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DIREITO APLICADO À GESTÃO 1 DIREITO APLICADO À GESTÃO AVA2 AV1 PERIODO 2 STATUS CONCLUÍDA Unid1 Unid2 Unid3 Unid4 ÁVA1 INTRODUÇÃO Livro da disciplina Os conteúdos apresentados nesta disciplina devem ser complementados e aprofundados por meio do estudo do livro: NIARADI, George. Direito Empresarial. INTRODUÇÃO PLANO DE ENSINO Unidade 1: Principais ramos do Direito e Gestão Unidade 2: Direito Civil e Responsabilidade Civil Unidade 3: Direito empresarial Unidade 4: Direito Tributário e Direito Penal Econômico AVA1 DIREITO APLICADO À GESTÃO 2 São Paulo. Pearson, 2012. Você poderá encontrá-lo na Biblioteca Virtual. Para saber como acessar a Biblioteca Virtual, leia este Guia. Objetivos Ao final desta disciplina, você deverá ser capaz de: Compreender o estudo do Direito aplicado à Gestão com uma visão geral dos diversos ramos de Direito. Compreender os conceitos e elementos essenciais da personalidade, da capacidade, as modalidades de bens, os mecanismos de formação da relação obrigacional, da relação contratual e, ainda, da responsabilidade civil. Analisar os princípios que regem a atividade empresarial em termos jurídicos. Analisar a natureza e a classificação do Direito Tributário e dos tributos. Ementa Introdução ao Direito aplicado à Gestão. Principais ramos do Direito e suas interseções com a gestão pública e privada. Ramos de Direito Público e Privado e suas esferas de competência. Ordenamento Jurídico brasileiro. Direito Civil e Responsabilidade Civil. Personalidade; início e fim da personalidade. Pessoa Natural e Pessoa Jurídica; constituição, modalidades, tipologia e elementos essenciais das pessoas jurídicas. Capacidade. Representação. Domicílio, constituição e natureza; efeitos. Coisas e bens, natureza jurídica, classificações. Obrigações e contratos. Direitos Reais. Responsabilidade Civil. Direito Empresarial. Empresário, configuração. Atividade empresarial, definição e delimitação das atribuições. Empresa, conceito, modalidades e características da atividade empresarial. Representação, composição e constituição da sociedade empresária. Registro. Elementos e requisitos essenciais e materiais. Início e fim da sociedade empresária. Direito Tributário e Direito Penal Econômico. Organização tributária e organização econômica em planos legais. Tributos, natureza, classificação e princípios tributários. Créditos tributários, modalidades, hipóteses de incidência e lançamento. Contribuinte, definição. Responsável tributário. https://ead.uva.br/filemanager/file/3/BIBLIOTECA_VIRTUAL_GUIA.pdf DIREITO APLICADO À GESTÃO 3 Referências Básica BRANCHIER, Alex Sander Hostyn & MOTTA, Fernando Previdi. Direito empresarial. Curitiba: Intersaberes, 2012. NIARADI, George. Direito Empresarial. São Paulo: Pearson, 2012. NIARADI, George. Direito Empresarial para administradores. São Paulo: Pearson, 2008. Complementar ACQUAVIVA, Marcus Claudio. Teoria geral do Estado. São Paulo: Manole, 2010. FRIEDMAN, Howard, S & SCHUSTACK, Mirian W. Teorias da Personalidade: da teoria Clássica à pesquisa moderna. São Paulo. Pearson Premiere Hall, 2014. GONZÁLEZ, Eusébio & MARTINEZ, Teresa González. Direito Tributário: elementos de teoria geral. São Paulo. Editora Rideel, 2010. POSTIGLIONE, Marino Luiz. Direito Empresarial: o estabelecimento e seus aspectos contratuais. São Paulo. Manole, 2006. MOTTA, Andrea Limani Boisson. Curso Introdutório de Direito Internacional do Comércio. São Paulo. Manole, 2010. MEZZOMO, Clareci. Introdução ao direito. Caxias do Sul, RS: Educs, 2011. FERNANDES, Alexandre Cortez. Direito Civil: introdução, pessoas e bens. Caxias do Sul. EDUCS, 2012. Artigos LYRA, Renata Maldonado da Silva. Consumo, comunicação e cidadania. Ciberlegenda, 2011, Vol.0(06). Acesso em: 15 de dezembro de 2014. http://www.uff.br/ciberlegenda/ohttps://ilumno-js-zone-antareseducacion.netdna-ssl.com/index.php/revista/article/view/321/202 DIREITO APLICADO À GESTÃO 4 PADILHA, Sandra. Direito à intimidade e à vida privada nas liberdades públicas: alcance na relação de emprego. Revista da Pós-Graduaçao em Ciências Jurídicas [1678-2593] Padilha, Sandra yr:2004 iss:5 pg:53 -72. Acesso em: 15 de dezembro de 2014. ULHÔA, Joel Pimentel de. Cidadania. Philósophos: Revista de Filosofia, 2007, Vol.5(2), p.49. Acesso em: 15 de dezembro de 2014. PLANO DE ENSINO https://s3-us-west-2.amazonaws.com/secure.notion-static.com/e11d7a53-203 6-44b2-bc0b-2f07511441b2/G_DAG_PE.pdf Unidade 1: Principais ramos do Direito e Gestão Introdução O que é Direito, como ele se divide e como é formado? O conhecimento das definições, da composição e da estrutura do Direito e sistema jurídico forma a base sobre a qual o conteúdo da nossa matéria será construído, não sendo possível conhecer as interseções entre Direito e Gestão sem antes dominar os conceitos essenciais da introdução ao estudo do Direito que serão tratados na presente unidade. Objetivo Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de: Compreender o estudo do Direito aplicado à Gestão com uma visão geral dos diversos ramos de Direito. Conteúdo Programático http://goo.gl/dtjs6r http://www.revistas.ufg.br/index.php/philosophos/article/download/11338/7456 https://www.notion.so/signed/https%3A%2F%2Fs3-us-west-2.amazonaws.com%2Fsecure.notion-static.com%2Fe11d7a53-2036-44b2-bc0b-2f07511441b2%2FG_DAG_PE.pdf?table=block&id=c766bcae-7794-4bdb-9749-0e91c3e42e1d&spaceId=57a0fe49-9819-44c6-8116-da7dd110e353&userId=f3639715-802d-4348-a8bd-66d0113811b8&cache=v2 DIREITO APLICADO À GESTÃO 5 Esta unidade está dividida em: Aula 1 - Introdução e fontes do Direito Aula 2 - Os ramos do Direito e a Gestão Aula 3 - O Estado Democrático de Direito no Brasil Rota de Aprendizagem A Rota de Aprendizagem apresenta as ações que devem ser realizadas nesta unidade. Utilize a Rota de Aprendizagem para planejar e gerir, com eficiência, as suas ações e o seu tempo de estudo. Isso facilitará a construção do seu conhecimento e aumentará a possibilidade de que você tenha um bom desempenho nas avaliações. Clique aqui para acessar a Rota de Aprendizagem. Antes de começarmos nossos estudos, observe o organograma das fontes do Direito para uma visão objetiva desta Unidade. https://ead.uva.br/graduacao/DISCIPLINAS/DEF/DAG/RA/G_DAG_RA_U1.htm DIREITO APLICADO À GESTÃO 6 Aula 1: Introdução e fontes do Direito Rota de aprendizagem Introdução e fontes do Direito Estude o conteúdo com o apoio de exemplos, problematizações e embasamento teórico. Para saber mais sobre os ramos do Direito e suas interseções na atividade empresarial assista ao vídeo: Fonte do Direito. Aprofunde seu conhecimento sobre história do direito lendo os capítulos 11 – 15 no livro Introdução ao direito / Caxias do Sul, RS: Educs, 2011. Este livro encontra-se disponível na Biblioteca Virtual. Confira a sua aprendizagem realizando a atividade da aula. Nesta aula, iremos apresentar a classificação das fontes do Direito e seus mecanismos de composição. Uma visão introdutória do Direito O Direito é uma constante na vida humana. Desde que o homem vive em sociedade (o que é a sua condição natural), revela-se imprescindível a organização da vida social, já que os indivíduos, convivendo coletivamente, deixavam de poder exercer todos os atos inerentes à tutela de seus interesses, limitados que eram pelos interesses dos demais. Essa organização da vida social serviu originariamente para garantir a própria sobrevivência do grupo, com a defesa de seus integrantes de ameaças exteriores, evoluindo para o próprio regramento da extensão das prerrogativas e das obrigações de cada um deles, enquanto integrante de um núcleo, de uma coletividade definida. Assim, vemos em todas as sociedades a presença do Direito – talvez não como o concebemos em nosso tempo e em nossa sociedade, mas certamente jamais uma coletividade humana prescindiu de um conjunto de normas e de valores DIREITO APLICADO À GESTÃO 7 que determinassem o que era considerado aceitável e o que, pelo contrário,era considerado desviante – e aí temos o embrião do Direito. O Código de Hamurabi é a compilação de um código de leis escrito quando ainda prevalecia a tradição oral, ou seja, em época em que as leis eram transmitidas oralmente de geração em geração. Isso demonstra que o interesse pelo estudo do Direito não se limita – ou não deveria limitar-se – àqueles profissionais cuja formação demanda a vida forense, como os advogados, os magistrados, os membros do Ministério Público e demais operadores do Direito cujo trabalho podemos diariamente acompanhar até mesmo pela mídia; pelo contrário, o conhecimento do Direito se revela fundamental inclusive para o exercício da cidadania, já que todo cidadão precisa conhecer seus direitos e suas obrigações – e, para isso, precisa conhecer as fontes e a estrutura de nosso sistema jurídico. Tal conhecimento – e a habilidade para analisar o seu conteúdo – se revela ainda mais essencial ao gestor, porque ele será responsável pela condução não apenas de sua própria existência e de seu próprio patrimônio, mas também pela condução das economias, dos patrimônios, das carreiras de outras pessoas que confiam em sua capacidade e experiência – seja ele atuante em algum Governo ou em uma empresa pública, seja na esfera privada de uma empresa comercial ou empresarial, por exemplo. Não se pode admitir um empresário que desconheça a existência do Direito do Consumidor e a extensão de suas responsabilidades em face desse conjunto de normas; ...... ou um administrador público que desconheça o que seja o Estado e DIREITO APLICADO À GESTÃO 8 quais as suas finalidades – constantes de um texto legal, a Constituição Federal de 1988;Não se pode admitir um cidadão que desconheça ser titular do direito à vida, à liberdade, à saúde, entre outros que, não sem razão, são considerados fundamentais ao estado de nossa civilização. Finalmente, não se pode admitir um gestor que desconheça as implicações do sistema tributário, ou um eleitor a quem seja estranho o direito ao voto universal e secreto – e isso para ficarmos apenas com alguns exemplos. Agora que já apresentamos uma pequena introdução ao Direito e à necessidade de seu conhecimento pelo cidadão e pelo gestor, passemos à análise de suas fontes, seus ramos e sua estrutura. Fontes do Direito O Direito não nasce aleatoriamente em uma sociedade, tampouco surge de um fato isolado, que importe apenas a certo e restrito grupo de pessoas durante um tempo determinado. Ele é o resultado de séculos, às vezes milênios, de convivência social, e representa os anseios, os ideais, os valores de um determinado povo em seu atual estágio civilizatório; mas, para além disso, ele pode representar o substrato mínimo de valores comuns a todos os componentes do gênero humano, indicando o grau civilizatório a que chegamos enquanto Humanidade (quando terá natureza própria e supranacional). DIREITO APLICADO À GESTÃO 9 Mapa do império Romano por volta de 117. A lei romana, junto com a língua latina, foram os dois principais elementos de coesão cultural do império. Vê-se, portanto, que o Direito não se limita – ou não poderia limitar-se – à criação de uma lei ou à assinatura de um contrato. Da mesma forma, não é produto exclusivo da vontade de um legislador ou mesmo de uma coletividade em especial, nem mesmo do ato de uma autoridade de qualquer um dos Poderes constituídos. Ele é mais, muito mais do que isso. Representa as nossas aspirações e anseios, nosso senso moral e ético, nossos sentimentos e nossas expectativas enquanto sociedade e demonstra não apenas o amadurecimento de nossa democracia como o próprio grau civilizatório a que chegamos. Nasce, portanto, de fontes comuns a todos os povos, em qualquer de seus momentos históricos. São fontes do Direito: a lei, a jurisprudência e a doutrina (de caráter mais específico), mas também a analogia e a equidade, os usos e costumes do povo. Vamos, agora, analisar cada um deles. A Lei DIREITO APLICADO À GESTÃO 10 É talvez, atualmente, a fonte do Direito por definição e excelência (ao menos certamente será aquela mais visível, pela própria publicidade que lhe é inerente) em nossa sociedade e representa o resultado final do processo de elaboração legislativa. No sistema de tripartição dos Poderes em que vivemos – com os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário dotados de atribuições e competências diversas, todas elas definidas no texto constitucional – a tarefa da elaboração das leis toca exclusivamente ao Poder Legislativo e, portanto, apenas a ele cabe legislar, vale dizer, votar e promulgar as leis. É certo que os projetos de lei podem partir dos demais Poderes ou mesmo da própria iniciativa popular, mas o seu trânsito pelo Poder Legislativo não pode ser suprimido, sob pena da violação de um dos fundamentos de nosso Estado e, assim, da nulidade ou inexistência do ato praticado. As leis obedecem a uma hierarquia, sendo a mais importante delas e a mais fundamental a Constituição Federal, na qual estão dispostos os fundamentos da Nação e seus elementos mais essenciais. A Constituição é fruto de um Poder específico, a que se denomina Poder Constituinte, e tem por finalidade apenas a sua elaboração, dissolvendo-se tão logo termine. Este Poder não tem qualquer restrição, em virtude da natureza do texto que lhe compete elaborar, no que se distingue dos demais Poderes, ditos Constituídos – justamente pela sua previsão no texto constitucional. DIREITO APLICADO À GESTÃO 11 Exemplificando, no Brasil temos três Poderes Constituídos, já anteriormente mencionados: Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário – criados pela Constituição Federal de 1988, obra dos trabalhos do Poder Constituinte, eleito para tanto e inconfundível com aqueles Poderes que concebeu na Carta Constitucional. Além da Constituição Federal temos, resumidamente, leis federais, estaduais e municipais, conforme sejam promulgadas pelos respectivos Poderes Legislativos. A abrangência e o alcance destas leis correspondem à competência territorial de cada uma dessas partições da Federação, assim, por exemplo, uma lei federal terá vigência em todo o território nacional, uma lei estadual do Rio de Janeiro terá vigência em todo o território do estado, enquanto uma lei municipal de Niterói terá vigência nos limites territoriais deste município. DIREITO APLICADO À GESTÃO 12 Sessão final de trabalho da Assembleia Constituinte, em 2 de setembro de 1988, após o encerramento da votação, com aprovação do texto final da nova Constituição do país. Fonte: Agência Brasil Eficácia da lei no tempo A lei – assim considerada a fonte do direito positivo e o resultado do processo de elaboração legislativa – não é uma constante imutável, eterna e perene, dissociada da realidade social e humana e presente em qualquer momento histórico ou político. DIREITO APLICADO À GESTÃO 13 Nisso reside uma das características mais essenciais e igualmente mais desconsideradas das leis como ora as concebemos: a sua limitação no tempo e no espaço, ou seja, a determinação temporal e espacial de sua aplicação e obrigatoriedade. Diferem, assim, fundamentalmente, das leis naturais – que não possuem a sua mesma natureza – porque estas são evidentemente imutáveis, não se submetendo a lei da gravidade a qualquer contexto social ou político da humanidade, por exemplo (contextualizando: independentemente do sistema ou regime de governo de um País, independentemente de sua maior ou menor atividade econômica, jamais um objeto atirado para cima deixará de cair: a lei natural, a lei da física, é imutável e embora se diga que o próprio tempo é relativo tal consideração não altera a composição das leis naturais, tampouco aproxima a sua natureza das leis do direito positivo). Temos que o momento inicial de validade e obrigatoriedade de uma lei, como anteriormente pudemos comentar, é o momento de sua promulgação, que se dá via de regra com a publicidade de sua divulgação pela imprensa oficial;vimos, ainda, que a lei pode passar a surtir seus efeitos após um prazo por ela própria estabelecido, denominado vacância da lei. Importa agora sabermos quando a lei deixa de surtir os seus efeitos. Ou seja, quando a lei deixa de ser oponível, quando deixa de integrar o sistema de Direito. Em regra, as leis possuem duração indeterminada. Pressupõe-se que deixarão de surtir seus efeitos apenas quando foram revogadas (o que pode se dar expressa ou tacitamente), e isso deriva da necessidade de estabilidade e segurança nas relações sociais, que não existiriam se as leis fossem sempre concebidas com prazos de validade previamente determinados. Esse fato demonstra a relevância do Poder Legislativo e a seriedade de sua função: as leis não podem ser criadas senão sob o pressuposto de corresponderem ao estágio civilizatório atingido pela sociedade cuja vida regulamentam, e este não é percebido por prazo determinado, nem tem data prefixada para modificação – e por isso mesmo a promulgação de leis casuísticas, que apenas atendam a interesses imediatos, principalmente quando de titularidade limitada a certos segmentos sociais, não é a melhor técnica de DIREITO APLICADO À GESTÃO 14 elaboração legislativa, já que a sociedade não evolui na velocidade dessas demandas, ainda quando legítimas. É claro que excepcionalmente a lei pode determinar um prazo ao cabo do qual cesará sua vigência, mas essa não é e nem poderia ser a regra. Essencialmente a lei é revogada quando uma lei posterior de mesma hierarquia a revogue ou disponha de forma diversa sobre a mesma matéria; por isso geralmente no último dispositivo ou artigo de qualquer texto legal encontramos uma determinação que atende a uma fórmula genérica, segundo a qual “esta lei revoga todas as disposições em contrário”, importando em que, na data de sua entrada em vigor, deixarão de surtir efeitos aquelas normas expressamente revogadas. Mas nem sempre há essa disposição literal, sendo também usual e de igualmente boa técnica legislativa a revogação tácita, que se dá nas hipóteses em que, mesmo não dispondo expressamente a revogação de leis anteriores, a lei nova regulamenta inteiramente a relação que era objeto também da lei anterior. Por exemplo: a nova lei de locação de imóveis, mesmo que não o afirme textualmente, revogará a lei anterior que trate desta mesma matéria, já que, evidentemente, não podem subsistir dois sistemas legais distintos e contraditórios regulamentando uma mesma hipótese social. A irretroatividade da lei – ou seja, o fato de uma lei não poder viger sobre atos ou negócios praticados antes de sua vigência – é a regra para a sua eficácia, DIREITO APLICADO À GESTÃO 15 admitindo-se excepcioná-la apenas quando isso se der em benefício do réu, como, por exemplo, na retroatividade da lei penal quando se deixa de considerar criminosa a conduta praticada – e isso se fundamenta no próprio interesse social, já que não teria qualquer finalidade manter encarcerado, por exemplo, aquele que tenha cometido um ato que deixe de ser considerado criminoso em momento posterior ao seu julgamento. Eficácia da lei no espaço Assim como é importante analisarmos a aplicação da lei no tempo, não menos importante será o conhecimento de sua validade em dimensão espacial. Vimos anteriormente que nosso Estado possui três esferas de administração pública – as esferas federal, estadual e municipal – representadas respectivamente pela União, pelos estados e municípios; vimos também que em todas essas esferas há Poderes Legislativos com competência determinada e exclusiva sobre as suas respectivas dimensões territoriais. Essa é a mais clara hipótese dessa nossa análise: a própria divisão administrativa do Estado brasileiro já sinaliza para a eficácia da lei no espaço quando determina existirem Legislativos nas esferas federal, estadual e municipal, o que pressupõe logicamente a possibilidade de existirem leis que vigorarão nos limites dos respectivos estados e municípios, ou que sejam aplicáveis em todo o território nacional, conforme sejam leis estaduais, municipais ou federais. Nosso País é uma República Federativa em que determinadas matérias, por sua relevância, são de competência legislativa apenas federal, ou da União, como, por exemplo, as normas penais; outras serão de competência dos estados e, finalmente, outras ainda serão de competência municipal, segundo dispõe o próprio texto da Constituição Federal – e são exemplos matérias tributárias, em que se determina que alguns tributos terão sua legislação definida e serão arrecadados pela União (como o imposto sobre a renda), outros pelos estados (como o imposto sobre a propriedade de veículos automotores, ou IPVA) e outros, ainda, pelos municípios (como o Imposto sobre a Propriedade Territorial Urbana, ou IPTU). Então, qual será o limite da abrangência espacial de uma lei? DIREITO APLICADO À GESTÃO 16 A resposta é simples: este limite será o limite de seu território, assim compreendido como o espaço localizado no interior de suas fronteiras. Em essência, temos que a lei federal adere a toda a superfície de nosso território, a lei estadual adere a toda a superfície do território do estado e a lei municipal à superfície territorial do município. Essa realidade nem sempre é isenta de conflitos, sendo comum se falar de “guerras fiscais” ou de “barreiras fiscais”, por exemplo, que nada mais representam senão o aspecto visível da aplicação das leis no espaço: quer entre países (como nos casos das lutas de alíquotas tributárias de exportação ou importação conforme determinado país proteja os interesses de seus produtores ou fabricantes, por exemplo), quer entre estados e municípios, como já pudemos observar em diversos momentos. Na verdade, a eficácia espacial da lei é de vital importância para qualquer administrador público, porque importa até mesmo no planejamento de políticas para determinados segmentos sociais ou para estratégias de crescimento. Como, por exemplo, as tarifas menores ou maiores de exportação ou importação de tecnologia ou de commodities segundo o mercado internacional no período, ou ainda as subvenções e incentivos públicos a certas atividades consideradas de interesse nacional, como, por exemplo, o estímulo à produção agrícola etc. Tamanha pode ser a relevância dessas disputas que não raro somos informados de disputas entre países em organizações multinacionais como a Organização Internacional do Comércio, sobre determinadas políticas que atingem os interesses de seus parceiros comerciais. A Jurisprudência DIREITO APLICADO À GESTÃO 17 Por jurisprudência entende-se o conjunto das decisões proferidas pelos Tribunais sobre determinados assuntos, e compõe as fontes clássicas do Direito, ao lado da lei e da doutrina, porém não sendo de menor importância dentro dos meios de sua formação. Sabemos que nosso Estado compõe-se de três Poderes Constituídos, que são o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Pois bem, já vimos que ao Poder Legislativo toca legislar, ou seja, é o Poder competente para elaborar as leis; todavia, o Legislativo não as aplica. Essa aplicação cabe, com exclusividade, ao Poder Judiciário, que é composto, novamente, na forma determinada pela Constituição Federal (em nosso caso, a de 1988). Embora seja exclusivamente competente para julgar, vale dizer, para interpretar a lei e aplicá-la a um determinado caso concreto (por exemplo, determinar que o Código de Defesa do Consumidor deve ser aplicado na hipótese de defeito em determinado produto, impondo a sua troca ou a devolução do valor pago ao cliente), o Poder Judiciário não atua discricionariamente – suas decisões devem ser baseadas não apenas na lei mas, ainda, nos demais elementos componentes de nosso sistema de Direito, e que englobam todas as suas outras fontes. A reunião dos julgados dos Tribunais é que se chama de Jurisprudência e demonstra não apenas como o Direito é interpretado por seus aplicadores ao longodo tempo mas, também, demonstra o grau de complexidade a que chegou determinada sociedade. Assim como quanto às leis, há hierarquia na Jurisprudência, e essa hierarquia corresponde, igualmente, à competência dos Tribunais. A composição do nosso Poder Judiciário inclui, em brevíssima síntese não restritiva: DIREITO APLICADO À GESTÃO 18 o Supremo Tribunal Federal (a quem cumpre a interpretação da Constituição Federal); os Tribunais Superiores (Superior Tribunal de Justiça, Superior Tribunal Militar, Tribunal Superior do Trabalho, Tribunal Superior Eleitoral); os Tribunais Regionais Federais e os Juízes Federais; os Tribunais Regionais do Trabalho e os Juízes Trabalhistas; os Tribunais Regionais Eleitorais; e os Tribunais de Justiça dos Estados e os Juízes Estaduais, não havendo Poder Judiciário de competência municipal. Compõem ainda o Poder Judiciário os advogados e os Juízes de Paz. Os julgamentos são públicos e suas conclusões publicadas na imprensa oficial; essas conclusões, de fato, correspondem ao entendimento dos Tribunais sobre as matérias que foram objeto de seu julgamento, e compõem a Jurisprudência. A importância desta como fonte de Direito reside na necessidade da uniformização, tanto quanto possível, dos entendimentos dos Tribunais sobre os eventos da vida social, garantindo, assim, a maior segurança possível ao jurisdicionado (que é aquele subordinado ao Direito de um determinado Estado), que, a partir de seu conhecimento, pode determinar como a Justiça julgará a sua pretensão. DIREITO APLICADO À GESTÃO 19 A Doutrina Juntamente com a Lei e a Jurisprudência, temos a Doutrina como uma das fontes clássicas do Direito. Compõem a Doutrina os tratados, livros, artigos e demais obras intelectuais dos estudiosos do Direito, também chamados juristas, que representam as diversas visões científicas sobre as matérias que envolvam noções humanas, sociais e jurídicas. Sua importância reside no fato de ser o verdadeiro repositório dos estudos sobre as diversas áreas do Direito e seus aspectos técnicos, sociais, políticos e humanos, de tal forma que os advogados, julgadores, legisladores, analistas e demais operadores do Direito podem encontrar, em seu bojo, orientações fundamentadas tecnicamente sobre matérias que analisem. Vale destacar que, em sede doutrinária, o autor possui uma liberdade que via de regra não possuirá como advogado ou juiz, por exemplo, uma vez que não se encontra, como doutrinador, limitado pelos fatos de um processo. A doutrina é fonte fundamental do Direito justamente porque oxigena a sua teoria, proporcionando a seus estudiosos e operadores a análise de uma infinita DIREITO APLICADO À GESTÃO 20 variedade de visões sobre os seus institutos, auxiliando de maneira essencial a construção do pensamento jurídico e a sua elevação ao patamar civilizatório atingido pela sociedade cuja convivência se presta a regulamentar. Mecanismos Interpretativos A analogia A analogia se mostra uma fonte do Direito como um mecanismo de integração em que se aplica um exemplo para constituir um raciocínio, vale dizer, entende- se que a solução de determinado problema deve ser empregada para solucionar outro problema que lhe seja semelhante. Dessa forma, o processo analógico não representa senão um mecanismo para solução de um caso concreto para o qual não existe uma norma jurídica preexistente. Todavia, não se deve empregar o raciocínio analógico na hipótese em que a norma que se pretenda aplicar possua natureza eminentemente restritiva de direitos, como, por exemplo, a matéria da legislação criminal, em que o resultado poderá ser a restrição à liberdade, por exemplo. É evidente que a aplicação da analogia não poderá se dar indiscriminadamente, exigindo atenção à análise de elementos subjetivos que são a norma geral do Direito, o ramo do Direito ao qual pertence a norma em exame e as suas próprias características, sem o que a aplicação da analogia pode tornar-se despótica. https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/dag/re/u1/aula-1.htm#more-info-3 https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/dag/re/u1/aula-1.htm#more-info-4 DIREITO APLICADO À GESTÃO 21 A equidade Importa a equidade na adaptação de uma regra a uma situação em concreto, com a finalidade de melhor aplicar o Direito, vale dizer, empregando os critérios da justiça e da igualdade; tem por finalidade aproximar a norma jurídica da realidade da vida, uma vez que é impossível pretender impor a aproximação da vida humana à norma, abstratamente estabelecida. É justamente porque a vida humana e as relações sociais não derivam do conteúdo das normas de Direito que a equidade se revela um imprescindível instrumento de interpretação da lei e de aplicação da Justiça, pois vem a proporcionar mecanismos de aplicação adequada aos casos concretos, vivenciados no cotidiano das pessoas. Os usos e costumes Finalmente, os usos e costumes de um povo são fontes do Direito na medida em que demonstram o seu estado civilizatório, e os princípios considerados intrinsecamente relevantes para o exercício da vida em coletividade, mesmo quando não estejam previstos em qualquer norma legal ou código de conduta – talvez até mesmo pela desnecessidade dessa previsão formal, em razão do estabelecimento de seu uso. A reiteração de um ato, de um determinado comportamento, torna-se um hábito – isso em planos sociais ou mesmo individuais, embora nos ocupemos especificamente dos primeiros -, esse hábito pode vir a tornar-se um costume na DIREITO APLICADO À GESTÃO 22 medida em que a sua repetição se torne mandatória, ou seja, na medida em que os indivíduos entendam ser fundamental a continuidade de sua prática – hipótese em que o que era um simples hábito se torna revestido de consuetudo, tornando-se regra de conduta, norma de comportamento, mesmo quando não escrita. O Direito não se compõe unicamente pelas leis, resultantes do processo de elaboração legislativa. Outras fontes criam o Direito, regulamentando a convivência em sociedade. Essas fontes também geram Direito na medida em que criam normas de comportamento que passam a compor as regras de convivência em sociedade. Um exemplo são os usos e costumes do povo, que criam normas não escritas respeitadas socialmente como parte do Sistema Jurídico, embora não estejam, necessariamente, elencadas no direito positivo ou nos textos legais. Assim, é certo que a vida social não se regerá unicamente pelas leis, decretos e demais normas escritas e codificadas, mas sim também por uma grande diversidade de fatores que se alteram na composição do corpo social. Para aprofundar o conhecimento dessa matéria estude os tópicos 11 a 15 do livro Introdução do Direito, de Clareci Mezzomo, constante da bibliografia de apoio. Vídeo da Unidade Para se aprofundar sobre os ramos do Direito e suas interseções na atividade empresarial, assista ao vídeo da unidade. Se preferir, faça o download do áudio (mp3 compactado) deste vídeo clicando aqui. Atividade É sabido que o Direito não se limita a um conjunto de disposições estáticas, contidas em leis, dissociadas da realidade social, econômica e política, ou seja, alheio ao cotidiano. Indique, entre as opções a seguir, aquela que se refere à fonte do Direito que melhor compreende essa natureza de permeabilidade: 1. aLei. 2. bAnalogia. 3. cEquidade. https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/dag/re/u1/aula-1.htm#more-info-5 https://player.vimeo.com/video/341571497 https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/dag/re/u1/audio/G_DAG_U1_mp3.zip DIREITO APLICADO À GESTÃO 23 4. dJurisprudência. 5. eNorma jurídica. Alternativa correta: letra (d). A jurisprudência, que é a fonte do Direito que provém das decisões judiciais, garantindo maior oxigenação do sistema. A letra “a” é incorreta, pois a lei representa, justamente, a fonte do Direito formal por excelência, é o resultado final do processo de elaboração legislativa e dificilmente será menosdinâmica que a jurisprudência ou a doutrina. As letras “b” e “c” são incorretas porque analogia e equidade são mecanismos interpretativos, e não fontes do Direito propriamente. A letra “e” é incorreta porque a norma jurídica é constituída pelas fontes do Direito. Aula 2: Os ramos do Direito e a Gestão Definição do Direito Como já vimos, o Direito – numa acepção restrita, considerado apenas como o conjunto de normas positivadas – tem origem nas leis, que são atos oficiais promulgados pelo Poder Legislativo – resultado da elaboração do processo legislativo – e que atendem a requisitos como a publicidade, a forma, a obediência ao texto constitucional, além de possuírem uma hierarquia, compondo um sistema estruturado sob certa composição prevista constitucionalmente. Também aprendemos que compõem o Direito, em sentido amplo, ou numa acepção mais inclusiva (e ampliando a visão para tratá-lo como um sistema), outras fontes que o constituem, juntamente com as leis, todavia sem sua rigidez DIREITO APLICADO À GESTÃO 24 e sem a necessidade de obediência às suas formalidades, ritos e normas procedimentais, que são a analogia, a equidade, os usos e costumes e, finalmente, são fontes de Direito, ainda, o conjunto das decisões dos Tribunais (a Jurisprudência) e os entendimentos expostos nas obras dos estudiosos, ou a doutrina. Nesta aula vamos analisar como se organiza e estrutura o Direito em seus planos positivos, ou seja, como se dividem, dentro do chamado Sistema Jurídico – que é o conjunto de todo o Direito de um determinado povo, seja oriundo de qualquer das suas fontes –, os diversos conjuntos de normas jurídicas que regem a vida dos cidadãos e os negócios das empresas. Seu conhecimento é fundamental porque, em primeiro lugar, o cidadão deve conhecer seus direitos e deveres e isso pressupõe o conhecimento das estruturas políticas e sociais do Estado em que vive, e isso pressupõe o domínio das estruturas judiciárias; e, depois, porque não se admite que uma empresa vá interagir negocialmente desconhecendo as estruturas de decisão nas diversas matérias de sua ação e abrangência empresariais. A mais importante das normas jurídicas de qualquer Estado é a Constituição. Como sua própria denominação sugere, é o texto fundamental do ordenamento jurídico, político, econômico e social de um País e, de todos os Diplomas Legais (ou textos legais) de qualquer ordenamento organizado, sempre será o primeiro e mais importante. Todos os demais derivam dele e todos devem respeitar a sua orientação e o sistema por ele seguido. A Constituição é promulgada por um Poder especialmente reunido para sua elaboração, um Poder diverso de todos os demais – ou seja, um Poder diverso dos Poderes já analisados, Executivo, Legislativo e Judiciário. DIREITO APLICADO À GESTÃO 25 O deputado Ulysses Guimarães mostra a Constituição brasileira, promulgada em 1988. Fonte: Agência Brasil O Poder Constituinte, por sua própria natureza – enquanto Poder reunido para a elaboração do texto fundamental de um Estado – não possui qualquer limitação, podendo, literalmente, dispor sobre a formação, a organização, as estruturas e os princípios não apenas do Direito de um país, mas, também, do próprio Estado em toda e qualquer uma de suas manifestações. Apenas para contextualizar, é na Constituição Federal que: se encontram definidas a forma e o sistema de governo do Brasil – uma República Presidencialista; se encontra a disposição acerca da própria existência dos três Poderes (por isso mesmo ditos Poderes Constituídos) e a sua divisão em Executivo, Legislativo e Judiciário; estão delimitadas as suas estruturas e competências. Não existindo qualquer limite para o Poder Constituinte, ele poderia, por exemplo, ter determinado que o Brasil se tornaria uma Monarquia, ou ter adotado o regime parlamentarista; poderia ter criado um “quarto Poder” do Estado – na verdade a nossa primeira Constituição, a Constituição Imperial, de 1824, estabelecia um Poder além dos três hoje existentes, o Poder Moderador, exercido exclusivamente pelo Imperador (o Poder Moderador foi abolido de nossos textos constitucionais com o advento da República e consequentemente deixou de ser previsto em nossa segunda Constituição, de 1891), poderia, enfim, ter estabelecido que os estados se tornariam territórios – o inverso foi realizado, os antigos territórios tornaram-se estados. Como podemos perceber, sintomaticamente, as consecutivas alterações de regime e de sistema de governo que ao longo de nossa História sucederam http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/galeria/2009-10-05/5-de-outubro-de-2009 DIREITO APLICADO À GESTÃO 26 foram seguidas pela promulgação de novas Constituições. Foi assim quando da proclamação da República; foi assim após a Revolução de 1930, que encerrou o ciclo político hoje denominado República Velha, por exemplo. Já vivemos sob a égide das seguintes Constituições: 1824 Constituição Imperial. 1891 Primeira Constituição Republicana. 1934 Promulgada após a Revolução de 30 e a Revolução constitucionalista de 1932. DIREITO APLICADO À GESTÃO 27 1937 Que implantou o Estado Novo. 1946 Promulgada com a queda do Estado Novo, coincidentemente após o final da II Guerra Mundial e a derrota dos regimes totalitários na Europa. 1967 Buscou institucionalizar e legalizar o regime militar. DIREITO APLICADO À GESTÃO 28 1988 Atual Constituição Federal, promulgada ao final do ciclo dos governos militares. Enfim, a Constituição Federal é, como já visto, um Diploma Jurídico de natureza ímpar, é a norma fundamental do Estado, dispõe sobre as estruturas sociais, econômicas, políticas e jurídicas e, portanto, também determina a natureza e a orientação de todos os demais textos legais. Assim, o Poder Constituinte não obedece a qualquer sistema jurídico ou a qualquer ordenamento; ele o faz. Todo e qualquer dispositivo de lei ou Diploma Legal que eventualmente contenha disposição contrária ao texto constitucional estará imediatamente revogado quando ela entrar em vigor, assim como todo e qualquer dispositivo ou Diploma Legal superveniente ao texto constitucional lhe deve obediência e, naturalmente, não poderá contrariá-lo. Portanto, quando tratamos de nosso Ordenamento Jurídico, de nosso Sistema de Direito, em primeiro lugar e com natureza especial, única e própria, teremos a Constituição Federal, a quem todos os demais se subordinam e de quem todos derivam. Todavia, estruturado pelo texto constitucional temos um arcabouço jurídico que contém blocos ou sistemas peculiares, que são assim definidos pela natureza das suas respectivas matérias ou pela natureza dos direitos que regulamentam. Classificação do Direito Antes mesmo da análise dos ramos do Direito brasileiro, importante destacar que dividimos o sistema jurídico em ampla análise em: Direito Nacional Direito Internacional https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/dag/re/u1/aula-2.htm https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/dag/re/u1/aula-2.htm DIREITO APLICADO À GESTÃO 29 É relevante mencionarmos, ainda, que uma vez chancelados os Tratados, Convenções ou Acordos Internacionais, suas normas passam a viger no Brasil não somente quanto às relações entre os cidadãos de nosso Estado com estrangeiros em planos internacionais, mas, ainda, dependendo de sua natureza, tornam-se imperativas de conduta em nosso território, regendo relações entre cidadãos brasileiros. Como, por exemplo, aquelas normas que determinam a inserção de dispositivos de inspiração internacional em nossos Diplomas Legais, versando sobre temas de natureza específica. Em planos de Direito Internacional, teremos ainda a subdivisão abaixo: Direito Internacional Público Direito Internacional Privado Dessa forma, o gestor de uma empresa dedicada ao comércio internacional, à exportação ou à importação deverá ter conhecimento de normas de Direito Internacional, além daquelas que regulamentem os negócios de sua expertise, jáque diferentes países terão diferentes legislações e emprestarão tratamentos diversos às mesmas matérias, pelo que o administrador vai se defrontar com diferentes hipóteses de incidência e alíquotas tributárias, diferentes normas penais, diferentes normas trabalhistas, diferentes normas contratuais, de direito do consumidor ou de responsabilidade civil, por exemplo, na atuação internacional. Porém, ainda quando a sua atuação circunscreve-se ao nosso território, deixa de ser complexo o panorama a ser conhecido: em planos nacionais – ou na competência interna – também dividimos os sistemas de Direito em blocos, não apenas para facilitar a sua compreensão e análise, mas também para permitir a própria especialização de seus agentes e operadores. A primeira das divisões distingue dois grandes blocos de estruturas jurídicas: os sistemas de Direito Público e de Direito Privado. Essa distinção se faz em virtude da natureza das relações que rege cada um desses sistemas e dos Diplomas Legais que os compõem. Direito Público Direito Privado https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/dag/re/u1/aula-2.htm https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/dag/re/u1/aula-2.htm https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/dag/re/u1/aula-2.htm https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/dag/re/u1/aula-2.htm DIREITO APLICADO À GESTÃO 30 Como exemplos temos o Direito Penal, como ramo do Direito Público – porque cuida de direitos absolutamente indisponíveis, como a liberdade, e o Direito Civil, em regra, como um ramo do Direito Privado, porque dispõe sobre direitos patrimoniais, essencialmente disponíveis (sem essa disponibilidade a própria circulação de riquezas na sociedade ficaria comprometida, com prejuízo das atividades comerciais e econômicas). Dissemos que o Direito Civil será um Direito Privado em regra porque atualmente o Direito Civil abrange várias matérias que se constituem em direitos indisponíveis, tais como os Direitos da Personalidade, e versam sobre a vida, a integridade física, a moral, o direito à intimidade e à vida privada, o direito ao nome, entre outros de idêntica natureza, claramente essenciais não apenas às pessoas, mas a toda a sociedade. Apenas para contextualizarmos, o direito civil versará sobre direitos essencialmente disponíveis, como aqueles referentes à compra e venda, em que qualquer das partes (comprador ou vendedor) pode, livremente, dispor de seu patrimônio e realizar o negócio na forma e pelo valor que bem entenda e também sobre direitos absolutamente indisponíveis, como, por exemplo, os direitos da personalidade, de onde podemos destacar o direito às partes do corpo, que encerra uma regra até mesmo lógica segundo a qual o cidadão não poderá dispor de seus órgãos ou membros, exceto nas hipóteses de doação post mortem de órgãos e tecidos, e, ainda assim, na forma determinada por legislação específica e sob o estrito controle do Poder Público (que é a garantia de que esse tipo de relação não se tornará negocial, porque seria abominável o estabelecimento de um comércio de órgãos). Os ramos do Direito Público se caracterizam, em primeiro lugar, pela presença do Estado; em sua posição estática (como legislador, ou ordenador abstrato da sociedade, por exemplo), no Direito Constitucional positivo, ou em sua posição dinâmica (em sua função de administrador dos interesses e planejador social, em que efetivamente atua, regulamentando, gerindo e organizando a sociedade, por exemplo), no Direito Administrativo – que vincula a Administração Pública – ou no Direito Tributário – no qual o Estado age como balizador das relações econômicas, como distribuidor das riquezas em sociedade; como atua, ainda, na solução dos conflitos (em sua função de Estado – Juiz, por exemplo), no Direito Processual, ou em sua função de organização social, por exemplo, no Direito Penal. DIREITO APLICADO À GESTÃO 31 Como pudemos ver, no Direito Público, o interesse do Estado é imediato – ou seja, ele se posiciona como parte na própria relação jurídica com o cidadão (como, por exemplo, no Direito Tributário, em que, além de criar o tributo e determinar a sua alíquota, o Poder Público ainda realiza a arrecadação), ou como responsável pela aplicação das normas (como, por exemplo, quando o Estado administra a Justiça, funcionando como Estado – Juiz), na hipótese do Direito Processual de qualquer natureza (Penal, Civil, Administrativo ou Tributário), ou quando atua planejando as políticas públicas ou aplicando-as. Dizemos que o interesse do Estado, nos ramos do Direito Público, é imediato porque em nosso modelo civilizatório ele é a fonte e a garantia da administração das relações sociais, não sendo admissível aos cidadãos o exercício das próprias razões, pelo que a composição de conflitos de interesses deve passar pela apreciação do Poder Público, que detém o monopólio da aplicação da Justiça e, via de consequência, o monopólio da utilização da violência, lhe tocando – com exclusividade – o exercício do Poder de Polícia e a administração da Justiça. Sabemos que a violação de um contrato gera consequências patrimoniais para aquele que lhe deu causa, assim como sabemos que o inadimplemento gera o efeito da imposição de multa pela mora ou o próprio desfazimento do negócio com culpa de um dos contratantes – o que pode gerar a obrigação de indenizar; todavia, ainda que saibamos exatamente que tais condutas levam à constituição de direitos em favor de um dos contratantes, ele não poderá exercer esses direitos ou satisfazer essas pretensões por seus próprios meios, devendo requerer ao Estado – Juiz a tutela de suas pretensões, que é exatamente o que fazemos quando ingressamos com uma ação junto ao Poder Judiciário (que, como já vimos, é um dos Poderes Constituídos do Estado). DIREITO APLICADO À GESTÃO 32 O cidadão que compra um bem e não o recebe na data aprazada não se torna sujeito do direito de ir à loja do vendedor e apanhá-lo por força própria. O exercício das próprias razões pelos cidadãos levaria à anarquia e ao império da força, que representam a própria negação do Direito e do Estado em última análise. Atuação do Estado É evidente que esta divisão não esgota as possibilidades da matéria, muito menos é isenta de divergências. Por exemplo, a natureza do Direito do Trabalho é fonte de acalorados debates, havendo correntes que o inserem entre os Direitos Públicos (a que nos filiamos) e outras que o inserem entre os Direitos Privados. Nos posicionamos com os primeiros, entendendo tratar-se de um ramo do Direito Público, porque, em nosso sistema, as relações entre patrões e empregados, ou as relações laborais, não se revestem apenas de características privadas, já que a própria rescisão do contrato de trabalho pressupõe a interveniência do Estado ou de um sindicato, por exemplo. Mas nem sempre o Estado terá interesse imediato no resultado das relações entre os indivíduos, e é claro que nem sempre será uma das partes nessas relações. Os ramos do Direito em que os interesses se revestem dessa característica – não serem de interesse imediato ou objetivo do Estado – se denominam ramos de Direito Privado, sendo exemplos o Direito Civil e o Direito Empresarial. Para aprofundar o conhecimento dessa matéria estude os tópicos 8 a 10 do livro Introdução do Direito, de Clareci Mezzomo, constante da bibliografia de apoio. Barreiras alfandegárias são barreiras comerciais estabelecidas pelos governos com o objetivo de controlar o intercâmbio internacional de mercadorias. É a forma mais comum de proteger o mercado interno. Essas barreiras são medidas e instrumentos com finalidades políticas e comerciais, normalmente utilizadas para estimular setores econômicos específicos internos de cada país, que impedem o livre comércio. Podem ser praticadas na forma de tarifas, cotas e licenças de importação, incluindo qualquer lei, regulamento, política, medida ou prática governamental que imponha restriçõesao comércio exterior. Fonte. Atividade http://pt.wikipedia.org/wiki/Barreira_alfandeg%C3%A1ria DIREITO APLICADO À GESTÃO 33 Os ramos do Direito Público se caracterizam, em primeiro lugar, pela presença do Estado; em sua posição estática (como legislador, ou ordenador abstrato da sociedade, por exemplo) ou em sua posição dinâmica (em sua função de administrador dos interesses e planejador social, em que efetivamente atua, regulamentando, gerindo e organizando a sociedade, por exemplo), – em que o Estado age como balizador das relações econômicas, como distribuidor das riquezas em sociedade; quando atua na solução dos conflitos (em sua função de Estado – juiz, por exemplo), ou em sua função de organização social. Partindo dessas definições, é correto afirmar que o Direito Tributário é um ramo do Direito Público porque é um ramo do Direito em que o Estado atua: 1. a Em sua posição estática. 2. b Em sua posição dinâmica. 3. c Na solução dos conflitos. 4. d Como organizador social. 5. e Como legislador. Aula 3: O Estado Democrático de Direito no Brasil Formação do Estado Já mencionamos que a condição natural do ser humano demanda a convivência social, impõe a vida em sociedade; ainda quando vivia em nomadismo – antes de sedentarizar-se –, o homem não vivia sozinho, e isso é um imperativo natural. A defesa contra eventos naturais, predadores e mesmo outros grupos concorrentes levou o homem a viver em coletividade. Inicialmente essa vida em coletividade se lastreava na necessidade de defesa do grupo, necessidade posteriormente ampliada pela divisão das tarefas, levando à criação (ou à percepção) de um ente abstrato, além dos indivíduos que o compõem, que todavia com eles não se confunde, que é a sociedade, formada pelo conjunto dos homens que vivem e interagem sob certa comunidade de desígnios. A percepção da existência de um interesse coletivo, inconfundível com todos os interesses individuais dos membros da coletividade, demonstrou que o ser humano, para sua inter-relação com os demais, criaria uma instituição abstrata chamada lato sensu de sociedade. E essa abstração dotada de interesses e finalidades próprias tornou-se DIREITO APLICADO À GESTÃO 34 verdadeiramente imprescindível à sobrevivência do ser humano em uma natureza onde, mesmo sendo o mais inteligente dos animais e talvez o mais adaptável ao meio ambiente, nem de longe era o mais forte, o mais resistente ou o mais feroz. Nunca prescindimos dessa entidade a que denominamos sociedade. Sempre nos organizamos sob essa premissa e consideramos essencial sua existência para o desenvolvimento de nossa própria humanidade (porque não prescindimos do contato e da interação social com nossos semelhantes, diferentemente de outras espécies de animais em que a convivência se limita à época do acasalamento e se estende apenas pelo período de proteção da cria). Para que existamos, formamos vínculos: vínculos com indivíduos que nos são próximos, ou afins; vínculos com grupos deles, previamente organizados; vínculos com o local onde nos encontramos, enfim, formamos uma rede de inter- relações que nos conectam uns aos outros, ao meio ambiente, à localização geográfica de nossa coletividade e até mesmo à memória coletiva por ela formada ao longo das sucessivas gerações, o que nos dá a sensação de pertencimento que nos une a uma determinada cultura, depois a uma mesma nacionalidade. Ocorre que sempre foi impossível a convivência dentro de qualquer grupamento social sem o prévio estabelecimento de normas de conduta, de limites para o comportamento dos seus integrantes – limites à vontade e à liberdade de atuação em sociedade, de limites que estabelecessem, de uma forma comum e coletivamente aceita, os direitos e deveres de cada um em face dos demais individualmente ou da própria coletividade em si, aí considerada como um ente específico. A esses grupamentos chamou-se posteriormente Estados e a esses conjuntos de normas de conduta dos seus membros chamou-se posteriormente Direito em sentido amplo. Vê-se, portanto, que o Estado é decorrência natural da organização buscada pelo ser humano e que o Direito é inerente à própria formação do Estado, já que fora dele teríamos apenas a liberdade essencial à selvageria, do uso da força como manifestação de vontade. A concordância tácita quanto às normas de conduta admitidas na coletividade reproduziam-se indeterminadamente, já que eram representações do estágio civilizatório por elas alcançado; ao indivíduo não mais se consultaria, não mais lhe seria pedida aquiescência para a normatização social a cada momento, DIREITO APLICADO À GESTÃO 35 porque já pré-sabidos os pontos em comum essenciais aos interesses de todos os seus membros. Assim foi que o nascimento sob certa coletividade passou a determinar um conjunto preestabelecido de normas que regulamentariam a interação social do indivíduo, assim vinculado, portanto, a esse sistema desde o nascimento ou, eventualmente, desde a sua inclusão em determinado grupo, quando passava a viver sob suas regras como se natural ao mesmo. Conforme as sociedades evoluíam, os próprios indivíduos que as integravam tornavam-se mais sofisticados, diversificando os seus interesses e necessidades (que um dia limitaram-se à alimentação diária para a manutenção da vida) e, com isso, sofisticando e diversificando cada vez mais o tecido social a que pertenciam. Dessa crescente sofisticação, que ainda não superamos em nosso estágio de civilização, nasceram sociedades cada vez mais complexas, reguladas por conjuntos de normas cada vez mais abrangentes e também complexos, sofisticados, porque concebidos para organização de relações que ultrapassaram em muito a simplicidade original. Nossa sociedade virtual e da informação em muito pouco será capaz de lembrar aquela sociedade dos primeiros homens, a não ser pelas características atávicas de seus integrantes; porém, em termos de regramento da vida dentro do conjunto social, torna-se evidente ser impensável aplicar ao comportamento humano atual as mesmas normas e regras aplicáveis às sociedades antecedentes à escrita, por exemplo. Assim, é certo que as necessidades que nortearão a construção e a tessitura das normas de comportamento sociais se construirão ao longo do processo de construção histórico-social. A evolução do Estado ao longo da história humana é notável e fascinante. Desde as sociedades mais antigas até a atualidade presenciamos alterações estruturais nessa instituição tão profundas que nos dão a impressão de por vezes estarmos nos referindo a instituições inteiramente díspares entre si quando, na verdade, fundamentalmente nos une a necessidade de vida em coletividade para a realização de nossa própria humanidade. Não cabe aqui tecermos o panorama desde os primórdios da sociedade humana até nossos dias, já que não é este o objeto de nosso estudo. Porém devemos atentar para o fato de que ao longo da evolução de nossa história passamos por diversos períodos econômicos, sociais e políticos – e esses diferentes períodos impuseram a constituição de diferentes Estados, concebidos para a https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/dag/re/u1/aula-3.htm#more-info-1 DIREITO APLICADO À GESTÃO 36 regulamentação de diferentes sociedades. Ainda hoje podemos notar profundas distinções entre os Estados organizados, que refletem as distinções entre as culturas, os valores e os interesses dos diversos povos componentes do gênero humano; ainda que tenhamos trabalhado, principalmente a partir de meados do séc. XX, para a elaboração de um arcabouço comum a todas as sociedades e culturas, é certo que subsistem diferenças claramente perceptíveis, levando a um mundo em que interagem Estados baseados na orientação religiosa ao lado de Estados laicos (aqueles em que a administração pública não determina uma religião oficial), Estados monárquicos e outros republicanos, Estados parlamentaristas e outros presidencialistas, Estados queaplicam punições como a pena de morte ou de mutilação e outros que as baniram de seu ordenamento jurídico etc. Também o Brasil em que vivemos é o resultado a que chegamos em nosso estágio de civilização; é o momento cultural, histórico, social e político que atingimos, e suas instituições representam esse grau e essa medida. Numa brevíssima síntese, fomos Colônia, Reino Unido, Império e República – e, em nossa história republicana passamos por regimes ditatoriais de diversos matizes, outros democráticos, experimentamos o parlamentarismo, tivemos o voto censitário e limitado ao sexo masculino, passamos ao sufrágio universal, enfim, nossa sociedade passou por profundas mudanças em sua estrutura desde o início de nossa história como povo até chegarmos aos dias atuais. Nosso Estado tem a sua dimensão política – social e jurídica – determinada pela Constituição Federal. Ela, como Diploma fundamental de nosso Ordenamento Jurídico, determina o regime, o sistema e a forma de governo; os Poderes Constituídos e sua composição; os tributos, suas hipóteses de incidência e os titulares destes créditos; a administração pública; enfim, determina a estrutura do Estado. O Estado brasileiro na Constituição Federal A composição do nosso Estado se encontra logo no primeiro artigo da Constituição Federal, que dispõe: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: 1. a soberania; DIREITO APLICADO À GESTÃO 37 2. a cidadania; 3. a dignidade da pessoa humana; 4. os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; 5. o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Percebemos, portanto, que segundo a Constituição Federal de 1988 o Brasil é uma República Federativa, composta pela união indissolúvel dos estados, municípios e Distrito Federal. Vale dizer: somos uma República formada pela Federação de entes públicos que chamamos estados, municípios e o Distrito Federal. Além do regime de governo esse dispositivo determina a indissolubilidade da União, determina a proibição do seu desmembramento, bem como da saída – voluntária ou não – de qualquer dos estados ou municípios. Também determina que nos constituímos em um Estado Democrático de Direito, portanto, nosso Estado pressupõe a participação popular na determinação das políticas e da gestão públicas e a supremacia da lei, que vincula não apenas os atos dos cidadãos como, principalmente, os atos da administração pública, do governo. Os fundamentos de nosso Estado estão delineados nos incisos do dispositivo ora sob análise, prendendo-se à soberania, à cidadania, à dignidade da pessoa humana, ao pluralismo político e aos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa. Passemos à análise de cada um deles em planos teóricos. Soberania Foi Jean Bodin o primeiro teórico a elaborar um conceito de soberania, referindo-se a ela como à entidade que não conhece superior na ordem externa nem igual na ordem interna, não admitindo subordinação a qualquer outra externamente, na seara internacional, tampouco admitindo um poder idêntico internamente, na seara nacional. Portanto, a condição de um Estado independente, que não se mostra uma colônia de qualquer outro Estado e também não admite a existência de poder que rivalize com o seu em sede nacional ou em planos internos. Sua definição, tecida para sustentar a Monarquia francesa, foi posteriormente aperfeiçoada no Iluminismo, tendo o centro do Poder e da autoridade migrado da pessoa do Rei para a soberania popular, ou, exatamente como estabelece o DIREITO APLICADO À GESTÃO 38 parágrafo único do artigo 1º ora sob análise, a manifestação soberana da vontade do povo (de quem emana todo Poder e em nome de quem todo Poder deve ser exercido).Jean Bodin (1530-1596): jurista francês É fato que o conceito de soberania vem se alterando ao longo da História, e isso se verifica mesmo em razão das mudanças de regimes, de Estados e de governos; porém as características da não subordinação a qualquer Poder externo e da não equiparação a qualquer Poder interno se mantêm, posto serem verdadeiramente essenciais para a formação do Estado. Significa dizer que, para ser soberano, um Estado não pode se subordinar a nenhum outro na comunidade internacional; mesmo sendo eventualmente menos rico ou poderoso que outros Estados, não pode haver relação de subordinação que o transforme em um território ou em uma colônia, porque nessas hipóteses simplesmente inexiste a soberania. Em esfera interna, é soberano o Estado quando mantém o poder sobre todo o seu território, não havendo quem lhe anteponha autoridade de igual calibre. Por isso não se admite que se mantenham poderes paralelos dentro do território de um Estado – e daí a gravidade da existência, dentro de qualquer Estado, de locais em que a sua autoridade não é respeitada, ou em que seus poderes constituídos não podem ser impostos a todos os cidadãos. Já vimos que dentre as atribuições exclusivas do Estado se encontram a administração da Justiça e a administração da violência; qualquer usurpação desses monopólios impõe a perda da soberania e, em consequência, a própria destruição do Estado. Cidadania Diz-se cidadania o exercício dos direitos e deveres políticos, sociais e civis pelo cidadão, ou na origem do termo o residente de uma cidade, aquele que vive em sociedade, interagindo com seus concidadãos, ou seja, com os seus iguais em obrigações e em direitos. A cidadania, na medida do pertencimento a determinada coletividade, determina a faculdade de fruir das prerrogativas e a obrigação de obedecer às normas impostas por seu Estado. Assim como dissemos quando do estudo da soberania, também o conceito de cidadania sofreu alterações ao longo da história, todavia mantendo o seu requisito essencial de participação em igualdade de direitos e obrigações, e, DIREITO APLICADO À GESTÃO 39 atualmente, caminhamos para o exercício universal em sociedade da condição de cidadania. Pluralismo Por pluralismo político entende-se o direito de que são titulares todos os Partidos Políticos à participação no processo eleitoral, ainda que sejam pequenos, ainda que não disponham de poder econômico, todos os partidos constituídos legalmente têm direito de participação de eleições cujas regras tenham sido preconcebidas, participando do poder político, votando e sendo votados. É fundamental na medida em que, representando o reconhecimento da diversidade, impede a concentração do poder nas mãos de poucos partidos, permitindo, ainda, que novos partidos se organizem e participem do processo político – eleitoral em igualdade ideal de condições. Importante mencionarmos que o pluralismo político não significa igualdade de condições econômicas entre os partidos, mas sim que nenhum deles terá a sua regular constituição impedida; tampouco, uma vez legalmente constituído, poderá ser alijado do processo eleitoral. É pressuposto do efetivo exercício da democracia em tempos atuais, principalmente quando podemos observar a polarização das relações eleitorais, com a consequente concentração, em certas legendas, do poder econômico e político; a garantia da liberdade de constituição de partidos políticos funciona, assim, como equivalente à liberdade do exercício do voto pelo cidadão, não se admitindo a limitação do exercício da vontade popular por meio do controle de sua representação – o que ocorreria caso o Estado pudesse livremente limitar o direito de constituição e participação no processo eleitoral. Todavia, não se admitir o cerceamento da constituição de legendas de representação política não equivale a tornar inexistente a legislação eleitoral, principalmente pela importância de que se reveste esse processo. A dignidade da pessoa humana é um princípio fundamentaldo Estado Democrático de Direito e impõe o reconhecimento de cada ser humano como um fim em si mesmo, no tocante à proteção que lhe deve ser garantida pelo Direito e se assenta no pensamento de Immanuel Kant. Para aprofundar o conteúdo desta aula, estude os tópicos 3 e 4 do livro Teoria Geral do Estado de Marcus Cláudio Acquaviva, constante da Bibliografia complementar. DIREITO APLICADO À GESTÃO 40 Atividade A dignidade da pessoa humana impõe o reconhecimento de cada ser humano como um fim em si mesmo – o que deve ser respeitado e protegido pelo Estado Democrático de Direito, de que será, sempre, um princípio constitutivo. No Brasil podemos afirmar que a dignidade da pessoa humana: 1. a Se constitui em um Princípio Fundamental do próprio Estado e se encontra prevista no texto da Constituição Federal. 2. b É uma disposição legal não escrita, aplicada por usos e costumes e, como tal, versa sobre matéria infraconstitucional. 3. c Não integra nosso sistema de Direito, já que é uma norma recepcionada de diversos tratados internacionais. 4. d Representa uma disposição legal capitulada no Código Penal e, portanto, se constitui em uma norma criminal. 5. e É uma disposição meramente jurisprudencial, apenas sendo aplicável nas hipóteses julgadas pelos Tribunais. Encerramento O que é Direito, como ele é formado e como se divide? Por que, quando e como o Direito interessa à atividade do gestor e como ele a influencia? Como se estrutura o sistema legal e jurídico no Brasil? Resumo da Unidade Concluindo, vimos que o Direito existe desde que o ser humano passou a viver em sociedade, comportamento que entendemos lhe ser um estado natural; assim, a existência do direito enquanto norma de conduta acompanha a própria existência da sociedade humana, já que não poderia existir sem as inter- relações sociais. Representando o estado civilizatório de um povo em um determinado momento histórico, político, social e econômico, o Direito não se compreende apenas na legislação escrita, mas advém de diversas outras fontes, todas igualmente relevantes, que são, por exemplo, a doutrina, a jurisprudência, os usos e costumes, a analogia e a equidade. Em nosso sistema, temos que o Estado Democrático de Direito tem como pressuposto o respeito à Lei – aí entendida em sentido amplo, como conjunto de normas e de regras –, bem como na divisão dos Poderes Constituídos (Poderes DIREITO APLICADO À GESTÃO 41 Executivo, Legislativo e Judiciário), que se relacionam de forma independente e harmônica entre si, atuando segundo as suas finalidades competências constitucionalmente estabelecidas. Tem sua origem primária no texto da Constituição Federal, de onde advém todas as demais normas legais; essas normas serão de competência das respectivas esferas de administração pública, portanto federais, estaduais e municipais, e sua abrangência será determinada no tempo e no espaço. Unidade 2: Direito Civil e Responsabilidade Civil Introdução Objetivo Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de: Compreender os conceitos e elementos essenciais da personalidade, da capacidade, as modalidades de bens, os mecanismos de formação da relação obrigacional e da relação contratual, e ainda da responsabilidade civil. Conteúdo Programático Esta unidade está dividida em: Aula 1 - Personalidade e Capacidade Aula 2 - Obrigações e Contratos Aula 3 - Responsabilidade Civil DIREITO APLICADO À GESTÃO 42 A imagem demonstra a principal característica da personalidade, que é a dimensão exterior e social do ser humano, aquela com que interage socialmente e se relaciona com os demais integrantes da sociedade. A personalidade deriva do termo persona, que vem da denominação das máscaras do teatro grego, que os romanos apreenderam e passaram a empregar justamente pelo significado dessa exteriorização necessária à convivência social. Significa a personalidade como dimensão dinâmica e exterior do ser humano. Aula 1: Personalidade e Capacidade; pessoas e bens Rota de aprendizagem Aula 1 Personalidade e Capacidade; pessoas e bens Estude o conteúdo com o apoio de exemplos, problematizações e embasamento teórico. Conheça uma síntese das diferentes esferas da personalidade vendo o objeto Personalidade, capacidade, coisas e bens. Para saber mais sobre personalidade, capacidade, coisas e bens assista ao vídeo: A ideia em publicidade e propaganda. Aprofunde seu conhecimento sobre sujeitos de direito lendo o capítulo 6 no livro Direito Civil: introdução, pessoas e bens / Caxias do Sul, RS: Educs, 2012. Este livro encontra-se disponível na Biblioteca Virtual. Confira a sua aprendizagem realizando a atividade da aula. No estudo do Direito Civil, os sujeitos de Direitos são a primeira e mais essencial definição do nosso sistema de Direito e estão na base de toda e qualquer relação jurídica, porque definem pessoa, estabelecem as suas características e determinam a capacidade civil – ou capacidade de interação das pessoas no universo; definem bens e patrimônio e fundamentam o mundo econômico e negocial; as obrigações e os contratos estabelecem as diretrizes para a segurança dos negócios em sociedade e, finalmente, a responsabilidade civil identifica os atos ilícitos civis, os danos e as indenizações ou reparações DIREITO APLICADO À GESTÃO 43 deles decorrentes, garantindo a própria perpetuação da vida em sociedade. Sujeitos de Direitos, pessoa, personalidade Como anteriormente estudamos, os seres humanos organizaram-se socialmente e paralelamente a essa organização surgiram as normas e regras de conduta que, garantindo a vida em sociedade, compuseram o que hoje denominamos, em sentido amplo, como sendo o Direito; seu estabelecimento criou faculdades e normas de ação, na medida em que impunham obrigações ou garantiam direitos aos indivíduos nas suas inter-relações sociais com os demais, garantindo a sobrevivência do grupo. Surgia assim o primeiro dos institutos do Direito: o Sujeito de Direitos, o detentor de direitos e de deveres em esfera jurídica e social, o destinatário do conjunto de normas de conduta que conhecemos por Direito, aquele de quem se pode exigir determinado comportamento conforme a lei ou a quem se pode aplicar determinada sanção pela sua inobservância. Assim, somente será Sujeito de Direitos (assim considerado como sendo o destinatário do Direito) o ser humano; todos os demais organismos, todos os demais seres, todos os demais objetos, animados ou inanimados, móveis, imóveis ou semoventes, não serão Sujeitos de Direitos, não serão os destinatários das normas jurídicas, não estarão subordinados a normas e faculdades de agir, apenas entrando na seara do Direito para serem apropriados, para serem utilizados economicamente pelos Sujeitos de Direitos. Se a dimensão física do Sujeito de Direitos é o ser humano, a sua dimensão ideal será a pessoa: a representação social de sua individualidade, da sua distinção dentre todos os demais seres humanos, da apreensão da natureza de ente dotado de direitos e deveres, de obrigações e faculdades, de ente que interage em sociedade na forma estabelecida ou não proibida por tais normas de conduta. Assim, temos que o Sujeito de Direitos apresenta uma dimensão biológica – o ser humano, que é o indivíduo considerado em si mesmo, o indivíduo, dotado das características que o tornam titular de direitos e deveres inerentes à humanidade, e uma dimensão social – a pessoa, que é a representação dessa humanidade em planos coletivos, no curso da vida em sociedade. É o seguinte o teor do artigo 1º de nosso Código Civil: Art. 1º Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. O termo Pessoa deriva do vocábulo latino persona, que designava as máscaras https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/dag/re/u2/aula-1.htm#more-info-1 DIREITO APLICADO À GESTÃO 44 usadas pelos artistas das tragédias em suas encenações teatrais. Faziam, assim, alusão à representação exterior, externa, do ser humano em sociedade,distinguindo-a do conteúdo interior, personalíssimo, inerente à sua própria humanidade. À condição essencial da pessoa no Direito chama-se personalidade. Essa será a sua dimensão dinâmica, aquilo de que será dotada a pessoa que legitima o exercício dos direitos e deveres em esfera jurídica; é a personalidade que dá ao ser humano a interação necessária com seus pares para o exercício de sua condição de sujeito de direitos e deveres, possibilitando que viva e interaja com os demais segundo as normas de conduta de sua sociedade. Assim, personalidade será a medida da aptidão da pessoa para tornar-se titular de direitos e de obrigações em planos jurídicos e sociais. Temos, portanto, que serão os Sujeitos de Direitos assim estruturados: em sua dimensão biológica, de concretude, os seres humanos considerados em si mesmos, com seu conjunto de características específicas que os identifica e distingue de todos os demais componentes do Universo; em sua dimensão social, abstrata, ideal, as pessoas, a cuja representação dinâmica denominamos personalidade – e que é o canal de interação com o mundo. Objeto de Aprendizagem Vejamos agora uma animação que aborda as diferentes esferas da personalidade. Sob o critério da dinamicidade, a personalidade (que é esfera de investidura, esfera dinâmica, de movimento) será exclusividade da pessoa, que representa idealmente o sujeito de Direitos, cuja acepção física se integra ao ser humano – ou seja, a personalidade será atributo da pessoa, que corresponde à esfera social do ser humano, a personalização do sujeito de direitos e deveres, o destinatário de qualquer norma social. As pessoas poderão ter duas formas de existência: • Existência natural, física ou concreta (Forma plasticamente compreendida no ser humano). • Existência ideal ou abstrata (Abstração concebida socialmente para cumprimento de determinados negócios entre indivíduos ou entre grupos de indivíduos, e surgiu com a evolução e a crescente complexidade das relações em sociedade, principalmente as negociais). https://player.vimeo.com/video/356279030 https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/dag/re/u2/aula-1.htm https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/dag/re/u2/aula-1.htm DIREITO APLICADO À GESTÃO 45 Essas pessoas serão: a pessoa física, ou pessoa natural, cuja dimensão concreta e externa será o próprio ser humano, e a pessoa jurídica, denominação que se empresta usualmente à pessoa ideal, à pessoa abstrata, que é uma criação humana, uma ficção a que se empresta personalidade permitindo a prática de determinados atos ou negócios e que possui vida distinta de seus componentes. É certo, então, afirmarmos que existe um tipo de pessoa que não apresenta dimensão física, concreta; que não compreende nem é compreendida por um ser humano e, principalmente, que não existe por si própria (como as pessoas naturais ou físicas), mas sim e tão somente em virtude de uma criação abstrata e ficcional, que parte de uma ou mais pessoas físicas, e que, preenchidos certos requisitos determinados por lei, adquire personalidade, podendo praticar atos como uma individualidade distinta de seus instituidores. Exemplos desse tipo de pessoa (da pessoa jurídica) serão todas as empresas, todas as companhias, quaisquer que sejam as suas respectivas áreas de atuação e de funcionamento; serão pessoas jurídicas os bares, os restaurantes, os bancos, as instituições de ensino; a elas se atribui personalidade sob certas condições previstas em lei e para a prática de atos predeterminados em seu instrumento de constituição, que via de regra é o contrato social; elas poderão contratar entre si e com terceiros, ter funcionários, fazer investimentos, agindo por meio de seus representantes – sim, pela própria inexistência de sua esfera de concretude, como anteriormente pudemos mencionar Nosso Código Civil enumera a tipologia das pessoas jurídicas de que ora tratamos na forma seguinte: Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado: 1. as associações; 2. as sociedades; 3. as fundações; 4. as organizações religiosas; 5. os partidos políticos; 6. as empresas individuais de responsabilidade limitada. DIREITO APLICADO À GESTÃO 46 § 1º São livres a criação, a organização, a estruturação interna e o funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado ao poder público negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e necessários ao seu funcionamento. § 2º As disposições concernentes às associações aplicam-se subsidiariamente às sociedades que são objeto do. § 3º Os partidos políticos serão organizados e funcionarão conforme o disposto em lei específica. Temos, portanto, que as pessoas poderão ser físicas ou naturais ou jurídicas ou ideais, conforme a forma de que se revestirem (a primeira dotada de esfera morfológica, esfera física, esfera de concretude, e a segunda dotada apenas de esfera ideal ou abstrata); vimos ainda que apenas as pessoas poderão ser Sujeitos de Direitos e Deveres na esfera jurídica e social. Coisas, Bens Chegamos, então, à primeira e à principal distinção que fazemos em Direito e a que chegamos por exclusão: aquela que, literalmente, divide todo o Universo em duas modalidades, em dois tipos de seres: as pessoas e as coisas – e foi justamente essa distinção que permitiu que chegássemos ao atual estágio dos direitos das coisas (direitos de propriedade), ao direito comercial, ao direito tributário, entre outros tantos. Pessoas já definimos – e sabemos corresponderem, em síntese, aos seres humanos (vale dizer, só será pessoa aquele também dotado de humanidade); à definição de coisa chegamos por exclusão, fazendo um raciocínio a contrario sensu; portanto, coisa será tudo aquilo que não for pessoa. Uma vez que as pessoas representam os sujeitos de direitos em sociedade, as coisas apenas existem para serem apropriadas e, assim, atenderem à sua finalidade econômica. Essa determinação reside na própria dissociação fundamental que fazemos entre pessoa e coisa, considerando pessoa como destinatária das normas de direito e coisa como objeto a ser apropriado e sobre o qual incidirão as normas de que se fazem titulares as pessoas – e aí encontramos outra distinção: entre as coisas que possuem valor econômico e aquelas que não o possuem. Às coisas que possuem valor econômico – qualquer que seja a sua https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/dag/re/u2/aula-1.htm#more-info-2 DIREITO APLICADO À GESTÃO 47 natureza ou ordem de grandeza – denominamos bens; àquelas que não o possuem, denominamos simplesmente coisas. Todavia, no mundo atual, o estado de evolução tecnológica restringe, de fato, a possibilidade de existência de uma coisa a que ninguém possa emprestar valor econômico algum. Os velhos e clássicos exemplos para coisas sem valor econômico estão de há muito ultrapassados (pela própria evolução social), não mais se prestando para designar coisas sem valor a água e o ar atmosférico – que foram, por muito tempo, exemplos frequentes de coisas sem medida de valoração, que poderiam, dessa forma, ser apreendidas por qualquer um a qualquer tempo sem consequências econômico-jurídicas relevantes. Ninguém duvidaria, em sã consciência, de que nos dias atuais, a Humanidade não pode considerar a água doce potável como objeto desprovido de estimativa econômica, o mesmo se dando com o ar atmosférico não poluído. O atual estágio de nossa evolução tecnológica levou a um aproveitamento tão abrangente dos elementos de qualquer natureza que a cada dia se torna menos crível a existência de algo desprovido de qualquer valor (ou algo que não tenha jamais valor algum para ninguém). Tipologia e classificação dos Bens Diferentemente das pessoas, os bens podem revestir-se de características tão distintas entre si como um tijolo e um passarinho, razão pela qual são analisados em suas subdivisões, a saber: 1. Bens Móveis - São aqueles que se podem transportar de um ponto a outro sem que