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Ana P���a ���b��a M��t��� 6º pe�íod� M��i��n� TUTORIA SP 1.2 - “PÂNICO EM LISBOA” 1. Conceituar e caracterizar os transtornos ansiosos. (Tipos, classificação) 2. Conceituar e caracterizar a síndrome do pânico (conceito, epidemiologia, fisiopatologia, quadro clínico, diagnóstico, exames complementares, prognóstico, tratamento farmacológico e não farmacológico, diagnóstico diferencial e biopsicossocial). 3. Fundamentar os diagnósticos diferenciais dos transtornos ansiosos (diferenciando o infarto da ansiedade). 4. Avaliar as condutas frente aos transtornos de ansiedade nas emergências psiquiátricas. ________________________________________________________________________________________________ ______ 1. CONCEITUAR E CARACTERIZAR OS TRANSTORNOS ANSIOSOS. (TIPOS, CLASSIFICAÇÃO) CONCEITO: A ansiedade representa um fenômeno fundamental em torno do qual diversas teorias psiquiátricas foram organizadas. Portanto, o termo “ansiedade” tem desempenhado um papel central na teoria psicodinâmica, bem como na pesquisa focada na neurociência e em várias escolas de pensamento fortemente influenciadas pelos princípios cognitivo-comportamentais. Os transtornos de ansiedade estão associados com morbidade significativa e com frequência são crônicos e resistentes a tratamento. Eles podem ser vistos como uma família de transtornos mentais relacionados, mas distintos, que inclui (1) transtorno de pânico, (2) agorafobia, (3) fobia específica, (4) transtorno de ansiedade social ou fobia e (5) transtorno de ansiedade generalizada. Um aspecto fascinante dos transtornos de ansiedade é a extraordinária interação entre fatores genéticos e experiência. Existe pouca dúvida de que genes anormais predispõem a estados de ansiedade patológica; entretanto, as evidências indicam com clareza que acontecimentos de vida traumáticos e estresse também são etiologicamente importantes. Assim, o estudo desses transtornos apresenta uma oportunidade única de entender a relação entre natureza e criação na etiologia dos transtornos mentais. ANSIEDADE NORMAL: Todo mundo experimenta ansiedade. Ela é caracterizada mais comumente como uma sensação difusa, desagradável e vaga de apreensão, muitas vezes acompanhada por sintomas autonômicos como cefaleia, perspiração, palpitações, aperto no peito, leve desconforto estomacal e inquietação, indicada por uma incapacidade de ficar sentado ou em pé por muito tempo. A gama de sintomas presentes durante a ansiedade tende a variar entre as pessoas (Tab. 9.1-1). TRANSTORNO DO PÂNICO: MEDO X ANSIEDADE: A ansiedade é um sinal de alerta; indica um perigo iminente e capacita a pessoa a tomar medidas para lidar com a ameaça. O medo é um sinal de alerta semelhante, mas deve ser diferenciado da ansiedade. Ele é uma resposta a uma ameaça conhecida, externa, definida ou não conflituosa; a ansiedade é uma resposta a uma ameaça desconhecida, interna, vaga ou Ana P���a ���b��a M��t��� 6º pe�íod� M��i��n� conflituosa. Essa distinção entre medo e ansiedade surgiu de forma acidental. Quando o primeiro tradutor de Freud traduziu mal angst, a palavra alemã para “medo”, como ansiedade, o próprio Freud ignorou a distinção que associa a ansiedade com um objeto reprimido, inconsciente, e o medo com um objeto externo, conhecido. Pode ser difícil fazer essa distinção, porque o medo também pode ser devido a um objeto inconsciente, reprimido, interno, deslocado para outro objeto no mundo exterior. Por exemplo, um menino pode ter medo de cachorros latindo porque, na verdade, tem medo de seu pai e, inconscientemente, associa o pai a cachorros latindo. Apesar disso, de acordo com formulações psicanalíticas pós -freudianas, a separação entre medo e ansiedade é psicologicamente justificável. A emoção causada por um carro que se aproxima com rapidez à medida que o indivíduo atravessa a rua difere do desconforto vago que pode ser experimentado ao conhecer uma pessoa nova em um ambiente estranho. A diferença psicológica principal entre as duas respostas emocionais é a condição súbita do medo e o caráter insidioso da ansiedade. ANSIEDADE É ADAPTATIVA?: Ansiedade e medo são ambos sinais de alerta e atuam como uma advertência de uma ameaça externa ou interna. A ansiedade pode ser conceituada como uma resposta normal e adaptativa que tem qualidades salva-vidas e adverte sobre ameaças de dano corporal, dor, impotência, possível punição ou frustração de necessidades sociais ou corporais; separação de entes queridos; ameaça ao sucesso ou à posição individual; e, por fim, sobre ameaças à unidade ou integridade. Ela impele o indivíduo a tomar as medidas necessárias para evitar a ameaça ou reduzir suas consequências. Essa preparação é acompanhada por aumento da atividade somática e autonômica controlada pela interação dos sistemas nervosos simpático e parassimpático. Exemplos de uma pessoa que evita as ameaças da vida diária incluem aplicar-se na preparação de um exame, agarrar uma bola atirada contra a cabeça, entrar no dormitório de forma sorrateira após a hora estabelecida para evitar punição, correr para pegar o último trem. Dessa forma, a ansiedade previne prejuízo ao alertar o indivíduo a realizar certos atos que evitam o perigo. ESTRESSE E ANSIEDADE: Se um acontecimento é percebido ou não como estressante depende da natureza do acontecimento e dos recursos, das defesas psicológicas e dos mecanismos de enfrentamento da pessoa. Todas essas referências envolvem o ego, uma abstração coletiva para o processo pelo qual o indivíduo percebe, pensa e atua sobre os acontecimentos externos ou os impulsos internos. Uma pessoa cujo ego esteja funcionando de maneira apropriada está em equilíbrio adaptativo tanto com o mundo externo como com o interno; se o ego não estiver funcionando adequadamente e o desequilíbrio resultante continuar por tempo suficiente, o indivíduo experimentará ansiedade crônica. Se o desequilíbrio for externo, entre as pressões do mundo e o ego do indivíduo, ou interno, entre os impulsos (p. ex., agressivos, sexuais ou dependentes) e a consciência, ocorrerá um conflito. Os conflitos de causas externas costumam ser interpessoais, enquanto os de causas internas são intrapsíquicos ou intrapessoais. É possível uma combinação dos dois, como no caso de empregados cujo patrão excessivamente exigente e crítico provoca impulsos que precisam ser controlados pelo medo de perder o emprego. Os conflitos interpessoais e intrapsíquicos tendem a ser mesclados. Pelo fato de os seres humanos serem sociais, seus principais conflitos são, em geral, com outras pessoas. SINTOMAS DE ANSIEDADE: A experiência da ansiedade apresenta dois componentes: a percepção das sensações fisiológicas (como palpitações e suor) e a percepção do estar nervoso ou assustado. Um sentimento de vergonha pode aumentar a ansiedade – “os outros perceberão que Ana P���a ���b��a M��t��� 6º pe�íod� M��i��n� estou assustado”. A maioria das pessoas fica atônita ao verificar que os outros não se dão conta de sua ansiedade ou, se o fazem, não apreciam sua intensidade. Além dos efeitos motores e viscerais, a ansiedade afeta o pensamento, a percepção e o aprendizado. Tende a produzir confusão e distorções da percepção, não apenas do tempo e do espaço, mas também das pessoas e dos significados dos acontecimentos. Essas distorções podem interferir no aprendizado ao diminuir a concentração, reduzir a memória e perturbar a capacidade de fazer relações. Um aspecto importante das emoções é seu efeito sobre a atenção seletiva. Os indivíduos ansiosos ficam predispostos a selecionar certos aspectos de seu ambiente e subestimar outros em seu esforço para provar que se justifica considerar sua situação aterradora. Se, de maneira equivocada, justificam seu medo, aumentam a ansiedade pela resposta seletiva e estabelecem um círculo vicioso de ansiedade, percepções distorcidas e ansiedade aumentada. Se, como alternativa, se tranquilizam por meio de pensamentos seletivos, a ansiedade apropriada pode ser reduzida, e eles podem deixar de tomar as precauções necessárias. EPIDEMIOLOGIA DA ANSIEDADEPATOLÓGICA: Os transtornos de ansiedade constituem um dos grupos mais comuns de doenças psiquiátricas. O Estudo Americano de Comorbidade (National Comorbidity Study) relatou que 1 em cada 4 pessoas satisfaz o critério diagnóstico de pelo menos um transtorno de ansiedade e que há uma taxa de prevalência em 12 meses de 17,7%. As mulheres (com prevalência durante a vida de 30,5%) têm mais probabilidade de ter um transtorno de ansiedade do que os homens (prevalência durante a vida de 19,2%). Por fim, sua prevalência diminui com o status socioeconômico mais alto. 1 - AGORAFOBIA: Agorafobia refere-se a um medo ou uma ansiedade em relação a lugares dos quais a fuga possa ser difícil. Medo ou ansiedade marcantes acerca de duas (ou mais) das cinco situações seguintes: - Uso de transporte público (p. ex., automóveis, ônibus, trens, navios, aviões). - Permanecer em espaços abertos (p. ex., áreas de estacionamentos, mercados, pontes). - Permanecer em locais fechados (p. ex., lojas, teatros, cinemas). - Permanecer em uma fila ou ficar em meio a uma multidão. Sair de casa sozinha. O indivíduo tem medo ou evita essas situações devido a pensamentos de que pode ser difícil escapar ou de que o auxílio pode não estar disponível no caso de desenvolver sintomas do tipo pânico ou outros sintomas incapacitantes ou constrangedores (p. ex., medo de cair nos idosos; medo de incontinência). As situações agorafóbicas quase sempre provocam medo ou ansiedade. As situações agorafóbicas são ativamente evitadas, requerem a presença de uma companhia ou são suportadas com intenso medo ou ansiedade. O medo, ansiedade ou esquiva é persistente, geralmente durando mais de seis meses; 2 - FOBIA ESPECÍFICA: O termo fobia refere-se a um medo excessivo de objeto, circunstância ou situação específicos. A fobia específica é um medo intenso e persistente de um objeto ou de uma situação. O diagnóstico de fobia específica requer o desenvolvimento de ansiedade intensa, mesmo a ponto de pânico, quando da exposição ao objeto temido. Pessoas com essa fobia podem antecipar lesões, tal como serem mordidas por um cão, ou podem ficar em pânico ante o pensamento de perder o controle; por exemplo, se têm medo de andar de elevador, também podem se preocupar com a possibilidade de desmaiar após a porta se fechar. O desenvolvimento de uma fobia específica pode resultar da associação de um objeto ou da situação específicos com as emoções de medo e pânico. Foram postulados vários mecanismos para Ana P���a ���b��a M��t��� 6º pe�íod� M��i��n� essa relação. Em geral, uma tendência não específica de experimentar medo ou ansiedade forma a cortina de fundo; quando um evento específico (p. ex., dirigir) é associado a uma experiência emocional (um acidente), o indivíduo fica suscetível a uma relação emocional permanente entre dirigir ou veículos e medo ou ansiedade. A experiência emocional por si só pode decorrer de um incidente externo, 3 - TRANSTORNO DE ANSIEDADE SOCIAL (FOBIA SOCIAL): Medo ou ansiedade acentuados acerca de uma ou mais situações sociais em que o indivíduo é exposto a possível avaliação por outras pessoas. Exemplos incluem interações sociais (p. ex., manter uma conversa, encontrar pessoas que não são familiares), ser observado (p. ex., comendo ou bebendo) e situações de desempenho diante de outros (p. ex., proferir palestras); O indivíduo teme agir de forma a demonstrar sintomas de ansiedade que serão avaliados negativamente (será humilhante ou constrangedor; provocará a rejeição ou ofenderá a outros). As situações sociais quase sempre provocam medo ou ansiedade. Nota: Em crianças, o medo ou ansiedade pode ser expresso chorando, com ataques de raiva, imobilidade, comportamento de agarrar-se, encolhendo-se ou fracassando em falar em situações sociais. As situações sociais são evitadas ou suportadas com intenso medo ou ansiedade. O medo ou ansiedade é desproporcional à ameaça real apresentada pela situação social e o contexto sociocultural. O medo, ansiedade ou esquiva é persistente, geralmente durando mais de seis meses. 4 - TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA: Esse transtorno é caracterizado por preocupação e ansiedade excessivas, com motivos injustificáveis ou desproporcionais ao nível de ansiedade observada, ocorrendo na maioria dos dias, por pelo menos 6 meses. Geralmente está associado com 3 ou mais dos seguintes sintomas (com pelo menos 1 presente na maioria dos dias nos últimos 6 meses): - Inquietação ou sensação de estar com os nervos à flor da pele; - Fatigabilidade - Dificuldade em concentrar-se ou sensações de “branco” na mente; - Irritabilidade; - Tensão muscular; - Perturbação do sono (dificuldade em iniciar ou manter o sono ou sono insatisfatório); Nas crianças apenas 1 item é exigido! Um critério presente em todos os transtornos mentais é o prejuízo no funcionamento pessoal. Muitos indivíduos com transtorno de ansiedade generalizada também experimentam sintomas somáticos (p. ex., sudorese, náusea, diarreia) e uma resposta de sobressalto exagerada. Sintomas de excitabilidade autonômica aumentada (p. ex., batimentos cardíacos acelerados, falta de ar, tonturas) são menos proeminentes no transtorno de ansiedade generalizada do que em outros transtornos de ansiedade, tais como o transtorno de pânico. 5 - POR OUTRA CONDIÇÃO MÉDICA: Muitas condições médicas estão associadas com ansiedade. Os sintomas podem incluir ataques de pânico, ansiedade generalizada e outros sinais de sofrimento. Em todos os casos, os sinais e sintomas serão devidos aos efeitos fisiológicos diretos da condição médica. Hipertireoidismo, hipotireoidismo, hipoparatireoidismo e deficiência de vitamina B12, frequentemente, estão associados com sintomas de ansiedade. Um feocromocitoma produz epinefrina, que pode causar episódios paroxísticos de sintomas de ansiedade. Outras condições, como arritmia cardíaca, podem produzir sintomas fisiológicos de transtorno de pânico. A Ana P���a ���b��a M��t��� 6º pe�íod� M��i��n� hipoglicemia também pode imitar os sintomas de um transtorno de ansiedade. As diferentes condições médicas que podem causar sintomas de ansiedade o fazem por meio de um mecanismo comum que envolve tanto o sistema noradrenérgico como o sistema serotonérgico. Cada uma delas é caracterizada por ansiedade proeminente que surge como resultado direto de alguma perturbação fisiológica subjacente. 6 - INDUZIDO POR SUBSTÂNCIAS: Esse transtorno é o resultado direto de uma substância tóxica, incluindo drogas de abuso, medicamentos, venenos e álcool, entre outras. Uma ampla variedade de substâncias pode causar sintomas de ansiedade capazes de imitar qualquer um dos transtornos de ansiedade do DSM-5. Embora os simpatomiméticos como a anfetamina, a cocaína e a cafeína tenham sido associados com a produção de sintomas de transtorno de ansiedade, muitos medicamentos serotonérgicos (p. ex., LSD e MDMA) também podem causar síndromes de ansiedade tanto crônicas como agudas. Inúmeros medicamentos prescritos também estão associados com a produção de sintomas de transtorno de ansiedade em pessoas suscetíveis. 7 - TRANSTORNO MISTO DE ANSIEDADE E DEPRESSÃO: Esse transtorno descreve pacientes com sintomas tanto de ansiedade quanto de depressão que não satisfazem os critérios diagnósticos para um transtorno de ansiedade e um transtorno do humor. A combinação de sintomas de ansiedade e depressão resulta em comprometimento funcional significativo para a pessoa afetada. A condição pode ser particularmente prevalente nos consultórios de clínicos gerais e em clínicas ambulatoriais de saúde mental. Seus oponentes, no entanto, têm argumentado que a disponibilidade do diagnóstico pode desencorajar os médicos a dedicarem o tempo necessário para obter uma história psiquiátrica completa a fim de diferenciar transtornos depressivos verdadeiros de transtornos de ansiedade verdadeiros. Na Europa e, em especial, na China, muitos desses pacientes recebem o diagnóstico de neurastenia. 2. CONCEITUAR E CARACTERIZAR A SÍNDROME DO PÂNICO (CONCEITO, EPIDEMIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, QUADRO CLÍNICO,DIAGNÓSTICO, EXAMES COMPLEMENTARES, PROGNÓSTICO, TRATAMENTO FARMACOLÓGICO E NÃO FARMACOLÓGICO, DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL E BIOPSICOSSOCIAL). Um ataque intenso agudo de ansiedade acompanhado por sentimentos de desgraça iminente é conhecido como transtorno de pânico. A ansiedade é caracterizada por períodos distintos de medo intenso que podem variar de vários ataques durante um dia a apenas poucos ataques durante um ano. Os pacientes com o transtorno apresentam- -se com uma série de condições comórbidas, mais comumente agorafobia, que se refere a medo ou ansiedade em relação a lugares dos quais a saída poderia ser difícil. A ideia do transtorno de pânico pode ter suas raízes no conceito da síndrome do coração irritável, que o médico Jacob Mendes DaCosta (1833-1900) observou em soldados na Guerra Civil Americana. A síndrome de DaCosta incluía muitos sintomas psicológicos e somáticos que desde então foram incluídos entre os critérios diagnósticos para transtorno de pânico. Em 1895, Sigmund Freud introduziu o conceito de neurose de ansiedade, consistindo em sintomas psicológicos e somáticos agudos e crônicos. Ana P���a ���b��a M��t��� 6º pe�íod� M��i��n� EPIDEMIOLOGIA: A prevalência de transtorno de ao longo da vida pânico está na variação de 1 a 4%, com a prevalência em 6 meses de aproximadamente 0,5 a 1,0%, e de 3 a 5,6% para ataques de pânico. As mulheres têm três vezes mais probabilidade de serem afetadas do que os homens, ainda que o subdiagnóstico de transtorno de pânico em homens possa contribuir para a distribuição distorcida. São poucas as diferenças entre hispânicos, brancos e negros. O único fator social identificado como contribuindo para o desenvolvimento desse transtorno é história recente de divórcio ou separação. O transtorno costuma surgir na idade adulta jovem – a idade média de apresentação é em torno dos 25 anos –, mas tanto transtorno de pânico como agorafobia podem se desenvolver em qualquer idade. O transtorno de pânico tem sido relatado em crianças e adolescentes, embora seja provavelmente subdiagnosticado nesses grupos. Dos pacientes com transtorno de pânico, 91% têm pelo menos outro transtorno psiquiátrico. Cerca de um terço das pessoas com transtornos de pânico já tinham transtorno depressivo maior antes de seu início; e em torno de dois terços experimentam transtorno de pânico pela primeira vez durante ou após o início de depressão maior. Outros transtornos também ocorrem comumente em pessoas com transtorno de pânico. Entre aquelas com a condição, 15 a 30% também têm transtorno de ansiedade social ou fobia social, 2 a 20% têm fobia específica, 15 a 30% têm transtorno de ansiedade generalizada, 2 a 10% têm TEPT, e até 30% têm TOC. Outras condições comórbidas comuns são hipocondria ou transtorno de ansiedade relacionado a doenças, transtornos da personalidade e transtornos relacionados a substâncias. FISIOPATOLOGIA FATORES BIOLÓGICOS: A pesquisa sobre as bases biológicas do transtorno de pânico produziu uma variedade de achados; uma interpretação é a de que os sintomas estão relacionados a uma série de anormalidades biológicas na estrutura e na função do cérebro. A maioria dos trabalhos utilizou estimulantes biológicos para induzir os ataques de pânico em pacientes com o transtorno. Evidências consideráveis indicam que a regulação anormal dos sistemas noradrenérgicos também está envolvida na fisiopatologia do transtorno. Esses e outros estudos produziram hipóteses que implicam a desregulação dos sistemas nervosos periférico e central em sua fisiopatologia. Foi relatado que o sistema nervoso autônomo de alguns pacientes exibe aumento do tônus simpático, adapta-se lentamente a estímulos repetidos e responde de maneira excessiva a estímulos moderados. Os principais sistemas de neurotransmissores implicados são os da norepinefrina, da serotonina e do GABA. A disfunção serotonérgica é bem evidente no transtorno de pânico, e vários estudos com medicamentos mistos agonistas e antagonistas da serotonina revelaram aumento dos níveis de ansiedade. Essas respostas podem ser causadas por hipersensibilidade pós-sináptica a serotonina no transtorno de pânico. Evidências pré-clínicas sugerem que a atenuação da transmissão GABAérgica inibidora local na amígdala basolateral, no mesencéfalo e no hipotálamo pode desencadear respostas fisiológicas semelhantes a ansiedade. Os dados biológicos conduziram a um foco no tronco cerebral (em particular nos neurônios noradrenérgicos do locus ceruleus e nos neurônios serotonérgicos dos núcleos da rafe mediana), no sistema límbico (possivelmente responsável pela geração da ansiedade antecipatória) e no córtex pré-frontal (possivelmente responsável pela geração de esquiva fóbica). Entre os vários neurotransmissores envolvidos, o sistema noradrenérgico também tem atraído muita atenção, com os receptores 2-adrenérgicos pré- -sinápticos, em particular, desempenhando um papel significativo. Pacientes com transtorno de pânico são sensíveis aos efeitos ansiogênicos da ioimbina, além de terem respostas exageradas a Ana P���a ���b��a M��t��� 6º pe�íod� M��i��n� MHPG e cortisol e cardiovasculares. Eles foram identificados por provocações farmacológicas com o agonista dos receptores 2 clonidina e o antagonista dos receptores 2 ioimbina, que estimulam o disparo do locus ceruleus e induzem taxas elevadas de atividade semelhante a pânico em pacientes com transtorno de pânico. Substâncias indutoras do pânico: As substâncias indutoras de pânico (por vezes denominadas panicogênicas) induzem ataques na maioria dos pacientes com transtorno de pânico e em uma proporção muito menor de indivíduos sem o transtorno ou sem história de ataques de pânico. As substâncias indutoras de pânico chamadas de respiratórias causam estimulação respiratória e mudança no equilíbrio acidobásico. Elas incluem dióxido de carbono (misturas de 5 a 35%), lactato de sódio e bicarbonato. As substâncias indutoras de pânico neuroquímicas que atuam por meio de sistemas neurotransmissores específicos incluem a ioimbina, um antagonista dos receptores 2-adrenérgicos; a mCPP, um agente com efeitos serotonérgicos múltiplos; medicamentos m-Carolines; agonistas inversos dos receptores GABAB; o flumazenil, um antagonista dos receptores GABAB; a colecistocinina; e a cafeína. O isoproterenol também induz pânico, embora seu mecanismo de ação na indução dos ataques não seja bem entendido. As substâncias indutoras de pânico respiratórias podem atuar inicialmente nos barorreceptores cardiovasculares periféricos e retransmitir seus sinais por aferentes vagais para o núcleo do trato solitário e, a seguir, para o núcleo paragigantocelular da medula. A hiperventilação em pacientes com transtorno de pânico pode ser causada por um sistema de alarme pelo qual o aumento das concentrações de Pco2 e de lactato cerebral ativa de forma prematura um sensor fisiológico de asfixia. Presume-se que as substâncias neuroquímicas indutoras de pânico afetem diretamente sobretudo os receptores noradrenérgicos, serotonérgicos e GABAérgicos do SNC. Imagens cerebrais: Estudos de imagens cerebrais estruturais, por exemplo, RM, em pacientes com transtorno de pânico implicaram o envolvimento patológico dos lobos temporais, em particular o hipocampo e a amígdala. Um estudo por RM relatou anormalidades, especialmente atrofia cortical, no lobo temporal direito desses pacientes. Estudos de imagens cerebrais funcionais, por exemplo, tomografia por emissão de pósitrons (PET), implicaram a desregulação do fluxo sanguíneo cerebral (FSC) (aumento menor ou diminuição real no FSC). De maneira específica, transtornos de ansiedade e ataques de pânico estão associados com vasoconstrição cerebral, que pode resultar em sintomas do SNC, como tonturas, e em sintomas do sistema nervoso periférico que podem ser induzidos por hiperventilação e por hipocapnia. A maioria dos estudos de imagens cerebrais funcionais utilizou uma substância indutora de pânico específica (p. ex., lactato, cafeína ou ioimbina) em combinação com PET ou SPECT para avaliar os efeitosda substância indutora de pânico e o ataque de pânico induzido sobre o fluxo sanguíneo cerebral. Prolapso da válvula mitral: Mesmo tendo havido grande interesse na associação entre prolapso da válvula mitral e transtorno de pânico, a pesquisa desfez quase completamente qualquer significância ou relevância clínica. O prolapso da válvula mitral é uma síndrome heterogênea que consiste em prolapso de uma das lâminas da válvula mitral, resultando em um estalido (click) mesossistólico na ausculta cardíaca. Estudos verificaram que a prevalência de transtorno de pânico em pacientes com prolapso da válvula mitral é a mesma do transtorno em pacientes sem a condição. FATORES GENÉTICOS: Vários estudos verificaram que os parentes em primeiro grau de pacientes com transtorno de pânico têm um risco 4 a 8 vezes maior para o transtorno do que os parentes em Ana P���a ���b��a M��t��� 6º pe�íod� M��i��n� primeiro grau de outros pacientes psiquiátricos. Os estudos de gêmeos conduzidos até o momento em geral relataram que os monozigóticos têm mais probabilidade de serem concordantes para o transtorno de pânico do que os dizigóticos. Nesse ponto, não existem dados que indiquem uma associação entre uma localização específica nos cromossomos ou um modo de transmissão e esse transtorno. FATORES PSICOSSOCIAIS: Teorias psicanalíticas foram desenvolvidas para explicar a patogênese do transtorno de pânico. Elas conceituam os ataques de pânico como tendo origem em uma defesa malsucedida contra impulsos provocadores de ansiedade. O que era anteriormente uma leve ansiedade-sinal se torna um sentimento esmagador de apreensão, junto com sintomas somáticos. Muitos pacientes descrevem os ataques surgindo do nada, como se não houvesse fatores psicológicos envolvidos, mas a exploração psicodinâmica com frequência revela um gatilho psicológico claro para o ataque de pânico. Embora os ataques de pânico sejam neurofisiologicamente correlacionados com o locus ceruleus, seu início costuma estar associado a fatores ambientais ou psicológicos. Os pacientes têm uma incidência mais alta de acontecimentos de vida estressantes (sobretudo perdas) nos meses anteriores ao início do transtorno de pânico do que indivíduos-controle. Além disso, os pacientes normalmente experimentam mais tensão sobre os acontecimentos da vida do que os controles. A hipótese de que acontecimentos psicológicos estressantes produzem alterações neurofisiológicas no transtorno de pânico é apoiada pelo estudo de mulheres gêmeas. A separação da mãe cedo na vida tinha claramente mais probabilidade de resultar em transtorno de pânico do que a separação do pai na coorte de 1.018 pares de gêmeas. Outro fator etiológico em pacientes mulheres adultas parece ser o abuso físico e sexual na infância. Cerca de 60% das mulheres com ataques de pânico apresentam história de abuso sexual, comparadas com 31% daquelas com outros transtornos de ansiedade. O apoio adicional para mecanismos psicológicos e transtorno de pânico pode ser inferido de um estudo em que os pacientes receberam um tratamento bem-sucedido com terapia cognitiva. Antes da terapia, eles responderam à indução de ataques de pânico com lactato. Após terapia cognitiva bem-sucedida, a infusão não produziu mais ataques. A pesquisa indica que a causa dos ataques de pânico provavelmente envolva um significado inconsciente de acontecimentos estressantes e que sua patogenia pode estar relacionada a fatores neurofisiológicos desencadeados por reações psicológicas. Os médicos psicodinâmicos devem sempre fazer uma investigação exaustiva sobre possíveis gatilhos quando avaliarem um paciente com transtorno de pânico. A psicodinâmica desse transtorno está resumida na Tabela 9.2-1. Ana P���a ���b��a M��t��� 6º pe�íod� M��i��n� QUADRO CLÍNICO: Com frequência, o primeiro ataque de pânico é completamente espontâneo, embora muitos possam estar relacionados com excitação, esforço físico, atividade sexual ou trauma emocional moderado. Os médicos devem tentar avaliar qualquer hábito ou situação que costume preceder os ataques de um paciente. Essas atividades podem incluir uso de cafeína, álcool, nicotina ou outras substâncias; padrões incomuns do sono e de alimentação; e situações ambientais específicas, como iluminação desagradável no trabalho. O ataque com frequência começa com um período de 10 minutos de sintomas rapidamente crescentes. Os principais sintomas mentais são medo extremo e uma sensação de morte e tragédia iminentes. Os pacientes em geral não podem designar a fonte de seu medo; podem se sentir confusos e ter problemas para se concentrar. Os sintomas físicos costumam incluir taquicardia, palpitações, dispneia e sudorese. Os pacientes tentam sair de qualquer situação em que estejam e procurar auxílio. O ataque dura, em média, de 20 a 30 minutos e raramente mais de uma hora. O exame formal do estado mental durante o ataque de pânico pode revelar ruminação, dificuldade de fala (p. ex., gagueira) e comprometimento da memória. É possível experimentar depressão ou despersonalização durante um ataque. Os sintomas podem desaparecer de forma rápida ou gradual. Entre os ataques, os pacientes podem manifestar ansiedade antecipatória de terem um novo ataque. A distinção entre ansiedade antecipatória e transtorno de ansiedade generalizada pode ser difícil, embora aqueles com transtorno de pânico com ansiedade antecipatória possam designar o foco de sua ansiedade. Preocupações somáticas de morte por problemas cardíacos ou respiratórios podem ser o principal foco da atenção do indivíduo durante os ataques. Eles podem acreditar que as palpitações e a dor no peito indicam que estão para morrer. Até 20% deles de fato têm episódios de síncope durante os ataques de pânico. É possível ver em prontos-socorros indivíduos jovens (na faixa dos 20 anos), fisicamente sadios e mesmo assim insistindo em que podem morrer de um ataque cardíaco. Em vez de logo diagnosticar hipocondria, o médico deve considerar o diagnóstico de transtorno de pânico. A hiperventilação pode produzir alcalose respiratória e outros sintomas. A antiga recomendação de respirar dentro de um saco de papel às vezes ajuda, porque reduz a alcalose. SÍNTOMAS ASSOCIADOS: Sintomas depressivos com frequência estão presentes no transtorno de pânico, e em alguns pacientes, um transtorno depressivo coexiste com o transtorno de pânico. Ana P���a ���b��a M��t��� 6º pe�íod� M��i��n� Alguns estudos verificaram que o risco de suicídio durante a vida nesse grupo é mais alto do que em pessoas sem transtorno mental. Os médicos devem estar atentos para o risco de suicídio. Além da agorafobia, outras fobias e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) podem coexistir com o transtorno de pânico. As consequências psicossociais do transtorno de pânico, além da discórdia conjugal, podem incluir tempo perdido no trabalho, dificuldades financeiras relacionadas à perda do trabalho e abuso de álcool e outras substâncias. DIAGNÓSTICO ATAQUES DE PÂNICO: Um ataque de pânico é um período súbito de intenso medo ou apreensão que pode durar de minutos a horas. Ele pode ocorrer também em outros transtornos mentais, particularmente na fobia específica, na fobia social e no TEPT. Ataques inesperados ocorrem a qualquer momento e não estão associados a um estímulo situacional identificável, mas não precisam se apresentar dessa forma. Em pacientes com fobia social e específica, eles costumam ser esperados ou indicados por um estímulo específico reconhecido. Alguns não se encaixam com facilidade na distinção entre inesperado e esperado, sendo referidos como ataques de pânico predispostos por situações. Eles podem ou não ocorrer quando um paciente é exposto a um gatilho específico, ou podem ocorrer tanto imediatamente após exposição quanto após uma considerável demora. TRANSTORNO DE PÂNICO: Os critérios diagnósticos para transtorno de pânico da quinta edição do Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5) são listados na Tabela 9.2-2. Alguns levantamentos da comunidade indicaram que ataques de pânicosão comuns, e uma questão Ana P���a ���b��a M��t��� 6º pe�íod� M��i��n� importante no desenvolvimento dos critérios diagnósticos para esse transtorno foi determinar um número ou uma frequência limiar de ataques de pânico requeridos para satisfazer o diagnóstico. Estabelecer um limiar muito baixo resulta no diagnóstico de transtorno de pânico em pacientes que não têm um comprometimento por um ataque de pânico ocasional; estabelecer um limiar muito alto resulta em uma situação na qual pacientes que estão comprometidos por seus ataques de pânico não satisfazem os critérios diagnósticos. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS TRANSTORNO DE PÂNICO: O diagnóstico diferencial para um paciente com transtorno de pânico inclui vários distúrbios médicos (Tab. 9.2-3), bem como muitos outros transtornos mentais. DISTÚRBIOS MÉDICOS: O transtorno de pânico deve ser diferenciado de uma série de condições médicas que produzem sintomatologia semelhante. Os ataques de pânico estão associados com uma variedade de distúrbios endocrinológicos, incluindo estados hipo e hipertireoidianos, hiperparatireoidismo e feocromocitomas. Hipoglicemia episódica associada com insulinomas também pode produzir estados semelhantes a pânico, assim como os processos neuropatológicos primários. Estes incluem transtornos convulsivos, disfunção vestibular, neoplasmas ou os efeitos sobre o SNC de substâncias prescritas ou ilícitas. Por fim, distúrbios dos sistemas cardíaco e pulmonar, incluindo arritmias, doença pulmonar obstrutiva crônica e asma, podem produzir sintomas autonômicos e aumento da ansiedade que podem ser difíceis de diferenciar de transtorno de pânico. Indícios de uma etiologia médica subjacente aos sintomas de pânico incluem a presença de características atípicas durante os ataques de pânico, como ataxia, alterações na consciência ou descontrole da bexiga; início de transtorno de pânico relativamente tarde na vida; e sinais e sintomas físicos indicativos de um problema clínico. TRANSTORNOS MENTAIS: O transtorno de pânico também deve ser diferenciado de uma série de transtornos psiquiátricos, em particular outros transtornos de ansiedade. Ataques de pânico ocorrem em muitos transtornos de ansiedade, entre eles fobia social e específica. Pânico também pode Ana P���a ���b��a M��t��� 6º pe�íod� M��i��n� ocorrer no TEPT e no TOC. O segredo para diagnosticar de maneira correta o transtorno de pânico e diferenciar a condição de outros transtornos de ansiedade envolve a documentação de ataques de pânico espontâneos recorrentes em algum momento na doença. A diferenciação de transtorno de ansiedade generalizada também pode ser difícil. Classicamente, os ataques de pânico são caracterizados por seu início rápido (em minutos) e duração curta (em geral menos de 10 a 15 minutos), em comparação com a ansiedade associada com o transtorno de ansiedade generalizada, que surge e se dissipa mais lentamente. Entretanto, pode ser difícil fazer essa distinção, porque a ansiedade em torno dos ataques de pânico pode ser mais difusa e mais lenta para se dissipar do que o normal. Visto que a ansiedade é um concomitante frequente de muitos outros transtornos psiquiátricos, incluindo as psicoses e os transtornos afetivos, a discriminação entre transtorno de pânico e muitos outros transtornos também pode ser difícil. FOBIA ESPECÍFICA E FOBIA SOCIAL: Às vezes, é difícil distinguir entre transtorno de pânico, por um lado, e fobias específica e social, por outro. Alguns pacientes que vivenciam um único ataque de pânico em uma situação específica (p. ex., um elevador) podem acabar tendo evitação de longa duração contra esse local específico, independentemente de se tiveram outro ataque de pânico. Esses pacientes satisfazem os critérios diagnósticos para uma fobia específica, e os médicos devem usar seu julgamento sobre qual é o diagnóstico mais apropriado. Em outro exemplo, uma pessoa que vivencia um ou mais ataques de pânico pode, então, ter medo de falar em público. Embora o quadro clínico seja quase idêntico ao da fobia social, um diagnóstico de fobia social é excluído porque a esquiva da situação pública é baseada no medo de ter um ataque de pânico, e não no medo de falar em público em si. CURSO E PROGNÓSTICO: O transtorno de pânico geralmente tem seu início no fim da adolescência ou no início da vida adulta, ainda que possa ocorrer durante a infância, o início da adolescência e a meia-idade. Alguns dados implicam aumento de estressores psicossociais com o início do transtorno, embora nenhum destes possa ser identificado com muita clareza na maioria dos casos. O transtorno de pânico em geral é crônico, ainda que seu curso seja variável tanto entre pacientes como em um único paciente. Os estudos de acompanhamento a longo prazo disponíveis são difíceis de interpretar, porque não foram controlados para os efeitos do tratamento. Apesar disso, cerca de 30 a 40% dos pacientes parecem ficar livres de sintomas no acompanhamento a longo prazo, em torno de 50% têm sintomas suficientemente leves para não afetar sua vida de modo significativo, e 10 a 20% continuam a ter sintomas relevantes. Após o primeiro ou segundo ataque de pânico, os indivíduos podem ficar bastante despreocupados em relação à condição; com ataques repetidos, contudo, os sintomas podem se tornar a principal preocupação. As pessoas podem tentar manter os ataques de pânico em segredo e, assim, preocupam seus familiares e amigos com as mudanças inexplicáveis no comportamento. A frequência e a gravidade dos ataques podem oscilar. Eles podem ocorrer várias vezes por dia ou menos de uma vez por mês. A ingestão excessiva de cafeína ou nicotina pode exacerbar os sintomas. A depressão pode complicar o quadro de sintomas em 40 a 80% de todos os pacientes, conforme estimado por vários estudos. Embora não sejam propensos a falar sobre ideação suicida, os pacientes apresentam maior risco para cometer suicídio. A dependência de álcool e de outras substâncias ocorre em cerca de 20 a 40% dos pacientes, e também pode se desenvolver um transtorno obsessivo-compulsivo. As interações na família e o desempenho na escola e no trabalho Ana P���a ���b��a M��t��� 6º pe�íod� M��i��n� costumam ser afetados. Aqueles com bom desempenho pré-mórbido e sintomas de duração breve tendem a ter bom prognóstico. TRATAMENTO: Com tratamento, a maioria dos pacientes exibe uma melhora importante nos sintomas de transtorno de pânico e agorafobia. Os dois tratamentos mais eficazes são a farmacoterapia e a terapia cognitivo-comportamental. As terapias familiar e de grupo podem ajudar os indivíduos afetados e suas famílias a ajustarem-se ao transtorno e às dificuldades psicossociais que ele possa ter precipitado. FARMACOTERAPIA: VISÃO GERAL: Alprazolam e paroxetina são os dois medicamentos aprovados pela Food and Drug Administration (FDA) para o tratamento do transtorno de pânico. Em geral, a experiência está mostrando superioridade dos inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs) e da clomipramina sobre os benzodiazepínicos, os inibidores da monoaminoxidase (IMAOs) e os medicamentos tricíclicos e tetracíclicos, em termos de eficácia e tolerância de efeitos adversos. Alguns relatos sugeriram um papel para a venlafaxina, e a buspirona tem sido sugerida como um medicamento auxiliar em alguns casos. A venlafaxina é aprovada pela FDA para o tratamento do transtorno de ansiedade generalizada e pode ser útil no transtorno de pânico combinado com depressão. Não foi verificado que antagonistas dos receptores β-adrenérgicos sejam particularmente úteis para o transtorno de pânico. Uma abordagem conservadora é iniciar o tratamento com paroxetina, sertralina, citalopram ou fluvoxamina no transtorno de pânico isolado. Se o controle rápido de sintomas graves for desejado, um tratamento breve com alprazolam deve ser iniciado junto com o ISRS, seguido pela redução gradativa da utilização do benzodiazepínico. Na utilização de longo prazo, a fluoxetina é um agente eficiente para o transtorno de pânico com depressão comórbida, embora suas propriedadesativadoras iniciais possam imitar os sintomas de pânico nas primeiras semanas e ela possa ser mal tolerada nesse esquema. O clonazepam pode ser prescrito para pacientes que antecipam uma situação em que pode ocorrer pânico (0,5-1 mg conforme necessidade). As doses habituais dos medicamentos antipânico estão listadas na tabela seguinte. INIBIDORES SELETIVOS DA RECAPTAÇÃO DE SEROTONINA: Todos os ISRSs são eficientes para o transtorno de pânico. A paroxetina e a paroxetina CR têm efeitos sedativos e tendem a acalmar os pacientes de imediato, apesar do potencial ganho de peso. O citalopram, o escitalopram, a fluvoxamina e a sertralina são as seguintes mais bem toleradas. Os medicamentos devem ser administrados em pequenas doses iniciais, elevadas pouco a pouco. Na dose terapêutica – por exemplo, 20 mg por dia de paroxetina –, alguns pacientes podem experimentar aumento da sedação. Uma abordagem para pacientes com transtorno de pânico é administrar 5 a 10 mg/dia de paroxetina ou 12,5 a 25 mg de paroxetina CR por 1 a 2 semanas e, então, aumentar a dose em 10 mg/dia de paroxetina ou 12,5 mg de paroxetina CR a cada 1 a 2 semanas, até o máximo de 60 mg de paroxetina ou 62,5 mg de paroxetina CR. Caso a sedação se torne intolerável, reduzir a dose para 10 mg/dia de paroxetina ou 12,5 mg de paroxetina CR e mudar para 10 mg/dia de fluoxetina e elevá-la lentamente. Outras estratégias podem ser utilizadas com base na experiência do clínico. BENZODIAZEPÍNICO: Os benzodiazepínicos dificultam a excitação (e a transmissão de sinais) de neurônios que contêm o receptor GABAA (assim chamado por funcionar quando o neurotransmissor ácido gama-aminobutírico, ou GABA, se liga a ele). Isso se dá através do aumento da entrada de íons negativos (Cl⁻) na célula, com consequente hiperpolarização entre os meios externo e interno Ana P���a ���b��a M��t��� 6º pe�íod� M��i��n� do neurônio. A hiperpolarização diminui a ativação neuronal em diversas vias do sistema nervoso central, muitas das quais estão relacionadas com ansiedade e tensão. Esses agentes têm o início de ação mais rápido contra o pânico, por vezes na primeira semana, e podem ser utilizados por períodos longos sem o desenvolvimento de tolerância aos efeitos antipânico. O alprazolam tem sido o mais utilizado para o transtorno de pânico, mas estudos controlados demonstraram eficácia igual para o lorazepam, e relatos de caso também indicaram que o clonazepam pode ser eficaz. Alguns pacientes utilizam benzodiazepínicos quando se defrontam com um estímulo fóbico. Eles podem ser razoavelmente empregados como primeiro agente para o tratamento do transtorno de pânico enquanto a dose de um medicamento serotonérgico estiver sendo titulada lentamente para uma dose terapêutica. Após 4 a 12 semanas, o uso dos benzodiazepínicos pode ser reduzido pouco a pouco (ao longo de 4 a 10 semanas), enquanto o medicamento serotonérgico é continuado. A maior reserva entre os médicos relativa ao uso dos benzodiazepínicos para o transtorno de pânico é o potencial para dependência, comprometimento cognitivo e abuso, em especial após a utilização a longo prazo. Os pacientes devem ser instruídos a não dirigir ou operar equipamentos perigosos enquanto estiverem utilizando esses agentes. Embora eles provoquem uma sensação de bem-estar, sua interrupção gera uma síndrome de abstinência bem documentada e desagradável. Relatos empíricos e pequenas séries de casos indicaram que a adição de alprazolam é uma das mais difíceis de superar, podendo requerer um programa abrangente de desintoxicação. A dose do benzodiazepínico deve ser reduzida lenta e gradativamente, e os efeitos esperados da retirada devem ser explicados em detalhes ao paciente. Ana P���a ���b��a M��t��� 6º pe�íod� M��i��n� MEDICAMENTOS TRICÍCLICOS E TETRACÍCLICOS: Atualmente, os ISRSs são considerados os agentes de primeira linha para o tratamento de transtorno do pânico. Entretanto, dados mostram que entre os medicamentos tricíclicos, a clomipramina e a imipramina são os mais eficazes no tratamento desse transtorno. A experiência clínica indica que as doses devem ser aumentadas aos poucos, para evitar a estimulação excessiva, e que o benefício clínico completo necessita de dosagens totais, que podem não ser atingidas por 8 a 12 semanas. Alguns dados apoiam a eficácia da desipramina, e menos evidências sugerem um papel para a maprotilina, a trazodona, a nortriptilina, a amitriptilina e a doxepina. Os medicamentos tricíclicos não são tão utilizados quanto os ISRSs, porque, em geral, têm efeitos adversos mais graves nas doses mais altas necessárias para o tratamento eficaz do transtorno. IMAO’s: Dados consistentes apoiam a eficácia da fenelzina, e alguns também apoiam o uso da tranilcipromina. Os IMAOs parecem ter menos probabilidade de causar estimulação excessiva do que os ISRSs e os tricíclicos, mas podem requerer doses totais por pelo menos 8 a 12 semanas para serem eficazes. A necessidade de restrições dietéticas tem limitado a utilização de IMAOs, sobretudo desde o aparecimento dos ISRSs. FALTA DE RESPOSTA AO TRATAMENTO: Se os pacientes deixam de responder a uma classe de medicamentos, outra deve ser tentada. Dados recentes defendem a eficácia da venlafaxina. A combinação de um ISRS ou um tricíclico e um benzodiazepínico ou de um ISRS e lítio ou um medicamento tricíclico pode ser tentada. Relatos de caso sugeriram a eficácia da carbamazepina, do valproato e de inibidores dos canais de cálcio. A buspirona pode ter um papel na potenciação de outros agentes, mas tem pouca eficácia por si própria. Os médicos devem reavaliar o paciente, particularmente no sentido de estabelecer a presença de condições comórbidas como depressão e uso de álcool ou outras substâncias. DURAÇÃO DA FARMACOTERAPIA: Uma vez eficaz, o tratamento farmacológico, em geral, deve continuar por 8 a 12 meses. Dados indicam que o transtorno de pânico é uma condição crônica, talvez para toda a vida, que tem recorrência quando o tratamento é interrompido. Estudos relataram que 30 a 90% dos indivíduos com a condição que receberam tratamento bem-sucedido têm uma recaída quando a medicação é interrompida. Os pacientes podem ter mais probabilidade de recaída se estiverem recebendo benzodiazepínicos e se esse tratamento for interrompido de uma forma que cause sintomas de abstinência. TERAPIA COGNITIVA E COMPORTAMENTAL: As terapias cognitiva e comportamental são tratamentos eficazes para o transtorno de pânico. Vários relatos concluíram que elas são superiores a apenas farmacoterapia; outros concluíram o oposto. Muitos estudos e relatos verificaram que a combinação de terapia cognitiva ou terapia comportamental com farmacoterapia é mais eficaz do que cada abordagem isolada. Diversos estudos que incluíram acompanhamento a longo prazo de pacientes que receberam terapia cognitiva ou comportamental indicam que as terapias são eficazes para produzir a remissão duradoura dos sintomas. TERAPIA COGNITIVA: Os dois focos principais da terapia cognitiva para transtorno de pânico são a instrução sobre as falsas crenças do paciente e a informação sobre os ataques de pânico. O primeiro ponto se concentra na tendência do paciente a interpretar de forma equivocada sensações corporais leves como indicativos iminentes de ataques de pânico, tragédia ou morte. O segundo Ana P���a ���b��a M��t��� 6º pe�íod� M��i��n� inclui explicações de que, quando os ataques de pânico ocorrem, são de tempo limitado e não ameaçam a vida. PSICOTERAPIA DE APOIO: A psicoterapia de apoio envolve o uso de conceitos psicodinâmicos e uma aliança terapêutica para promover o enfrentamento adaptativo. As defesas adaptativas são encorajadas e fortalecidas, e as mal-adaptativas são desencorajadas. O terapeuta auxilia no teste de realidade e pode oferecer conselho em relação ao comportamento. PSICOTERAPIA ORIENTADA AO INSIGHT: Nessa psicoterapia, o objetivo é aumentar o desenvolvimento de insight do paciente a respeito dos conflitos psicológicos, que, se não resolvidos, podem se manifestar como sintomas comportamentais.TERAPIA VIRTUAL: Foram desenvolvidos programas de computador que permitem que os pacientes se vejam como avatares que são, então, colocados em espaços abertos ou superlotados (p. ex., um supermercado). À medida que se identificam com os avatares em sessões virtuais repetidas, eles são capazes de dominar sua ansiedade por meio de descondicionamento. 3. FUNDAMENTAR OS DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS DOS TRANSTORNOS ANSIOSOS (DIFERENCIANDO O INFARTO DA ANSIEDADE). Diversas condições médicas e fatores orgânicos não-psiquiátricos podem gerar sintomas e sinais de ansiedade. A suspeita de uma enfermidade médica subjacente ao ataque faz parte do diagnóstico diferencial. DOENÇAS CARDIOVASCULARES: As doenças cardiovasculares estão entre os diagnósticos diferenciais mais importantes das crises de pânico. Isso porque, um grande número de doenças cardíacas pode causar os sintomas de crise do pânico, dentre elas: diversos tipos de arritmia e síndrome coronariana aguda. Em geral, pacientes com ataques de pânico secundários a uma condição psiquiátrica não descrevem sua dor torácica com características sugestivas de infarto ou de angina pectoris e são mais jovens; no entanto, as exceções existem, e esses diagnósticos devem estar sempre em mente na hora da avaliação do paciente. HIPERTIREOIDISMO: As disfunções da tireóide, em particular o hipertireodismo, podem provocar crises de ansiedade, taquicardia e sudorese. Mesmo depois de constatada alguma disfunção endócrina, os pacientes devem ser encaminhados para avaliação da persistência dos sintomas ansiosos e necessidade de tratamento específico. Costuma-se solicitar dosagens de TSH para todos os pacientes que apresentam crises de pânico, em uma primeira avaliação. FEOCROMOCITOMA: Os feocromocitomas (tumores das células cromafins do eixo simpatoadrenomedular) podem provocar episódios paroxísticos de hipertensão arterial, cefaléia grave, palpitações, sudorese, alterações vasomotoras, parestesias, ansiedade e dispnéia; Embora sejam de ocorrência rara, os feocromocitomas devem ser lembrados no diagnóstico diferencial, principalmente quando as crises se associarem à cefaléia e à hipertensão. O diagnóstico do feocromocitoma é feito pela determinação das catecolaminas plasmáticas e urinárias e de seus metabólitos. Utilizam-se as dosagens urinárias do ácido vanilmandélico (VMA), das catecolaminas livres (norepinefrina e epinefrina), da metanefrina e da normetanefrina. DISFUNÇÕES VESTIBULARES: As disfunções vestibulares devem ser consideradas no diagnóstico diferencial quando prevalecem as queixas de tonturas, vertigens e desorientação. Ana P���a ���b��a M��t��� 6º pe�íod� M��i��n� DEPENDÊNCIA DE SUBSTÂNCIAS: Os efeitos de drogas, desde uso agudo, efeitos colaterais e fenômenos como os da abstinência, também são causas comuns dos ataques de ansiedade. Além disso, muitos pacientes com ansiedade grave ingerem drogas ansiolíticas ou tornam-se dependentes delas, incluindo benzodiazepínicos, sedativos e álcool para alívio dos sintomas. Durante tentativas de descontinuação dessas substâncias e, ocasionalmente, durante seu uso contínuo, a presença de ataque pode ocorrer. Sintomas atípicos e início de ataques de ansiedade após os 45 anos devem chamar a atenção para a possibilidade de ansiedade induzida por substância. INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO: Os sintomas de IMSST e IMCST são os mesmos. Dias ou semanas antes do evento, cerca de dois terços dos pacientes desenvolvem sintomas prodrômicos, incluindo angina instável ou crescente, falta de ar e fadiga. Geralmente, o primeiro sintoma do infarto é a dor subesternal, visceral e profunda, descrita como dor ou pressão, irradiada para dorso, mandíbula, braço esquerdo ou direito, ombros ou todas essas áreas. A dor é semelhante à angina do peito, mas geralmente é mais grave e tem longa duração; mais frequentemente acompanhada de dispneia, diaforese, náuseas e vômitos; e aliviada um pouco ou apenas temporariamente com repouso ou nitroglicerina. Entretanto, o desconforto pode ser leve e cerca de 20% dos IAMs são silenciosos (assintomáticos ou com sintomas vagos e não reconhecidos como doença pelo paciente) e ocorrem com mais frequência em diabéticos. Geralmente, os pacientes interpretam o desconforto como indigestão, em especial porque o alívio espontâneo pode ser falsamente atribuído à eructação ou ao consumo de antiácidos. Alguns pacientes desenvolvem síncope. As mulheres têm mais probabilidade de desenvolver desconforto torácico atípico. Os pacientes mais idosos podem referir dispneia mais que dor torácica do tipo isquêmica. Nos episódios isquêmicos graves, o paciente muitas vezes tem dor significativa e sente-se inquieto e apreensivo. Podem ocorrer náuseas e vômito, especialmente na vigência de IM inferior. Dispneia e fraqueza podem prevalecer em virtude de insuficiência do VE, edema pulmonar, choque, ou predominar a arritmia significativa. A pele pode estar pálida, fria e diaforética. É possível identificar cianose central ou periférica. O pulso pode ser filiforme e a pressão arterial é variável, embora, inicialmente, muitos pacientes desenvolvam algum grau de hipertensão durante a dor. Em geral, as bulhas cardíacas são distantes, e quase sem exceção ausculta-se a B4. Pode-se auscultar sopro sistólico suave no ápice (refletindo disfunção do músculo papilar). Durante o exame inicial, a ausculta de atrito ou de sopros mais nítidos sugere cardiopatia prévia ou outro diagnóstico. A detecção de atrito dentro de algumas horas após o início dos sintomas de IM sugere pericardite aguda, em vez de IM. Entretanto, os atritos, geralmente evanescentes, são comuns nos 2º e 3º dias após IMCST. A palpação da parede torácica é dolorosa em 15% dos pacientes. No infarto do ventrículo direito, os sinais envolvem a elevação da pressão de enchimento do ventrículo direito, distensão das veias jugulares (geralmente com sinal de Kussmaul), campos pulmonares limpos e hipotensão. 4. AVALIAR AS CONDUTAS FRENTE AOS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE NAS EMERGÊNCIAS PSIQUIÁTRICAS. As emergências psiquiátricas consistem em situações de risco iminente para o paciente ou outrem, causadas por transtornos psiquiátricos ou crise psicológica. Exigem a intervenção imediata da equipe de emergência. ABORDAGEM INICIAL: • Estabilização do quadro clínico; • Hipóteses diagnósticas; https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/doen%C3%A7a-coronariana/angina-inst%C3%A1vel https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/doen%C3%A7a-coronariana/angina-de-peito#v934110_pt https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/miocardite-e-pericardite/pericardite https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/abordagem-ao-paciente-card%C3%ADaco/exame-cardiovascular#v928818_pt Ana P���a ���b��a M��t��� 6º pe�íod� M��i��n� • Exclusão de causa orgânica ou condição médica que esteja exacerbando condições psiquiátricas ou mimetizando as mesmas; • Encaminhamento adequado do paciente. AGITAÇÃO PSICOMOTORA: Define-se como estado de agitação física e psíquica, com inquietação, movimentação excessiva, reatividade aumentada e estímulos externos e por vezes agressividade verbal ou física. A agitação psicomotora é uma forma de apresentação clínica de diversos transtornos mentais, destacando-se a esquizofrenia, o transtorno bipolar e a demência. Porém, sintomas de agressividade e violência podem variar desde comportamento ameaçador até agitação psíquica e motora, podendo ser vistos não só em pacientes com esses diagnósticos, mas também em indivíduos com quadros orgânicos, (p. ex., traumatismo craniano, infecções cerebrais, doenças metabólicas, intoxicação por drogas, etc.; bem como em casos de transtornos de personalidade como transtorno da personalidade borderline e anti-social), retardo mental e abuso de substâncias (drogas e/ou álcool). Quadros de agitação podem ser causados por inúmeras razões, desde hipóxia obstrutiva passando por crise emocional ou até mesmo a reagudização de um quadro psicótico.Nesses casos, deve-se primeiramente avaliar o risco de agressividade física na situação, a fim de proteger a equipe e o próprio paciente. A avaliação de um paciente violento pode ser difícil devido à falta de uma história médica e psiquiátrica e à falta de cooperação do paciente. O médico que atende na emergência psiquiátrica deve tomar decisões rápidas e efetivas e ter como prioridades: (1) estabelecer se os sintomas do paciente são causados ou exacerbados por uma doença médica, (2) avaliar e tratar alguma situação que precise de intervenção rápida e (3) determinar se o paciente está intoxicado. Entre as medidas tomadas no atendimento do paciente agitado temos: intervenção verbal (76%), medicação voluntária (65%), medicação de emergência (sem consentimento) (45%), oferecimento de comida, bebida e outros cuidados assistenciais (39%), contenção física (27%) e reclusão (23%). Existem basicamente duas formas de abordagem: medidas não-coercivas e medidas de contenção. A primeira abordagem terapêutica do paciente agitado geralmente envolve a intervenção verbal, com a equipe aparentando calma no controle da situação, demonstrando empatia, interesse no bem-estar do paciente e assegurando que o paciente está protegido de danos. Se a intervenção inicial não for suficiente e a agitação do paciente tornar-se mais grave, torna-se necessária uma outra abordagem imediata, de contenção, para assegurar a proteção dele e dos outros, assegurando-se a continuação de uma boa relação interpessoal. MANEJO FARMACOLÓGICO: O objetivo imediato do manejo farmacológico da agitação psicomotora aguda é o controle comportamental, e não diretamente a sedação, que pode ser considerada objetivo secundário. Tradicionalmente, esta também é chamada de tranqüilização Ana P���a ���b��a M��t��� 6º pe�íod� M��i��n� rápida, sendo empregadas três classes de medicação: antipsicóticos típicos, benzodiazepínicos e, mais recentemente, antipsicóticos atípicos. - Antipsicóticos: São classicamente usados para o tratamento da agitação em pacientes psiquiátricos. Os mais bem avaliados são: 1- Haloperidol – Um dos antipsicóticos mais frequentemente administrado para o tratamento da agitação aguda e com melhor evidência de eficácia. Pode ser administrado por via oral (VO) ou intramuscular (IM). Quando administrado IM, a droga tem um início de ação entre 30 a 60 minutos, uma meia-vida de eliminação de 12 até 36 horas, e duração de efeito de até 24 horas. É usualmente aplicado 5 mg IM, repetindo se necessário até a dose máxima de 50 mg/dia. 2- Clorpromazina – Um estudo que comparou a ação da clorpromazina IM (50 mg) e do haloperidol IM (5 mg) mostrou que ambos possuem eficácia equivalente. No entanto, a clorpromazina apresenta importantes efeitos anticolinérgicos, o que deve ser considerado em especial nos casos de delirium e em pacientes idosos. - Antipsicóticos atípicos: Surgiram mais recentemente como alternativas aos típicos. Existe a evidência de que esses agentes são eficazes em reduzir agitação, são melhor tolerados e apresentam um número menor de efeitos adversos, o que os torna agentes de primeira escolha. 1- Risperidona – Possui alta afinidade por receptores dopaminérgicos e serotoninérgicos. A risperidona (2 mg VO), combinada com o lorazepam (2mg), mostrou-se comparável à combinação de haloperidol (5 mg) e lorazepam (2 mg) para o manejo agudo da agitação em pacientes psicóticos. - Benzodiazepínicos: Existem evidências sugerindo que, no contexto de agitação, os benzodiazepínicos são tão efetivos quanto o haloperidol, ou até mesmo superiores a essa medicação no tratamento de agitação por quadro psicótico e maníaco. Entre os benzodiazepínicos, o lorazepam é geralmente a escolha mais comum para uso na agitação. É o único com absorção rápida e completa por via IM, possuindo uma meia- vida de eliminação de 12 a 15 horas e um tempo de ação de 8 a 10 horas. ANSIEDADE AGUDA: ATAQUES DE PÂNICO: Os ataques ou crises de pânico são a apresentação típica dos estados agudos de ansiedade e caracterizam-se por um período distinto de intenso medo e desconforto, acompanhado por mal-estar com sintomas oriundos de diversos sistemas do organismo e por um sentimento de perigo ou catástrofe iminente e um anseio por escapar. Ataques de pânico: medo ou mal-estar intenso, acompanhado de sintomas físicos e cognitivos que iniciam de forma brusca e alcançam intensidade máxima em até 10 minutos. São sinônimos de ataques de pânico: crises de pânico e crises ou ataques de ansiedade. Transtorno de pânico: caracterizado pela presença de ataques de pânico recorrentes, espontâneos (imprevisíveis, ocorrendo em qualquer situação), seguidos, por pelo menos um mês, de preocupações persistentes acerca de ter um novo ataque, das implicações que um ataque pode causar ou de uma mudança de comportamento relacionada a ele. AVALIAÇÃO DO PACIENTE: Os ataques de pânico podem ser secundários a uma condição clínica (p. ex., hipertireoidismo e feocromocitoma), ao uso ou abstinência de substâncias (p. ex., abuso de cocaína e abstinência de álcool), a transtornos de ansiedade e a outros transtornos psiquiátricos. Ana P���a ���b��a M��t��� 6º pe�íod� M��i��n� Num primeiro momento, diante do desafio diagnóstico que um ataque de pânico pode se tornar, é indispensável a avaliação de doenças clínicas que possam causar ataques de ansiedade. O abuso de estimulantes e a abstinência de depressores do SNC devem ser avaliados na anamnese como possíveis responsáveis pelos ataques. Uma história detalhada sobre as medicações e as drogas em uso pelo paciente deve ser obtida, especialmente história de consumo de álcool, cafeína, cocaína, nicotina, broncodilatadores e hipnóticos-sedativos. Caso o ataque não possa ser melhor explicado por nenhuma condição clínica ou por uso ou abstinência de substâncias, devese proceder à investigação diagnóstica para transtornos psiquiátricos, com atenção especial para os transtornos de ansiedade e especialmente para o transtorno de pânico. MANEJO: O manejo emergencial dos ataques de pânico inclui esforços rápidos para diminuir o grau de ansiedade. Diversas medidas podem ser eficazes, mas deve-se começar geralmente com medidas de apoio e comportamentais antes de iniciar alguma medicação contra a ansiedade. TRANQUILIZAÇÃO: Informar ao paciente que os sintomas são decorrentes de um ataque de ansiedade e não têm relação com uma condição orgânica grave (caso o ataque seja proveniente de um transtorno psiquiátrico). Reforçar que a crise é realmente intensa, muito desagradável e causa um mal-estar muito forte e que isso ocorre com um número significativo de pessoas. Informar que a crise é passageira e deve durar de 10 a 30 minutos. Em virtude da intensidade da crise, da duração prolongada ou do caráter dos sintomas apresentados (superior a 30 a 45 min), pode-se fazer uso de psicofármacos. Os benzodiazepínicos de ação curta são a primeira escolha nesses casos. Deve-se lembrar que o atendimento nos serviços de emergência não é o melhor momento para tratar o transtorno de pânico ou outros transtornos psiquiátricos, caso se trate dessas condições. No entanto, depois que a crise cessa, deve-se explicar ao paciente que há tratamento e controle para esses transtornos. RISCO DE SUICÍDIO: Pacientes que tentaram suicídio ou que manifestem ideias ou planejamento nesse sentido provocam grande insegurança na equipe médica do pronto-socorro. Sentimentos como impotência, rejeição e até mesmo raiva dificultam a correta avaliação e condução do caso pelo responsável. Nesse contexto, um dos principais riscos é o de subestimar a gravidade do quadro. Ao contrário do que se imagina, perguntar a respeito de ideação ou tentativa de suicídio não induz o paciente a fazê-lo. Desde que feito de forma compreensiva e franca, esse questionamento pode até estreitar o vínculo com o paciente, que se sente acolhido por alguém interessado na extensão de seu sofrimento. A avaliação de risco de suicídio deve ocorrer após a compensação clínica do paciente, quando necessária para suporte básico à vida noscasos de tentativa de suicídio. A entrevista com o paciente e/ou familiares e responsáveis é o principal instrumento de que dispõe o clínico para avaliar um paciente suicida. Qualquer paciente que tenha tentado suicídio, verbalizado pensamentos ou planejamento suicida, ou até mesmo agido de forma que sugira desejo de morrer, apesar de negá-lo, merece uma avaliação cuidadosa nesse sentido. A escolha do contexto mais apropriado para o tratamento ocorre depois que o psiquiatra avalia as condições clínicas do paciente, incluindo transtornos e sintomas psiquiátricos específicos, gravidade dos sintomas, nível de funcionamento,sistema de apoio disponível e atividades que dão ao paciente uma razão para viver. A escolha da forma de tratamento, portanto, não dependerá somente da estimativa do risco de suicídio, mas também do equilíbrio dos fatores discutidos anteriormente. Conforme o modelo de atenção pública vigente no Brasil (Sistema Único de Saúde – SUS), o profissional tem, basicamente, três opções de encaminhamento para o paciente com comportamento Ana P���a ���b��a M��t��� 6º pe�íod� M��i��n� suicida: a) internação hospitalar; b) atendimento em centros de referência, como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) ou c) atendimento ambulatorial comum. A hospitalização sempre deve ser considerada uma intervenção possível quando a segurança do paciente estiver em questão, mas não deve ser tida como absoluta em qualquer situação de risco de suicídio. É importante lembrar que a hospitalização, por si só, não é um tratamento, mas um regime que pode facilitar a avaliação e o tratamento do indivíduo com comportamento suicida; INTOXICAÇÃO E ABSTINÊNCIA DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS: A intoxicação é caracterizada por uma síndrome reversível devido à ingestão/utilização de determinada substância e ocorre durante ou após o uso da mesma. O termo abstinência denomina alterações que ocorrem após interrupção ou redução do uso de determinada substância. Sedativos: como exemplo temos os hipnóticos, sedativos e álcool, que cursam com sintomas de depressão sensorial em caso de intoxicação e sintomas extravagantes como ansiedade, tremores, taquicardia, taquipneia e insônia, no caso de abstinência. Estimulantes: como exemplo as drogas como cocaína e anfetaminas que cursam com psicose e ansiedade em casos de intoxicação e depressão se abstinência. TRANSTORNO POR USO DE ÁLCOOL: A intoxicação é característica com os sintomas de sonolência, dificuldade de realização de movimentos simples como caminhar, bem como para se equilibrar, prejuízos da cognição como raciocínio e também dos reflexos. A abstinência por uso de álcool ocorre cerca de 4 a 12 horas após a utilização, dentre os sintomas destacam-se: hiperatividade autonômica, tremor, insônia, náuseas e vômitos, alucinações ou ilusões visuais, táteis e auditivas, ansiedade e convulsões tônico-clônicas generalizadas. O tratamento medicamentoso tem efeitos positivos com uso de benzodiazepínicos – diazepam 10mg (evita convulsões) + tiamina 100mg IM, ao contrário de outras situações como delirium. DROGAS SEDATIVAS, HIPNÓTICOS E ANSIOLÍTICOS: A intoxicação ocorre, em geral, nos indivíduos com histórico de uso crônico, podendo ter tido indicação inicial médica formal, mas que acabou gerando um vício por diversos fatores como estresse emocional, fragilidade emocional, traumas e outros. A identificação da intoxicação é realizada pelos sintomas de fala arrastada, incoordenação motora e na realização de movimentos finos, instabilidade na marcha, nistagmo, prejuízo em funções cognitivas como atenção e memória, estupor ou coma. A abstinência é marcada pelos sintomas positivos ou ansiosos. Medicamentos comumente utilizados são benzodiazepínicos, carbamatos e barbitúricos. REFERÊNCIA: Compêndio de Psiquiatria, Kaplan e Sadock, 11º edição.