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05/10/2022 23:41 Teste: Atividade 3: argumentação e posicionamento autoral na escrita acadêmica https://pucminas.instructure.com/courses/112900/quizzes/328801/take 1/12 Atividade 3: argumentação e posicionamento autoral na escrita acadêmica Iniciado: 5 out em 23:39 Instruções do teste 1,5 ptsPergunta 1 Leia o seguinte excerto, extraído de um artigo acadêmico publicado em periódico da área de Letras: EXCERTO 1 O trabalho com a produção textual, em especial em escolas públicas, é frequentemente inócuo, uma vez que o professor tem dificuldade de dar o retorno apropriado às produções dos alunos, em grande parte dos casos pelo excessivo número de estudantes numa sala. Na maioria das vezes, descontente com as anotações em vermelho, que apontam seus erros, mas não a maneira de corrigi-los, o estudante observará apenas a nota e guardará a folha de papel. Nesse ponto, surge a angústia da constatação de que não é suficiente sublinhar as falhas, pois, na maioria das vezes, o mais importante é o que não foi dito e deveria tê-lo sido; ou foi dito de modo insuficiente e confuso, ou desordenado. Da mesma forma, Therezo (2001) afirma que não basta contentar-se em sublinhar as inadequações, apontá-las com códigos nem sempre bem entendidos pelo aluno, colocar pontos de interrogação ou exclamação diante de expressões mal empregadas, deixando a cargo deste verificar o que está incorreto. Apenas verificar, pois não vai ser dada a ele a oportunidade de buscar outros recursos de forma e de conteúdo que lhe permitam melhorar o texto por meio de uma reescritura, substituir as frases mal formadas, acrescentar ou modificar conteúdo e ser reavaliado. (p. 7). Antunes (2005) acredita que muito do trabalho de correção de texto, especialmente o escolar, seja ineficiente por não ser claro a muitos profissionais o que é coesão e o que é coerência. Mesmo assim, há em muitas anotações de professores, recados como: “trecho sem coesão”. Entretanto, se isso pode não 05/10/2022 23:41 Teste: Atividade 3: argumentação e posicionamento autoral na escrita acadêmica https://pucminas.instructure.com/courses/112900/quizzes/328801/take 2/12 introdução pelo conectivo “mesmo assim”. inserção do substantivo “recado”. uso de um vocativo, após os dois pontos. uso das aspas duplas. ser claro para professores, imagina-se que seja inteligível para grande parte dos alunos. No último parágrafo do excerto, percebe-se a inserção de outra voz à argumentação, diferente da voz dos autores do artigo, por meio de: 1,5 ptsPergunta 2 Leia o trecho abaixo, retirado de artigo acadêmico publicado em periódico da área de Letras: Portanto, é fundamental considerar o texto “como evento comunicativo em que convergem ações linguísticas, cognitivas e sociais, e não apenas como a sequência de palavras que são faladas ou escritas”. (BEAUGRANDE, 1997, p. 10). E, mais ainda, a textualidade é a qualidade essencial de todos os textos, mas é também uma realização humana sempre que um texto é textualizado, isto é, sempre que um “artefato” de marcas sonoras ou escritas é produzido ou que recebe o nome de texto (...). Um texto não existe, como texto, a não ser que alguém o esteja processando. (BEAUGRANDE, 1997, p. 13). Por sua vez, Costa Val (2007) define textualidade como o conjunto de características que fazem com que um texto seja um texto, e não apenas uma sequência de frases. 05/10/2022 23:41 Teste: Atividade 3: argumentação e posicionamento autoral na escrita acadêmica https://pucminas.instructure.com/courses/112900/quizzes/328801/take 3/12 a) Com o uso do conectivo “portanto”, os autores sinalizam que apresentarão uma consequência do que discutiram antes. b) Os autores do artigo optaram por trazer mais duas vozes (Costa Val e Marcuschi), realizando uma paráfrase (reformulação) do que ambos teriam afirmado. c) Em "é fundamental", os autores estão trazendo o ponto de vista de Beaugrande. d) A voz dos autores não aparece em nenhum momento do texto. O que faz com que uma sequência de palavras ou frases possa ser percebida por aquele que a recebe como uma unidade significativa global é a textura ou textualidade. Esta envolve sua organização linear (tratamento linguístico abordado no aspecto da coesão) e sua organização reticulada ou tentacular (MARCUSCHI, 1983), não linear, que é o tratamento dos níveis de sentido e intenções que realizam a coerência no aspecto semântico e pragmático. [Texto adaptado.] Sobre o trecho transcrito, é CORRETO afirmar que: 1,5 ptsPergunta 3 Leia, novamente, os dois excertos trazidos nas questões anteriores: EXCERTO 1 O trabalho com a produção textual, em especial em escolas públicas, é frequentemente inócuo, uma vez que o professor tem dificuldade de dar o retorno apropriado às produções dos alunos, em grande parte dos casos pelo excessivo número de estudantes numa sala. Na maioria das vezes, descontente com as anotações em vermelho, que apontam seus erros, mas não a maneira de corrigi-los, o estudante observará apenas a nota e guardará a folha de papel. Nesse ponto, surge a angústia da constatação de que não é suficiente sublinhar as falhas, pois, na maioria das vezes, o mais importante é o que não foi dito e deveria tê-lo sido; ou foi dito de modo insuficiente e confuso, ou desordenado. Da mesma forma, Therezo (2001) afirma que, não basta contentar-se em sublinhar as inadequações, apontá-las com códigos nem sempre bem entendidos pelo aluno, colocar pontos de 05/10/2022 23:41 Teste: Atividade 3: argumentação e posicionamento autoral na escrita acadêmica https://pucminas.instructure.com/courses/112900/quizzes/328801/take 4/12 interrogação ou exclamação diante de expressões mal empregadas, deixando a cargo deste verificar o que está incorreto. Apenas verificar, pois não vai ser dada a ele a oportunidade de buscar outros recursos de forma e de conteúdo que lhe permitam melhorar o texto por meio de uma reescritura, substituir as frases mal formadas, acrescentar ou modificar conteúdo e ser reavaliado. (p. 7). Antunes (2005) acredita que muito do trabalho de correção de texto, especialmente o escolar, seja ineficiente por não ser claro a muitos profissionais o que é coesão e o que é coerência. Mesmo assim, há em muitas anotações de professores, recados como: “trecho sem coesão”. Entretanto, se isso pode não ser claro para professores, imagina-se que seja inteligível para grande parte dos alunos. EXCERTO 2 Portanto, é fundamental considerar o texto “como evento comunicativo em que convergem ações linguísticas, cognitivas e sociais, e não apenas como a sequência de palavras que são faladas ou escritas”. (BEAUGRANDE, 1997, p. 10). E, mais ainda, a textualidade é a qualidade essencial de todos os textos, mas é também uma realização humana sempre que um texto é textualizado, isto é, sempre que um “artefato” de marcas sonoras ou escritas é produzido ou que recebe o nome de texto (...). Um texto não existe, como texto, a não ser que alguém o esteja processando. (BEAUGRANDE, 1997, p. 13). Por sua vez, Costa Val (2007) define textualidade como o conjunto de características que fazem com que um texto seja um texto, e não apenas uma sequência de frases. O que faz com que uma sequência de palavras ou frases possa ser percebida por aquele que a recebe como uma unidade significativa global é a textura ou textualidade. Esta envolve sua organização linear (tratamento linguístico abordado no aspecto da coesão) e sua organização reticulada ou tentacular (MARCUSCHI, 1983), não linear, que é o tratamento dos níveis de sentido e intenções que realizam a coerência no aspecto semântico e pragmático. [Texto adaptado.] Observando os dois excertos,é CORRETO afirmar que: 05/10/2022 23:41 Teste: Atividade 3: argumentação e posicionamento autoral na escrita acadêmica https://pucminas.instructure.com/courses/112900/quizzes/328801/take 5/12 a) A argumentação construída pelo(s) autor(es) mostra-se como um enunciado frágil e pouco consistente, já que se constrói sempre mencionando ou remetendo a voz(es) alheia(s). b) No texto científico, o uso de citações extensas indica que os autores leram muitos textos. c) O recurso a vozes presentes em outros textos científicos é estratégia textual e discursiva comum a gêneros como o artigo acadêmico-científico. d) O objetivo do uso de citações, num texto acadêmico-científico, liga-se exclusivamente a conferir-lhe credibilidade. 1,5 ptsPergunta 4 Leia o excerto a seguir, retirado de artigo da área de Linguística. É na enunciação – ou seja, no discurso – que a subjetividade se manifesta. O locutor converte a língua em discurso, colocando-se nele como sujeito e instituindo um outro, implícito ou explícito, ao qual se dirige. Diz Benveniste (2005, p. 286), no texto Da subjetividade da linguagem: A consciência de si mesmo só é possível se experimentada por contraste. Eu não emprego eu a não ser dirigindo-me a alguém, que será na minha alocução um tu. Essa condição de diálogo é que é constitutiva da pessoa, pois implica em reciprocidade – que eu me torne tu na alocução daquele que por sua vez se designa eu. (Benveniste: p. 286, destaques do autor). É nessa alternância entre o eu e o tu, sempre únicos e que podem ter intercambiadas suas posições, que se instaura a intersubjetividade da/na enunciação, proposta por Benveniste (2005). O eu fora da linguagem é inatingível. É o exercício da língua que faz o homem subjetivar-se, colocando-se como sujeito do discurso. E é a consciência do outro que desvela a intersubjetividade, dada a impossibilidade de dizer senão para uma instância diferente: o tu. O eu só pode ser eu na premência de um tu. Há um jogo de relações complementares nisso, sendo que um não existe na ausência do outro: eu se propõe como eu a um tu que, por seu turno, passa a ser eu e instaura o outro como tu. 05/10/2022 23:41 Teste: Atividade 3: argumentação e posicionamento autoral na escrita acadêmica https://pucminas.instructure.com/courses/112900/quizzes/328801/take 6/12 a) F – V – V – V b) V – V – F – F c) F – F – F – V d) V – F – F – F [Texto adaptado.] Considere o uso que os autores fazem de uma outra voz, a de Benveniste, em sua argumentação. Coloque V (verdadeiro) ou F (falso) nas assertivas: ( ) As informações relativas à fonte da citação recuada estão corretas, em consonância com a ABNT. ( ) O uso do itálico na indicação do título da obra, conforme orientações de normalização da PUC Minas, é inadequado. ( ) Após a citação de Benveniste, observa-se um movimento de diálogo dos autores do artigo com o que nela se expõe. ( ) A expressão "destaques do autor" remete aos itálicos da citação e deveria ter vindo sem o negrito. 2 ptsPergunta 5 Leia o excerto a seguir, retirado de um artigo da área de Linguística. Introdução A questão da autoria tornou-se para mim um problema real quando assumi a coordenação de uma banca de correção de vestibulares. Herdei corretores experientes que falavam, a propósito de certas redações, em traços de autoria. Analisando com eles casos concretos, para decidir notas, fui me dando conta, pela prática, de que tipo de questões se tratava. O que chamava atenção, e caracterizava “autoria”, eram, simplificando um pouco, alguns traços de estilo e certas marcas (aspas, ironia, citações singulares, jogos com o leitor). Definitivamente, muitas não eram simples redações, textos para evitar riscos. Foi a partir desta experiência que escrevi “Indícios de autoria” (POSSENTI, 2002). Mas, é claro, conhecia textos sobre a questão, porque ela é velha. Autoria e análise do discurso 05/10/2022 23:41 Teste: Atividade 3: argumentação e posicionamento autoral na escrita acadêmica https://pucminas.instructure.com/courses/112900/quizzes/328801/take 7/12 O tema entrou na análise do discurso (doravante AD) em consequência de leituras da famosa conferência de Foucault (1969). Mas não foi uma questão para Pêcheux, por exemplo, nem para outros analistas do discurso franceses, como Courtine, Marandin, Robin, Mazière ou Maldidier. Creio que a passagem de Foucault à AD começou em Orlandi (19881). Talvez a ideia se tenha popularizado um pouco mais com uma dissertação, transformada em livro (GALLO, 1992), pois tratava de uma pesquisa sobre escrita na escola. Depois, parece que a carreira da autoria, em AD, não mais foi estancada. Parece ser um tema brasileiro. Maingueneau (2010, 25), por exemplo, diz que, embora a questão seja clássica na teoria literária, “a maior parte dos analistas do discurso (...) evitam a famosa questão posta por Michel Foucault nos fins dos anos 1960: ‘O que é um autor?’”. Ele certamente desconhece a pletora de textos que versam sobre a questão no Brasil. Uma leitura talvez superficial da vasta produção brasileira sobre o tema revela que há uma diferença nítida entre as teses de Foucault (e mesmo as de Maingueneau e de Chartier, por exemplo) e as nativas. De fato, textos sobre autoria produzidos no Brasil (LAGAZZI, 2006; TFOUNI (org., 2008); OLIVEIRA, 2004, por exemplo), revelam um movimento peculiar. A diferença crucial reside na exigência foucaultiana (que acompanha a tradição, seja literária, seja filosófica, seja a das artes plásticas ou do cinema) de que a autoria corresponda a uma obra, enquanto que a deriva brasileira define a autoria por uma certa relação de quem escreve (ou fala...) com textos que, por enquanto, qualificarei como comuns (no trabalho de Gallo, por exemplo, trata-se de produções escolares). Em Foucault, autor é um correlato de obra: não há autor sem obra, não há obra sem autor. Para a maioria dos brasileiros, talvez simplificando, mas não falseando a tese, são autores os que escrevem um texto adequado. Esta orientação pode ter resultado da leitura de Orlandi (1987), especialmente da seguinte passagem: Assim, do autor se exige: coerência; respeito aos padrões estabelecidos, tanto quanto à forma do discurso como às regras gramaticais; explicitação; clareza; conhecimento das regras textuais; originalidade; relevância e, entre outras coisas, “unidade”, “não contradição”, “progressão” e “duração” de seu discurso. É, entre outras coisas, nesse “jogo” que o aluno entra quando começa a escrever”. (p. 78). Como se pode ver, trata-se da relação entre sujeito (o autor é uma de suas facetas, aquela em que ele mais se apaga) e texto. E, embora o parágrafo não trate de texto escolar, ele é mencionado em seguida, como se vê acima. Leitores costumam agarrar-se mais ou menos “livremente” a 05/10/2022 23:41 Teste: Atividade 3: argumentação e posicionamento autoral na escrita acadêmica https://pucminas.instructure.com/courses/112900/quizzes/328801/take 8/12 estes ganchos. Para Foucault, a divisão entre texto com e textos sem autoria, como se sabe, é bastante nítida: ... poder-se-ia dizer que há, em uma civilização como a nossa, um certo número de discursos que são providos da função “autor”, enquanto que outros são dela desprovidos. Uma carta particular pode ter um signatário, ela não tem autor; um contrato pode ter um fiador, ele não tem autor. Um texto anônimo que se lê na rua em uma parede terá um redator, não terá um autor. A função autor é, portanto, característica do modo de existência, de circulação e de funcionamento de certos discursos no interior de uma sociedade. (p. 274) (grifo meu). Minha aposta é que não ocorreria a Foucault que redações e outros textos do mesmo naipe tenham autor, já que ele dissera, logo antes, que o nome de autor está na “ruptura que instaura um certo grupo de discursos e seu modo singular de ser” (ibidem) – redações não são singulares, neste sentido. Dissera também que um discursoassociado a um nome de autor não é uma “palavra quotidiana, indiferente (...), que passa, imediatamente consumível”, mas uma palavra que “deve ser recebida de uma certa maneira e que deve, em uma certa cultura, receber um certo status” (ibidem), sem contar que o autor exerce uma função classificatória, permite reagrupar certos textos, relacionar textos entre si, estabelecer uma relação de homogeneidade ou de filiação, de explicação recíproca etc. (p. 273). O resumo das quatro características da função autor que Foucault (1969) formula ao final da primeira parte de sua conferência é ainda mais contundente: Eu os resumirei assim: a função autor está ligada ao sistema jurídico e institucional que contém, determina, articula o universo dos discursos; ela não se exerce uniformemente e da mesma maneira sobre todos os discursos, em todas as épocas e em todas as formas de civilização; ela não é definida pela atribuição espontânea de um discurso a seu produtor, mas por uma série de operações específicas e complexas; ela não remete pura e simplesmente a um indivíduo real, ela pode dar lugar simultaneamente a vários egos, a várias posições-sujeito que classes diferentes de indivíduos podem vir a ocupar (p. 279-80). Nada disso, evidentemente, se aplica a narrativas quotidianas ou a textos escolares, nem mesmo à maioria dos textos jornalísticos como os que são assinados, sejam reportagens ou colunas de opinião (que, no entanto, selecionadas e agrupadas, podem ser uma das vias da constituição de um autor). 05/10/2022 23:41 Teste: Atividade 3: argumentação e posicionamento autoral na escrita acadêmica https://pucminas.instructure.com/courses/112900/quizzes/328801/take 9/12 Nada disso, evidentemente, se aplica a narrativas quotidianas ou a textos escolares [...]. Minha aposta é que não ocorreria a Foucault que redações e outros textos do mesmo naipe tenham autor [...]. Uma carta particular pode ter um signatário, ela não tem autor [...] Definitivamente, muitas não eram simples redações, textos para evitar riscos. POSSENTI, Sírio. Notas sobre a questão da autoria. Matraga, Rio de Janeiro, v. 20, n. 32, p. 239-250, jan./jun. 2013. Em todos os excertos a seguir, manifestam-se marcas da voz de Sírio Possenti, em que emerge seu ponto de vista, EXCETO em: 2 ptsPergunta 6 Leia o excerto a seguir, retirado de um artigo da área de Linguística. Introdução A questão da autoria tornou-se para mim um problema real quando assumi a coordenação de uma banca de correção de vestibulares. Herdei corretores experientes que falavam, a propósito de certas redações, em traços de autoria. Analisando com eles casos concretos, para decidir notas, fui me dando conta, pela prática, de que tipo de questões se tratava. O que chamava atenção, e caracterizava “autoria”, eram, simplificando um pouco, alguns traços de estilo e certas marcas (aspas, ironia, citações singulares, jogos com o leitor). Definitivamente, muitas não eram simples redações, textos para evitar riscos. Foi a partir desta experiência que escrevi “Indícios de autoria” (POSSENTI, 2002). Mas, é claro, conhecia textos sobre a questão, porque ela é velha. Autoria e análise do discurso O tema entrou na análise do discurso (doravante AD) em consequência de leituras da famosa conferência de Foucault (1969). Mas não foi uma questão para Pêcheux, por exemplo, nem para outros analistas do discurso franceses, como Courtine, Marandin, Robin, Mazière ou Maldidier. Creio que a passagem de Foucault à AD começou em Orlandi (19881). Talvez a ideia se tenha popularizado um pouco mais com uma dissertação, transformada em livro (GALLO, 1992), pois 05/10/2022 23:41 Teste: Atividade 3: argumentação e posicionamento autoral na escrita acadêmica https://pucminas.instructure.com/courses/112900/quizzes/328801/take 10/12 tratava de uma pesquisa sobre escrita na escola. Depois, parece que a carreira da autoria, em AD, não mais foi estancada. Parece ser um tema brasileiro. Maingueneau (2010, 25), por exemplo, diz que, embora a questão seja clássica na teoria literária, “a maior parte dos analistas do discurso (...) evitam a famosa questão posta por Michel Foucault nos fins dos anos 1960: ‘O que é um autor?’”. Ele certamente desconhece a pletora de textos que versam sobre a questão no Brasil. Uma leitura talvez superficial da vasta produção brasileira sobre o tema revela que há uma diferença nítida entre as teses de Foucault (e mesmo as de Maingueneau e de Chartier, por exemplo) e as nativas. De fato, textos sobre autoria produzidos no Brasil (LAGAZZI, 2006; TFOUNI (org., 2008); OLIVEIRA, 2004, por exemplo), revelam um movimento peculiar. A diferença crucial reside na exigência foucaultiana (que acompanha a tradição, seja literária, seja filosófica, seja a das artes plásticas ou do cinema) de que a autoria corresponda a uma obra, enquanto que a deriva brasileira define a autoria por uma certa relação de quem escreve (ou fala...) com textos que, por enquanto, qualificarei como comuns (no trabalho de Gallo, por exemplo, trata-se de produções escolares). Em Foucault, autor é um correlato de obra: não há autor sem obra, não há obra sem autor. Para a maioria dos brasileiros, talvez simplificando, mas não falseando a tese, são autores os que escrevem um texto adequado. Esta orientação pode ter resultado da leitura de Orlandi (1987), especialmente da seguinte passagem: Assim, do autor se exige: coerência; respeito aos padrões estabelecidos, tanto quanto à forma do discurso como às regras gramaticais; explicitação; clareza; conhecimento das regras textuais; originalidade; relevância e, entre outras coisas, “unidade”, “não contradição”, “progressão” e “duração” de seu discurso. É, entre outras coisas, nesse “jogo” que o aluno entra quando começa a escrever”. (p. 78). Como se pode ver, trata-se da relação entre sujeito (o autor é uma de suas facetas, aquela em que ele mais se apaga) e texto. E, embora o parágrafo não trate de texto escolar, ele é mencionado em seguida, como se vê acima. Leitores costumam agarrar-se mais ou menos “livremente” a estes ganchos. Para Foucault, a divisão entre texto com e textos sem autoria, como se sabe, é bastante nítida: ... poder-se-ia dizer que há, em uma civilização como a nossa, um certo número de discursos que são providos da 05/10/2022 23:41 Teste: Atividade 3: argumentação e posicionamento autoral na escrita acadêmica https://pucminas.instructure.com/courses/112900/quizzes/328801/take 11/12 função “autor”, enquanto que outros são dela desprovidos. Uma carta particular pode ter um signatário, ela não tem autor; um contrato pode ter um fiador, ele não tem autor. Um texto anônimo que se lê na rua em uma parede terá um redator, não terá um autor. A função autor é, portanto, característica do modo de existência, de circulação e de funcionamento de certos discursos no interior de uma sociedade. (p. 274) (grifo meu). Minha aposta é que não ocorreria a Foucault que redações e outros textos do mesmo naipe tenham autor, já que ele dissera, logo antes, que o nome de autor está na “ruptura que instaura um certo grupo de discursos e seu modo singular de ser” (ibidem) – redações não são singulares, neste sentido. Dissera também que um discurso associado a um nome de autor não é uma “palavra quotidiana, indiferente (...), que passa, imediatamente consumível”, mas uma palavra que “deve ser recebida de uma certa maneira e que deve, em uma certa cultura, receber um certo status” (ibidem), sem contar que o autor exerce uma função classificatória, permite reagrupar certos textos, relacionar textos entre si, estabelecer uma relação de homogeneidade ou de filiação, de explicação recíproca etc. (p. 273). O resumo das quatro características da função autor que Foucault (1969) formula ao final da primeira parte de sua conferência é ainda mais contundente: Eu os resumirei assim: a função autor está ligada ao sistema jurídico e institucional que contém, determina, articula o universo dos discursos; ela não se exerce uniformemente e da mesma maneirasobre todos os discursos, em todas as épocas e em todas as formas de civilização; ela não é definida pela atribuição espontânea de um discurso a seu produtor, mas por uma série de operações específicas e complexas; ela não remete pura e simplesmente a um indivíduo real, ela pode dar lugar simultaneamente a vários egos, a várias posições-sujeito que classes diferentes de indivíduos podem vir a ocupar (p. 279-80). Nada disso, evidentemente, se aplica a narrativas quotidianas ou a textos escolares, nem mesmo à maioria dos textos jornalísticos como os que são assinados, sejam reportagens ou colunas de opinião (que, no entanto, selecionadas e agrupadas, podem ser uma das vias da constituição de um autor). 05/10/2022 23:41 Teste: Atividade 3: argumentação e posicionamento autoral na escrita acadêmica https://pucminas.instructure.com/courses/112900/quizzes/328801/take 12/12 Salvo em 23:41 Para Foucault, a divisão entre texto com e textos sem autoria, como se sabe, é bastante nítida. Como se pode ver, trata-se da relação entre sujeito (o autor é uma de suas facetas, aquela em que ele mais se apaga) e texto. Ele certamente desconhece a pletora de textos que versam sobre a questão no Brasil. A questão da autoria tornou-se para mim um problema real quando assumi a coordenação de uma banca de correção de vestibulares. POSSENTI, Sírio. Notas sobre a questão da autoria. Matraga, Rio de Janeiro, v. 20, n. 32, p. 239-250, jan./jun. 2013. Em todos os excertos a seguir, o autor do artigo dialoga com a voz de outro autor convocado, EXCETO em: Enviar teste