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OFICINA DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM SERVIÇO SOCIAL PROF.A MARIA JOSÉ POMBALINO Reitor: Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira Pró-reitor: Prof. Me. Ney Stival Diretoria EAD: Prof.a Dra. Gisele Caroline Novakowski PRODUÇÃO DE MATERIAIS Diagramação: Alan Michel Bariani Thiago Bruno Peraro Revisão Textual: Felipe Veiga da Fonseca Letícia Toniete Izeppe Bisconcim Luana Ramos Rocha Produção Audiovisual: Eudes Wilter Pitta Paião Márcio Alexandre Júnior Lara Marcus Vinicius Pellegrini Osmar da Conceição Calisto Gestão de Produção: Kamila Ayumi Costa Yoshimura Fotos: Shutterstock © Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo (a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá. Primeiramente, deixo uma frase de Sócrates para reflexão: “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida.” Cada um de nós tem uma grande responsabilidade sobre as escolhas que fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica e profissional, refletindo diretamente em nossa vida pessoal e em nossas relações com a sociedade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente e busca por tecnologia, informação e conhecimento advindos de profissionais que possuam novas habilidades para liderança e sobrevivência no mercado de trabalho. De fato, a tecnologia e a comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e nos proporcionando momentos inesquecíveis. Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a Distância, a proporcionar um ensino de qualidade, capaz de formar cidadãos integrantes de uma sociedade justa, preparados para o mercado de trabalho, como planejadores e líderes atuantes. Que esta nova caminhada lhes traga muita experiência, conhecimento e sucesso. Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira REITOR 33WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 01 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................................4 1. O PARADIGMA DA RELAÇÃO DE FORÇAS – UMA PROPOSTA DE RELAÇÃO TEÓRICO - PRÁTICA ...............5 2. AS ESTRATÉGIAS DE FORTALECIMENTO E ARTICULAÇÃO DA TRAJETÓRIA PROFISSIONAL – INTERVEN- ÇÃO .............................................................................................................................................................................11 3. A PERSPECTIVA RACIONALISTA FORMAL – ABSTRATA NAS ELABORAÇÕES TEÓRICO PRÁTICOS DO SERVIÇO SOCIAL .......................................................................................................................................................14 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................................................................... 26 ESTRATÉGIAS NO SERVIÇO SOCIAL PROF.A MARIA JOSÉ POMBALINO ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: OFICINA DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM SERVIÇO SOCIAL 4WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Buscaremos nesta unidade, antes de nos adentrarmos nos “instrumentos técnicos operativos do serviço social”, que é de suma importância para o desenvolvimento do nosso trabalho, mas necessita ser repensado e realimentado constantemente, refletiremos um pouco sobre a teoria – prática. Nos aprofundaremos nas questões relacionadas aos sujeitos da nossa intervenção profissional, visando propiciar uma reflexão voltada para a ação, para podermos ter subsídios para discutir a intervenção profissional no processo prático – operativo, próprio do serviço social. Existem dispositivos supostos em determinados paradigmas ou concepções técnico – metodológica que não é possível desvelar aqui neste momento, mas que não podemos deixar de fazer referência. Buscamos refletir a prática do Serviço Social, a intervenção profissional e abordarmos sobre as relações sociais de classe, gênero, raça, cultura, que estão envolvidos em todo trabalho social. As reflexões sobre o saber profissional se fazem necessária, necessita ser mais articulada. Portanto, o profissional do Serviço Social não pode ficar a “mercê” das mesmas teorias, projetos e instrumentos para realizar a sua prática A articulação das mediações particulares, individuais ou coletivas, exigidas pelo trabalho cotidiano, com as exigências do contexto econômico, político, imaginário, ideológico é que vai permitir a construção de estratégias no tempo social, familiar e especifico colocado pelos usuários na relação com a intervenção profissional/institucional. Esta perspectiva, que esteve sempre implícita em nossos trabalhos, não descarta o papel ativo dos atores sociais nem as condições em que atuam (FALEIROS, 2007, p. 31). Reforçado por Iamamoto (2015), na fala de Faleiros, o trabalho do assistente social, em função de sua qualificação profissional, dispõe de uma relativa autonomia, teórica, ético e política. Todavia essas dependem de meios e recursos para serem efetivadas. Para facilitar a compreensão do texto e a didática de estudo, buscaremos dividi-lo em quatro unidades, e cada uma com três tópicos para que você tenha a possibilidade de visualizar de forma clara e compreender o conteúdo que será exposto. Bons estudos. 5WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 1. O PARADIGMA DA RELAÇÃO DE FORÇAS – UMA PROPOSTA DE RELAÇÃO TEÓRICO - PRÁTICA Necessitamos definir os paradigmas da relação de forças, que segundo Faleiros (2007): [...] a concepção da intervenção profissional como confrontação de interesses, recursos, energia, conhecimentos, inscrita no processo de hegemonia/ contra hegemonia, de dominação/ resistência e conflito/ consenso que os grupos sociais desenvolvem a partir de seus projetos societários básicos, fundados nas relações de exploração e poder. (FALEIROS, 2007, p. 44). O processo de intervenção vai além dos relacionamentos e da solução imediata de “problemas”. O objeto de intervenção do Serviço Social se constrói na relação do sujeito com a estrutura, na relação usuário/ instituição. Quando falamos no paradigma da correlação de forças, falamos de uma ruptura com as visões clínicas e tecnocráticas da intervenção profissional. Necessitamos também romper com a visão mecanicista da sociedade, que nega o papel do sujeito na transformação social, considerando-o meramente como mercadoria. Bourdieu (apud FALEIROS, p.44) diz: [...] “o modo de pensar relacional (em vez de “estruturalista”, mais estreitamente falando) é, como demonstrado por Cassini em substância e função, a marca distintiva da ciência moderna”. [...] o real é relacional, o que existe no mundo social são relações – não interações ou vínculos intersubjetivos entre agentes, mas relações objetivas que existem independentemente das consciências e vontades individuais. Não podemos trabalhar com soluções imediatas de problemas, a prática profissional do assistente social não pode ser somente uma prática de suprir carências ou controlar situações e nem de legitimar poder. [...] Na particularidade do Serviço Social, é fundamental destacar a intervenção nas condições de vida e de trabalho (re-produzir-se) articuladas à formação da identidade individual e coletiva (re-presentar-se) na vinculação sujeito/estrutura (FALEIROS, 2007, p. 44). 6WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA São muitas as relações sociais que fazem com que o indivíduo exista socialmente, ora é filho, pai, amigo e família, e são nessas relações que passamos a existir e nas quais nos identificamos e elaboramos nossas representações. [...] a institucionalização do atendimento traz a possibilidade da reprodução de encaminhamento paraoutras situações similares, podendo-se fazer a articulação entre: a) ações de rotina (prestação de serviços), b) o envolvimento e a participação da população, e c) sua organização estratégica perante a instituição e na própria sociedade. (RAICHELIS, 1988, p.161 apud FALEIROS, 2015, p.49). Segundo Faleiros (2010), as mediações das relações institucionais, por sua vez, precisam ser contextualizadas e particularizadas. A teoria e a prática precisam ser compreendidas como expressão de uma unidade, que possibilitam refletir sobre os processos da vida cotidiana, isto comporta uma racionalidade crítica e emancipatória da sociedade. [...] o assistente social é chamado a constituir-se no agente institucional de linha de frente, nas relações entre as instituições e a população, entre os serviços prestados e a solicitação dos interesses por esses mesmos serviços. Dispõe de um poder, atribuído institucionalmente, de selecionar aqueles que têm ou não direito de participar dos programas propostos, discriminando, entre os elegíveis, os mais necessitados, devido à incapacidade da rede de equipamentos sociais existentes de atender todo o público que teoricamente, tem acesso a eles. [...] A estas atividades é acrescida outra característica da demanda: a ação de persuadir, mobilizando o mínimo de coerção explicita para o máximo de adesão [...] a esta se soma a ação “educativa” que incide sobre os valores, comportamentos e atitudes da população, segundo padrões sócio institucionais dominantes (IAMAMOTO, 1998, p.113). Segundo Faleiros (2013), a prática profissional só deixará de ser repetitiva, pragmática e empiricista se os profissionais souberem vincular as intervenções no cotidiano a um processo de construção e desconstrução permanente de categorias, que permitam a crítica e a autocrítica do conhecimento e da intervenção. O Serviço Social ativa numa correlação particular de forças, na mediação, fragilização, exclusão, fortalecimento, inserção social, que está relacionado ao processo global de reproduzir-se e representar-se. 7WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA A prática crítica não se reduz à mera aplicação do conhecimento e em cada situação é preciso uma hermenêutica, uma interpretação que alie os sentidos que se dão à prática, a análise das condições em que esta se realiza. As questões que se colocam nas situações singulares não podem reduzir se a simples representação de cada agente, mas precisam se inscrever em questões mais amplas para se ver como esta interpretação está se formando, pois a prática coloca ao mesmo tempo o imperativo da transformação. Trata se de interpretar o mundo na sua transformação e de transforma-lo na sua interpretação. (FALEIROS, 2015, p.72). A imediatividade da prática profissional e da racionalidade instrumental não é algo fácil, não fazemos só por desejo ou boa vontade. É necessário um grande investimento em uma outra forma de ler e interpretar a realidade, que vai além da convivência comum e da aparência, que recobre os fatos da realidade social. Segundo Guerra (2010, p. 33), A instrumentalidade, além de fazer referência à instrumentalização técnica, condiz com a propriedade que a profissão apresenta no âmbito das relações sociais, seja em seu processo objetivo ou subjetivo. Assim, como propriedades sócias históricas, possibilitam ao profissional atender as demandas e o alcance dos objetivos que nos propôs, sempre numa condição de reconhecimento social. O Serviço Social constitui seu modo de ser e de fazer no âmbito das relações sociais. Desta forma, o cotidiano profissional implica que precisamos ter uma instrumentalidade de intervenção, instrumento que alcance os objetivos dos profissionais. Nas próximas unidades, você irá conhecer estes instrumentos, verificar sua real utilidade, além de precisamos sempre estar os realimentando, pois como já dissemos anteriormente, a realidade muda constantemente e com isso, as questões sociais e suas expressões também vão ter mudanças que irão refletir no nosso trabalho. 8WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Guerra (2014, p. 40), reforça: • Quando vamos além das estratégias individuais e buscamos responder às demandas coletivas, ou seja, coletávamos as demandas; • Quando lutamos contra a individualização dos problemas, enfrentamos os processos que levam à culpabilização e responsabilização dos usuários das políticas sociais por aquilo que a ordem burguesa considera “seu problema”; • Quando lutamos contra a precarização e intensificação do nosso trabalho e dos outros, pela efetivação das 30 horas, sem prejuízo do salário; • Quando exigimos espaço para estudo e descrição no local de trabalho e tempo para a nossa qualificação, em vista a melhora da qualidade dos serviços prestados; • Quando questionamos e lutamos contra o aniquilamento da nossa formação graduada e pós-graduada, contra a privatização do público, especialmente das políticas sociais. A nossa profissão é rica, a instrumentalidade é mediação quando conseguimos superar a aparência da demanda imediata e atuamos além das demandas emergenciais, quando adotamos uma atitude investigativa no cotidiano. E quando falamos na investigação em Serviço Social, para Baptista (2006), a investigação tem como horizonte a compreensão e a explicação do que é real, e trará respostas aos desafios que se colocam historicamente. [...] Desde os anos 60 – como sejam as práticas associadas ao planejamento e desenvolvimento comunitário e a sua reflexão crítica com o planejamento estratégico, o questionamento da separação do conhecer e do intervir, a neutralidade e aparente homogeneidade do serviço social e o movimento de reconceptualização do serviço social latino americano, contribuindo para a afirmação da dimensão política, crítica e plural da profissão [...] (BAPTISTA, 2006, p. 8). [...] visamos propiciar uma reflexão, voltada para a ação, para colocar em pauta alguns dispositivos de intervenção profissional no processo prático – operativo e próprio do serviço social. (FALEIROS, 2007, p.43). 9WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA A preocupação com a vinculação da investigação cientifica à intervenção na sociedade teve sua primeira explicitação no contexto norte americano, na década de 40, considerando que este processo deve passar necessariamente por uma prática objetiva de pesquisa e de conhecimentos. Segundo Faleiros (2014), o discurso das ciências sociais contemporâneas passou a valorizar o sujeito como personagem, que entra em cena com seus desejos, seu mundo simbólico, sua individualidade, trazendo, muitas vezes, o próprio contexto em que o sujeito constitui a sua trajetória social em articulação com a sua trajetória individual familiar. As trajetórias não são processos mágicos, mas sim uma construção e uma desconstrução de poderes numa dinâmica relacional, em que se entrecruzam de forma diferente, e independente, os ciclos da história e o ciclo das vidas dos indivíduos são diferentes, o primeiro é longo, já o segundo mais curto. O processo interventivo do Serviço Social não se constrói, a priori, sem uma reflexão crítica e propositiva em torno da profissão. É fundamental que no trajeto esta construção seja apreendida no processo histórico e socioinstitucional, para que a categoria assimile os condicionantes dados no curso das relações sociais junto aos atores, segmentos e classes, nos campos de atuação profissional, que revistem as ações socioprofissionais de inúmeras determinações que desafiam a materialização do projeto ético-político no campo operativo da profissão. Esta trajetória não é, pois linear, mas um processo de mudanças de relações. Esse processo de mudança de relaçõesimplica em rupturas que se manifestam em desavenças, revoltas, resistências, deslocamentos e continuidades que se manifestam como acomodações, integrações, tradições, repetições. (FALEIROS, 2014, p.74). Essa política do dia a dia implica a sobrevivência no mundo da técnica que hoje vivemos, além da necessidade de construirmos um agir comunicativo. 10WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Sabemos que a nossa prática profissional está sujeita e imposta pelas instituições que trabalhamos, e para superá-los precisamos nos organizar politicamente. O nosso grande desafio é avançar nessa direção, o que impõe a necessidade de construção de condições intelectuais por meio da formação profissional, da pesquisa, da construção e realimentação dos instrumentos técnicos – operativos do Serviço Social, que como já dissemos são os nossos instrumentos de trabalho. Além disso, trata-se ainda de aprofundarmos o compromisso por meio da articulação das lutas no âmbito da profissão e junto às demais forças da sociedade, para contribuirmos para a construção de respostas adequadas as demandas colocadas ao Serviço Social. Precisamos refletir com relação à mediação, segundo Pontes (1995, apud Faleiros, 2014, p.47), “[...] as relações sociais são mediadas por determinações concretas e reais que as constituem, como a relação existente entre senhor/escravo, patrão/operário, pai/filho, profissional/usuário [...]”. Figura 1 – Dúvida. Fonte: DARH (2018). É no contexto das relações de força mais gerais do capitalismo e nas particularidades das relações institucionais, nas mediações do processo de fragilização do usuário que o nosso trabalho se define, segundo Faleiros (1985 apud FALEIROS, 2014), “[...] em que estratégias técnicas e instrumentos de intervenção são elaborados por sujeito reconhecido e legitimados para isto [...]’. 11WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA As mediações implicam mutuamente no contexto de relações histórico – estruturais. A ação ou a intervenção profissional do assistente social não se modeliza num conjunto de passos preestabelecidos (a chamada receita), exigindo uma profunda capacidade teórica para estabelecer pressupostos da ação, uma capacidade analítica para entender e explicar as particularidades das conjunturas e situações, uma capacidade de propor alternativas com a participação dos sujeitos na intrincada trama em que se correlacionam as forças sociais, e em que se situa, inclusive, o assistente social (FALEIROS, 2014, p. 65). “[...] As estratégias de ação vão condicionar o processo de construção para superar as relações de opressão em relação e articulação de redes”. (FALEIROS, 1914, p. 95). O assistente social, para saber o que pode e o que não pode fazer, ou seja, realizar em suas ações com o usuário, é preciso participar de seminários interdisciplinares, fazer trocas de conhecimentos com profissionais, que atuam na mesma área, enfim, “buscar”, “refletir”, não se limitar a uma prática isolada e sem resultados. 2. AS ESTRATÉGIAS DE FORTALECIMENTO E ARTICULAÇÃO DA TRAJETÓRIA PROFISSIONAL – INTERVENÇÃO Neste item, buscaremos analisar a crise dos paradigmas em geral, em particular no âmbito do Serviço Social, refletindo sobre a formação profissional continuada, orientada pelo projeto ético–político e pelo projeto profissional, que determina a direção social e o perfil do profissional, lembrando a questão do fortalecimento do usuário a partir de questões concretas da esfera profissional. “Eleger questões de preocupação é considerar que a conjuntura contemporânea tem colocado o Serviço Social a prova e tensionado a direção social e o perfil profissional desta profissão” (NETO, 2004). A crise atual do capitalismo exige novas e antigas determinações, impõe mudanças no mundo do trabalho e exige um profissional adequado a etapa que estamos vivendo. Segundo Motta, Como podemos observar, a articulação de estratégias é um processo que pode vir a ter dois efeitos, o de fortalecimento de usuário no seu processo de capitalização e o de fragilizar ainda mais o usuário com atitudes autoritárias, rotulares e discriminatórias 12WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA [...] O que está posto na agenda contemporânea (e, mais largamente, no horizonte sociocultural) são outras formas de conceituar e tratar a questão social, através de uma reforma social e moral conduzida pela burguesia contemporânea. Significa tirar o componente classista que move a dinâmica de produção e reprodução da vida social, nessa clara perspectiva de naturalizar os efeitos perversos da produção social capitalista na sua busca pela acumulação de riquezas (MOTTA, 2008, p. 50). De acordo com Guerra (2008), é colocado para a formação profissional um duplo desafio, desvendar e enfrentar a crise do capital e nela as diversas formas de precarização das relações e das condições de trabalho, flexibilização dos direitos e focalização das políticas sociais, que, [...] se expressam e condicionam o exercício e a formação profissional. (GUERRA, 2008, p. 50). Estamos vivendo ainda um momento de crise dos paradigmas das formas de pensar da profissão, de como atender o usuário? Para onde encaminhar? Sempre precisamos fazer uma reflexão crítica, o que fazemos com os instrumentos técnicos – operativos do Serviço Social? Para que servem? Não podendo ser “meros registros”, veremos detalhadamente na próxima unidade. Analisando o que diz Faleiros (2014), ficamos no Serviço Social nessa gangorra, de um lado, defendendo se a totalidade, o abstrato, e, de outro, defendendo a especificidade, o concreto. Criando-se, assim, uma crise de identidade da profissão. [...] Fazer uma crítica da crítica da crítica para repensarmos o momento seguinte para o Serviço Social. A crítica feita se remete principalmente hoje em dois grandes problemas, o reducionismo metodológico e o ecletismo, [...] a crise do paradigma proposto advém justamente dessa perspectiva de reduzir a explicação de um único modelo, justificando se em função de não se incorrer no ecletismo. [...] O reducionismo é a expressão teórica do autoritarismo porque reduz a realidade a uma única visão, mesmo chamando essa visão de totalidade, de expressão de uma classe contra a outra. [...] o segundo elemento dessa crise poderíamos chamar de “objetivismo”, a realidade vista como um conjunto de tendências, leis, objetivos, gerais independentes do sujeito (FALEIROS, 2014, p. 84-85). “Muitos assistentes sociais não sabem quem são, o que fazem e nem o que devem fazer, ficando assim ao saber das estratégias, definidas de fora da profissão, pelas instituições” (FALEIROS, 2014, p.86).] 13WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Sabemos que, embora seja de fundamental importância analisar a realidade, a divisão da sociedade em classes deve ser entendida numa concepção mais geral das relações sociais afirma o mesmo autor. É necessário revalorizar a diversidade de visões e a tolerância, sem confundi-las com ecletismo, considerando a diversidade e a pluralidade um processo interativo, conflituoso. Figura 2 – Four small friends relaxing in nature and writing in notebooks. Fonte: Getty Images (2018). Ao se falar de uma proposta de articulação estratégica no Serviço Social, precisamos compreender que a sociedade não se constitui como uma soma de indivíduos e como uma totalidade abstrata, mas como uma relação de forças estruturais/conjunturais. São nas relações de exploração do poder que essas forças se constroem e desconstroem. A relação de força, segundo Faleiros (2014), é uma relação de poder, ela implica numarelação de classe, que está presente nos processos sociais, bem como as relações de organização da população, relações de resistência, relação de exclusão, o que depende de um processo que varia, inclusive, dentro da própria classe dominada e dominante, com aumento ou diminuição do patrimônio econômico, político, cultural, afetivo, familiar. “A conjuntura é tão fundamental como a estrutura. Na conjuntura, as relações estruturais se fazem e desfazem com movimentos mais ou menos profundos, de acordo com as forças em presença” (FALEIROS, 2014, p. 87). 14WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Como se pode observar, a articulação de estratégias é um processo que pode ter tanto um efeito de fortalecimento do usuário no seu processo de capitalização como um efeito, que poderíamos qualificar de perverso, de fragilizar ainda mais o usuário, com atitudes muitas vezes discriminatórias, clientelistas, tecnocratas. 3. A PERSPECTIVA RACIONALISTA FORMAL – ABSTRATA NAS ELABORAÇÕES TEÓRICO PRÁTICOS DO SERVIÇO SOCIAL Como vimos no item anterior com Faleiros (2014), ao destacarmos os três pontos cruciais e importantes para os instrumentos técnicos operativos, não podemos negligenciar o Serviço Social, frente o exercício profissional, a sua compreensão só é possível a partir de uma concepção da realidade social, e a fundamentação teórica. Esta questão tem trazido muitas discussões para o Serviço Social, pois é evidente que o conhecimento por si só não determina os procedimentos da intervenção profissional, e vice- versa. Podemos afirmar o sentido de nossa reinterpretação acerca dos instrumentos e técnicos em Serviço Social, procurou se realizar um tratamento singular, onde fossem reconhecidos os instrumentos e técnicos como elementos constitutivos da estratégia interventiva do exercício profissional, por isso mesmo reinterpretativo é o que afirma a autora supracitada. Esta contribuição dos instrumentos técnicos operativos, especificamente do relacionamento, não é apenas uma concepção de profissão. É necessário repensar que não “basta” dizer que se deve fazer algo, é preciso sim dizer “o que faremos”, para termos uma posição mais clara a respeito do que queremos realizar, “para que” e “para quem” o fazemos (LAVORETTI, 2014). 15WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Um dos pontos de destaque apresentado pelas reflexões marxianas (Coutinho e Netto apud, Lavoretti), é que na sociedade, há uma articulação entre o momento da casualidade e o momento da teleologia, ou seja, entre o fato de que as ações humanas são determinadas por condições exteriores aos indivíduos singulares e o fato de que ao mesmo tempo, a sociedade é constituída por projetos que os homens tentam implementar na vida social (COUTINHO, NETTO 1999, apud LAVORETTI, p. 31). Esta colocação nos remete a pensar que os fenômenos sociais são formados simultaneamente por vários motivos como: momento de estrutura e ação, ou determinismo e liberdade. Uma atividade humana implica e verifica se há intervenção da consciência, situando um resultado ideal voltado para um produto real que é objetivado, mesmo distante do ideal proposto. Já a prática como finalidade da teoria apareceu no sentido de que a teoria não corresponde apenas às exigências e necessidades da prática, pois não poderia influir no seu desenvolvimento. Assim, a relação está precisamente entre uma teoria já elaborada e uma prática que ainda não existe. [...] Disso resulta que tal atividade pratica que se realiza através dos homens e sobre a natureza só é conhecida enquanto práxis um produto real. E o objetivo é o resultado real do processo que nem sempre é idêntico ao resultado ideal/atual ou finalidade (LAVORETTI, 2014, p. 35). A humanização dos instrumentos não pode ser concebida num sentido abstrato, mais sim como expressão do homem e a natureza. O meio de trabalho é uma coisa ou um complexo de coisas, que o trabalhador insere entre si mesmo e o objeto de trabalho, e lhe serve para dirigir sua atividade sobre o objeto [...] A coisa de que o trabalhador se apossa imediatamente não é o objeto de trabalho, o processo de trabalho, no atingir certo nível de desenvolvimento exige meios de trabalho já elaborados [...] O que distingue as diferentes épocas econômicas não é o que se faz, mas como os meios de trabalho se faz. Os meios de trabalho vivem para medir o desenvolvimento da força humana de trabalho e, além disso, indicam as condições sociais em que se realiza o trabalho (MARX apud LAVORETTI, 2014, p. 37). Como ponto de partida para a compreensão da práxis, podemos afirmar que toda prática é atividade, mas nem toda atividade é práxis. A atividade é sinônimo de ação, entendido como ato ou conjunto de atos em virtude do qual o sujeito é ativo e modifica uma matéria-prima. O agente atua, realiza. 16WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 3 – Foto Ed.15 p. 49. Fonte: ANGAAD (2018). Falamos até agora neste item mais especificamente sobre os instrumentos. Agora faremos uma breve reflexão sobre as técnicas, para depois conhecermos os instrumentos técnicos operativos mais utilizados na prática do assistente social. O trabalho humano transforma a natureza, cria complexos sociais e tem em vista seus objetivos, que são de importância relevante para a concepção de práxis, a tecnologia é um produto com processos que encerram valor e tem valor de uso. Vamos buscar diferenciar técnica de tecnologia. A técnica é um conhecimento, empírico, elaborado, desenvolvido como prolongamento de sua racionalidade para realizar as coisas. A tecnologia é um saber efetivo, mas aplicável, que se tornou inseparável da ciência e, agora, do mercado. É um conhecimento cientifico cristalizados em objetos materiais, nada possuem em comum com as capacidades e aptidões do corpo humano (LAVORETTI, 2014, p. 38). Já falamos que o homem é o único ser, e que na sua atividade produtiva, introduz mediações entre ele e o objeto dessa atividade. A técnica pode se dizer que é como uma criação, enquanto desdobramento da racionalidade, pois neste processo de trabalho humano a consciência tem participação ativa. Os elementos que normatizam da ação profissional, as tecnologias, passaram a ser absorvidas pelos profissionais do Serviço Social quando conceituam o método enquanto modelo de intervenção. 17WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Um exemplo desta foi expresso através dos métodos de caso, grupo e comunidade. Pretendemos aqui romper com esta concepção tradicional dos instrumentos e técnicas como tecnologias aplicativas, resgatando um outro sentido e fundamentação para os instrumentos e as técnicas, como também uma argumentação teórica – critica onde a dimensão técnico operativa pode ser pensada enquanto práxis, transformadora da realidade humano social. O instrumento é sempre orientado por um determinado conhecimento, uma teoria social, sempre utilizado intencionalmente, portanto não há neutralidade em sua utilização. Buscaremos apresentar os instrumentos e técnicas que permeiam o exercício profissional do assistente social, compreendendo que são mobilizados a partir das ações profissionais construídos nos campos sócio – ocupacionais. Para que se possa ter um maior entendimento com mais clareza sobre o que estamos estudamos, iremos conceituar o que se entende por instrumental técnico – operativo e técnicas. Segundo Martinelli e Koumrouyan, (1994), consideram o instrumento como um elemento potencializador da ação, constituindo no conjunto de recursos ou meios que permitem a operacionalização da ação profissional. [...]No exercício profissional do assistente social, a sua relação com o objeto é intermediada por um instrumento, o que o torna um potencializador de força, de determinada forma, em uma dada direção. É potencializador porque permite concentrar toda a força (conhecimento que se dispõe) num dado instrumento, elevando-o a um grau superior, facilitando a sua expressão de determinada forma. A forma corresponde ao instrumento especifico que se utiliza num dado momento. Em nossa história profissional temos alguns já consolidados, não significando que são os únicos, ao contrário, podem vir a ser ampliados, modificados e recriados. (LAVORETTI, 2014, p. 44). Os instrumentos e as técnicas se implicam, se articulam e pressupõem serem compreendidos de maneira intrínseca, não se esgotam, ou seja, consolidam com a ação técnico – operativa. 18WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA O instrumental técnico – operativo ultrapassa as técnicas e os instrumentos, pois inclui o conjunto de ações e procedimentos adotadas pelo profissional, visando alcançar uma dada finalidade, bem como a avaliação sistemática sobre o alcance dessas finalidades e dos objetivos da ação. Para Santos (2013), incluem-se como componentes do instrumental técnico – operativo. “as estratégias, táticas, éticos, cultura profissional e institucional, particularidades dos contextos organizacionais. Não existe um receituário do fazer profissional, não podemos negar que a concretude da ação profissional se dá pelo uso e manejo de instrumentos, técnicos e procedimentos interventivos. Iniciaremos falando da “OBSERVAÇÃO”, enquanto possibilidade de compreensão da realidade social. A observação, enquanto possibilidade de compreensão da realidade social, é um instrumento articulado aos demais e tem contribuído para as ações profissionais do assistente social. Para Brasil (1997), o cotidiano, é uma das formas mais usadas pelo homem para conhecer e compreender pessoas, coisas, acontecimentos e situações. É o meio básico de se conseguir informações para se tomar decisões, após o julgamento de uma boa situação (BRASIL, 1997, p. 83). A observação enquanto instrumento profissional não pode se dar de forma espontânea, mas por meio de um planejamento, de uma ação refletida de se saber aonde quer chegar, o que pretende conhecer. A observação não é um simples ato de ver e olhar no exercício profissional do assistente social, a observação está presente cotidianamente e sua manifestação tem assumido uma multiplicidade de atribuições e significados. Segundo Guerra (1995), a observação enquanto uma das formas de conhecer o real, contribuindo para a realidade. Santos (2013) acredita que é importante registrar que a escolha dos instrumentos, não é o uso de instrumentos e técnicas para o referido autor que imputa ao Serviço Social um caráter conservador. O caráter conservador está impregnado ao uso dos instrumentos num viés tecnicista. Importante registrar que a observação pode se expressar em dois níveis: primeiro enquanto instrumento de intervenção, no atendimento direto aos usuários, por meio dos atendimentos sociais realizados. Segundo, enquanto ferramenta para ação investigativa, que não se limita à pesquisa acadêmica. A observação está presente nos instrumentos técnicos – operativos do Serviço Social. 19WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA A observação propicia a articulação entre o dizível e o indizível, viabilizando assim um olhar mais atento, cuidadoso, ético, comprometido e acolhedor. Observar também é interagir. A observação não é uma atividade solitária, pois profissional e usuário participam. Segundo Martinelli (2006), “pensar a profissão significa também pensá-la como fruto dos sujeitos que a constroem e a vivenciam através de seus saberes e de suas sistematizações” (MARTINELLI, 2006, p. 71). Até agora falamos das estratégias de trabalho do Serviço Social, como também da relação de força que encontramos no desenvolvimento das nossas ações. Precisamos compreender um pouco da mediação realizada pelas políticas sociais expressas nas elaborações teóricas do Serviço Social, que encontra-se influenciada por uma racionalidade analítico formal, derivada da racionalização posta pelo processo de organização das relações sociais capitalistas. “A assistência social surge com a saúde e a previdência, como o tripé da seguridade social, portanto como um direito social” (SPOSATI, 1991, p. 15). Se os acontecimentos da década de 1980 colocam novas perspectivas ao Serviço Social, como resultante do estado de ânimo vigente no país, tem se a Carta Constitucional de 1988, que contempla nova racionalidade a prestação da assistência social, que agora foi instituída como serviço (SPOSATI, 1991). O mesmo autor reflete que se o discurso do Assistente Social negava a prática da assistência, porque a entendia como uma pratica mantenedora da situação, vinculada do paradigma funcionalista, o estatuto que a Carta Constitucional atribui a assistência a coloca sob novas bases. 20WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 4 – Seguridade Social. Fonte: ATRFB (2018). Em decorrência dessa concepção abrangente e universalizante da assistência social, alguns analistas consideram como um avanço no sentido de alterar o estatuto da assistência social no Brasil, elevando-o à condição de política social, para o que propõem a reestruturação administrativa do estado, o aperfeiçoamento das formas de representação popular, a adoção de formas de gerencias de recursos. A análise dessa questão mostra que a diretriz adotada na Carta Constitucional, consiste em dar uma assistência capaz de preencher as lacunas produzidas pela ineficiência da Previdência Social (GUERRA, 2014, p.197). Entretanto precisamos refletir, para que isto realmente ocorra, precisa-se homogeneizar todas as diferenças que as diversas situações de “carência” contêm e atualizar os critérios de elegibilidade dos “excluídos”. A cidadania é reconhecida por uma “norma legal”, dada ao acesso de bens e serviços decorrentes de alterações técnicas no âmbito da reestruturação das instituições sociais. A estrutura econômica permanece inalterada e inalterável. 21WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Esta nova maneira de considerar a assistência social, que se viabilizam por meio da Constituição de 1988, como um direito dos indivíduos e, por isso como forma de atender os “excluídos”, acaba constituindo-se no objetivo final da intervenção profissional. A cidadania entendida como uma forma de igualdade no plano jurídico, encontra- se ancorada no direito burguês, já que a sua outra face se compõe da desigualdade econômica. Neste sentido, a dicotomia na ação do assistente social que, num determinado momento, colocava-se entre ações assistenciais e promoção social, agora é substituída pela assistência lato e stricto sensu, esta, refletindo ações residuais e aquela vista como “universalização” aos benefícios e serviços sociais a população excluída (SPOSATI, 1991, p. 29). Pensando nessa ótica, de materialização da pobreza social, Guerra (2014) coloca a mediação como uma ação necessária ao desenvolvimento social, já que é entendida como um instrumento e a ela combinam-se propostas que privilegiam o aprimoramento das instancias de representações formal e técnico legal? A tendência de transformar uma estratégia do qual dispõe as classes e segmentos de classes sociais, neste caso, as políticas sociais e o modo típico do pensamento formalizador. Concebendo- se a prevenção aos antagonismos sociais pela ampliação dos direitos políticos, desde quenão afetem monopólios oligárquicos de poder. “As políticas sociais como determinação, capitalismo monopolista e da inserção do Estado como vetor decisivo na conciliação de interesses desiguais e contraditórios” (IRANI, 1998, p. 38). Analisando esses fatores, podemos ver a assistência social no capitalismo monopolista, contendo determinações que extrapolam a bipolaridade “exclusão e inclusão”, se como mediação a política de assistência só pudesse se expressar no campo de totalidade concreta. Se pensarmos a mediação sem a totalidade, os assistentes sociais irão trabalhar na análise da relação causa-efeito, que não vai além das imediaticidades dos fenômenos. Segundo Luckas (1988), A forma cientifica é tão mais elevada, quanto mais adequado for o reflexo da realidade objetiva que ela oferecer, quanto mais ela for universal e compreensiva, quanto mais ela superar, quanto mais ela voltar às costas para a imediata forma fenomênica sensivelmente humana da realidade, tal como se apresenta cotidianamente. (LUCKAS, 1988, p.182). Guerra (2014) considera que as representações sobre o real se constituem em mediações analíticas na compreensão da realidade social, no significado da prática profissional. Sendo assim, se formos ver de outra forma, sobretudo da base material, que se produz e as mantém, o assistente social é encaminhado a tomar fatos e fenômenos tal como eles aparecem a sua convivência e buscando modelos teóricos explicativos da sociedade, tende a cristalizar-se em modelos de intervenção profissional. 22WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Ao relegar as discussões sobre o significado social e político da profissão a segundo plano, em detrimento das formas de realizar a intervenção, ao conceber as relações sociais entre sujeitos sociais envolvidos neste processo como neutros, ao não atribuir a devida importância às formas de representação, que informam a profissão, a sua razão de conhecer, os assistentes sociais suprimem o conteúdo social de suas ações e incorporam (acriticamente) o conteúdo funcional e tradicional atribuído pela ordem burguesa (GUERRA, 2014, p. 207). Apontaremos agora, para as novas articulações, que as mediações podem estabelecer no desenvolvimento histórico da profissão. Importante neste momento resgatar a questão que se constitui o passo de fundo da nossa análise, as peculiaridades advindas da forma de inserção do Serviço Social na divisão técnica do trabalho, determinações que ao mesmo tempo são construídos e engendrados pelo processo de produção. A mesma lei geral que produz a acumulação capitalista, necessariamente tem que produzir e manter uma classe da qual a pessoa possa extrair um excedente econômico, cria-se os mecanismos de manutenção material e ideologia dessa classe, dentre eles o Serviço Social (GUERRA, 2014, p. 210-211). Segundo Iamamoto e Carvalho (1986), o que faz do Serviço Social um tipo de especialização do trabalho coletivo, a sua inserção no mercado de trabalho e intermediada por um contrato de compra e venda da sua força de trabalho. “Se é correto que o valor do trabalho do Assistente Social reside na sua utilidade social, que é medida em termos dos propostos concretas que venham produzir uma alteração imediata na realidade empírica” (NETTO, 1989, p. 110). O produto final do trabalho do Assistente Social reside na forma social que adquiri o seu resultado final, o produto do seu trabalho passa a ser o fator determinantes da forma de realiza-lo, mais especificamente se o produto final do trabalho do Assistente Social consiste em provocar alterações no cotidiano dos segmentos que o procuram, os instrumentos e técnica a serem utilizados podem variar, pois necessitam de estar adequadas para proporcionarem resultados concretos esperados (GUERRA, 2014). O vínculo entre a força de trabalho do Assistente Social e o capital não se realiza de forma direta. Uma visão meio fetichizada, já que requisição pelo trabalho profissional apareceu como demanda do estado e não do capital. 23WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA As ações instrumentais e mobilização de meios para o alcance de objetivos imediatos, não são suficientes como necessários. Todavia não se pode prescindir de um conjunto de informações, conhecimentos e habilidades que o instrumentalize. A ausência de especificidade, que é tida como causa da versatilidade, que as ações profissionais adquirem, nos diversos contextos e espaços sociais. Essa ausência da especificidade, por sua vez, expressa nas indefinições sobre o que é e o que faz o Serviço Social. A intervenção profissional realiza-se à margem das instancias de formulação de diretrizes e da tomada de decisões acerca das políticas sociais. Segundo Faleiros (2007), a prática profissional só deixará de ser repetitiva, pragmática, empiricista se os profissionais souberem vincular as intervenções no cotidiano a um processo de construção e desconstrução permanente de categorias que venham permitir a crítica e a autocrítica do conhecimento. O mesmo autor reforça que a intervenção em Serviço Social consiste nessa articulação combinada de mediações de trajetórias e estratégias de ação de diferentes autores que se entrecruzam numa conjunção de saberes e poderes, configurando se a situação de relação entre profissional e usuário. As demandas por serviços sociais, expressão as desigualdades econômicas de inclusão e exclusão social, de denominação de gênero, de relações de poder e violência nos conflitos familiares, de relação com o crime, como uso de drogas, precariedade de condições sociais e familiares. São as contradições que se enfrentam e mobilizam a práxis, enquanto abstrações gerais portam tendências de se determinarem e se converterem em modos específicos de relações em sociedades, historicamente constituídos (GUERRA, 2004). A instrumentalidade, enquanto ato e potência, condição necessária à reprodução da vida material e social dos homens se vê limitada a um padrão que contempla apenas ações racionais que produzem fins imediatos. Segundo Guerra (2014), Há uma dinâmica interna à profissão, resultante das regularidades engendradas pelas ações curriculares dos sujeitos individuais e produzidos na interseção de um sistema de mediações complexas que abarcam o acervo de conhecimentos teóricos e práticos, instrumentos e técnicas, habilidades e ações propriamente ditos (GUERRA, 2014, p.265) A configuração diversificada de áreas de atuação como por exemplo no judiciário, na assistência e outras, eram chamadas de campo de atuação. Na realidade são domínios estruturados pelas políticas e instituições, articuladas aos modos de produção vigentes, com normas, funções e competências, hierárquicas (FALEIROS, 2010). 24WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA A instrumentalidade do Serviço Social não se limita ao desencadeamento de ações instrumentais, ao exercício de atividades imediatas, já que existem possibilidades de validação vinculadas ao emergente, para o que necessita ser informada por teorias que referenciam nos princípios ontológicos de constituição social, às quais subjaz um determinado grau de racionalidade, que lhe permite aprender a totalidade dos processos sociais e atuar sobre eles. Na instrumentalidade, o assistente social acaba por utilizar-se de um repertório técnico operativo comum a outras profissões sociais, mas a intencionalidade posta na utilização do instrumental técnico porta a tendência de propiciar resultados condizentes para qual a sua ação se direciona. É a maneira como o profissional utiliza os instrumentos e técnicas historicamente reconhecidos na profissão, encontra-se referenciado pelas expectativas. Segundo Faleiros (2014),ao considerarmos que as práticas profissionais constituem-se numa modalidade especifica de intervenção na realidade, e por isso, desenvolvem modos singulares de se relacionarem com essa mesma realidade, incorporam teorias explicativas, vinculadas aos procedimentos de ação que os profissionais adotam e que em última instancia tornam-se interpretação do mundo, com os quais o profissional partilha o conhecimento para o Serviço Social encontra-se imediatamente ligado ao estabelecimento de partes orientadoras para intervenção do profissional. O Serviço Social possui modos particulares de plasmar suas racionalidades que conforma um “modo de operar”, o qual não se realiza sem instrumentos técnicos, políticos e teóricos, tampouco sem uma direção finalista e pressupostos éticos que incorporam o projeto profissional (GUERRA, 2014, p. 271). 25WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 5 – Banner 1. Fonte: FACOL (2016). 26WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS O processo de ação profissional e/ou intervenção profissional não se modeliza num conjunto de passos preestabelecidos. Uma receita pronta exige uma profunda capacidade teórica para estabelecer os pressupostos da ação, uma capacidade analítica para explicar as particularidades das conjunturas e situações, uma capacidade de propor alternativas com a participação dos sujeitos na intrincada trama em que se correlacionam as forças sociais, e em que se situa inclusive o Assistente Social. Considerando o que já vimos neste modo, a instrumentalidade é uma capacidade e/ou propriedade que a profissão vai adquirindo na medida em que concretiza seus objetivos. Ela objetiva os profissionais suas intencionalidades em respostas profissionais. Figura 6 – Rede Social. Fonte: Cinfães (2016). Projeto Social em questão: Instrumentalidade e Serviço Social, acesse: <https:// www.youtube.com/watch?v=4xCtEehpVrw>. Serviço Social na Contemporaneidade Trabalho e Formação Profissional Marilda Villela Iamamoto. 26 ed. São Paulo, Editora: Cortez, 2015. 2727WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 02 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................28 1.COMPREENDENDO A INSTRUMENTALIDADE NO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL..............................29 2. CONSIDERAÇÕES SOBRE OS INSTRUMENTOS TÉCNICOS – OPERATIVOS .................................................34 2.1 CLASSIFICAÇÃO DAS ENTREVISTAS ................................................................................................................38 2.1.1 ENTREVISTA ESTRUTURADA ..........................................................................................................................38 2.1.2 ENTREVISTA NÃO ESTRUTURADA .................................................................................................................39 2.1.3 ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA (SEMIDIRIGIDA POR PAUTAS) ...........................................................39 2.2 INSTRUMENTOS TÉCNICOS – OPERATIVOS, LIMITES E POSSIBILIDADES A PARTIR DO SISTEMA ÚNI- CO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL – SUAS ....................................................................................................................43 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................................49 INSTRUMENTAIS TECNICO – OPERATIVOS DO SERVIÇO SOCIAL PROF.A MARIA JOSÉ POMBALINO ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: OFICINA DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM SERVIÇO SOCIAL 28WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO A complexidade das diversas manifestações da questão social, com as quais o assistente social trabalha constituem um desafio permanente, tanto para seu entendimento quanto para a busca de soluções. Sabemos que a compreensão do tema só é possível por meio do cruzamento de diferentes olhares, perspectivas e saberes, o que envolve um trabalho árduo na pesquisa, estudo e interdisciplinaridade. Iniciamos a primeira unidade falando sobre as estratégias em Serviço Social, numa breve reflexão. Agora estaremos nesta unidade abordando com você o instrumental técnico – operativo, entendendo que estamos tratando de instrumentos, técnicas e documentos, que são utilizados pelo Serviço Social, mas não são necessariamente inclusivos de nossa profissão. Importante ressaltar que para a aplicação dos instrumentos técnicos-operativo precisamos realizar uma rigorosa revisão teórica e metodológica, de forma que sejam pertinentes à intervenção, que colabore com uma práxis fundamentada no código de ética e no projeto ético- político da categoria. Buscaremos discutir detalhadamente os instrumentos, técnicas e documentos, pois trabalhamos com eles no nosso cotidiano profissional, e é o que nos diferenciam como uma profissão de caráter interventivo dentro das ciências sociais. a utilização dos instrumentais da pratica profissional é um fator, preponderante, como todos os profissionais tem seus instrumentos de trabalho, e sendo o assistente social um trabalhador inserido na divisão social e técnica do trabalho, necessita de bases teóricas, metodológicas e ético – políticos necessários para o seu exercício profissional. Os instrumentai técnico – operativos são como um conjunto articulado de instrumentos e técnicas que permitem a operacionalização da ação profissional (MARTINELLI, 1994, p. 137). Buscaremos também situar o significado sócio-histórico do instrumental técnico- operativo do Serviço Social, o que só se torna possível dentro de uma perspectiva analítica histórica e teórica, que permite aprendê-lo na sua condição de intervenção do Serviço Social nas relações sociais. Para analisar o instrumental técnico-operativo do Serviço Social necessitamos a demarcação da natureza do trabalho deste profissional. Portanto, as próximas unidades irão propiciar a você o conhecimento, a reflexão, a utilidade do instrumental técnico – operativo para o desenvolvimento das nossas ações junto ao usuário. Bons estudos. 29WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 1.COMPREENDENDO A INSTRUMENTALIDADE NO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL A discussão com relação à instrumentalidade do Serviço Social permeou as discussões em meados dos anos 80, mas foi somente a partir dos anos 90 que as questões acerca da categoria passaram a compor a pauta nas instancias de discussão, organização, pesquisa e formação profissional do Serviço Social no Brasil. Conforme Battini (2004), enquanto a instrumentalidade é a propriedade de determinado modo de ser, que uma profissão vai construindo dentro das relações sociais, os instrumentais se referem ao conjunto de instrumentos e técnicas que compõem uma prática profissional cotidiana. Poder perceber a interlocução entre os conceitos instrumentalidade e instrumentais nos oportuniza a evitar o equívoco sempre presente no Serviço Social, ou seja, o estabelecimento de hiato entre teoria e pratica, ou a separação decisiva das dimensões constitutivas do Serviço Social, denominadas: teórico e metodológica, técnico – operativa e ética política. Os instrumentos e técnicas do Serviço Social podem ser classificados de caráter quantitativos ou qualitativos e são por assim dizer, nossas ferramentas de trabalho, as quais também não podem sofrer isolamento, desta maneira as autoras recomendam que instrumento e técnica devem estar “organicamente” articulados em uma unidade dialética, (entrevista, relatório, visita, reunião, observaçãoparticipante etc.) (MARTINELLI; KOUMROUYAN, 1994, p. 7). Consequentemente a unidade dialética realiza uma aproximação das dimensões mencionadas (instrumentalidade e instrumentais). Assim, a passagem das definições meramente operacionais, “o que faz, como faz”, para compreensão do “para que, para quem, onde e quando fazer”, analisando as consequências que o nível mediato as nossas ações profissionais produzem. (GUERRA, 2005). Acreditamos ser muito importante o entendimento sobre os conceitos que diferenciam instrumentalidade e instrumentais, a diferença pode representar complementariedade. 30WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Frente uma perspectiva social e critica, não existe a primazia da teoria sobre a prática, precisamos entender como uma relação que se complementa. E é nesta concepção, que Luiz; Wambier; Bourguignon (2007), afirmam, o Serviço Social como qualquer outra profissão liberal existente numa sociedade com modo de produção capitalista, está intrínseca a divisão sócio técnica do trabalho, e por isso deve compreender as relações sociais estabelecidas neste formato da sociedade, imprimindo na sua ação/reflexão profissional possibilidades de uma práxis social. Tal práxis não é apenas a junção de teoria e pratica, ela deve estar voltada a transformação de um processo, seja ela na perspectiva da matéria, da consciência ou da prática. (LUIZ; WAMBIER; BOURGUIGNON, 2007, p. 11). Guerra (2005) fala sobre três tendências no interior da profissão de Serviço Social ao discutir instrumentalidade. [...] A primeira diz respeito aos profissionais que supervalorizam a prática secundarizando as teorias ao campo de abstrações. Esta perspectiva possibilita [...] a repetibilidade da prática, autoriza a formulação de procedimentos, validos para situações análogas, que são transformados em modelos de intervenção. Quanto à segunda tendência, alguns profissionais pautam sua prática numa teoria que [...] apareceu como expressão mais formalizada e completa da realidade. [...] O valor da teoria neste caso, consiste em construir um quadro explicativo do objeto que contemple um conjunto de técnicas e instrumentos de valor operacional. [...] A terceira tendência é assumida pelos profissionais que se aproximam da realidade utilizando o recurso das teorias, bem como fundamentam sua pratica, através das teorias. Apesar de considerar a terceira tendência a mais coerente, existe dificuldade, uma vez que esta tendência [...] também reclama a ausência de indicativos teóricos práticos que possibilitam romper com o ranço conservador que acompanha a trajetória profissional. (GUERRA, 2005, p. 25-26). As mediações no Serviço Social se constituem a partir da tríade: singularidade, particularidade e universalidade. É possível observar o movimento que parte do abstrato, ou visão parcial realidade. 31WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA A tríade não pode ser fragmentada ao ponto de não perceber a correlação existente entre os três elementos que a compõem. Muitas vezes podemos questionar, não seria a universalidade o campo de mediações do Serviço Social? Não seria este o maior sentido de nossa instrumentalidade? Ou o objetivo pelo qual utilizamos os instrumentais sem um fim específico, mas como meio de se chegar a universalidade? O mundo da imediaticidade, as demandas que se apresentam a ação profissional são aparências que precisam ser dissolvidas para que surjam as mediações ontológicas. É bom lembrar que nesse plano do empírico singular já contém na complexidade relações de universalidade e a particularidade (PONTES, 2000, p. 45). Para Netto (apud Battini, 2004, p. 2), “todo instrumental utilizado pelo assistente social [...] não pode ser visto, analisado e aplicado ao projeto ético político da profissão”. O mesmo autor coloca que o projeto não é condicionado apenas a normatizações morais, muito mais do isso envolve, “[...] escolhas teóricas, ideológicas e políticas do profissional”. Para Magalhães (2006), jamais podemos afirmar que um instrumental técnico pode ser ignorado, mas não podemos utilizá-lo como um fim em si mesmo, pois corremos o risco de voltar ao sendo comum, que nos impede de verificar o quanto a utilização desse instrumental facilita a nossa atuação, racionalizando o nosso tempo e direcionando a nossa proposta de trabalho, e ainda demonstrando respeito pelo usuário. Com estas reflexões, não queremos dizer que o Serviço Social deve abandonar, superar ou estar indiferente aos nossos instrumentos técnicos de trabalho, ao contrário, devemos buscar a utilidade indispensável das dimensões técnico – operativa, teórico metodológica que nos conduzem ao aprimoramento, compromisso e competência profissional. Netto (1999) desloca a necessidade de as teorias setoriais estarem subordinadas a uma matriz teórica, de perspectiva macroscópica”. 32WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Muitas vezes os profissionais supervalorizam algumas teorias auxiliares mesmo que estas representam um conteúdo sem reflexão crítica, somente por tratar de modismo. Nesta necessidade de atender as demandas, podemos nos reduzir as buscas constantes pelo acervo técnico instrumental, sem agregar a ele possibilidades de construir mediações, as quais possibilitam o encontro do eixo articulador entre a teoria e a prática. Conforme Guerra (2005), [...] a instrumentalidade do Serviço Social não se limita ao desencadeamento de ações instrumentais, ao exercício de atividades imediatas, uma vez que porta possibilidades de validação vinculadas ao emergente para o que necessita ser informado por teorias que se referenciem nos princípios ontológicos de constituição do ser social, as quais subjaz um determinado grau de racionalidade que lhe permite aprender a totalidade dos processos sociais e atuar sobre eles. (GUERRA, 2005, p.22). As dimensões técnico operativas e metodológica necessita de ter razão para existir (termino). Necessitam de aprimorar o compromisso e competência profissional. O nosso cotidiano vem sempre carregado de contradições às quais o assistente social vende a sua força de trabalho, geralmente exige de nós respostas rápidas as demandas apresentadas. Não estamos afirmando que o Serviço Social deve abandonar os instrumentais técnicos de trabalho, mas sim reconhecer as possibilidades da teleologia que constrói a práxis social. 33WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 1 – Banco de Livros. Fonte: Colleguium (2018). Precisamos compreender que existem instrumentos técnicos – operativos que são pertinentes a cada área de atuação do Serviço Social. Segundo Lavoretti (2006), jamais poderemos afirmar que um instrumental técnico pode ser ignorado, mas utilizá-lo como fim em si mesmo seria um uso, voltarmos a técnicas conservadoras, e nos arriscarmos a utilizar os instrumentais técnicos operativos como receituário. O mesmo autor afirma ainda que as características dos diferentes espaços sócio- ocupacionais do Serviço Social nos remetem a uma revisão pratica, da linguagem, das técnicas, entre outros elementos do nosso processo de trabalho. Frente aos conflitos, somados a burocracia, quando verificamos estamos usando os mesmos hábitos e, mesmos vícios e formação de atuar. Esquecemo-nos de rever e de questionar nossa ação, incluindo principalmente a instrumentalidade que serve de ponto de apoio para o nosso trabalho. [...] a técnica como fim especifico, e não como meio, [...] corre o risco de voltar-se ao senso comum, impregnado por uma rotina nociva, que muitas vezes nos impede de perceber o quanto a utilização desse instrumentalfacilita nossa atuação, racionaliza o nosso tempo, direciona eticamente nossa proposta de trabalho, o mais importante demonstra respeito ao usuário (MAGALHÃES, 2006, p. 9).] 34WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA “Um dos princípios éticos fundamentais da profissão é o compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional” (CFESS, 1993). E a qualidade profissional não compareceu apenas na ação propriamente dita, mas também, na escuta, na linguagem em suas diversas formas (escrita às crenças, valores, territórios, cultura, grupos étnicos, gênero, orientação sexual e outros). 2. CONSIDERAÇÕES SOBRE OS INSTRUMENTOS TÉCNICOS – OPERATIVOS Escolher os instrumentais não é fácil, pois requer que avaliemos objetivos, linguagens, estratégias etc. Trabalhos com grupos ou individual, plantão social, reuniões, palestras, seminários, elaboração de projetos, planos, programas, estudos, pareceres, relatórios, laudos, pericias, visita domiciliar ou institucional, entrevistas e outros instrumentais, não podem estar violados, pois concomitante a eles existem outros instrumentais como: pesquisa investigativa, observação, escuta qualificada, linguagem, abordagem, sistematização, avaliação e outros. São diversificadas as formas, as técnicas, ou melhor, explicitando, “o que e quando fazer”, depende da qualificação que buscamos, do compromisso, ético-ideo-político que temos, e consequentemente de nossa compreensão do universo que representa a instrumentalidade do Serviço Social (LAVORETTI, 2016). Segundo Sarmento (apud LAVORETTI, 2016), é importante indicar alguns pontos para conhecimento da questão técnica – operativa, Em qualquer espaço sócio-ocupacional, seja ele sócio-jurídico, saúde, previdência social, assistência social, criança e adolescente, habitação e outros, precisamos observar que não existe o instrumental a ser utilizado em cada ação, mas os instrumentos que se inter-relacionam. 35WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Acreditamos ser oportuno indicar três pontos para questionamento da questão técnica – operativa, o primeiro deles é uma oposição acerca do pensar e fazer profissional, no sentido de discutir “o que faz”, o que objetiva e concretamente se tem realizado, isto também, o reconhecimento de como se faz. O reconhecimento disto é fundamental na medida em que evitamos os manuais academicistas que reforçam um dever ser distante apartada da realidade do exercício profissional. Refletir sobre este pensar e fazer do profissional do Serviço Social não é apenas discutir o que se deve fazer como um dever aquilo que não se pode realizar de outra maneira (derivada da obrigatoriedade de atuar por puro respeito à lei, a ordem, a moral, a autoridade intelectual ou institucional, como único caminho para a liberdade representada pela tradição e os costumes (SACRAMENTO apud LAVORETTI, 2016, p. 30). O segundo ponto que o autor indica diz respeito aos recursos utilizados nos processos de trabalho do assistente social, muitas vezes não dispomos dos meios necessários para efetivação do trabalho, sejam financeiros, técnicos, materiais e humanos. Dependemos de recursos para o exercício profissional, são meios e recursos que implicam em programas, projetos e serviços. Essa é uma condição do exercício profissional que não se pode ser negligenciada. O terceiro ponto e não menos importante ponto que o autor fala é, [...] reafirmar que os processos das organizações não as instituições que organizam o trabalho profissional, mesmo quando preservada alguma autonomia. E são realizados na proporção em que o exercício profissional do Assistente Social e técnica do trabalho nas relações de produção e reprodução social, e produz efeito nas condições materiais e sociais daqueles que trabalham, ou seja, na reprodução da força de trabalho, mesmo quando direciona sua ação para a transformação das relações entre os homens e da sociedade (SARMENTO apud LAVORETTI, 2016, p. 30). Os assistentes sociais são em seu cotidiano desafiados a repensar as mediações teórica – praticas que constroem na sua atuação profissional. Uma das expressões do exercício profissional tem sido o atendimento direto aos usuários. A abordagem é tão importante na relação entre assistente social e usuário constituindo – se como ferramenta imprescindível para subsidiar as decisões sobre as ações a serem realizadas, interferindo no planejamento do trabalho do Assistente Social (LAVORETTI, 2014, p. 72). Frente a esse posicionamento, caracterizar a abordagem como instrumento não é um consenso entre a categoria profissional. Sarmento (apud LAVORETTI, 2014, p. 72), define a abordagem como: Um contato intencional de aproximação através do qual é criado um espaço de dialogo crítico para a troca de informação e/ou experiências para aquisição de conhecimento e/ou de um conjunto de particularidades necessárias a ação profissional e/ou estabelecimento de novas relações de interesse dos usuários.] A abordagem deve estar associada à forma como nós assistentes sociais nos aproximamos dos usuários. Tem-se procurado, nas últimas décadas, ressignificar a profissão, reconstruir a relação com os usuários, que passam a ser considerados “sujeitos de direitos”. O Código de Ética Profissional de 1993, em seu artigo 5°, capitulo I, título III, estabelece os deveres do assistente social nas suas relações com os usuários, tais como: 36WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Contribuir para a viabilização da participação efetiva da população usuária nas decisões institucionais; garantir a plena informação e discussão sobre as possibilidades e consequências das situações, apresentadas, respeitando democraticamente as decisões dos usuários, mesmo que sejam contrários aos valores e as crenças individuais dos profissionais, resguardados os princípios desde código; democratizar as informações e o acesso aos programas disponíveis no espaço institucional, como um dos mecanismos indispensáveis a participação dos usuários; devolver as informações colhidas nos estudos e pesquisas aos usuários, no sentido de que estes passam usá-los para fortalecimento de seus interesses; informar a população usuária sobre a utilização de materiais de registro áudio – visual e pesquisas a elas referentes e a forma de sistematização dos dados obtidos; fornecer a população usuária, quando solicitado, informações concernentes ao trabalho desenvolvido pelo Serviço Social e suas conclusões, resguardando o sigilo profissional; contribuir para a criação de mecanismos que venham desburocratizar a relação com os usuários, no sentido de agilizar e melhorar os serviços prestados, esclarecer aos usuários, ao iniciar o trabalho, sobre os objetivos e a amplitude de sua atuação profissional (CFESS, 1993). Sendo assim, abordagem implica em acolhimento, portanto é necessário ter cuidado com o espaço da escuta. O papel do assistente social não é de mero ouvinte nesse processo de atendimento ao usuário e, por isso, como profissional, tem tarefas a cumprir e objetivos a atingir, considerando que o profissional possui um saber especifico para sua atenção profissional. Agora iremos abordar a entrevista no Serviço Social. Abordar o usuário exige acolhimento, escuta e respeito. A abordagem pode se tornar uma estratégia de aproximação, uma vez que ao conhecer a vida dos usuários, o profissional tem subsídios para sinalizar a preocupação profissional que ele atende, pois demonstra interesse, preocupação e compromisso, pautados no ético profissional. Segundo Lavoretti (2014), o Serviço Social brasileiro trabalha com a entrevista desde a sua origemcomo profissão, inicialmente no serviço Social de caso tinha por objetivos resolver as demandas, focando muitas vezes em fatos isolados, sem fazer a inter-relação com a realidade social. 37WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Atualmente, entende-se que muito mais do que um conjunto de regras e técnicas destinadas a resolver problemas dos usuários, a entrevista é um instrumental técnico-operativo, que permite realizar uma escuta qualificada com o usuário, conhecer a realidade social, econômica, cultural e política, onde este está inserido e que incide direta ou indiretamente sobre as suas demandas. Pode se dizer que no Serviço Social a pratica da escuta do usuário é utilizada historicamente, a exemplo do debate realizado acerca do relacionamento cuja concepção, inicialmente esteve relacionada à dimensão afetiva. Mas, no avanço do debate, com a inversão da perspectiva crítica, o relacionamento toma outra direção, sendo necessário para o estabelecimento de um campo de mediações, incluindo a totalidade das relações sociais na qual está incluída uma dimensão política e problematizadora. (CHUPEL e MIOTTO, p.50). Por meio do diálogo, pode vir a existir um movimento de ação reflexão entre assistente social e usuário. A entrevista possibilita aos sujeitos nela envolvidos contar e nela desvelar histórias através do uso da linguagem e do seu sentido, compreender as experiências e os significados a elas dados [...]. (LEWGOY E SILVEIRA, 2007, p. 249). Objetivo das entrevistas: 1 – Conhecer a realidade do usuário. 2 – Socializar as informações. A entrevista no Serviço Social constitui-se como processo de diálogo entre o assistente social e seus usuários, com objetivo de intervir na realidade profissional e ela deve estar articulada as diferentes dimensões, que constituem a competência profissional, sendo elas: teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa. 38WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 2 – Prefeitura visita famílias do Programa Casa para Quem Precisa. Fonte: Prefeitura de Araguaina (2018). 2.1 Classificação das Entrevistas 2.1.1 Entrevista estruturada Aqui nesta modalidade de entrevista, o Assistente Social, após apresentar e esclarecer os objetivos ao usuário, formula perguntas conforme uma ordem estabelecida em um roteiro previamente elaborado. Por possibilitar o tratamento quantitativo dos dados, este tipo de entrevista torna- se mais adequado para o desenvolvimento dos levantamentos sociais. (SILVA, 2010). 39WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Segundo Gil (1995), este tipo de entrevista é muito aplicado em instituições que tem por objetivos traças o perfil socioeconômico dos usuários. 2.1.2 Entrevista não estruturada Apesar de parecer bastante informal, não é uma simples conversa sem intencionalidade, pois tem como objetivo fundamental a obtenção de dados importantes à intervenção profissional. Organiza-se de acordo com as variáveis que dependem, preciosamente, de cada situação global, mas as perguntas devem ser formuladas sem que estas introduzam respostas. Permite qualificar dados com o entrevistado, capacitar, avaliar, orientar, informar, reforçar a autoestima e gerar participação (KISNERMAN, 1978, p. 27). Este tipo de entrevista, segundo o mesmo autor citado, pode ser focalizada, quando for centrada em uma determinada temática, onde o entrevistador “conversa” com o entrevistado, enfoca sem tema especifico, a entrevista não dirigida é completamente informal e permite dialogar sobre vários temas. 2.1.3 Entrevista semiestruturada (semidirigida por pautas) A entrevista semiestruturada é entendida como aquilo que, além de possuir questões norteadoras e objetivos preestabelecidos, deixa aberto espaço para o surgimento de outros aspectos não previstos pelo entrevistador. Podemos entender por entrevistas semiestruturadas, em geral aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam a pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, frutos de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas dos informantes (TRINOS apud LAVORETTI, p. 90). Figura 3 – Currículo Emocional. Fonte: Sete Lagoas (2018). 40WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Etapas da estrutura 1 – Planejamento: deve ser planejada antes de ser operacionalizada. 2 – Operacionalizar: momento da execução da coleta de dados, do contato com o usuário, da síntese e da avaliação. Muito importante neste momento, que o usuário seja acolhido, como já falamos anteriormente. 3 – Registro: a última etapa da entrevista é a sistematização das informações vertidas para documentar a evolução do atendimento realizado ao usuário, tem o objetivo também de contribuir para a integralidade do atendimento e compartilhar o conhecimento com os demais trabalhadores da instituição. (LEWGOY; SILVEIRA, 2007). Passaremos agora a refletir sobre a visita domiciliar, um dos instrumentos técnico – operativos utilizados pelos Assistentes Sociais, desde a origem da profissão, que exige continuo debate a fim de reconstruí-la e possibilitar seu uso na contemporaneidade, sempre em consonância com o projeto ético-político da profissão, na perspectiva do reconhecimento do direito da cidadania ou mais especificamente do “direito a ter direitos”, segundo a definição de Dagnino (1994, p. 108). A visita domiciliar é um dos nossos meios de trabalho, no campo do Serviço Social o debate do processo de trabalho nos coloca frente à necessidade de conhecer estes elementos constitutivos, além da finalidade, o objetivo de intervenção e os meios de trabalho. Segundo Minayo (1998), que o assistente social deve trabalhar tanto com dados quantitativos para desvelar a realidade, como com o universo de significados, motivos, valores, atitudes, assim o profissional pode compreender as contradições presentes no contexto que irá intervir. As expressões ou manifestações da questão social colocam-se diante de nós, assistentes sociais, sob a forma de demanda que no Serviço Social significa “requisição”, ou seja, uma demanda é uma requisição, apresentada ao assistente social pelos usuários dos serviços institucionais, pelos gestores/empregadores, por grupos comunitários ou pelo próprio assistente social com base na realidade. 41WWW.UNINGA.BR OF IC IN A DE F OR M AÇ ÃO P RO FI SS IO NA L EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Segundo Motta (apud SIMIONATO, 1998), “as demandas a rigor são requisições técnico – operativas que através do mercado de trabalho, incorporam as exigências dos sujeitos demandantes”. Para aprendermos os objetos de intervenção implícitos nas demandas e, por conseguinte, planejarmos e operacionalizarmos a intervenção com vistas a respondê-las, necessitamos de meio de trabalho, ou ferramentas, que são produzidas continuamente para melhor desenvolvermos as atividades profissionais. Aqui encontram-se os instrumentais técnicos-operativos. Freitas e Freitas (2003), afirmam que a “visita domiciliar” consiste na coleta de dados observando no próprio local de vida familiar, onde há maior espontaneidade, pois os envolvidos estão em seu território, o que permite captar “elementos que revelam o modus vivendi”, e que ainda expressa a “valorização do local do núcleo físico do grupo”. Uma vez que permite uma observação dinâmica do indivíduo na relação com seu meio cultural, social (usos e costumes), e atendimento da necessidade básica de abrigo e segurança (FREITAS e FREITAS, 2003, p. 60-61). Silva (2001) refere se a visita