Buscar

KANT, Livro-Texto Unidade III

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 49 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 49 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 49 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

134
Unidade III
Unidade III
7 ÉTICA DE KANT
Estudamos a resposta de Kant à questão básica do seu projeto filosófico: O que posso conhecer? 
A Crítica da razão pura foi a grande resposta oferecida pelo filósofo, essa obra seminal na história da filosofia.
A segunda questão de seu projeto de reformulação da filosofia é: O que posso fazer? Essa questão levou 
Kant a se preocupar com os problemas da conduta humana do ponto de vista ético, questões de natureza 
moral sobre como o sujeito deve agir em relação aos outros na sociedade, qual deve ser sua conduta moral, 
como proceder para obter a felicidade e alcançar o bem supremo. As respostas para essas questões constam 
na sua segunda grande obra, Crítica da razão prática, que passamos a analisar.
7.1 Influências éticas em Kant
Desde a publicação da Fundamentação da metafísica dos costumes (1785), Kant vinha refletindo sobre 
questões de conduta ética relacionadas aos costumes da sua época. Também, em decorrência do questionamento 
com que fechou a Crítica da razão pura, sobre as limitações da razão teorética pura para explicar temas como 
alma, eternidade e divindade, viu-se na obrigação de dar uma explicação aos seus interlocutores.
Na direção dessas explicações, seu projeto ético-filosófico ganhou um impulso depois que leu 
as obras de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), especialmente Emílio, que trata da educação, e 
Do contrato social, que concilia liberdade e autoridade, indivíduo e Estado, ambas publicadas em 1762. 
Nessas obras, o filósofo suíço formula uma filosofia da liberdade e defende a autonomia e o primado do 
sentimento sobre a razão lógica, ideias que inspiraram Kant na formulação de uma ética para a razão 
pura baseada no princípio da liberdade e da autonomia do sujeito humano.
 Saiba mais
Emílio ou Da educação (1762): romance filosófico de Rousseau sobre a 
educação natural de um jovem, realizada distante das convenções sociais; 
obra referencial na pedagogia infantil até hoje.
ROUSSEAU, J.-J. Emílio ou Da educação. 2. ed. São Paulo: Martins 
Fontes, 1999.
Embora Kant estivesse distante das grandes discussões iluministas de Paris, mantinha uma preocupação 
permanente com as questões de natureza ética que dependiam do uso consciente da liberdade pelos 
homens. O filósofo sempre demonstrou interesse pelos problemas sociais e políticos da época, tomando 
135
KANT
partido a favor dos ideais da Revolução Francesa, na qual via não apenas um processo de transformação 
econômica, social e política, mas sobretudo um problema de ordem moral.
Se retornarmos à biografia de Immanuel Kant, podemos ver que seu pensamento ético recebeu três 
grandes influências:
• do pietismo, no período de educação inicial na família e na igreja;
• dos filósofos moralistas britânicos, na fase de graduação na Universidade de Königsberg;
• do filósofo Jean-Jacques Rousseau, na época da maturidade, por meio da leitura de seus livros.
Das três influências, a mais determinante foi a de Rousseau, que fez Kant rever posições sobre o 
status do homem, a redirecionar o papel da razão teorética para a prática e, principalmente, a corrigir 
certos preconceitos sociais que portava.
Do pietismo, a seita religiosa em que foi educado na infância por seus pais e pelo pastor da igreja 
que frequentava, Kant trouxe para a segunda Crítica a concepção rígida da lei e o rigor da obediência ao 
dever. Trouxe também, de sua mãe, a ideia de que os princípios morais e religiosos não devem se resumir 
a preceitos a observar, mas devem ser transformados em práticas a partir da própria intenção de querer 
ser bom, isto é, da boa vontade como um elã interior.
Dos filósofos ingleses, sobretudo de Shaftesbury, aprendeu que os princípios morais não podem 
ser objeto exclusivo de preferências individuais; devem sim ser considerados em uma perspectiva de 
concordância com a vontade dos demais homens, ou seja, Kant reconheceu a dimensão de universalidade 
dos princípios morais fundamentais. Aprendeu também a reduzir os preceitos morais externos a 
elementos da experiência interior na forma de autonomia de consciência.
Figura 31 – Primeira edição de Emílio ou Da educação (1762)
136
Unidade III
Quanto a Rousseau, a influência foi mais determinante, podendo ser vista como uma espécie de 
conversão pessoal de Kant. O filósofo prussiano não teve oportunidade de conhecer pessoalmente o 
filósofo francês, mas leu todos os seus livros. Depois da leitura de Emílio e Do contrato social, Kant reviu 
suas concepções de homem, liberdade e democracia. Percebeu que a dignidade do homem não depende 
somente das ciências e das artes para progredir, depende também da sua moralidade. Depende de uma 
vida moral que institua uma nova metafísica para contemplar a liberdade que deve ser exercida por 
uma razão prática em lugar de uma razão estritamente teorética.
Kant chegou a desprezar o povo mais simples, que julgava ignorante. Depois de ler Rousseau, 
reconsiderou seu ponto de vista e aprendeu a estimar o homem independentemente de sua 
condição intelectual. Reconheceu que os verdadeiros valores procedem do caráter, da vontade 
humana, e não da superioridade intelectual. Percebeu, sobretudo, que a moral deve ter primazia 
em relação ao conhecimento.
Assim, de cada uma dessas fontes de influência, Kant recolhe valores e princípios para compor sua 
nova Crítica, tais como:
• a força da vontade e a obediência ao dever;
• a universalidade da lei e a autonomia da consciência;
• o primado da prática sobre a teoria e a natureza boa do ser humano.
7.2 Nova revolução copernicana
Como, na Crítica da razão pura, com a aplicação do método transcendental a razão teve sucesso 
na configuração dos objetos do conhecimento, Kant acredita que pode fazer o mesmo na perspectiva 
prática da razão. Nessa direção, promove uma nova revolução copernicana, a exemplo do que fez na 
primeira Crítica, centrando os atos de cognição no sujeito cognoscente, e não nos objetos que orbitavam 
em torno dele.
Em seu novo projeto de investigação das potencialidades da razão prática, ou melhor, da razão 
teorética que se realiza também na prática, Kant coloca o sujeito no centro da problemática ética, 
atribuindo-lhe funções de legislador.
Tal proposta difere radicalmente das éticas tradicionais, conhecidas na história da filosofia até o 
século XVIII, todas tendo um ideal ou um bem (a matéria), como escopo do homem, a ser alcançado na 
busca da felicidade.
A ética de Kant, por sua natureza estritamente formal, distingue-se das éticas materiais e utilitaristas. 
Na proposta kantiana, vão ser privilegiadas as formas de atuação centradas no sujeito e nos deveres que 
este deve assumir com autonomia. A originalidade da proposta está na valorização do princípio formal 
autodeterminante (forma), em lugar dos conteúdos determinados (matéria) por doutrinas heterônomas 
ou a partir de leis, mandamentos e exigências autoritárias.
137
KANT
O que vai importar, na sua ética voluntarista, é o “como” se deve fazer, mais do que “o que” se deve 
fazer. Kant vai substituir a ética do bem pela ética do dever, assinalando que: “o bem consiste no que se 
deve fazer (...) e não é o conteúdo do bem que determina a lei moral e a torna possível, mas, de modo 
inverso, é a lei moral que determina o conceito de bem e o torna possível” (apud FERRO e TAVARES, 
1991, p. 50).
Do mesmo modo que fez na Crítica da razão pura, ao realocar a metafísica em seu verdadeiro lugar 
metodológico, como fundamentadora dos juízos sintéticos a priori do conhecimento, destituindo-a 
do trono de rainha das ciências, Kant propõe uma ética independente da metafísica, esta que vinha 
sendo a fonte teológica dos valores transcendentes. Contudo, exigirá da abordagem metafísica a 
participação na escala dos deveres, enquanto convoca o sujeito ético a legislar em causa própria. Isso 
quer dizer que pretende construir uma doutrina ética que seja estabelecida por preceitos universais e 
que não seja relativizada à experiência do indivíduo. Na primeira Crítica, ficoudemonstrado que a razão 
teorética (o entendimento) pode produzir conhecimentos a priori sem precisar extrair elementos da 
experiência. Na segunda Crítica, com foco na razão prática, Kant busca, do mesmo modo, desenvolver 
uma ética cujos princípios sejam universais, não particulares ou condicionados ao contexto, ou seja, 
que sejam absolutamente independentes da experiência pessoal.
Na Fundamentação da metafísica dos costumes (1785), escrita entre a Crítica da razão pura (1781) 
e a Crítica da razão prática (1788), Kant já previa a necessidade de formular uma filosofia moral pura, 
despida de tudo que fosse empírico. Para ele, somente é possível uma vida moral do sujeito, na medida 
em que sua razão estabeleça, por si mesma, aquilo que se deve obedecer no terreno da conduta.
7.3 Razão prática
Ao final da Crítica da razão pura, Kant deixou transparecer que a razão não é constituída somente 
por uma dimensão teorética e que pode, também, buscar o conhecimento em uma dimensão prática, 
capaz de determinar (instituir) seu objeto mediante e durante a ação prática. Nesse sentido, a razão vai 
dizer qual a forma da ação que o sujeito deve adotar, e não qual ato deve praticar.
Novamente, Kant preocupa-se em demonstrar a tese de que o que importa na lei moral é o “como” 
se deve fazer, mais do que “o que” se deve fazer. Sua hipótese é que a razão teorética prática pode criar 
o mundo moral e, nesse domínio, deve encontrar os fundamentos metafísicos, necessários e universais, 
para legitimar as condutas humanas.
Seu pressuposto parte da tese de que os valores incondicionados e absolutos, como substância, alma 
e Deus, que são inatingíveis pela razão teorética no âmbito do conhecimento, poderiam ser alcançados 
na esfera da moralidade, no terreno da prática. Para isso, vai considerar a liberdade como a coisa em si, 
que passa a ser almejada por uma razão teorética prática.
Vale um parêntese aqui para diferenciar a razão teorética pura da razão teorética prática. São duas 
faculdades da mesma razão humana, mas com funções diferentes na ação sobre o mundo. A razão 
pura, estritamente teorética, corresponde ao entendimento (Verstand) que se ocupa das intuições e da 
138
Unidade III
produção de juízos. A razão teorética prática, que passaremos a denominar também razão raciocinante, 
tem a função de pensar e produzir ideias.
Portanto, enquanto capacidade do sujeito que pode dirigir os atos sociais da sua vida, respondendo à 
segunda questão básica de Kant – O que posso fazer? –, a razão prática tem primazia sobre a razão pura, 
esta última mais ocupada em explicar cientificamente como podemos conhecer o mundo.
A razão prática, em essência, também é teorética, visto que produz conhecimento – as ideias. A razão 
prática não produz conceitos, mas tem a capacidade de mover e determinar a vontade humana, essa 
característica identitária do sujeito, na determinação do que fazer de modo prático no mundo dos costumes.
A palavra costume, em alemão Sitte, utilizada por Kant nos títulos de seus livros, corresponde 
ao latim mos e ao grego ethos, dos quais derivam moral e ética, que indicam a doutrina da conduta 
humana, em contraposição à doutrina da natureza, ou física (BOBBIO, 1997). Assim, por costumes, na 
época de Kant, deve-se entender toda a complexidade de regras de conduta ou de leis, no sentido mais 
geral de normas cívicas e religiosas, que disciplinam a ação do sujeito como um ser livre.
7.4 Razão ética raciocinante
Devido ao abismo que existe no mundo, entre o númeno e o fenômeno, Kant é induzido a distinguir, 
na inteligência do sujeito, duas faculdades que não se equivalem, embora sejam de mesma natureza 
cognitiva: o entendimento (Verstand) e a razão (Vernunft).
Kant usou grafias diferentes em alemão para nomeá-las. Para evitar confusão em português, 
adotaremos o seguinte: para Verstand usaremos sempre entendimento; e para Vernunft usaremos ora 
razão, ora razão raciocinante, ou, ainda, inteligência, a depender da necessidade de diferenciar suas 
funções em uma mesma frase.
Desse modo, o entendimento (Verstand) é a faculdade que explica cientificamente os fenômenos por 
meio da composição dos conceitos (juízos) que elabora com dados da intuição sensível e das categorias 
a priori. Já a razão raciocinante (Vernunft) é a que produz ideias e, com elas, pensa a respeito do númeno, 
acreditando ter acesso à realidade da coisa em si. Nesse caso, a razão produz ideias que são formulações 
hipotéticas, portanto são falsas, na ilusão de que discursam sobre objetos reais.
 Observação
Verstand é a faculdade do entendimento cuja função é unir e concatenar 
as intuições da sensibilidade com suas categorias puras para criar os juízos.
A dificuldade de Kant em unir os dois mundos, inteligível e sensível, do númeno e do fenômeno, que 
ele mesmo separou na Crítica da razão pura, leva o filósofo a esse exercício de raciocínio para explicar a 
capacidade do sujeito de pensar sua experiência e falar sobre o mundo que vê. A saída foi atribuir duas 
funções diferentes à razão pura.
139
KANT
A razão do entendimento, estritamente teorética e científica, tem a função regulatória e engenheira 
de compor os juízos, entre eles os juízos sintéticos a priori, que justificam a presença da metafísica 
no conhecimento.
A razão raciocinante, intuitiva e mais prática, é responsável pela faculdade de pensar o mundo 
e produzir ideias a respeito dele. A razão raciocinante (que pode ser chamada de inteligência, para 
distinguir da razão que denominamos apenas entendimento) tem a função discursiva de apresentar o 
mundo para o sujeito e para os outros sujeitos por meio das ideias que produz e comunica a eles. São 
duas faces da mesma razão pura.
A primeira face corresponde ao entendimento, que conhece o mundo e compõe conceitos para 
legitimar o conhecimento – por exemplo, justificar a noção de causalidade, que não existe como dado 
empírico, mas é uma noção a priori. A segunda face da razão corresponde à inteligência, que pensa o 
mundo e também produz ideias para explicar e se comunicar com os demais sujeitos.
Por seu lado, a razão raciocinante, a inteligência, que é a mesma razão teorética, mas com a função 
de pensar psicologicamente o mundo, vai produzir ideias e, a partir delas, deduzir outras, na forma de 
silogismos, em sequência, para discursar sobre o mundo.
Façamos uma comparação simples. O entendimento corresponderia ao processo de indução 
aristotélico, no qual o intelecto formula juízos a partir de dados da experiência unificando conceitos, 
mas essa unificação não faz o sujeito progredir para novos conhecimentos.
 Observação
Vernunft é a razão cuja faculdade intuitiva consegue, além da 
experiência sensível, atingir imediatamente a substância do mundo, o 
númeno, de modo dialético, isto é, ilusório para Kant.
A inteligência, a razão raciocinante (Vernunft), que é o raciocínio no sentido restrito, consiste em 
ordenar os dados, subsumir sob um princípio mais geral os juízos particulares. Trata-se do processo de 
dedução que utiliza os silogismos, também ao modo aristotélico, para unificar conceitos e concluir ideias 
gerais, ampliando o conhecimento, mesmo que isso, à primeira vista, possa parecer ilusório (dialético).
É nesse gênero dedutivo de raciocínio que Kant vê a solução para superar o abismo entre o númeno 
incognoscível e as ideias circulantes no pensamento; ideias de alma, liberdade, imortalidade, divindade 
e outras que só podem ser pensadas, pois não têm nenhum componente a posteriori que lhes dê 
sustentação. Essas ideias, em um primeiro momento, dialéticas, consideradas ilusórias na concepção 
de Kant, conseguem, por dedução, concluir sobre conceitos não empíricos a respeito de substância, 
causalidade, totalidade etc. Trata-se de uma ilusão que, na visão de Kant, é uma ilusão natural, necessária 
para que o sujeito possa participar de todas as realidades, inclusive da realidade plausível do absoluto 
supremo – Deus.
140
Unidade III
Assim, a ideia de Deus é obtida pela lógicada dedução como um Ideal, isto é, como uma ideia (não 
o conceito que seria derivado da experiência pela ação do entendimento); a razão raciocinante chega à 
ideia de um Ser, ao mesmo tempo, infinito, subsistente em si mesmo e causa primeira de tudo, em uma 
palavra, um Ser necessário.
Se a ideia de um Ser necessário é possível, conclui Kant, convocando novamente o auxílio da 
metafísica como método transcendental para legitimar a conclusão, a existência do númeno divino 
também é possível, por exigir um referente para a razão pensar o Ser necessário, enquanto fonte de 
perfeição de todos os valores morais.
Por esse raciocínio especulativo da inteligência, Kant estabelece alguns postulados na Crítica da 
razão prática para que o sujeito consiga pensar e interpretar o conjunto das substâncias: Deus, homem 
e alma.
É esse raciocínio especulativo da filosofia kantiana que caracteriza seu método idealista de 
interpretar o mundo e que, por essa abordagem, recebeu a denominação na história da filosofia 
de idealismo racional.
Na Crítica da razão prática, Kant demonstra que a razão raciocinante tem o poder de pensar o 
mundo, diferentemente de conhecer o mundo, com plena liberdade e independentemente de vínculo 
com a experiência e que é a razão prática, em sua face pensante (Vernunft), que vai ordenar o dever e 
os valores para as práticas da conduta humana.
7.5 Postulados éticos
Como vimos, Kant resolve o problema do abismo entre o mundo numênico incognoscível e o mundo 
fenomênico prático dos costumes com o auxílio dos mecanismos metafísicos que o auxiliaram na 
montagem do conhecimento científico e agora contribuem na estruturação da sua ética formalista.
Por mecanismos metafísicos entende-se a exigência, da razão, por ideias que sejam necessárias, 
universais e a priori, independentes da experiência, na ordenação das práticas e dos deveres éticos.
Não se trata da metafísica enquanto disciplina teórica, desconstruída por Kant na primeira Crítica, 
mas de raciocínios transcendentais (metafísicos) que fundamentam as interpretações do sujeito ético 
sobre o mundo e sobre todos os entes substanciais: liberdade, alma, imortalidade e Deus.
Os três postulados da ética kantiana são: a liberdade pessoal, a imortalidade da alma e a existência 
de Deus.
São três númenos que correspondem a três ideias metafísicas. Não são conceitos, são entes racionais.
Esses postulados, a exemplo da matemática, que Kant admirava, não são demonstráveis 
empiricamente, mas somente por dedução lógica. Para o filósofo, esses postulados fundamentam o 
fato moral.
141
KANT
7.6 Fato moral
As éticas tradicionais, que Kant criticava em sua época, pautavam o fato moral, isto é, a prescrição 
de valores para a prática moral, em um objeto para a ação do sujeito. Kant chama esse objeto de 
matéria da lei. Por extensão, as éticas que perseguem um bem ou um ideal, como objeto a se atingir, 
são denominadas éticas materiais, distinguindo-se da ética formal da proposta kantiana.
Na visão crítica de Kant, nas éticas tradicionais, o sujeito procura Deus como um valor supremo ou, 
se pratica o bem, é para alcançar uma felicidade eterna. Em qualquer caso, o sujeito realiza um ato moral 
de cunho egoísta, pois seu interesse é particular, da ordem da subjetividade e, portanto, dependente de 
sua sensibilidade pessoal (empírica), e não de uma ação racional objetiva.
Kant critica todo fato moral que esteja associado às práticas que envolvem somente o interesse do 
sujeito. Nesse sentido, critica as éticas utilitaristas, por exemplo, a ética na qual o bem é o que é útil, e 
também as éticas subjetivistas, concentradas na individualidade do sujeito, que afirmam que: “o bem 
é o que me faz feliz”.
Para superar esses modelos, Kant oferece na Crítica da razão prática uma ética que apresenta 
exclusivamente um procedimento formal no qual o sujeito não tenha que procurar um objeto 
fora de si mesmo. É a nova revolução copernicana. Em lugar de buscar no objeto, na matéria, a 
justificativa para a prática moral, o sujeito encontra na letra da lei, na forma, o fundamento para seu 
dever moral de agir.
O que caracteriza a proposta de Kant é a obrigação pura do sujeito, que não está vinculada a 
nenhum interesse particular, não deve estar insuflada por nenhuma motivação de cunho pessoal, nem 
condicionada a este ou aquele ordenamento superior heterônomo. A forma da lei é, essencialmente, o 
dever a ser cumprido.
Para desenvolver essa ética na Crítica da razão prática, Kant faz um paralelo com as funções do 
entendimento (Verstand) que operava com 12 categorias a priori para construir o conhecimento científico.
Na mesma direção, demonstra que a razão raciocinante (Vernunft) possui uma categoria, ou forma 
a priori, cujo funcionamento só depende da estrutura interior do sujeito. Essa categoria é capaz de 
impor-se a todas as práticas morais e a todos os atos humanos de todos os homens para constituir um 
fato moral universal e necessário.
Portanto, Kant desenvolve uma ética de princípios para orientar as condutas humanas, seguindo 
um método semelhante ao que empregou na Crítica da razão pura. Por isso, o título Crítica da razão 
prática. Segundo Kant, as atitudes éticas e morais não são impostas pela natureza, e sim prescritas 
pelo homem em sociedade. As leis éticas é que determinam as formas da vontade. Essas leis, ou 
imperativos, impostas à vontade do sujeito, regem a conduta a priori, isto é, com validade necessária 
e universal.
142
Unidade III
7.7 Imperativos éticos
Com o intuito de destacar a importância do imperativo categórico na proposta de uma ética formalista 
e legalista, Kant faz uma longa explanação conceitual na Crítica da razão prática para comparar e 
distinguir o imperativo hipotético (ou condicional) do imperativo categórico (ou incondicional).
De modo geral, o que vem a ser um imperativo? Do ponto de vista gramatical, o imperativo é um 
modo verbal determinativo e, enquanto substantivo, o imperativo pode significar: lei, dever, norma, 
ordem, ditame, instrução, prescrição, mandamento e muitos outros ordenamentos, todos com o sentido 
de uma indicação precisa de ação a ser realizada.
Do ponto de vista lógico, imperativo é uma proposição sob a forma específica de um comando; 
particularmente, de um comando emitido pelo espírito humano e dirigido a outrem ou a si mesmo. 
Em lugar da palavra comando, nem sempre aceitável devido à conotação de imposição de uma ordem 
superior, é preferível a palavra resolução, mais conforme ao espírito voluntarista da ética kantiana.
7.7.1 Imperativo hipotético
O imperativo hipotético é um ordenamento no qual a lei prescrita se condiciona, ela mesma, 
na qualidade de meio, a um certo fim a ser atingido ou atingível. O imperativo hipotético segue, 
comumente, a fórmula normativa das éticas tradicionais, utilitaristas e subjetivistas, que apresentam 
as seguintes prescrições:
• No modo afirmativo: “se quiser X, faça Y”.
• No modo negativo: “não faça Y se não quiser X”.
Exemplos:
• “Se quiser ser querido, faça amizades duradouras.”
• “Se pensa em ter sucesso na vida, estude.”
• “Se quiser ir para o céu, não faça o mal.”
• “Se não quiser ser preso, não roube.”
Em todos os exemplos, o imperativo hipotético está atrelado ao escopo material do sujeito, facilitando 
sua decisão a respeito de qual ação correta deve realizar. O objeto da ação, a finalidade, constitui o 
alvo-prêmio se, e somente se, o sujeito cumpre com as condições para merecer a premiação. Assim, 
o imperativo hipotético é condicional. A condição é o meio para atingir o objetivo, a matéria da ação.
O imperativo é hipotético, também, uma vez que o sujeito não tendo interesse em realizar aquele 
fim, ou não estando disposto a cumprir a ação necessária para alcançar aquele objeto, pode desistir do 
143
KANT
ordenamento, pois não existe qualquer obrigação racional para cumpri-lo. Nesse sentido, o imperativo 
hipotético é facultativo, pois pode estar condicionado à flutuação da vontade do sujeito ou às inclinaçõesda razão no ato.
Os imperativos hipotéticos ordenam as ações humanas em vista de um fim – desejo, prazer, satisfação, 
felicidade – e não a uma lei, objetivamente necessária e válida para todos os homens. Os imperativos 
hipotéticos concernem às práticas ou mesmo às prudências que indicam os meios (condições) para 
atingir um objetivo de felicidade. Assim, na conclusão de Kant, o imperativo hipotético é condicional, na 
medida em que subordina a prescrição da ação a um determinado fim, e só tem valor se, e somente se, 
o sujeito procura atingir esse fim em particular. Por isso, o imperativo hipotético é apenas um meio para 
atingir esse fim, podendo, ainda, ser apresentado na forma de conselho, de orientação de prudência ou 
de modo de vida.
7.7.2 Imperativo categórico
O imperativo categórico é o conceito central da ética kantiana. Com ele, Kant pretende 
definir um modo de avaliar as motivações para a ação humana em todos os momentos da vida. 
O imperativo categórico é formulado como uma proposição que declara uma determinada ação 
que deve ser sempre necessária, de abrangência coletiva e que possa constituir-se, enquanto 
proposição de conduta, como um fim em si desejável. Assim, o imperativo categórico deve ser uma 
decisão moral pautada pela razão, e não por inclinações do sujeito; é, portanto, uma instrução na 
qual o comando é incondicional, por encerrar um fim em si mesmo. Sendo um fim em si mesmo, 
ou seja, não tendo nenhuma outra finalidade a fundamentar o cumprimento da lei imperativa, 
não carece de justificação; por isso, é denominado categórico, isto é, explicitamente determinante, 
pois não está condicionado a nenhuma particularidade, incluindo a identidade da pessoa, devendo 
ser aplicável a qualquer ser racional. Esta é a razão pela qual o imperativo categórico, em suas 
primeiras formulações, foi chamado princípio da universalidade.
Seu formato decididamente categórico e incondicional é “faça X”, nunca é “faça X se quiser Y”. 
Para Kant, o imperativo categórico exprime uma lei moral que pode ser representada na seguinte 
fórmula geral: “Age sempre em conformidade com uma máxima que possas querer que se torne 
uma lei universal”. Nessa perspectiva, o ato moral se realiza como um acordo entre a vontade do 
sujeito e a lei moral que ele aceita para si mesmo.
Essa fórmula geral permite deduzir três máximas morais que reforçam a incondicionalidade dos 
atos a serem realizados por dever. São elas:
• Age como se a máxima de tua ação devesse ser erigida por tua vontade em lei universal.
• Age de tal maneira que trates a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de outrem, 
sempre como fim, e nunca como meio.
• Age como se a máxima de tua ação devesse servir de lei universal para todos os seres racionais.
144
Unidade III
As três fórmulas do imperativo categórico, apresentadas por Kant, resumem a força normativa do 
dever, sempre vistas do ponto de vista da unanimidade, isto é, para toda a humanidade, mesmo sendo 
uma iniciativa do sujeito-indivíduo, e do ponto de vista da uniformidade da ação decorrente, cada um 
supostamente agindo conforme a ação prescrita pela letra da lei do imperativo.
Nem todas as máximas, aceitáveis como leis universais, podem ser consideradas imperativos 
categóricos, segundo a ótica de Kant. Somente aquelas que funcionam como motivação moral adequada 
para a ação livre do sujeito, implicando, da parte dele, respeito incondicional a uma exigência absoluta 
(a priori), que não deve e não pode ser desobedecida, em hipótese alguma, por corresponder a um 
critério de moralidade que envolve, no sujeito de escolha, toda a humanidade. Vejamos alguns exemplos.
7.8 Normas e condutas
O imperativo categórico – agir de tal modo que a máxima da sua ação possa valer como lei universal 
– deve ser tomado então como um fato da razão, a revelar como essência a liberdade da vontade, 
liberdade que é compreendida como autonomia. Desse modo, o imperativo categórico é o respeito a 
uma máxima imediata, máxima que foi interiorizada conscientemente por um sujeito como valor a ser 
respeitado, porque fundamenta uma decisão da vontade que, na letra da lei, tem dimensão universal. 
Isso significa que, quando o sujeito age autonomamente, por ser seu dever agir assim – e não de outra 
forma –, ele está acatando e seguindo o imperativo categórico. A obediência ao imperativo independe 
de como outros sujeitos agiriam no lugar dele e independe de como ele gostaria que os demais sujeitos 
agissem com ele. O que deve prevalecer no sujeito, decididamente, é a consciência da função moral do 
imperativo que deve reger sua vida.
 Observação
Essa conduta é completamente distinta e distante da simples “regra 
de ouro”, bastante repetida hoje em dia, de “não se deve fazer com 
os outros o que não gostaria que fizessem consigo”. Kant, certamente, 
rejeitaria essa proposição, não categórica, por ser contrária ao espírito 
da sua ética universalista.
Na Crítica da razão prática, Kant (1959, p. 35) escreve que:
A regra prática é, portanto, incondicionada, sendo, por consequência, 
representada como proposição categoricamente a priori, em virtude da qual 
a vontade é determinada, objetiva, absoluta e imediatamente (pela mesma 
regra prática que aqui, evidentemente, é lei). Com efeito, a razão pura, 
em si mesma prática, aqui resulta imediatamente legisladora. A vontade é 
concebida como independente de condições empíricas e, por conseguinte, 
como vontade pura, determinada mediante a simples forma da lei, sendo 
esse motivo de determinação considerado como a suprema condição de 
todas as máximas.
145
KANT
Kant não concordaria, também, com a ideia de que sujeitos diferentes poderiam ter imperativos 
categóricos diferentes, pela seguinte explicação: se todos os sujeitos exercitassem a prática de uma lei 
moral, com o tempo todos chegariam ao mesmo nível de respeito ético, no qual as individualidades 
deixam de ser consideradas em prol de uma moral universal, que respeitaria todas as pessoas humanas.
Assim, apesar de as experiências individuais e as respectivas conclusões serem distintas para cada um, 
todos os sujeitos racionais formariam seu raciocínio sintético da mesma forma ética, independentemente 
da matéria de suas intenções.
Ampliando sua visão ética, na Crítica da razão prática, Kant (1959, p. 86) afirma: “se os seres humanos 
são racionais, dependem da razão para obterem as suas conjecturas de mundo com base nessa razão, e 
não apenas sendo guiados pela natureza. Por isso todos são responsáveis por seus atos”. E conclui que, se 
o Estado garantir a possibilidade de liberdade interna de cada sujeito gradativamente, cada um agindo 
sob o amparo da lei (do imperativo categórico), todos alinhariam suas ações moralmente, de modo que 
todos se tratassem, uns aos outros, como fins em si mesmos.
Quadro 7 
Imperativo hipotético Imperativo categórico
Faz A, se queres B Faz A
Exemplo: Cumpre as tuas promessas, se queres 
ser bem visto Exemplo: Cumpre as tuas promessas
Condicionado (se...) Incondicionado
O que ordena é um meio para algo O que ordena é um fim em si
A vontade é heterônoma (determinada por algo 
que lhe é exterior)
A vontade é autônoma (determinada por um 
princípio que dá a si mesma)
Não depende exclusivamente da razão Depende exclusivamente da razão
Adaptado de: Almeida (2019).
Na comparação entre os dois imperativos, percebe-se que o imperativo hipotético acentua o caráter 
subjetivo da ação, pois, centrando a decisão no sujeito (na pessoa que escolhe), acaba por individualizar 
a ação, desconsiderando os efeitos da escolha.
No imperativo categórico, a ênfase está na decisão segundo a lei, que tem caráter objetivo, pois é 
necessária e universal. Os efeitos são colocados na perspectiva de abrangência, de visão coletiva, de 
cálculo das consequências para o restante da humanidade.
 Lembrete
Imperativo categórico é a norma na qual o comando é incondicional. 
Exemplo: Seja bom! Segue fundamentalmente a fórmula: age sempre em 
conformidade com uma máximaque pudesse ser declarada uma lei universal.
146
Unidade III
7.9 Ética e rigor
O imperativo categórico é uma lei moral que não visa nenhum objeto, nenhum fim, nenhum esforço 
para alcançar objetivo fora de si mesmo, a não ser o rigor à conformidade da lei. A única recompensa é 
a satisfação de ter cumprido a lei, ou seja, do dever cumprido.
Por excluir qualquer objeto de desejo e qualquer escopo particular, o imperativo categórico é 
puramente formal. A única obrigação da razão prática é agir conforme o rigor da lei. Trata-se, deste 
ponto de vista, de uma ética rigorista.
Kant vai demonstrar que o que institui esse rigor da lei e a própria exigência necessária de uma 
lei transcendental, que esteja fundamentada na razão, e que defina os compromissos necessários e 
universais da razão prática. Uma lei que considere, sempre, a perspectiva de pensar anteriormente a 
prática e suas decorrências, e de antever o envolvimento de todos os homens tomando a mesma decisão 
de ação.
Essa postura racional move o sujeito, individualmente, a realizar ações não pessoais (particulares) que 
possam reforçar seu egoísmo ou a inveja, quando se compara aos outros. Ao contrário, o cumprimento 
da lei, enquanto imperativo categórico, leva o sujeito a assumir decisões de ação na qual todos os 
homens se sentiriam representados e se retratariam como conveniente, portanto não teriam inveja e 
vivenciariam a solidariedade (humanidade). Ter inveja é se comparar com o outro e, nesse caso também, 
é um processo egoico.
7.10 Ética humanista
No imperativo categórico legítimo, não há espaço para sentimentos pessoais (inveja, orgulho, 
soberba, vaidade etc.), pois não há comparação entre sujeitos, mas identificação do sujeito da iniciativa 
com toda a humanidade. Trata-se da verdadeira solidariedade, no sentido próprio de “ser um sólido”, de 
ser um com o todo, que é o sentido pleiteado pela ética universalista de Kant.
Em outras palavras, todos os homens, decidindo em consenso formal a mesma ação comum, teriam 
consciência de que a ação seria efetiva e seu resultado seria produtivo, confirmando, assim, que a 
escolha foi pertinente, porque feita conforme a norma que, enquanto indivíduo, pressupôs e agregou 
todos, pois todos, no seu lugar de sujeito de escolha, fariam da mesma maneira. Essa característica 
de conduta, que pode ser chamada de senso de humanidade, confirma o caráter universalista da 
ética kantiana.
Por fim, requer Kant que essa lei moral deva prescrever uma norma que auxilie na evolução da 
humanidade, de tal modo que todo proceder esteja de acordo com o valor maior de universalidade.
O raciocínio ético de Kant é o seguinte: se a lei estabelecida não regulamentar ações que valham 
para todos, será uma determinação que causa inveja, que pode dividir e destruir a harmonia social. 
Trata-se de uma ética de aspiração humanista.
147
KANT
 Lembrete
Imperativo hipotético: norma em que o comando emitido se condiciona, 
na qualidade de meio, para certo fim a ser atingido ou atingível. Exemplo: 
“estude, se deseja ter um futuro melhor”.
7.11 Lei moral
O imperativo categórico tem força de lei moral no kantismo. É a fórmula universal da lei moral que 
Kant propõe para orientar, eticamente, as liberdades de todos os homens, deixando claro que existe uma 
estreita relação de dependência entre o determinismo da lei e o exercício da liberdade, esta faculdade 
que caracteriza os seres humanos racionais.
Por outro lado, Kant lembra que o exercício da liberdade passa pelo crivo crítico da razão pura que 
encontra em seu interior, na vontade, o fundamento para orientar a decisão de escolha.
O pressuposto da ética de Kant é a necessidade do compromisso que todos os homens devem levar 
em conta, no uso da liberdade de escolha individual, o determinismo da dimensão da humanidade. 
Para que essa relação de dependência entre o determinismo e a liberdade resolva-se, o ato moral deve 
se apoiar no substrato da fórmula categórica, ou seja, na noção de dever do sujeito que pressupõe sua 
vontade de escolher por todos.
O imperativo é relevante porque é para todos. Nessa perspectiva, de seu cerne emerge a predisposição 
racional do sujeito de querer agir como todos porque tem consciência de que o fundamento da lei moral 
é bom, isto é, o senso de universalidade.
7.12 Ética e autonomia
Outra característica da ética kantiana é a autonomia. No prefácio da Crítica da razão prática, Kant 
define autonomia como o princípio de dignidade da natureza humana e de toda natureza raciocinante.
Vale lembrar que o vocábulo nomo, do grego nómo, significa lei, norma; e o vocábulo auto, também 
do grego autós, significa de si mesmo, por si. Assim, para Kant, autonomia é a “lei ou norma que regula a si 
mesmo”, predominando, no sujeito racional, a concepção de “governo de si mesmo” e não, equivocadamente, 
a noção hoje corrente de “liberdade pessoal absoluta” ou “desgoverno”, isto é, fazer o que quiser.
Na ética kantiana, o imperativo categórico é o modo próprio da razão autônoma. A lei moral, 
consolidada no imperativo categórico, tem como fundamento, do leque de opções possíveis, o dever de 
o sujeito ser um homem livre, isto é, saber usar conscientemente sua liberdade, governar-se a si mesmo, 
ser autônomo. Dessa forma, raciocina Kant, a lei moral não deve ser heterônoma, isto é, não deve 
proceder do exterior da razão, do mando das autoridades, dos mandamentos religiosos, das obrigações 
civis para com os outros cidadãos.
148
Unidade III
Todas essas normas são relevantes e devem ser respeitadas; contudo, por serem normas governadas 
de fora, não tendo apelo no íntimo do sujeito, em sua boa vontade, acabam sendo cumpridas, ou não, 
por mera conveniência, rotina ou medo. O exemplo típico é o de um sujeito cidadão que, se não houver 
ninguém por perto, decide jogar lixo em lugar público. Ora, a norma de higiene pública: “não jogue lixo 
no local” não foi incorporada por ele como um imperativo categórico, nesse caso, na fórmula negativa: 
“não faça X”. O cidadão só respeita quando tem alguém próximo, quando alguma força heterônoma está 
vigilante de sua conduta. Ou seja, o sujeito não age com autonomia.
A lei moral, para ser autônoma, deve proceder do âmago do sujeito, da consciência de que, em 
conformidade com a lei, sua ação será sempre a correta para o benefício de todos. Por isso, Kant (1959, 
p. 128) afirma que a lei moral é um ato voluntário da razão pura, no sentido de que “somos conscientes 
dela (lei) a priori e que, apoditicamente, é certa, mesmo se se supõe que na existência não se pode 
encontrar nenhum exemplo da sua exata observância”.
Com a afirmação, Kant universaliza a ideia da observância ou inobservância da lei. Isso não importa 
para ele, pois o valor a priori não está na prescrição ou na observância, mas no texto da lei, no imperativo 
que formalmente está cristalizado na lei moral, e cujo valor essencial deve ser incorporado pela vontade 
do sujeito de agir livremente, lembrando que, para Kant, liberdade é agir segundo a lei.
No episódio da norma de higiene pública, se não houvesse mais nenhum ser humano no planeta, 
só um indivíduo – o sujeito kantiano conhecedor da lei –, mesmo assim ele a respeitaria, pelo valor 
intrínseco da lei, que contém uma validade necessária e universal: não se pode poluir com lixo nenhum 
lugar do universo, independentemente de se encontrar alguém, hoje ou amanhã, que possa ficar 
incomodado com essa má conduta.
Tome, pensei em ficas com 
o troco da padaria para 
comprar bala, mas não 
consegui
Inquilino?
Quê inquilino?
Esse que a 
gente tem 
aqui dentro
E tudo por causa do maldito 
inquilino que começou a dizer 
que isso é muito feio, que nao 
se faz e sei lá o quê!
Figura 32 – Exemplo de imperativo categórico e dever pessoal
Segundo Kant, a lei moral também pode ser expressa na autodeterminação do sujeito que tem 
consciência de seu projeto de atuação no mundo social, pela fórmula categórica: “tu deves, portanto, 
podes”. Trata-se de fundamentar a lei moral, a leique prescreve os atos de conduta e os costumes sociais, 
no primeiro termo da fórmula do imperativo: “tu deves, portanto, podes”, isto é, dar maior ênfase ao 
dever do sujeito, à sua consciência de obediência à lei, nunca perdendo a dimensão da coletividade, o 
que reforça o caráter voluntarista da ética kantiana. Contudo, é interessante observar que a sociedade 
moderna, da época de Kant, e a sociedade contemporânea mudaram e mudam a ênfase da fórmula para 
149
KANT
“tu podes, portanto, deves”, de modo a acentuar a possibilidade individual do cidadão em relação às 
escolhas, empoderando-o ao poder (ter) e não ao ser. Isso acarreta uma afirmação inicial do indivíduo e 
não do coletivo, resultando ações de natureza egoísta e invejosa.
O fato de fundamentar a lei no indivíduo, o que pode parecer antropológico, à primeira vista, 
na verdade, reforça o senso particular do sujeito, revelando uma razão, de um sujeito egoísta que, 
unicamente e sempre, só escolhe a si mesmo.
O tu podes abre um leque de alternativas que turva a decisão consciente do sujeito raciocinante: 
“se posso, por que não tentar?”. Novamente, o foco da escolha assenta-se na individualidade e abre o 
leque de opções para fazer o que quiser (vontade própria).
A escolha é individualista, sem nenhuma dimensão de abrangência coletiva. O argumento para 
justificar, individualmente, é: “Os outros também podem, se não fazem é porque não querem ou não ousam”.
As consequências podem ser nefastas para o sujeito e para a humanidade, mas o sujeito raciocinante 
não pensa nisso. O que pesa no momento de decisão da ação é a tônica na vontade pessoal sem a 
antevisão racional das consequências que a lei moral resguarda para o todo. Portanto, é um exemplo de 
má vontade.
Trata-se do caráter subjetivo que reforça o próprio subjetivismo, incorrendo em um solipsismo 
moral: “eu sou eu”.
 Observação
Solipsismo é a doutrina que considera o eu única realidade do mundo. 
Kant emprega esse termo para indicar a totalidade dos desejos e inclinações 
do sujeito que, sendo satisfeitos, produz a sensação de felicidade.
Por outro lado, se a ênfase for no primeiro termo da fórmula: “tu deves, portanto, podes”, ou seja, 
na dimensão categórica a priori, a consciência tanto de determinação do dever da lei moral como de 
seus efeitos estará subsumida no imperativo categórico.
Na própria noção de dever está implícita a natureza do conteúdo do preceito que, por ser um imperativo 
categórico, passou pelo crivo da orientação geral e, nessa direção, pode ser realizado conscientemente, 
pois a ação imperativa está consoante a decisão de todos, ou seja, é consensual (universal).
Portanto, quando se fundamenta a lei no primeiro termo do imperativo: “tu deves, portanto, 
podes”, a ênfase maior é no dever. Nesse caso, conforme a visão de Kant, a norma formal transforma-se 
em lei geral e universalizante, porque prescinde da acentuação do sujeito individual, da sua vontade 
particularíssima, singular e inconstante, para elevar essa vontade de decisão pessoal ao nível consensual, 
segundo a convocação do manifesto do iluminismo – Ousa e tem coragem –, e para assumir sua ação e 
sair da menoridade de pensamento.
150
Unidade III
 Observação
Deontologia é a ciência que estuda os princípios, fundamentos e 
sistemas de moral; de modo mais genérico, tratado de deveres.
8 CRÍTICA DO JUÍZO
A Crítica da razão pura, respondendo à questão básica do projeto de filosofia de Kant – O que posso 
conhecer? –, analisou as condições empíricas e transcendentais do conhecimento teórico (científico). 
Com isso, desenvolveu-se uma epistemologia. A Crítica da razão prática, ao responder à segunda questão 
– O que devo fazer? –, analisou as condições para uma conduta social, baseada na lei moral imperativa 
e, em decorrência, tivemos a ética kantiana. Ao tratar da terceira questão – O que posso esperar? –, Kant 
desenvolve uma criteriologia para tratar das condições da vida sentimental.
A Crítica do juízo faz o exame das possibilidades de um juízo, também a priori, acerca da finalidade 
(teleologia) da natureza e do sentir humano, juízos reflexivos que tenham fundamento no próprio 
sentimento. Com a Crítica do juízo, Kant introduz uma nova categoria de análise no campo da filosofia, 
uma categoria desconhecida até então, na divisão tradicional das faculdades da alma, fundada na 
distinção clássica entre faculdade teórica e faculdade prática. Novo pioneirismo do filósofo que, com 
sua filosofia original, lança raízes de futuras disciplinas e novos campos de pesquisa.
Na Crítica do juízo, Kant (1995, p. 15) afirma: “Todos os poderes ou faculdades da alma podem 
reduzir-se a três, os quais não podem ser ulteriormente reduzidos a um princípio comum: o poder 
cognitivo, o sentimento do prazer ou da dor, e o poder de desejar”.
Sentimento, para Kant é o aspecto irredutivelmente subjetivo de toda a representação para um 
sujeito; é o aspecto de singularidade da experiência que vai resultar novos sentidos, conforme o desejo 
do sujeito esteja associado à sua liberdade.
Usando a linguagem atual, do campo da linguística, o sentimento na representação kantiana seria 
equivalente ao sentido conotativo da representação para o sujeito. Conotativo e denotativo não são 
conceitos utilizados por Kant. O sentido denotativo seria o aspecto mais objetivo da experiência do 
sujeito, enquanto o conotativo equivaleria ao subjetivo, individual. Por exemplo, no caso do sujeito que 
toma chuva, a mesma experiência corporal, de chuva, para dois sujeitos simultaneamente, pode resultar 
em sentimentos diferenciados para cada um: sensação de mais frio ou de ser desagradável, para um; 
enquanto, para outro, a sensação é de frescor e prazer.
A oposição entre a necessidade e a liberdade, que culminou na Crítica da razão pura e na Crítica da 
razão prática, trouxe consigo uma nova reflexão, para o filósofo, destinada a manter a unidade da razão. 
Essa tarefa vai ser realizada, por Kant, na Crítica do juízo.
151
KANT
Segundo Kant, o sujeito pode salvar essa unidade da razão graças à fantasia, toda vez que ela ocupa 
um lugar intermediário entre a representação e o querer. Isso porque, na fantasia, o sujeito supõe uma 
representação do objeto, retoma o juízo conceitual do entendimento, mas também pode pensar 
essa representação relacionando-a à sua liberdade, à sua capacidade de desejar. Isso implica a ideia 
de finalidade, que pode ser consciente ou inconsciente. No caso de ser consciente, os objetos (de 
desejo) são considerados adequados ou inadequados; no caso de não ser consciente, os objetos 
(desejados) podem ser considerados agradáveis ou desagradáveis.
Agradabilidade (prazer) ou desagradabilidade (desprazer) são sentimentos ou juízos reflexivos do 
sujeito, associados aos juízos do entendimento sobre as experiências com esses objetos (de desejo), mas 
são independentes, enquanto juízos reflexivos, destes últimos.
Em todo caso, Kant vai colocar-se a mesma pergunta que fez nas Críticas anteriores: há leis, no 
caso presente, formas emotivas ou sentimentais, que sejam universalmente válidas, a priori? Para 
responder a tal pergunta, Kant vai distinguir os sentimentos que acompanham a consciência moral 
e os que carecem de tal intenção livre. No que se refere aos primeiros, a Crítica da razão prática deu 
uma resposta convincente com o imperativo categórico da lei. No que se refere às ações que não 
têm esteio da lei moral da ética, é necessário estabelecer novas categorias, a saber: os sentimentos 
do belo e do sublime.
Na Crítica do juízo, ou seja, na investigação da capacidade de julgar do sujeito, Kant vai retomar 
essas questões, em duas partes:
• uma que estuda as relações de finalidade do sujeito humano com os objetos da experiência (juízo 
estético); e
• outra em que considera a natureza como se estivesse dotada em si mesma de uma finalidade geral 
(juízo teleológico).
Na doutrina do juízo estético, primeira parte da Crítica do juízo, Kant estabelece a distinção entre 
o belo, o bome o agradável. Ainda que beleza e bondade sejam modalidades a priori da consciência, a 
primeira agrada sem servir-se de conceitos, enquanto a segunda exige por dever.
A crítica do juízo teleológico, na segunda e última parte da Crítica do juízo, estuda fundamentalmente 
as relações entre a explicação científica (causal) da natureza e a sua finalística, isto é, sua conformidade 
com os fins. Ainda que a doutrina científico-natural sustente uma concepção mecânica para a natureza 
e o conhecimento científico, Kant percebe que existem certos territórios da realidade não explicáveis 
por meras relações causais. Nesse ponto é que Kant faz uma consideração finalista do mundo: 
a teleologia crítica trata somente dos conceitos limites da explicação mecânica da natureza. 
O primeiro desses conceitos é a vida, cuja essência reside nas mútuas relações do todo (o organismo) 
com as partes (os membros).
152
Unidade III
8.1 Juízo determinante e juízo reflexivo
Nas duas primeiras Críticas, Kant analisou a faculdade do juízo, isto é, a capacidade de discernir 
se algo se encontra subordinado à dada regra ou não e de resultar em aplicações teóricas e práticas. 
Na Crítica do juízo, Kant (1995, p. 23) vai analisar suas aplicações estéticas e teleológicas:
A faculdade do juízo em geral é a faculdade de pensar o particular como 
contido sob o universal. No caso de este (a regra, o princípio, a lei) ser dado, a 
faculdade do juízo, que nele subsume o particular, é determinante (o mesmo 
acontece se ela, enquanto faculdade transcendental, indica a priori as 
condições de acordo com as quais apenas naquele universal é possível 
subsumir). Porém, se só o particular for dado, para o qual ela deve encontrar 
o universal, então a faculdade do juízo é simplesmente reflexiva.
Para isso, na Crítica do juízo, Kant estabelece a distinção entre juízos determinantes e juízos 
reflexivos. O critério de distinção está na maneira segundo a qual o particular e o universal se 
relacionam entre si, lembrando que à faculdade do juízo compete capacidade de pensar o particular 
como contido no universal.
A faculdade do juízo é que realiza essa relação de duas formas possíveis:
• Juízo determinante: em que o universal é dado e o sujeito deve encontrar o particular.
• Juízo reflexivo: em que apenas o particular é dado e o sujeito tende a buscar o universal.
 Lembrete
Reflexão, para Kant, é uma ação indutiva, da razão, de procurar, disto 
que é particular (a imagem, o sentimento), sua significação universal (seu 
conceito, sua lei ou finalidade).
Kant chama reflexivo ao juízo próprio da faculdade do sentimento. O juízo do sentimento difere 
do juízo do entendimento, que é determinante. O juízo determinante é a faculdade de pensar o 
particular como contido no universal, quando o universal é dado e subsume, sob ele, o particular. 
É o tipo de juízo no qual uma faculdade comanda a outra, ao se relacionarem entre si. Por exemplo, 
o juízo de conhecimento é determinante quando há relação entre a imaginação e o entendimento. 
No caso de a razão determinar a vontade, o juízo também é considerado determinante. Por outro 
lado, o juízo reflexivo é a faculdade de pensar o particular como contido no universal, quando só 
o particular é dado e para o qual ele deve encontrar o universal. Desse modo, o juízo reflexivo é 
aquele que, a partir de fenômenos, procura um conceito por meio da reflexão. O conceito é buscado 
para que o objeto dado possa ser pensado. Nesse sentido, sua validade é subjetiva, pois o sujeito 
precisa do conceito para pensar o objeto:
153
KANT
O juízo pode ser considerado, seja como mera faculdade de refletir, segundo 
um certo princípio, sobre uma representação dada, em função de um conceito 
tornado possível através disso, ou como uma faculdade de determinar um 
conceito, que está no fundamento, por uma representação empírica dada 
(KANT, 1995, p. 47).
O juízo reflexivo não tem valor cognitivo, porque contém apenas os princípios do sentimento do 
prazer e do desprazer; portanto, o juízo reflexivo é um juízo do sentimento. Ele não determina, como o 
juízo do entendimento, a constituição do objeto derivado do fenômeno, mas reflete sobre esse objeto 
constituído para descobrir (intuir – processo indutivo) seu acordo com as exigências da vida moral.
A ideia de acordo pressupõe uma lei geral em relação à qual se deve concordar, harmonizar. No caso 
do que se deve fazer em termos de conduta, a razão prática mostrou que basta buscar o acordo com a 
lei moral por meio do imperativo categórico. No presente caso, de juízo de sentimento, isto é, do que 
se deve esperar (da questão: O que posso esperar?), trata-se de buscar um determinante universal de 
orientação que independa diretamente do sujeito.
No caso do juízo determinante, se ele é um juízo de conhecimento, as faculdades cognitivas se 
relacionam por meio do esquema da imaginação de modo que os dados sensíveis sejam determinados.
Na Crítica da razão pura, Kant demonstrou que o entendimento, por meio dos conceitos, determina 
os dados da sensibilidade em relação aos quais a imaginação exerce um papel mediador, formando um 
esquema que possibilitava um acordo (homogeneidade) entre a universalidade do conceito (o a priori) e 
a singularidade dos dados sensíveis (a posteriori).
A determinação dos dados sensíveis pelo conceito do entendimento é possível por meio de uma 
coerção entre as faculdades cognitivas do sujeito, pois o entendimento, por meio do conceito, determina 
a imaginação, que, por sua vez, determina os dados sensíveis.
Na Crítica do juízo, Kant vai demonstrar que, de outro modo, o juízo reflexivo não parte de nenhum 
conceito. Ele parte de um dado singular para o qual é preciso encontrar o conceito universal para pensar 
sobre o dado.
 Lembrete
Imaginação é, para Kant, dado um conceito universal (a priori), é a ação 
de procurar, sem a presença do objeto, sua imagem particular; equivale a 
uma operação de dedução transcendental.
Há dois tipos de juízo reflexivo, também denominado reflexionante:
• Juízo reflexivo teleológico: diz respeito à finalidade objetiva da natureza.
154
Unidade III
• Juízo reflexivo estético: diz respeito à representação com relação ao sentimento de prazer e 
desprazer no sujeito.
O juízo teleológico e o juízo estético são as duas formas, uma objetiva, outra subjetiva, de manifestação 
do juízo reflexivo. Os juízos teleológicos são os julgamentos referentes às coisas da natureza enquanto 
meios para a obtenção dos fins últimos, isto é, que terminam nos valores supremos de ser homem 
(humanidade – universalidade) ou de Deus (vontade divina).
Os juízos estéticos são os julgamentos referentes às coisas segundo a impressão de prazer ou 
desprazer que exercem sobre o sentimento – sobre o juízo reflexivo do sentimento –, e não têm 
vinculação conceitual. O juízo estético trata do julgamento estético, do gosto em geral, enquanto o 
juízo teleológico trata do ato de julgar segundo o qual se supõe atribuir fins à natureza. Daí o emprego 
do termo teleologia, ou seja, o estudo dos fins (do grego télos = fim). Por isso, se costumou dizer que a 
Crítica do juízo aborda tanto os temas clássicos da estética como também os da futura biologia, ciência 
ainda em germe na época de Kant.
8.2 Juízo teleológico
O juízo teleológico refere-se às coisas da natureza, enquanto um sujeito, sentimentalmente, as 
considera ou opera sobre elas como meios para atingir fins pessoais e espirituais.
A respeito da natureza, Kant reconhece que ela não pode ser explicada unicamente com base na 
concepção mecanicista, das ciências físicas e naturais, na qual os sujeitos e tudo o que existe de material 
resultariam em um todo orgânico, uma grande união de partes, mecanicamente estruturadas pelo 
princípio da causalidade.
Kant destaca a necessidade de uma explicação mais teleológica que leve em consideração uma 
inteligência que opera na perspectiva de uma finalidade. A explicação teleológica não anularia a 
concepção mecânica; ao contrário, fariasua integração harmônica, combinando entre si todas as partes, 
preordenadas, porém, na direção de um fim ou tendo em vista uma finalidade maior.
Tal coordenação das partes em vista do todo é especialmente evidente no mundo vivo e orgânico da 
natureza. Assim, Kant vê a natureza, na sua organicidade, como requerendo uma conformidade a fins. 
Fins que podem ser cumpridos (realizados) com o advento da espiritualidade e por meio da cultura, da 
civilização, da habilidade técnica e da educação moral, condições valorizadas pelo movimento iluminista 
no século das luzes.
Contudo, o juízo teleológico em relação à natureza não equivale ao conhecimento verdadeiro e 
mecanicista que permanece sempre único, como o conhecimento científico. Para Kant, o juízo teleológico 
aplicado à natureza parte de uma visão sentimental do sujeito.
Agora, não se trata mais da representação de um objeto fenomenal a um outro mediante as formas 
da sensibilidade e as categorias do entendimento, mas na referência das coisas naturais e dos eventos, do 
dia a dia, ao próprio sujeito, à sua espiritualidade, aos seus sentimentos íntimos que experimenta, como 
155
KANT
mortal, ao se aproximar da sublimidade da natureza e do universo. Por conseguinte, Kant considera a 
natureza, o mundo, as coisas e os eventos como ordenados por uma Mente superior em vista dos fins 
e das exigências espirituais; tudo deve estar em conformidade aos fins (princípio da teleologia) para 
manter a harmonia do conjunto orgânico.
A conformidade a fins, ou o princípio objetivo de finalidade, refere-se a uma exigência lógica da 
razão de ordenação da natureza. Enquanto a conformidade subjetiva, ou seja, do sujeito particular, é o 
poder de este julgar e discernir a possibilidade de um fim.
Os juízos reflexivos auxiliam o sujeito a estabelecer uma sintonia entre sua percepção e as coisas, 
possibilitando pensar a natureza como um fim para ele. É como se a natureza fosse feita para o homem, 
porque o princípio da conformidade a fins opera como se a natureza se deixasse compreender como um 
todo pela experiência.
Segundo Kant, esse princípio possibilita pensar a natureza como se ela fosse final para todos os 
sujeitos. Isto é, admitir essa homogeneidade na natureza possibilita formar conceitos particulares sobre 
ela. Nesse sentido, o sujeito deve realizar sua liberdade na natureza e sem se opor ao mecanismo dela. 
O sujeito tem necessidade de que a própria natureza esteja de acordo com sua liberdade e que, de algum 
modo possível, sua liberdade de escolha esteja em harmonia com as leis naturais (teleologia).
Por meio do princípio de finalidade, o sujeito encara a natureza não só com a pretensão de conceituar, 
regular, colocar em ordem, mas como um objeto com o qual tem o intuito preferencial de interação.
A partir do princípio da finalidade, aplicado à natureza, o sujeito pode admitir uma organicidade 
natural, por meio da qual é capaz não só de interagir com o meio em que ele vive, mas também de 
pensar o todo de maneira finalista.
Trata-se, assim, de uma teleologia consoante a exigência metafísica do incondicionado, do absoluto, 
do infinito, do inteligível, diferentemente da exigência da metafísica, examinada na primeira Crítica, 
que tinha um valor cognoscitivo, teorético e científico. Desse modo, Kant desloca-se do campo 
epistemológico, da fundamentação do conhecimento, para a esfera dos valores (e juízos) relacionados à 
vontade, à liberdade e à espiritualidade do sujeito.
Na explicação teleológica da natureza, Kant encontra um lugar para fundamentar a existência divina 
por meio da Mente que concebe os fins últimos da natureza, do universo e dos seres humanos.
Exemplo de aplicação
Vamos aplicar o princípio teleológico a uma situação concreta de arranjo de elementos, por analogia, 
no jogo Sudoku.
O princípio da teleologia pressupõe uma grande Razão que pensa os fins do todo orgânico, uma 
espécie de design inteligente que orienta a evolução do universo. Não se trata de determinismo ou do 
popular destino, mas de teleoformidade, a forma do todo se adequando a um fim.
156
Unidade III
O ser humano, sabemos, é livre para, com sua vontade, dispor uma organização diferente 
em relação ao todo. Mas o todo manterá sua organicidade, apesar das constantes e diversas 
modificações na sua estrutura sistêmica. É por isso que Kant escreve que parece que a natureza 
foi feita para o homem, porque o princípio da conformidade aos fins opera como se o mundo 
natural atendesse às escolhas dos indivíduos, adequando-se, a todo instante, a uma forma final, 
a um novo arranjo, ad infinitum. Cada vez que há uma escolha de alteração do indivíduo em sua 
circunstância (e há muitas escolhas desse indivíduo e dos demais com quem convive), o arranjo do 
sistema passa por modificações que se ajustam, mantendo as possibilidades da harmonia formal 
do todo. Daí a analogia com o Sudoku.
No caso do jogo Sudoku, as possibilidades são inúmeras, mas finitas, pois há somente nove elementos 
participantes e há regras (leis preestabelecidas) de participação. Há um predeterminismo – por exemplo, 
não estar na mesma linha com outro elemento similar. No caso do organismo natural (o planeta Terra) 
ou social (a humanidade), neste último ainda, com a agravante da liberdade humana volúvel, que não 
permite definir leis antecipadas, como os seres vivos participantes são incontáveis, as possibilidades de 
arranjo orgânico são infinitas, mas sempre direcionadas para fins de organização em busca da harmonia, 
de um estado de adequação que reverta na felicidade comum, em um sumo bem.
Do mesmo modo que cada elemento tem seu lugar único no organismo do mundo, cada letra 
tem uma função específica no lugar que ocupa na célula do Sudoku. Se uma letra é trocada de lugar, 
isto implica uma alteração no arranjo de todo o sistema. O que demonstra que, tanto no tecido social 
quanto no organismo natural, os seres têm um télos, um fim que define sua participação na harmonia 
do conjunto.
Reflita acerca da relação do sujeito-indivíduo com o organismo natural (planeta) na perspectiva da 
ecologia e do desenvolvimento sustentável hoje. Como você entende a consciência de fim (finalidade) 
em cada decisão de ação que um sujeito toma em relação ao planeta?
Amplie a reflexão, enquanto cidadão(ã), pensando sobre seu relacionamento com o organismo social 
e circunstancial em que vive. Você concorda com a ideia de consciência de fim na tomada de decisão 
individual de um sujeito na perspectiva da justiça social?
Por fim, aproveite para testar suas habilidades cognitivas na resolução do Sudoku a seguir, que 
serviu de analogia para esta discussão.
O jogo é uma versão do passatempo que normalmente é preenchido com números. Nesta proposta, 
o desafio é preencher as 81 células com as noves letras, constantes na grade, sem repetir as letras numa 
mesma linha, coluna ou grade menor (3 × 3). O jogo requer atenção e análise para obter a única solução 
formal possível. Além de desenvolver seu raciocínio lógico, você encontrará, no campo sombreado, 
o nome de um conceito da teoria do conhecimento do filósofo cujo nome é destaque na disciplina. 
A resolução está no Apêndice.
157
KANT
O U T A I
Z T U N K
O Z
J K A N T O
T A
N Z U K J I
Z N K J
K A
I J A U N
8.3 Juízo estético
Segundo Kant, o juízo estético é definido a partir de um juízo reflexionante, isto é, de um juízo que 
parte em busca de uma representação universal para uma obra dada (no caso da arte, de um quadro, de 
uma escultura, de uma música etc.).
No caso de uma obra de arte, em particular, a faculdade de julgar almeja atingir um universal a partir 
dela. Para Kant, é esse universal encontrado no particular que se entende por gosto. Para o gosto, no 
entanto, que, segundo Kant, é apenas subjetivo, é preciso formação e cultura.
O juízo de gosto, então, é aquele segundo o qual é possível julgar, de modo meramente subjetivo, isto 
é, referente apenas ao sujeito que julga, se uma obra é bela ou não, ao relacionar a representaçãoda obra 
de arte à sua faculdade de prazer ou desprazer. Desse modo, a Crítica do juízo não é um tratado de estética, 
conquanto se costuma denominar um tipo de filosofia que trata de obras de arte propriamente ditas, mas, 
antes, é uma investigação sobre a capacidade de julgar qualquer obra de arte. Assim, a questão de saber se 
uma obra é arte ou não depende desse sentimento de prazer ou desprazer do sujeito, diante da obra, por 
meio do qual somente ele poderá ajuizar sobre sua beleza.
Para isso, Kant fundamenta o juízo estético no juízo de gosto, que vai ser analisado do ponto de vista 
das quatro categorias básicas do entendimento, mas, de modo paradoxal, sem ser determinado por elas. 
As categorias vão ser somente referências para aplicar o juízo do gosto.
Do ponto de vista da qualidade, o juízo estético ou juízo de gosto é desinteressado, não existindo a 
ideia de possuir o objeto de atenção, devendo ser apenas motivo de deleite estético.
Do ponto de vista da quantidade, o juízo estético ou de gosto deve ser universal e não conceitual, 
ou seja, o belo deve agradar a todos, universalmente e sem conceito. Nesse caso, se distingue do prazer 
comum, que agrada a um indivíduo em particular.
158
Unidade III
Do ponto de vista da relação ou finalidade, o juízo de gosto vai contemplar um objeto belo que é a 
forma final de um objeto sem representação de fim. Eis aí o paradoxo. O belo kantiano é autotélico, isto 
é, possui finalidade própria, ou, afirmando com outras palavras, é uma finalidade sem fim.
Do ponto de vista da modalidade, o juízo estético ou de gosto é aquele que ocorre ao modo de 
uma fruição livre, a partir de um prazer necessário, sem a intervenção da reflexão, ou seja, fundado 
no consenso de que aquilo que o sujeito experimenta na fruição será vivenciado por todos os homens, 
independentemente de gênero, raça ou cultura (universalmente).
Portanto, segundo Kant, o juízo estético é aquele pelo qual o sujeito qualifica de belo um objeto, 
após julgá-lo imediatamente agradável em relação ao seu sentimento. O juízo é estético, também, 
quando considera que algo do objeto, que não é conceituado, entra no jogo livre das suas atividades 
(preferências) espirituais, preferências que seriam as mesmas de todos os homens em condições sadias 
de fruição do objeto.
Em suma, o juízo estético distingue-se do juízo do entendimento, por este ter um caráter prático 
e utilitário, enquanto aquele é totalmente desinteressado; distingue-se da mera sensibilidade, por 
ser determinado não pelas sensações isoladas, mas pela unidade concreta e orgânica de todas as 
sensações; e, por fim, distingue-se do prazer sensível, enquanto requer uma exigência de necessidade e 
universalidade, que o prazer particular, na esfera do sujeito individual, não tem.
Embora o belo e o agradável não estejam vinculados a conceitos, o valor estético é universal e 
necessário, enquanto o agradável é subjetivo e casual.
Se se trata de uma harmonia com as faculdades sensíveis, diz-se que o sentimento é agradável, 
e é um sentimento interessado e inteiramente subjetivo. Mas se se trata de uma harmonia com o ser 
intelectual, com a finalidade absoluta ordenada pelo imperativo categórico, diz-se que o sentimento é 
belo, desinteressado, universal e absoluto (sentimento estético) cujo objeto é o belo.
O belo define-se como aquilo que agrada universalmente, sem conceito. Isto é, sendo conhecido, 
não veio pelo entendimento (Verstand), mas por uma espécie de intuição da razão prática (Vernunft), a 
razão raciocinante.
Assim, a beleza se distingue do bom e do agradável, por agradar desinteressada e universalmente. 
O valor da beleza não deriva do objeto, mas é posto pelo sujeito, cuja atividade estética consiste no livre 
jogo da sua fantasia criadora da razão raciocinante.
Por seu lado, a finalidade que preside o juízo estético refere-se à harmonia dos objetos representados 
pela fantasia com as leis formais da sensibilidade e do entendimento.
Ao passo que o belo se associa, mas não depende, das funções cognitivas do entendimento, a 
essência do sublime trava contato com a relação que guarda a parte sensível e a suprassensível da 
natureza humana. Há duas espécies de sublime: o matemático e o dinâmico.
159
KANT
O matemático é a imagem da ideia teorética do infinito e, portanto, funciona como um postulado, 
a exemplo dos conceitos metafísicos da geometria. Por isso, Kant denomina matemáticos as espécies de 
sublime que têm correlação com o universo e a natureza. Já o sublime dinâmico está relacionado à ideia 
moral do absoluto, de uma finalidade que progride crescentemente para uma perfeição.
A estética de Kant dirige-se, então, para uma explicação do belo e do sublime em função da natureza, 
isto é, das leis diretoras da razão que definem uma finalidade, a teleologia, que, por si, é imanente.
Kant trata, ainda, na Crítica do juízo, da questão do belo relacionada à fruição de obras de arte. Para 
ele a representação dos supremos ideais (os que indicam fins absolutos) constituem a suprema tarefa da 
arte (do artista) que deve espelhar a teleologia natural.
A produção estética deve ser como uma produção espontânea da natureza. É necessário que essa 
produção represente a unidade buscada entre liberdade e necessidade, entre finalidade e causalidade. 
Quando a representação não se mantém no simples jogo da fantasia, isto é, quando obedece a interesses 
externos, então a arte é tendenciosa (não é bela).
 Saiba mais
Aprofunde seu conhecimento por meio da seguinte leitura:
SANTOS, L. R. A concepção kantiana da experiência estética: 
novidades, tensões e equilíbrios. Trans/Form/Ação, Marília, v. 33, n. 2, 2010. 
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid
=S0101-31732010000200004. Acesso em: 21 jan. 2020.
8.4 Conexão do juízo estético
Kant utiliza a Crítica do juízo para aprofundar um problema que ficou sem solução na Crítica da 
razão pura: a questão do esquema que relaciona a esfera da sensibilidade à esfera do entendimento.
O fenômeno sensível e o juízo estético são opostos em demasia para se unirem sem uma conexão; 
faltando um intermediário, o juízo deveria concretizar-se somente com as formas a priori, de espaço 
e tempo, e perderia seu status racional de existência no entendimento. Kant vai pesquisar esse 
intermediário na interface, ao mesmo tempo, da esfera sensível, com seus elementos concretos, com 
a esfera do inteligível, a inteligência, com sua espontaneidade e indeterminação, própria de uma ação 
transcendental. A solução apresentada são os esquemas da imaginação que se comportam como imagens.
Na Crítica do juízo, Kant confere maior amplitude à sua perspectiva sintética. Afinal, o homem não 
é apenas um ser cognoscente e um ser moral, é também senciente. Ao tratar a faculdade de sentir, Kant 
vai promover uma síntese entre sensível e não sensível. Mas parece haver uma lacuna entre essas esferas.
160
Unidade III
Para resolver esse hiato entre o sensível e o não sensível, Kant (1995, p. 127) vai admitir um princípio 
subjetivo – o sentimento, mas não vai concebê-lo como pura passividade, como era o visto pelos 
empiristas, que não conseguiram elevá-lo de seu baixo nível de gnosiologia inferior, de uma forma 
espiritual obscura, e não plenamente determinada.
Nessa direção, Kant questiona se não existiria um terceiro termo para compor o juízo estético, um 
termo mediador entre a impressão do fenômeno, isto é, entre o sensível, dado na intuição empírica, e 
as categorias intelectuais na faculdade não sensível do entendimento, fornecida na intuição inteligível.
Kant aprendeu com Baumgarten que o conhecimento sensível não é inferior ao conhecimento 
distinto e racional; ambos têm o mesmo grau de importância e compõem o conhecimento lógico 
como um todo com funções e atribuições diferentes, mas pertinentes. Por isso, volta a analisar a 
teoria da sensibilidade para verificar se encontra alguma solução para a conexão do mundo sensível 
com o mundo inteligível.
Na Críticada razão pura, Kant demonstrou que os juízos ou conceitos são formulados por meio de 
sínteses entre as representações que o sujeito recebe no ato da intuição. Mas percebeu que ficou um 
hiato entre essas representações que, em um primeiro momento, parecem ser equivalentes a imagens. 
Então, Kant sai a investigar, na Crítica do juízo, qual a natureza dessas representações que ocorrem entre 
as instâncias da sensibilidade e do entendimento.
Kant institui dois tipos de representação: a imediata e a mais elevada. Esta última compreende, em 
si mesma, aquela e várias outras representações que permitem a composição de uma síntese, de uma 
reunião, a fim de obter um conhecimento unitário que forme o juízo.
Em nenhum ponto Kant admite literalmente que qualquer dessas representações seja uma imagem, 
no sentido de signo icônico de natureza mimética como os empiristas imaginavam. Sendo cauteloso, 
refuta a teoria da imagem dos empiristas que admitiam a representação de ideia enfraquecida, como 
uma impressão física na mente, tipo estampagem. Não aceita o modelo empirista, pois seu pressuposto 
é de que o mundo numênico jamais é conhecido.
No entanto, Kant admite a existência de uma faculdade mediadora da imaginação entre o 
conhecimento sensível ou perceptível e o conhecimento científico, além das faculdades originais da 
sensibilidade e do entendimento. Desse modo, as formas da sensibilidade – o espaço e o tempo – e as 
formas do entendimento – as categorias – entrelaçam-se por meio da intermediação da imaginação, a 
fim de homogeneizar o sensível ao não sensível, transportando o conteúdo da intuição empírica para o 
entendimento, como uma interface.
Ao retomar a questão da gnosiologia inferior para fundamentar o juízo estético, Kant refere-se à 
síntese ocorrida ao nível da sensibilidade, como síntese especiosa ou figurada (synthesis speciosa), para 
a distinguir da que, em relação ao diverso de uma intuição em geral, seria pensada na simples categoria 
e se denomina síntese do entendimento (synthesis intellectualis). “Ambas são transcendentais, não 
só porque se processam a priori, mas também porque fundamentam a priori a possibilidade de outros 
conhecimentos a priori” (KANT, 1989, p. 150).
161
KANT
Trata-se, portanto, de duas representações, a imediata e a mais elevada ou, na forma kantiana, de duas 
sínteses. A primeira elaborada na intuição através das formas a priori da sensibilidade que emolduram a 
multiplicidade de dados sensíveis, ou seja, relativiza-os no espaço-tempo. A segunda síntese é elaborada 
pelo entendimento, que opera sobre a representação (síntese primeira) vinda da intuição, e busca uma 
unidade com o cogito no processo de apercepção. A primeira síntese corresponderia à ideia de imagem 
(figurada), de síntese especiosa, significando, numa tradução aproximada, figura vistosa, mas ilusória 
ou forma de aparência enganosa.
Em algum tópico dessa passagem, em algum momento entre as duas sínteses, como um flash 
instantâneo, surge a imagem equivalente à representação sensível, empírica, sem portar ainda 
os ingredientes lógicos do entendimento. Essa imagem equivale à primeira síntese sobre a qual o 
entendimento se debruça para gerar os juízos estéticos.
8.5 Papel da imaginação
Kant parece ter encontrado uma solução. A imagem corresponderia às representações da imaginação 
enquanto esta é um lampejo da intuição do sujeito ainda inconsciente, isto é, enquanto representação 
totalmente sensível, correspondendo ao momento da sensação, da impressão caótica do fenômeno na 
sensibilidade, sem o recurso ainda das categorias do entendimento, mas já parcialmente auxiliada pelas 
formas a priori tempo e espaço que configurariam uma imagem similar à da manifestação (fenômeno) 
do objeto intuído.
Kant sente a necessidade de descrever essa conexidade entre as duas esferas – do sensível e do 
inteligível – que, segundo ele, indicaria a região da experiência estética. Ou seja, deve ser pensada uma 
passagem, uma conexão entre as duas ordens; devem ser indicados e delimitados esse novo campo de 
experiência, bem como a atividade universal sintética que lhe serve de alicerce.
Essa faculdade Kant denomina imaginação, isto é, a “faculdade de representar um objeto, mesmo sem 
a presença deste na intuição”. Como é uma tarefa sensível, por estar situada na intuição, a imaginação 
pertence ao âmbito da sensibilidade, mas por relacionar-se à ação do entendimento, também tem uma 
face semi-inteligível, isto é, pré-lógica.
Reforça ainda essa interpretação – de imagem como representação sintética mais sensível que 
inteligível – a distinção de Kant acerca dos dois tipos de imaginação. Kant distingue a imaginação 
reprodutiva (ou reprodutora), cuja síntese está submetida a leis meramente empíricas, isto é, aos modelos 
(espécie de códigos) naturais de similitude, por isso mesmo ligados à receptividade; e a imaginação 
considerada como espontaneidade, ou imaginação produtora, distinta da imaginação reprodutora, será 
a faculdade, intermediária entre a sensibilidade e o entendimento, capaz de produzir determinações 
(esquemas mediadores) de subsunção do fenômeno sob as categorias.
Na Crítica do juízo, Kant refere-se à imaginação, de maneira geral, como a faculdade que “sabe 
evocar a imagem” (1995, p. 79), face sensível – imaginação reprodutora. Mais à frente, refere-se de novo 
como a faculdade que “põe a pensar” (1995, p. 160), face inteligível – imaginação produtora.
162
Unidade III
Assim, entre a sensibilidade e o entendimento, entre as duas faculdades existe a operação 
mediadora da imaginação que, para Kant, significa a ação de procurar, dado um conceito universal, 
sua imagem particular.
A imaginação, para Kant, tem uma função reprodutora, pois “exerce-se sobre as percepções e destas 
faz um quadro ou imagem”. Trata-se da vertente sensível da imaginação. Mas ela é, também, produtora, 
ou seja, espontaneidade, e assim se aproxima do entendimento.
Em sua análise, Kant (1995, p. 33) mostra que:
A imaginação, como intermediária sintética, introduz na diversidade sensível 
a unidade intelectual, tendo, para alguns autores, um papel fundamental na 
construção do conhecimento [...] Sem ela a apercepção transcendental e as 
categorias não poderiam aplicar-se aos objetos da experiência. Assim, o eu 
realiza-se entrando em contato com uma multiplicidade que unifica.
8.6 Terceiro termo – esquema
Kant já se interrogava, na Crítica da razão pura, sobre a possibilidade de um terceiro termo que 
pudesse homogeneizar as duas esferas:
É claro que tem de haver um terceiro termo, que deva ser por um lado, homogêneo 
à categoria e, por outro, ao fenômeno e que permita a aplicação da primeira ao 
segundo. Esta representação mediadora deve ser pura (sem nada de empírico) 
e, todavia, por um lado, intelectual e, por outro, sensível (KANT, 1989, p. 181, 
grifos nossos).
Na Crítica do juízo, Kant aprofunda essa ideia de passagem de um estado empírico, experienciado pela 
sensibilidade, a outro intelectivo, conceituado pelo entendimento, na consolidação do conhecimento; 
passagem que não significa simples transitoriedade, mas conexão de representações de naturezas 
diferentes, em processo de homogeneização.
Trata-se, assim, de uma conexão por subsunção dos dados empíricos às categorias preexistentes, que 
representam potencialidades, ou seja, aberturas da mente para operar as faculdades já prescritas por 
Aristóteles: qualidade, quantidade, relação e modalidade.
Para Kant, a subsunção realiza-se através de um mediador, o esquema transcendental. Esse mediador 
é análogo, por um lado, à categoria e, por outro, ao fenômeno; é, simultaneamente, puro e sensível.
Entende-se aqui sensível como sinônimo de empírico (a posteriori), porque se refere ao dado que traz 
as marcas do fenômeno, isto é, da exterioridade. À medida que o dado vai subindo os degraus do edifício 
gnosiológico, e vai se interiorizando nos departamentos lógicos do entendimento, perde a moldura empírica 
de imagem e reveste-se das nuances conceituais

Continue navegando

Outros materiais