figura 2.2 Ectomicorrizas em plântulas de Pinus com 4 cm acima do solo. Fonte: RAVEN; EVERT; EICHHORN (2001). As micorrizas são de ampla ocorrência: 83% das dicotiledôneas, 73% das monocotiledôneas e todas as gimnospermas formam associações micorrízicas. Por outro lado, em solos muito secos, salinos, alagados, de fertilidade extrema (baixa ou alta), ou destruídos por atividade de extração mineral, não ocorrem micorrizas. Plantas das famílias Brassicaceae (ex.: couve), Chenopodiaceae (ex.: espinafre) e Proteaceae (ex.: macadâmia), assim como plantas aquáticas, raramente ou nunca têm micorrizas. O pH do solo afeta a disponibilidade dos nutrientes minerais. Toxidez de Fe, Mn e Al e deficiências de P, Ca e Mg são exemplos de alguns problemas apresentados por solos ácidos. A prática da Calagem (adição de calcário – mistura de CaO, CaCO3 e Ca(OH)2) pode elevar o pH desses solos. Os solos alcalinos são ricos em Ca e Mg; pobres em Al, Cu, Fe, Mn e Zn; e podem ter deficiência de P. A adição de enxofre elementar pode ser utilizado para abaixar seu pH, uma vez que o S absorvido pelos microrganismos liberam, subsequentemente, SO4 - e H+, acidificando o solo. MENDES, R. M. de S; LUCENA, E. M. de P; MEDEIROS, J. B. L. de P. 42 2.6. Metabolismo do nitrogênio Entre os elementos essenciais, o nitrogênio tem um grande destaque, uma vez que, como componente da fitomassa, ocupa a quarta posição, após o carbono, o oxigênio e o hidrogênio. Veremos, a seguir, o seu ciclo, como é fixado e assimilado pelas plantas. 2.6.1. Ciclo do nitrogênio A atmosfera terrestre é o grande reservatório de nitrogênio (± 78% de N2). No entanto, a escassez de nitrogênio no solo revela-se, normalmente, como o principal fator limitante para o crescimento da planta. Os processos de fixa- ção, assimilação e perdas desse elemento, sumarizados na Figura 2.3, são conhecidos como ciclo do nitrogênio. Esse ciclo descreve um processo dinâ- mico de intercâmbio de nitrogênio entre a atmosfera, a matéria orgânica e os compostos inorgânicos, que serão discutidos em seguida. Figura 2.3 Ciclo do nitrogênio. Fonte: RAVEN; EVERT; EICHHORN (2001); http://www.sobiologia. com.br/figuras/ar/ ciclodonitrogenio.gif 2.6.2. Fixação do nitrogênio A utilização do nitrogênio atmosférico (N2), para produzir amônia (NH3), é co- nhecida como fixação do nitrogênio, e pode ser obtida por processos indus- triais (conhecidos por processo de Haber-Bosch) e por processos naturais (Figura 2.3). Os processos naturais ocorrem por meio de: Fisiologia Vegetal 43 •• relâmpagos: colaboram com ± 8% do N fixado, formando ácido nítrico (HNO3), que é precipitado junto com a chuva; •• reações fotoquímicas: 2% do N fixado são oriundos de reações entre óxido nítrico gasoso (NO) e ozônio (O3), formando ácido nítrico; • fixação biológica: aproximadamente 90% do N fixado derivam-se da fixação biológica do N2 em amônio (NH3), graças a uma enzima denominada nitrogenase, presente apenas em alguns microrga- nismos conhecidos como diazotróficos, tais como bactérias (as de vida livree as simbióticas), cianobactérias (ex.: Anabaena, Nostoc) e actinomicetos (ex.: Frankia), por meio da reação: N2 + 16 ATP + 8 e- + 8H+ → 2 NH3 + H2 + 16 ADP + 16 Pi (1) As bactérias de vida livre podem ser aeróbicas (ex.: Azotobacter, Azos- pirillum, Beijerinckia e Gloeothece), anaeróbicas (ex.: não fotossintetizante - Clostridium - e fotossintetizante - Rhodospirillum) e facultativas (ex.: Esche- richia e Klebsiella). As bactérias simbióticas fixadoras de N2 mais comuns pertencem aos gêneros Rhizobium e Bradyrhizobium, que vivem associadas aos nódulos das raízes das leguminosas (Figura 2.4). Figura 2.4 Fixação biológica de nitrogênio em plantas leguminosas. Fonte: http://www.cnpab.embrapa.br/pesquisas/fbnl.html A maior parte do nitrogênio do solo é derivada de matéria orgânica oriun- da de vegetais e de animais mortos, a qual é incorporada em aminoácidos pe- los microrganismos específicos, e o excesso é liberado, sob a forma de NH4 +, pelo processo de amonificação. O nitrogênio também pode ser oxidado a nitrito (NO2 -) ou nitrato (NO3 -) num processo chamado de nitrificação, o qual é facilitado pela presença de bactérias dos gêneros Nitrosomonas e Nitrobacter, respectivamente, conforme as reações (2) e (3): MENDES, R. M. de S; LUCENA, E. M. de P; MEDEIROS, J. B. L. de P. 44 2 NH4 + + 3 O2 → 2 NO2 - + 2 H2O + 4 H + (2) 2 NO2 - + O2 → 2 NO3 - (3) A redução de nitrato (NO3 -) a nitrogênio, sob forma de gás (ex.: N2, N2O, NO), ocorre em processos químicos e biológicos e é denominada de desnitrificação. Como resultado desse processo, o N2 retorna à atmosfera, fechando o ciclo. O NH4 + e o NO3 -, no solo, além de serem utilizados por microrganismos e por plantas, podem ter vários destinos: o NH4 + pode ser fixado pelas argi- las, convertido em NO3 - ou perdido por volatilização e por erosão, enquanto o NO3 - pode sofrer perda por lixiviação, erosão e desnitrificação. A reposição do nitrogênio ocorre principalmente pelo processo de fixação e, em menor quan- tidade, por precipitação atmosférica e por intemperismo das rochas. 2.6.3. Assimilação do nitrogênio O processo de assimilação se dá através da incorporação de nutrientes mine- rais em compostos carbonados como lipídios, aminoácidos, ácidos nucleicos, pigmentos e cofatores enzimáticos. A forma de assimilação de nitrogênio pela planta depende de como foi obtido, ou seja, se o nitrogênio foi fornecido na forma de nitrato, ele será reduzido a nitrito e, em seguida, a amônio, para que este último seja assimilado nos compostos orgânicos. Quando o NH4 + é absor- vido diretamente pela planta, pode ser assimilado, em seguida, em compostos orgânicos, o que veremos a seguir. A primeira etapa do processo é a redução do nitrato a nitrito no citosol, catalisada pela enzima nitrato redutase (reação 4): NO3 - + NAD(P)H + H2 + 2 e - → NO2 - + NAD(P)+ + H2O (4) Uma vez que o nitrito é altamente tóxico, as células o transportam rapidamente do citoplasma para os cloroplastos nas folhas e para os plastídios nas raízes, onde a enzima nitrito redutase reduz o nitrito em amônio (reação 5): NO2 - + 6 Fdred + 8 H + + 6 e- → NH4 + + 6 Fdox + 2 H2O (5) Em que: Fd significa ferredoxina, red e ox significam forma reduzida e oxidada, respectivamente. As células vegetais, para evitar a toxidez do NH4 + absorvido e do pro- veniente da redução do nitrato ou da fotorrespiração, converte-o rapidamen- te em aminoácidos, envolvendo, para isso, as enzimas glutamina sintetase (GS) e glutamato sintase (GOGAT). A enzima GS combina o NH4 + com glu- tamato, para formar glutamina (reação 6), e a GOGAT transfere o grupo amida A fixação biológica de nitrogênio é considerada, após a fotossíntese, o processo biológico mais importante do planeta. Se a associação entre os microrganismos e as plantas for eficiente, o nitrogênio fixado pode suprir as necessidades do vegetal, dispensando o uso de adubos nitrogenados e oferecendo, assim, vantagens econômicas e ecológicas. Fisiologia Vegetal 45 da glutamina para o 2-oxoglutarato, produzindo duas moléculas de glutamato (reações 7 e 8). Glutamato + NH4 + + ATP → Glutamina + ADP + Pi (6) Glutamina + 2 oxoglutarato + NADH + H+ → 2 Glutamato + NAD+ (7) ou Glutamina + 2 oxoglutarato + Fdred → 2 Glutamato + Fdox (8) As plantas possuem dois tipos de GOGAT: NADH-GOGAT (é localizada nos plastídios de tecidos não fotossintéticos – raízes e feixes vasculares de fo- lhas em desenvolvimento) e Fd-GOGAT (é localizada nos cloroplastos e atua no processo fotorrespiratório do nitrogênio). O amônio pode ser assimilado através de uma rota alternativa pela ação da enzima Glutamato desidrogenase (GDH), que catalisa ou desamina o glutamato (reação 9). As formas GDH-NAD e GDH-NADPH são encontradas nas mitocôndrias e nos cloroplastos, respectivamente. Embora encontradas em abundância, não podem substituir a rota GS-GOGAT, atuando principal- mente na desaminação do glutamato. 2 oxoglutarato + NH4 + NAD(P)H ↔ Glutamato + H2O + NAD(P) + (9) O nitrogênio, uma vez assimilado em glutamina e em glutamato, é incor- porado em outros aminoácidos por meio de reações de transaminação, cata- lizadas pelas enzimas Aminotransferases são encontradas no citosol, nas mitocôndrias, nos cloroplastos, nos peroxissomos e nos glioxissomos. As ami- notransferases localizadas nos cloroplastos são essenciais na biossíntese de aminoácidos, como glutamato, aspartato, glicina, alanina e serina. Outra enzi- ma importante é a Asparagina sintetase (AS), a qual catalisa a transferência do nitrogênio amida da glutamina para a asparagina. Essa enzima encontrada no citosol das células das raízes e nos nódulos que fixam o nitrogênio. Síntese do Capítulo As plantas necessitam de uma variedade de elementos químicos para sua nutrição, os quais são provenientes dos minerais ou do processo de minerali- zação das substâncias orgânicas. Os elementos considerados essenciais são classificados como macronutrientes (C, H, O, N, P, K, Ca, Mg e S) e micronu- trientes (B, Cl, Cu, Fe, Mn, Mo, Ni e Zn), conforme a quantidade requerida. Os nutrientes desempenham várias funções específicas na estrutura, no cresci- mento e no metabolismo vegetal, e essas funções são prejudicadas quando MENDES, R. M. de S; LUCENA, E. M. de P; MEDEIROS, J. B. L. de P. 46 ocorre deficiência desses nutrientes, o que resulta em distúrbios nutricionais, manifestando-se através de sintomas específicos. O tratamento para as de- ficiências nutricionais pode ser feito com o uso de fertilizantes químicos ou orgânicos, sendo que a absorção mineral pode ser afetada por muitos fatores, como aeração, temperatura, umidade, pH etc. Cada nutriente essencial circu- la num ciclo complexo entre os organismos, bem como entre os organismos e o ambiente. O ciclo do nitrogênio, por exemplo, é um processo dinâmico que envolve a sua fixação biológica (pelos microrganismos), assimilação pelas plantas (ação de enzimas específicas), perda e/ou retorno para a atmosfera. Atividades de avaliação 1. Quais os critérios básicos para caracterizar um elemento essencial? 2. Cite o símbolo químico e as principais funções dos macronutrientes e micronutrientes para as plantas. 3. Cite os possíveis problemas e vantagens da absorção de nutrientes mi- nerais pelas folhas. 4. Comente sobre os diversos fatores que afetam a absorção mineral. 5. Considerando que o pH do solo afeta a disponibilidade dos nutrientes minerais, enumere alguns problemas de solos ácidos e alcalinos, e como podem ser corrigidos. 6. Pesquise e descreva a associação existente entre leguminosas e bactérias dos gêneros Rhizobium e Bradyrhizobium na fixação simbiótica do nitrogênio. 7. Explique como ocorre a redução do nitrato à amônia, caracterizando as enzimas envolvidas. 8. Cite as principais