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METODOLOGIA E PRÁTICA ENSINO- EJA Dra. Marcia Vale GUIA DA DISCIPLINA 1 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância INTRODUÇÃO Essa disciplina pode parecer desconectada de nossa realidade dentro de uma educação voltada a criança e adolescente, mas nosso país ainda tem grande necessidade de levar a educação aos lugares mais distantes deste país que é imenso e desigual. Muitos adultos que não tiveram oportunidade de estudos na idade correta e nem a oportunidade de socialização e acesso a informação; para isso a educação de jovens e adultos ainda não se estingue e se faz tão necessária. Diante das dificuldades sociais econômicas entre outras, em que o Brasil vem sofrendo, torna-se prioridade este tipo de educação nas escolas públicas. A EJA de hoje veio do antigo MOBRAL. O Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral) foi um projeto do governo militar brasileiro criado pela Lei n° 5.379, de 15 de dezembro de 1967 a 1985, e propunha a alfabetização funcional de jovens e adultos, que abandonaram a escola, visando conduzir a pessoa a adquirir a leitura, escrita e cálculo. Ao longo do tempo os governos descobriram que deveriam alterar essa educação que ainda se fazia necessária e assim nasce a EJA – Educação de Jovens e Adultos e com o avanço da desigualdade brasileira ela persiste até hoje. Espero que gostem da disciplina e sintam que na EJA podemos fazer algo por alguém e o maior beneficiário somos nós mesmos. Marcia Vale 2 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 1. FUNÇÃO SOCIAL E POLÍTICA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Quando tratamos esta modalidade da educação precisamos pensar na função qualificadora ou permanente da educação e isso propicia a todos a atualização de conhecimento por toda a vida, mesmo que o começo seja atrasado. Ela é o próprio sentido da EJA e tem como base o caráter incompleto do ser humano cujo potencial de desenvolvimento e de adequação e pode se atualizar em quadros escolares e não escolares. Ela é um apelo para a educação permanente na criação de uma sociedade educada para o universalismo, e solidariedade, a igualdade e a diversidade. Coloquei a frase de Paulo Freire pois foram as suas ideias que transformaram a educação dentro e fora do país; as formas de tratamento aos alunos e o respeito a diversidade sustentam a escola que um dia Paulo Freire sonhou. O Brasil precisa reduzir as estatísticas de analfabetismo porque além do IDH (índice de desenvolvimento humano) do país, a alfabetização é a base para o crescimento e desenvolvimento da educação. A educação de jovens e adultos tem três dimensões básicas. As três dimensões da EJA são: • Individual: a pessoa aprende sobre si e sobre o mundo, buscando seus potenciais de desenvolvimento; 3 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância • Profissional: a pessoa precisa se atualizar profissionalmente, se requalificar para se manter no mercado, ou ir a busca de um novo trabalho; • Social: habilitar-se para a vivência em grupo, ser cidadão ativo e participativo, ter acesso a informações, conseguir avaliar de maneira critica os acontecimentos. Nosso compromisso é vencer as desigualdades históricas do país e ajudar as pessoas que tem seu direito violado, transformando o cenário através de práticas que tenham resultado. A educação democrática não é somente a base de transmissão de conteúdos e normas, quaisquer que sejam, procura manter o bem-estar da sociedade e a cidadania, observando os aspectos sociais, e atuando na transformação para a melhoria da sociedade, na busca do bom desenvolvimento. Possibilita a manifestação de forma organizada, a compreensão sobre a natureza dos conflitos e das contradições na sociedade. Educação visa à convivência social, a cidadania e a adoção de consciência política, faz de cada pessoa um agente de transformação. A cultura de participação é o primeiro passo para a cidadania e a garantia dos direitos. Lembro ainda, que a base para a democracia é sempre o diálogo, de maneira igual em relação ao próximo, reconhecendo os direitos e liberdades do outro. E a educação é uma prática que motiva processos sociais na construção da sociedade democrática e também inclusiva. Assim, o professor é um agente transformador em interação com o educando na construção de saberes e significados direcionando o processo para a formação de um ser emancipado socialmente, preparado para o exercício da sua cidadania. Algumas das principais funções: • Formação crítico-reflexiva • Estimular o respeito mútuo às diferenças • Prática da democracia. 4 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Devemos buscar a evolução da educação, trabalhando conjuntamente aos interessados nos resultados e efeitos dos processos educativos, notadamente a comunidade. A educação deve estar vinculada as práticas de liberdade, democracia e cidadania. Outra questão são os índices de analfabetismo no Brasil que é bem preocupante. O Brasil tem mais de 12 milhões de analfabetos, sendo um milhão e meio com idade acima de quinze anos, e quase quatro milhões são analfabetos funcionais. Os analfabetos funcionais são aqueles que conhecem letras e números, mas não conseguem ler ou fazer contas. Do total de analfabetos brasileiros, 45% (mais de 6 milhões) têm mais de 60 anos. Os países mais desenvolvidos possuem um baixo número de analfabetismo. De acordo com a UNESCO, o Brasil está em 8o. lugar no mundo em número de adultos analfabetos, este é um quadro deprimente. Salienta-se que 40% dos analfabetos latino-americanos são brasileiros. Principais dados sobre o analfabetismo no Brasil * • Índice de analfabetismo no Brasil: 8,3% • Número de pessoas analfabetas: 13,2 milhões (pessoas com 10 anos ou mais) • Analfabetismo entre as pessoas com mais de 60 anos: 23,1% • Analfabetismo entre jovens de 15 a 19 anos: 0,9% • Índice de analfabetismo na região Norte: 9% (pessoas com 15 anos ou mais) • Índice de analfabetismo na região Nordeste: 16,6% (pessoas com 15 anos ou mais) • Índice de analfabetismo na região Sul: 4,4% (pessoas com 15 anos ou mais) 5 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância • Índice de analfabetismo na região Sudeste: 4,6% (pessoas com 15 anos ou mais) • Índice de analfabetismo na região Centro-oeste: 6,5% (pessoas com 15 anos ou mais) *dados divulgados pelo IBGE (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - Pnad) em novembro de 2015, referentes ao ano de 2014. 6 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 2. LEGISLAÇÕES REGEM A EJA O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é um dado utilizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para analisar a qualidade de vida de uma determinada população. http://brasilescola.uol.com.br/brasil/o-idh-no-brasil.htm Lembremos que a Educação no Brasil desde a LDB 9394/96 está dividida em: Educação Básica – infantil, fundamental e médio, onde cada ciclo pressupõe uma idade ideal para ingresso e finalização do aluno. Sendo competência dos Municípios atuar especialmente no Ensino Fundamental e Educação Infantil, e Estados e Distrito Federal no Ensino Médio. Além de Educação de Jovens e Adultos que também integra a Educação Básica, contemplando alunos que não tiveram oportunidade de acesso aos estudos na idade apropriada. Educação Superior – graduação e pós-graduação. Observando o disposto no site da Secretaria de Educação do Estado do Paraná: ¨A Educação de Jovens e Adultos (EJA) destina-se aos jovens e adultos que não puderam efetuar os estudos na idadeprópria. Prevê oportunidades educacionais adequadas às suas características, interesses, condições de vida e de trabalho mediante cursos e exames no nível de conclusão do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Voltada para a garantia de formação integral, da alfabetização às diferentes etapas da escolarização ao longo da vida, inclusive àqueles em situação de privação de liberdade, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) é pautada pela inclusão e pela qualidade social. Dessa forma, requer tanto um modelo pedagógico próprio que permita a apropriação e a contextualização das Diretrizes Curriculares Nacionais, quanto a implantação de um sistema de monitoramento e avaliação e uma política de formação permanente de seus professores. ¨ FONTE: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=71 (acesso em 29/04/18). http://brasilescola.uol.com.br/brasil/o-idh-no-brasil.htm http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=71 7 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Você poderá encontrar outras informações sobre o tema. Uma ferramenta muito útil para todos que de alguma forma se interessam e atuam na educação de jovens é o portal www.cereja.org.br. Trata-se de uma tentativa interessante de compilar uma série de materiais sobre alfabetização e educação escolar de adultos. De acordo com o portal, o Centro de Referência em Educação de Jovens e Adultos (Cereja), criado em 2004, é um espaço de interlocução e interação entre profissionais e instituições interessados e/ou dedicados à Educação de Jovens e Adultos (EJA). O Cereja tem como objetivo resgatar, sistematizar, preservar, valorizar e difundir informações e experiências em EJA, assim como incentivar a disseminação de uma cultura de reflexão e difusão dos saberes que se desenvolvem em torno dela. No portal é possível consultar a Biblioteca com importantes publicações e trabalhos acadêmicos que abrangem a totalidade da temática da EJA, dentre livros, periódicos e outros documentos. Além de divulgar cursos, eventos e outros assuntos pertinentes ao universo da educação e da EJA. Outro recurso interessante é o banco de estatísticas sobre EJA e alfabetização de adultos. O portal é uma iniciativa da AlfaSol, uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos e de utilidade pública que desenvolve ações que visam contribuir para a redução dos altos índices de analfabetismo e ampliar a oferta de Educação Profissional e de Jovens e Adultos. FONTE: http://ejaparatodos.blogspot.com.br/2015/08/cereja-centro-de-referencia-em-educacao.html (acesso em 29/04/18) É possível conhecer melhor sobre algumas normas visitando os links: Fonte:http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=42991-rceb004-16- pdf&category_slug=maio-2016-pdf&Itemid=30192 RESOLUÇÃO Nº 4, DE 30 DE MAIO DE 2016 (*) dispõe sobre as Diretrizes Operacionais Nacionais para a remição de pena pelo estudo de pessoas em privação de liberdade nos estabelecimentos penais do sistema prisional brasileiro. Acesso em 29/04/18. Fonte:http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=33151-resolucao-ceb- n1-fevereiro-2016-pdf&category_slug=fevereiro-2016-pdf&Itemid=30192 http://www.cereja.org.br/ http://www.cereja.org.br/site/teses.asp http://www.cereja.org.br/site/dados_estatisticos.asp http://www.alfasol.org.br/ http://ejaparatodos.blogspot.com.br/2015/08/cereja-centro-de-referencia-em-educacao.html http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=42991-rceb004-16-pdf&category_slug=maio-2016-pdf&Itemid=30192 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=42991-rceb004-16-pdf&category_slug=maio-2016-pdf&Itemid=30192 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=33151-resolucao-ceb-n1-fevereiro-2016-pdf&category_slug=fevereiro-2016-pdf&Itemid=30192 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=33151-resolucao-ceb-n1-fevereiro-2016-pdf&category_slug=fevereiro-2016-pdf&Itemid=30192 8 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância RESOLUÇÃO Nº 1, DE 2 DE FEVEREIRO DE 2016 (*) Define Diretrizes Operacionais Nacionais para o credenciamento institucional e a oferta de cursos e programas de Ensino Médio, de Educação Profissional Técnica de Nível Médio e de Educação de Jovens e Adultos, nas etapas do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, na modalidade Educação a Distância, em regime de colaboração entre os sistemas de ensino. Acesso em 29/04/18. DOCUMENTO BASE NACIONAL Desafios da Educação de Jovens e Adultos no Brasil http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/confitea_docbase.pdf A Constituição Federal, em seu Artigo 205, explicita a educação como direito de todos e dever do estado, mas apesar de haverem diversas iniciativas para a disseminação da educação para todos os grupos de pessoas, a EJA ainda está aquém das propostas oferecidas pelo governo. A EJA apresenta-se como possibilidade de inclusão social, de ações de responsabilidade pública para com os cidadãos. http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/confitea_docbase.pdf 9 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Saiba orientar de como participar do processo de seleção do EJA http://sistemasencceja3.inep.gov.br/inscricaoEncceja/ O direito à educação consta da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, no seu artigo 26, é direito de todos ao desenvolvimento pleno da personalidade humana e como uma necessidade de fortalecer o respeito aos direitos e liberdades fundamentais. Este direito depende do acesso à educação, mas o direito à educação não termina somente com o acesso, e a conclusão do básico, ele deve oferecer condições de continuidade em outros níveis. Destacamos o Artigo 206 da Constituição Federal que estabelece a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola, e também no seu artigo 208, que destaca a garantia de obrigatoriedade de ensino gratuito, até mesmo para aqueles que não puderam acessar na idade própria. Já o artigo 214 menciona Plano Nacional de Educação http://sistemasencceja3.inep.gov.br/inscricaoEncceja/ 10 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância e a meta da erradicação do analfabetismo, a melhoria na qualidade de ensino e a formação para o trabalho. A Educação de Jovens e Adultos não é uma adaptação do sistema educacional vigente, é um desafio social, centralizado na sociedade do saber, regulado por princípios, incluindo o direito universal à educação. Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, no. 9.394/96, a EJA é tratada como uma modalidade da educação básica nas etapas do ensino fundamental e médio, tendo características específicas no processo pedagógico destinado ao jovem e ao adulto. A oferta da EJA está regulamentada no artigo 38 da Lei 9.394/96. Tem previsão no artigo 37 3 38 da LDB a importância de garantir a jovens e adultos oportunidades de acesso, permanência na escola e condições de estudar, independentemente de sua idade. Lei 9.394/1996 Seção V Da Educação de Jovens e Adultos Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. § 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. § 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador na escola,mediante ações integradas e complementares entre si. Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular. § 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão: I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para os maiores de quinze anos; II - no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de dezoito anos. § 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por meios informais serão aferidos e reconhecidos mediante exames. A EJA tem característica de função reparadora, possibilitando o resgate a igualdade de um direito negado. Assume também a função de equalizar, possibilita aquisição de conhecimentos por aqueles que estiveram privados deste acesso. 11 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Mais uma função é a qualificadora, ou seja, a educação ao longo da vida que permite adquirir conhecimentos para a formação, considerando-se que todo ser humano está sempre aprendendo. Contudo, as políticas públicas não têm sido suficientes para atender todos em relação à educação e, mesmo que seja aumentada a oferta, permanecem excluindo muitos da oportunidade de estudar, tanto pela falta de acesso, quanto pela não continuidade. Alfabetização com amor faz parte da essência de professor. 12 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 13 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 3. PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO – PNE – EJA – PERSPECTIVA O Plano Nacional de Educação prevê um atendimento a EJA. PNE - Meta 10. Oferecer, no mínimo, 25% (vinte e cinco por cento) das matrículas de educação de jovens e adultos, nos ensinos fundamental e médio, na forma integrada à educação profissional. A meta 10 do PNE prevê os 25% destinados a EJA do EF e EM e aqui cada uma de nós pode se perguntar como isso é feito nos estados e municípios do país e pensar que com o decorrer do tempo essa modalidade da educação básica deveria desaparecer, ao invés disso ela se torna marcante em sua disparidade com o avanço da tecnologia e da sociedade. A maior parte do dinheiro destinado à EJA vem do Fundeb, o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica, mas o repasse que a modalidade obtém é inferior às demais etapas. “Desde a implantação do Fundo, a matrícula na EJA tem o menor valor. Se um aluno do Fundamental vale entre 1 ou 1,2, o da EJA vale 0,8”. “Sem ofertar uma educação de qualidade, as pessoas não vão voltar para a escola. E se voltarem, é provável que não permaneçam”, alerta Maria Margarida Machado “A EJA precisa ser vista como política pública, e não como programa ou caridade. Mas não é isso que acontece. No Plano Nacional de Educação (PNE), por exemplo, as quatro metas mais próximas de atender a modalidade se encontram em posições praticamente impossíveis de serem alcançadas”, lamenta. Para Maria Margarida, esse conjunto de negligências mostra que não entendem o significado da modalidade. “Sem ofertar uma educação de qualidade, pensada para o aluno e suas vivências, com professores bem formados, as pessoas não vão voltar. E se voltarem, é provável que não permaneçam”, alerta. ESTRATÉGIAS: elas foram discutidas no CONAE (Conferência Nacional de Educação) mas mesmo assim fico me perguntando se realmente estarão nas prioridades da educação nacional pública, vamos discutir cada uma e assim poder estabelecer fazeres para esse ensino. https://educacaointegral.org.br/reportagens/estados-e-municipios-pedem-fundeb-permanente-e-mais-recursos-da-uniao/ https://educacaointegral.org.br/reportagens/para-governo-temer-cumprimento-pne-nao-prioridade/ 14 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 10.1) manter programa nacional de educação de jovens e adultos voltado à conclusão do ensino fundamental e à formação profissional inicial, de forma a estimular a conclusão da educação básica; Os órgãos públicos no âmbito municipal são responsáveis pelo ensino fundamental e consequentemente pela EJA, cada município deste país tem uma verba diferente e não priorizada para o EF e como são utilizadas apontam um dos muitos mistérios da educação. 10.2) expandir as matrículas na educação de jovens e adultos, de modo a articular a formação inicial e continuada de trabalhadores com a educação profissional, objetivando a elevação do nível de escolaridade do trabalhador e da trabalhadora; Realmente as matrículas são abertas e a formatação de diferentes maneiras de existir essa ampliação, mas isso fica a cargo da escola e de seus componentes como professores, funcionários. 10.3) fomentar a integração da educação de jovens e adultos com a educação profissional, em cursos planejados, de acordo com as características do público da educação de jovens e adultos e considerando as especificidades das populações itinerantes e do campo e das comunidades indígenas e quilombolas, inclusive na modalidade de educação a distância; De acordo com os programas nacionais não temos esta estratégia desenvolvida nem em âmbito estadual e nem municipal para o desenvolvimento e a extinção da desigualdade social. 10.4) ampliar as oportunidades profissionais dos jovens e adultos com deficiência e baixo nível de escolaridade, por meio do acesso à educação de jovens e adultos articulada à educação profissional; Como podemos ampliar uma estratégia inexistente neste tipo de ensino praticado no país e a articulação ao ensino profissional fica entregue ao professor e sua habilidade em ajudar os alunos da EJA naquilo que chega ao seu conhecimento. 15 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 10.5) implantar programa nacional de reestruturação e aquisição de equipamentos voltados à expansão e à melhoria da rede física de escolas públicas que atuam na educação de jovens e adultos integrada à educação profissional, garantindo acessibilidade à pessoa com deficiência; Aqui caberia uma pesquisa para verificação desta estratégia que na prática não funciona e nem foi pensada pra as escolas públicas que abraçam essa modalidade mesmo com todas as dificuldades que aumentam tanto para a criança como para adulto que frequenta a escola. 10.6) estimular a diversificação curricular da educação de jovens e adultos, articulando a formação básica e a preparação para o mundo do trabalho e estabelecendo inter-relações entre teoria e prática, nos eixos da ciência, do trabalho, da tecnologia e da cultura e cidadania, de forma a organizar o tempo e o espaço pedagógicos adequados às características desses alunos e alunas; Neste item acredito que entra a formação de professores pois poucos cursos se voltam a este estudante e ao seu docente para instrumentalizá-lo para o exercício da profissão com o aluno adulto, enquanto temos a EJA temos que nos voltar a esta realidade. 10.7) fomentar a produção de material didático, o desenvolvimento de currículos e metodologias específicas, os instrumentos de avaliação, o acesso a equipamentos e laboratórios e a formação continuada de docentes das redes públicas que atuam na educação de jovens e adultos articulada à educação profissional; Neste item acredito que entra a formação de professores pois poucos cursos se voltam a este estudante e ao seu docente para instrumentalizá-lo para o exercício da profissão com o aluno adulto, enquanto temos a EJA temos que nos voltar a esta realidade, coloco novamente este comentário porque diz respeito a nós educadores diretamente. 10.8) fomentar a oferta pública de formação inicial e continuada para trabalhadores e trabalhadoras articuladaà educação de jovens e adultos, em regime de colaboração e com apoio de entidades privadas de formação profissional vinculadas ao sistema sindical e de entidades sem fins lucrativos de atendimento à pessoa com deficiência, com atuação exclusiva na modalidade; 16 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Os sindicatos perderam sua maestria em virtude de desvirtuarem a sua real função para as categorias todas e neste caso a de professores; além de sem escolarização existir a deficiência o brasileiro cai em dois fatores de exclusão muito praticados pelo empregador. 10.9) institucionalizar programa nacional de assistência ao estudante, compreendendo ações de assistência social, financeira e de apoio psicopedagógico que contribuam para garantir o acesso, a permanência, a aprendizagem e a conclusão com êxito da educação de jovens e adultos articulada à educação profissional; Existem sim alguns programas sociais e psicológicos, mas são voltados a criança ficando o adulto em um segundo plano e com dificuldade na sua escolarização e profissionalização. 10.10) orientar a expansão da oferta de educação de jovens e adultos articulada à educação profissional, de modo a atender às pessoas privadas de liberdade nos estabelecimentos penais, assegurando-se formação específica dos professores e das professoras e implementação de diretrizes nacionais em regime de colaboração; O regime de colaboração é praticado entre estados e municípios, porém não chega aos estabelecimentos penais e nem há um programa de orientação ao docente para esse tipo de trabalho. 10.11) implementar mecanismos de reconhecimento de saberes dos jovens e adultos trabalhadores, a serem considerados na articulação curricular dos cursos de formação inicial e continuada e dos cursos técnicos de nível médio. Este é um item bem difícil de ser praticado pois assumir que existe uma troca de experiências mesmo com aqueles que possuem uma escolarização não-formal bem diferente do docente que o acolhe é uma questão de formação humana. https://novaescola.org.br/conteudo/2987/pne-meta-10 https://novaescola.org.br/conteudo/2987/pne-meta-10 17 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A partir da década de 40 é que a educação de Jovens e Adultos tem um olhar mais peculiar, visando diminuir o índice de analfabetismo no país, e criam-se os supletivos objetivando o ensino de maneira mais rápida. ... A história da EJA no Brasil foi marcada por muita resistência para chegar como direito de todos, mesmo assim na maioria das vezes, as campanhas para erradicação do analfabetismo não solucionam porque o governo trabalha por meio de baixo investimento. Através de políticas públicas podemos oferecer caminhos e soluções do governo, através de muitas decisões nas esferas sociais, influenciando a população, nos âmbitos educacionais, profissionais e pessoais. Estabelecem-se normas, ou seja, leis, diretrizes, planos, resoluções, estatutos e demais decisões derivadas do poder público. Depois de deliberada a política pública, elaboram-se programas, projetos e pesquisas que devem ser acompanhados e avaliados continuamente, para buscar a solução para o problema. A questão da educação dos jovens, adultos e idosos diferencia-se da educação formal, sendo necessária uma reavaliação de uma modalidade de ensino que atenda às necessidades deste grupo, propor uma relação entre formação e o mercado de trabalho. A EJA deve permitir também uma formação profissional coligada à formação acadêmica. A realidade educacional brasileira é um exemplo acabado de contradição entre a declaração dos direitos e a prática social. Existe um descompasso entre os processos de interação, estudo e trabalho (PICONEZ, 2002). 18 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A educação voltada para jovens, adultos e idosos, que se encontram em atividade, como trabalhadores, coloca-se como uma das mais estratégicas formulações para a possível transformação e, no limite, revolução da sociedade injusta, discriminatória, meritocrática e elitista em que se vive atualmente. (GADOTTI; ROMÃO, 2001). A educação é a possibilidade de mudança para esse grupo, muitas vezes, excluído da sociedade. A EJA vem ao encontro de algumas problemáticas sociais, porém é preciso observar com atenção suas dificuldades e limitações. 19 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 4. AS ESCOLAS DE EDUCAÇÃO BÁSICA E A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS. A questão de uma educação de qualidade, bem como a necessidade do atendimento pelo serviço público a todos é um bordão repetido por muitos. Historicamente e continuamente tivemos problemas de educação no Brasil, especialmente para chegarmos a uma educação de qualidade, bem como atendimento pelo serviço público a todos. A Educação precisa ser multicultural, desenvolver conhecimento e possibilitar integração, ficando contra a exclusão por quaisquer motivos ou discriminação. Para desenvolver uma educação adequada, o professor precisa conhecer a realidade dos alunos e orientar para a prática da cidadania, ir além se ensinar, saber ensinar de forma a articular com a prática, para uma formação cidadã, abranger outras questões, como as sociais, étnicas, culturais, políticas e econômicas. Quando falamos da educação de jovens e adultos a exclusão é ainda maior, mudar este panorama não é fácil. A EJA apareceu no Brasil na época da colonização, em 1549, quando os jesuítas iniciaram a catequese, mas oficialmente somente na época do Império é que houve o estabelecimento do ensino no país. Naquele tempo de Colônia e Império, os jesuítas dominaram a educação, com a intenção de disseminar o catolicismo. Os jesuítas tinham no Brasil,17 escolas entre colégios e seminários, 25 residências e 36 missões. Mas somente após a saída dos jesuítas do país é que se estabeleceu o ensino público. Na época do império havia pouco acesso as classes menos favorecidas, ficava sob poder do império a formação de elites, e em 1834 foi delegada a responsabilidade da educação básica para, as então chamadas, províncias, que ofertavam aulas gratuitas para 20 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância adultos e insuficientes economicamente falando, no período noturno, pois consideravam os populares perigosos e precisavam ser regenerados. Em 1890 mais de oitenta por cento da população do país era analfabeta, inclusive as elites rurais. No início do século passado havia mais de onze milhões de jovens e adultos sem nenhum acesso à educação. A partir de então começaram a se formar grupos de alfabetização com esta finalidade, mas a partir de meados do século passado, através do Decreto 19513/45 se tornou oficial. Marcos Históricos da EJA • Liga Brasileira Contra o Analfabetismo (1915) • Lei Orgânica do Ensino Primário (1946) - construção de material pedagógico apropriado, guia de leitura e alfabetização • Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos – CEAA (1947); • Movimento de Educação de Base – MEB, sistema rádio educativo criado na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil com o apoio do Governo Federal (1961); • Centros Populares de Cultura – CPC (1963); • Campanha Pé no Chão Também se Aprende a Ler – CPCTAL; • MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização (1967) • FUNDAÇÃO EDUCAR (1985) • PAS - Programa de Alfabetização Solidária (1996) • Pronera - Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (1998) • Brasil Alfabetizado (2003) A nova LDB 9394/96 aumentou a formação, considerou diversas modalidades de EJA de acordo com as necessidades sociais, e especialmenteem relação a redução da idade mínima de entrada do aluno. A nova LDB, em seu artigo 4, estabelece: 21 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância "O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de ensino, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria". E no art. 37, trata da educação de jovens e adultos: "A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria". A escola pública e a realidade que para as pessoas que vivenciaram a escola de alguns anos atrás, e presenciam os atuais acontecimentos da escola pública no Brasil hoje, notam uma mudança catastrófica com relação ao comportamento dos alunos, falta de interesse pelo conteúdo e desrespeito pelos professores são apenas alguns dos problemas enfrentados em sala de aula, além desses uma série de problemas chegam a se somar tomando o efeito de uma bola de neve, onde o bullying e a violência torna-se o ponto mais crítico desse somatório de dificuldades. Mas onde estará o ponto chave dessa mudança de atitudes? Será que a escola é a única responsável por toda essa mudança? A essas indagações podemos colocar inúmeras outras. Os estudiosos das didáticas escolares propõem suas teorias até certo ponto magníficas nas suas apresentações teóricas, mas quando nós profissionais da educação tentamos colocá-las em prática no nosso dia a dia, ficamos com a perturbadora sensação que não funcionou como deveria, ou pelo menos como os especialistas achavam que funcionaria. Se nós compararmos a escola pública de hoje com a de anos atrás, fica óbvia a estratosférica diferença de qualidade, onde a quantidade de recursos era bem inferior, e mesmo assim a qualidade do ensino e do aprendizado dos alunos no tocante ao interesse era muito superior aos dos dias atuais. A educação é o ponto básico para estruturar toda uma sociedade, e isso não é novidade pra ninguém, porém a forma indiscriminada de tratamento dispensada aos professores, que tentam produzir e elevar a qualidade da educação em nosso País tem mostrado o outro lado obscuro da nossa realidade educacional. 22 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Uma infeliz realidade que privilegia a quantidade e faz por desmerecer a qualidade, deixando de forma clara o reflexo de tudo isso, que pode ser constatado na qualidade limitada dos bons profissionais que existe hoje no mercado de trabalho. O retorno à escola Se parte do entrave da EJA está em garantir que estas pessoas tenham condições de dedicar tempo para os estudos, outra vem da dificuldade de ressignificar a escola. “Quando nossos alunos de EJA chegam aqui, temos que trabalhar com a autoestima deles, porque se sentem fracassados e incapazes. A escola não pode perder de vista todos esses sentimentos e a bagagem de vida que estes alunos trazem, porque tudo isso interfere na aprendizagem”, afirma Eva Chow, coordenadora de projetos do Centro Paula Souza. Sonia Couto pontua ainda que é preciso fazê-los entender que foi a escola que fracassou, não eles Sonia Couto pontua, ainda, que é preciso fazê-los entender que foi a escola que fracassou, não eles, e que o ambiente onde estão agora é diferente daquele onde se sentiram humilhados ou jamais acessaram. A noção que a escola como esta estruturada empurra os alunos com dificuldades e/ou defasagem série idade para fora e dificulta sua continuidade nos estudos e muitas vezes não aceita os saberes populares dos alunos de outra faixa etária e social. https://meuartigo.brasilescola.uol.com .br/atualidades/a-escola-publica- ontem-realidade-hoje.htm https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/atualidades/a-escola-publica-ontem-realidade-hoje.htm https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/atualidades/a-escola-publica-ontem-realidade-hoje.htm https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/atualidades/a-escola-publica-ontem-realidade-hoje.htm 23 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância “Temos que mostrar que são pessoas de muita coragem para voltar e enfrentar esse desafio, ou para os que nunca estiveram em uma escola, que são capazes de aprender. Mais do que isso, que eles já têm muito conhecimento acumulado por meio de experiências ao longo da vida e que esses saberes são tão importantes quanto os curriculares. Depois de entender isso, eles deslancham”, diz Sonia Couto. A EJA, deve procurar trazer novas metodologias, reconhecer o direito do jovem/adulto de ser parte, seus interesses e vínculos com o trabalho, propor uma renovação curricular com sugestões interdisciplinares e transversais. 24 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 5. FORMAÇÃO DE PROFESSORES NA EJA Nas décadas de 50 e 60, os movimentos da área de educação buscaram sua inspiração em Paulo Freire, numa educação dialógica e de valorização da cultura popular, objetivando uma transformação social para uma sociedade mais justa e igualitária. Não é suficiente ensinar somente o que é conhecido, é preciso capacitar para questionamento, reflexão, transformação e criação, utilizar métodos para a facilitação de aprendizagem, despertar sentimento para fazer e refazer, criar e construir. Importante despertar a consciência, garantindo a importância da diversidade dos alunos e suas diferentes histórias, expectativas e saberes, lembrando que devem chegar ao mesmo objetivo, através do conjunto das práticas pedagógicas utilizadas. A conquista da cidadania só é possível com o empoderamento do direito a leitura, a escrita e a conscientização. Isto é muito além da alfabetização, vai além do ensinar e sim se refere ao compartilhar, ao compreender a dificuldade do próximo que chega a você professor com dificuldades que vão muito além de somente pedagógicas. 25 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Paulo Freie foi um educador que via na educação o poder de mudança social pelo conhecimento; o tempo avançou e o Brasil cresceu em população, em problemas sociais, econômicos e educativos ao ponto de não conseguirmos ver as estratégias para essa mudança. O professor hoje tem sua vida profissional marcada igualmente ao seu aluno da EJA de grandes dificuldades inclusive de material adequado e de formação adequada que possibilite um trabalho de qualidade. A nova LDB veio normatizar aquele sistema educacional para garantir acesso igual a educação de todos, sugerindo mudanças profundas na educação básica. Havia o dilema sobre qual tipo de formação deveria ser oferecida, se tradicional humanista, cientifica ou preparatória para ingresso nível superior, mas o problema continuava sobre a formação das ideias. A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação, reconhece a EJA como educação básica, com currículo próprio para atender as características deste público. A prática docente para a EJA, diferente da proposta tradicional de alfabetização, exige seu comprometimento com estas realidades e vivencias, reconhecendo suas 26 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância particularidades e especificidades, pois requer um posicionamento crítico em relação a transmissão de conteúdos e observando a realidade social do aluno. Importante ressaltar a importância da linguagem dialógica proposta por Paulo Freire, a técnica do diálogo, para o alcance, clareza e superação das dificuldades no aprendizado, utilizando especialmente a problematização dos conteúdos do currículo em relação a aplicação pratica na vida e no mundo. Assim, há a preocupaçãono desenvolvimento da consciência política através do trabalho coletivo e valorização das práticas sociais dos alunos da EJA, transformando estes alunos em sujeitos ativos na sociedade, como articuladores e com postura crítica em constante processo de formação e evolução. 27 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 6. ALUNOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS O que acontece é que existem grandes disparidades entre ricos e pobres. De acordo com estudos realizados, a população pobre encontra-se em desvantagem principalmente ao se tratar de jovens e adultos sem escolarização e com baixa produtividade social uma vez que não possuem empregos formais. Os educadores para fazerem parte do corpo docente do EJA devem ter uma formação inicial, além de contribuírem de forma relevante para o crescimento intelectual do indivíduo, realizando o exercício de cidadania. Entre os anos de 1930 e 1940 implantou-se o ensino supletivo para alfabetização de adultos, não levando em conta este público diferenciado, e ainda se pensava da mesma forma que o sistema utilizado para as crianças. Somente após 1950 que o país avançou em relação a EJA, com o surgimento das propostas de Paulo Freire, que calcava suas ideias na prática de movimentos da cultura popular, da educação de base e outros ditos emancipatórios ou libertadores. A emancipação só ocorre quando há a conscientização da capacidade intelectual e se decide utilizá-la. Ou seja, tem como escopo, partir do conhecimento já adquirido pelo aluno em sua vivência, e acrescentar novos conhecimentos ou melhorar aqueles que ainda não estão prontos para uso. Assim o método propõe o fim do nivelamento por baixo, que é 28 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância muito comum na rotina das escolas, por ser injusto e não respeitar a bagagem de cada aluno. Em 1960, período denominado de ditadura, este método foi cerceado e fora implantado em 1967 o chamado Mobral, que visava somente a alfabetização sem a problematização de ideias e desenvolvimento crítico. Sua extinção se deu em 1980 com a criação da Fundação Educar que tinha objetivo de incentivar e financiar programas educacionais voltados aos que foram excluídos ou nem tiveram acesso ao estudo, tendo sido extinta em 1990. O aluno da EJA tem uma dificuldade grande em chegar na escola seja para uma informação ou mesmo para a matrícula e são desconhecedores dos seus direitos e deveres justamente pela falta de leitura e escrita. Entrar na sala de aula com outros adultos, é um fator que mistura vergonha e revolta pois eles sabem que deveriam ter estudado antes; as vestimentas e os modos diferem em muito das crianças que não tem essa percepção. Lidar com o aluno da EJA que é sempre um trabalhador(a) com vida social e familiar distante de nossa realidade como docente; já passaram por dificuldades que vão desde maus tratos, privação social, financeira, emocional e muito mais. A escola e o docente precisam se unir para receber este aluno a assim adequar a escola noturna na sua maioria das vezes de forma pontual e direta para que ele não sinta o peso do cansaço e da falta de disposição e sim sinta prazer em estar na escola e fazer amigos e pessoas que se importam com ele(a). Cada aluno é único, mas na EJA essas diferenças são gritantes e todos precisam de uma atenção especial pois suas dificuldades humanas são maiores que das crianças. Tratar o aluno como um ser humano vencedor dentro de suas possibilidades é essencial ao bom andamento do educando e de sua aprendizagem. 29 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Para a maioria dos jovens que cursam a EJA, a modalidade serve como uma aceleração dos estudos, buscando um certificado que permita-lhes prosseguir com os estudos. Por não se sentirem representados pela escola que frequentam, eles enfrentam dificuldades em identificar-se com ela. Para Cesar Callegari, sociólogo e membro do Conselho Nacional de Educação ,“alega-se que há um desinteresse na EJA por parte das pessoas, mas isso acontece por causa da falta de preparo de professores, falta de estrutura, falta de um currículo interessante e atendimento às expectativas”. Visando chamar o jovem para dentro da escola e dar possibilidades para que ele prossiga com os estudos, especialistas defendem que são necessárias políticas públicas e pedagógicas direcionadas a eles. Para Roberto Catelli, “a primeira coisa a se pensar é qual é o papel desse sujeito na rede de ensino, que trabalho precisa ser feito e com que tipo de currículo”. De acordo com ele, a proposta pedagógica na EJA ainda resume de maneira precária o que se faz na escola convencional. “O conflito entre gerações é complicado porque os mais novos acham que sabem tudo, e aprendem mais rápido do que os mais velhos. O desafio dos professores é planejar atividades para todos”, afirma a coordenadora geral da unidade do Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos (Cieja) do Campo Limpo, na grande São Paulo, Êda Luiz 30 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Dado a falta de identificação com a escola, Êda aponta que a evasão na EJA durante essa faixa etária também é grande, pois o jovem entre 15 e 19 anos ainda se sente obrigado a estar na escola. Segundo a gestora, “esses alunos são muito velhos para a escola regular, porém muito novos para a EJA; é necessário pensar em polí ticas próprias para a idade deles”. 31 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 7. PRÁTICAS E METODOLÓGIAS DA EJA NO EF Para entender um pouco a questão das práticas de alfabetização e letramento e do ensino fundamental da EJA, necessitamos relembrar fatos que motivaram a alteração do cenário no país. A partir de 1980 o país busca elevar seus lucros através da mudança no mundo da produção, novos padrões de tecnologia, automatização da produção, diminuição de postos de trabalho e com isto temos o aumento de trabalhadores excluídos do mercado com a diminuição dos postos de trabalho e do aumento do número de subcontratações, de trabalho temporário e modelos informais. Lembro ainda, o espaço educacional só evolui quando estimula a compreensão e as ideias, e para tanto devemos estabelecer a relação entre política e educação, afinal é determinante no curso da construção de uma sociedade democrática, especialmente devido à complexidade dos desdobramentos da vida social. Assim, se refletirmos sobre os fatos apresentados, passamos a compreender as reais necessidades de aprendizagem dos alunos da EJA. Para a formação de trabalhadores é necessário empreender ações de formação de pessoas dotadas de pensamento crítico e que desejem ser ativos de sua própria história. Para isso o ensino deve se aproximar do aluno e fazer sentido na vida dele. É importante dialogar sobre o campo de atuação profissional, mundo do trabalho e sobre a vida. 32 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Promover uma Educação emancipatória significa ouvir dos alunos a realidade vivenciada dentro e fora da escola, de forma conexa, construída com base em articulações históricas, políticas e culturais, possibilitando traçarem suas próprias conclusões e análises sobre toda ela. Assim, o professor deve observar os sujeitos para compreender como produzem ou produziram seus conhecimentos, seu conhecimento de mundo, quais suas lógicas, estratégias e táticas para resolver as situações e enfrentar os desafios. Com base nisto interagir e articular os conhecimentos prévios destes alunos frente aos disseminados pela cultura escolar ede múltiplas aprendizagens, reinventando a didática para a organização de seu trabalho pedagógico. A formulação de respostas deve ser político-pedagógica para atender as necessidades dos envolvidos no processo, ou seja, nem puramente instrumental, nem totalmente acadêmica. A construção do conhecimento se dá como algo edificado socialmente, situando o sujeito durante as reflexões para que participem de forma consciente do processo. Significa reconhecer suas características, sua vivência, sua referência cultura, resgatando seus conhecimentos prévios e problematizar dialogando com seus cotidianos, inserindo o aluno. O desafio da compreensão pode mobilizar o aluno da EJA se for algo de seu interesse, como resgatar algum fato de seu trabalho, sua busca ou rotina. Estas inserções, além de despertar o interesse para aquisição de novos conhecimentos, abre espaço para conduzir o estudante a compreensão de seus direitos, estratégias para organizar seu próprio negócio, compreender melhor o funcionamento da região onde está inserido, as demandas e como abrir seu espaço no mercado de trabalho. Os alunos da EJA não têm garantia de colocação no mercado de trabalho e melhoria de vida, mas poderão, através dela ter novas possibilidades para alcançar esses e outros objetivos. Por isto é tão importante compreender a realidade deles, maneiras de aprender e assim favorecer as lógicas de aprendizagem. Relevante estimular compreender e aprender uns com os outros através de atividades cognitivas, afetivas, emocionais para serem prazerosas, atuar positivamente 33 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância sobre o estigma do preconceito no retorno a escola devido a estudos interrompidos, idade, dificuldades de adaptação e baixa autoestima. Lidar com as diferenças para sermos todos iguais, este é o caminho, afinal a educação não é uma questão de oportunidade para alguns, mas um direito de todos. A diversidade deve sempre ser trabalhada a favor da aprendizagem, estimulando o compartilhamento de vivências e experiências, de maneira respeitosa e construtiva. Outro ponto importante é conectar o cotidiano do aluno com os temas a serem desenvolvidos, dialogando com sua realidade, tornando-o um sujeito ativo na relação de ensino e aprendizagem. Desta forma ele despertar o interesse e desenvolve seu raciocínio lógico para análise, debate e interação. Devido a todas estas características, o trabalho na EJA deve ser pensado de maneira interdisciplinar, lidando com um conjunto amplo de informações, envolvendo diversas áreas de conhecimento e trabalhando o desenvolvimento da cultura e construção de conhecimento integrado, de maneira a desenvolver a compreensão de contextos e as relações existentes entre as disciplinas. COMO PENSAVA E TRABALHAVA PAULO FREIRE 1.º Momento: Investigação Temática Pesquisa sociológica: trata-se da investigação do universo vocabular e estudo dos modos de vida na localidade (estudo da realidade). 2.º Momento: Tematização Seleção dos temas geradores e das palavras geradoras. “Tematizar” é transformar o observado em temas, para que se possa estudar, minuciosamente, seus componentes. 3.º Momento: Problematização Busca da superação da primeira visão ingênua por uma visão crítica. Esta visão crítica objetivava transformar o contexto vivido. A abordagem metodológica privilegiava a leitura do mundo como instrumento de análise crítica da realidade. 34 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Ao se utilizar essas práticas, amplia-se o conceito de alfabetização, que é entendida como uma fase inicial da aprendizagem da cultura escrita, devendo ser ampliada, gradativamente, de modo a possibilitar o uso social da leitura e da escrita nas práticas cotidianas. O que atualmente vem sendo chamado de letramento, sempre foi, para Freire, o papel da alfabetização. Nesse sentido, podemos utilizar a palavra alfabetização para designar um processo contínuo de aprendizagens e de seu uso social. Na perspectiva freiriana, a aprendizagem é sempre uma ação transformadora, e transformar, nesse sentido, é utilizar o aprendido para qualificar as intervenções no cotidiano. Passados 54 anos de existência do Método Paulo Freire, ele permanece atual e cada vez mais necessário. Além de atender a um desejo do seu criador, atende às necessidades de milhares de educadores e educadoras que desejam fazer de suas práticas político- pedagógicas ações de emancipação, libertação e ressignificação do ato de aprender e ensinar. (Sonia Couto é mestre em Educação e doutora pela Faculdade de Educação da USP. Professora aposentada da Rede Municipal de Educação de São Paulo, é licenciada em Letras e Pedagogia. É autora do livro Método Paulo Freire, a reinvenção de um legado Brasília (Liber livros, 2008) e de livros didáticos para EJA na perspectiva freiriana, dentre eles o material didático do Programa Tecendo o Saber, da Fundação Roberto Marinho e do SesiEduca no Rio de Janeiro. Foi também uma das coordenadoras responsáveis pelo Projeto Memória Edição Paulo Freire (2005). Tem artigos publicados em revistas acadêmicas e em cadernos pedagógicos para Secretarias Municipais de Educação. Participou como docente e coordenadora pedagógica de projetos de Alfabetização de Jovens e Adultos em vários estados. Atualmente coordena o Centro de Referência Paulo Freire, que tem como missão socializar e dar continuidade ao legado de Paulo Freire.) Observa-se que os alunos da EJA têm postura crítica diante de própria realidade, sabe identificar suas necessidades e tem consciência de sua função transformadora na realidade social. Eles apresentam imenso interesse em estudar por acreditar em um futuro melhor a partir de sua valorização pois neste quadro ainda temos trabalhadores desempregados, oprimidos e excluídos. A EJA é um processo de conhecimento para a democracia e a cidadania. Temos um quadro de alunos na EJA que são donas de casa, jovens e adultos, Portadores de deficiência, desempregados, todos vêm com uma carga de carências de diversos tipos, incluindo as problemáticas culturais e de relações étnico-raciais. 35 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Além disto, este aluno coloca o trabalho em primeiro plano pois necessita manter sua família, ele chega na aula já pensando em ir embora, com sono, cansado do trabalho. Por isto a importância de repensarmos a maneira de fixar este aluno através de práticas pedagógicas especificas a esta realidade. O educando da EJA luta para superar suas dificuldades de condições de vida precárias e direitos básicos para sua dignidade, como exemplo o trabalho, alimentação, saúde, moradia e outros. Outra dica importante você pode encontrar visitando outros links para qualificação docente, como o EJA para o Mundo do Trabalho. EJA - Mundo do Trabalho é um programa do Governo do Estado de São Paulo que oferece educação para jovens e adultos com conteúdos que dialogam com o mundo do trabalho. EJA – Mundo do Trabalho é um programa do Governo do Estado de São Paulo, coordenado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (SDECTI), que, por meio de parcerias com a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (SEE) e com as Secretarias Municipais de Educação, oferece educação para jovens e adultos, com conteúdos que dialogam diretamente com o mundo do trabalho. No âmbito do Programa é de responsabilidade da SDECTI fornecer os materiais didáticos elaborados especialmente para as aulas e, ainda, capacitar os professores, no que se refere à concepção e à proposta metodológica do Programa. Caberá às prefeituras e a SEE, a contratação de professores e a disponibilização de infraestrutura e logísticanecessárias para a execução do Programa. O Programa atende jovens e adultos que finalizaram o Ensino Fundamental - Anos Iniciais (5º ano), mas que não puderam continuar os estudos. São pressupostos do Programa: 1. O reconhecimento de que o acesso à educação pública e a permanência nela é um direito dos cidadãos a ser garantido pelas políticas públicas a qualquer tempo. Nesse 36 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância sentido, a educação de jovens e adultos é, antes de tudo, um resgate à dívida social que se tem em razão do impedimento de exercer o direito aos estudos na idade adequada; 2. A percepção de que jovens e adultos que retornam à escola têm o mundo do trabalho como um locus privilegiado, posto que dialoga diretamente com seu cotidiano. Por essa razão, elegeu-se o trabalho como eixo estruturante do Programa, e o conjunto do material elaborado, além de estabelecer um diálogo permanente com esse tema, inclui a disciplina Trabalho na parte diversificada do currículo. Nela são estudados conteúdos relativos à compreensão da evolução do trabalho na história, e também aspectos que auxiliam os estudantes na construção do seu currículo, na procura do primeiro ou de um novo emprego e, principalmente, no reconhecimento dos conhecimentos que acumulou durante a vida. Dessa forma, os estudantes conhecerão a origem das ocupações, as raízes da industrialização, a organização sindical no Brasil, os direitos trabalhistas, como ler informações e dados relativos ao mercado de trabalho na região em que vivem, as diversas formas de seleção empregadas pelas empresas, estratégias para viabilizar um negócio por conta própria, entre outros temas. 3. O reconhecimento e respeito à heterogeneidade das experiências de vida, conhecimentos e convicções do público de jovens e adultos que frequenta as classes da EJA. Os materiais em múltiplas mídias produzidos para uso em sala de aula e pelo professor - Caderno do Estudante, Caderno do Professor, vídeos e boletins com perfil socioeconômico da região - levam em conta essas premissas ao trabalhar com: os temas relevantes ao estudante/trabalhador, a interdisciplinaridade e as atividades voltadas para o levantamento de seus conhecimentos prévios, bem como uma ação permanente de problematização da realidade. Em sua fase inicial, o Programa atenderá pessoas interessadas em cursar o Ensino Fundamental – Anos Finais. A implantação das classes ocorrerá de forma progressiva. Foi desenvolvida para o Programa EJA - Mundo do Trabalho uma série de materiais didáticos para os cursos promovidos. Disponibilizamos aqui os Cadernos do Estudante, os Cadernos do Professor e os vídeos utilizados em sala de aula. Reveja esse material e aproveite as dicas de conteúdos complementares. 37 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Ainda, o site apresenta o material didático desenvolvido para o Programa EJA - Mundo do Trabalho e direcionado especialmente aos estudantes e professores dos Centros de Educação de Jovens e Adultos (CEEJAs). Você encontrará os Cadernos do Estudante, Cadernos do Professor e os vídeos que os complementam, os quais visam promover, ao mesmo tempo, um estudo autônomo e que promova a reflexão sobre aquilo que está estudando. EJA - Mundo do Trabalho é um programa do Governo do Estado de São Paulo que oferece educação para jovens e adultos com conteúdo que dialoga com o mundo do trabalho: 38 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 8. PRÁTICAS e METODOLÓGIAS DA EJA no EM Podemos observar que a educação está voltada para atender demandas econômicas, à inserção no mercado de trabalho, mas não devemos esquecer a necessidade de formação de um ser social com sua emancipação cidadã. A educação integral deve estar voltada não só a formação profissional, mas na condução do indivíduo para a capacidade de problematização da realidade e inserção social, evitando sua exploração, e incentivando a lógica na formação cidadã. Assim, podemos afirmar que ser professor de EJA tem como requisito estar preparado para a formação de cidadãos. Para tanto, além da formação adequada, o educador deve estar constantemente envolvido no processo de conhecimento e aquisição constante de novos conhecimentos e informações. O professor, apesar de sua formação universitária, nunca está completo, exige a continuidade da busca por novos saberes, ter consciência do seu limite e acompanhar o aluno nas suas mais diversas necessidades de aprendizagem. 39 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância “Ninguém nasce educador ou marcado para ser educador. A gente se faz educador, a gente se forma como educador, permanentemente, na prática e na reflexão da prática.” (Paulo Freire) As constantes mudanças nas esferas econômicas, política e social, tecnológica e cultural, pressiona a escola a adequação de acordo com as exigências do mercado de trabalho, influenciando a educação, exigindo que a escolarização acompanhe estas mudanças, tornando cada vez mais complexa a prática de ensinar. Por estes motivos é importante destacar a necessidade de uma educação continuada, de repensar suas práticas, desenvolver novos modelos, de maneira atuante no seu espaço histórico, com crescimento de sua responsabilidade e saber. Importante a postura crítica do educador, pois a prática educativa é acima de tudo um desafio, com questionamentos constantes, revisão de conceitos, ultrapassando preconceitos, quebrando paradigmas, realizando a leitura de mundo constantemente. Só descobrimos o mundo quando nós descobrimos no mundo. (Paulo Freire) 40 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Por serem as salas de aula da EJA um espaço de diversidades de grupos, classes sociais, visões de mundo, valores, crenças, padrões de comportamentos e outros, esta mesma diversidade deve nortear o desenvolvimento das atividades do professor, que deve se preparar através da pesquisa, da informação, da busca por novos conhecimentos. O docente da EJA nesta etapa do ensino médio deve ser ousado pois exige formação complexa e especializada, que saiba desenvolver práticas dinâmicas para o envolvimento e o despertar dos alunos para uma formação mais abrangente. A educação é uma ação transformadora, e para mudar é necessária autonomia e ousadia, características que por vezes carecem os profissionais da educação. Saber ensinar através da abertura de novas possibilidades, de situações reais, realidades concretas, da aproximação de conteúdos aos significados. A finalidade da EJA está vinculada ao compromisso com a formação humana e acesso à cultura geral, proporcionando o desenvolvimento da autonomia intelectual e moral do aluno. Assim, trata-se de uma formação sólida do docente, que possibilite ao aluno aprender de maneira critica através da participação do trabalho e da vida coletiva, da dinâmica das relações e mudanças sociais, utilizando metodologias adequadas de conhecimentos científicos, tecnológicos e sócio históricos. Podemos observar que a educação está voltada para atender demandas econômicas, à inserção no mercado de trabalho, mas não devemos esquecer a necessidade de formação de um ser social com sua emancipação cidadã. 41 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Sugestão - conhecer o CIEJA Campo Limpo http://blogdociejacampolimpo.blogspot.com.br/ Mais sobre CIEJA e entrevista no livro virtual Volta ao mundo em 13 escolas - http://educ-acao.com/baixe-o-livro-volta-ao-mundo-em-13-escolas/ http://blogdociejacampolimpo.blogspot.com.br/http://educ-acao.com/baixe-o-livro-volta-ao-mundo-em-13-escolas/ 42 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 9. PRÁTICAS DE ENSIN O VOLTADAS A EJA - ELABORAÇÃO DE PROCEDIMENTOS DE ENSINO E MATERIAL DIDÁTICOS ADEQUADOS. O analfabetismo no país ainda é grande e pesquisas explicam que o ensino da língua portuguesa é afetado não só por problemas pedagógicos, mas especialmente por fatores econômicos, políticos e sócio culturais. os alunos estando em níveis diferentes de aprendizagem muitas vezes não compreende alguns textos ou leituras. Os quase totalmente analfabetos são uma parcela da população que foi excluída dos bens de consumo, tem funções de qualificação precária, ganham os menores salários, a maior parte são do Nordeste, vindos de zona rural. “A alfabetização começa no ensino do ler e escrever” Paulo Freire. Parcela considerável de pessoas é privada do exercício da cidadania por não ter acesso ao ensino fundamental ou pela impossibilidade de nela permanecer, em decorrência não possuem escolaridade alguma, não dominam a escrita e sequer todas as práticas sociais decorrentes. Devido ao pouco material teórico para EJA, muitos professores utilizam materiais desenvolvidos para a educação infantil e o ensino fundamental, repercutindo de forma errada no processo de ensino e aprendizagem do aluno. Esse é um dos nossos maiores erros. O professor, mesmo que comprometido no desenvolvimento e aplicação pedagógica correta, necessita evoluir e capacitar-se objetivando a formação deste aluno da EJA, especialmente na questão da escrita alfabética. Falar adequadamente não é o bastante para saber ler, tampouco saber desenhar os símbolos. 43 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Nosso aluno da EJA deve ser estimulado a superar suas dificuldades, visto ter uma bagagem de vivências e certa compreensão das funções sociais da língua. Desta maneira, ele pode ser capaz de compreender contextos dos textos, facilitando o entendimento de seus significados. De grande importância pedagógica para a EJA é a informação de que o ambiente letrado pode proporcionar na produção e acúmulo de conhecimentos, demonstrando a relevância do contexto, do saber efetivo de cada indivíduo como fonte de significados para sua evolução. O ideal seria termos a possibilidade de unir a alfabetização ao letramento. Letrado é o indivíduo que sabe ler e escrever, mas que consegue também responder adequadamente às demandas sociais da leitura e da escrita. O ato de alfabetizar levando em conta o objetivo de letramento, é conseguir ensinar a ler e escrever na conjuntura das práticas sociais da leitura e escrita, afinal a linguagem é um fenômeno social, estruturada de forma ativa sob o ponto de vista cultural e social. O letramento é um processo de inserção numa cultura letrada. A escrita tem função emancipadora, seu desenvolvimento justifica parte das dificuldades dos estudantes da EJA com os textos literários. Desta maneira, também se justifica a preocupação de muitos professores de insistir em trabalhar com textos, especialmente aqueles relacionados com a vida e ambiente de trabalho, utilizando-os como estratégia de motivação à leitura e à escrita mesmo quando chegam ao EF II ou ao EM. Uns dos maiores problemas para o professor, na prática, são metodologias e materiais inadequados ao aluno da EJA, ele não pode ser alfabetizado pelos mesmos métodos e materiais que são utilizados para crianças. 44 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A melhor maneira é utilizar o próprio aluno, sua capacidade de pensar e refletir, fazer com que ele creia nisso e entenda sua função social, no lugar e no tempo. O conhecimento que o professor aproveita deixa a aula contextualizada. Metodologias adequadas para a faixa etária são essenciais para que se garanta a permanência desses alunos na escola, e a interdisciplinaridade contribui, visto relacionar conhecimentos de áreas distintas de uma forma global, pois registra as vivências nas experiências cotidianas do aluno, do professor e da sociedade, que na escola tradicional, é fragmentada. O professor deve trazer assuntos para fazer a conexão entre a rotina do estudante e o que está proposto no currículo, no conteúdo programático, e aproveitar o conhecimento prévio destes alunos. Alguns exemplos como as contas de luz, água, carteira de trabalho, etc..... O Instituto Paulo Freire (IPF), que há 26 anos trabalha na continuidade e reinvenção de seu legado, é sempre perguntado sobre o método de Alfabetização de Adultos que leva seu nome. Na verdade, é mais do que um método de ensino. Paulo Freire construiu uma filosofia educacional que pode e tem sido utilizada da educação infantil à pós-graduação, e para além, sendo referência em outras políticas sociais como a Saúde, a Assistência Social, a Cultura etc. Por isso, é oportuno resgatarmos no que consiste o Método Paulo Freire para que se compreenda, com olhos contemporâneos, o cenário educacional brasileiro e atual. Não é demais observar ainda que o Instituto Paulo Freire, como parte das homenagens ao 45 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância educador, está, neste momento, realizando a “Jornada Pedagogia da Autonomia”, que dá origem a um curso, nos meses de maio e junho, intitulado “Aprenda a dizer a sua palavra” (Mais informações em www.paulofreire.org). Em 2012, Paulo Freire foi considerado o Patrono da Educação Brasileira pela sua imensa contribuição a favor de uma educação transformadora. Seu trabalho nessa direção surgiu a partir da criação de uma metodologia de alfabetização de adultos conhecida como Método Paulo Freire. O que hoje conhecemos como a Alfabetização de Adultos surgiu com o trabalho realizado por Freire na década de 1960. Paulo Freire foi convidado a coordenar o trabalho em Angicos, em função do sucesso de experiências anteriores com essa metodologia e por sua postura inovadora em relação ao analfabetismo, inserindo-o na categoria de problema social, em oposição ao enfoque tecnicista vigente na época. Freire iniciou o trabalho em Angicos com a formação inicial dos/as educadores/as populares que atuariam como “animadores de debate”, como eram conhecidos os/as alfabetizadores/as que atuavam nos círculos de cultura por ele criados. Foram dez dias de círculos de diálogos com auditórios lotados, em que eram discutidas questões pertinentes ao tema, em especial as relativas ao papel do educador, numa sociedade em transformação, e à importância das relações entre educador/a e educando/a, no processo de ensino e aprendizagem. Paralelamente à formação desses/as educadores/as, um estudo do universo vocabular dos/as futuros/as alfabetizandos/as estava sendo realizado sob a coordenação de Maria José Monteiro, estudante universitária e membro da equipe de Paulo Freire. Esse estudo (in loco) culminou com o levantamento de 400 palavras, das quais foram escolhidas aquelas que comporiam o léxico das 40 aulas previstas no projeto. A seleção das palavras por Freire e sua esposa Elza, também educadora, se deu em função das dificuldades e facilidades fonéticas, ou seja, o conjunto dos vocábulos que deveria conter, em grau crescente, as diferentes composições fonêmicas. No dia 28 de janeiro de 1963, teve início a primeira aula dessa experiência que viria a ser conhecida no Brasil e no mundo como “As 40 horas de Angicos”. Além de abordar o http://www.paulofreire.org/ 46 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância tem alfabetização, a aula abordou o educador numa sociedade em transformação e a importância das relaçõesentre educador e educando no processo de ensino e aprendizagem. A 40ª aula aconteceu no dia 2 de abril de 1963, com a presença do então presidente João Goulart, que, junto às autoridades, alunos e imprensa, comprometeu-se em dar continuidade ao projeto em âmbito nacional, convidando Paulo Freire para coordenar a Campanha Nacional de Alfabetização. O que de mais precioso Freire nos deixou foi uma metodologia sobre como podemos pensar o pensado, como compreender criticamente nossa realidade, com uma abertura para a análise da cultura e, portanto, uma maneira de filosofar sobre a filosofia. O educador de jovens e adultos e sua formação http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 46982008000100005 Políticas de Alfabetização http://www.ifrs.edu.br/site/midias/arquivos/2013618143318155diretoria_d e_politicas_de_alfabetizacao_e_educacao_de.pdf http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-46982008000100005 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-46982008000100005 http://www.ifrs.edu.br/site/midias/arquivos/2013618143318155diretoria_de_politicas_de_alfabetizacao_e_educacao_de.pdf http://www.ifrs.edu.br/site/midias/arquivos/2013618143318155diretoria_de_politicas_de_alfabetizacao_e_educacao_de.pdf 47 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Alarmante o relatório da UNESCO aponta que mais de 960 milhões de adultos, dois terços dos quais mulheres, são analfabetos, e o analfabetismo funcional é um problema significativo em todos os países industrializados ou em desenvolvimento. Mais de um terço dos adultos do mundo não têm acesso ao conhecimento impresso, às novas habilidades e tecnologias, que poderiam melhorar a qualidade de vida e ajudá-los a perceber e a adaptar-se às mudanças sociais e culturais. Mais de 100 milhões de crianças e incontáveis adultos não conseguem concluir o ciclo básico, e outros milhões, apesar de concluí-lo, não conseguem adquirir conhecimentos e habilidades essenciais. A meta estabelecida pelo governo brasileiro também não foi cumprida e o analfabetismo se relaciona diretamente com os grupos mais vulneráveis economicamente, ou seja, não estamos alcançando o previsto na LDB para proporcionar acesso aos direitos sociais e a cidadania. A verdadeira solidariedade não se encontra senão na plenitude deste ato de amor, em sua realização existencial, em suas práxis (Freire, 1980, p.59). Você pode conhecer um pouco mais sobre este tema, acesse o conteúdo do artigo A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E OS MOVIMENTOS SOCIAIS DO CAMPO, de Ramofly Bicalho dos Santos, no link: http://periodicos.ifsc.edu.br/index.php/EJA/article/view/1490#.WajDhvmGPIU (acesso em 29/04/18) Assim, ENSINAR adultos não é somente ensinar ler e escrever através dos códigos e figuras, de maneira mecânica, perpassa por todas suas dificuldades e vivências para a partir destes extrair as bases de sua construção como novo ser consciente. http://periodicos.ifsc.edu.br/index.php/EJA/article/view/1490#.WajDhvmGPIU 48 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância É a própria democratização da educação, sem hierarquia entre educador e educando, sendo que aquele conduzirá o segundo na construção do seu saber, sem autoridade ou imposições. O educando deve compreender a aplicação pratica do que está sendo ensinado. Relacionar estes conceitos com a aplicação na EJA, nos faz encontrar a evidência destes fatores que se voltam a uma educação voltada para a transformação. Na busca pela autonomia observe que se dá diante de uma consciência capaz de assumir perspectivas coletivas, capazes de ultrapassar interesses individualistas, mais cidadania, capacidade de participação do indivíduo na comunidade, realização de ações efetivas, engajadas, busca de um bem coletivo. Ao olhar a charge vemos um exemplo disso, qual a relevância desse tipo de aprendizagem????????? Educação de Jovens e Adultos e/ou deficientes precisa ter sentido ao aprendiz e assim a seleção de conteúdo a ser trabalhado se torna uma das prioridades do professor desta modalidade de ensino. Pode-se também dizer que há interação entre conscientização e utopia, quando somos conscientes de nosso espaço e de nossa tarefa no mundo, consequentemente também podemos intervir. Tal posicionamento de Freire (2002), demonstra que o docente tem a possibilidade de construir a consciência determinante para a mudança da mentalidade e da cultura de nossos educandos, como o próprio Freire (1980) dizia, 49 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância permiti-los ter utopias, sonhos realizáveis e consequentemente estaremos intervindo na realidade. O processo deve oferecer uma educação fora dos padrões, visando aqueles que tiveram menos oportunidades, retirando-os da posição de assistidos ou favorecidos passivos, propondo adequação às necessidades do aluno da EJA através do reconhecimento e sua valorização, capazes de aprender, de administrar, de participar de maneira ativa e autônoma na sociedade e em sua comunidade, objetivando melhorias pessoal e familiar. Constituição Federal do Brasil/1988 Diretrizes curriculares da educação de jovens e adultos - EJA - Disponível na página do Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB 9.394/96 FREIRE, Paulo. Conscientização: Teoria e Prática da Libertação – Uma Introdução ao Pensamento de Paulo Freire. 3ª Ed. São Paulo: Editora Moraes, 1980. Portal Educacional do Estado do Paraná http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS - MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO -SECRETARIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, ALFABETIZAÇÃO E DIVERSIDADE - DIRETORIA DE POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Vale, Maria José; Cadernos da EJA volumes 1 a 7 – IPF Instituto Paulo Freire 1999. O desafio docente nesta modalidade é grande e as rodas de conversas e introdução de temáticas necessárias ao conhecimento de qualquer ser humano nos dias em que vivemos. Os professores precisam se unir muito mais quando compartilham da EJA do que de qualquer outra etapa do ensino. A identidade docente e a sua forma de ver o mundo é colocada a prova neste ensino pois os alunos podem desconhecer do conhecimento científico de livros e sites e etc..... mas conhecem da vida com muita propriedade e essa troca pode ser gratificante basta o docente estar aberto a isso. http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/ 50 Metodologia e Prática Ensino EJA Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Com o devido carinho me despeço e espero encontra-los em outras ocasiões. MRSV.