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POLÍTICAS PÚBLICAS DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO Andrei Valerio Paiva O65p Ordonez, Ana Manuela. Políticas públicas de alimentação e nutrição [recurso eletrônico] / Ana Manuela Ordonez, Andrei Valerio Paiva. – 2. ed. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. Editado como livro impresso em 2017. ISBN 978-85-9502-029-0 1. Saúde pública. 2. Nutrição – Políticas públicas. 3. Alimentação – Assistência em saúde. I. Paiva, Andrei Valerio. II. Título. CDU 614:612.39 Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 Politicas_publ_alim_nutri.indb 2 16/01/17 16:21 Órgãos reguladores da saúde pública no Brasil Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir o que é um órgão regulador. � Citar quais são os principais órgãos reguladores da saúde pública brasileira. � Descrever os objetivos dos órgãos reguladores da saúde pública brasileira. Introdução Um órgão regulador é criado por uma lei específica e integra a admi- nistração pública para determinar como devem acontecer as ativida- des, bem como fiscalizar o serviço público ou de empresas privadas que executam essas atividades. A saúde pública brasileira é regida por alguns órgãos, como a Anvisa e a Agência Nacional de Saúde Su- plementar. Neste texto, você conhecerá mais sobre os órgãos reguladores da saúde pública do Brasil. Definição de órgão regulador O processo de descentralização, na área da saúde, apesar de recente, evidencia o fortalecimento da capacidade gestora nas esferas estadual e municipal, bem como a expansão da rede de serviços do Sistema Único de Saúde (SUS). Con- tudo, a realidade tem mostrado vários modelos de atenção à saúde isolados, muitas vezes concorrentes e com um percentual importante de compra de serviços privados com o objetivo de suprir as necessidades das gestões locais. Você também pode perceber desigualdades na capacidade gestora esta- dual e municipal, o que resulta em sistemas de saúde com capacidades resolu- tivas diversas, inclusive, no atendimento das populações externas à sua área Politicas_publ_alim_nutri.indb 71 16/01/17 16:21 de abrangência territorial. A organização das redes de serviços de saúde e o planejamento das ações ocorrem de forma fragmentada ou parcial, o que di- ficulta o estabelecimento de referências pactuadas, refletindo em nítidas bar- reiras físicas e burocráticas ao acesso da população às ações e aos serviços, apesar da expansão da rede observada nos últimos anos. A política de regulação da atenção à saúde deve ter como objetivo im- plementar uma gama de ações que incidam sobre os prestadores, públicos e privados, de modo a orientar uma produção eficiente, eficaz e efetiva de ações de saúde, buscando contribuir na melhoria do acesso, da integralidade, da qualidade, da resolubilidade e da humanização dessas ações. Deve articular e integrar mecanismos que permitam aos gestores regular as ações e serviços de saúde, como fazer dos contratos pactos entre gestores e prestadores; refor- mular as atividades de controle assistencial e da avaliação da atenção à saúde; desenvolver os protocolos assistenciais e implementar a regulação do acesso por meio dos complexos reguladores. Esta política é um dos componentes do Pacto pela Saúde na sua diretriz Pacto de Gestão e está focada em três eixos estruturantes: 1. Recursos financeiros para implantar e custear os Complexos Reguladores O financiamento inicial visando à implantação dos complexos regula- dores contempla uma estrutura mínima composta por: � Estrutura lógica, elétrica e de telefonia, inerentes ao seu funcionamento; � Infraestrutura de mobiliário e equipamentos, inclusive de informá- tica, o aplicativo de regulação (SISREG III), o sistema operacional, o link em banda larga para a internet e os servidores de aplicação; � Capacitação inicial e preparação de multiplicadores locais, que possam estabelecer um processo de capacitação permanente de recursos hu- manos, suprindo, assim, as necessidades oriundas da grande rotatividade de pessoal. O financiamento de custeio que se encontra em processo de pactuação quanto aos seus valores mensais de repasse fundo a fundo. 2. Instrumentos para operacionalizar os Complexos Reguladores Se você fosse o gestor, precisaria definir a sua estratégia para operacio- nalizar a regulação. Para isso, você precisaria levar em conta: � A abrangência da central, que compreende a região geográfica de cober- tura da central de regulação, que deve respeitar a composição da região de saúde, expressa no Plano Diretor de Regionalização (PDR) e sua iden- Políticas públicas de alimentação e nutrição72 Politicas_publ_alim_nutri.indb 72 16/01/17 16:21 tidade cultural, econômica e social, de redes de comunicação e infraes- trutura de transporte compartilhados. � A esfera administrativa, que se refere à esfera responsável pela gestão dos recursos assistenciais vinculados à central de regulação. A abrangência e respectiva gestão devem ser pactuadas, em processo democrático, entre as esferas de gestão do SUS. Quanto à referência intermunicipal, a Por- taria GM nº 399, de 22 de fevereiro de 2006, indica os seguintes modos: o gestor estadual se relacionará com a central municipal que faz a gestão do prestador; o gestor estadual se relacionará diretamente com o prestador quando este estiver sob gestão estadual; o gestor municipal com cogestão estadual e representação dos municípios da região. Modelos que diferem desses itens devem ser pactuados pela CIB e homologados na CIT. � O escopo da Central de Regulação, definindo quais especialidades, pro- cedimentos (internações, consultas e exames) serão regulados, e que profissionais de saúde estarão vinculados à central de regulação. Nesse escopo também são definidos os recursos físicos e financeiros alocados para atendimentos da população própria e referenciada. � As Unidades Solicitantes, que são instituições de saúde às quais é per- mitido solicitar atendimentos à central de regulação: unidades básicas de saúde, ambulatórios de especialidades, pronto-atendimentos, hospitais; secretarias municipais e coordenadorias regionais de saúde; centrais de regulação de outros municípios e regiões autorizados pelo gestor. � As Unidades Executantes, ou seja, os estabelecimentos públicos e pri- vados que, sob a concordância do gestor, ofertam sua capacidade física de atendimento, ou parte dela, para a central de regulação. Fazem parte da rede assistencial do SUS e são incorporados às centrais de regulação por meio do Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde (CNES). 3. Programa permanente para capacitar os recursos humanos A capacitação pretende formar os quadros estratégicos gerenciais do SUS, trazendo competência e transparência à área de regulação, siste- matizando um grande volume de saberes e práticas das áreas a partir da prática dos serviços, a fim de agregar conhecimento à gestão do SUS. Uma das propostas de educação permanente é o Curso Básico de regu- lação, controle, avaliação e auditoria do SUS oferecido nos níveis esta- dual e municipal, capaz de ser multiplicado, integrando novos atores no processo. O Ministério da Saúde pretende, a partir desse curso, incluir essa área na saúde coletiva nas formações lato e stricto sensu. A por- Órgãos reguladores da saúde pública no Brasil 73 Politicas_publ_alim_nutri.indb 73 16/01/17 16:21 taria que financia a implantação dos complexos reguladores (Portaria SAS Nº 494, de 30 de junho de 2006) também faz referência a recursos específicos para a capacitação das equipes reguladoras. Órgãos reguladores da saúde pública brasileira Nos anos 90, o Brasil, após um grave processo inflacionário, logrou a estabilidade monetária com o Plano Real de 1994, e avançou na reforma do Estado, entendida como um requisito da retomada do crescimento. É nesse contexto que ocorreu, na década de 90, a criação das agências reguladoras como um novo modelo ins- titucional de intervenção no mercado e na sociedade. Isso foiuma mudança im- portante, pois a regulação baseia-se “[...] na intervenção do Estado no mercado e na sociedade, em substituição à intervenção direta que caracterizou o desenvolvi- mento do Estado de Bem-Estar...” (MENICUCCI, 2007, p. 234). Nessa perspectiva, algumas agências de regulação foram criadas em substi- tuição a algumas atividades retiradas da gestão do Estado. Na gestão do presi- dente Fernando Henrique Cardoso (FHC), foram criadas oito agências regula- doras e uma no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Nesse governo, a tentativa de criação da Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual (ANCINAV) não teve êxito. Analisando as principais agências reguladoras no Brasil, você con- segue concordar com a afirmação de Menicucci (2007, p. 271), segundo a qual “[...] as agências reguladoras expressam, ao mesmo tempo, a expansão da ativi- dade privada para novas áreas e a reconfiguração das funções do Estado [...]”. As agências reguladoras foram criadas para fiscalizar a prestação de ser- viços públicos praticados pela iniciativa privada. Além de controlar a quali- dade na prestação do serviço, estabelecem regras para o setor. Hoje, existem dez agências reguladoras. A regulação envolve medidas e ações do governo que envolvem a criação de normas, o controle e a fiscalização de segmentos de mercado explorados por empresas para assegurar o interesse público. As principais agências de saúde são duas: � Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS): Criada em 2000, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) é vinculada ao Ministério da Saúde. A ANS promove a defesa do interesse público na assistência suplementar à saúde, regula as operadoras setoriais, inclusive quanto às suas relações com prestadores e consumidores, e contribui para o desen- volvimento das ações de saúde no país. Políticas públicas de alimentação e nutrição74 Politicas_publ_alim_nutri.indb 74 16/01/17 16:21 � Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa): A Agência Na- cional de Vigilância Sanitária (Anvisa) foi criada em 1999, tem indepen- dência administrativa e autonomia financeira e é vinculada ao Ministério da Saúde. Protege a saúde da população ao realizar o controle sanitário da produção e da comercialização de produtos e serviços que devem passar por vigilância sanitária, fiscalizando, inclusive, os ambientes, os processos, os insumos e as tecnologias relacionados a esses produtos e serviços. A Anvisa também controla portos, aeroportos e fronteiras e trata de assuntos internacionais a respeito da vigilância sanitária. Por outro lado, você percebe a inexistência de mecanismos regulatórios para o setor de saúde suplementar até a década de 90. Esse setor já existia antes desse período, com a presença do setor privado e regulação tênue. Com a criação do SUS, ele passa a integrar o Sistema Nacional de Saúde (SNS), mas ainda permanece praticamente sem regulação durante uma década. A Anvisa foi a primeira agência que não foi criada para regular setores privati- zados. Portanto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, por meio da Lei 9.782/99, ao criar o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS) e substi- tuir a Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária, que era subordinada ao Mi- nistério da Saúde, superou o quadro anterior de fragmentação institucional. Antes da criação da Anvisa, as ações de vigilância sanitária eram frag- mentadas e subordinavam-se à Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária. Mas as práticas clientelistas e a baixa capacidade técnica começaram a inco- modar as partes envolvidas. Assim, a Anvisa incorporou as funções dessa se- cretaria e passou também a coordenar o SNVS, executar o programa nacional de sangue e hemoderivados, o programa nacional de prevenção e controle da infecção hospitalar, bem como a: monitorar os preços dos medicamentos e dos produtos para a saúde; aplicar penalidades; fazer a regulamentação sani- tária de derivados do tabaco; assessorar o Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI); fiscalizar as propagandas e a publicidade de produtos sob o regime da vigilância sanitária; e conceder o certificado de cumprimento de boas práticas de fabricação. A missão institucional da Anvisa se relaciona à proteção da saúde da população brasileira através do controle sanitário exer- cido sobre os produtos e sobre a comercialização de medicamentos. Esse con- trole também abrange os serviços subordinados à Anvisa, incluindo os locais, os processos, os insumos e as tecnologias. Ainda compete à Anvisa o controle sanitário dos aeroportos, dos portos, das fronteiras e as relações exteriores com outras instituições estrangeiras responsáveis pela regulação do setor de Órgãos reguladores da saúde pública no Brasil 75 Politicas_publ_alim_nutri.indb 75 16/01/17 16:21 saúde, bem como a interlocução com o Ministério das Relações Exteriores. Logo, a Anvisa fica sujeita, em muitos casos, às pressões exercidas pelos ve- tores econômicos. Cabe destacar algumas ações desenvolvidas pela Anvisa no Brasil con- temporâneo: o Programa Nacional de Verificação da Qualidade de Medica- mentos, criado em 2004, que visava ao monitoramento da qualidade dos me- dicamentos consumidos pela população; o Projeto Farmácias Notificadoras, criado em 2005, que objetivava ampliar as fontes de notificação de casos suspeitos de efeitos adversos a medicamentos e de queixas técnicas de me- dicamentos; o projeto EducAnvisa, criado em 2005, que buscava desenvolver ações e estratégias de educação e comunicação em saúde para atingir os mais diversos segmentos da sociedade. Também merece ser citado o Sistema de Notificações em Vigilância Sanitária (Notivisa), definido em 2006, utilizado para captar e gerenciar as notificações de eventos adversos e queixas téc- nicas de todas as áreas do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), bem como o Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC), criado em 2007, que visava ao aprimoramento das ações de vigi- lância sanitária no controle e na fiscalização das substâncias e dos medica- mentos sujeitos ao controle especial (ANVISA, 2009a). Segundo Lucchesi (2008, p. 102-103): “[...] a criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, então ANVISA, no final dos anos 90, teve seus objetivos comprometidos com o aumento da eficiência econômica estatal – via administração gerencial – na área de avaliação e gerenciamento do risco sanitário, com a transparência de seus processos e a clara responsabilização política pelos gastos públicos, tanto quanto com a maior participação da sociedade no controle de suas ações”. O aumento de eficiência na área da vigilância sanitária significa especial- mente, mas não somente, o fortalecimento da capacidade fiscalizatória do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária. Entretanto, o próprio processo de criação da ANVISA e do SNVS parece não ter sido realizado conforme os pressupostos da transparência, da participação e da responsabilização de cada agente que atua no sistema. Políticas públicas de alimentação e nutrição76 Politicas_publ_alim_nutri.indb 76 16/01/17 16:21 Linha do tempo da saúde pública brasileira: � 1810: Regimento da Provedoria conforme modelo da polícia médica � 1820: Criação da Inspetoria de saúde pública do Porto do Rio de Janeiro � 1885: Reforma dos Serviços Sanitários do Império, divididos em serviço sanitário ter- restre e serviço sanitário marítimo. Instituído o Conselho Superior de saúde pública com funções normativas. � 1890: Conselho de saúde pública e Inspetoria Geral de Higiene � 1891: Constituição de 1891 sob a égide do Ministério da Justiça e Negócios Interio- res. Instituída a notificação compulsória de moléstias transmissíveis: febre amarela, cólera, peste, difteria, escarlatina, sarampo � 1892: Laboratórios de saúde pública em São Paulo � 1893: Serviço Sanitário dos Portos da República e Inspetoria Geral de Saúde dos Portos � 1894: Instituto Sanitário Federal no Rio de Janeiro � 1897: DiretoriaGeral de saúde pública e início da organização dos serviços estaduais de higiene � 1902: Notificação compulsória de doenças contagiosas sob os rigores do Código Penal � 1903: Oswaldo Cruz (1903-1908) assume a Diretoria Geral de saúde pública (DGSP) com o primeiro objetivo de eliminar a febre amarela e a peste, em contexto de am- plo programa de saneamento do centro urbano da cidade do Rio de Janeiro � 1904: Vacinação obrigatória contra a varíola e reorganização dos Serviços de Higiene Administrativa � 1920-1926: Reforma Carlos Chagas � 1920: Criação do departamento nacional de saúde pública (DNSP) em substituição à DGSP 1923: Regulamento Sanitário Federal incorpora a expressão Vigilância Sa- nitária em referência ao controle sanitário de pessoas doentes ou suspeitas de ser portadoras de doenças transmissíveis, estabelecimentos e locais públicos � 1946-1963 República Democrática � 1953: Criação do Ministério da Saúde (MS) � 1954: Criação do Laboratório Central de Controle de Drogas e Medicamentos (LCCDM) � 1961: Regulamentação do Código Nacional de Saúde, da análise laboratorial prévia e do registro de alimentos – transformação do LCCDM em Laboratório Central de Controle de Drogas, Medicamentos e Alimentos (LCCDMA) � 1967: Decreto nº 200/67 – atribui ao Ministério da Saúde a formulação e coordena- ção da política nacional de saúde. Vigilância Sanitária passa a denominar as ações de controle sanitário nas áreas de portos e fronteiras � 1971: Criação do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), pela Lei nº 5.648. O INPI se limitava à concessão de marcas e patentes e ao controle da importação de novas tecnologias. 1973: Lei nº 5.991 Dispõe sobre o controle sanitário do comércio de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos, correlatos e dá outras providências. Órgãos reguladores da saúde pública no Brasil 77 Politicas_publ_alim_nutri.indb 77 16/01/17 16:21 � 1976-1977: Reestruturação do Ministério da Saúde. Criação da Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), organizada por divisões: Portos, Aeroportos e Fronteiras (DIPAF), Medicamentos (DIMED), Alimentos (DINAL), Saneantes e Domissanitários (DISAD), Cosméticos e Produtos de Higiene (DICOP). O LCCDMA foi transferido para a Fundação Oswaldo Cruz � 1981: O LCCDMA foi transformado no Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS). � 1988: Constituição Federal de 1988. � 1990: Lei Orgânica da Saúde (LOS): Instituição do Sistema Único de Saúde – SUS (Lei nº 8.080/90) � 1992: SNVS passa a denominar-se Secretaria de Vigilância Sanitária – SVS � 1994: Portaria MS/GM nº 1.565/94 estabelece as diretrizes do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS). � 1999: Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), (Lei nº 9.782/99) � 2000: Portaria 1.461 – Anvisa assume a secretaria executiva da Câmara de Medica- mentos (CAMED) � 2001: 1ª Conferência Nacional de Vigilância Sanitária (I CNVS) Objetivos dos órgãos reguladores da saúde pública brasileira A garantia do acesso da população aos serviços públicos de saúde a uma as- sistência qualificada, por meio de uma rede organizada de serviços, requer a atuação direta do Estado na busca do estabelecimento de regras definidas para atuação dos mercados, o que configura a passagem de um Estado pres- tador a um Estado regulador. No Brasil, o debate mais aprofundado com relação ao conceito, às prá- ticas e às finalidades da regulação, do controle, da avaliação e da auditoria em saúde iniciou-se em 2001, com as Normas Operacionais de Assistência à Saúde (NOAS). As NOAS SUS 01/2001 ampliam a responsabilidade dos municípios sobre a atenção básica e reservam à União e aos Estados a gestão da média e da alta complexidade dos serviços públicos de saúde. A regulação no SUS ganha força após o Pacto de Gestão (2006), que tem como principal finalidade a busca de maior autonomia para os estados e mu- nicípios no que tange aos processos normativos do SUS, definindo a respon- sabilidade sanitária de cada esfera de governo e tornando mais claras as atri- Políticas públicas de alimentação e nutrição78 Politicas_publ_alim_nutri.indb 78 16/01/17 16:21 buições de cada uma, contribuindo, assim, para o fortalecimento da gestão compartilhada. No final dos anos 1990, por meio da Lei nº 9.782/99, como você já aprendeu na seção anterior, criou-se a primeira agência reguladora social no Brasil: a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), para atuar não em um setor específico da economia, mas em todos os setores relacionados a pro- dutos e serviços que podem afetar a saúde da população brasileira. Uma das singularidades dessa agência é a sua competência tanto na regulação econô- mica do mercado (definição de preços e monitoramento do mercado) quanto na regulação sanitária (registros de medicamentos, por exemplo). Você também recorda da seção anterior que a outra agência reguladora criada foi a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), por meio da Lei nº 9.961/00, com a finalidade de regulamentar os planos privados de saúde. Ela tem desenvolvido mecanismos tanto para as formulações de políticas pú- blicas de saúde quanto para a busca de melhor atendimento do beneficiário, no intuito de procurar um equilíbrio entre os procedimentos de mercado das operadoras e os direitos da sociedade de receber melhor qualidade na assis- tência à saúde (DIAS, 2004). Com o entendimento do Ministério da Saúde (BRASIL, 2005, p. 318) e a anuência do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (CONASEMS), a regulação é definida, então, como um conjunto de relações, saberes, tecnologias e ações que intermedeiam a de- manda dos usuários por serviços de saúde e o acesso a estes. Criada em 2008, a Política Nacional de Regulação do Ministério da Saúde (BRASIL, 2008) objetiva, principalmente, promover o acesso equânime, uni- versal e integral dos usuários ao SUS. Sem uma lógica meramente financeira, a regulação em saúde contribui para otimizar a utilização dos serviços, em busca da qualidade da ação, da resposta adequada aos problemas clínicos e da satis- fação do usuário, sem que haja, para tanto, a fragmentação do cuidado. Em Minas Gerais, a regulação é vista como um conjunto de regras impositivas de proteção com vistas ao monitoramento e ao controle dos serviços prestados. Nesse plano, o objetivo pode ter caráter social ou econômico, e, em geral, visa a encorajar atividades consideradas úteis (MENICUCCI, 2005, p. 152). Já na região metropolitana de São Paulo, a regulação da saúde pública tem um caráter de racionalizar os serviços complementares e suplementares (FIANI, 2004). Como forma de operacionalizar o processo de regulação do acesso aos serviços de saúde, você observa a criação de várias centrais em todo o país nas seguintes áreas: urgência e emergência, consultas e exames de média e Órgãos reguladores da saúde pública no Brasil 79 Politicas_publ_alim_nutri.indb 79 16/01/17 16:21 alta complexidade, internações clínicas ou cirúrgicas e em terapia intensiva, transplantes, obstetrícia e neonatal. Um exemplo é o Complexo Regulador do Distrito Federal, institucionali- zado em 2009. Esse serviço é responsável por um conjunto de estratégias e ações definidas em um plano de regulação assistencial, para todos os níveis de complexidade, visando à organização efetiva de uma rede pública articulada hierarquicamente, a partir do planejamento estruturado em bases regionais. Tem a missão de fornecer o acesso devido aos usuários, por meio de centrais de regulação na área ambulatorial, nas especialidades de dermatologia, oftalmo- logia, radiologia e cardiologia, e na área de internação, com ênfase no acesso aos leitos de terapia intensiva. Outro modelo é a central de regulação no estado do Ceará, sediada em Fortaleza, voltada para a regulação do acesso à terapia intensiva, com a disponibilização de leitos públicos e privados. Um estudo de- senvolvido nesse cenário discute a relação entre o público eo privado na pres- tação dos serviços, além de abordar o papel do Estado e da sociedade civil na exigência de um controle efetivo sobre a utilização dos serviços oferecidos. O Complexo Regulador é composto por uma ou mais estruturas denominadas Centrais de Regulação, que compreendem toda a ação meio do processo regulatório, isto é, recebem as solicitações de atendimento, processam e agendam. As Centrais de Regu- lação atuam em áreas assistenciais inter-relacionadas como a assistência pré-hospitalar e inter-hospitalar de urgência, as internações, além das consultas e procedimentos am- bulatoriais de média e alta complexidade e são classificadas em: Central de Regulação de Urgência; Central de Regulação de Internações; Central de Regulação de Consultas e Exames; Central Nacional de Regulação da Alta Complexidade. Sob o prisma da equidade na assistência à saúde, a regulação é imprescin- dível, e sua finalidade é assegurar que se atinjam os grandes objetivos sociais do sistema de saúde, equilibrando as numerosas falhas de mercado e/ou falhas do governo que caracterizam esse setor. Políticas públicas de alimentação e nutrição80 Politicas_publ_alim_nutri.indb 80 16/01/17 16:21 1. Sobre órgãos reguladores ou agências reguladoras, marque a alternativa CORRETA sobre suas definições e papéis: a) São órgãos governamentais, com autonomia, que têm a função de regulamentar, fiscalizar e controlar os produtos e serviços de inte- resse e domínio público. b) Os órgãos são responsáveis por solucionar casos individuais e de cunho pessoal, ou seja, cada pessoa que tem um problema re- lacionado ao serviço que o órgão regulamenta, deve procurá-lo. c) São locais onde são criadas as leis e regulamentos dos serviços de saúde. d) Órgãos privados que fiscalizam os produtos e serviços, bem como ditam as regras de como os presta- dores devem conduzir a produção. e) Conjunto de medidas e ações do governo que têm o objetivo de fiscalizar e regular a produção de produtos e serviços no âmbito nacional. 2. As agências ou órgãos reguladores da saúde foram criados com a finali- dade de, EXCETO: a) Fiscalizar a prestação de serviços públicos praticada pelo setor privado. b) Controlar a qualidade do serviço prestado. c) Estabelecer as regras para a pres- tação dos serviços. d) Desenvolver os protocolos de atendimento da população, visando a prestação do serviço. e) Defender o direito dos consumi- dores dos serviços regulados. 3. Criada pela Lei nº 9.782, de 26 de ja- neiro de 1999, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária atua sobre setores específicos e responde ao Ministério da Saúde. Sobre a ANVISA, assinale a alternativa FALSA: a) O campo de atuação da agência é amplo e não se restringe a um único setor da economia, mas a todos os setores relacionados à produção de produtos e serviços que podem afetar a saúde dos brasileiros. b) Questões relacionadas à moradia da população, esgoto, sanea- mento básico, alimentação e medicamentos fazem parte dos setores que a ANVISA regula. c) É de sua competência a regu- lação não somente das questões sanitárias, mas também a regu- lação econômica de mercado de produtos referentes à saúde da população. d) Está vinculada ao Ministério da Saúde e ao SUS, o que implica na absorção dos princípios e diretrizes na regulação, controle e fiscalização. e) É competência da ANVISA “esta- belecer normas, propor, acom- panhar e executar as políticas, as diretrizes e as ações de vigilância sanitária”. 4. A Agência Nacional de Saúde Su- plementar (ANS), criada pela Lei n° 9.961, de 2000, é responsável pela regulação dos planos de saúde, mas Órgãos reguladores da saúde pública no Brasil 81 Politicas_publ_alim_nutri.indb 81 16/01/17 16:21 BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde. O SUS de A a Z: garantindo saúde nos municípios. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2005. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM/MS n. 1.559, de 1.o de agosto de 2008. Institui a Política Nacional de Regulação do Sistema Único de Saúde. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 4 ago. 2008. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Regula- ção, Avaliação e Controle de Sistemas. Diretrizes para a implantação de Complexos Regu- ladores. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2006. DIAS, R. D. M. A informação na regulação da saúde suplementar. 2004. 137 f. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) – Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2004. Referências também tem relação com o SUS. Se- gundo esta lei, assinale a alternativa INCORRETA: a) Compete à ANS estabelecer normas para ressarcimento ao Sistema Único de Saúde (SUS). b) Cabe à ANS fiscalizar a atuação das operadoras e prestadoras de serviços de saúde com relação à abrangência das coberturas de patologias e procedimentos c) A ANS é responsável por zelar pela qualidade dos serviços de assistência à saúde no âmbito da assistência à saúde suplementar. d) A ANS tem o dever de fiscalizar o funcionamento e a estrutura física dos serviços de diagnóstico laboratorial e de imagem dos planos de saúde. e) Cabe à ANS autorizar o registro dos planos privados de assis- tência à saúde. 5. São bens e produtos, bem como serviços regulados pela ANVISA: a) Produção e comercialização de medicamentos de uso humano, suas substâncias e insumos. Cosméticos, produtos de higiene pessoal, perfumes e seus insumos, como embalagens, bem como saneantes e materiais de limpeza. b) Alimentos e bebidas, incluindo o processo de produção, armazena- mento e comercialização. c) Equipamentos médico-hospita- lares, odontológicos, hemoterá- picos e de diagnóstico e trata- mento, imunobiológicos, órgãos e tecidos humanos e veterinários. d) Serviços ambulatoriais (sejam de rotina ou emergência), internação, apoio diagnóstico e terapêutico, instalações físicas, equipamentos, ambientes e tecnologias envolvidas nos procedimentos, incluindo destinação dos resíduos. e) Todas as alternativas estão corretas. Políticas públicas de alimentação e nutrição82 Politicas_publ_alim_nutri.indb 82 16/01/17 16:21 FIANI, R. Afinal, a quais interesses serve a regulação? Economia e Sociedade, Campinas, v. 13, n. 1, p. 81-105, 2004. KORNIS, G. E. M. et al. A regulação em saúde no Brasil: um breve exame das décadas de 1999 a 2008. 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Relações entre regulação e controle na reforma admi- nistrativa e suas implicações no sistema de saúde brasileiro. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 36, n. 2, p. 181-194, 2002. SALGADO, L. H. Agências regulatórias na experiência brasileira: um panorama do atual desenho institucional. Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2003. (Texto para discussão, 941). SANTOS, F. P.; MERHY, E. E. A regulação pública da saúde no Estado brasileiro: uma revi- são. Interface, Botucatu, v. 10, n. 19, p. 25-41, 2006. Órgãos reguladores da saúde pública no Brasil 83 Politicas_publ_alim_nutri.indb 83 16/01/17 16:21 Conteúdo: