Prévia do material em texto
ENFRENTAMENTO DA COVID-19 Sumário UNIDADE 01 – VIRUS RESPIRATORIOS ........................................................ 4 1.Características Gerais dos Vírus Respiratórios .......................................................... 4 1.2 Conceitos-Chave: Gripe, Resfriado e Síndrome Respiratória Aguda Grave 6 1.3 Conceitos-Chave: Gripe, Resfriado e Síndrome Respiratória Aguda Grave ........... 7 1.4 VÍRUS RESPIRATÓRIOS QUE CAUSAM SÍNDROME GRIPAL e SÍNDROME RESPIRATÓRIA AGUDA GRAVE .............................................................................................. 8 1.4.1 CORONAVÍRUS SARS-COV, SARS COV-2 E MERS-COV ..................... 8 1.4.1.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS CORONAVÍRUS ............................................... 9 1.4.1.2 ORIGEM DO SARS-COV-2 ................................................................................ 10 1.4.1.4 Transmissão .................................................................................................... 10 1.4.1.5 ASPECTOS CLÍNICOS ....................................................................................... 11 1.4.1.6 DIAGNÓSTICO ................................................................................................. 14 1.4.1.7 Tratamento ..................................................................................................... 15 1.4.1.8 PREVENÇÃO .................................................................................................... 16 1.4.2.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS VÍRUS INFLUENZA .................... 17 1.4.2.3 TIPOS DE VÍRUS INFLUENZA ........................................................................... 18 1.4.2.5 TRANSMISSÃO ................................................................................................ 18 1.4.2.6 SINTOMAS ...................................................................................................... 19 1.4.2.7 DIAGNÓSTICO DA INFECÇÃO PELO FLUV ....................................................... 20 1.4.2.8 TRATAMENTO ................................................................................................. 21 1.4.2.9 PREVENÇÃO .................................................................................................... 22 1.4.3 Rinovírus ................................................................................................ 24 1.4.3.1 TRANSMISSÃO DO HRV .................................................................................. 24 1.4.3.2 ASPECTOS CLÍNICOS ....................................................................................... 25 1.4.3.3 DIAGNÓSTICO ................................................................................................. 25 CO-INFECÇÃO SARS-COV-2 E HRV ............................................................. 25 1.4.4 VÍRUS SINCICIAL RESPIRATÓRIO ...................................................... 26 1.4.4.1 TRANSMISSÃO DO VSR ................................................................................... 26 1.4.4.2 PRINCIPAIS SINTOMAS DA INFECÇÃO PELO VSR ............................................ 26 1.4.4.3 TRATAMENTO ................................................................................................. 27 1.4.4.4 PREVENÇÃO .................................................................................................... 27 1.4.5 ADENOVÍRUS ........................................................................................ 27 1.4.5.1 TRANSMISSÃO ................................................................................................ 28 1.4.5.2 PRINCIPAIS SINTOMAS DA INFECÇÃO PELO HADV ......................................... 28 1.4.5.3 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL ....................................................................... 29 1.4.6 PARAINFLUENZA .................................................................................. 29 1.4.6.1 TRANSMISSÃO ................................................................................................ 29 1.4.6.2 PRINCIPAIS SINTOMAS DA INFECÇÃO PELO VÍRUS PARAINFLUENZA ............ 30 1.4.6.3 DIAGNÓSTICO ................................................................................................. 30 1.4.6.4 PREVENÇÃO .................................................................................................... 31 1.5 Vírus que causam meningite ..................................................................... 31 1.5.1 Vírus da rubéola ..................................................................................... 32 1.5.1.1 TRANSMISSÃO ................................................................................................ 33 1.5.1.2 ASPECTOS CLÍNICOS ....................................................................................... 33 1.5.1.3 DIAGNÓSTICO ................................................................................................. 34 1.5.1.4 EPIDEMIOLOGIA ............................................................................................. 35 1.5.1.5 TRATAMENTO ................................................................................................. 36 1.5.1.6 PREVENÇÃO .................................................................................................... 36 1.5.2 Vírus da caxumba ................................................................................... 37 1.5.2.1 TRANSMISSÃO ................................................................................................ 37 1.5.2.2 ASPECTOS CLÍNICOS ....................................................................................... 38 1.5.2.3 DIAGNÓSTICO ................................................................................................. 38 1.5.2.4 EPIDEMIOLOGIA ............................................................................................. 39 1.5.2.5 TRATAMENTO ................................................................................................. 39 1.5.2.6 PREVENÇÃO .................................................................................................... 39 1.5.3 Vírus do sarampo ................................................................................... 40 1.5.3.1 AGENTE ETIOLÓGICO ...................................................................................... 40 1.5.3.2 TRANSMISSÃO ................................................................................................ 40 1.5.3.3 ASPECTOS CLÍNICOS ....................................................................................... 41 1.5.3.4 DIAGNÓSTICO ................................................................................................. 42 1.5.3.5 EPIDEMIOLOGIA ............................................................................................. 42 1.5.3.6 TRATAMENTO ................................................................................................. 43 1.5.3.7 PREVENÇÃO .................................................................................................... 43 1.5.4 Vírus da varicela ..................................................................................... 44 1.5.4.1 AGENTE ETIOLÓGICO ...................................................................................... 44 1.5.4.2 TRANSMISSÃO ................................................................................................ 44 1.5.4.3 ASPECTOS CLÍNICOS ....................................................................................... 44 1.5.4.4 DIAGNÓSTICO ................................................................................................. 45 1.5.4.5 EPIDEMIOLOGIA ............................................................................................. 46 1.5.4.6 TRATAMENTO ................................................................................................. 47 1.5.4.7 PREVENÇÃO ....................................................................................................47 1.6 Vírus Respiratórios de Potencial Pandêmico ............................................. 48 Unidade 02 ...................................................................................................... 49 UNIDADE 01 – VIRUS RESPIRATORIOS 1.Características Gerais dos Vírus Respiratórios As infecções respiratórias são uma das principais causas de morbidade e mortalidade no mundo, principalmente em crianças menores de 5 anos. Elas podem ocorrer nos tratos respiratórios superior e inferior. Grande parte das infecções respiratórias é causada por vírus. Essas infecções podem variar de assintomáticas a infecções respiratórias agudas (IRAs) (KUTTER et al., 2018). Alguns exemplos de vírus que acometem o trato respiratório humano são: Coronavírus humanos (HCoV); Vírus da influenza (FLUV); Rinovírus humanos (HRV); Vírus sincicial respiratório humano (VSR); Alguns adenovírus humanos (HAdV). Esses vírus são considerados essencialmente respiratórios, uma vez que se reproduzem, principalmente, no sistema respiratório. Outros vírus, como o vírus do sarampo (Morbillivirus) e o da varicela (Varicellovirus), apesar de terem o sistema respiratório como porta de entrada e sítio para replicação, não é este sítio o principal alvo da infecção, portanto não são classificados como vírus respiratórios primários (SANTOS et al., 2015). As infecções virais do sistema respiratório têm elevado potencial de propagação. São transmitidas, principalmente, por aerossóis e/ou gotículas contaminadas, que podem ser liberadas pelo espirro, tosse ou fala, ou pelo contato com superfícies ou objetos contaminados, seguido da autoinoculação na mucosa nasal e na conjuntiva (FILHO et al., 2017). O grande número de tipos virais e a eficiência de transmissão entre as pessoas propiciam uma alta prevalência de infecções respiratórias virais. Alguns vírus respiratórios podem ter seu material genético envolto em uma camada de gordura e proteínas chamada de envelope. O vírus influenza e o coronavírus são exemplos de vírus envelopados. Como sabemos, o sabão e o detergente dissolvem gordura, então podem ser utilizados para inativar rapidamente os vírus envelopados (por isso umas das recomendações para combater o coronavírus é lavar as mãos com água e sabão). A presença do envelope também afeta a sobrevivência do vírus no meio ambiente. Assim, os vírus envelopados são menos resistentes no meio ambiente e no calor, mantendo-se infecciosos por apenas algumas horas e sendo tipicamente prevalentes no inverno. Já os vírus não envelopados, constituídos somente de um complexo nucleoprotéico, conseguem se manter infecciosos por dias ou semanas no meio ambiente e são mais frequentes entre a primavera e o outono (SANTOS et al., 2015). Veja na Figura 1 os locais do sistema respiratório onde podem ocorrer as infecções respiratórias virais, como são chamadas as respectivas manifestações clínicas, e exemplos de vírus que podem causar essas manifestações. Locais Do Sistema Respiratório Onde Podem Ocorrer As Infecções Respiratórias Virais, As Respectivas Manifestações Clínicas E Exemplos De Vírus Que Podem Causar Essas Manifestações 1.2 Conceitos-Chave: Gripe, Resfriado e Síndrome Respiratória Aguda Grave É muito comum confundir os sintomas da gripe e do resfriado, pois as duas doenças são causadas por vírus que comprometem o sistema respiratório e são transmitidas da mesma forma. Porém, os vírus relacionados com cada doença, assim como os sintomas que provocam, são diferentes. Enquanto a gripe é causada pelo vírus da influenza, o resfriado pode ser causado por, principalmente, adenovírus e rinovírus. Em geral, os sintomas da gripe aparecem após quatro dias do contato com o agente etiológico e desaparecem espontaneamente em sete dias, porém a tosse, o mal-estar e a fadiga podem permanecer por mais algumas semanas .O tratamento da gripe e do resfriado é direcionado ao alívio dos sintomas e é feito principalmente com analgésicos e antitérmicos, que aliviam a dor e a febre. Geralmente, os sintomas da gripe são mais intensos e têm maior duração do que os do resfriado. No resfriado, a instalação dos sintomas costuma ser lenta, a duração é mais curta e os sintomas são mais leves. A vacina é a melhor maneira de prevenir a gripe, promovendo imunidade durante o período de maior circulação do vírus e reduzindo o agravamento da doença. Sua composição varia de acordo com o tipo de vírus mais provável de se disseminar no ano, por isso é necessário receber uma nova dose todos os anos. Durante o curso da infecção, os vírus respiratórios podem afetar vários órgãos e tipos celulares além do sistema respiratório, como células da mucosa intestinal, do epitélio tubular renal, do sistema linfoide e reticuloendotelial e neurônios. Para auxiliar no enfrentamento da infecção pelos vírus, o sistema imune produz substâncias chamadas citocinas inflamatórias. Essa resposta inflamatória é muito importante para a resolução da doença, mas uma maior intensidade da resposta imune, com produção exagerada e descontrolada dessas citocinas, pode prejudicar o paciente. Esse é um dos fatores que podem levar à evolução da doença para Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG ou SARS, do inglês Severe Acute Respiratory Syndrome). É preciso considerar a diferença entre uma Síndrome Gripal (SG) e uma SRAG para o correto manejo clínico do paciente (BRASIL, 2018). 1.3 Conceitos-Chave: Gripe, Resfriado e Síndrome Respiratória Aguda Grave Assim como na gripe, a febre e os sintomas respiratórios predominam na SRAG. Então, além dos sintomas da gripe, como febre de início súbito, tosse ou dor de garganta, dor de cabeça, dor muscular ou dor nas articulações, o indivíduo com SRAG tem dificuldade para respirar (dispneia) ou os seguintes sinais de gravidade, segundo o Protocolo de Influenza do Ministério da Saúde (BRASIL, 2018): Sinais de desconforto respiratório ou aumento da frequência respiratória avaliada de acordo com a idade; Saturação de O2 < 95% em ar ambiente; Exacerbação de doença preexistente; Hipotensão em relação à pressão arterial habitual do paciente. Em crianças: além dos itens anteriores, devem ser observados os batimentos de asa de nariz, cianose, tiragem intercostal, desidratação e inapetência. O quadro clínico pode ou não ser acompanhado de seguintes alterações laboratoriais e radiológicas: Alterações laboratoriais: leucocitose, leucopenia ou neutrofilia, alterações enzimáticas, musculares (CPK) e hepáticas (TGO, TGP, bilirrubinas). Radiografia de tórax: infiltrado intersticial localizado ou difuso ou presença de área de condensação (BRASIL, 2018). Pneumonia é uma infecção respiratória aguda que acomete os pulmões e pode ser causada por bactérias, vírus, fungos ou parasitas. Os alvéolos, pequenos sacos que se enchem de ar quando uma pessoa respira, ficam cheios de pus e líquido no indivíduo com pneumonia.A pneumonia é a principal causa infecciosa de morte em crianças em todo o mundo. O quadro clínico pode variar nas pneumonias virais, dependendo do agente etiológico, da idade e do estado imunológico do hospedeiro. Os sintomas incluem febre alta, tosse, dor no tórax, alterações na pressão arterial, mal-estar, falta de ar, secreção de muco purulento e fraqueza. Vários vírus são reconhecidos como causadores de pneumonias, como VSR, adenovírus, parainfluenza, coronavírus e hantavírus 1.4 VÍRUS RESPIRATÓRIOS QUE CAUSAM SÍNDROME GRIPAL e SÍNDROME RESPIRATÓRIA AGUDA GRAVE Aprendemos na seção anterior que uma síndrome é definida como um conjunto de sinais e sintomas que podem ser causados por vários microorganismos, como bactérias, vírus e até fungos e que se for um caso leve, considera-se que a pessoa apresenta a Síndrome Gripal. Nos casos mais graves, dizemos que ela apresenta a Síndrome Respiratória Aguda Grave. Aprendemostambém que as infecções do trato respiratório são a principal causa de doenças infecciosas no ser humano. Nesta seção, você vai aprender sobre os vírus respiratórios, incluindo os coronavírus humanos (HCoVs), reconhecidos como causa comum dessas infecções. 1.4.1 CORONAVÍRUS SARS-COV, SARS COV-2 E MERS-COV Até pouco tempo atrás, as doenças causadas pelos coronavírus não eram consideradas de grande risco para a saúde humana, pois causavam resfriado comum e doença respiratória com sintomas leves. Foi no final do ano de 2002 que casos de infecções respiratórias muito mais graves foram relatados nos humanos, por vezes fatais. Nesse período, ocorreu a primeira epidemia de coronavírus de relevância para a saúde pública, a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS, do inglês Severe Acute Respiratory Syndrome), causada pelo SARS-CoV na província de Guangdong, China. Alcançou proporções pandêmicas, mas pôde ser controlada após intervenções agressivas na saúde pública (DOLIN et al., 2007). O primeiro coronavírus capaz de causar infecção em seres humanos, descrito por Tyrrel e Bynoe em 1965, foi o HCoV (estirpe B814), isolado de uma criança com resfriado comum. Esse vírus tinha morfologia semelhante ao vírus da bronquite infecciosa (IBV), primeiro coronavírus descrito, em 1937, e isolado em galinhas. Depois, novos vírus (HCoV-229 e HCoV OC43) foram identificados, com morfologia idêntica à B814 e IBV, e ficaram conhecidos por causarem resfriados comuns e, raramente, infecções severas do trato respiratório inferior. A partir de 2002, novos coronavírus (SARS-CoV, HCoV-NL63 e HCoV- HKU1), capazes de infectar o homem e causar infecções mais severas dos tratos respiratórios superior e inferior, foram descritos (DIJKMAN et al., 2009). Uma segunda epidemia, com elevada taxa de mortalidade, ocorreu em Jidá, na Arábia Saudita em 2012 e foi causada pelo Coronavírus da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV, do inglês Middle East Respiratory Syndrome Coronavirus), identificado pela primeira vez em um paciente com quadro clínico de doença respiratória grave (pneumonia aguda) e falência renal na Arábia Saudita (AL-OSAIL et al., 2017). No final de 2019, os primeiros casos de infecções respiratórias graves, denominadas COVID-19 (do inglês COronaVIrus Disease 2019), causadas pelo Em 30 de janeiro de 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a infecção pelo novo coronavírus como uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII), sendo reconhecida como pandemia pela OMS em 11 de março de 2020 e se tornando um dos maiores desafios de saúde pública do mundo atualmente (OPAS, 2020). 1.4.1.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS CORONAVÍRUS Os coronavírus (CoVs) são vírus capazes de infectar humanos e uma grande variedade de animais vertebrados (domésticos ou não), incluindo morcegos, camelos, civeta, aves, pangolins, camundongos, ratos, cães, felinos, coelhos, equinos, bovinos e cetáceos (WOO et al., 2006). Podem causar uma variedade de doenças respiratórias, entéricas, hepáticas e do sistema nervoso central. Filogeneticamente, os coronavírus (CoVs) são membros da família Coronaviridae e subfamília Orthocoronavirinae. Ao todo, sete espécies de coronavírus infectam humanos (HCoVs) e estão distribuídas em dois gêneros, os Alphacoronavirus e os Betacoronavirus (WALKER et al., 2019). A taxonomia dos CoVs está demonstrada na Figura 2. Os coronavírus (CoVs) têm morfologia predominantemente esférica e são envelopados com genoma de RNA de fita simples (RNAss) com polaridade positiva. Trata-se do maior genoma entre os vírus de RNA de fita simples. A Figura 3 mostra o modelo esquemático da partícula viral e do genoma do vírus. O nome coronavírus se deve à organização estrutural das glicoproteínas (estruturas circulares denominadas projeções ou espículas) que emergem do envelope do vírus e têm o aspecto de uma coroa. 1.4.1.2 ORIGEM DO SARS-COV-2 A similaridade genética, que quer dizer quanto às sequências genômicas são semelhantes, entre coronavírus humanos (SARS-CoV, MERS-CoV e SARS-CoV-2) já é bem conhecida. O SARS-CoV-2 tem quase 80% de similaridade com o SARS-CoV e 50% com o MERS-CoV. Entretanto, estudos demonstram que as sequências genômicas do SARS-CoV-2 são até 98% semelhantes às sequências de SARS-CoV de morcegos, sugerindo ser essa a possível origem do SARS-CoV-2. No entanto, existe a probabilidade de que um outro hospedeiro animal intermediário esteja envolvido para que os seres humanos sejam infectados pelo SARS-CoV-2, como foi demonstrado na transmissão direta do SARS-CoV (civetas) e do MERS-CoV (camelos) aos seres humanos (WOO et al., 2012; WOO et al., 2009). A Figura 4 mostra os possíveis animais que transmitem os coronavírus humanos. 1.4.1.4 Transmissão A transmissão do SARS-CoV-2 pode ocorrer de três formas: 1. A transmissão por contato direto é a transmissão da infecção de pessoa para pessoa, durante um aperto de mão seguido de contato com os olhos, nariz e/ou boca, ou com objetos e superfícies impermeáveis, em que os vírus podem persistir por 3 a 4 dias após a inoculação, sendo possível contrair o vírus após contato com superfícies contaminadas e posterior contato com os olhos, nariz e/ou boca, por toque direto ou aperto de mão, prolongando assim o risco de infecção; 2. A transmissão também pode acontecer por meio de partículas virais presentes nas gotículas respiratórias expelidas pelo nariz ou pela boca quando a pessoa infectada espirra, tosse ou fala a uma distância estimada de 1,8 metro da pessoa não contaminada; 3. A transmissão ocorre também por meio de gotículas respiratórias menores, chamadas de aerossóis, que podem ficar suspensas no ar, ser carregadas por maiores distâncias e períodos mais longos e, inclusive, ser transmitidas via superfície ocular. Também foi documentada a presença prolongada do SARS-CoV-2 em amostras fecais. Além disso, cargas virais no trato respiratório superior parecem estar no pico no início dos sintomas, podendo ocorrer a transmissão já de 2 a 3 dias antes do desenvolvimento dos sintomas (GUO et al., 2020; Pacientes assintomáticos também podem transmitir SARS-CoV-2 por meio das partículas respiratórias (aerossóis), o que tem contribuído para o aumento rápido do número de casos de COVID-19 no mundo todo (BYAMBASUREN et al., 2020). 1.4.1.5 ASPECTOS CLÍNICOS Assim como outras infecções respiratórias virais, os coronavírus têm sido associados a doenças respiratórias brandas ou leves e SRAG. A infecção pelo SARS-CoV-2 pode variar de casos assintomáticos e manifestações clínicas leves, principalmente em jovens adultos e crianças, a quadros moderados, graves e críticos, incluindo choque séptico e falência respiratória. O período de incubação da infecção pelo SARS-CoV-2 dura, geralmente, de 3 a 7 dias, podendo variar de 2 a 14 dias. Uma parcela dos indivíduos infectados vai permanecer assintomática. Entre aqueles que manifestarem sintomas (doença COVID-19), aproximadamente 80% vão desenvolver quadro clínico leve, 14%, quadro clínico severo, podendo necessitar de oxigenoterapia, e 5% poderão desenvolver quadro clínico crítico, podendo evoluir para terapia intensiva ou ventilação mecânica assistida (Asselah et al., 2021; FUNG et al., 2019). Pacientes com sintomas leves podem se recuperar em 1 semana do início dos sintomas (Figura 5). FIGURA 5 - CURSO CLÍNICO DA COVID-19 A COVID-19 é uma virose sistêmica que acomete diferentes órgãos e tecidos (Figura 6), e o paciente com a doença apresenta, geralmente, os seguintes sintomas e sinais: Febre (≥ 37,8 ºC); Tosse seca; Congestão nasal; Dispneia; Mialgia ou fadiga; Cefaleia ou tontura; Sintomas respiratórios superiores; Sintomas gastrointestinais, como diarreia; Vômitos ou náuseas; Perda de paladar (ageusia) ou olfato (anosmia). FIGURA 6 - MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS DA COVID-19Os casos mais graves usualmente apresentam sintomas relacionados à dor no peito, macicez à percussão, elevação e diminuição do frêmito toracovocal e dispneia por volta do sétimo ao décimo dia após início dos sintomas, e uma parcela pode progredir para SRAG, choque séptico, acidose metabólica e coagulopatia. Além disso, a coinfecção por pneumonia bacteriana é uma das complicações mais frequentes nos casos mais graves. Pessoas com idade acima de 60 anos e pessoas com comorbidades, como hipertensão, diabetes e doença pulmonar obstrutiva, têm um risco maior de evoluir para quadros clínicos mais graves. De acordo com a literatura, a maioria dos pacientes com COVID-19 se recupera, enquanto um pequeno número de pacientes (0,5% a 5%) pode evoluir para doença crítica. Dispneia e febre alta são os sintomas que mais definem as principais diferenças entre COVID-19 e resfriado comum, que é acompanhado de congestão nasal, lacrimejamento, espirros e coriza, inicialmente hialina, mas que ao longo dos dias se torna amarelo-esverdeada. Por outro lado, sintomas semelhantes são observados quando comparada com infecção por SARS, MERS-CoV e influenza, com uma maior chance de evoluir para infecções graves e críticas e exigir oxigenoterapia e suporte ventilatório. 1.4.1.6 DIAGNÓSTICO Assim como os outros coronavírus, o diagnóstico da infecção pelo SARS-CoV-2 pode ser baseado em dados clínicos, epidemiológicos e exames de imagem, como raio-X e tomografia computadorizada. Entretanto, os sintomas clínicos são inespecíficos e os achados tomográficos podem estar ausentes. Nesse caso, o teste padrão-ouro para diagnóstico dos coronavírus respiratórios humanos, segundo a OMS, é o diagnóstico molecular que consiste na detecção do RNA do SARS-CoV-2 em amostras respiratórias (swab oronasofaringeano) de casos suspeitos de COVID-19 (MATHURIA et al., 2020). Os tipos de testes laboratoriais utilizados de acordo com a fase da doença e fins diagnósticos da infecção pelo SARS-CoV-2 estão demonstrados nas Figuras 7 e 8 e podem ser divididos em: 1. Testes moleculares: detectam o material genético viral (RNA SARS- CoV-2); 2. Testes sorológicos/imunológicos: 1. Pesquisa de antígenos que detectam a proteína viral do SARS- CoV-2; 2. Pesquisa de componentes da resposta imune (anticorpos anti- SARS-CoV-2 IgA, IgM e IgG) formada pelo ser humano em resposta à presença do vírus. 3. Os testes sorológicos/imunológicos baseiam-se na detecção de antígenos virais ou de anticorpos produzidos pelo organismo como parte da resposta à infecção pelo SARS-CoV-2. Os testes que pesquisam antígenos são ideais para a fase aguda da doença, em geral a partir do terceiro ao quinto dia de infecção. Por outro lado, a pesquisa de anticorpos não indica, isoladamente, a presença ou ausência de infecção ativa pelo SARS-CoV2, mas pode contribuir para: Avaliar e conhecer aqueles que já foram expostos à infecção natural ou vacinação contra o SARS-CoV-2; Confirmar o diagnóstico em pacientes com RT-qPCR negativo ou não realizado; Avaliar a eficácia das medidas de contenção em âmbitos local e global; Conhecer a dimensão da circulação do SARS CoV-2 na comunidade. PESQUISA DE ANTICORPOS ANTI-SARS-COV-2 Normalmente, os testes sorológicos para detecção de anticorpos podem ser utilizados empregando-se diferentes metodologias, como: Imunoensaios enzimáticos (ELISA); Imunoensaios quimiluminescentes (CLIA); Imunocromatográficos (testes rápidos). Esses testes são desenvolvidos para detecção de anticorpos IgA, IgM e/ou IgG específicos e produzidos contra as proteínas do SARS-CoV-2 em sangue total, soro ou plasma. São eles: Anticorpos IgM Produzidos na fase mais precoce da infecção (a partir do sétimo dia do início dos sintomas) contra as proteínas S (spike) e N (nucleocapsídeo), atingem o pico na quarta semana e desaparecem na sétima semana após início dos sintomas; Anticorpos IgG Frequentemente os mais abundantes no sangue, têm importante papel nos estágios mais tardios da infecção e podem ser responsáveis pela imunidade de memória de longa duração. Aparecem por volta do 14º dia do início dos sintomas e podem persistir por mais de 30 meses; início dos sintomas e podem persistir por mais de 30 meses; Anticorpos IgA Predominantemente presentes nas mucosas, têm papel crítico na resposta imune e progressão da doença, podendo também ser considerados um marcador sorológico de infecção recente (WANG et 1.4.1.7 Tratamento Até o presente momento nenhum tratamento específico se mostrou efetivo e com segurança comprovada para infecções por coronavírus humanos. Apesar da variedade de opções medicamentosas estudadas em ensaios clínicos, que incluem os antimaláricos (hidroxicloroquina ou cloroquina), imunomoduladores, antivirais e antirretrovirais, anticoagulantes, corticoides e terapias combinadas, as evidências científicas ainda são preliminares, sendo algumas de baixa qualidade metodológica. Contudo, tratamento de suporte, baseado nas experiências acumuladas para manejo de outras doenças respiratórias, principalmente da Síndrome da Angústia Respiratória Aguda (SARA), assim como das manifestações sistêmicas da COVID-19, vem sendo adaptado e utilizado nos casos moderados e graves dessa doença. Até o momento, mais de 200 possíveis terapias ou suas combinações foram e vêm sendo testadas em vários países do mundo. São quase 2000 ensaios clínicos randomizados e controlados. Apesar de alguns achados promissores, os resultados ainda não são definitivos. Nos últimos meses, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tem analisado periodicamente medicamentos como Sotrovimabe, Citrato de tofacitinibe, Baricitinibe e a Dexametasona e o Regkirona (regdanvimabe), sendo este último aprovado pela Anvisa recentemente (Brasil, 2020). Portanto, faz-se necessária a execução de ensaios clínicos randomizados, controlados, com tempo de acompanhamento adequado e com os métodos divulgados e sujeitos à revisão científica por pares. 1.4.1.8 PREVENÇÃO Diferentemente do SARS-CoV-2, a rápida disseminação do SARS-CoV pôde ser controlada dentro de poucos meses do início de sua descoberta, uma vez que o SARS-CoV tem baixo risco de transmissão antes da hospitalização e baixa taxa de infecção assintomática. As medidas de prevenção, como higienização das mãos, uso de álcool gel, uso de máscara, isolamento social e vacinação, são medidas sanitárias recomendadas com o intuito de contribuir para a interrupção da cadeia de transmissão do SARS-CoV-2 e, consequentemente, para a redução do número de novos casos, evitando, assim, o colapso do sistema de saúde. Uma grande variedade de vacinas seguras e eficazes contra SARS- CoV-2 utilizando diferentes tecnologias de produção já foram desenvolvidas e aprovadas no mundo todo para prevenir a infecção na população em geral. As tecnologias de produção de vacinas contra a COVID-19 que foram aprovadas incluem os diferentes tipos listados a seguir e ilustrados na Figura 9. O desenvolvimento de vacina contra a COVID-19 é, sem dúvida, o maior desafio que a sociedade científica já enfrentou! Apesar da aprovação de muitas vacinas contra a infecção pelo SARS-CoV-2, muitas outras ainda estão em desenvolvimento (Brasil, 2021b). FIGURA 9 – PRINCIPAIS TIPOS DE VACINA CONTRA A COVID-19 FIGURA 10 - PRINCIPAIS DESAFIOS PARA A ELIMINAÇÃO DO SARS-COV2 1.4.2.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS VÍRUS INFLUENZA Influenza é uma doença infecciosa respiratória causada pelos Myxovirus ou vírus influenza. Em geral, esses vírus podem acometer homens e animais e estão classificados na família Orthomyxoviridae (orthos: original e myxa: muco). Essa família é composta de sete gêneros: Influenzavirus A, Influenzavirus B, Influenzavirus C, Influenzavirus D, Thogotovirus, Isavirus e Quaranjavirus. As partículas virais são geralmente esféricas, mas podem ter morfologiafilamentosa. São vírus envelopados cujo genoma de RNA de fita simples polaridade negativa é composto de oito segmentos de RNA envolvidos em um capsídeo proteico de simetria helicoidal, uma proteína matriz (M1) e um envelope lipoproteico composto por dois tipos de estrutura glicoproteica: hemaglutinina (HA) e neuraminidase (NA). A Figura 11 mostra a representação esquemática do vírus influenza. FIGURA 11 - REPRESENTAÇÃO DA ESTRUTURA DO VÍRUS DA INFLUENZA A nomenclatura completa do vírus influenza segue padrão universal, que considera o tipo viral, o hospedeiro de origem, o local geográfico do primeiro isolamento, o número de registro da amostra no laboratório e o ano do isolamento. A informação referente ao hospedeiro é suprimida no caso de origem humana. Para o vírus da influenza do tipo A, a descrição antigênica, entre parênteses, segue a designação da cepa e inclui as informações dos subtipos de HA e NA. Confira a seguir como os FLUV são representados (Figura 12). FIGURA 12 - COMO OS VÍRUS INFLUENZA SÃO REPRESENTADOS 1.4.2.3 TIPOS DE VÍRUS INFLUENZA Existem quatro tipos de vírus influenza: A, B, C e D. Vale ressaltar que os vírus influenza A e B são responsáveis por epidemias sazonais, sendo o vírus influenza A responsável também pelas grandes pandemias (GHEBREHEWET; MACPHERSON; HO, 2016). Conheça mais sobre os tipos de vírus influenza clicando nas lupas da imagem a seguir. 1.4.2.5 TRANSMISSÃO Há duas formas de transmissão do vírus influenza: contato direto e contato indireto. Contato direto: modo de transmissão mais comum, de pessoa a pessoa, pela via respiratória, por meio de gotículas ou aerossóis expelidos pelos indivíduos infectados ao falar, espirrar ou tossir. Contato indireto: ocorre por meio do contato com as secreções de outros doentes presentes em superfícies ou objetos contaminados. Nesse caso, a pessoa pode adquirir o vírus ao introduzir as partículas virais presentes nas mãos diretamente nas mucosas oral, nasal e ocular, uma vez que o vírus influenza pode sobreviver por 24 a 48 horas em superfícies sólidas (FORLEO- NETO et al., 2003). A eficiência da transmissão por essas vias aumenta quando a carga viral é alta, quando o ambiente é fechado, quando a distância entre a pessoa infectada e as pessoas suscetíveis é menor que 1 metro e meio e quando o tempo transcorrido entre a contaminação e o contato com a superfície contaminada é curto. Após infecção viral e dependendo da rota de transmissão, o vírus da influenza irá se replicar nas células epiteliais dos tratos respiratório (vias aéreas superiores e inferiores) e intestinal (FORLEO-NETO et al., 2003). O período de incubação é, em geral, de um a quatro dias e um único indivíduo infectado pode transmitir a infecção para um grande número de pessoas suscetíveis. Com relação ao período de transmissibilidade entre adultos, a transmissão se inicia entre 24 e 48 horas antes do início de sintomas, persistindo por até sete dias após seu início. O período de transmissibilidade em crianças e pacientes imunossuprimidos pode iniciar mais precocemente e ser mais prolongado, pois essas pessoas têm uma maior carga viral quando comparadas com adultos. 1.4.2.6 SINTOMAS Os sintomas mais frequentes da influenza, que iniciam de forma abrupta, são característicos da SG: Febre (entre 37,8 ºC e 40 ºC); Dor de garganta; Tosse seca; Dor no corpo; Cefaleia. As demais manifestações clínicas, habitualmente de aparecimento súbito, são: Calafrios; Mal-estar; Mialgia; Artralgia (sem artrite); Prostração; Congestão nasal ou coriza. Podem ainda estar presentes as seguintes manifestações sistêmicas: Diarreia; Vômito; Fadiga; Rouquidão; Olhos avermelhados e lacrimejantes. A gravidade da influenza é bastante variável, podendo causar desde quadros de rinofaringite leve até pneumonia viral com complicações fatais. Sabe-se, portanto, que o impacto dessa doença pode ser mais grave em: Idosos; Indivíduos portadores de doenças crônicas (doença pulmonar crônica, cardiopatias, doenças metabólicas e renais crônicas, imunodeficiência ou imunodepressão); Gestantes; Indivíduos com idade menor do que 2 anos ou maior que 60 anos. A grande complicação da influenza é a pneumonia viral primária ou pneumonia bacteriana secundária, doenças graves de grande morbidade e mortalidade, especialmente em indivíduos com mais de 65 anos e que podem progredir rapidamente para SRAG ou Falência Orgânica Multissistêmica. A dificuldade para respirar, febre alta persistente, hipoxemia, cianose, desidratação e sonolência, somados à piora dos sintomas de base, são sinais importantes para suspeitar de SRAG. Além da pneumonia, outras comorbidades também são reconhecidamente situações de risco para internação hospitalar, como miosite, miocardite, pericardite, síndrome de Guillain-Barré, encefalite e mielite transversa, com exacerbação da doença de base e consequente necessidade de hospitalização, gravidez e hemoglobinopatias (NEWTON et. al., 2000, TAUBENBERGER et al., 2008). 1.4.2.7 DIAGNÓSTICO DA INFECÇÃO PELO FLUV O diagnóstico laboratorial da infecção pelo vírus influenza deve ser considerado de acordo com a gravidade do quadro clínico do paciente. Isso em caso de suspeita de influenza em pacientes hospitalizados e em pacientes considerados de alto risco para complicações (grávidas, imunossuprimidos e crianças com sintomas severos). Nos demais casos, o diagnóstico é realizado com base nos sinais e sintomas clínicos (CDC, 2021a; CDC, 2019a). Os métodos utilizados baseiam-se em: 1. detecção de parte do genoma viral por métodos moleculares; 2. isolamento viral em culturas de células; 3. detecção de antígenos por testes rápidos. Pesquisas de anticorpos séricos não são usadas como método diagnóstico de influenza. Os testes rápidos para pesquisa de antígenos na amostra de secreção respiratória, conhecidos como point of care, estão se tornando uma opção de diagnóstico precoce e rápido na prática clínica. Amostras de secreção respiratória, como aspirado ou lavado nasofaringeano, swab da garganta ou swab da orofaringe, são recomendados. Amostras de aspirado endotraqueal, lavado broncoalveolar, biópsia transbrônquica ou biópsia pulmonar, apesar de invasivos, podem contribuir para a identificação viral. As amostras devem ser colhidas nos primeiros 4 a 5 dias após o aparecimento dos primeiros sintomas da doença (GAITONDE; MOORE; MORGAN, 2019). 1.4.2.8 TRATAMENTO Uma vez que a vacinação é considerada uma medida de primeira escolha para a prevenção da influenza, os medicamentos antivirais específicos são considerados uma terapia adjuvante.Existem diferentes classes de medicamentos antivirais para influenza aprovados pelo FDA (Food and Drug Administration) e recomendados pelo CDC: 1. Antivirais chamados de adamantanas (amantadina e rimantadina); 2. Inibidores de neuraminidase (oseltamivir, zanamivir e peramivir); 3. Inibidor de endonuclease cap-dependente (baloxavir marboxil). Vale ressaltar que os inibidores da neuraminidase (oseltamivir e zanamivir) são eficientes tanto contra a influenza A quanto contra a influenza B. O uso do antiviral fosfato de oseltamivir oral e zanamivir inalação foi aprovado e recomendado pelo Ministério da Saúde na temporada de gripe 2018-2019, sendo indicado para todos os casos de SRAG e casos de SG com condições ou fatores de risco para complicações. Para maior eficácia do tratamento, ele deve ser iniciado preferencialmente nas primeiras 48 horas após o início dos sintomas. O tratamento com oseltamivir e zanamivir dura em torno de cinco dias, podendo ser estendido em pacientes hospitalizados. Casos de resistência do vírus da influenza aos inibidores de neuraminidase são raros e, em geral, ocorrem em pacientes imunodeprimidos (Brasil, 2018b). 1.4.2.9 PREVENÇÃO Nas últimas décadas,a imunização anual com vacinas inativadas contra influenza é a forma mais eficaz de prevenção contra a gripe e suas complicações e redução da morbimortalidade relacionada a essa infecção. Sabemos que os vírus influenza A são os que têm maior variabilidade. A alteração maior (antigenic shift) leva ao surgimento de um novo subtipo da influenza A, que pode resultar em pandemia, devido à ausência de imunidade prévia da população ao novo subtipo. As menores (antigenic drift) são causadas por mutações gênicas pontuais no mesmo subtipo da influenza A, resultando nas epidemias sazonais devido à resistência do vírus à resposta imune do hospedeiro. Uma vez que os anticorpos formados contra os isolados anteriores podem não proteger adequadamente contra os novos vírus e que o efeito da vacina garante apenas um período de 6 a 10 meses de imunização, faz-se necessário um monitoramento global dos vírus circulantes e reformulação anual da vacina contra a gripe. Portanto, a vacina contra gripe desenvolvida anualmente protege contra os quatro subtipos do vírus da gripe que mais circularam no último ano no Hemisfério Sul.As vacinas inativadas contra a influenza, produzidas a partir do crescimento viral utilizando ovos embrionados de galinha, não mudaram muito desde 1950. No Brasil, utilizam- se apenas as vacinas de vírus fracionados (com fragmentos de vírus inativados) e de subunidade (aquelas que contêm apenas proteínas virais purificadas e que têm a maior exclusão de proteínas não HA), sendo a última mais segura e menos indutora de reações adversas quando comparada às que usam vírus mortos inteiros ou fracionados. É indicada para todas as pessoas a partir de 6 meses de vida, principalmente aquelas de maior risco para infecções respiratórias, que podem ter complicações e a forma grave da doença. Entretanto, é contraindicada para pessoas com alergia grave (anafilaxia) a algum componente da vacina ou à dose anterior (PLOTKIN et al., 2017). Todas as crianças entre 6 meses e 8 anos de idade devem receber duas doses na primeira vez em que forem vacinadas (primovacinação), com intervalo de um mês e revacinação anual. A partir de 9 anos, deve ser administrada dose única anual. Há recomendação para que todas as gestantes, de preferência a partir do segundo trimestre da gravidez, recebam a vacinação contra a influenza, devido ao risco de graves complicações associadas ao aumento de hospitalização e óbito em gestantes expostas ao vírus. Após duas ou três semanas da vacinação, começa a produção de anticorpos contra a influenza. Todos os anos, a vacina contra gripe é oferecida para todos nós. Mas você sabe quais são os tipos de vírus que estão presentes na vacina de 2021? Existem dois tipos de vacina disponíveis no Brasil: a trivalente (A-H1N1, A-H3N2; B-Victoria), com dois subtipos do vírus influenza A e uma linhagem do influenza B; e a quadrivalente (A-H1N1, A-H3N2; B-Victoria, Yamagata), com dois subtipos do vírus influenza A e duas linhagens do influenza B (Brasil, 2021a) . Ambas as vacinas, trivalente e quadrivalente, são recomendadas pela OMS, mas o Programa Nacional de Imunizações (PNI) disponibiliza apenas a vacina trivalente, sendo a quadrivalente ofertada por clínicas particulares. A resposta na produção de anticorpos após a vacinação depende de vários fatores, incluindo a idade, exposição prévia e subsequente aos antígenos e a presença de condições que alteram a resposta imunológica. Quando existe coincidência entre as variantes da influenza em circulação na comunidade e aquelas contidas na vacina, a imunização previne a gripe em até 90% dos indivíduos (LIU et al., 2020). Vale ressaltar que, como todas as vacinas disponíveis atualmente são feitas com vírus inativado, não há risco de desenvolvimento de influenza após a aplicação, mesmo em indivíduos imunocomprometidos ou com doenças crônicas (BELONGIA et al., 2016). Embora, em alguns casos, a vacinação não impeça um indivíduo de desenvolver a doença, ela pode reduzir a gravidade e/ou a duração da doença e prevenir complicações graves adicionais, além de proporcionar impacto indireto na diminuição do absenteísmo no trabalho e nas escolas, reduzir gastos com o sistema de saúde e, sobretudo, evitar complicações secundárias e mortes. A exemplo das vacinas trivalentes, as vacinas quadrivalentes podem ser aplicadas simultaneamente com as demais vacinas do calendário da criança, adolescente, adulto ou idoso. Em tempos de pandemia de COVID-19, a vacina influenza deve ser promovida como ferramenta para reduzir a carga de doenças respiratórias. Portanto, a vacina contra a influenza deve ser aplicada respeitando-se o intervalo mínimo de 14 dias da aplicação da vacina contra a COVID-19. 1.4.3 Rinovírus Integrante da família Picornaviridae, gênero Enterovirus, o rinovírus humano (HRV) foi isolado pela primeira vez em 1956. É o mais comum entre os agentes virais associados a infecções no trato respiratório superior, sendo o principal responsável (aproximadamente 50% dos casos) pelos quadros clínicos de resfriado comum, com localização predominante no sistema respiratório superior. O rinovírus humano (HRV) está dividido em três espécies, HRV-A, HRV-B e HRV-C, que compreendem mais de 150 sorotipos envolvidos em infecções em seres humanos. A partícula viral, não envelopada, mede de 25 nm a 30 nm de diâmetro e tem simetria icosaédrica. O capsídeo é composto de subunidades proteicas formando 60 capsômeros, cada um deles constituído das proteínas VP1, VP2, VP3 e VP4, que envolvem o material genético, composto de uma fita simples de RNA de polaridade positiva não segmentado (+ssRNA), com aproximadamente 7200 pb (pares de bases) (JACOBS et.al., 2013; SAVOLINEN et al., 2002). 1.4.3.1 TRANSMISSÃO DO HRV Os HRV são transmitidos de forma direta, de pessoa a pessoa, por meio de gotículas levadas pelo ar ou pelo contato com superfícies contaminadas. Os vírus penetram a nasofaringe e são propagados pelas células do epitélio respiratório superior, que são destruídas, com consequente necrose celular e descamação, surgindo, dessa forma, os sintomas clínicos da infecção (JACOBS et.al., 2013). 1.4.3.2 ASPECTOS CLÍNICOS Localizada no sistema respiratório superior, a infecção por HRV causa quadros de resfriado comum, com início gradual de congestão nasal, coriza intensa, dor de garganta, tosse e rouquidão, febre variável e menos frequentemente mal-estar, mialgia e cefaleia. Geralmente os sintomas duram sete dias, mas podem durar até 12 a 14 dias. Do sistema respiratório superior, a infecção pode atingir traqueia, brônquios, bronquíolos e pulmões, por disseminação célula a célula ou via viremia. Essas infecções estão entre as principais causas de morbidade em crianças menores de 5 anos de idade devido a quadros de doença pulmonar obstrutiva crônica e asma, com possível exacerbação de quadros de bronquite crônica e fibrose cística. Não estão disponíveis tratamentos antivirais para os HRV (PETRIS et al., 2003; MILLER et al., 2009). 1.4.3.3 DIAGNÓSTICO Quando houver uma suspeita clínica, lavado ou swab da garganta, swab naso/orofaringeano, saliva ou aspirado de sistema respiratório inferior são amostras que podem ser coletadas na fase aguda da infecção e ser utilizadas para o diagnóstico laboratorial. Em geral, os métodos laboratoriais utilizados para detectar o vírus nas amostras clínicas compreendem isolamento em cultura viral e detecção do ácido nucleico (reação em cadeia da polimerase associada à transcrição reversa-RT-PCR, NASBA, do inglês Nucleic Acid Sequencebased Amplification, e técnicas de quantificação baseadas em PCR em tempo real). Para o diagnóstico sorológico comprobatório da infecção podem ser empregados o teste de neutralização (TN) e enzimaimunoensaios, esse último para a pesquisa de anticorpos IgM e IgA (JACOBS et al., 2013). CO-INFECÇÃO SARS-COV-2E HRV Estudos recentes têm demonstrado que a exposição ao rinovírus, vírus responsável pela causa mais frequente do resfriado comum, pode proteger contra a infecção pelo vírus que causa a COVID-19. A presença do rinovírus humano desencadeia uma resposta protetora contra o SARS-CoV-2, uma vez que genes estimuladores de interferon (do inglês Interferon Stimulated Gene – ISG), moléculas de resposta antiviral precoce do sistema imunológico, são ativados para bloquear a replicação do SARS-CoV-2 (DEE et al., 2021). 1.4.4 VÍRUS SINCICIAL RESPIRATÓRIO O vírus sincicial respiratório (VSR) pertence à família Paramyxoviridae. São vírus envelopados compostos de RNA de fita simples não segmentada. Quando comparado ao vírus influenza, considera-se o genoma do VSR mais estável e sem grande atividade mutagênica. O VSR causa doenças agudas das vias respiratórias em pessoas de todas as idades, especialmente bronquiolite e pneumonia em crianças de alto risco (FIGUEIREDO, 2009; PARK; TISHKOWSKI, 2021). São considerados grupos de maior risco para desenvolver infecção respiratória mais grave: Lactentes com menos de 6 meses de idade, principalmente prematuros; Crianças com doença pulmonar crônica; Cardiopatas. 1.4.4.1 TRANSMISSÃO DO VSR A transmissão do VSR ocorre de pessoa para pessoa por contato direto com secreções respiratórias (catarro, gotículas do espirro e saliva). O vírus pode sobreviver em superfícies (ex.: maçaneta) por até 24 horas, portanto a contaminação também pode acontecer pelo contato com objetos contaminados. Após a infecção, os sintomas podem aparecer entre 4 e 5 dias. 1.4.4.2 PRINCIPAIS SINTOMAS DA INFECÇÃO PELO VSR Os principais sintomas da infecção por VSR são: Congestão nasal; Coriza; Tosse; Dificuldade para respirar; Chiado no peito ao inspirar; Febre. 1.4.4.3 TRATAMENTO Assim como na maioria das viroses, o tratamento da infecção pelo VSR costuma visar os sintomas, com medicamentos para baixar a febre, aliviar a dor e mal-estar, repouso e ingestão de muito líquido. No entanto, pacientes com insuficiência respiratória necessitam de hospitalização para receber medicamentos específicos, como broncodilatadores, e suporte ventilatório mecânico. Se houver alguma infecção causada por bactéria associada, o quadro pode se agravar muito, portanto deve ser administrado o antibiótico específico. 1.4.4.4 PREVENÇÃO Não existe vacina para prevenir VSR. Para evitar a infecção pelo VSR, algumas medidas recomendadas estão ilustradas na Figura 14. A profilaxia indicada para crianças que possam ter graves problemas respiratórios é a imunização com o palivizumabe, que é capaz de prevenir formas graves da doença. É importante acompanhar a sazonalidade do VSR, pois a primeira dose de palivizumabe (um anticorpo monoclonal específico) deve ser administrada um mês antes do início do período de sazonalidade do VSR pelos serviços de saúde autorizados em cada estado. Em 2013, o protocolo de uso do palivizumabe foi aprovado pelo Ministério da Saúde para crianças que entram nos critérios de inclusão (BRASIL, 2013). A recomendação do Ministério da Saúde é a aplicação de até cinco doses, com intervalos de 30 dias, e os critérios de inclusão são: Bebês prematuros, com idade gestacional ≤ 28 semanas; Crianças menor de 2 anos, com doença pulmonar crônica da prematuridade; Crianças menor de 2 anos, com cardiopatia congênita. 1.4.5 ADENOVÍRUS Os adenovírus humanos (HAdV) pertencem à família Adenoviridae e gênero Mastadenovirus . São vírus não envelopados (Figura 15) de DNA de fita dupla que, geralmente, causam infecções leves envolvendo os tratos respiratórios superior e inferior, o trato gastrointestinal ou a conjuntiva. Mais de 50 sorotipos de HAdV já foram identificados, distribuídos em sete espécies (A- G). 1.4.5.1 TRANSMISSÃO A infecção por HAdV pode ser transmitida pelo contato direto com a pessoa infectada, pela inalação de gotículas levadas pelo ar, pelo contato com superfícies ou objetos contaminados, pelo contato com fezes de uma pessoa infectada, por exemplo durante a troca de fraldas, e, raramente, pela água. Os adenovírus costumam ser resistentes a desinfetantes comuns, podendo permanecer infecciosos por longos períodos em superfícies e objetos (CDC, 2019). 1.4.5.2 PRINCIPAIS SINTOMAS DA INFECÇÃO PELO HADV A maioria das infecções por adenovírus é assintomática em hospedeiros imunocompetentes. Além disso, as manifestações variam de acordo com o sorotipo do vírus, tropismo viral, porta de entrada e fatores do hospedeiro. Quando ocorrem infecções sintomáticas por adenovírus, geralmente são nas crianças. No entanto, doenças graves causadas por adenovírus ocorrem, principalmente, em lactentes e pacientes imunocomprometidos (Figura 16). FIGURA 16 - SINTOMAS DA INFECÇÃO POR ADENOVÍRUS Nos casos de pneumonia causada por adenovírus, a taxa de mortalidade é elevada. Em estudos com pacientes com adenovírus imunocompetentes, a mortalidade foi de 26,7%, atingindo 50% em alguns estudos (DANDACHI; RODRIGUEZ-BARRADAS, 2018). Não há tratamento específico para infecções por adenovírus. O tratamento é, geralmente, direcionado para aliviar os sintomas, portanto envolve analgésicos e antitérmicos. Além disso, o tratamento pode incluir broncodilatadores, corticosteroides e ventilação mecânica, por exemplo, nos casos mais graves. Você pode se prevenir da infecção por adenovírus evitando contato próximo com pessoas doentes, mantendo boas práticas de higiene, lavando as mãos frequentemente e evitando tocar o nariz, a boca e os olhos antes de lavar as mãos. Não há vacina disponível para a população em geral. O uso de adenovírus atenuados como vetores para vacinas surgiu como uma estratégia de vacinação bem-sucedida. Essa estratégia está sendo amplamente usada na produção de vacinas contra a COVID-19, como demonstrado na seção Prevenção do Coronavírus desta unidade. 1.4.5.3 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL O diagnóstico da infecção por adenovírus é baseado nas condições clínicas do paciente, e a confirmação é baseada em exames laboratoriais: cultura viral, detecção do antígeno ou do ácido nucleico e sorologia. No entanto, os testes laboratoriais específicos para adenovírus não costumam ser feitos na rotina, pois a maioria das pessoas tem sintomas leves ou nenhum sintoma. Além disso, nenhum tratamento específico está disponível. O teste pode ser solicitado em casos de doença grave, pneumonia ou na investigação de surto, por exemplo. 1.4.6 PARAINFLUENZA Os vírus parainfluenza (HPIV) pertencem à família Paramyxoviridae, assim como os vírus do sarampo, vírus da caxumba e o VSR. Os HPIV são vírus RNA de fita simples não segmentado. Quatro tipos virais (1-4) do vírus parainfluenza são reconhecidos (BRANCHE; FALSEY, 2016). 1.4.6.1 TRANSMISSÃO Assim como ocorre com o vírus da influenza, o HPIV pode ser transmitido por contato direto, de pessoa a pessoa, pela via respiratória, por meio de gotículas ou aerossóis expelidos pelos indivíduos infectados ao falar, espirrar ou tossir. Também pode ocorrer transmissão indireta por meio do contato com as secreções de outros doentes presentes em superfícies ou objetos contaminados. 1.4.6.2 PRINCIPAIS SINTOMAS DA INFECÇÃO PELO VÍRUS PARAINFLUENZA Geralmente, essa infecção apresenta-se leve em indivíduos saudáveis, mas pode levar a doenças respiratórias graves em crianças e indivíduos imunocomprometidos. Depois de ser infectada, a pessoa leva cerca de 2 a 7 dias para manifestar os sintomas. A infecção pelo HPIV está associada a doenças dos tratos respiratórios superior e inferior e pode ter os seguintes sintomas: Febre; Coriza; Tosse; Crupe (infecção da laringe, traqueia e brônquios); Bronquite; Bronquiolite; Pneumonia; Otite média. Algumas manifestações respiratórias incomuns são: Apneia; Bradicardia; Parotidite; Síndrome do desconforto respiratório. Não existe tratamento antiviral específico para infecção por HPIV, e a maioria das pessoas com a doença se recupera naturalmente. O tratamento é, geralmente, direcionado apenas para aliviar os sintomas, portanto envolve analgésicos e antitérmicos. 1.4.6.3 DIAGNÓSTICO Os testes laboratoriais para buscar a identificação do agente viral serão determinados pela gravidade do quadro clínico ou por situações de imunossupressão do paciente. Os métodos laboratoriais utilizados para detectar o vírus nas amostras clínicas incluem cultura viral, detecção de antígeno e detecção do ácido nucleico. Além disso, outra opção para o diagnóstico é a sorologia. 1.4.6.4 PREVENÇÃO Atualmente, não há vacina disponível para proteção contra a infecção por HPIV, mas você pode se prevenir da infecção pelo vírus parainfluenza evitando contato próximo com pessoas doentes, mantendo boas práticas de higiene, lavando as mãos frequentemente e evitando tocar o nariz, a boca e os olhos antes de lavar as mãos. 1.5 Vírus que causam meningite A meningite é uma inflamação das membranas (meninges) que envolvem o cérebro e a medula espinhal. As causas mais conhecidas de meningite são as infecciosas (PUTZ et al., 2013). Adicionalmente, os vírus dos gêneros Rubivirus, Paramyxovirus, Morbillivirus e Varicellovirus são exemplos de agentes virais que podem causar meningite (BRASIL, 2021c). A meningite asséptica é caracterizada por sinais e sintomas clínicos de meningite sem evidência de uma causa por bactérias piogênicas por métodos laboratoriais de rotina. A meningite asséptica pode ter origem infecciosa e não infecciosa. O termo meningite asséptica não é sinônimo de meningite viral, apesar de ser comumente usado como tal. A infecção viral alcança o sistema nervoso central ao atravessar a barreira hematoencefálica, estimulando a proliferação de células mononucleares. Devido à apresentação de antígenos pelas células mononucleares, ocorre maior estímulo de células imunes, produção de citocinas e alteração da permeabilidade da barreira hematoencefálica. Os sintomas resultantes desse processo inflamatório variam de acordo com o vírus, a faixa etária e o estado imunológico do paciente. O risco de contrair a doença existe em todas as faixas etárias, mas é maior entre crianças menores de 5 anos. Geralmente, nas meningites causadas por vírus, o curso clínico é benigno, com quadro leve, e o prognóstico da doença é menos grave que na meningite bacteriana. Os primeiros sintomas da meningite parecem os de uma gripe e podem desenvolver-se ao longo de várias horas ou de alguns dias. A meningite é tipicamente caracterizada pela tríade: febre – dor de cabeça – rigidez na nuca. Podem ocorrer também: náuseas ou vômitos, sonolência ou dificuldade para acordar, sensibilidade à luz e falta de apetite. Os recém-nascidos podem apresentar, além da tríade típica da meningite, choro constante, sonolência ou irritabilidade excessiva, inatividade, má alimentação, vômitos e uma protuberância na região mole do topo da cabeça. Ao suspeitar de meningite, o médico solicita coleta de amostras de sangue e líquido cefalorraquidiano (liquor) e encaminha o paciente para exames de laboratório. A detecção do agente causador da doença é importante para prosseguir com o tratamento correto. No caso das meningites virais, geralmente é realizada a internação e o monitoramento do paciente quanto a sinais de maior gravidade. O diagnóstico etiológico dos casos suspeitos de meningite é de extrema importância para a Vigilância Epidemiológica. 1.5.1 Vírus da rubéola Você já deve ter ouvido falar da rubéola, uma doença altamente contagiosa. A rubéola é causada por um vírus RNA de cadeia positiva que pertence ao gênero Rubivirus e família Matonaviridae, o Rubella Vírus (RUBV) (Figura 17). Esses vírus causam infecções sistêmicas e são excretados também pelo sistema respiratório. Os seres humanos são os únicos hospedeiros conhecidos do RUBV (LEUNG; HON; LEONG, 2019). O vírus da rubéola é pleomórfico, porém a maioria dos vírions tem forma esférica, e o diâmetro do vírus varia de 55 nm a 86 nm. A partícula viral é composta de um envelope, glicoproteínas, nucleocapsídeo e uma molécula de RNA. As cepas de RUBV são divididas em: Clade 1: dividida em 10 genótipos (1A, 1B, 1C, 1D, 1E, 1F, 1G, 1H, 1I e 1J); Clade 2: dividida em 3 genótipos (2A, 2B e 2C). Atualmente, quatro genótipos (1E, 1G, 1J, e 2B) circulam normalmente em diferentes regiões do mundo (DAS; KIELIAN, 2021). No Brasil, foram encontrados os genótipos 1B, 1G e 2B, considerados endêmicos, e o genótipo 1J, provavelmente importado. A linha do tempo da rubéola está ilustrada na figura 18. 1.5.1.1 TRANSMISSÃO O RUBV é um vírus altamente contagioso e encontra-se no muco do nariz e na garganta da pessoa infectada, podendo ser transmitido para outras pessoas pela tosse e espirros. Dessa forma, a mucosa do sistema respiratório é a porta de entrada do vírus. A transmissão pelo contato com objetos contaminados é pouco frequente. Ao ocorrer a transmissão, o vírus se liga a células suscetíveis do indivíduo infectado por meio da glicoproteína E1 do envelope viral. Um possível receptor celular é uma imunoglobulina denominada MOG (do inglês Myelin Oligodendrocyte Glicoprotein). Essa molécula é encontrada, principalmente, no sistema nervoso central, o que explicaria o tropismo do vírus em pacientes com rubéola congênita e comprometimento neurológico. 1.5.1.2 ASPECTOS CLÍNICOS A infecção pelo vírus da rubéola provoca inicialmente febre alta, tosse, coriza, linfoadenopatia e conjuntivite. Os sintomas aparecem de 7 a 14 dias após o contato com o vírus, e as erupções cutâneas aparecem de 3 a 5 dias após os primeiros sintomas. Geralmente, as erupções cutâneas começam como manchas vermelhas lisas no rosto e depois se espalham pelo corpo. Pequenas manchas brancas (sinal de Koplik) podem aparecer dentro da boca de 2 a 3 dias após o início dos sintomas. O quadro clínico pode evoluir para artralgia e sintomas de artrite. No entanto, geralmente, a rubéola é uma doença autolimitada e benigna na ausência de gravidez. Mais da metade das infecções por RUBV são subclínicas ou assintomáticas. Embora comuns em adolescentes e adultos, os sintomas são incomuns em crianças pequenas. Deve-se considerar uma atenção especial nos casos de infecção de gestantes pela rubéola, principalmente no primeiro trimestre de gestação, pois a transmissão da infecção para o feto pode causar aborto ou anormalidades congênitas (Síndrome da Rubéola Congênita - SRC), como problemas cardíacos, surdez e atrasos de desenvolvimento. A surdez é o sintoma mais precoce da SRC (BRASIL, 2017). Na SRC, durante o período neonatal, o bebê pode apresentar algumas características e condições clínicas que podem ser transitórias e resolvidas espontaneamente em dias ou semanas, como prematuridade, atraso do crescimento intrauterino, microcefalia, anemia hemolítica, trombocitopenia, erupção purpúrea, icterícia, hepatite, hepatoesplenomegalia, hipotonia, fontanela anterior abaulada, arco maxilar apertado, palato alto, pneumonia intersticial, miocardite, miosite, nefrite e meningoencefalite (LEUNG; HON; LEONG, 2019). Além disso, a SRC pode apresentar condições clínicas: Permanentes: surdez, malformações cardíacas, catarata (como demonstrado na figura 20), glaucoma e retinopatia pigmentar; Tardias: retardo do desenvolvimento e diabetes mellitus. A ocorrência de meningite e/ou encefalite associada à rubéola é rara e considerada menos comum do que os casos associados ao sarampo e à varicela. 1.5.1.3 DIAGNÓSTICO O diagnóstico sorológico de uma infecção aguda pelo vírus da rubéola se baseia na detecção de: 1. Anticorpos IgM específicos em uma única amostra de soro; 2. Aumento significativo do título de anticorpos IgG em duasamostras de soro, da fase aguda e da fase de convalescença. Nos casos de suspeita de rubéola, devem ser obtidas: Amostra de soro para testes sorológicos de detecção de anticorpos IgM e IgG específicos; Amostra por swab faríngeo e/ou nasofaríngeo, preferencialmente, ou de urina ou fluido oral para detecção do vírus. Existem vários métodos para a detecção de anticorpos IgM e IgG, sendo o teste ELISA o recomendado para o sistema de vigilância, uma vez que tem alta sensibilidade e especificidade (OPAS, 2020). Exames laboratoriais de detecção desses anticorpos estão disponíveis na rede pública brasileira para o diagnóstico da rubéola. A IgM é a primeira imunoglobulina a ser detectada na rubéola, aparecendo entre 10 e 15 dias da infecção e declina após 6 meses, geralmente. Outras imunoglobulinas, IgG, IgA, IgD e IgE, podem ser encontradas após 3 semanas da infecção. 1.5.1.4 EPIDEMIOLOGIA Antes da introdução da vacina, a rubéola era encontrada em todo o mundo. Em torno de 12,5 milhões de casos de rubéola, mais de 13.000 mortes fetais ou de bebês prematuros e 20.000 casos de SRC ocorreram durante a pandemia de 1962 a 1965 nos EUA (LEUNG; HON; LEONG, 2019). Atualmente, a rubéola é encontrada especialmente em países em que a vacinação de rotina contra a rubéola não está disponível ou foi introduzida recentemente. No entanto, surtos intermitentes de rubéola continuam ocorrendo em algumas partes do mundo, inclusive em países com uma imunização nacional, quando há uma proporção substancial da população susceptível. Em novembro de 2018, por exemplo, mais de 2 mil casos de rubéola ocorreram no Japão, a maioria em Tóquio. No Brasil, desde 1996 a rubéola e a SRC são caracterizadas como doenças de notificação compulsória. Em 1999, foi implantada a vigilância epidemiológica integrada de sarampo e rubéola no Brasil. Dessa forma, o monitoramento da rubéola e da SRC se tornou mais eficaz. Tornou-se evidente que, em períodos de surtos e aumento da incidência de casos de rubéola em adultos jovens, ocorre um aumento da probabilidade de casos de SRC. A Organização Pan-Americana da Saúde declarou a eliminação da rubéola e da SRC nas Américas em 2015 (WHO, 2019), portanto é muito importante que o profissional de saúde saiba identificar precocemente um caso suspeito de rubéola e realize ações de vigilância e investigação epidemiológica, para manter o país sem casos da doença, além das medidas de prevenção, que também são essenciais. Graças à implementação de estratégias de vacinação contra a rubéola, o número de casos de rubéola foi reduzido em muitos outros países. 1.5.1.5 TRATAMENTO Não há nenhum medicamento específico para tratar a rubéola. O tratamento é direcionado aos sintomas apresentados e são oferecidos gratuitamente pelo SUS. 1.5.1.6 PREVENÇÃO A prevenção da rubéola é feita pela vacinação. Em 1970, foram licenciadas vacinas eficazes contra o RUBV. Com a vacinação, o número de casos de SRC diminuiu consideravelmente no mundo (DAS; KIELIAN, 2021). No Brasil, a tríplice viral, ofertada pelo SUS desde 1992 de forma gradativa, contempla a rubéola, caxumba e sarampo e deve ser aplicada em crianças com 12 meses de idade. Em 2013, o calendário básico de imunizações do SUS incluiu a vacina tetra viral ou tetravalente, a vacina contra rubéola, sarampo, caxumba e varicela (catapora). A vacina tetravalente é indicada para crianças com 15 meses que já tenham recebido a primeira dose da vacina tríplice viral. Também são realizadas campanhas de vacinação para mulheres em idade fértil entre 12 e 49 anos de idade com o objetivo de eliminar a SRC do Brasil. A aquisição natural do vírus da rubéola confere imunidade contra a reinfecção, pois há a produção de títulos elevados de anticorpos. No entanto, a imunidade oriunda da vacina contra a rubéola não é permanente e os títulos de anticorpos protetores produzidos são mais baixos. A vacina está disponível nos postos de saúde do SUS. QUEM DEVE SE VACINAR? CRIANÇAS (12 MESES A 5 ANOS): Uma dose aos 12 meses (tríplice viral: contra sarampo, rubéola e caxumba); Reforço aos 15 meses (tetra viral: sarampo, rubéola, caxumba e catapora). CRIANÇAS E ADULTOS (5 A 29 ANOS DE IDADE QUE AINDA NÃO SE VACINARAM): Duas doses da tríplice, com intervalo de 30 dias. ADULTOS (DE 30 A 49 ANOS): Uma dose da tríplice. As vacinas TRÍPLICE VIRAL e TETRA VIRAL não são indicadas para pacientes grávidas e pacientes imunocomprometidos, pois são vacinas do vírus atenuado. 1.5.2 Vírus da caxumba Assim como a rubéola, a caxumba também é uma doença viral altamente contagiosa que pode causar pneumonia nos casos mais graves. Também conhecida como parotidite e como papeira, a caxumba é causada pelo paramyxovirus MuV (do inglês mumps virus), um vírus RNA envelopado de sentido negativo que se replica no citoplasma. É uma doença de distribuição universal, alta morbidade e baixa letalidade. MuV pertence à mesma família do vírus que causa sarampo e dos vírus parainfluenza, a família Paramyxoviridae, e ao gênero Rubulavirus. A partícula viral é esférica e contém um capsídeo pleomórfico com o RNA genômico de, aproximadamente, 15 kb. As análises filogenéticas do MuV são baseadas, principalmente, na sequência genética SH, que é a região mais variável do genoma do MuV. Dez genótipos de MuV (A-K) foram descritos com base no gene SH até 2003 (MUHLEMANN, 2004). Atualmente, 12 genótipos de MuV são reconhecidos pela OMS (A-N, excluindo E e M). Esses genótipos têm uma distribuição geográfica diferencial, sendo o genótipo G o mais frequentemente detectado nos últimos surtos mundiais (SU; CHANG; CHEN, 2020). 1.5.2.1 TRANSMISSÃO A propagação dos MuV ocorre, principalmente, por gotículas respiratórias. Assim como acontece com outros vírus respiratórios, uma pessoa infectada pode transmitir o vírus pela tosse, espirro ou fala. Com menor frequência, a caxumba pode ser transmitida pelo contato com objetos contaminados. Uma parte dos indivíduos infectados pode transmitir o vírus mesmo sem sintomas. A probabilidade de transmissão é maior alguns dias antes dos sintomas aparecerem, enquanto o vírus se encontra, principalmente, nas vias respiratórias superiores. 1.5.2.2 ASPECTOS CLÍNICOS Geralmente, os sintomas iniciais da caxumba aparecem de 16 a 18 dias após a infecção e são caracterizados por: Febre; Dores de cabeça; Dores musculares; Cansaço; Perda de apetite. Posteriormente, a maioria das pessoas com caxumba manifesta inchaço das suas glândulas salivares uni ou bilateral, conhecido como parotidite quando a glândula parótida incha. Geralmente, a evolução da caxumba é benigna. Complicações mais graves são raras. No entanto, quando o vírus entra nos gânglios linfáticos, pode atingir outras partes do corpo e causar complicações, como: Inflamação dos testículos (orquite); Inflamação dos ovários (ovarite); Inflamação do tecido mamário (mastite); Inflamação do pâncreas (pancreatite); Inflamação do cérebro (encefalite); Inflamação das meninges (meningite); Surdez. 1.5.2.3 DIAGNÓSTICO O diagnóstico da caxumba é basicamente clínico, em particular a presença de parotidite. A confirmação deve ser realizada por testes laboratoriais, por meio da detecção da presença de anticorpos contra o MuV por testes sorológicos ou detecção do vírus por análises moleculares (RT-PCR). O diagnóstico diferencial inclui parotidite bacteriana, parotidite por HIV, síndrome de Mikulicz, tumores das glândulas salivares, aumento da parótida relacionada com drogas, meningite, encefalite, pancreatite, orquite, ooforite, prostatite, nefrite, tireoidite, hipotiroidismo e meningoencefalite (PARK; TISHKOWSKI, 2021). Um resultado de IgM negativo numa pessoa com sintomas clinicamente compatíveis com caxumba não exclui o diagnóstico, pois os falsos negativos são comuns. Logo, os resultados devemser interpretados com cautela. Uma nova coleta de soro de 3 a 10 dias após o início da parotidite pode melhorar a capacidade de detecção de IgM. Na fase aguda da infecção por MuV, ocorre um aumento do título de IgG, mas vale lembrar que esse anticorpo também pode ser detectado em pessoas vacinadas. 1.5.2.4 EPIDEMIOLOGIA A caxumba tem caráter cosmopolita, considerada endêmica nos grandes centros. A doença causou uma morbidade e mortalidade significativas em todo o mundo antes da vacinação. Na maioria dos casos, a infecção se manifesta na infância, nos meses de inverno e início da primavera, mas também pode afetar adultos de qualquer idade. A morbidade atingia de 40 a 726 casos por 100.000 habitantes por ano em países como EUA, Dinamarca, Finlândia, França, Inglaterra, Israel, Tailândia, Austrália, etc (SU; CHANG; CHEN, 2020). A caxumba não era uma doença de notificação compulsória até 2017. Os municípios notificavam somente os surtos, não os casos isolados. 1.5.2.5 TRATAMENTO Assim como ocorre nos casos de rubéola, não há medicamento específico para tratar a caxumba. Recomenda-se repouso. O tratamento é direcionado a combater os sintomas clínicos apresentados, adequação da alimentação e hidratação, devido à dor, náusea e vômitos que a caxumba pode ocasionar. Além disso, é essencial uma boa higiene bucal. Em caso de meningite asséptica, o tratamento também é direcionado aos sintomas e requer repouso, hidratação, controle da febre, antiemético e anticonvulsivante. No entanto, a maioria dos casos de caxumba tem recuperação natural e progressiva em até 2 semanas. 1.5.2.6 PREVENÇÃO A principal forma de prevenção contra a caxumba é a vacinação com a tríplice viral e a tetra viral, que descrevemos na seção de prevenção da rubéola. Uma pessoa tem imunidade permanente contra o vírus da caxumba se já tiver sido infectada e curada. Essa imunidade também é garantida pela vacinação. Recomenda-se que as mulheres que nunca tiveram a doença, não foram vacinadas e pensam em engravidar sejam vacinadas antes de engravidar. A primeira vacina inativada contra a caxumba foi desenvolvida e utilizada nos EUA em 1950 (SU; CHANG; CHEN, 2020). As vacinas atenuadas contra a caxumba estão disponíveis desde os anos de 1960. Com a vacina, a taxa de casos de caxumba reduziu substancialmente, bem como o número de complicações graves. A caxumba é mais comum em crianças em período escolar e em adolescentes, embora também possa afetar adultos de qualquer faixa etária. No Brasil, o esquema de vacinação contra a doença incluía somente uma dose aos 12 meses de vida, entre 1992 e 2004. O reforço da vacina foi instituído em 2004. Segundo o Ministério da Saúde, em 2018, a cobertura vacinal da população infantil brasileira atingiu o nível mais baixo dos últimos 16 anos, ficando muito abaixo da meta, que prevê a imunização de 95% da população-alvo. Essa é uma situação preocupante pelo risco de retorno de doenças que já foram erradicadas. 1.5.3 Vírus do sarampo 1.5.3.1 AGENTE ETIOLÓGICO O sarampo é uma doença altamente contagiosa que resulta da infecção pelo vírus do sarampo (MeV, do inglês Measles Virus), um vírus RNA de fita simples de sentido negativo pertencente à família Paramyxoviridae e gênero Morbillivirus. O único hospedeiro é o homem. A partícula viral do vírus do sarampo é pleomórfica, envolta em um envelope lipídico e tem tamanho variável de 50 nm a 510 nm. A linha do tempo do sarampo está ilustrada na figura 22. 1.5.3.2 TRANSMISSÃO O vírus do sarampo é transmitido por gotículas respiratórias em curtas distâncias, assim como por aerossóis de partículas que permanecem suspensas no ar por até 2 horas (CDC, 2020c). Em seguida, o vírus se instala na mucosa das vias aéreas superiores, infectando linfócitos, células dendríticas e macrófagos alveolares nas vias respiratórias. O vírus consegue penetrar em células suscetíveis pela fusão do envelope viral com a membrana citoplasmática da célula, então o nucleocapsídeo é liberado no citoplasma celular e se inicia o processo de transcrição e produção de RNAm, tradução e processamento de proteínas virais. Novas partículas virais deixam a célula por brotamento. Esse processo de biossíntese do vírus do sarampo leva 24 horas, aproximadamente. Após a replicação do vírus na mucosa do sistema respiratório superior, ele é disseminado para os linfonodos locais e, assim, atinge a corrente sanguínea, produzindo a viremia primária. A disseminação e replicação do vírus para diversos tecidos, como pele, conjuntiva, orofaringe, mucosa respiratória, pulmões, mucosa genital, rins, trato gastrointestinal e fígado, assim como o desenvolvimento da resposta imune, levam ao aparecimento dos sintomas. Os sintomas aparecem após 10 dias da infecção, geralmente. A transmissão pode ocorrer entre 4 dias antes e 4 dias depois do aparecimento de manchas vermelhas pelo corpo do indivíduo infectado. O sarampo é considerado uma doença extremamente contagiosa e, em média, uma única pessoa com sarampo infecta entre 9 e 18 outras pessoas suscetíveis. 1.5.3.3 ASPECTOS CLÍNICOS Os sintomas do sarampo iniciam normalmente de 10 a 12 dias após a infecção e incluem: Febre; Tosse; Coriza; Conjuntivite; Falta de apetite; Pequenas manchas brancas no interior da boca (manchas de Koplik). Em seguida, ocorre o surgimento de erupção cutânea característica, que começa na face e espalha-se para o corpo (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2018). Complicações do vírus do sarampo têm sido relatadas em todos os sistemas de órgãos e, aproximadamente, 30% dos casos notificados de sarampo têm uma ou mais complicações. A pneumonia é uma das complicações e é responsável pela maior parte da morbidade e mortalidade associadas à doença. Outras complicações incluem cegueira, encefalite, diarreia grave e desidratação. As sequelas neurológicas incluem convulsões febris benignas, geralmente em crianças, meningite viral e encefalomielite pós-infecciosa. 1.5.3.4 DIAGNÓSTICO O sarampo costuma ser reconhecido pelos médicos em pessoas com febre e erupção generalizada e histórico de viagem a áreas endêmicas ou durante surtos. Porém, pode ser confundida com outras infecções virais agudas, como rubéola e dengue. Para confirmação diagnóstica, a detecção de anticorpos da classe IgM específicos do sarampo na fase aguda da doença em soro ou plasma é o exame laboratorial mais utilizado. Os anticorpos da classe IgG específicos podem aparecer também na fase aguda do sarampo e permanecer por toda a vida. Existem muitos imunoensaios enzimáticos (ELISA) para detecção de IgM e IgG comercialmente disponíveis. Os resultados reagentes ou inconclusivos dos testes de IgM devem ser notificados imediatamente. Também, a infecção pelo vírus do sarampo pode ser confirmada pela detecção de RNA viral por meio de RT-PCR e por isolamento do vírus em cultura celular. O vírus do sarampo pode ser identificado em amostras de urina, secreções nasofaríngeas, sangue, liquor ou tecidos coletados até o quinto dia a partir do início do exantema. 1.5.3.5 EPIDEMIOLOGIA O sarampo é ainda responsável por mais de 100.000 mortes anuais. Antes da introdução da vacina e aumento da cobertura global contra o sarampo nos anos de 1980, eram mais de 2 milhões de mortes por ano causadas pela doença. Anualmente, a OMS publica o número de casos notificados de sarampo e o número estimado de mortes, bem como estimativas da cobertura nacional da vacina contra o sarampo tanto para a primeira como para a segunda dose. Observa-se que a maioria dos casos de sarampo notificados em 2015 eram provenientes das regiões da África (40%), Pacífico Ocidental (27%), Sudeste Asiático (12%) e da região europeia (11%). O principal fator de aumento de casos na Europa é a queda das taxas de cobertura vacinal. Contudo, apesar da disponibilidade de uma vacina segura e eficaz, o sarampo