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Módulo: Anemias e perdas sanguíneas | Samille Donato Hematopoiese e hemograma HEMATOPOIESE 1° - DEFINIÇÃO: A hematopoiese (ou hemopoese) é processo fisiológico pelo qual são formadas as células do sangue. Ela abrange todos os fenômenos relacionados com a origem, a multiplicação e a maturação de células primordiais ou precursoras das células sanguíneas. A porção celular do sangue é composta de eritrócitos, leucócitos e plaquetas. Essas três linhagens celulares, apesar de serem distintas umas das outras, são oriundas de uma célula-mãe única da medula óssea, denominada célula pluripotente, totipotente, stem–cell ou célula-tronco. → Leucócitos (glóbulos brancos): Granulócitos, linfócitos, monócitos. Responsáveis por funções diversas na imunidade. → Eritrócitos (glóbulos vermelhos): Essenciais no transporte de oxigênio. → Plaquetas: Atuam na hemostasia primária e como superfície indutora da homeostasia secundária. 2° - ÓRGÃOS HEMOFORMADORES: A proliferação e sobrevida das células hematopoiéticas, são determinadas por 2 mecanismos associados: Padrão de expressão genética da célula e o equilíbrio entre sinais externos provenientes do meio ambiente e MO. O equilíbrio entre fatores estimulantes e inibidores evitam expansão inadequada. A eficiência da hematopoiese baseia-se em: → Ambiente medular → Células progenitoras → Fatores de crescimento É dividida entre primitiva ou embrionária (vida fetal) e definitiva (vida adulta). HEMATOPOIESE NO PERÍODO INTRA-UTERINO Existem duas teorias que tentam explicar: a hipótese de endotélio-hemogenia defende a for- mação das células tronco hematopoiéticas a partir de células endoteliais, que perdem as características fenotípicas endoteliais e passam, progressivamente, a expressar marcadores hematopoiéticos e a hipótese da origem das células tronco hematopoiéticas a partir de heman- gioblastos alega a existência de um precursor bipotente e indiferenciado comum às células endoteliais e hematopoiéticas. Período hepatoesplênico da hematopoiese → Ocorre eritropoiese e surgem outras linhagens hemopoiéticas, como granulócitos e megacariócitos. OBS: Após o período hepatoesplênico, a hematopoiese passa a ser feita na porção esponjosa dos ossos, também denominado período medular. A medula óssea é o sítio hematopoiético mais importante a partir de 6 a 7 meses de vida fetal, durante a infância e na vida adulta. HEMATOPOIESE EXTRA-UTERINA Primeiras células sanguíneas - 7° - 8° semana de vida → pré-hepático Até o 4° mês → Formação em agrupamento de cél. redonda no saco vitelino. Nesse sítio = eritropoiese no mesoderma 4° - 6° mês: células tronco hematopoiéticas saem do saco vitelino. Células chegam ao fígado e baço. Formação de células do sangue. Até os 2 anos → MO toda hematopoiética Resto da infância Substituição da medula do ossos longos por gordura Fase adulta Medula apenas no esqueleto axial e extremidades proximais do fêmor e úmero Módulo: Anemias e perdas sanguíneas | Samille Donato MEDULA ÓSSEA É o órgão responsável pela hematopoiese no ser humano. A função de manutenção e diferenciação das células precursoras é desempenhada por células osteoblásticas e endoteliais, que exercem papel de “nicho” das células-tronco. Medula óssea vermelha → função hematopoiética. 3° - FORMAÇÃO DE CÉLULAS DO SANGUE: Esse meio favorável é composto por células do estroma e uma rede microvascular. As células do estroma são formadas por adipócitos, fibroblastos, células endoteliais e macrófagos. Juntas, essas células secretam moléculas extracelulares, como colágeno, glicoproteínas para formar uma matriz extracelular. Fatores de crescimento para a célula-tronco, também são secretados pelas células do estroma. As células do estroma são oriundas das células-tronco mesenquimais. Junto com os osteoblastos, formam nichos e fornecem: → Fatores de crescimento → Moléculas de adesão → Citocinas → Dão suporte às células-tronco hematopoiéticas → Permitem a fixação das células pluripotentes, trazidas pela circulação periférica, ao estroma medular → Propiciam o contato íntimo entre essas células e os fatores de crescimento hemopoiéticos secretados pelas células do estroma que entram em contato com seus respectivos receptores de membrana. A fixação de células hematopoiéticas pluripotentes no estroma medular é mediada por moléculas de adesão e seus respectivos receptores situados na membrana dessas células. São exemplos de receptores: → CD44 → CD11 → CD18 → Fibronectina A partir dessa interação com os receptores, as células-tronco hematopoiéticas proliferam-se e podem ser tanto estimuladas a autorrenovar-se como também a dar origem às distintas li- nhagens de células sanguíneas. FASES PARA A FORMAÇÃO Os linfócitos maduros se concentram nos tecidos linfoides do organismo: baço, linfonodos e MALT (tecido linfoide associado a mucosa). À medida que os precursores vão se diferenciando, dão origem a células comprometidas com a formação de uma determinada linhagem hematológica, sendo que estas células recebem a nomenclatura de “Unidades formadoras de colônia” (CFU). → Tempo de vida: Elementos maduros do sangue possuem um tempo de vida limitado, precisando ser constantemente repostos. A vida média de uma hemácia gira em torno de 120 dias; as plaquetas entre 7 – 10 dias e os granulócitos de 6 – 8 horas. Linfócitos tem vida mais prolongada de anos. Medula óssea Produz e regula liberação ordenada de células Reciclagem de diferentes moléculas Ação de inibidores e estimuladores Células pluripotentes → homoformadoras Corrente sanguínea Aninham-se em ambientes favoráveis (disposição vascular e celular) Tecido hematopoiético Prolifera e amadurece Célula-tronco se diferencia Linhagem mielóide Linhagem eritroide- megacariocítica Progenitor eritroide (hemáceas) Progenitores megacariocíticos (plaquetas) Linhagem granulocítica- monocítica Granulócitos (neutrófilos, basófilos, eosinófilos) Monocíticos (monoblasto: monócito) Linhagem linfóide Linfócitos Linfócitos T e B Módulo: Anemias e perdas sanguíneas | Samille Donato Eritrócitos ou hemácias → Responsável pelas trocas gasosas entre o ser humano e meio ambiente, por meio da hemoglobina. Células granulocíticas → São elementos de defesa contra agentes externos como corpos estranhos. Monócitos e macrófagos → Defesa do corpo humano, pois fagocitam corpos estranhos e participam das reações imunológicas. Linfócitos e plasmócitos → Reconhecem corpos estranhos, agindo diretamente sobre eles (Linfócitos T) ou por meio de anticorpos (Linfócitos B). REGULAÇÃO DA LINHAGEM CELULAR Cada linhagem celular (hematológica, plaquetas e leucócitos) é regulada de acordo com a necessidade fisiológica do organismo e de forma independente. São os principais mediadores da hematopoiese: → Interleucinas → Fatores de crescimento denominados CSF (Fatores estimulantes de colônia). Como exemplo: → Eritropoetina: Substância produzida no parênquima renal em resposta à hipóxia tecidual, funcionando como hormônio regulador da produção de hemácias e estimulando os progenitores eritroides a formar mais eritroblastos na MO. → GM-CSF: Fator estimulador de colônia de granulócitos e monócitos, produzido por macrófagos, fibroblastos e células endoteliais em resposta à inflamação. Estimula formação de mieloblastos e monoblastos, gerando neutrófilos e monócitos como método de defesa do corpo. FATORES ESTIMULADORES DA HEMATOPOIESE Os fatores de crescimento hematopoiéticos são hormônios glicoproteicos que podem agir no local em que são produzidos por contato célula a célula ou podem circular no plasma. Também podem se ligar à matriz extracelular, formando nichos ao quais aderem células-tronco e as células progenitoras. São responsáveis por regular: → Proliferação→ Diferenciação das células progenitoras hematopoiéticas → Função das células sanguíneas maduras → Previnem a apoptose celular. Os fatores de crescimento compartilham certo número de propriedades e agem em diferentes etapas da hematopoiese. De maneira geral eles: → Agem em concentrações muito baixas → Atuam hierarquicamente → São produzidos por muitos tipos celulares → Afetam mais de uma linhagem → Exercem efeito sobre as células-tronco e as células funcionais finais → Tem interações sinérgicas ou aditivas com outros fatores de crescimento Com exceção da eritropoetina, que é sintetizada pelo rim em sua maior parte, e da trombopoetina, sintetizada no fígado, os fatores de crescimento são oriundos, principalmente, das células estromais. Eles podem agir sinergicamente no estímulo de proliferação ou diferenciação de uma célula particular ou ainda estimular a produção de outro fator de cresci- mento ou de um receptor de fator. São os fatores de crescimento hematopoiético: PAPEL DOS FATORES DE CRESCIMENTO → CFU-GEMM: unidade ou célula capaz de formar vários tipos de precursores das linhagens granulocítica, eritrocitária, monocitária e megacariocitária. → CFU-GM: unidade ou célula formadora de colônias constituídas apenas de neutrófilos (G) e monócitos (M). Agem nas células do estroma • IL-1 e TNF Agem nas células-tronco pluripotentes • SCF (Fator steam-cell), FTL3-L, VEGF Agem nas células progenitoras multipotentes • IL-3, GM-CSF, IL-6, G-CSF, Trombopoetina Agem nas células progenitoras comprometidas • GM-CSF, M-CSF, IL-5, Eritropoetina e Trombopoetina Módulo: Anemias e perdas sanguíneas | Samille Donato → CFU-E: unidade ou célula formadora de colônias de eritroblastos (E). → CFU-Eo: unidade ou célula formadora de colônias constituídas apenas por eosínófilos (Eos). → CFU-Meg: unidade ou célula formadora de colônias só de megacariócitos. → BFU-E: fator estimulador da proliferação de progenitores eritroblásticos. → BFU-EMeg: fator estimulador da proliferação de progenitores eritroblásticos e megacariócitos. FATORES QUE INIBEM A HEMATOPOIESE Tais substâncias podem ser denominadas reguladores ou modulares, pois, impedem a produção de quantidade excessiva de células. São produzidas por vários tipos de células presentes no estroma de sustentação da medula óssea. → Interferon Gama (INF-γ): Produzida por linfócitos T que tem efeito inibidor sobre a proliferação das células imaturas normais. → Prostaglandina E: É produzida por macrófagos e tem ação inibidora sobre as CFU- GM (unidade ou célula formadora de colônias constituídas apenas de neutrófilos [G] e monócitos [M]). → Lactoferrina: É um constituinte normal das granulações citoplasmáticas específicas dos segmentados neutrófilos. Sua eliminação a partir dessas granulações tem efeito inibidor sobre a proliferação das células jovens da medula óssea; → Fator de Necrose Tumoral Alfa (TNF-α): Tem ação inibidora sobre precursores da mielopoiese quando colocado em cultura de medula óssea. Esse efeito parece ser sinérgico com o do INF-γ. → Fatores Transformadores de Crescimento (TGF-ẞ): Constituem um grupo de polipeptídeos de ação reguladora, tanto de mielopoiese como da linfopoiese (TGF ẞ1, ẞ2, ẞ3). Essas citocinas são produzidas por várias células da medula óssea e liberas no processo de degranulação das plaquetas. Têm efeito inibidor intenso sobre a megacariocitopoiese, mas inibem também a eritropoiese e a granulocito- monocitopoiese. Resumo Módulo: Anemias e perdas sanguíneas | Samille Donato ERITROPOIESE Processo de formação dos eritrócitos, que respeitadas as fases de vida do animal, ocorre no interior da medula óssea, e é controlada por um hormônio estimulante chamado eritropoetina. A cada dia são produzidos cerca de 1012 novos eritrócitos. A partir da célula-tronco, a eritropoiese passa pelas células progenitoras até se tornar o primeiro precursor eritroide com estrutura identificável na medula óssea, o proeritroblasto. São as células progenitoras: → CFU-GEMM (Unidades formadoras de colônia que geram células mieloides) → BFU-E (fator estimulador da proliferação de progenitores eritroblásticos) → CFU-E (unidade ou célula formadora de colônias de eritroblastos) O proeritroblasto tem a capacidade de se dividir e, em condições normais, sofre três divisões celulares sucessivas. Como resultado dessas divisões, o tamanho das células diminui pro- gressivamente ocorrendo ao mesmo tempo a expansão dessa linhagem. Assim, o volume do parênquima eritroblástico da medula óssea cresce após o estímulo da eritropoiese. Durante o processo de maturação, ocorrem: → Condensação da cromatina nuclear (maturação do núcleo) → Hemoglobinização do citoplasma A medida que se aumenta a quantidades de hemoglobina no proeritroblasto, ela vai se tornando vermelha. Resumindo: Primeiras semanas de vida: • Produzida pelo saco vitelínico. 2° trimestre de gestação: • Fígado e em menor intensidade, baço e linfonodos. Estágios finais da vida fetal: • Medula óssea principal e se torna exclusiva após nascimento. • Primeiro elemento da série, redondo de 18u, basófilo, cromatina frouxa. • Formam células filhas que se dividem (4x) e formam 16 células diferenciadas. • Expansão celular e diferenciação duram cerca de 3 dias. Proeritroblasto •Capacidade de divisão celular, mede 15u, cromatina condensada. •Núcleo menor e citoplasma basófilo. Eritrobasto basófilo (EB) Resumo Módulo: Anemias e perdas sanguíneas | Samille Donato O núcleo dos eritroblastos ortocromáticos é degenerado em um processo denominado carior- réxis. O conteúdo de DNA nuclear é então cercado por uma fina camada hemoglobínica do citoplasma celular, sendo expulso envolto numa capa de membrana. Também podem perder os núcleos pelo processo de expulsão dos mesmos através do citoplasma. O que sobra da célula sem núcleo é o reticulócito. O reticulócito já pode circular, porém ainda contém restos de corpúsculos citoplasmáticos e excesso de membranas que precisam serem eliminados. Por isso, atravessam os capilares sinusóides do baço para sofrerem a ação dos macrófagos esplênicos e se tornarem eritrócitos maduros. HEMÁCEAS Forma de disco bicôncavo, 7u, borda mais corada e centro mais claro. Possui excesso de membrana citoplasmática para as hemoglobinas que transporta. Quando circula no sangue, perde progressivamente a membrana e adquire forma de esfera (esferócito) que são ricas nos sinusóides do baço, onde são fagocitadas pelos macrófagos. EMISSÃO DE ERITRÓCITOS PARA O SANGUE O principal fator que regula a emissão dos eritrócitos para o sangue é o nível das trocas de gases que ocorre entre as células e os tecidos. → ↓ O² - Aumento de eritropoiese: Secreção de eritropoetina que age na MO. → ↑ O² - Diminuição de eritropoiese. ERITROPOETINA A EPO é secretada por células tubulares ou células endoteliais peritubulares dos rins, que possuem receptores capazes de detectar variações na concentração de oxigênio no sangue. Além dos rins, cerca de 10% da EPO é produzida no fígado ou mesmo por macrófagos da medula óssea. A produção da eritropoetina ↑ na anemia, quando a hemoglobina é incapaz de liberar O². São funções desse hormônio: → Estimular a proliferação das células indiferenciadas medulares, produzindo maior número de mitoses dessas células → Estimular o amadurecimento das células indiferenciadas, que caminham rapidamente para eritropoiese. → Estimular a síntese de hemoglobina. → Aumentar a taxa de reticulócitos no sangue. • Precursos com maior proporção em esfregaço de MO. • Cromatina grosseira, 12u, citoplasma abundante. • Ocorre síntese de Hb que se mistura à basofilia. Eritrobasto policromatófilo (EPC) • 10u, cromatina conspícua, citoplasma repleto de Hb, coloração amarelada. Não se dividem.Núcleo é degenerado. Acumulam Hb. • Perdem os núcleos na MO e podem atravessar capilares sinusóides e entrar na corrente sanguínea. Eritrobasto ortocromático (EOC) • Sem núcleo, 8u, acidófilo, são 1 - 1,5% do total de hemáceas. Sofrem ação de macrófagos. • Células recém-lançadas na circulação. Reticulócito (Rt) Macrófagos digerem as células Retém ferro Reaproveitado na síntese de HB Oxigenação dos tecidos Produção de glóbulos vermelhos Regula Módulo: Anemias e perdas sanguíneas | Samille Donato A testosterona, por exemplo, e os andrógenos de maneira geral estimulam diretamente as unidades ou células formadoras de colônias eritróides da medula óssea (CFU-). Indiretamente, também estimulam a produção de eritropoetina. Há também fatores nutricionais essenciais para eritropoese: → Homeostasia do balanço corpóreo de ferro → Homeostasia de vitamina B12 → Homeostasia de ácido fólico INDICAÇÕES PARA TRATAMENTO COM ERITROPOETINA Altamente eficaz no tratamento de anemia causada por nefropatia, além de ser útil no tratamento de anemias de outras causas. Sua administração pode ser: → Via subcutânea 3X por semana OU → 1X a cada 1 ou 2 semanas, na verdade depende da indicação e preparação utilizada. → O uso do ferro oral ou parenteral é, muitas vezes, necessário para maximizar a resposta a eritropoetina. ÁCIDO FÓLICO E VITAMINA B12 São de grande importância para a maturação final das células da linhagem vermelha. Ambas serão essenciais para a síntese de DNA na formação de trifosfato de timina (unidade da produção de DNA). Sua deficiência leva: → ↓ da formação do DNA e consequentemente, falha da maturação nuclear e da divisão celular. → Formação de macrócitos, que possuem uma membrana frágil, irregular, grande e ovalada, que conseguem até transportar oxigênio, porém tem sobrevida curta e é mais frágil. A cianocobalamina é: → Vitamina hidrossolúvel do complexo B → Age como coenzima de reações químicas que transferem um grupo metila do metiltetrafolato para a homocisteína, convertendo-a a metionina. → A metionina é um aminoácido essencial e, na forma transformada, é um importante doador de grupos metila em várias reações enzimáticas. A vitamina B12 é absorvida no trato gastrointestinal. Se os níveis de vitamina B 12 são insuficientes e os de metionina também, o organismo passa a utilizar e converter o ácido fólico para produzir metionina, o que reduz a síntese de DNA, causando a anemia megaloblástica. A deficiência de vitamina B 12 causa, também, várias alterações neurológicas, como neuropatia precoce (com perdas de reflexos, parestesias, diminuições das sensibilidades táctil, vibracional e da temperatura), e comprometimentos psicológicos. As alterações neurológicas não são consequência da deficiência de ácido fólico, mas estão ligadas à atividade da metilmalonil-CoA- mutase, outra enzima dependente da vitamina B12. 2° - FORMAÇÃO DA HEMOGLOBINA: A hemoglobina é responsável pelo carregamento de oxigênio para os tecidos humanos corporais. Sua síntese ocorre precocemente na mitocôndria das células da linhagem vermelha, iniciando na fase de pró-eritroblasto e continuando até a formação do reticulócito. Hemácia → pacote de hemoglobina. É macromolécula formada por quadro cadeias polipeptídicas globínicas (alfa, beta, gama e delta) associadas a 4 anéis porfirínicos – heme, que possui um átomo de ferro no centro, capaz de ligar o O². 1 molécula de hemoglobina → carrega 4 moléculas de O² Módulo: Anemias e perdas sanguíneas | Samille Donato A síntese de hemoglobina depende do suprimento de ferro, síntese de protoporfirinas e globinas. Por dia, há produção e degradação diária de 8g de Hb. Fatores que reduzem a afinidade da Hb pelo O² com consequente liberação de O² para os tecidos: → Aumento de temperatura → Diminuição do pH → Aumento dos níveis de 2,3 DPG (difosfoglicerato) A liberação do O² para os tecidos ocorre por: → Diferença de pressão parcial de O² (baixa nos tecidos) com liberação de O² → Alteração da conformação do Fe2+ → Afastamento das cadeias beta da globina → Entrada de 2,3 DPG na bolsa central produzindo desoxihemoglobina. Degradação da hemoglobina: → Após 120 dias a hemácia é retirada da circulação pelos macrófagos SMF → A porção globínica é metabolizada e os aminoácidos são reaproveitados. → O heme é clivado, convertido a pigmentos biliares e excretado por via urinária e fecal. → O ferro é reutilizado. HEMOGRAMA 1° - DEFINIÇÃO: O hemograma compreende a contagem das células do sangue periférico (hemácias, leucócitos e plaquetas) e a contagem diferencial dos cinco tipos leucocitários, além da quantidade dos valores da hemoglobina e do hematócrito e ainda o do cálculo dos índices hematimétricos. Representa o exame complementar mais requerido nas consultas médicas. 2° - ERITROGRAMA: É a parte do exame hematológico que avalia especificamente a série vermelha, através dos seguintes parâmetros: número de glóbulos vermelhos, dosagens de hemoglobina e hematócrito e índices hematimétricos. O eritrograma permite o diagnóstico e o acompanhamento das anemias e poliglobulias. → Contagem de hemácias → Hematócrito – Ht ou HTC → Hemoglobina – Hb → Índices hemantimétricos CONTAGEM DE HEMÁCEAS Varia de acordo com idade e gênero, sendo que os homens possuem maiores valores com relação às mulheres, decorrente da fisiologia hormonal, pois os andrógenos aumentam a sensibilidade do tecido eritroblástico à eritropoetina, enquanto os estrogênios diminuem a eritropoiese. Não deve ser utilizada como parâmetro único para diagnósticos de anemias. Os valores de referência são: → Mulheres adultas: 4,1 – 5,4 /mm³. → Homens adultos: 4,5 – 6,1 /mm³. Quando são encontrados valores inferiores consiste em oligocitemia, sendo geralmente causados por anemias. Quando superiores, chama-se de poliglobulia e podem ser causadas por neoplasias, mieloproliferativas e desidratação grave. DOSAGEM DE HEMOGLOBINA É fundamental para diagnosticar anemias ou eritrocitoses. Varia de acordo com o gênero. Apresenta um valor médio de 15,0 g/dL. Os valores de referência são: → Para homens: 12,5 – 16,5 g/dL. → Para mulheres: 11,5 – 15,5 g/dL. Podem se encontrar alterados em: → Diminuição de Hb: Anemias. → Elevação de Hb: grandes altitudes, baixa pressão de O², doença pulmonar ou cardíaca avançada, neoplasias mieloproliferativas. VCM: Volume corpuscular médio HCM: Hemoglobina corpuscular média CHCM: Concentração hemoglobínica corpuscular média RDW: Amplitude de distribuição das hemácias (índice geral de anisocitose) Módulo: Anemias e perdas sanguíneas | Samille Donato HEMATÓCRITO Corresponde, em porcentagem, ao volume de hemácias em relação ao volume total de sangue. Parâmetro mais usado para avaliar alterações volêmicas, pois correlaciona-se com a viscosidade sanguínea. Variam de acordo com o gênero. Os valores de referência são: → Para homens: 40 – 54%. → Para mulheres: 36 – 48%. Podem se encontrar alterados em: → Elevação de HT: Desidratação e redução no volume plasmático. → Diminuição de HT: Hipervolemia e aumento no volume plasmático. VOLUME CORPUSCULAR MÉDIO Representa o volume dos eritrócitos, é calculado dividindo o hematócrito pelo número de eritrócitos presentes no volume. Não variam o sexo. → Valor de referência: 80 – 98 fL. → Hemácias com VCM < 80: microcíticas → Valores > 95: Macrocitose → O VCM é normal: normocíticas. HEMOGLOBINA CORPUSCULAR MÉDIA Expressa a quantidade média de uma hemoglobina no interior de uma hemácia. → Valor de referência: 27 – 33 pg. → HCM baixo: Hipocrômicas. → HCM alto: Hipercrômicas. CONCENTRAÇÃO DE HEMOGLOBINA CORPUSCULAR MÉDIA → Valor de referência: 31 – 36 g/Dl. → Hipercromia: Esferocitose, coma hiperosmolar, hemoglobinopatias. → Hipocromia: Anemia ferropriva.RDW Amplitude de distribuição das hemácias. → Valor de referência: 11 – 15%. → Valores baixos: Eritrócitos homogêneos. → Valores altos: Excessiva heterogeneidade volumétrica – anisocitose. CONTAGEM DE RETICULÓCITOS São eritrócitos imaturos, sem núcleos e sua contagem fornece a taxa de produção dos eritrócitos. → Valor de referência: 0,3 – 2,3 / 100. → Aumentado: Reticulocitose – anemias hemolíticas ou regeneração de MO. → Diminuído: Hematopoiese inadequada ou ineficaz. ANEMIAS 1° - MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Anemia é a ↓ da concentração de hemoglobina do sangue abaixo dos valores de referência para idade e sexo, que depende na verdade do laboratório, mas um valor aproximado é: hemoglobina abaixo de 13,5 em homens adultos e 11,5 em mulheres adultas; nos 2 anos de idade até puberdade = abaixo de 11; RN = abaixo de 14. As manifestações clínicas de anemia são decorrentes da redução da oxigenação dos tecidos, principalmente cérebro e coração e relacionadas à capacidade compensatória do sistema pulmonar e cardiovascular. A presença ou ausência dos sinais podem ser consideradas de acordo com 4 fatores principais: → Velocidade de instalação da anemia → Intensidade da anemia → Idade e curva de dissociação de o2 da hemoglobina. Quanto aos sintomas, de uma maneira geral, dispneia (esforço), fraqueza, letargia, palpitações e cefaleia. Podendo em idosos levar ate a insuficiência cardíaca, angina, claudicação intermitente, outros. Quanto aos sinais: → Gerais: palidez de mucosas (atentar no exame físico a olhar, principalmente a da boca e conjuntiva); → Específicos: depende do tipo de anemia, as unhas em colher (coiloníquia) na deficiência de ferro, icterícia nas anemias hemolíticas e megaloblásticas. 2° - INVESTIGAÇÃO DIAGNÓSTICA: ANAMNESE → Tempo de instalação dos sintomas: as anemias carenciais (ferropriva e megaloblástica), a anemia aplásica, as mielodisplasias, a anemia de doença crônica e o mieloma múltiplo são caracteristicamente de instalação insidiosa, enquanto a anemia hemorrágica aguda e a anemia hemolítica autoimune geralmente têm início abrupto; a anemia falciforme, as talassemias e a esferocitose hereditária são anemias crônicas de origem familiar, que têm, portanto, o seu início desde a infância; Módulo: Anemias e perdas sanguíneas | Samille Donato → Sintomas associados: muitas vezes não relacionados ao quadro anêmico, podem denunciar a existência de uma doença de base (ex.: crises álgicas na anemia falciforme; comemorativos de hipotireoidismo; dor óssea no mieloma múltiplo; febre prolongada nas infecções crônicas...). EXAME FÍSICO O exame físico também ajuda bastante: → Encontrar glossite e queilite angular, o médico deve pensar nas anemias carenciais; → Icterícia é um achado comum nas anemias megaloblásticas e hemolíticas; → Esplenomegalia significativa sugere anemia hemolítica, hiperesplenismo ou neoplasias hematológicas; → Petéquias indicam possível plaquetopenia, presente na anemia aplásica e nas leucemias agudas; e → Deformidades ósseas na face e crânio falam a favor de talassemia. ANEMIAS HIPOPROLIFERATIVAS Diagnosticadas pela reticulocitopenia, resultam da baixa taxa de produção de hemácia. Apresenta contagem de reticulócito corrigida < 2% ou < 100.000/mm3. As causas mais comuns são: 1. Deficiência nutritiva (em crianças e adultos) por falta de absorção, ingesta inadequada ou perda crônica (especialmente de ferro, folato e vitamina B12); 2. Falta de estímulo com diminuição de hormônios estimulantes da eritropoese – EPO (disfunção renal), hormônio tireoidiano, androgênio; 3. Doenças da célula-tronco (anemia aplásica, mielodisplasia) ou infiltração medular tumoral; 4. Supressão medular: quimioterápicos, medicamentos; 5. Anemia de doença crônica secundária a processos inflamatórios, infecciosos ou neoplásicos. ANEMIAS HIPERPROLIFERATIVAS Diagnosticadas pela reticulocitose, ocorrem em razão da perda ou destruição excessiva dos eritrócitos, com resposta adequada da medula óssea. Quando a contagem atinge valores ≥ 2% ou ≥ 100.000/mm3, indicando resposta medular normal à perda de sangue ou à destruição excessiva dos eritrócitos. Hemólise é a destruição prematura de hemácias e pode ser de causa congênita ou adquirida. A avaliação morfológica das anemias baseia-se, principalmente: → na hemoglobina corpuscular média → no volume corpuscular médio → red cell distribution width (RDW). O VCM (que mostra o tamanho médio dos eritrócitos) e a HCM (que mostra o valor médio de Hb nas hemácias – representado morfologicamente pela cor do eritrócito) podem ser calculados com base nos valores de hematócrito, número de eritrócitos e Hb. HIPOCRÔMICAS E MICROCÍTICAS São caracterizadas por células pequenas (microcítica = VCM baixo) e de coloração menos intensa (hipocromica = HCM baixo), pelo pouco conteúdo de Hb, que pode ser decorrente de: 1. ↓ da disponibilidade do ferro: deficiência de ferro, anemia de doença crônica, deficiência de cobre; 2. ↓ da síntese do heme: intoxicação por chumbo, anemia sideroblástica; 3. ↓ na síntese de globinas: talassemia, outras hemoglobinopatias. NORMOCRÔMICAS E NORMOCÍTICAS A média do tamanho e da coloração das hemácias é normal. Nessa situação: → A análise do sangue periférico é importante, pois pode tratar-se de estágio inicial de anemia microcítica ou macrocítica. → Pode também ocorrer pela falta de estímulo da eritropoese (insuficiência renal, endocrinopatia), pela anemia de doença crônica ou pelas anemias por infiltração medular, entre outros. NORMOCRÔMICAS E MACROCÍTICAS Trata-se de hemácias grandes (macrocíticas = VCM elevado) e de coloração normal, maiores que a média, porém com conteúdo globínico normal. Ocorrem frequentemente em: 1. Anemias com metabolismo anormal do ácido nucleico –megaloblásticas por deficiência de vitamina B12 ou ácido fólico, medicamentos (zidovudina, hidroxiureia); 2. Reticulocitose importante, pois o reticulócito é uma célula grande – anemia hemolítica, resposta à perda sanguínea aguda; 3. Alteração da maturação do eritrócito (mielodisplasia); 4. Outras causas, como hepatopatia, hipotireoidismo, alcoolismo. Podem-se ainda classificar as anemias, além dos pontos de vista fisiopatológico e morfológico: QUANTO À MASSA ERITROCITÁRIA: 1. Relativas: ↑ do volume plasmático, sem alteração da massa eritrocitária (gestante, macroglobulinemia); 2. Absolutas: ↓ real da massa eritrocitária. Módulo: Anemias e perdas sanguíneas | Samille Donato QUANTO À VELOCIDADE DE INSTALAÇÃO: 1. Agudas: de instalação rápida; 2. Crônicas: de instalação lenta. EXAMES ESPECÍFICOS Após a avaliação e a classificação inicial das anemias, muitas vezes são necessários exames específicos para confirmação diagnóstica, como: → Anemia hipocrômica e microcítica com RDW alto: analisar perfil de ferro; → Anemia macrocítica com RDW alto: analisar dosagem de vitamina B12 e folato; → Anemia normocrômica e normocítica com reticulócito baixo e RDW normal: dosar nível sérico de EPO, avaliar funções renal e tireoidiana e solicitar mielograma. REFERÊNCIAS: - Sistema hematopoiético – NIC saúde – Dolores A. – 2016. - LORENZI, TF. Manual de Hematologia: Propedêutica e Clínica. São Paulo, Guanabara Koogan, 4a . ed., 2006. - HOFFBRAND, A. Victor. Fundamentos em hematologia. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.