Prévia do material em texto
1 FACULDADE ÚNICA DE IPATINGA 2 José Tadeu de Almeida Pós-Doutorando em Ciência da Religião pelo Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Juiz de Fora (ICH-UFJF). Doutor em História Econômica pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) (2015), mestre em Desenvolvi- mento Econômico (2010) e graduado em Ciências Econômicas (2007) pelo Instituto de Eco- nomia da Universidade Estadual de Campinas (IE-UNICAMP) (2010). Professor elaborador (con- teudista) para as áreas de Ciências Humanas, Ciências Exatas e Ciências Sociais Aplicadas, e membro da Associação Brasileira de Educação à Distância (ABED). Pesquisador e docente nas áreas de Ciências Econômicas, História do Brasil e Ciências da Religião. Gabriel Romagnose Fortunato de Freitas Monteiro Doutorando em Geografia pelo pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Mestre em Geografia pelo mesma instituição (2017). Graduado no curso de Geografia pela Universi- dade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) (2014). Coordenador do Núcleo de Estudos Afri- canos e Afro-brasileiros (NEAB) da U Universidade Estadual de Minas Gerais – Carangola, onde também atua como professor. Membro pesquisador do Núcleo de Estudos sobre Ter- ritório, Ações Coletivas e Justiça - NETAJ da UFF. Tem experiência na área de Geografia, com ênfase em Geografia Humana, atuando nos temas de Movimentos Sociais e Geogra- fia; Territorialidades Negras e Quilombos, Ações afirmativas no ensino superior; Educação Popular; Ensino de Geografia; Racismo e Anti-Racismo; Relações Raciais e Educação e Ensino de Geografia. Associado a Associação de Geógrafos Brasileiros (AGB) - Seção Local Niterói e da Associação Brasileira de Pesquisadores/as negros/as (ABPN). PESQUISA E PRÁTICA INTERDISCIPLINAR: GEOGRAFIA POLÍTICA E ECONÔMICA Gabriel Romagnose Fortunato de Freitas Monteiro José Tadeu de Almeida 1ª edição Ipatinga – MG 2021 3 FACULDADE ÚNICA EDITORIAL Diretor Geral: Valdir Henrique Valério Diretor Executivo: William José Ferreira Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira Revisão Gramatical e Ortográfica: Izabel Cristina da Costa Revisão/Diagramação/Estruturação: Bárbara Carla Amorim O. Silva Carla Jordânia G. de Souza Rubens Henrique L. de Oliveira Design: Brayan Lazarino Santos Élen Cristina Teixeira Oliveira Maria Luiza Filgueiras © 2021, Faculdade Única. Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autorização escrita do Editor. T314i Teodoro, Jorge Benedito de Freitas, 1986 - . Introdução à filosofia / Jorge Benedito de Freitas Teodoro. – 1. ed. Ipatinga, MG: Editora Única, 2020. 113 p. il. Inclui referências. ISBN: 978-65-990786-0-6 1. Filosofia. 2. Racionalidade. I. Teodoro, Jorge Benedito de Freitas. II. Título. CDD: 100 CDU: 101 Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920. NEaD – Núcleo de Educação as Distancia FACULDADE ÚNICA Rua Salermo, 299 Anexo 03 – Bairro Bethânia – CEP: 35164-779 – Ipatinga/MG Tel (31) 2109 -2300 – 0800 724 2300 www.faculdadeunica.com.br 4 Menu de Ícones Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo apli- cado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dostextos.Elessão para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a seguir: São sugestões de links para vídeos, documentos cientí- fico (artigos, monografias, dissertações e teses), sites ou links das Bibliotecas Virtuais (Minha Biblioteca e Biblio- teca Pearson) relacionados com o conteúdo abor- dado. Trata-se dos conceitos, definições ou afirmações im- portantes nas quais você deve ter um maior grau de atenção! São exercícios de fixação do conteúdo abordado em cada unidade do livro. São para o esclarecimento do significado de determi- nados termos/palavras mostradas ao longo do livro. Este espaço é destinado para a reflexão sobre ques- tões citadas em cada unidade, associando-o a suas ações, seja no ambiente profissional ou em seu cotidi- ano. 5 SUMÁRIO ORIGEM E EVOLUÇÃO DA GEOGRAFIA POLÍTICA ................................. 8 1.1 POLÍTICA, GEOGRAFIA POLÍTICA E GEOPOLÍTICA.................................... 8 1.2 GEOGRAFIA POLÍTICA CLÁSSICA ...............................................................12 1.3 GEOGRAFIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA ...............................................14 FIXANDO O CONTEÚDO...............................................................................17 CONCEITOS-CHAVES DA GEOGRAFIA POLÍTICA ........................22 2.1 PODER, TERRITÓRIO E TERRITORIALIDADES ................................................22 2.2 FRONTEIRAS: ANTIGOS E NOVOS SIGNIFICADOS ....................................28 2.3 SOBRE ESTADO; NAÇÃO E ESTADOS-NACIONAIS ...................................31 FIXANDO O CONTEÚDO...............................................................................17 GLOBALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÃO E FRAGMENTAÇÃO DO MUNDO CONTEMPORÂNEO .................................................................43 3.1 GLOBALIZAÇÃO COMO QUESTÃO ............................................................43 3.2 O ESTADO E TERRITÓRIO NA NOVA ORDEM MUNDIAL ...........................46 3.3 NOVA ORDEM MUNDIAL: REGIONALIZAÇÃO E FORMAÇÃO DOS BLOCOS ECONÔMICOS ...............................................................................48 FIXANDO O CONTEÚDO...............................................................................57 QUESTÕES POLÍTICAS E ECONÔMICAS NA ESCALA REGIONAL/MUNDO........................................................................59 4.1 A QUESTÃO DA HEGEMONIA MUNDIAL ....................................................59 4.2 O PAPEL DOS EUA NA GEOPOLÍTICA MUNDIAL .......................................64 4.3 A ARTICULAÇÃO DOS BRICS E SEU PAPEL NA ECONOMIA-MUNDO....68 FIXANDO O CONTEÚDO .......................................................................... 72 CONFLITOS, DINÂMICAS ECONÔMICAS E REGIONALISMO .......77 5.1 PANORAMA GEOPOLÍTICO DOS CONFLITOS MUNDIAIS ........................77 5.2 ÁREAS DE CONFLITOS NA AMÉRICA LATINA ............................................80 5.3 A GEOPOLÍTICA DO BRASIL NA AMÉRICA DO SUL: O CASO DA IIRSA 84 FIXANDO O CONTEÚDO .......................................................................... 92 (RE) CONFIGURAÇÕES DO PODER MUNDIAL E OS RECORTES ESPACIAIS DA REALIDADE CONTEMPORÂNEA ................................ 94 6.1 OS NOVOS ESPAÇOS DE PODER NA (DES) ORDEM POLÍTICA MUNDIAL ..........................................................................................................................94 6.2 RELAÇÃO CENTRO-PERIFERIA E A NOVA DIVISÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO.......................................................................................................99 UNIDADE UNIDADE UNIDADE UNIDADE UNIDADE UNIDADE 06 01 02 03 04 05 6 6.3 A NOVA REGIONALIZAÇÃO DO MUNDO CONTEMPORÂNEO: TERRITÓRIO, REDE E AGLOMERADOS DE EXCLUSÃO. ............................103 GEOGRAFIA ECONÔMICA E DA POPULAÇÃO ..........................114 7.1 INTRODUÇÃO ...............................................................................................114 7.2 UMA INTRODUÇÃO À GEOGRAFIA ECONÔMICA.................................114 7.3 FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL E SEU ESPAÇO GEOGRÁFICO ..............................................................................................118 7.4 CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO E DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO ...124 7.4.1 A Realidade Do Crescimento Demográfico ................................ 124 7.4.2 Teorias Do Desenvolvimento Econômico E A Divisão Social Do Trabalho ............................................................................................................ 128 FIXANDO O CONTEÚDO ........................................................................ 132 GEOGRAFIA ECONÔMICAE INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO .....................................................................138 8.1 INTRODUÇÃO ...............................................................................................138 8.2 TEORIAS DEMOGRÁFICAS EM PERSPECTIVA HISTÓRICA ......................138 8.2.1 O Liberalismo Pessimista ..................................................................... 140 8.3 RECENSEAMENTO POPULACIONAL E PESQUISAS AMOSTRAIS.............142 8.4 ÍNDICES DE ATIVIDADE ECONÔMICA E DESENVOLVIMENTO ..............145 FIXANDO O CONTEÚDO ........................................................................ 151 GEOGRAFIA ECONÔMICA E GLOBALIZAÇÃO ..........................157 9.1 INTRODUÇÃO ...............................................................................................157 9.2 A EVOLUÇÃO DA ATIVIDADE INDUSTRIAL E A ESTRUTURAÇÃO DO ESPAÇO.........................................................................................................157 9.3 O PROCESSO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA E A GLOBALIZAÇÃO ECONÔMICA ...............................................................................................160 9.3.1 Os Efeitos Da Globalização ...........................................................161 9.4 A INDÚSTRIA MODERNA E SUA DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA .............164 9.4.1 A Guerra Fiscal.............................................................................. 165 FIXANDO O CONTEÚDO ........................................................................ 167 DINÂMICAS DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E A GEOGRAFIA URBANA...................................................................173 10.1 INTRODUÇÃO ...............................................................................................173 10.2 OS MEIOS DE TRANSPORTES E O COMÉRCIO .........................................173 10.2.1 Geografia Dos Transportes...........................................................174 10.2.2 Relações Comerciais Nos Centros UrbanoS.............................181 10.3 ÊXODO RURAL E A URBANIZAÇÃO DAS METRÓPOLES ..........................183 10.3.1 Considerações Sobre A Dinâmica Do Agronegócio No Brasil .......................................................................................................................183 10.3.2 Êxodo Rural......................................................................................187 10.4 ECONOMIA DAS CIDADES E OS DESAFIOS DA SUSTENTABILIDADE ....189 10.4.1 Arranjos Produtivos Locais (Apls).................................................189 10.4.2 Dimensões Do Empreendedorismo Urbano: As Startups .......191 10.4.3 O Desenvolvimento Sob A Esfera Local ....................................192 FIXANDO O CONTEÚDO ........................................................................ 194 UNIDADE 07 UNIDADE 08 UNIDADE 09 UNIDADE 10 7 GEOGRAFIA ECONÔMICA E MATRIZES ENERGÉTICAS ..............201 11.1 INTRODUÇÃO ...............................................................................................201 11.2 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS FORMAS DE UTILIZAÇÃO DA ENERGIA ........................................................................................................................201 11.3 FONTES E FORMAS DE ENERGIA E MODOS DE REGULAÇÃO ................202 11.4 PROBLEMAS ENERGÉTICOS CONTEMPORÂNEOS ...................................206 FIXANDO O CONTEÚDO ........................................................................ 211 ASPECTOS DE ECONOMIA INTERNACIONAL E GEOPOLÍTICA CONTEMPORÂNEA ................................................................................ 217 12.1.INTRODUÇÃO ..............................................................................................217 12.2. A INSERÇÃO DO BRASIL NA GEOGRAFIA ECONÔMICA MUNDIAL E AS ORGANIZAÇÕES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS ..............................217 12.2.1análise Da Balança Comercial Brasileira ................................. 219 12.3.INTEGRAÇÃO ECONÔMICA NA AMÉRICA LATINA...............................223 12.3.1 Substituição De Importações ......................................................223 6.4 BLOCOS ECONÔMICOS: ASPECTOS DO CRESCIMENTO ECONÔMICO DOS PAÍSES ASIÁTICOS ..............................................................................225 FIXANDO O CONTEÚDO ........................................................................ 230 RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO ....................................236 REFERÊNCIAS.................................................................................238 UNIDADE 11 UNIDADE 12 8 ORIGEM E EVOLUÇÃO DA GEOGRAFIA POLÍTICA 1.1 POLÍTICA, GEOGRAFIA POLÍTICA E GEOPOLÍTICA Para aprofundar o debate na geografia política é necessário compreender o significado que o termo política tem sido atribuído pelo campo disciplinar, pois é im- possível debater geografia política sem a incorporação da política. Segundo o Dici- onário Michaelis o significado de política aparece como: arte ou ciência de gover- nar, assim como arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou Estados e aplicada nos negócios internos da nação (política interna) ou nos ne- gócios externos (política externa); inclusive, no sentido mais extenso, pode significar uma série de ações a fim de obter algo. À vista disso, o termo política no seu sentido mais restrito está relacionado a ação institucional do Estado e no sentido mais abrangente compreende os propósi- tos e as ações de outros atores sociais. Castro (2005) aponta que a política enquanto ação das instituições do Estado é social e territorialmente ampla, ao passo que a ação dos outros atores sociais é estrita, pois atinge somente áreas e grupos direta- mente associados. Para Arendt (2002) a política é fundamentada na pluralidade dos homens e ela deve amparar a convivência dos diferentes, não dos semelhantes. Nossa socie- dade é organizada por grupos e classes sociais com distintos interesses e muitas vezes conflitantes, neste sentido, cabe a política a capacidade de organizar esses conflitos de interesses de modo pacífico para que todos alcancem seus projetos. Dessa forma, a política constitui-se numa instituição que pertence a sociedades díspares e com- plexas. Castro (2005) aponta que o conceito tem sido utilizado a partir de três pers- pectivas: i) a sociológica que desloca o poder do Estado como centralidade na sua análise e incorpora cada vez mais a sociedade; ii) a da economia política que parte do entendimento do domínio estrutural da infraestrutura sobre a política e, iii) a ciên- UNIDADE 01 9 cia política que procura assimilar as motivações das ações e decisões dos atores so- ciais normalizadas por meio do aparato Estatal. A geografia política clássica incorpo- rou as ideias da ciência política, contudo sofreu fortes críticas da geografia política contemporânea que busca alinhar as duas primeiras perspectivas nos seus estudos. Os estudos da Geografia Política têm origem no final do século XIX através da publicação da obra de Friedrich Ratzel, em 1887, intitulada Politische Geographie. Naquele momento, o ator principal que exercia poder sobre os territórios era o Es- tado, portanto a centralidade dos estudos da Geografia Política era o Estado. Atualmente, o campo de estudo da geografia política caracteriza-se na aná- lise da “relação entre política – expressão e modo de controle dos conflitos sociais – e o território – base material e simbólica da sociedade” (CASTRO, 2005, p. 15-16). A geografia política pode ser entendida como um arcabouço de noções po- líticas e acadêmicas acerca das relações da geografia com a política e vice-versa. Dessa maneira ela analisa de que forma “os fenômenos políticos se territorializam e recortam espaços significativos das relações sociais, dos seus interesses, solidarieda- des, conflitos, controle, dominação e poder” (CASTRO, 2005, p. 53). Sendo assim, os estudos da Geografia Política pontuam além das análises das relações políticas e depoder um profundo diagnóstico do fenômeno político e suas ações no espaço geográfico. Compreendida como um subcampo da Geografia, ela vem requalificando sua temática de pesquisa nos últimos anos: Os temas que compõem a gestão administrativa interna dos espaços nacionais em seus vários níveis são problemáticas presentes nas discus- sões: a organização do poder público, o problema da autonomia re- gional e local, o comportamento político eleitoral das diversas regiões, os fenômenos políticos e os modos como eles se territorializam, respon- dendo aos desafios dos fenômenos em escalas múltiplas e as novas formas de lutas e constatações, lutas sociais, etc (COSTA, 1992, p. 496). Então, nos dias de hoje, as reflexões produzidas e as diversas questões coloca- das pela Geografia Política necessitam da ampliação do seu escopo analítico – as relações entre política e território – a fim de evidenciar certos fenômenos e permitir que os novos atores sociais não fiquem limitados aos limites institucionais do Estado (CASTRO, 2005). A geopolítica durante muitos anos passou por uma confusão conceitual e ter- minológica, para Costa (1992), geógrafo que discute geopolítica, ela é considerada um subproduto e um reducionismo técnico e pragmático da Geografia Política, pois se apodera das suas premissas gerais e as aplica nos seus estudos de casos concretos 10 ao jogo das forças estatais sobre o espaço. O autor ainda afirma que a “Geopolítica representa um inquestionável empobrecimento teórico em relação à análise geo- gráfico-política de Ratzel e tantos outros” (COSTA, 1992, p. 65). O sueco Rudolf Kjéllen foi o pioneiro desses estudos pelo fato de ter utilizado o termo geopolítica para expor as relações entre Estado e Território da sua “nova ciên- cia” direcionada aos “estados maiores” dos impérios centrais da Europa, principal- mente a Alemanha. O autor “não escondia sua admiração pelo Estado Maior ale- mão e seu desejo de que a Europa viesse a ser unificada sob um imenso império ger- mânico” (COSTA, 1992, p. 57). Para ele caberia a geopolítica a formulação de estra- tégias de domínio e conquista voltadas à aquisição de poder sobre territórios. O mo- mento histórico de ascensão e surgimento da geopolítica, do século XIX até o século XX, era caracterizado pela emergência de potências mundiais e o imperialismo como modo de relacionamento internacional que apontava estratégias de domina- ção dos territórios em escala global. Nesse contexto, os EUA se consolidam como uma nova potência mundial, sur- gindo com A. T. Mahan a teoria geopolítica sobre o poder marítimo, publicada em 1890, A influência do poder marinho sobre a história. De acordo com o autor o se- gredo para a hegemonia mundial era no domínio das rotas marinhas com uma polí- tica voltada para a construção de um poder marítimo. De acordo com o mapa abaixo é possível perceber a capacidade dos EUA de dominação de outros territórios em várias direções. Figura 1: A Teoria do Poder Marítimo de Mahan (1890) Fonte: Bonfim (2005, p. 57) Ainda nesta abordagem, aparece o geógrafo inglês H. Mackinder que defen- dia a importância do “poder terrestre” para a disputa da hegemonia global. Diante 11 das mudanças socioeconômicas mobilizadas pelo desenvolvimento do transporte terrestre e meios de comunicação - ferrovias e telégrafos -, Mackinder acreditava que quem controlasse a Eurásia, intitulada de Ilha Mundial pelo autor, tendo como Estado-pivô ou hearthland o território da Rússia, exerceria hegemonia mundial. Figura 2: O heartland (terra-coração) de Mackinder. Fonte: Vesentini (2012, p. 22) Portanto, a geopolítica clássica, tinham uma perspectiva militar de domínio territorial, estava intrinsecamente associada às propostas e ações do poder político representando a visão do Estado nacional e apresenta-se como um “instrumento da dominação, como saber e técnica de ação política apropriada ao exercício do po- der (via espaço) dos grupos ou da classe que detém a hegemonia no conjunto do Estado”. Neste sentido: É sem sombra de dúvida que o surgimento da Geografia Política e so- bretudo da Geopolítica são um produto de contexto europeu na vi- rada do século XIX para o XX, com F. Ratzel e R. Kjéllen, respectiva- mente. Num plano mais geral, entretanto, não se pode esquecer que o interesse pelos fatores referentes à relação entre espaço e poder também manifesta um momento histórico que envolvia o mundo em escala global, caracterizado pela emergência das potências mundi- ais e, com elas, o imperialismo como forma histórica de relaciona- mento internacional. Em outros termos, as estratégias dessas potências tornaram-se antes de tudo globais, isto é, “projetos nacionais‟ tende- ram a assumir cada vez mais um conteúdo necessariamente interna- cional (COSTA, 1992, p. 58). Uma nova concepção de geopolítica surge com Yves Lacoste em 1976 com o lançamento do livro A Geografia - isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra e da revista trimestral Hérodote. O autor afirma que o Estado-nação não é mais a 12 única representação geopolítica - o único com poder a controlar o espaço geográ- fico -, as relações entre poder-território podem ser analisadas por vastas representa- ções e diversos atores sociais. 1.2 GEOGRAFIA POLÍTICA CLÁSSICA É unanimidade entre os geógrafos que o período compreendido como geo- grafia política clássica – momento pioneiro em que autores e estudiosos elaboraram as primeiras obras, sistematizações e reflexões sobre as teorias e fundamentações deste subcampo – a importância do alemão Friedrich Ratzel no que tange a totali- dade dos seus trabalhos, principalmente a de maior relevância para a temática, pu- blicada em 1897 intitulada, primeiramente, Geografia Política. Na sua segunda edi- ção em 1902 apresentou-se com o subtítulo de “Uma geografia dos Estados, do co- mércio e da guerra”. Assim como a obra do geógrafo francês Camille Vallaux, O solo e o Estado, de 1910, com uma abrangência menor que a do Ratzel, mas de grande valor no debate da geografia política. Antes de avançar no debate a respeito da obra de Ratzel, para Costa (1992), é fundamental compreender o contexto intelectual e político em que o autor estava inserido. Sua formação acadêmica foi em Zoologia na universidade alemã de Heil- deberg, fato que possibilita estabelecer a influência das ciências naturais no decorrer do seu pensamento. Uma questão importante abordada na obra do autor é que o Estado deve ser essencialmente territorial, ou seja, a ideia de um “Estado como organismo territorial”: A ideia de organismo foi emprestada por Ratzel à biogeografia, para a qual o solo condiciona as formas elementares e complexas de vida. Nesse sentido, o Estado, como forma de vida, tenderia a comportar- se (por analogia) segundo as leis que regem os seres vivos na terra, isto 13 é, nascer, avançar, recuar, estabelecer relações, declinar, etc (COSTA, 1992, p.33). A noção de Estado como organismo está relacionada a sua característica de agente articulador entre o povo e o solo, segundo Ratzel, o povo participa com o seu sentimento territorial (ligação permanente com o solo) e o solo um elemento de permanência frente ao Estado (COSTA, 1992). Para ele, o elemento formador do Es- tado foi “o enraizamento no solo de comunidades que exploram as potencialidades territoriais” (RAFFESTIN, 1993, p. 13). A ideia de um Estado centralizador parte da uni- dade do Estado que estava sujeita a unidade territorial, ou seja, o elo entre os habi- tantes, o solo e o Estado. O Estado é um conceito central na sua obra sobre geografia política e assume um papel de único centro do poder: Para Ratzel, tudo se desenvolve como se o Estado fosse o único núcleo de poder, como se todo o poder estivesse concentrado nele: "É pre- ciso dissipar a frequente confusão entre Estado e poder. O poder nasce muito cedo, junto com a história que contribui para fazer"(LEFE- BVRE, 1976, p. 4, apud RAFFESTIN, 1993, p.15). “Dessa forma, Ratzel introduziu todosos seus ‘herdeiros’ na via de uma geo- grafia política que só levou em consideração o Estado ou os grupos de Estados” (RAFFESTIN, 1993, p. 15). Sendo assim, a geografia política elaborada por Ratzel é uma geografia do Estado, pois o autor parte da ideia de um Estado todo-poderoso, no qual só existe o poder do Estado, ignorando outras formas e espaços legítimos de poder. Desse modo, a escala é dada pelo Estado, sendo assim, o autor construiu uma geografia 14 unidimensional, ao não aceitar os múltiplos poderes que atuam nas diversas escalas (RAFFESTIN, 1993). 1.3 GEOGRAFIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA Neste tópico você irá estudar acerca do desenvolvimento e transformações teórico-conceituais da Geografia política na contemporaneidade. Conforme visto anteriormente, a Geografia política clássica, desenvolvida no século XIX, preocu- pava-se em construir um arcabouço conceitual que legitimasse a dominação territo- rial do Estado, diferentemente da Geografia política contemporânea elaborada no contexto espaço-temporal do século XXI que irá abordar, além do Estado, outros ato- res que participam da constituição dos territórios (CASTRO, 2005). De acordo com Castro et al. (2005) o campo da Geografia política se estabe- lece na relação entre política e território no qual as questões e os conflitos de interesse da sociedade motivam “[...] disputas e tensões que se materializam em arranjos terri- toriais adequados aos interesses que conseguem se impor em momentos diferencia- dos” (CASTRO, 2005, p. 79). Atualmente a sociedade é comandada por atores individuais e institucionais e, por isso, possuem novas complexidades. Essa característica do tempo atual, vai dificultar a delimitação do campo da Geografia política, pois abre um leque de pos- sibilidades analíticas, já que a sociedade existe em múltiplas escalas, desde a local até a global, obrigando os territórios demarcados e fixos espacialmente a coexistirem com múltiplas espacialidades dos diversos atores sociais. O que diferencia os estudos da Geografia política contemporânea é o espaço político enquanto ferramenta metodológica para analisar as condições que o dife- renciam de outros espaços, para compor essa discussão se faz necessário compre- ender as escalas territoriais dos fenômenos políticos e identificar o campo da disci- plina (CASTRO, 2005). O conceito de escala nos estudos dos fenômenos políticos da Geografia polí- tica contemporânea tornou-se uma problemática, uma vez que, com a intensifica- ção do processo de globalização os fenômenos ocorrem em múltiplas escalas (local, regional, nacional e/ou global). Ao contrário da Geografia política clássica que prio- rizava a escala territorial dos Estados nacionais e as disputas entre eles. Por isso, se- 15 gundo Castro (2005), para uma análise efetiva da realidade é preciso priorizar as múl- tiplas escalas, visto que os fenômenos políticos não se restringem a uma única escala. A escala na Geografia política é “à medida que confere visibilidade aos fenômenos” (CASTRO, 2005, p. 123), é uma escolha para melhor observar, dimensionar e mensurar o fenômeno. Ao investigar o campo da Geografia política na atualidade, Castro (2005) en- fatiza que ele precisa integrar os fenômenos políticos apontando como eles se terri- torializam e recortam os espaços das relações sociais dos seus “[...] interesses, solida- riedades, conflitos, controle, dominação e poder" (CASTRO, 2005, p. 90). A respeito da discussão levantada sobre a mudança de escala na análise dos fenômenos políticos e a delimitação do campo da geografia política contemporâ- nea, o espaço político emerge como um objeto que precisa de atenção. Castro (2005; 2012; 2016; 2018) aponta uma reflexão, as múltiplas possibilidades e um diálogo da geografia política com as demais ciências sociais para a discussão do conceito nas pesquisas da disciplina. A perspectiva proposta por Castro (2018) identifica três tipologias do espaço político, tendo em vista os lugares privilegiados da ação política em cada um deles: os exclusivos, os limitados e os abertos. Os espaços políticos exclusivos são os Parlamentos, as Assembleias ou as Câ- maras Legislativas, pois são elaborados e organizados exclusivamente para as refle- xões e decisões políticas. Esses espaços formais de deliberação discutem interesses gerais conflitantes e suas consequências atingem os cidadãos que representam os 16 recortes territoriais da sua jurisdição. Já os espaços políticos limitados são os espaços de debates e validação de interesses específicos da sociedade, institucionalizados e viabilizados por regras participativas em distintos modelos democráticos - conselhos ou fóruns temáticos, associações de moradores entre outros. Os efeitos das ações nesses espaços podem atingir diversas escalas, contudo são restritos às suas agendas temáticas. E, por último, os espaços políticos abertos ocorrem nos lugares de luta so- cial, como as praças e as ruas, que investidos politicamente se transformam em are- nas de demandas, ações e conflitos. Suas consequências são variáveis e instáveis, mas tem o poder de mudar decisões políticas de longo prazo, construindo um elo entre a sociedade e os governantes (CASTRO, 2018). Esses são os espaços onde ocor- rem as manifestações, protestos, ocupações, passeatas entre outras formas de lutas sociais e quanto maior for o reconhecimento desse espaço político aberto maior será a participação e organização da sociedade para atingir seus interesses. A partir do panorama delineado até aqui é possível compreender que no mo- mento atual a disciplina aponta para uma multiplicidade de possibilidades temáticas e escalares. Ela vem passando por uma revitalização e ganhando novos traçados com estudos que procuram entender os rebatimentos espaciais dos fenômenos polí- ticos na sociedade e a respeito dos atores que agem sobre ela - o Estado, igreja, exército, sociedade civil, partidos políticos, ONGs, mercado financeiro entre outros. Logo, é possível verificar uma variedade de temas na sua produção científica, com estudos sobre organização política, política eleitoral, movimentos ecológicos, cons- trução de políticas públicas, contraste geográfico dos votos, luta por emancipação, democracia, cidadania entre outras coisas (CASTRO, 2005). 17 FIXANDO O CONTEÚDO 1. Sobre a temática da geopolítica clássica, assinale a alternativa correta. a) Haushofer formulou que a chave para a hegemonia mundial estaria no controle das rotas marítimas. b) O pensamento de Ratzel destacava o poder das conquistas territoriais continen- tais, apresentando uma maior preocupação com a ocupação da Europa Centro- Oriental. c) O saber geopolítico apontaria para o Estado como centralizador de decisões es- tratégicas, o que legitimou as ações imperialistas da Alemanha. d) Mahan ajudou a criar uma Geografia Alemã que se prontificou em justificar as conquistas territoriais da Alemanha. e) Em oposição aos postulados de Ratzel, podemos citar o geógrafo britânico Halford Mackinder, que criou outra abordagem, conhecida como Possibilismo. 2. O fragmento a seguir trata de um dos clássicos da Geopolítica. “A chave para a hegemonia mundial estaria no controle das rotas marítimas essas ‘vias por onde circulam os fluxos do comércio internacional’. A posse de grande poder marinho, dessa forma, seria indispensável para um Estado que almejasse tornar‐se importante potência mundial”. (VESENTINI, José William. Novas Geopolíticas. As representações do século XXI. 4ª ed. São Paulo: Contexto, 2007, p. 17.) O teórico clássico da Geopolítica que defende a tese anterior é a) Mahan. b) Spykman. c) Haushofer. d) Mackinder. e) Vallaux. 3. A geopolítica sempre se caracterizou pela presença de pressões de todo tipo, in- tervenções no cenário internacional desde as mais brandas até guerras e conquis- 18 tas de territórios. Inicialmente, essas ações tinham como sujeito fundamental o Es- tado, pois ele era entendido como a única fontede poder, a única representação da política e as disputas eram analisadas apenas entre os Estados. (Becker, Bertha. Geopolítica da Amazônia. Estudos Avançados, (1953) São Paulo, 2005). As alternativas a seguir apresentam características da Geopolítica Contemporâ- nea. Assinale a correta. a) A Geopolítica Contemporânea, impedida pelo desenvolvimento de técnicas sur- gidas com a ampliação das comunicações e da circulação, se processa graças aos fluxos e às redes. b) A Geopolítica Contemporânea se dá por meio de redes desenvolvidas nos países ricos, onde se situam os centros do poder, graças ao avanço das tecnologias de informação. c) A Geopolítica Contemporânea se dá, notadamente, por redes que geram movi- mentos sociais e tendem a se nacionalizar. d) A Geopolítica Contemporânea se dá por meio das corporações e dos movimentos sociais que têm suas próprias territorialidades, mas o Estado continua como ator principal na globalização. e) A Geopolítica Contemporânea se dá por meio de conflitos interestatais que pos- sam garantir a conquista de novos territórios e ampliar os fluxos de capital. 4. (UFPEL 2013 – adaptada) Segundo Iná Elias de Castro em seu livro a Geografia e Política, pode-se afirmar que espaço político se refere a) às instituições políticas, que por sua vez, são aquelas cujas decisões e ações, apoi- adas por normas, leis e regulamentos, afetam amplamente diferentes instâncias da vida social. b) àquele que é circunscrito pelas ações das instituições políticas, que lhe conferem um limite, dentro do qual há efeitos identificáveis e mensuráveis. c) às forças instituintes que são aquelas exercidas por atores sociais que se organizam para lutar pelas suas demandas não recorrendo às instituições políticas, agindo apenas na esfera local. 19 d) às regras delimitadas e estratégias da política; é um espaço dos interesses e dos conflitos, da lei, do controle, mas sem coerção. e) àquele espaço circunscrito pelas ações das forças instituintes, que lhe conferem um limite global ou local, dentro do qual há efeitos identificáveis e mensuráveis. 5. (UFPEL 2013 – adaptada) Segundo Raffestin, no seu livro Por uma Geografia do Poder (1993), a frase “Aquele que detém o World Islan (Europa, Ásia, África) co- manda o mundo” é de autoria de a) Ratzel. b) Gottmann. c) Mackinder. d) Camille Vallaux. e) Haushofer. 6. Em 1904, o geógrafo inglês Halford J. Mackinder, em uma conferência na Real So- ciedade Geográfica de Londres, defendeu a tese de que o controle dos mares não mais representava a chave do poderio das nações marítimas. O artigo “The Geographical Pivot of History”, publicado por Halford John Mackinder, desenvol- veu um conceito para caracterizar a “ilha-mundo”. O conceito criado por Mackin- der a que se refere o enunciado é o a) “match points”, que determinava a circulação terrestre. b) “castex”, que sustenta a importância do domínio das comunicações continental como sustentáculo do poder nacional. c) “rimland”, que afirma que as redes de comunicação, em especial à rede mundial de computadores, objetivam ampliar o poder do Estado no cenário internacional. d) “heartland”, literalmente “coração da terra”, um vasto território, com amplo po- tencial para a agricultura, pecuária, extrativismo ou assentamento de grupos hu- manos. e) “mahan”, que considera essencial desenvolver o poder marítimo, ou seja, dispor de um forte poder naval, uma grande marinha mercante e bases navais, estaleiros e portos eficientes. 7. (UFPEL 2013 – adaptada) Qual dessas afirmativas pode ser atribuída à Iná Elias de 20 Castro, dentro do discutido em seu livro “Geografia e Política: território, escalas de ação e instituições”? a) Hobbies, teórico do Estado absolutista do século XIII, e Ratzel, cuja obra foi desen- volvida durante o século XIX, podem ser considerados os pais da Geografia Política contemporânea. b) A escala de análise da Geografia Política deixou de ser, exclusivamente, a estatal e a global, incluindo questões relativas à cidadania, às diásporas e à exclusão. c) Foi a institucionalização da Geografia pelas elites europeias que permitiu a cen- tralização política característica do Estado territorial moderno. d) Um território sempre expressa uma política do Estado-Nação. e) Há uma guerra pós-colonial entre a flexibilidade e a rigidez burocrática estatal. 8. (UERJ 2015 – adaptada) Os mapas constituem uma representação da realidade. Observe, na imagem abaixo, dois mapas presentes na reportagem intitulada “Um estudo sobre impérios”, publicada em 1940. O uso da cartografia nessa reportagem evidencia uma interpretação acerca da Segunda Guerra Mundial. Naquele contexto é possível reconhecer que essa representação cartográfica ti- nha como finalidade a) criticar o nacionalismo alemão. 21 b) enfraquecer o colonialismo britânico. c) justificar o expansionismo alemão. d) destacar o multiculturalismo britânico. e) apontar a soberania alemã. 22 CONCEITOS-CHAVES DA GEOGRAFIA POLÍTICA 2.1 PODER, TERRITÓRIO E TERRITORIALIDADES Nesta unidade, iremos trabalhar com os conceitos-chaves da Geografia Polí- tica, a começar pelos importantes conceitos de Poder, Território e Territorialidades. Importante ressaltar que cada conceito corresponde a uma e/ou a um conjunto de problemáticas a serem estudadas diante dos fenômenos da sociedade. No campo da Geografia Política, enquanto uma subárea da Geografia Humana, o estudo dos fenômenos políticos, da produção e organização territorial efetivadas pelo Estado- Nação e por outros atores sociais e suas relações de poder são fundamentais en- quanto objetos de estudo, análise e interpretação dos diferentes contextos sociopo- líticos. Sendo assim, começaremos pela seguinte questão: O que é Poder? E como compreendê-lo como chave da Geografia Política? De antemão, acrescentamos que este conceito é suficientemente abran- gente e polissêmico, envolto de indeterminações, tensões e muitas contradições, o que aponta sua riqueza nas possibilidades de interpretação da realidade (CASTRO, 2005). É estudado em diferentes áreas do conhecimento científico, sobretudo no campo da Filosofia, Sociologia, Ciência Política, Relações Internacionais, História e, o que mais nos interessa, a Geografia. Logo, há múltiplas correntes teóricas e metodo- lógicas acerca da discussão sobre o “Poder” e o “poder”, bem como múltiplas defi- nições e aproximações sucessivas na tentativa de explicá-lo. Segundo Raffestin (1993), inspirado em Foucault (1988), o termo poder possui uma ambiguidade, uma vez que há o “Poder”, nome próprio e o “poder”, nome co- mum. “Mas o primeiro é mais fácil de cercar porque se manifesta por intermédio dos aparelhos complexos que encerram o território, controlam a população e dominam os recursos” (FOUCAULT, 1988 apud RAFFESTIN, 1993 p. 52). Ou seja, há o “Poder” ‘vi- sível’, identificável e explícito e o “poder” invisível, mas que está presente em todas as relações sociais. Nesta esteira, Foucault (1988) assevera: “Parece-me que é preciso compreen- der por poder primeiro a multiplicidade das relações de força que são imanentes ao UNIDADE 02 23 domínio em que elas se exercem e são constitutivas de sua organização […]”. Des- tarte, o poder é imanente e multidimensional, intrínseco a todas as relações (RAFFESTIN, 1993). Justamente por ter as características de imanência e multidimensionalidade, o “poder está em todo lugar, não que englobe tudo, mas vem de todos os lugares” (FOUCAULT, 1988, p. 89). Ao dialogarmos com os referidos autores, podemos afirmar que toda relação social (e política!) será mediada por relações de poder, desde que haja um componente de relações e situações assimétricas (CASTRO, 2005). Dito isto, como o poder se manifesta? Tomemos novamente as palavras de Raffestin (RAFFESTIN, 1993, p. 53). O poder se manifesta por ocasião da relação. É um processo de troca ou de comunicação quando, na relação que se estabelece, os dois pólos fazem face um ao outro ou se confrontam.As forças de que dis- põem os dois parceiros (caso mais simples) criam um campo: o campo do poder […]. O campo da relação é um campo de poder que orga- niza os elementos e as configurações. Na perspectiva geográfica, as relações de poder revelam os rebatimentos ter- ritoriais da organização espacial, ou seja, ao falarmos de ordenamento territorial há uma (ou múltiplas) intencionalidade(s), uma projeção do/sobre o espaço por meio do qual o poder se manifesta. Outrossim, a emergência da noção de poder para compreensão dos conflitos territoriais tornou-se uma centralidade na Geografia Polí- tica (CASTRO, 2005), uma vez que o poder se territorializa por meio das práticas soci- ais. Na tentativa de precisar o poder, Foucault (1988) introduz as seguintes propo- sições: 1. O poder não é algo que se adquire, arrebate ou compartilhe, algo que se guarde ou deixe escapar; o poder se exerce a partir de inúmeros pontos e em meio a relações desiguais e móveis; 2. As relações de poder não se encontram em posição de exterioridade a outros tipos de relações (econômicas, de conhecimentos etc.), mas lhe são imanentes; efeitos imediatos das partilhas, desigualdade e desequilíbrios que se produzem nas mesmas e, reciprocamente, são as condições inter- nas destas diferenciações; 24 3. O poder vem de baixo; isto é, não há, no princípio das relações de poder uma oposição binária e global entre dominadores e dominados. Deve-se, ao contrário, supor que as correlações de força múltiplas se formam e atuam nos aparelhos de produção, nas famílias, nos grupos e nas institui- ções; 4. As relações de poder são, ao mesmo tempo, intencionais e não subjetivas. Atravessadas de fora a fora por um cálculo: não há poder que se exerce sem uma série de miras e objetivos; 5. Onde há poder há resistência e, por isso mesmo, esta nunca se encontra em posição de exterioridade em relação ao poder. Elas não podem existir senão em função de uma multiplicidade de pontos de resistência que re- presentam, nas relações de poder, o papel de adversário, de alvo, de apoio. Esses pontos de resistência estão presentes em toda a rede de po- der. As resistências são outro termo nas relações de poder (grifos nossos). Este conjunto de proposições reflete a complexidade das relações de poder e sua afinidade com a Geografia Política, uma vez que o poder político é o elemento que media as relações entre Estado e Território. Neste sentido, na perspectiva de Ra- ffestin (1993), o poder visa o controle e a dominação sobre os humanos e as coisas e se utiliza de meios para visar os trunfos. Podemos falar em trunfos do poder a partir da divisão tripartida da Geografia Política: a população, o território e os recursos propostos pelo referido autor. Os trun- fos, em grande parte, se combinam em uma dada situação e raramente são únicos; em diferentes graus são mobilizados simultaneamente, daí a expressão “trunfo com- plexo” apontada pelo autor. Entretanto, dependendo da relação (quase sempre conflituosa) que se estabeleça poderá privilegiar um dos trunfos supracitados. Deste modo, a população “está na origem de todo o poder”, nela residem “[...] as capacidades virtuais de transformação; ela constitui o elemento dinâmico de onde se procede a ação” (RAFFESTIN, 1993, p. 58). Nesta passagem há um ponto de convergência ao que Arendt (2013) afirma sobre o potencial de poder, uma vez que este sempre age em grupo e nunca isoladamente: “[…] o poder passa a existir entre os homens quando eles agem juntos e desaparece no instante que eles dispersam” (ARENDT, 2013, p. 250), o poder age em uníssono. Este elemento também está pre- sente no dispositivo constitucional brasileiro quando se remete a categoria jurídico- 25 político de povo, ao versar que: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição” (BRASIL, 1988). O território é “a cena do poder e lugar de todas as relações” (RAFFESTIN, 1993, p. 58), mas que não pode ser visto sem a população e seus processos de territoriali- zação. Ainda acerca do território, afirma-se que este é “um trunfo particular, recurso e entrave, continente e conteúdo, tudo ao mesmo tempo. O território é o espaço político por excelência, o campo de ação dos trunfos” (RAFFESTIN, 1993, p. 59-60). Por fim, os recursos “determinam os horizontes possíveis da ação e […] condicionam o alcance da ação” (RAFFESTIN, 1993, p. 58). Das acepções propostas até aqui podemos extrair, em concordância com (CASTRO, 2005, p. 97-98) que: [...] o poder é considerado como a manifestação de uma possibili- dade de dispor de um instrumento para se chegar a um fim (a vanta- gem ou o efeito desejado), mas a possibilidade de chegar a este fim supõe a existência de uma relação necessariamente assimétrica, ou seja, a possibilidade de que uma das partes disponha de mais meios ou de maior capacidade de obter o efeito desejado através da prer- rogativa de aplicar algum tipo de sanção (CASTRO, 2005, p. 97-98). Após este breve percurso na compreensão do poder, daremos sequência no estudo sobre os outros dois conceitos-chaves que estão intrinsecamente ligados ao poder. Estes são o território e as territorialidades, ambos da mesma “família” de con- ceitos, como diria o destacado geógrafo Milton Santos. Assim como o conceito de Poder, o Território possui uma polissemia e uma mul- tiplicidade a partir de inúmeras perspectivas e tradições, internas e externas à Geo- grafia, aplicado nas diferentes áreas do conhecimento científico. Como dito anteriormente, na Geografia Política, o território é a categoria cen- tral, tanto enquanto categoria de análise, ferramenta acionada para compreensão da realidade, quanto categoria da prática: um instrumento político e dispositivo es- tratégico, presente nos rebatimentos das ações hegemônicas do Estado (por execu- ção das políticas públicas territoriais e da administração territorial), das Empresas e Indústrias. E também uma prática existente na resistência de diferentes grupos sociais que lutam “por territórios” (HAESBAERT, 1999). Enquanto formas de apropriação política do espaço, o território é um dos te- mas clássicos da Geografia política, como aponta Becker (2009): 26 Concebido como espaço geográfico sob controle do Estado, originalmente o território ganha prestígio entre geógrafos políticos jus- tamente por essa relação atávica com a figura do Estado. Mesmo fora do âmbito dessa disciplina acadêmica, quando se discute a origem do poder do Estado, é comum encontrar-se uma clara referência à centralidade territorial do Estado como um dos trunfos do poder que, inclusive, diferencia o Estado de outras instituições e agrupamentos (BECKER, 2009, p. 153). Com efeito, afirma-se, enquanto primeira aproximação que, o território é “fun- damentalmente um espaço definido e delimitado por e a partir de relações de po- der” (SOUZA, 2009, p. 78).Isso implica dizer que direcionamos o olhar para a compre- ensão das relações e práticas de poder presentes no espaço geográfico. Em outras palavras: o território é a espacialização das relações de poder e o que determina o seu “perfil” será a dimensão política do espaço (SOUZA, 2009). Neste caminho, Souza (2013, p. 87) coloca uma questão primordial para com- plexificar o debate: “quem domina, governa ou influencia quem nesse espaço, e como? ”. Esta questão nos faz refletir, tanto acerca do “governo” na perspectiva es- tatal (heterônomo), quanto na perspectiva do “autogoverno” (autônomo) na socie- dade em que vivemos. Assim, as relações acerca da influência, dominação, consen- timento e controle sobre um espaço se apresentam. Através das amplas pesquisas realizadas a respeito do debate do território, Ha- esbaert (2010) analisou diferentes perspectivas e formulações sobre o conceito em diferentes matrizes disciplinares. A partir daí, produziu uma “cartografia conceitual”, agrupando em três (na verdade quatro) vertentes básicas ou dimensões aos quais o territórioé usualmente focalizado. Entre as quais estão: Política (referente às relações espaço-poder em geral) ou jurídico po- lítica (relativa também a todas as relações espaço-poder instituciona- lizadas): a mais difundida, em que o território é visto como um espaço delimitado e controlado, através do qual se exerce um determinado poder, na maioria das vezes – mas não exclusivamente relacionado ao poder político do Estado. Cultural (muitas vezes, culturalista) ou simbólico-cultural: prioriza a di- mensão simbólica e mais subjetiva, em que o território é visto, sobre- tudo, como o produto da apropriação/valorização simbólica de um grupo em relação ao seu espaço vivido. Econômica (muitas vezes, economicista): menos difundida, enfatiza a dimensão espacial das relações econômicas, o território como fonte de recursos e/ou incorporado no embate entre classes sociais e na relação capital-trabalho como produto da divisão "territorial" do tra- balho, por exemplo. “Natural” [muitas vezes naturalista]: mais antiga e pouco veiculada hoje nas Ciências Sociais, que se utiliza de uma noção de território com base nas relações entre sociedade e natureza, especialmente no que 27 se refere ao comportamento “natural” dos “homens” em relação ao seu ambiente físico (HAESBAERT, 2010, p. 40). Há importantes formulações e contribuições de autores(as) nessas quatro ver- tentes teórico-metodológicas. Entretanto, elas não possuem o mesmo ‘peso’ e des- taque na produção dos(as) geógrafos(as). A concepção “que tem o foco na dimen- são mais política do espaço é, de longe, a mais desenvolvida e a mais usada pelos geógrafos[as] (mesmo com bastante nuances e variações entre os autores[as]” (CRUZ, 2015, p. grifo nosso). Na esteira da compreensão do território, a territorialidade é imanente a este, mediado por relações de poder. Para Raffestin (1993) “[...] a territorialidade adquire um valor bem particular, pois reflete a multidimensionalidade do “vivido” territorial pelos membros de uma coletividade, pelas sociedades em geral”, ao qual a figura do Estado-nacional também está presente. De uma perspectiva próxima, a territorialidade está na compreensão dos efei- tos dos fenômenos sociais que acionam estratégias espaciais e definem territórios. São as ações práticas de apropriação que geram “marcas” no espaço e definem territórios. O referido autor enfatiza que a ideia de territorialidade está diretamente vinculada ao controle de uma área geográfica, aos limites delimitados pelo poder, buscando disciplinar, mol- dar, influenciar ou controlar o comportamento pelo controle do acesso (CRUZ, 2015). Em linhas gerais, para este autor, a territorialidade pode ser definida como “[...] a tentativa, por indivíduo ou grupo, de afetar, influenciar, ou controlar pessoas, fenô- menos e relações, ao delimitar, e assegurar seu controle sobre certa área geográ- fica” (SACK, 2011, p. 76). A compreensão das relações sociais estão presentes neste processo, uma vez que a territorialidade é “[...] uma expressão geográfica primária de poder social. É o meio pelo qual espaço e sociedade estão inter-relacionados” (SACK, 2011, p. 63). Do mesmo modo, a territorialidade envolve a dimensão das relações huma- nas, dos atores sociais e das instituições, cujo Estado é uma figura de destaque e desdobra ações. Desta forma, a partir dessas reflexões, podemos sintetizar o signifi- cado territorialidade da seguinte forma: (a) envolve uma forma de definição ou clas- sificação por área; (b) deve conter uma forma de comunicação; e (c) envolve uma tentativa de imposição ao acesso das coisas e relações (SACK, 2011, p. 81). Nas formulações conceituais e nas análises históricas de casos e situações que 28 revelam mutações históricas nas territorialidades de diferentes sociedades, Cruz (2015) identifica em Sack (2011) três aspectos ou chaves metodológicas para a leitura do território que estão interligados e que compõem as suas principais contribuições analíticas. Neste sentido, compreender uma territorialidade (estratégia), uma territo- rialização (processos) e um território (produto) implica em considerar: 1) O controle do acesso (disciplina, vigilância, segurança, defesa de uma área); 2) As formas de uso do território, ou seja, os usos econômi- cos, ecológicos, políticos e culturais que os diferentes grupos ou indiví- duos dão para o espaço (a terra, os recursos, os meios de produção e trabalho, a habitação, os espaços sagrados de culto etc.) 3) As nor- mas territoriais, ou seja, os arranjos normativos que definem o caráter normativo do exercício de uma territorialidade e que regulam o con- trole e o uso do território (normatizações, regulamentos, regras sociais, as formas de direitos etc.) (CRUZ, 2015, p. 9, grifo nossos). Compreender os conceitos e categorias de poder, território e territorialidades, separadas e associadas, é fundamental, pois permite entender, refletir e complexifi- car as chaves e os desdobramentos teóricos e empíricos na Geografia Política. O caminho percorrido até aqui nos prepara para compreender outros importantes con- ceitos, tão significativos quanto aos que foram apresentados: as fronteiras, o Estado e a nação. 2.2 FRONTEIRAS: ANTIGOS E NOVOS SIGNIFICADOS Outra categoria que está presente nos estudos da Ciência Geográfica, com destaque à Geografia Política são as Fronteiras, imprescindível para a compreensão das relações entre Estado e Território e nas relações políticas interestatais. Represen- tam áreas de interesse dos Estados que estão em jogo, ao envolver a segurança na- cional, a soberania, os conflitos territoriais, os processos migratórios (clandestinos ou legais), os litígios territoriais, a territorialização de empresas, controle fiscal, entre ou- tros. Assim como os conceitos e categorias trabalhados anteriormente, as fronteiras geográficas são fruto de um processo de construção das atividades humanas, um processo socioespacial e histórico que congrega a representação, organização, controle e domínio do espaço. Portanto, as fronteiras não são “naturais” e não devem ser naturalizadas, subtraídas de processos históricos (assim caracterizada por muitos séculos). A literatura que discute as concepções de fronteira em diferentes contextos é 29 suficientemente ampla e profunda, apontando convergências e divergências nos mais variados pontos. Na maioria das vezes, as fronteiras são confundidas com a noção de limites, ou mesmo associadas entre si, gerando maior confusão interpretativa do que enten- dimentos. Fronteiras e limites possuem sentidos distintos e sofreram modificações a partir dos contextos de reordenamentos geopolíticos, econômicos e culturais e dos avanços das técnicas de produção. As fronteiras são mais dinâmicas, enquanto uma zona de inter-relações nos diferentes meios, com seus problemas (trans)fronteiriços, zonas de articulação e de tensão (COSTA, 1992). A fronteira como lugar de interação, de comunicação, de encontro, de con- flito, está fundamentada no fato de que estamos na presença de sistemas territoriais e sistemas estatais diferentes dentro do sistema capitalista e de nacionalidades dis- tintas (MACHADO, 2002). Nas palavras da autora: Podemos afirmar, assim, que no âmbito do sistema interestatal e do sistema capitalista, o limite internacional é um princípio organizador do intercâmbio, seja qual for sua natureza, não só para os territórios que delimita como para o sistema interestatal em seu conjunto. É no mesmo sentido que vários autores atribuem ao limite internacional o papel de regulador das relações interestatais (MACHADO, 2002, p. 3). Com efeito, as fronteiras não devem ser vistas apenas como uma “linha divisó- ria entre países e territórios”, ou uma “região que está lado a lado ou próximas”, como consta nos dicionários e outras literaturas. Ferrari (2014) corrobora que as fronteiras não são apenas “[...] uma linha de demarcação em determinado espaço geográ- fico ou lugar unidimensional da vida política, onde um Estado-nação acabae outro começa”. Seu entendimento deve assumir um caráter mais amplo e dinâmico na compreensão do espaço multifacetado. “O velho significado “imperialista” das fron- teiras […], perdeu-se quase por completo”, uma vez que “à força do movimento eco- nômico […] pouco tem respeitado os rígidos limites (fronteiriços) (COSTA, 1992, p. 292). Importante ressaltar que a palavra e ideia de fronteira e limite, bem como seus desdobramentos conceituais, possui um longo histórico. Ferrari (2014) nos mostra que desde as primeiras sociedades, nas populações da Ásia, África, América e Europa, havia uma noção de fronteira e limite perante os contextos sociais das diferentes or- ganizações socioespaciais, ainda que nem todas assumissem um sentido estrita- mente político de Estado para seu uso. Assim, na periodização histórica do que se 30 convencionou a chamar, na perspectiva eurocêntrica, de “pré-história”, “idade an- tiga”, “idade média” e “idade moderna”, estavam presentes estas noções. O Império Romano e o Império Chinês costumam ser frequentemente usados como exemplos de casos paradigmáticos nas origens da concepção de fronteira (MACHADO, 2002). Na mesma direção, Machado (1998) aponta: A origem histórica da palavra mostra que seu uso não estava associ- ado a nenhum conceito legal e que não era um conceito essencial- mente político ou intelectual. Nasceu como um fenômeno da vida so- cial espontânea, indicando a margem do mundo habitado. Na me- dida em que os padrões de civilização foram se desenvolvendo acima do nível de subsistência, as fronteiras entre ecúmenos tornaram-se lu- gares de comunicação e, por conseguinte, adquiriram um caráter po- lítico (MACHADO, 1998, p. 41). Com o advento do Estado Moderno, a partir do período Renascentista, as fron- teiras passam a ser um instrumento de poder e passam a representar simbolicamente a apropriação do espaço territorial (FERRARI, 2014).“O mapa é o instrumento ideal para definir, delimitar e demarcar a fronteira […]”, passando de uma delimitação “vaga” para uma delimitação mais “precisa”, inscrita no território (RAFFESTIN, 1993, p. 167). Diante do avanço das ciências e o advento da Cartografia moderna, ocorreu uma modificação profunda na percepção sobre a noção de fronteira. A ideia de “fronteira linear”, associada ao limite político territorial do Estado, neste período, pas- sou a ter destaque. No contexto atual, desde finais do século XX e início do século XXI, com as transformações em curso na fase do capitalismo informacional, que impõe mudan- 31 ças nos âmbitos político, econômico e cultural: o advento da globalização, a rees- truturação de ordem multipolar, a formação e o desdobramento dos blocos econô- micos, sobretudo relacionado aos processos de integração regional, colocam novas reflexões sobre as fronteiras, que incorpora novos elementos e significados. Deste modo, as fronteiras tradicionais vão sendo completamente modificadas na geopolítica atual, tanto na escala das organizações multilaterais e comerciais, na tentativa da mundialização econômica imposta – a exemplo da Organização Mun- dial do Comércio (OMC), do Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial (BM) –, quanto das articulações, acordos, alianças e integrações entre os blocos econômicos regionais (RODRIGUES, 2015; NEVES, 2000). No período geopolítico atual, Cataia (2007) traz reflexões pertinentes acerca das fronteiras. Segundo o autor, “a unificação técnica do mundo não implica em sua união política. Quanto maior é a unificação técnica do mundo, maior é a sua com- partimentação com a relevância das fronteiras internacionais” (CATAIA, 2007, p. 1). Assim, no mundo globalizado, são apontadas duas facetas contraditórias e solidárias: Por um lado, as fronteiras devem delimitar com clareza o território na- cional que consagra à sociedade que nele vive seu abrigo, este é o princípio da soberania internacional, mas por outro lado a economia transnacionalizada opera fluxos financeiros e normativos que atraves- sam as fronteiras, promovendo um enfraquecimento de suas funções destinadas à proteção (CATAIA, 2007, p. 2). 2.3 SOBRE ESTADO; NAÇÃO E ESTADOS-NACIONAIS Em continuidade ao exercício de compreensão dos conceitos-chaves da Ge- ografia Política, estudaremos o Estado, a Nação e suas relações imbricadas na com- preensão dos Estados-Nacionais modernos. O Estado se coloca enquanto uma categoria fundamental no estudo da dis- ciplina, pois é uma instituição política e territorial, composta por complexos órgãos e outras instituições que o representa, organizado nos três poderes que conhecemos hoje: Executivo, Legislativo e Judiciário. Deste modo, é responsável pelas políticas de administração territorial e organização socioespacial, tanto na constituição de um amplo sistema estatal, denominado como “sistema-mundo moderno-colonial” quanto na esfera nacional, (HAESBAERT; GONÇALVES, 2006). Parafraseando Raffestin (1993), o Estado é um organismo geográfico em constante movimento. De antemão, destacamos que a formação e os desdobramentos dos Estados 32 e da Nação, por conseguinte, Estados-nacionais modernos, são fruto de um longo processo geohistórico, conflituoso e contraditório, não sendo, de modo algum, uma tabula rasa e um processo “natural”. Ao contrário, trata-se de invenção histórica eu- ropeia. Segundo Muir (1975, p. 29) apud Raffestin (1993, p. 22), “O Estado existe quando uma população instalada num território exerce sua própria soberania”. Por- tanto, nesta linha de raciocínio, o referido autor, na mesma esteira de outros autores, a exemplo de Hobsbawm (1990) apontam os três sinais referentes a mobilização e caracterização do Estado, são eles: 1) a população, 2) o território e 3) autoridade (soberania). Na perspectiva do autor, “[...] toda geografia do Estado deriva dessa tríade” (RAFFESTIN, 1993, p. 23). O Estado exerce, portanto, sua soberania sobre o território e detém o mono- pólio: das Leis, das tributações, da força e, em alguns casos, do uso da violência – quando se trata das questões de “segurança nacional”. Ademais, a imposição de uma moeda nacional e seus planos monetários são estabelecidos. Em alguns casos, os aspectos que envolvem a exploração de determinados recursos, o fornecimento de determinados produtos e/ou serviços também são levados em consideração. A prerrogativa da soberania da sociedade é o que marca sua diferença de outras instituições de Estados ao longo da história, ao passo que procura “definir as normas e leis comuns para todos que vivem naquele território (espaço político) […] e as sanções legítimas aplicadas aos que dela desobedecerem” (CASTRO, 2005, p. 112). O nascimento do Estado moderno remete ao contexto histórico e institucional do projeto de modernidade, inicialmente de alguns países europeus, que se expan- diu para todos os continentes, enquanto modelo imposto de organização do sistema político e econômico. Este serviu de base para a formação dos atuais governos e Estados-nacionais ao qual concebemos hoje. Nesta premissa, Castro (2005) afirma: No campo político, o nascimento do Estado moderno definiu o marco da centralidade territorial e institucional do poder político. Esta é cer- tamente a instituição política mais importante da modernidade, res- ponsável pela delimitação do território para o exercício do mando e da obediência, segundo normas e leis estabelecidas e reconhecidas como legítimas, sendo possível legalmente a coerção física em caso de desobediência (CASTRO, 2005, p. 111). O marco histórico desta consolidação se deu a partir da Paz da Vestefália (também denominado Westfália; ou ainda Vestfália) em 1648, definido a partir de um 33 conjunto de tratados assinados que encerram uma série de conflitos e guerras no continente europeu. Este se firmou enquanto um modelo jurídico-político que passou a consolidar o surgimento do Estado-Nação, inicialmente no contexto intra-europeu e, posteriormente, com a expansão do capitalismo imperialista do séculoXIX e sua expressão global, começa a se difundir em todas as partes do globo. Assim, o Estado moderno foi consolidando progressivamente um espaço polí- tico, “lócus de uma vontade comum, de um poder moral, aceito contratualmente por todos a partir dos instrumentos de legitimação que ele dispunha” (CASTRO, 2005, p. 112). No espaço nacional, “define, pois, o limite de extensão da validade de um certo contrato social em vigor […]” cujo “compromisso maior está concentrado no respeito à lei” (GOMES, 2002, p. 85). Na base dos Estados territoriais modernos está a revitalização do direito ro- mano com sua centralização do poder, com base na propriedade privada da terra em oposição ao direito consuetudinário, direito dos costumes, dos homens e mulheres comuns, direito local, não-universal. Este, permanece enquanto uma herança na ju- risprudência dos Estados e de suas instituições contemporâneas. Segundo Gomes (GOMES, 2002, p. 84). As leis que deram origem aos Estados modernos seguem globalmente duas lógicas e dois regimes na atribuição da nacionalidade. Por um lado, no primeiro regime, são reconhecidos como nacionais todos aqueles que nasceram no território controlado pelo Estado e que não foram, por punição ou vontade, excluídos dos direitos e deveres con- feridos a essa nacionalidade. Por outro lado, o segundo regime prevê que dispõem da mesma nacionalidade todos aqueles que, tendo ou não nascido sobre um mesmo território, compartilhem de uma he- rança comum própria àquela nacionalidade. O processo de consolidação dos Estados-nacionais decorre de duas dimen- sões, ainda presentes no contexto atual, e são apontadas por Castro (2005): a) ex- terna: “de disputas territoriais com outros Estados”, presente na geografia clássica; e 34 b) interna: “de centralização do poder, controle social e estratégia territorial, […] ob- jeto da geografia política contemporânea”. Essa característica básica está presente na organização política dos estados (neo) liberais, democráticos e comunistas. Todos, ou quase todos, possuem, em dife- rentes graus de estrutura e organização, um exército (e suas forças armadas), um território, um hino, uma bandeira e o sentimento de pertencimento das pessoas que ali vivem. Na mesma direção, enquanto desdobramento, podemos citar os dois modelos básicos de Estado-nação, segundo (CASTRO, 2005). 1. O Estado unitário e centralizado: a exemplo da França, cuja administração se exerce a partir da capital e possui maior grau de homogeneidade e co- esão; 2. O Estado federalista: a exemplo dos Estados Unidos da América, garan- tindo a desconcentração espacial de parte do poder político e sustentado na governabilidade democrática. Possui pacto de coexistência e adminis- tração descentralizada. Outra vez, ressalta-se, na mesma perspectiva, que há diferentes graus de cen- tralização (unitarismo) e descentralização (federalismo), conforme as experiências espaço-temporais e não há um único modelo aplicável a todos os países (CASTRO, 2005). No que tange a questão da nação e da nacionalidade, é fato que estas são elementos centrais na formação e consolidação dos Estados modernos, diretamente ligada à modernidade, ao surgimento do capitalismo e ao fortalecimento político dos Estados. Este se usa da nação para promover a unificação do povo e consolidar o controle territorial e a soberania através de inúmeros dispositivos, servindo para in- culcar ao povo aspectos de consciência coletiva, de valores e de tradições históricas e culturais. Não à toa, coube a Geografia do Estado (e, sobretudo, a Geografia es- colar), e o ensino de História, a edificação e difusão da ideologia indenitária do sen- timento nacional (LACOSTE, 2011). O nacionalismo como legitimação simbólica: […] constituiu o fundamento do Estado-nação, que progressivamente se superpôs ao Estado moderno. Esta ideologia, elaborada com o au- xílio da história e geografia como disciplinas, tornou-se então um re- curso simbólico necessário à consolidação do Estado como instituição 35 política territorializada e legitimada pela sociedade. O recurso à iden- tidade do passado histórico, à identidade cultural e à identidade lin- guística é condição essencial do nacionalismo. Deve ser observado que a substância da nação, no sentido de comunidade de destino, resultou da estratégia política de apropriar-se do sentido identitário contido na ideia de povo e colá-lo à organização política coman- dada pelo Estado. O povo passou a ser o corpo da nação e, portanto, confundido com ela e submetido à centralidade territorial do poder político (CASTRO, 2005, p. 114). Portanto, desde sua origem ao final do século XVIII, fruto das revoluções bur- guesas, a ideia de nação foi sendo construída e ressignificada a partir do Estado e vice-versa, sob aspectos de uma “identidade territorial, cultural e política […] elemen- tos essenciais ao nacionalismo” (CASTRO, 2005, p. 113). Ao refletirmos sobre o conceito de nação, fica nítido que este está repleto de uma complexidade teórica, metodológica e com desdobramentos empíricos, ha- vendo inúmeros estudos e perspectivas pertinentes. Presente nos mais variados dicio- nários e enciclopédias, a Nação costuma ser conceituada como: Grupo social com autonomia política que ocupa um território definido e está ligado por tradições culturais e históricas, geralmente com uma língua comum, porém não necessariamente com a mesma etnia ou religião, tendo governo, Constituição nacional e leis compartilhadas (Dicionário Michaelis, 2020) Já, na Enciclopédia Brasileira Mérito (1964) a Nação aparece da seguinte forma: a comunidade de cidadãos de um Estado, vivendo sob o regime ou governo e tendo uma comunhão de interesses; a coletividade de ha- bitantes de um território com tradições, aspirações e interesses co- muns, subordinadas a um poder central que encarrega de manter a unidade do grupo; o povo de um Estado, excluindo o poder governa- mental (Enciclopédia Brasileira Mérito, 1964, p. 581) A ideia de tradição política, histórica e cultural, hábitos comuns, interesses, sen- timentos de pertencimento, sentido de comunidade, coletividades compartilhadas a um determinado povo, estão presentes nestas definições. Hobsbawm (1990) apresenta uma abordagem com atenção particular às mu- danças e transformações do conceito, principalmente a partir do século XIX. Desta forma, o autor sumariza sua posição metodológica da seguinte forma: 1. O nacionalismo moderno se distingue de outras formas, menos exigentes, de identificação grupal ou nacional; 36 2. Não considera a “nação” como uma entidade social originária ou imutá- vel. A “nação” pertence exclusivamente a um período particular e histori- camente recente. Ela é uma entidade social apenas quando relacionada a uma certa forma de Estado territorial moderno, o “Estado-nação”; e não faz sentido discutir a nação e nacionalidade fora desta relação; 3. A “questão nacional” está situada na interseção da política, da tecnologia e da transformação social. As nações e seus fenômenos associados de- vem, portanto, ser analisados em termos das condições econômicas, ad- ministrativas, técnicas, políticas e outras exigências; 4. As nações são fenômenos duais, construídos essencialmente pelo alto, mas que, no entanto, não podem ser compreendidas sem ser analisadas de- baixo, ou seja, em termos de suposições, esperanças, necessidades, aspi- rações e interesses das pessoas comuns; Destarte, esta noção está diretamente vinculada ao poder político, a valoriza- ção do povo e sua vinculação territorial. Neste sentido, Hobsbawm (1990) afirma: “A equação nação=Estado=povo e, especialmente, povo soberano, vinculou indubita- velmente a nação ao território, pois a estrutura e a definição dos Estados eram agora essencialmente territoriais”. Ademais acerca do “princípio da nacionalidade” no final do século XX, o ci- tado autor afirma: Hoje, todos Estados do planeta, pelo menos oficialmente, são “na- ções”; todos os movimentos de libertação tendema ser movimentos de libertação “nacional”. As agitações “nacionais” produzem rupturas nos Estados-nações mais antigos da Europa […]; também afetam os regimes socialistas do Leste, os novos Estados do Terceiro mundo liber- tos do colonialismo e, inclusive, as federações do Novo Mundo […] permanece dividido (HOBSBAWM, 1990, p. 195). Por fim, corroboramos com Castro (2005) que a língua e o solo são valores sim- bólicos identitários das nações, posteriormente assimilados pelo aparato institucional, tornando-se um patrimônio comum da nacionalidade. São o “cimento simbólico da solidariedade nacional e ajudam a legitimar socialmente o poder moral e o querer comum como fundamento de poder político e o domínio do Estado, como instituição sobre o território” (CASTRO, 2005, p. 107). 37 38 FIXANDO O CONTEÚDO 1. Embora a origem dos primeiros Estados seja muito antiga, sua formação e seus ob- jetivos variaram ao longo dos séculos. Sobre a criação dessa instituição de controle do território é possível afirmar: (UEPB 2011 – adaptada). a) O Estado moderno, tal como o conhecemos hoje e cujo berço foi a Europa orien- tal, teve sua origem com a centralização de poder através das monarquias abso- lutistas e do apoio dado pela burguesia. b) A globalização proporcionou a crise do Estado-nação e sua destruição frente a uma nova organização territorial do mundo em blocos econômicos, os quais reú- nem vários países em um só bloco. c) O fim da Segunda Guerra Mundial possibilitou o reaquecimento dos sentimentos nacionalistas e a formação de novos Estados nacionais o que mostra que o mapa- múndi ainda pode ser redesenhado. d) A unificação dos Estados-nacionais se processou em meio à diversidade étnica e cultural dos territórios, o que exigiu dos poderes constituídos a construção do sen- timento de pertencimento e de identidade nacional. e) Um Estado-nação é formado por um contingente populacional que se considera parte da mesma nação, porém pode ocorrer conflitos internos devido seus cida- dãos possuírem a mesma cultura. 2. O conceito de nação, por levar em conta aspectos considerados subjetivos, como identidade e sensação de pertencimento, possui uma variedade de análises, com enfoques e características distintas. A respeito da concepção de nação, assinale a alternativa correta. a) As nações antecedem o Estado e têm um caráter mais subjetivo e humano. Um Estado pode ser formado por diversas nações, assim como uma nação pode es- tar dividida em diversos Estados. b) Uma nação equivale a um Estado ou a um país ou, até mesmo, a um território, podendo haver, então, muitas nações sem território e sem uma soberania territo- rial constituída. c) A nação tem seu conceito desarticulado à identidade, à cultura e aos aspectos 39 históricos. Por isso, pode ser entendida como ou organização de uma sociedade que partilha dos mesmos costumes, características, idioma e cultura. d) As nações que não possuem território soberano delimitado, como os curdos e os bascos, não almejam o reconhecimento de territórios. Historicamente foram construindo uma trajetória de identificação e pertencimento ao Estado que os acolheu. e) O conceito de nação foi utilizado muitas vezes como estratégia ideológica de manipulação de uma população. Exemplo disso é a tentativa de construção do nacionalismo, em que governos tentam retirar dos seus habitantes um senti- mento nacional. 3. Leia este trecho: “[...] Num sentido mais restrito, _______ é um nome político para o espaço de um país. Em outras palavras, a existência de um país supõe um território. Mas a existên- cia de _______ nem sempre é acompanhada da posse de um território e nem sem- pre supõe a existência de _______. Pode-se falar, portanto, de _______ sem Estado, mas é praticamente impossível nos referirmos a um Estado sem território. [...]". (IFSP 2014 – adaptada). Assinale a alternativa que apresenta, respectivamente, terminologia empregada nos estudos geográficos que tornam esse trecho verdadeiro. a) Territorialidade; um Estado; uma nação; território b) Território; uma nação; um Estado; territorialidade c) Uma nação; territorialidade; um Estado; território d) Um Estado; territorialidade; uma nação; território e) Território; uma nação; territorialidade; um Estado 4. Sobre a problemática relativa aos termos delimitação, demarcação, limite e fron- teira assinale a alternativa correta. (UFPEL 2013 – adaptada) a) Para o demarcador um rio pode ser considerado um bom limite natural. Para o delimitador, entretanto, nem sempre, já que se o rio servir de eixo civilizatório, como o Nilo, ele agirá como elemento de integração e não de separação. 40 b) Limite é uma linha, fronteira é uma faixa, que apesar de serem demarcadas po- dem ser habitadas. c) Limite é uma linha, fronteira é uma faixa, a divisa é o aspecto visível do limite e o marco o aspecto visível da fronteira. Todos podem ser habitados, salvo com es- pecificações do Estado-Nação. d) A designação dos limites é a demarcação. E para a fronteira é a delimitação. e) A fronteira natural se apoia em obstáculos naturais que representam verdadeiras barreiras de contato e não precisam ser demarcadas ou delimitadas. 5. Leia o texto abaixo. “[...] surge, na tradicional Geografia Política, como o espaço concreto em si (com seus atributos naturais e socialmente construídos), que é apropriado, ocupado por um grupo social. Sua ocupação é vista como algo gerador de raízes e identidade: um grupo não pode ser mais compreendido sem esse espaço, no sentido de que a identidade sociocultural das pessoas estaria inarredavelmente ligada aos atributos do espaço concreto”. (Castro, Iná Elias et al. Geografia: Conceitos e Temas. UFPEL, 2013 - Adaptado) O texto faz referência a) à territorialidade. b) ao território. c) ao poder. d) ao lugar. e) à região. 6. Ao observar o mapa-múndi político acima, percebemos que as áreas continentais e insulares de nosso planeta estão divididas em diversos países. O que separa esses países uns dos outros são os limites existentes entre seus territórios nacionais. 41 Território nacional é a) parte do espaço terrestre sobre a qual determinadas empresas exercem poder ou domínio, desenvolvendo atividades políticas e sociais com autonomia e organi- zando esse espaço de acordo com suas necessidades e interesses. b) parte do espaço terrestre sobre a qual determinado povo exerce poder ou domí- nio, desenvolvendo atividades políticas, econômicas e sociais com autonomia e organizando esse espaço de acordo com suas necessidades e interesses. c) parte do espaço terrestre sobre a qual determinado povo exerce poder ou domí- nio, desenvolvendo atividades apenas de cunho esportivo com autonomia e or- ganizando esse espaço de acordo com suas necessidades e interesses. d) parte do espaço terrestre sobre a qual determinado povo exerce poder ou domí- nio, desenvolvendo atividades políticas, econômicas e sociais com autonomia e organizando esse espaço de acordo com as necessidades e interesses de outros povos amigos. e) parte do espaço terrestre sobre a qual a nação hegemônica mundial exerce po- der ou domínio, desenvolvendo atividades políticas, econômicas e sociais com au- tonomia e organizando esse espaço de acordo com suas necessidades e interes- ses. 7. Analise os trechos a seguir: I. Formas de poder exercidas pelos sujeitos dominantes sem a ação física direta, mas pela imposição de uma visão de mundo, dos papéis sociais, das categorias 42 cognitivas, das estruturas mentais por meio das quais o mundo é percebido e pensado. II. Mecanismo de poder no qual técnicas disciplinares de controle concorrem para o estabelecimento de um padrão de normalidade que é, ao mesmo tempo, um dispositivo de poder e uma forma de saber. FGV-2016 (ADAPTADA). Os trechos citados descrevem, respectivamente, dois conceitos sociológicos defini- dos como a) naturalização e coerção social. b) ideologia e subordinação. c) violência simbólica e disciplina.