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Contratos e responsabilidade contratual

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EXTINÇÃO DOS CONTRATOS 
 
MODO NORMAL DE EXTINÇÃO 
 
Os contratos, assim como os negócios jurídicos em geral, têm também 
um ciclo vital: nascem do acordo de vontades, produzem os efeitos que lhes são 
próprios e extinguem -se. 
Como assinala Humberto Theodoro Júnior, “ao contrário dos direitos 
reais, que tendem à perpetuidade, os direitos obrigacionais gerados pelo 
contrato caracterizam -se pela temporalidade. Não há contrato eterno. O vínculo 
contratual é, por natureza, passageiro e 
deve desaparecer, naturalmente, tão logo o devedor cumpra a prestação 
prometida ao credor”. 
A extinção dá -se, em regra, pela execução, seja ela instantânea, diferida 
ou continuada. O cumprimento da prestação libera o devedor e satisfaz o credor. 
Este é o meio normal de extinção do contrato. Comprova -se o pagamento pela 
quitação fornecida pelo credor, observados os requisitos exigidos no art. 320 do 
Código Civil, que assim dispõe: “A quitação, que sempre poderá ser dada por 
instrumento particular, designará o valor e a espécie da dívida quitada, o nome 
do devedor, ou quem por este pagou, o tempo e o lugar do pagamento, com a 
assinatura do credor, ou do seu representante. 
 
EXTINÇÃO DO CONTRATO SEM CUMPRIMENTO 
 
Causas anteriores ou contemporâneas à formação do contrato 
As causas anteriores ou contemporâneas à formação do contrato são, 
pois: Defeitos decorrentes do não preenchimento de seus requisitos, que afetam 
a sua validade, acarretando a nulidade absoluta ou relativa (anulabilidade): 
a) subjetivos (capacidade das partes e livre consentimento); 
b) objetivos (objeto lícito, possível, determinado ou determinável); e c) 
formais (forma prescrita em lei). 
Implemento de cláusula resolutiva, expressa ou tácita; e Exercício do 
direito de arrependimento convencionado. 
 
NULIDADE ABSOLUTA E RELATIVA 
 
Nulidade absoluta: decorre de ausência de elemento essencial do ato, 
com transgressão a preceito de ordem pública, impedindo que o contrato 
produza efeitos desde a sua formação (ex tunc). Tratando -se de vício originário, 
verificado na fase genética da obrigação, e sendo o caso de ineficácia em sentido 
amplo (ato nulo é ineficaz), como observa Ruy Rosado de Aguiar Júnior261, o 
pronunciamento da nulidade pode ser requerido em juízo a qualquer tempo, por 
qualquer interessado, podendo ser declarada de ofício pelo juiz ou por promoção 
do Ministério Público (CC, art. 168). Se a hipótese for de nulidade parcial, só 
quanto a ela poderá ser exercido o direito (art. 184). 
Quando cabível a conversão (art. 170), a procedência do pedido extintivo 
de nulidade será apenas parcial, devendo o juiz declarar qual o negócio jurídico 
que subsiste. 
Anulabilidade: advém da imperfeição da vontade: ou porque emanada 
de um relativamente incapaz não assistido (prejudicando o interesse particular 
de pessoa que o legislador quis proteger), ou porque contém algum dos vícios 
do consentimento, como erro, dolo, coação etc. Como pode ser sanada e até 
mesmo não arguida no prazo prescricional, não extinguirá o contrato enquanto 
não se mover ação que a decrete, sendo ex nunc os efeitos da sentença. 
Malgrado também contenha vício congênito, é eficaz até sua decretação pelo 
juiz. 
Diversamente da nulidade, não pode ser arguida por ambas as partes 
da relação contratual, nem declarada ex officio pelo juiz. 
Legitimado a pleitear a anulação está somente o contraente em cujo 
interesse foi estabelecida a regra (CC, art. 177). 
Tratando -se apenas de proteger o interesse do incapaz, do lesado, do 
enganado ou do ameaçado, só a estes — e, nos casos de incapacidade, 
devidamente assistidos por seu representante legal — cabe decidir se pedem ou 
não a anulação. 
 
CLÁUSULA RESOLUTIVA. O ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL DO 
CONTRATO 
 
Na execução do contrato, cada contraente tem a faculdade de pedir a 
resolução se o outro não cumpre as obrigações avençadas. 
Essa faculdade pode resultar: a) de convenção (cláusula resolutiva 
expressa ou pacto comissório expresso); ou b) de presunção legal (cláusula 
resolutiva tácita ou implícita). 
 
• Cláusula resolutiva tácita: em todo contrato bilateral ou sinalagmático 
pre sume -se a existência de uma cláusula resolutiva tácita, autorizando o lesado 
pelo inadimplemento a pleitear a resolução do contrato, com perdas e danos. O 
art. 475 do Código Civil proclama, com efeito: “A parte lesada pelo 
inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir -lhe o 
cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e 
danos.” 
O contratante pontual tem, assim, ante o inadimplemento da outra parte, 
a alternativa de: a) resolver o contrato; ou b) exigir -lhe o cumprimento mediante 
a execução específica (CPC, art. 497). 
Em qualquer das hipóteses, fará jus à indenização por perdas e danos. 
 
• Teoria do adimplemento substancial: o adimplemento substancial do 
contrato, todavia, tem sido reconhecido, pela doutrina, como impedimento à 
resolução unilateral do contrato. Sustenta -se que a hipótese de resolução 
contratual por inadimplemento haverá de ceder diante do pressuposto do 
atendimento quase integral das obrigações pactuadas, ou seja, do 
descumprimento insignificante da avença, não se afigurando razoável a sua 
extinção como resposta jurídica à preservação e à função social do contrato (CC, 
art. 421). 
 
A introdução da boa -fé objetiva nos contratos, como requisito de 
validade, de conclusão e de execução, em regra expressa e norma positivada 
pelo art. 422 do Novo Código Civil, trouxe consigo o delineamento da teoria da 
substancial performance como exigência e fundamento do princípio consagrado 
em cláusula geral aberta na relação contratual. É pela observância de tal 
princípio, notadamente aplicável aos contratos massificados, que a teoria se 
situa preponderante, como elemento impediente ao direito de resolução do 
contrato, sob a inspiração da doutrina de Couto e Silva. 
 
Para a caracterização do adimplemento substancial (tal qual 
reconhecido pelo Enunciado 361 da IV Jornada de Direito Civil — CJF), leva-se 
em conta tanto aspectos quantitativos quanto qualitativos” (Enunciado 586). Ou 
seja, em uma obra de construção civil, por exemplo, de construção de um edifício 
de vários andares, pode ser considerada falta grave uma única omissão, como 
a não colocação dos elevadores, porque impossibilitaria ou dificultaria muito o 
seu uso; e de pouca monta, aplicando-se então à hipótese a teoria do 
adimplemento substancial, vários pequenos defeitos, que não inviabilizam a 
utilização da obra. 
Pior que a disparidade entre decisões proferidas com base em situações 
fáticas semelhantes — notadamente, aquelas em que há cumprimento 
quantitativo de 60 a 70% do contrato —, o que espanta é a ausência de uma 
análise qualitativa, imprescindível para se saber se o cumprimento não integral 
ou imperfeito alcançou ou não a função que seria desempenhada pela relação 
obrigacional em concreto. Em outras palavras, urge reconhecer que não há um 
parâmetro numérico fixo que possa servir de divisor de águas entre o 
adimplemento substancial ou o inadimplemento tout court, passando a aferição 
de substancialidade por outros fatores que escapam ao mero cálculo percentual. 
 
• Cláusula resolutiva expressa: o Código Civil de 2002 prevê a cláusula 
resolutiva expressa sem qualquer limitação, seja quanto à natureza do contrato, 
seja quanto à parte beneficiada (pode afetar qualquer das partes), no art. 474, 
verbis: “A cláusula resolutiva expressa opera de pleno direito; a tácita depende 
de interpelação judicial.” 
Bem andou o atual diploma, tratando como cláusula, e não como 
condição, a hipótese prevista no dispositivo retrotranscrito. 
Também, acertadamente, suprimiu a referência que o parágrafo único 
do art. 119 do Código de 1916 fazia à condição resolutiva tácita, por não se tratar 
propriamente de condição em sentido técnico, considerando-se que esta só se 
configura caso aposta ao negócio jurídico. E a denominada condição resolutiva 
expressa — que é, juridicamente, condição — opera, como qualquer outra 
condição em sentido técnico, de pleno direito. 
• Necessidade de pronunciamento judicial: em ambos os casos, tanto 
no de cláusula resolutiva expressa ou convencional como no de cláusula 
resolutiva tácita, a resolução deve ser judicial, ou seja, precisa ser judicialmente 
pronunciada. No primeiro, a sentença tem efeito meramente declaratório e ex 
tunc, pois a resolução dá -se automaticamente, no momento do inadimplemento; 
no segundo, tem efeito desconstitutivo, dependendo de interpelação judicial. 
Havendo demanda, será possível aferir a ocorrência dos requisitos exigidos para 
a resolução e, inclusive, examinar a validade da cláusula, bem como avaliar a 
importância do inadimplemento, pois a cláusula resolutiva, “apesar de 
representar manifestação de vontade das partes, não fica excluída da obediência 
aos princípios da boa -fé e das exigências da justiça comutativa. 
 
DIREITO DE ARREPENDIMENTO 
 
Quando expressamente previsto no contrato, o arrependimento autoriza 
qualquer uma das partes a rescindir o ajuste, mediante declaração unilateral da 
vontade, sujeitando -se à perda do sinal ou à sua devolução em dobro sem, no 
entanto, pagar indenização suplementar. Configuram -se, in casu, as arras 
penitenciais, previstas no art. 420 do Código Civil272. 
O direito de arrependimento deve ser exercido no prazo convencionado 
ou antes da execução do contrato se nada foi estipulado a esse respeito, pois o 
adimplemento deste importará renúncia tácita àquele direito. 
O Código de Defesa do Consumidor concede a este o direito de desistir 
do contrato, no prazo de sete dias, sempre que a contratação se der fora do 
estabelecimento comercial, especialmente quando por telefone ou em domicílio, 
com direito de devolução do que pagou, sem obrigação de indenizar perdas e 
danos (art. 49). Trata -se de caso especial de arrependimento, com desfazimento 
do contrato por ato unilateral do consumidor. O fundamento encontra -se na 
presunção de que, por ter sido realizado fora do estabelecimento comercial, o 
contrato não foi celebrado com a reflexão necessária. 
 
CAUSAS SUPERVENIENTES À FORMAÇÃO DO CONTRATO 
 
Verifica -se a dissolução do contrato em função de causas posteriores à 
sua criação por: resolução, como consequência do seu inadimplemento 
voluntário, involuntário ou por onerosidade excessiva; resilição, pela vontade de 
um ou de ambos os contratantes; morte de um dos contratantes, se o contrato 
for intuitu personae; e rescisão, modo específico de extinção de certos contratos. 
 
RESOLUÇÃO 
 
A obrigação visa à realização de determinado fim. Nem sempre, no 
entanto, os contraentes conseguem cumprir a prestação avençada, em razão de 
situações supervenientes, que impedem ou prejudicam a sua execução. A 
extinção do contrato mediante resolução tem como causa a inexecução ou 
incumprimento por um dos contratantes. 
Resolução, portanto, na lição de Orlando Gomes, é “um remédio 
concedido à parte para romper o vínculo contratual mediante ação judicial”. O 
inadimplemento por ser voluntário (culposo) ou não (involuntário). 
 
 
RESOLUÇÃO POR INEXECUÇÃO VOLUNTÁRIA 
 
A resolução por inexecução voluntária decorre de comportamento 
culposo de um dos contraentes, com prejuízo ao outro. Produz efeitos ex tunc, 
extinguindo o que foi executado e obrigando a restituições recíprocas, 
sujeitando, ainda, o inadimplente ao pagamento: a) das perdas e danos; e b) da 
cláusula penal, convencionada para o caso de total inadimplemento da 
prestação (cláusula penal compensatória), em garantia de alguma cláusula 
especial ou para evitar o retardamento (cláusula penal moratória), conforme os 
arts. 475 e 409 a 411 do Código Civil. 
Entretanto, se o contrato for de trato sucessivo, como o de prestação de 
serviços de transporte e o de locação, por exemplo, a resolução não produz 
efeito em relação ao pretérito, não se restituindo as prestações cumpridas. O 
efeito será, nesse caso, ex nunc. 
O devedor acionado por resolução pode apresentar várias defesas, de 
direito material ou de natureza processual, por exemplo: que o contrato não é 
bilateral; que o cumpriu integralmente ou de modo substancial, suficiente para 
impedir a sua resolução (não foi paga apenas pequena parcela do preço); que 
não o cumpriu porque o credor, que deveria cumprir antes a sua parte, não o fez 
(exceptio non adimpleti contractus); que o credor já não está legitimado à ação, 
porque houve cessão da posição contratual, ou que o réu já não é o devedor, 
em virtude de assunção dessa posição, com exclusão da responsabilidade; 
prescrição do direito de crédito; ou advento de circunstâncias que alteraram a 
base do negócio, tornando inexigível a prestação (onerosidade excessiva). 
É necessário que o não cumprimento invocado por quem pede a 
resolução “seja razoavelmente sério e grave, e prejudique, de modo 
objetivamente considerável, o seu interesse”. Se uma parte manifestou sempre 
tolerância por certa margem de atraso ou de pagamento de valor inexato, pouco 
inferior ao convencionado, “isto pode ter relevância para excluir a possibilidade 
de resolução do contrato por falta de cumprimento integral”. 
O juiz, ao avaliar, em cada caso, a existência desses pressupostos, 
levará em conta os princípios da boa-fé e da função social do contrato, bem como 
as legítimas expectativas das partes em relação à complexidade econômica do 
negócio. 
 
 
RESOLUÇÃO POR INEXECUÇÃO INVOLUNTÁRIA 
 
A resolução pode também decorrer de fato não imputável às partes, 
como sucede nas hipóteses de ação de terceiro ou de acontecimentos 
inevitáveis, alheios à vontade dos contraentes, denominados caso fortuito ou 
força maior, que impossibilitam o cumprimento da obrigação. 
• Requisitos — a inexecução involuntária caracteriza -se pela 
impossibilidade superveniente de cumprimento do contrato. 
Há de ser: a) objetiva, isto é, não concernir à própria pessoa do devedor, 
pois deixa de ser involuntária se de alguma forma este concorre para que a 
prestação se torne impossível285; b) a impossibilidade deve ser, também, total, 
pois, se a inexecução for parcial e de pequena proporção, o credor pode ter 
interesse em que, mesmo assim, o contrato seja cumprido; c) há de ser, ainda, 
definitiva. Em geral, a impossibilidade temporária acarreta apenas a suspensão 
do contrato. Somente se justifica a resolução, neste caso, se a impossibilidade 
persistir por tanto tempo que o cumprimento da obrigação deixa de interessar ao 
credor. Mera dificuldade, ainda que de ordem econômica, não se confunde com 
impossibilidade de cumprimento da avença, exceto se caracterizar onerosidade 
excessiva. 
O inadimplente não fica, no caso de inexecução involuntária, 
responsável pelo pagamento de perdas e danos, salvo se expressamente 
obrigou -se a ressarcir os “prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior” 
ou estiver “em mora” (CC, arts. 393 e 399). A resolução opera de pleno direito. 
Cabe a intervenção judicial para proferir sentença de natureza declaratória e 
obrigar o contratante a restituir o que recebeu. O efeito da resolução por 
inexecução decorrente do fortuito e da força maior é retroativo, da mesma forma 
como ocorre na resolução por inexecução culposa, com a diferença que, na 
primeira hipótese, o devedor não responde por perdas e danos. Todavia, deve 
restituir o que eventualmente tenha recebido, uma vez resolvido o contrato. 
 
RESOLUÇÃO POR ONEROSIDADE EXCESSIVA - CLÁUSULA 
“REBUS SIC STANTIBUS” E A TEORIA DA IMPREVISÃO 
 
Embora o princípio pacta sunt servanda ou da intangibilidade do contrato 
seja fundamental tanto para a segurança nos negócios quanto a qualquer 
organização social, os negócios jurídicos podem sofrer as consequências de 
modificações posteriores das circunstâncias,com quebra insuportável da 
equivalência. Tal constatação deu origem ao princípio da revisão dos contratos 
ou da onerosidade excessiva, que se opõe àquele, pois permite aos contratantes 
recorrerem ao Judiciário para obterem alteração da convenção e condições mais 
humanas em determinadas situações. 
• Breve retrospecto histórico — essa teoria originou -se na Idade Média, 
mediante a constatação de que fatores externos podem gerar, quando da 
execução da avença, uma situação diversa da que existia no momento da 
celebração, onerando excessivamente o devedor. Desenvolveu -se com o nome 
de rebus sic stantibus e consiste basicamente em presumir, nos contratos 
comutativos, de trato sucessivo e de execução diferida, a existência implícita 
(não expressa) de uma cláusula, pela qual a obrigatoriedade de seu 
cumprimento pressupõe a inalterabilidade da situação de fato. Se esta, no 
entanto, modificar -se em razão de acontecimentos extraordinários, como uma 
guerra, que tornem excessivamente oneroso para o devedor o seu 
adimplemento, poderá este requerer ao juiz que o isente da obrigação, parcial 
ou totalmente. 
A referida teoria permaneceu longo tempo no esquecimento, sobretudo 
após o movimento revolucionário do século XVIII, quando se pregou que o 
homem, livre e igual, podia obrigar -se em pactos individuais com a mesma força 
vinculativa e obrigatória da lei. O recrudescimento da cláusula rebus sic stantibus 
veio a ocorrer, porém, efetivamente, no período da I Guerra Mundial, de 1914 a 
1918, que provocou um desequilíbrio nos contratos de longo prazo. 
Na França, editou -se a Lei Faillot, de 21 de janeiro de 1918. Na 
Inglaterra, recebeu a denominação de Frustration of Adventure. 
Outros a acolheram em seus Códigos, fazendo as devidas adaptações 
às condições atuais. A teoria da impossibilidade superveniente, regulada nos 
Códigos contemporâneos, aplica -se a diversas situações criadas por 
modificação posterior da situação de fato, ensejando a quebra do contrato287. 
Entre nós, a teoria em relevo foi adaptada e difundida por Arnoldo 
Medeiros da Fonseca com o nome de teoria da imprevisão. Em razão da forte 
resistência oposta à teoria revisionista, o referido autor incluiu o requisito da 
imprevisibilidade para possibilitar a sua adoção. Assim, não era mais suficiente 
a ocorrência de um fato extraordinário para justificar a alteração contratual. 
Passou a ser exigido que este fosse também imprevisível. É por essa razão que 
os tribunais não aceitam a inflação e alterações na economia como causas para 
a revisão dos contratos. Tais fenômenos são considerados previsíveis entre nós. 
A resolução por onerosidade excessiva tem a característica de poder ser 
utilizada por ambas as partes, seja pelo devedor, seja pelo credor. 
 
Onerosidade excessiva e contratos aleatórios — em linha geral, o 
princípio da resolução dos contratos por onerosidade excessiva não se aplica 
aos contratos aleatórios, porque estes envolvem um risco, sendo -lhes ínsita a 
álea e a influência do acaso, salvo se o imprevisível decorrer de fatores 
estranhos ao risco próprio do contrato. A propósito, que “nunca haverá lugar para 
a aplicação da teoria da imprevisão naqueles casos em que a onerosidade 
excessiva provém da álea normal e não do acontecimento imprevisto, como 
ainda nos contratos aleatórios, em que o ganho e a perda não podem estar 
sujeitos a um gabarito determinado. 
 
RESILIÇÃO 
A resilição não deriva de inadimplemento contratual, mas unicamente da 
manifestação de vontade, que pode ser: a) bilateral; ou b) unilateral. 
Resilir, do latim resilire, significa, etimologicamente, “voltar atrás”. 
Resilição bilateral — a resilição bilateral denomina -se distrato, que é o 
acordo de vontades que tem por fim extinguir um contrato anteriormente 
celebrado. 
Resilição unilateral — a unilateral, por sua vez, pode ocorrer somente 
em determinados contratos, pois a regra é a impossibilidade de um contraente 
romper o vínculo contratual por sua exclusiva vontade. 
 
DISTRATO E QUITAÇÃO 
 
Dispõe o art. 472 do Código Civil: “O distrato faz -se pela mesma forma 
exigida para o contrato.” 
A quitação, porém, segundo o art. 320 do mesmo diploma, inserido no 
capítulo concernente à prova do pagamento, “sempre poderá ser dada por 
instrumento particular”. Não precisa, destarte, obedecer à mesma forma do 
contrato. Hipoteca, por exemplo, só pode ser convencionada por escritura 
pública. A quitação do crédito hipotecário, contudo, pode ser outorgada por 
instrumento particular. Entretanto, como o citado dispositivo exige determinados 
requisitos para a validade da quitação, dentre eles a assinatura do credor, 
obviamente esta deve ter a forma escrita. 
Conceito de distrato: segundo a lição de Caio Mário, distrato ou 
resilição bilateral “é a declaração de vontade das partes contratantes, no sentido 
oposto ao que havia gerado o vínculo. É o contrarius consensus dos romanos, 
gerando o contrato liberatório. Algumas vezes é chamado de mútuo dissenso”. 
Mais adequada se mostra a expressão mútuo consenso, que dá a ideia 
de vontade concordante. 
Qualquer contrato pode cessar pelo distrato: é necessário, todavia, que 
os efeitos não estejam exauridos, uma vez que o cumprimento é a via normal da 
extinção. Contrato extinto não precisa ser dissolvido. Se já produziu algum efeito, 
o acordo para extingui-lo não é distrato, mas outro contrato que modifique a 
relação. O mecanismo do distrato é o que está presente na celebração do 
contrato: a mesma vontade humana, que tem o poder de criar, atua na direção 
oposta para dissolver o vínculo e devolver a liberdade àqueles que se 
encontravam compromissados. 
• Interpretação racional do art. 472 retrotranscrito: a exigência de 
observância da mesma forma exigida para o contrato, feita no citado art. 472, 
não deve ser interpretada, contudo, de forma literal, mas com temperamento: o 
distrato deve obedecer à mesma forma do contrato a ser desfeito quando este 
tiver forma especial, mas não quando esta for livre. 
Desse modo, a compra e venda de imóvel de valor superior à taxa legal, 
que exige escritura pública, só pode ser desfeita, de comum acordo, por outra 
escritura pública. Mas o contrato de locação, que tem forma livre, pode ser objeto 
de distrato verbal, mesmo tendo sido constituído mediante contrato escrito, por 
exemplo. 
Proclamou o Tribunal de Justiça de São Paulo: “Nos termos do art. 472 
do Código Civil, ‘o distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato’. 
Vale salientar que, consoante referido dispositivo, o distrato deve ocorrer pela 
forma exigida por lei. Logo, se o contrato tem forma livre, como é o caso do 
contrato de locação ora em análise, o distrato também o terá. Destarte, ainda 
que as partes tenham celebrado o contrato de locação de fls. 06/08 por 
instrumento escrito, possível que o distrato seja realizado de modo verbal do 
caso em análise”. 
Os efeitos do distrato são, efetivamente, ex nunc, para o futuro, não se 
desfazendo os anteriormente produzidos. 
Resilição unilateral: denúncia, revogação, renúncia e resgate A 
resilição, como já se disse, não deriva de inadimplemento contratual, mas, sim, 
unicamente da manifestação de vontade. O fundamento para a sua efetivação 
seria, assim, a vontade presumida. Outras vezes, o contrato se baseia na 
confiança e só perdura enquanto esta existir entre as partes. Por último, os 
próprios sujeitos reservam -se o direito de arrependimento, submetendo -se à 
perda ou ao pagamento em dobro das arras penitenciais. 
Segundo Orlando Gomes304, a faculdade de resilição unilateral é 
suscetível de ser exercida: a) nos contratos por tempo indeterminado; b) nos 
contratos de execução continuada, ou periódica; c) nos contratos em geral, cuja 
execução não tenha começado; d) nos contratos benéficos; e e) nos contratos 
de atividade. 
A resilição é o meio próprio para dissolver os contratos por tempoindeterminado. Se não fosse assegurado o poder de resilir, seria impossível ao 
contratante libertar -se do vínculo caso o outro não concordasse. Pode ocorrer, 
assim, somente nas obrigações duradouras, contra a sua renovação ou 
continuação, independentemente do não cumprimento da outra parte, nos casos 
permitidos na lei (p. ex., denúncia prevista nos arts. 6º, 46, § 2º, e 57 da Lei n. 
8.245, de 18-10-1991, sobre locação de imóveis urbanos) ou no contrato. 
• Denúncia: obrigação duradoura é aquela que não se esgota em uma 
só prestação, mas supõe um período de tempo mais ou menos extenso, tendo 
por conteúdo ou uma conduta duradoura (cessão de uso, arrendamento, 
locação), ou a realização de prestações periódicas (como no pagamento dos 
aluguéis e no fornecimento de gás, de alimentação, de energia, de mercadorias 
etc. por prazo indeterminado). Nesses casos, a resilição denomina -se denúncia. 
• Revogação ou renúncia: podem ser mencionados, ainda, como 
exemplos de contratos que admitem resilição, os de mandato, comodato e 
depósito. No primeiro, a resilição denomina -se revogação ou renúncia, conforme 
a iniciativa seja, respectivamente, do mandante ou do mandatário. Efetivamente, 
os contratos estipulados no pressuposto da confiança recíproca entre as partes 
podem resilir -se ad nutum, pelas formas mencionadas. 
• Resgate: na enfiteuse, ocorre o resgate (CC/1916, art. 693), como 
modo de liberação unilateral do ônus real. 
• Declaração receptícia da vontade: a resilição unilateral independe de 
pronunciamento judicial e produz efeitos ex nunc, não retroagindo. Para valer, 
deve ser notificada à outra parte, produzindo efeitos a partir do momento em que 
chega a seu conhecimento. É, destarte, declaração receptícia da vontade. 
A princípio, não precisa ser justificada, mas em certos contratos exige -
se que obedeça à justa causa. Nessas hipóteses, a inexistência de justa causa 
não impede a resilição do contrato, mas a parte que o resiliu injustamente fica 
obrigada a pagar à outra perdas e danos306. 
• Hipótese em que uma das partes efetuou investimentos 
consideráveis: dispõe o art. 473 do Código Civil de 2002, inovando: “A resilição 
unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera 
mediante denúncia notificada à outra parte. 
Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das 
partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execução, a denúncia 
unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a 
natureza e o vulto dos investimentos.” 
Na hipótese, em vez de simplesmente determinar o pagamento de 
perdas e danos sofridas pela parte que teve prejuízos com a dissolução unilateral 
do contrato, o legislador optou por atribuir uma tutela específica, convertendo o 
contrato, que poderia ser extinto por vontade de uma das partes, em um contrato 
comum, com duração pelo prazo compatível com a natureza e o vulto dos 
investimentos. Em um contrato de comodato de imóvel sem prazo, por exemplo, 
não é razoável que, poucos dias depois de o comodatário se instalar, o 
comodante solicite a sua restituição sem a ocorrência de fato superveniente que 
a justifique. 
Nesse caso, se o comodatário realizou obras no imóvel para ocupá -lo, 
esse prazo ainda pode estender -se por muito mais tempo. 
Certos contratos, todavia, não comportam a incidência da regra do 
mencionado parágrafo único do art. 473 do atual diploma. O de mandato, por 
exemplo, admite por sua natureza a resilição incondicional, porque se esteia na 
relação de confiança entre as partes. Nessas situações, resta ao lesado “apenas 
obter indenização pelos danos sofridos, sem a possibilidade de extensão 
compulsória da vigência do contrato”. 
Quando, em um contrato bilateral, as partes convencionam a 
possibilidade de resilição voluntária por declaração unilateral de vontade (no 
contrato de trabalho por tempo determinado em que se reservam o direito de 
resilir ante tempus, mediante aviso prévio, p.ex.), produz ela as consequências 
do distrato. Embora a notificação seja unilateral, a cessão do contrato é efeito do 
ajuste bilateral realizado. Por essa razão, é tratada por alguns autores, como 
Orlando Gomes308, enquanto resilição convencional. 
 
MORTE DE UM DOS CONTRATANTES 
 
A morte de um dos contratantes só acarreta a dissolução dos contratos 
personalíssimos (intuitu personae), que não poderão ser executados pela morte 
daquele em consideração do qual foi ajustado. Subsistem as prestações 
cumpridas, pois o seu efeito opera -se ex nunc. 
Nesses casos, a impossibilidade da execução do contrato sem culpa tem 
como consequência a sua resilição automática, dado que é insubstituível a parte 
falecida. Essa cessação, segundo expressa Caio Mário, citando os irmãos 
Mazeaud, pode -se dizer resilição convencional tácita, por entender -se que os 
contratantes a avençaram com a cláusula implícita de extinção. 
 
RESCISÃO 
 
Entre nós, o termo rescisão é usado como sinônimo de resolução e de 
resilição. Deve ser empregado, no entanto, em boa técnica, nas hipóteses de 
dissolução de determinados contratos, como aqueles em que ocorreu lesão ou 
que foram celebrados em estado de perigo. 
Segundo Messineo, dois, efetivamente, são os casos em que se admite 
a rescisão: a) quando o contrato é celebrado em estado de perigo e em 
condições iníquas; b) quando acarreta uma lesão sofrida por uma das partes, 
determinada por uma situação de necessidade que a impulsionou a concluí -lo. 
■ A lesão: é defeito do negócio jurídico, que se configura quando uma 
pessoa obriga -se a prestação manifestamente desproporcional ao valor da 
prestação assumida pelo outro contraente (CC, art. 157). É, assim, como 
dissemos na 1ª Parte desta obra, item 7.5.6.1, o prejuízo resultante da enorme 
desproporção existente entre as prestações de um contrato, no momento de sua 
celebração, determinada pela premente necessidade ou inexperiência de uma 
das partes. O Código Civil a considera um vício do consentimento, que torna 
anulável o contrato (art. 178, II). 
■ O estado de perigo: assemelha -se à anulação pelo vício da coação 
e caracteriza -se quando a avença é celebrada em condições desfavoráveis a 
um dos contratantes, que assume obrigação excessivamente onerosa, em 
situação de extrema necessidade, conhecida da outra parte (CC, art. 156). Os 
efeitos da sentença retroagem à data da celebração do contrato, em ambos os 
casos. Destarte, a parte que recebeu fica obrigada a restituir. O art. 178, II, do 
Código Civil declara anulável o negócio jurídico celebrado em estado de perigo.

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