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CAPÍTULO 2 – PRINCIPAIS ENGRENAGENS DA MAQUINARIA CELULAR Nícolas Murcia / Vinicius Canato Santana Introdução As células são as unidades estruturais e funcionais dos seres vivos. Esta constatação corrobora com o conceito da “teoria celular”, que define que os seres vivos têm constituição celular. Nos tecidos corporais dos organismos animais, cumprem inúmeras funções especializadas, as quais relacionam-se, principalmente, à reprodução, ao desenvolvimento, à manutenção e à hereditariedade. Em comum, as células procarióticas e eucarióticas apresentam características importantes, como a constituição de membranas biológicas que têm a extraordinária função de proteger e regular a maioria das funções celulares. Além disso, no meio interno das células eucarióticas, há inúmeras organelas que cumprem funções específicas e colaboram para a compreensão das funções dos tecidos e sistemas de órgãos, assim como de disfunções orgânicas. Porém, as unidades biológicas da vida não estão limitadas às estruturas e suas atividades. Em nível molecular, entendemos como os processos biológicos de saúde e de doença podem estar relacionados com o genoma dos seres vivos, principalmente, nos mecanismos de replicação, transcrição, tradução e regulação do material genético, característico de cada ser vivo. 2.1 Membranas Biológicas As células são compartimentadas externa e internamente por membranas, finas camadas com espessura que variam de 7 nm a 10 nm. As membranas exercem atividades variadas e complexas nas células, entre as quais: seleção de solutos, impedindo trocas aleatórias de compostos entre os meios intra e extracelulares; formação de vesículas de transporte de substâncias nos processos de endo e exocitose; reconhecimento e adesão intercelular através da matriz extracelular, e interação com substâncias sinalizadoras, como hormônios e neurotransmissores, por meio de receptores. 2.1.1 Estrutura e função das membranas biológicas Ao microscópio eletrônico, as membranas apresentam-se como camadas duplas. De origem lipídica, são formadas basicamente por fosfolipídios, proteínas e colesterol. Observe nas figuras a seguir a estrutura das membranas. A seguir, você estudará sobre os componentes lipídicos da membrana. Componentes lipídicos de membrana Você sabia que os fosfolipídios têm propriedade anfipática? Isso significa que são moléculas que possuem domínios hidrofílicos (cabeça polar) e domínios hidrofóbicos (cadeias hidrocarbonadas apolares). Esta característica dos fosfolipídios é crucial para a compreensão da organização das membranas nos organismos vivos que são constituídos por grandes quantidades de água. O fosfolipídio mais abundante das membrana é a fosfatidilcolina Outros tipos podem estar presentes em concentrações variadas, tanto na superfície das células quanto nas organelas. Nas membranas, a composição por fosfatidilserina, fosfatidiletanolamina e fosfatidilinositol é mais abundante na monocamada interna; por sua vez, esfingomielina e fosfatidilcolina são mais presentes na monocamada externa da membrana plasmática. Alguns fosfolipídios podem ainda estar ligados a carboidratos, formando, assim, glicolipídios. Observem na imagem a seguir as partes típicas de uma molécula de fosfolipídio. O colesterol, molécula anfipática, se encontra intercalado entre os fosfolipídios, atenuando a mobilidade e a fluidez da membrana. Isso ocorre devido à sua estrutura rígida esteróide, que contribui com a característica de barreira seletiva da bicamada. Normalmente, as membranas possuem estrutura fluida, sendo variável de acordo com o grau de saturação dos ácidos graxos das cadeias hidrocarbonadas (quanto mais insaturações, maior a fluidez; quanto mais saturações, maior a rigidez). Veja na figura a seguir a movimentação de molécula lipídica na bicamada. Por esta propriedade, os componentes da bicamada podem ser deslocados lateralmente pela superfície da membrana, mas também de uma monocamada para outra. Esse tipo de movimento é denominado flip-flop. Componentes proteicos de membrana Além do fosfolipídios, as membranas celulares são constituídas por proteínas, cuja razão lipídio: proteína é equilibrada, na maioria das vezes. Porém, há membranas nas quais as quantidades de lipídios e de proteínas são bastante diferentes. Exemplos clássicos são as bainhas de mielina dos neurônios, ricas em lipídios de diversas naturezas, e da membrana interna das mitocôndrias, em que são observadas grandes quantidades de proteínas do complexo enzimático. Proteínas de membrana As proteínas de membrana podem ser classificadas como periféricas quando estão associadas à superfície externa da célula, ou seja, às cabeças dos fosfolipídios da monocamada externa ou a proteínas integrais. As proteínas classificadas como integrais recebem esta denominação por estarem inseridas na membrana, atravessando a bicamada de um lado a outro (proteínas transmembrana). Porém, há proteínas que despontam em uma das superfícies da membrana, a partir do cerne hidrofóbico da bicamada. Observe na figura as moléculas das proteínas integrais, imersas na camada lipídica. Proteínas e aminoácidos possuem duas extremidades características: terminal carboxila e terminal amina. Nas membranas, esses terminais, geralmente, estão associados aos meios aquosos intracelulares (extremidade carboxila) e extracelulares (extremidade amina), locais onde há predomínio de aminoácidos hidrofílicos. No cerne da membrana, local em que estão dispostos os ácidos graxos dos fosfolipídios, grande quantidade dos aminoácidos dessas proteínas são hidrofóbicos. Veja, na figura a seguir, formas de associação de proteínas à bicamada lipídica. A organização estrutural das proteínas de membrana é variada. Algumas formam alças com curvas exteriorizadas para os meios intra e extracelular. Já outras, têm conformação cilíndrica e oca, cujas funções são de importância para o transporte de substâncias hidrossolúveis. Glicoproteínas e glicolipídios Como lipídios e proteínas membranosas podem se associar a moléculas de carboidratos, formam respectivamente glicolipídios e glicoproteínas. Os resíduos de carboidratos dos glicolipídios e das glicoproteínas são observados na superfície externa das membranas de organelas e da membrana plasmática. Nessa última, formam o glicocálice. Essas associações cumprem diversas funções, tais como: proteção celular contra agentes nocivos mecânicos e químicos; adesão e reconhecimento intercelular; determinação de grupos sanguíneos; proteção antigênica frente a agentes infecciosos, e ação enzimática. Na sequência, você conhecerá o modelo do mosaico fluido. Acompanhe! 2.1.2 O modelo do mosaico fluido explica a dinâmica das membranas biológicas Fosfolipídios e proteínas de membrana têm como característica comum a capacidade de rotacionarem em torno de seus próprios eixos e deslocarem-se lateralmente nas monocamadas das membranas. Imaginando essa dinâmica dos constituintes da membrana em estado fluido é que se originou o modelo do mosaico fluido. O modelo foi proposto em 1972, por Singer e Nicholson, que descreveram as membranas biológicas como um mosaico de proteínas imersas em um fluido lipídico. Independentemente da explicação de Singer e Nicholson ser clara quanto ao estado fluido da membrana, é importante salientar que proteínas membranosas não possuem plena mobilidade lateral. Elas podem estar associadas a componentes do citoesqueleto ou junções oclusivas celulares que as imobilizam. Se a membrana apresenta certa permeabilidade, há intercâmbio de substâncias entre os meios intra e extracelulares e entre o citosol e o interior das organelas. Assim, é importante lembrar que os processos dinâmicos de transporte de substâncias pela membrana ocorrem com ou sem consumo de energia. Dessa forma, nos mecanismos detransporte passivo não há gasto de energia; já o transporte ativo dependente de energia. 2.1.3 Componentes das membranas envolvidos no transporte passivo e ativo Para uma substância ser transportada sem consumo energético é necessário compreender as estruturas moleculares da membrana. Para o transporte passivo é considerada a própria estrutura lipídica da membrana na difusão simples. Já algumas categorias de proteínas transmembranas permitem a passagem dos solutos, como canais iônicos e permeases (transportadores) na difusão facilitada. O transporte ativo ocorre por proteínas transportadoras, porém por uma dinâmica diversa. Pela animação, você pode observar que moléculas pequenas e apolares podem se mover passivamente por difusão simples, por canais ou transportadores. O transporte passivo permite que as moléculas se movam a favor dos seus gradientes de concentração. Já no transporte ativo, o movimento é contrário ao gradiente de concentração e exige aporte de energia. Para aprender mais sobre o tema: Direcionamento de Solutos Direcionamento de solutos a partir da membrana Um dos fatores que diferencia os dois tipos de transporte é o direcionamento dos solutos a partir da membrana. Para que ocorra o movimento de solutos por difusão, seja ela simples ou facilitada, é necessária uma diferença de concentração entre os meios intra e extracelular. Assim, os solutos se deslocam do meio de maior concentração para o de menor concentração, a uma dada velocidade. Esta diferença é chamada de gradiente de concentração. Além disso, há solutos carregados eletricamente, como íons Na (sódio) e K (potássio), que podem ser movimentados pelo gradiente de voltagem e de concentração, formando o gradiente eletroquímico. Dessa forma, a difusão ocorre sempre a favor dos gradientes de concentração e do eletroquímico, sem gasto de energia (transporte passivo). Pelo contrário, o transporte ativo vai de encontro aos gradientes de concentração e eletroquímico, com gasto de energia. Difusão Simples Transporte passivo por difusão simples As substâncias lipossolúveis (miscíveis nos fosfolipídios) atravessam o cerne hidrofóbico das membranas com relativa facilidade. Moléculas apolares e diminutas como O (oxigênio), o CO (dióxido de carbono) e o N (nitrogênio), da mesma forma que moléculas lipossolúveis com maior peso molecular, como ácidos graxos e o colesterol, podem difundir-se pelas bicamadas lipídicas. Em contrapartida, há moléculas com natureza polar, como o glicerol e a ureia, que também atravessam as membranas celulares por serem pequenas o suficiente e não estarem carregadas eletricamente. Difusão Facilitada Transporte passivo por difusão facilitada Para difusão das moléculas hidrossolúveis deve ser considerado seu tamanho, ou seja, se for grande, maior será a dificuldade de transporte. São exemplos, dessas moléculas, os açúcares simples glicose e frutose, os aminoácidos e os nucleotídeos. Outra característica importante é a presença de carga elétrica. Os íons, por possuírem carga elétrica, encontram-se dissolvidos em solução aquosa e estabelecem associações com moléculas de água, fator impeditivo ao transporte por difusão simples. Da mesma forma, na difusão facilitada, a mobilização das partículas de soluto ocorre em função dos seus gradientes de concentração e elétrico, sem consumo de energia. A principal diferença entre as duas modalidades de transporte está centrada na necessidade de proteínas, canais iônicos e permeases, na difusão facilitada. Na sequência, estudaremos os canais iônicos. Canais iônicos São proteínas transmembrana encontradas em todos os tipos de células, sendo específicos para os íons que transportam (Na+, K+, Ca2+ e Cl-). Lembrando que o transporte iônico é impulsionado pelo gradiente eletroquímico, entende-se que há diferenças de voltagem entre os meios interno e externo à membrana. Nas interações a seguir e aprenda mais sobre o assunto. Diferença de eletronegatividade Normalmente, a superfície intracelular da membrana plasmática está carregada negativamente, e a superfície extracelular, positivamente. Essa diferença de eletronegatividade facilita ou dificulta a entrada e a saída de íons da célula pela membrana. Concentração de íons Considerando também as concentrações dos íons em ambos os lados das membranas, fica mais fácil compreender o gradiente eletroquímico influenciando o transporte desses íons. Gradiente de voltagem e concentração Por exemplo, se for considerado o gradiente de voltagem para os íons K , esse é um fator que se opõe ao e fluxo do íon (saída do íon) das células. Porém, ao ser considerado gradiente de concentração, ou seja, no meio intracelular há maior concentração de íons K esse será favorecido. Quando estes fatores, no caso do K de naturezas opostas se equilibram, o gradiente eletroquímico é nulo e o e fluxo do K é cessado. Basicamente existem dois tipos de canais iônicos, os ligante-dependentes e os voltagem- dependentes. A maioria dos canais iônicos possui um sistema de regulação da abertura e do fechamento ajustados pela variação do potencial elétrico (dependentes de voltagem), ou por ligantes, como neurotransmissores (dependentes de ligantes). Assim, ficou claro que o transporte de solutos por proteínas em canais iônicos é influenciado pelo gradiente eletroquímico e estímulos elétricos ou químicos. Permeases Cada permease possui locais de ligação específicos para um ou dois tipos de solutos, em um ou ambos os lados da bicamada, que se fixam à proteína e são transferidos para o lado oposto. Há diversos tipos de permeases que estão relacionadas aos processos de transporte. A seguir para conhecê-las. Uniportadores Realizam transporte pela transferência de um único tipo de soluto e sentido, como no transporte de glicose pelas proteínas GLUT 1 e GLUT 7. Simportadores Realizam a transferência de dois tipos de solutos em um único sentido, como no transporte de glicose e Na pela SGLT1-SGLT2 no epitélio intestinal. Antiportadores Realizam a transferência de dois tipos de solutos em sentidos opostos de Cl (cloreto) e HCO3 (bicarbonato) nas hemácias. Nos processos de cotransporte por simportadores e antiportadores, uma partícula depende da outra para ser transportada. Transporte da Glicose A glicose, por ser relativamente grande, conta com proteínas de membrana que auxiliam sua entrada nas células. Essas proteínas, os Transportadores de Glicose (GLUTs), possuem diferenças estruturais especializadas. GLUT3 O GLUT3 é o principal transportador de glicose do Sistema Nervoso Central (SNC), que possui alta afinidade pela glicose e, mesmo em hipoglicemia, há absorção de glicose eficientemente. GLUT4 O GLUT4 é encontrado nos tecidos adiposo e muscular. São ativados quando colocados, se deslocam e ficam expostos na membrana, sob o estímulo da insulina (transportador sensível à insulina). GLUT2 Os GLUT2 das células β pancreáticas aportam glicose ao meio interno da célula, onde é convertida, por processos metabólicos, em ATP. Com o aumento do ATP há um acúmulo de íons positivos no interior da célula, despolarizando-a e promovendo a abertura de canais de Ca. Com o influxo de Ca na célula, as vesículas de insulina se fundem com a membrana das células, liberando-a para a corrente sanguínea. Nos tecidos adiposo e muscular, a insulina estimula a absorção da glicose pelos GLUT4, fato que diminui os níveis de glicose sistêmica. Além disso, há transportadores de glicose no intestino delgado e nos túbulos renais, que realizam cotransporte da glicose com o sódio. Esses transportadores são chamados de SGLT (do inglês, sodium glucose transporters), sendo considerado transporte ativo secundário, e não difusão facilitada. Transporte ativo Algumas substâncias transportadas pela membrana não obedecem aos gradientes de concentração e eletroquímico e, para isso, há consumode energia. Para conhecer outros aspectos relacionados ao transporte ativo: O transporte ativo também ocorre por meio de permeases, nesse caso chamadas bombas. Dentre as várias categorias de bombas, Na K ou Na K -ATPase são antiportadores importantes e estabelecem as diferenças nas concentrações de Na e K entre os meios intra e extracelulares, garantindo a manutenção do potencial elétrico da membrana plasmática. O transporte ativo tem por função promover o e fluxo de Na e influxo K nas células. A Na K -ATPase possui quatro subunidades de proteínas integrais da membrana. As subunidades α têm locais específicos para fixação do Na em suas extremidades internas em contato com citoplasma e para fixação do K em suas extremidades externas, sendo a transferência de ambos os íons interdependentes (acopladas) contra os seus gradientes. Como o aparato da bomba necessita de energia, esta é obtida na clivagem do ATP realizada pela Na K -ATPase na presença de Mg . O ATP se associa ao seu sítio específico localizado na porção citosólica da subunidade proteica e sua quebra promove o transporte de três Na para o meio extracelular e de dois K para o citoplasma. Essa ação é eletrogênica, pois gera uma diferença de potencial elétrico entre ambos os lados da membrana plasmática. O lado intracelular normalmente é eletronegativo em relação ao lado extracelular. Além disso, ciclos de fosforilação e desfosforilação determinam alterações na conformação estrutural da bomba, as quais auxiliam o bombeamento iônico. Na imagem, a seguir, observe a atividade de uma Na+K+-ATPase: Quando ocorre a hidrólise do ATP, é liberado o ADP, e o fosfato inorgânico é transferido a um ácido aspártico de uma das subunidades. Dessa forma, ocorre a fixação de três Na+ no transportador. Em seguida, ocorre uma alteração conformacional na estrutura da bomba, o que resulta no efluxo de Na+ da célula. Na sequência, dois K+ presentes no meio extracelular se associam às subunidades α, provocando uma desfosforilação (liberação do fosfato). Por fim, a desfosforilação faz com que a bomba retome seu estado inicial, gerando influxo dos K+ para o citoplasma. Transporte em quantidade As células transferem para o meio interior grupos de macromoléculas e microrganismos por transporte em bloco, que dependem de alterações morfológicas na superfície da célula. Observe, nos diagramas a seguir, os tipos de transporte por quantidade. Na fagocitose são formados pseudópodos que englobam partículas sólidas que se fixam em receptores específicos na membrana (mecanismo de defesa). Na pinocitose, a captação ativa de macromoléculas ocorre em solução, ou seja, gotículas líquidas, formando-se pequenas vesículas que são levadas pelo citoesqueleto ao citoplasma. Osmose Ao serem comparadas duas soluções, aquela que apresentar quantidade maior de solutos é a mais concentrada, sendo denominada solução hipertônica. Em relação à hipotônica, é menos concentrada. Dessa forma, se essa comparação for realizada entre meios diferentes separados por uma membrana semipermeável, ocorre a osmose. Esse fenômeno consiste na passagem de água do meio hipotônico, de menor concentração, ao meio hipertônico, de maior concentração. Na figura, o exemplo mais clássico de osmose em células humanas é dado através das hemácias, quando dispensadas em soluções de cloreto de sódio (NaCl). Para aprender sobre esse exemplo: Meio isotônico Se a concentração de NaCl for igual à encontrada no interior das hemácias, meio isotônico, a mesma permanece com forma de disco bicôncavo normal. Meio hipertônico Já quando as hemácias estiverem em contato com soluções altamente concentradas de NaCl, meio hipertônico, a água difunde-se ao meio externo, a célula diminui de volume, e a membrana plasmática adquire aspecto enrugado (crenação). Solução hipotônica Por outro lado, colocando hemácias em solução de concentração de NaCl inferior em relação ao meio intracelular, solução hipotônica, a célula adquire água do meio externo, o que pode provocar seu rompimento (hemólise). Aquaporinas São proteínas canais específicas para passagem de água em membranas celulares de hemácias e células epiteliais, aumentando a permeabilidade à água. As aquaporinas são importantes para reabsorção de água nos néfrons, pois aumentam a permeabilidade dos túbulos coletores e ramo ascendente da alça de Henle, pela sua inserção na membrana apical das células. 2.2 Organelas celulares As organelas são classificadas como membranosas (retículo endoplasmático, mitocôndrias, lisossomos, complexo golgiense), ou não membranosas (ribossomos, centrossomo e o citoesqueleto). 2.2.1 Componentes das células Em geral, a composição das células animais (citosol e organelas) é bastante semelhante, embora sejam reconhecidos diversos tipos celulares nos tecidos. As organelas podem ser classificadas como membranosas (delimitadas por membrana lipoproteica, como retículo endoplasmático, mitocôndrias, lisossomos, complexo golgiense) ou não membranosas (não possuem envoltório de membrana lipoproteica como ribossomos, centrossomo e o citoesqueleto). Abaixo aprenda sobre o citosol, citoesqueleto e microtúbulos. Citosol Nas células eucarióticas, o citosol abriga constituintes comumente encontrados na região protoplasmática das bactérias, como enzimas, ribossomos e ácidos nucleicos (RNAs ribossômicos, mensageiros e de transferência). O citosol se estende do envelope nuclear à membrana plasmática. Dessa forma, ocupa o espaço localizado entre as organelas. Além de enzimas e dos elementos da síntese de proteínas, estão presentes no citosol moléculas sinalizadoras (mediadores intracelulares, hormônios e íons), chaperonas (proteínas que auxiliam no dobramento das proteínas citoplasmática), proteassomas (enzimas que descartam moléculas peptídicas disfuncionais) e inclusões (grânulos de glicogênio, gotículas lipídicas, pigmentos e cristais proteicos). Você sabe o que é o citoesqueleto? Na sequência, estudaremos essa estrutura das células. Citoesqueleto É um sistema de estruturas fibrilares que auxiliam na manutenção da forma das células, bem como nos movimentos celulares. Os componentes primários do citoesqueleto são os microtúbulos, filamentos intermediários e microfilamentos, todos de origem proteica. Das funções dos microfilamentos e dos microtúbulos, o direcionamento para moléculas de proteínas e organelas são as mais importantes. Microtúbulos Os microtúbulos são estruturas cilíndricas tubulares com cerca de 24 nm de diâmetro, formadas por tubulina. Existem alguns tipos de tubulina, sendo as mais importantes as tubulinas alfa (α) e beta (β) que formam heterodímeros (proteínas compostas por duas subunidades diferentes). As extremidades dos microtúbulos são chamadas positivas (+), onde são polimerizados; e negativas (-), onde são desmontados. Os microtúbulos promovem o transporte vesicular e de organelas, e compõem as fibras do fuso que, tracionadas, deslocam cromossomos na divisão celular A figura apresenta detalhes de um microtúbulo. Centrossomos São estruturas circunjacentes ao núcleo das células animais, constituídas por um par de centríolos, normalmente perpendiculares, envoltos pelo material pericentriolar amórfico. Os centríolos são organelas que se assemelham a tubos cilíndricos, constituídos de microtúbulos. Os microtúbulos nos centríolos são organizados por nove trincas longitudinais, interligadas por uma proteína ligadora, ao redor do seu diâmetro. Os centrossomos são conhecidos como os “centros organizadores dos microtúbulos” (MTOC do inglês, microtubule-organizing center), cuja constituição é de tubulina gama (y). Na divisão celular, os centrossomos são replicados e migram aos polos celulares. Com a formação do fuso mitótico, coordenam as fases da divisão. Cílios e flagelos Os cílios e os flagelos são projeçõesnas células, cuja principal diferença está no comprimento. Ambas são estruturas móveis ativadas pela proteína motora dineína. Veja, na figura a seguir, os microtúbulos nos cílios e flagelos, organizados em arranjos “9 + 2”. Os cílios promovem a propulsão de muco sobre a superfície das mucosas; já os flagelos, estruturas características dos espermatozoides, auxiliam no seu deslocamento. Ambos apresentam um eixo longitudinal (axonema) envolto por um prolongamento de membrana, ancorado ao corpúsculo basal. Nos nove grupos da região circunferencial são encontradas duplas de microtúbulos. Além dessa diferença, a estrutura possui adicionalmente dois microtúbulos centrais. Filamentos intermediários São denominados intermediários, pois apresentam menor espessura quando comparados com os microtúbulos, e, maior, quando comparados aos microfilamentos (diâmetro de aproximadamente 10 nm). Colaboram com a manutenção da forma das células e da posição das organelas. São encontrados nas células que compõem tecidos que suportam grandes variações de tensão. Filamentos intermediários ausentes ou defeituosos podem trazer consequências como ruptura e formação de vesículas tegumentares. Microfilamentos São longas fibras de actina com diâmetro entre 4 e 6 nm. A actina é abundante nas fibras musculares estriadas e, nas demais células, fixam-se em diversos pontos do citoesqueleto. Estão presentes nas microvilosidades da região apical das células epiteliais do intestino delgado (bordas estriadas) e túbulos contorcidos proximais dos néfrons renais (bordas em escova), responsáveis por funções de absorção e secreção. São bastante desenvolvidas nos lamelipódios, estruturas emitidas pela membrana nos movimentos por superfícies. 2.2.2 Matriz extracelular A matriz extracelular é o elemento intercelular dos organismos multicelulares. É constituída por substâncias fluídicas como as glicoproteínas proteoglicanas e glicosaminoglicanas, e fibrosa como colágeno, fibronectina e laminina. Você sabe quais são as funções gerais da matriz extracelular? Preencher espaços entre as células. Aumentar a resistência à compressão e ao estiramento tecidual. Fornecer o local de chegada e distribuição de nutrientes, rejeitos celulares e molécul sinalizadoras. Garantir a fixação e/ou a migração de diversos tipos celulares. 2.2.3 Organelas membranosas O processo de evolução das células eucariontes culminou com a aquisição de membranas que levaram à formação de compartimentos individualizados, com diferentes composições químicas e funções específicas: as organelas. Elas segregam e organizam os processos bioquímicos intracelulares, fornecendo a estrutura ao desenvolvimento e a diferenciação celular. Mitocôndrias Produzir energia, ou seja, ATP (trifosfato de adenosina), através da fosforilação oxidativa é a função básica das mitocôndrias. Além disso, são importantes para regulação da apoptose. Nas células eucarióticas, há grandes quantidades de mitocôndrias, cujo número pode variar de uma centena até milhares. Quanto maior for a demanda energética da célula, maior será a quantidade de mitocôndrias. Dessa forma, fica fácil entender por que células muito ativas, e que consomem muita energia, como os neurônios e as fibras musculares estriadas esqueléticas e cardíacas, possuem grandes quantidades de mitocôndrias. A maioria é alongada, com membrana externa lisa; um espaço intermembrana; e uma membrana interna rica em proteínas e arranjada em muitas dobras e, por isso, são chamadas cristas que delimitam um espaço denominado matriz mitocondrial. As mitocôndrias possuem genoma (DNA circular) e ribossomos próprios, fato que corrobora com sua possível origem a partir de bactérias aeróbicas ancestrais. Curiosamente, o DNA mitocondrial, além de ser muito menor que o DNA encontrado no núcleo, produz poucas – mas importantes – proteínas para fosforilação oxidativa. Retículo endoplasmático O retículo endoplasmático é uma organela membranosa, descrita como uma complexa rede de túbulos profusos interligados com aspecto achatado ou cilíndrico. O retículo endoplasmático se origina a partir da membrana externa do envelope nuclear (aspecto granular devido aos ribossomos). A membrana do retículo endoplasmático rugoso (granular) é contínua, a partir do envelope nuclear, com aspecto granular característico pela presença dos ribossomos. Na sequência, a superfície da organela vai se tornando lisa, sem ribossomos – retículo endoplasmático liso (agranular). Os retículos endoplasmáticos rugoso e liso cumprem diversas funções importantes para as células eucarióticas. Retículo endoplasmático rugoso As principais funções são síntese de proteínas e armazenamento de substâncias. No organismo, é abundante em células secretoras como as células acinosas pancreáticas (enzimas hidrolases), as células de Goblet ou caliciformes nos epitélios (mucina, um componente do muco), pneumócitos II alveolares (surfactante), fibroblastos (contêm protocolágeno), plasmócitos (contêm imunoglobulinas), entre outros. Ribossomos Os ribossomos das células eucarióticas são corpúsculos de dimensões que variam entre 15 a 20 nm (em bactérias, são menores), responsáveis pela síntese de proteínas das células. São organelas não-membranosas, eletrodensas, constituídas por ácido ribonucleico (RNA ribossômico ou RNAr) e proteínas. A estrutura dos ribossomos das células eucarióticas é composta por duas subunidades, grande de 60S e pequena 40S, classificadas de acordo com a velocidade de sedimentação em ultracentrífuga. Podem ser encontrados livres e dispersos no citoplasma ou aderidos à membrana do retículo endoplasmático. Ribossomos livres Sintetizam a hemoglobina, proteína presente nas hemácias e que transporta oxigênio, e proteínas mitocondriais. No retículo endoplasmático rugoso, produzem proteínas transmembrana, proteínas destinadas ao meio extracelular, proteínas armazenadas no complexo golgiense, enzimas lisossomais, entre outras. Retículo endoplasmático liso Tem aspecto cilíndrico e, na superfície de suas membranas, não há ribossomos; dessa forma, não ocorre síntese de proteínas. Porém, há produção de substâncias de origem lipídica importantes para o organismo, como nas células da glândula adrenal (síntese de hormônios esteroides). No retículo endoplasmático liso são sintetizados praticamente todos os lipídios de membranas, incluindo os fosfolipídios e o colesterol. Alguns desses lipídios são inicialmente produzidos no retículo endoplasmático liso, porém são maturados no complexo golgiense (esfingomielina e glicolipídios). Além disso, o retículo endoplasmático liso tem a função de desintoxicar o organismo, metabolizando substâncias como álcool e fármacos diversos, a exemplo dos barbitúricos. O uso continuado e abusivo dessas substâncias leva ao aumento dessa organela, principalmente nos hepatócitos, o que pode contribuir para aumentar níveis de tolerância ao uso. Células hepáticas, renais e pulmonares têm uma extraordinária capacidade de converter substâncias nocivas ao organismo em compostos inócuos e facilmente eliminados como excretas. O mecanismo principal de desintoxicação em nível celular ocorre através do citocromo P450, que promove reações de hidroxilação (ver esquema na figura a seguir) da substância tóxica. A hidroxilação torna o tóxico solúvel em água, facilitando sua eliminação do organismo. Grande quantidade de íons Ca+2 está associada a proteínas solúveis no retículo endoplasmático (chamado sarcoplasmático nas células musculares), como a calsequestrina, principal ligadora de Ca+2 nas fibras musculares estriadas esqueléticas, e a calreticulina, nas demais células do organismo. Nas fibras musculares estriadas esqueléticas, a quantidade de Ca+2 citosólico, normalmente, é baixa, podendo aumentar quando a acetilcolina (neurotransmissor) é liberada nasplacas motoras das junções neuromusculares. Como resultado há a abertura de canais de Ca+2 do retículo e a liberação dos íons para sinalização da contração das miofibrilas. Ao término do estímulo, os íons Ca+2 são retornados às cisternas do retículo, por bombas de Ca+2. Complexo Golgiense O complexo golgiense é formado por um conjunto de cisternas sobrepostas em número de três a oito sáculos. No geral, suas funções são modificar, ordenar (empacotar) e enviar substâncias até seus destinos corretos nas células. Além disso, atuam de forma complementar ao retículo endoplasmático rugoso. Dessa forma, vesículas de proteínas se desprendem do retículo endoplasmático rugoso e se unem às cisternas cis do complexo. Na sequência, as proteínas são transferidas por vesículas até a cisterna trans, de onde são transferidas aos lisossomos. Algumas substâncias importantes para o organismo são processadas no complexo golgiense, como as glicosaminoglicanas, a mucina presente no muco. Além disso, origina o acrossomo dos espermatozoides. Os sáculos em posição convexa constituem a face cis (proximal), normalmente próxima ao núcleo e ao retículo endoplasmático. A posição oposta e côncava constitui a face trans (distal), estando distante do núcleo e do retículo endoplasmático, mas próximas da membrana plasmática. Medialmente, entre a face cis e trans, estão localizadas as cisternas médias. Proteínas originadas do retículo endoplasmático rugoso são encaminhadas ao complexo golgiense por vesículas transportadoras, e se fundem com a membrana da região cis. As modificações das proteínas vão ocorrendo à medida que são encaminhadas pelas cisternas, processo em que são determinados os destinos celulares corretos nas células. Dessa forma, as vesículas que surgem da região trans contêm proteínas para serem incorporadas às membranas, aos lisossomos ou para comporem secreções diversas. As alterações póstraducionais são responsáveis pelas alterações das características funcionais das proteínas, o que eleva a variedade dessas macromoléculas nas células. As modificações que ocorrem no retículo endoplasmático rugoso, logo em seguida à síntese, influenciam a conformação tridimensional. Porém, nas cisternas do complexo golgiense ocorrem atividades enzimáticas relacionadas à glicosilação (glicosiltransferases), à sulfatação (sulfotransferases) e à fosforilação (fosfotransferases) desses substratos. As proteínas que serão incorporadas por lisossomos são diferentes daquelas que serão adicionadas às secreções ou à estrutura das membranas plasmáticas. Elas podem ser alteradas por fosforilação do carbono 6 de um resíduo do açúcar manose pela fosfotransferase, estando, dessa forma, marcadas por resíduos de manose-6-fosfato. Essa marcação é importante para o reconhecimento de receptores que a direcionam para os lisossomos. Lisossomos Os lisossomos são organelas membranosas com funções importantes para célula como renovação de estruturas em desuso e que precisam ser eliminadas. Estão presentes em grande número em células com função secretória e do sistema imunológico. Para saber mais sobre os lisossomos: No meio interno dos lisossomos são encontradas enzimas como proteases, lipases, glicosidases, nucleases, fosfolipases, fosfatases e sulfatases. Como são proteínas, as enzimas lisossomais são sintetizadas no retículo endoplasmático rugoso. Logo, migram para o complexo golgiense, de onde serão armazenadas nos endossomos, estruturas que irão formar lisossomos. As enzimas lisossomais são ativas em meio ácido (pH próximo a 5), mantido pela presença de bombas de H que importam moléculas de H ao lúmen da organela. Pela grande quantidade de enzimas, a membrana dos lisossomos necessita de um sistema de proteção contra danos. + + Esse mecanismo está relacionado com a densa constituição de glicoproteínas (proteínas glicosiladas) na porção interna da membrana. Se a organela for rompida e houver a liberação das enzimas, a ação do pH praticamente neutro do citosol, poderá inativá-las, reduzindo os riscos às células. Em algumas doenças as enzimas lisossomais podem estar ausentes ou com ação incompleta, o que resulta no acúmulo de substratos no lúmen da organela. Essa característica define as doenças de depósito lisossômico. Por exemplo, a deficiência de alfa-galactosidase A provoca a doença de Fabry, enquanto a deficiência de beta-glicocerebrosidade provoca a doença de Gaucher. Todas são doenças raras, graves e potencialmente fatais. 2.3 Núcleo e DNA O núcleo das células eucarióticas é delimitado por membrana que, no seu interior, encerra o genoma. É importante compreender a estrutura e a dinâmica do núcleo e dos ácidos nucleicos, pois a partir daí são elucidados os mecanismos de replicação do DNA e da transcrição e processamento do RNA, os quais serão traduzidos em proteínas. 2.3.1 Núcleo e ácidos nucleicos O núcleo de células em interfase é visível, sendo possível identificar seus constituintes. Por exemplo, o envoltório nuclear é um sistema de membrana que envolve e protege o núcleo. A membrana nuclear é dupla, consistindo em membrana interna, com face voltada para o nucleoplasma, e membrana externa, com face voltada para o meio extracelular. Ambas são separadas pelo espaço perinuclear e apresentam aspecto crivado pela presença de poros nucleares. A face externa, ao contrário da interna, apresenta-se frequentemente associada a ribossomos, sendo contínua e com o retículo endoplasmático rugoso. Envelope nuclear O envelope nuclear separa o conteúdo nuclear do citoplasma e representa a barreira membranosa seletivamente permeável, cujos poros nucleares permitem o intercâmbio de proteínas, ribonucleoproteínas e RNAs entre o núcleo e o citoplasma. As membranas do envelope nuclear são diferentes quanto às suas estruturas e funções. A membrana externa é bastante semelhante e contínua à membrana do retículo endoplasmático rugoso, sendo ambas repletas de polirribossomos associados. A membrana interna tem sua superfície suportada por uma rede de filamentos intermediários de proteínas, denominado lâmina nuclear. Poros nucleares são pequenas aberturas do envelope nuclear Os poros nucleares, aberturas de 70 a 80 nm, são formados da fusão das membranas interna e externa do envelope nuclear. Esta estrutura é semelhante a um diafragma e controla o intercâmbio de substâncias entre o núcleo e o citoplasma bidirecionalmente. As proteínas ribossomais, como descrito, são montadas parcialmente nas subunidades ribossômicas no nucléolo e, após, transportadas pelos poros nucleares ao citoplasma. Entretanto, proteínas como histonas e lâminas são sintetizadas no citoplasma e transportadas através de poros nucleares para o núcleo. Durante a divisão celular, o envelope nuclear é inicialmente rompido e reconstituído no final do processo. Quando a célula inicia a divisão celular, quinases são ativadas e fosforilam as proteínas da lâmina nuclear, tornando-as mais solúveis. Com isso, os lipídios da carioteca soltam- se das proteínas e formam vesículas. No final do processo, quando as células-filhas estão prestes a complementarem o processo de duplicação, a carioteca destas células começa a se organizar, uma vez que são ativadas fosfatases e removem resíduos de fosfato do substrato proteico das proteínas da lâmina nuclear. Concomitantemente, as vesículas lipídicas das membranas nucleares e os demais componentes proteicos da membrana são organizados na superfície da lâmina nuclear, originado a carioteca de cada célula-filha. Nucléolo O nucléolo é uma região não membranosa do núcleo e local da síntese de RNA ribossômico (genes ativos para RNAr), produção e organização inicial dos ribossomos. No núcleo tem tamanhos variados, sendo que em algumas células podem ser observados mais de um nucléolo. São bastante desenvolvidos em células com atividade de síntesede proteínas intensa e possuem três regiões distintas. Centros fibrilares Contêm genes de RNAr, RNA polimerase I e fatores de transcrição DNA dos cromossomos 13, 14, 15, 21 e 22. Porção fibrilar Contém genes ribossômicos, ativamente gerando transcritos de grandes quantidades de RNAr. Porção granular Representa o local da organização inicial do ribossomo a partir de partículas pré-ribossômicas. Os genes envolvidos na síntese das subunidades ribossomais são transcritos pela enzima RNA polimerase I. Após processamento adicional e modificação do RNAr por pequenos RNAs nucleolares (snoRNAs), as subunidades do RNAr são montadas usando proteínas ribossômicas importadas do citoplasma. As subunidades ribossomais parcialmente montadas (pré-ribossomos) são exportadas do núcleo através dos poros nucleares para maturação dos ribossomos no citoplasma. Cromatina A cromatina, material nuclear organizado em duas categorias – eucromatina e heterocromatina –, contém DNA associado a proteínas nucleares como as histonas; o nucléolo, regiões do núcleo. Normalmente escuras, são os locais de síntese de RNAr, sendo compostas de DNA transcricionalmente ativos para esse tipo de RNAs, e proteínas cujas funções estão relacionadas à regulação do ciclo celular e o nucleoplasma, onde repousam o nucléolo, a cromatina e compostos dissolvidos (íons e nucleotídeos). Geralmente as duas categorias de cromatina são encontradas no núcleo, sendo a forma condensada chamada heterocromatina, e a forma dispersa denominada eucromatina. Eucromatina Indica a cromatina ativa, ou seja, nela a informação genética do DNA pode ser reconhecida e processada. Alguns exemplos de células com eucromatina abundante são hepatócitos e neurônios, por apresentarem grande atividade metabólica. Heterocromatina Predomina em células metabolicamente menos ativas, como linfócitos circulantes. Observe, na imagem, uma micrografia de secção do núcleo de um fibroblasto humano. A cromatina, como visto, é um complexo formado pelo DNA associados a proteínas estruturais, que tem um comprimento total de aproximadamente 1,8 m, curiosamente 100.000 vezes maior que o diâmetro do próprio núcleo. Essa intrigante característica pode ser explicada pelo perfeito dobramento, e compactação, do DNA no núcleo das células. Durante a divisão celular, a cromatina sofre compactações adicionais, originando os cromossomos. Cada espécie de seres eucarióticos tem um conjunto de cromossomos característicos, que, às vezes, podem variar em número e/ou forma. Na espécie humana, por exemplo, são normalmente contados 46 cromossomos. Nucleossomas As unidades estruturais da cromatina são representadas pelos nucleossomas, isto é, associações entre o DNA e as histonas (DNA “enrola-se” em torno de um núcleo da proteína), encontrados tanto na eucromatina como na heterocromatina. Essas estruturas representam o primeiro nível de dobramento da cromatina, o que pode encurtar o DNA em aproximadamente sete vezes em relação à molécula de DNA esticada. O núcleo do nucleossoma consiste em octâmeros histonas, onde são enroladas as moléculas de DNA. A compactação gera nucleossomas adjacentes, separados por pequenos segmentos da fita de DNA a cada 2 nm. A extensa cadeia de nucleossomas é enrolada e gera uma fibrila de cromatina com 30 nm. Longos trechos de fibrilas de cromatina de 30 nm são ainda organizados em domínios em alça, os quais são ancorados em uma matriz de cromossomo ou matriz nuclear composta de proteínas não-histona. Na heterocromatina, as fibras da cromatina são compactadas e dobradas umas nas outras. Já na eucromatina, as fibrilas da cromatina são dispostas de forma mais dispersa. Cromatina condensada origina os cromossomos? Nas células em divisão, a cromatina vai sendo condensada e organizada em cromossomos. Cada cromossomo é formado por duas cromátides, estruturas unidas pelos centrômeros. Essa conformação em cromátides se deve à fase de síntese (S) que precede a divisão mitótica, na qual o DNA é replicado em antecipação. Nos cromossomos, cada extremidade é chamada de telômero, que encurtam a cada divisão celular. 2.3.2 Ácidos nucleicos (DNA e RNA) Os ácidos nucleicos são moléculas orgânicas muito importantes para manutenção da vida dos organismos e suas gerações de células futuras. São representados pelo Ácido Desoxirribonucleico (ADN ou DNA) e pelo Ácido Ribonucleico (ARN ou RNA), macromoléculas constituídas por unidades monoméricas conhecidas como nucleotídeos. Como descrito, o DNA compõe, com proteínas nucleares, a cromatina. Nas células eucarióticas se encontra armazenado e protegido no núcleo, mas também em organelas, como nas mitocôndrias. Além disso, o material genético das células eucarióticas é organizado em fragmentos lineares, ou seja, em cromossomos. Os cromossomos são as estruturas nucleares que contêm milhares de genes, sendo estes os responsáveis por armazenar as informações para síntese de proteínas nas células. Ao contrário, nas células procarióticas, o DNA não tem uma estrutura membranosa de proteção (carioteca), e esse está localizado em uma região específica conhecida como nucleoide. Os cromossomos procarióticos, em comparação aos eucarióticos, são menores e normalmente circulares. Unidades monoméricas dos ácidos nucleicos são os nucleotídeos de DNA e RNA Tanto o DNA quanto o RNA são considerados biopolímeros, cuja constituição monomérica (unidade constitutiva) é feita por nucleotídeos. Os nucleotídeos se associam ordenadamente em cadeias polinucleotídicas. Esse processo de polimerização será detalhado, na sequência, nos processos de replicação do DNA e transcrição de genes. Os nucleotídeos são constituídos por três estruturas distintas: base nitrogenada, estrutura cíclica, que contém átomo de nitrogênio; pentose, monossacarídeo (açúcar simples) de cinco carbonos; e grupo fosfato. A pentose ocupa a região central do nucleotídeo, estando a ela associada a base nitrogenada e o grupo fosfato. Na imagem, os componentes estão presentes no DNA e RNA e incluem o açúcar (desoxirribose ou ribose), o grupo fosfato e a base nitrogenada. As bases são bases pirimidinas (citosina, timina no DNA e uracila no RNA, um anel) e as bases purinas (adenina e guanina, dois anéis). O grupo fosfato está ligado ao carbono 5'. O carbono 2' liga-se a um grupo hidroxila na ribose, mas nenhuma hidroxila (apenas hidrogênio) na desoxirribose. Bases nitrogenadas No total são conhecidas quatro categorias de bases nitrogenadas nas moléculas de DNA e que são sempre lembradas por suas letras iniciais A, G, C e T. Assim, “A” é atribuído à adenina, “G” à guanina, “C” à citosina e “T” à timina. Além disso, as bases adenina e guanina são classificadas como purinas, uma vez que apresentam, estruturalmente, dois anéis de carbono e nitrogênio. Já as bases citosina e timina são pirimidinas, sendo constituídas por um anel de carbono e nitrogênio. Observe, na imagem a seguir, as diferentes bases nitrogenadas. No RNA, há nucleotídeos como bases adenina, guanina e citosina, porém não timina, mas sim outra pirimidina, uracila, na qual é referida a letra “U”. Pentoses Como citado anteriormente, o monossacarídeo de cinco carbonos no DNA é a desoxirribose e no RNA é a ribose, ambos com estrutura bastante parecidas. Diferem pelo ligante do carbono dois ser uma hidroxila na ribose e um hidrogênio na desoxirribose. Os carbonos da pentose são numerados como na figura. Dessa forma, a pentose tem a base associada ao seu carbono 1', e o fosfato ao carbono 5'. Ao serem incorporados à cadeia polinucleotídica nascente do DNA ou do RNA, os fosfatos unem o carbono 3 da pentose de um nucleotídeo com o carbono 5 da pentose de um próximo nucleotídeo. Fosfato Nos nucleotídeos há um grupo fosfato, variando para grupos de três fosfatos naqueles que serão incorporados à cadeia polinucleotídicanascente. Ao serem associados à cadeia do DNA ou do RNA, os dois grupos acabam perdendo fosfato. Nestas ligações, os fosfatos unem o carbono 3 da pentose de um nucleotídeo com o carbono 5 da pentose do próximo nucleotídeo. Cadeias polinucleotídicas As cadeias de polinucleotídeos vão sendo originadas quando nelas são incorporados nucleotídeos. Dessa forma, a estrutura da cadeia tem extremidades diferentes. Sendo assim, na extremidade 5' há um grupo fosfato, e na extremidade 3', uma hidroxila. Por isso, no DNA, a orientação da direção é dita 5' para 3'. A hidroxila do carbono 3 da pentose de um nucleotídeo se associa ao grupo fosfato, ligado ao carbono 5 de outro por ligação fosfodiéster. Estrutura da dupla hélice do DNA As cadeias de DNA são dispostas em uma estrutura de dupla hélice, com duas fitas complementares associadas, sendo que as pentoses e os fosfatos localizam-se na porção externa da hélice, formando um esqueleto de açúcar-fosfato. Já as bases nitrogenadas são projetadas para o interior da molécula e, dessa forma, lembram degraus de uma escada em caracol. Pareadas, as bases nitrogenadas são mantidas unidas entre si por interações intermoleculares do tipo ponte de hidrogênio (ligações hidrogênio). Essa configuração da molécula de DNA permite que as informações genéticas permaneçam armazenadas em sequências lineares para serem codificadas em proteínas. Para saber mais sobre esse tema: Dessa forma, o código genético nada mais é do que a relação entre uma sequência de bases definidas pelas letras A, C, T e G no DNA com aminoácidos correspondentes e que originam estruturas primárias de proteínas. Além disso, foi de grande contribuição para compreensão da estrutura do DNA estabelecer uma proporção entre as quantidades das bases nitrogenadas. Assim, o número de adeninas é igual ao número de timina (A = T). Ao passo que o número de citosinas é igual ao número de guaninas (C = G). Em consequência, a quantidade de bases purinas é sempre igual à quantidade de bases pirimidinas (A + G = C + T). Em 1953, James Watson e Francis Crick divulgaram um modelo para explicar a estrutura DNA, mediante diversas evidências prévias. Nesse modelo, defenderam que as moléculas de DNA são constituídas por duas cadeias polinucleotídicas helicoidais com rotação voltada para direita (dupla hélice) em torno do mesmo eixo. As cadeias duplas são antiparalelas, o que dessa forma depreende-se que as ligações fosfodiéster teriam sentidos opostos. As duas cadeias são mantidas associadas e estabilizadas por pontes de hidrogênio entre os pares de bases. Entre as bases A e T são estabelecidas duas pontes de hidrogênio, e entre C e G, três pontes de hidrogênio. As cadeias são ditas antiparalelas, pois o esqueleto açúcar-fosfato de uma está orientado no sentido 3' → 5', ou seja, do carbono 3' de um nucleotídeo na extremidade de uma cadeia ao carbono 5' do nucleotídeo contíguo. Na fita complementar ocorre o contrário, no sentido inverso, do carbono 5' ao 3' (5' → 3'). 2.4 Genes e síntese de proteínas Quando o genoma humano foi finalmente mapeado, houve uma considerável surpresa ao se verificar que continha apenas cerca de 30.000 genes e não 50.000, ou mais, como se esperava. A explicação pode ser dada pela existência de um grande número de mRNA, em torno de 85.000. Confira na figura a seguir o dogma central da vida pela ótica molecular. 2.4.1 Genes Gene é definido como um segmento da sequência de DNA correspondente a uma única proteína, ou grupo de variantes proteicas alternativas, ou uma única molécula de RNA catalítica, reguladora ou estrutural. As informações sobre estrutura e regulação dos genes estão cada vez mais detalhadas. Nas células eucarióticas, as regiões dos genes que determinam as orientações para a síntese de proteínas são encontradas nos éxons, estando separadas por outras regiões, aparentemente inativas, denominadas íntrons. O início da transcrição gênica ocorre através de um promotor, região onde se associam a enzima RNA polimerase e seus cofatores. Essa região, normalmente, contém uma sequência alternada de nucleotídeos de timidina (T) e adenina (A), originando o box TATA que promove o início da transcrição. Além disso, adiante da sequência promotora encontram-se elementos de regulação, como as sequências intensificadoras e supressoras. A sequência do gene posicionada antes do ponto de iniciação da transcrição é denominada região flanqueadora 5', sendo a sequência que sucede a região da transcrição, onde termina, conhecida como região flanqueadora 3'. A transcrição do DNA para RNA nos genes ocorre com a separação das duplas fitas de DNA em fitas senso (codificadora) e antissenso (molde). Dessa forma, a sequência de nucleotídeos da fita senso é semelhante à sequência transcrita para mRNA, porém o RNA não possui as bases timina (T), mas sim uracila (U). Já a sequência antissenso é oposta e complementar à senso, sendo reconhecida pela RNA-polimerase, que sintetiza o transcrito no sentido 5’ para 3’ no molde de DNA (observe o esquema hipotético abaixo) para a tradução em proteínas: (5’) CTATAGCGTTT (3’) – DNA fita senso (codificadora) (3’) GATATCGCAAA (5’) – DNA fita antissenso (molde) (5’) CUAUAGCGUUU (3’) – RNAm (transcrito) Para dar início à transcrição, a RNA-polimerase II eucariótica necessita de um conjunto de fatores gerais de transcrição. Esses fatores de transcrição são denominados TFIIB, TFIID – e assim por diante. Dessa forma no núcleo, a partir do DNA, forma-se por transcrição um pré-mRNA e, dele, os íntrons e, às vezes, alguns éxons são descartados por processamento pós-transcricional. Assim, o mRNA final, que é encaminhado para o citoplasma e que codifica as proteínas, é constituído somente de éxons. Os íntrons de alguns genes são eliminados por estruturas de junção, denominadas spliceossomos. Já outros íntrons são eliminados por auto junção ou self-splicing. Por causa dos íntrons e formas junção, é possível que um gene seja transcrito para mais de um mRNA. A adenina no ponto de forquilha, localizada no íntron, ataca o sítio 5’ de splicing e corta a cadeia principal de açúcar-fosfato do RNA nesse ponto. Neste processo, a extremidade 5’ cortada do íntron é covalentemente ligada ao grupo 2’-OH da ribose do nucleotídeo A para formar uma estrutura em forquilha. A seguir, a extremidade 3’-OH livre, da sequência do éxon, reage com a sequência inicial do éxon seguinte, o que une os dois éxons em uma sequência codificadora contínua e libera o íntron, sob a forma de um laço, o qual é então degradado no núcleo. 2.4.2 Síntese de proteínas A síntese de proteínas envolve etapas como a transcrição, a modificação pós- transcricional, a tradução e a modificação pós-tradução. A transcrição gênica inicia quando o mRNA recebe um quepe ou capuz pelo acréscimo do trifosfato de 7- metilguanosina à sua extremidade 5', estrutura necessária para ligação adequada aos ribossomos. Além disso, uma cauda de adeninas (A) chamada poli(A) é acrescentada na sequência não-traduzida na extremidade 3'. A seguir o pré-mRNA acrescido do capuz e da cauda poli(A) é processado para retirada dos íntrons por splicing, como descrito. Essa modificação pós-transcricional torna o mRNA maduro, sendo então transferido para o citoplasma. Quando o mRNA maduro chega a um ribossomo, inicia a formação de uma cadeia polipeptídica com a inserção sequencial de aminoácidos por ligações peptídicas. Os aminoácidos que estão presentes no citosol combinam-se com adenilato e uma molécula específica de tRNA. Há pelo menos um tRNA para cada um dos 20 aminoácidos encontrados em grandes quantidades nas proteínas corporais dos animais; sendo que alguns aminoácidos têm mais de um tRNA. O complexo formado tRNA-aminoácido-adenilato é fixado ao mRNA, um processo que ocorre nos ribossomos. O tRNA reconhece o ponto corretoonde deve ligar-se ao mRNA, visto que possui, em sua extremidade ativa, um conjunto de três bases complementares a um conjunto de três bases em um determinado ponto da cadeia do mRNA. O código genético é formado por essas trincas, ou seja, sequências de três bases ou códons, que representam um aminoácido específico. Agora, observe, na figura a seguir, a relação de códons e seus aminoácidos para a síntese de proteínas. A sequência nucleotídica de um mRNA, como observado, é traduzida para a sequência de aminoácidos de uma proteína pelo uso de um código genético. A tradução começa nos ribossomos, com uma sequência AUG, transcrita a partir de ATG no gene e que codifica a metionina. O aminoácido aminoterminal é acrescentado, e o alongamento da cadeia é efetuado pelo acréscimo de outros aminoácidos. O mRNA liga-se à subunidade 40S do ribossomo durante a síntese proteica. Já a cadeia polipeptídica nascente liga- se à subunidade 60S. À medida que os aminoácidos vão sendo associados à sequência do código, o ribossomo desloca-se ao longo da molécula de mRNA. A tradução termina em um dos três códons de terminação ou non-sense (UGA, UAA ou UAG), com liberação da cadeia polipeptídica. As moléculas de tRNA e mRNA são reutilizadas pela maquinaria de síntese. Com frequência, existem vários ribossomos em uma mesma cadeia de mRNA. A cadeia de mRNA, mais o seu conjunto de ribossomos, é visível ao microscópio e é denominada polirribossomo (polissoma). Embora o mRNA seja formado no núcleo, filamentos individuais de mRNA podem deslocar- se ao longo do citoesqueleto, dirigindo-se para várias partes da célula. Na presença de ribossomos apropriados, esses mRNA sintetizam proteínas no local, dentro da célula.