Prévia do material em texto
Júlia Figueirêdo – DISTÚRBIOS SENSORIAIS E DA CONSCIÊNCIA MORFOFISIOLOGIA DA MEDULA ESPINHAL: A medula espinhal é um aglomerado cilíndrico de fibras nervosas associadas ao sistema nervoso central, que se estende desde o forame magno até as vértebras L1-L2. Esse “encurtamento” é explicado pelo crescimento discrepante entre o tecido nervoso e os ossos, levando à formação da cauda equina. Distribuição anatômica da medula espinhal Essa é uma estrutura com diversas funções, destacando-se o papel sobre os sistemas sensitivo e motor, bem como em diversas funções autonômicas. As meninges (dura-máter, aracnoide e pia- máter) são importantes contribuintes para a proteção medular, seja pelo coxim gorduroso do espaço epidural ou pela concentração de líquor presente no espaço subaracnoide. Barreiras de proteção meníngea sobre a medula espinhal Internamente, a medula é formada por uma camada externa de substância branca (axônios mielinizados) e outra, interna, de substância cinzenta (corpos de neurônios), que também pode ser conhecida por “H medular”. Representação de corte medular, com destaque para a composição distinta de suas camadas Estão inseridas, na substância cinzenta, uma série de lâminas irregulares (lâminas de Rexed), divididas entre: Lâminas I a VI: situam-se no corno posterior, apresentando caráter aferente (maior concentração nuclear em III e IV); o A lâmina VII também pode ser denominada por espinocerebelar, realizando a integração de sinais sensoriais e motores (reflexos). Lâminas VIII a X: localizadas no corno anterior, são de natureza eferente. Os principais marcos anatômicos da substância cinzenta são os cornos (dorsal, lateral e ventral), a fissura mediana anterior e o sulco mediano posterior, responsável pela criação dos hemisférios medulares Os núcleos do corno posterior são mais laterais, originando plexos e demais nervos da musculatura apendicular, além de promover a propriocepção de MMII Tais formações são mediais, inervando a própria medula e os músculos axiais Júlia Figueirêdo – DISTÚRBIOS SENSORIAIS E DA CONSCIÊNCIA Lâminas e núcleos da substância cinzenta Internamente, ainda é possível segmentar os neurônios quanto ao tamanho de seus axônios, que podem ser longos (tipo I de Golgi) ou curtos (tipo II de Golgi). Os neurônios longos podem ser radiculares, com sensibilidade visceral e somática, ou cordonais, que têm papel na projeção e associação de estímulos. Na substância branca, por sua vez, são encontradas as vias nervosas motoras e sensitivas, divididas quanto ao sentido que assumem na medula, como: Vias ascendentes: Relacionam-se principalmente às fibras que penetram as raízes dorsais, propagando informações predominantemente periféricas. Os filamentos radiculares, logo após deixar a substância cinzenta, dividem-se em porções lateral, com fibras finas que vão ao ápice da coluna posterior, e medial, que se dirige à face medial da coluna posterior e ao bulbo. O fascículo grácil, formado pelo ramo medial, emite informações de sensibilidade tátil, proprioceptiva e vibratória dos membros inferiores, abdome e porção baixa do tórax. O fascículo cuneiforme, por sua vez, é responsável pelos mesmos influxos sensoriais, porém agora de membros superiores, cervical e área torácica alta. Na parte superior da medula, essas estruturas se fundem, conduzindo as informações em só um feixe nervoso. Destacam-se também o trato espinocerebelar, que conduz impulsos de propriocepção inconsciente, auxiliando no equilíbrio, e o trato espinotalâmico, mediador de sensações de dor, temperatura (lateral), tato leve e pressão (anterior). Vias descendentes: São majoritariamente oriundas do córtex cerebral ou do tronco encefálico, promovendo sinapses com neurônios medulares diversos ou até mesmo com fibras motoras somáticas. Nesse último caso, as estruturas podem ser divididas em piramidais (movimentos finos) e extrapiramidais (suporte postural). Os funículos anterior e lateral, situados nas vias descendentes, dão origem a uma série de tratos, com múltiplas funções, tais como: o Trato corticoespinal lateral/anterior: agem sobre a motricidade voluntária do corpo, sendo a porção lateral mais associada ao segmento apendicular, e a anterior, à musculatura axial; o Trato rubro-espinal: promove a coordenação dos movimentos, visto Todas as vias ascendentes apresentam direção ipsilateral ao ponto de entrada na medula, EXCETO O TRATO ESPINOTALÂMICO, que atravessa a medula antes de “escalar” as fibras medulares Júlia Figueirêdo – DISTÚRBIOS SENSORIAIS E DA CONSCIÊNCIA que apresenta relações íntimas com o cerebelo; o Tratos retículo-espinais: responsáveis por movimentos automáticos básicos (andar), além daqueles guiados por estímulos externos; o Trato vestíbulo-espinal: desempenha papel sobre a orientação postural (ex.: “compensação” após tropeçar); o Trato teto-espinal: promove reflexos espontâneos de proteção, como o fechamento dos olhos. Distribuição das vias ascendentes e descendentes da medula ASPECTOS FUNCIONAIS DA MEDULA ESPINHAL: Os níveis medulares são diretamente associados às raízes nervosas presentes na medula, e podem ser relacionados a marcos anatômicos importantes. Destacam-se, clinicamente, os níveis T4/T5, na porção média do tórax, e T10, sobre a cicatriz umbilical, uma vez que são referências para alterações motoras e sensoriais dos membros. Correlação entre as raízes medulares e as vértebras Cada corpo neuronal eferente irá sair da medula pelo corno anterior, penetrando a raiz específica designada a ele até atingir o nervo espinhal em direção ao músculo (liso ou estriado). Para neurônios aferentes, a passagem pela medula se direciona ao corno posterior, levando informações sensitivas em direção ao córtex cerebrais. É possível que raízes nervosas se juntem no ponto de saída da medula, compondo plexos. Os mais importantes são o cervical (C2-C4), braquial (C5-T1) e lombossacral (L1-S3) Júlia Figueirêdo – DISTÚRBIOS SENSORIAIS E DA CONSCIÊNCIA Percurso das vias sensitivas (vermelhas) e motoras (verde) na medula Outra importante função medular é a promoção de reflexos, ou seja, de reagir a estímulos de forma direta (exceto para a região facial, regulada pelo tronco encefálico). Há também importante papel da medula sobre o controle autonômico (cardiovascular e respiratório), a função esfincteriana e a ereção/ejaculação. Etapas de formação do arco reflexo Por fim, destacam-se os dermátomos, áreas de grande importância por serem “reflexos” sensoriais na pele de cada um dos segmentos medulares, sendo importantes parâmetros avaliados na lesão espinhal. Principais dermátomos e suas funções orgânicas A maioria dos neurônios medulares são mistos (transmitem informações sensitivas e motoras) O “nível sensitivo” é um achado presente na secção medular completa e na compressão medular, marcado por hipo/anestesia bilateral abaixo da lesão, podendo haver hiperestesia no dermátomo diretamente associado à área comprometida