Prévia do material em texto
HIS ENSINO MÉDIO PRÉ-VESTIBULAR 4 Poliedro Sistema de Ensino T. 12 3924-1616 sistemapoliedro.com.br COLEÇÃO PV Copyright © Editora Poliedro, 2022. Todos os direitos de edição reservados à Editora Poliedro. Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal, Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. ISBN978-65-5613-341-6 Presidente: Nicolau Arbex Sarkis Autoria: Daniel Gomes de Carvalho e Rafael Santesso Verdasca Edição de conteúdo: Ana Paula Enes, Juliana Grassmann dos Santos, Amanda Beatriz Raimundo, Beatriz de Almeida Francisco, Camila Caldas Petroni, Caroline Bárbara Ferreira Castelo Branco Reis, Daniele Dionizio, Luiza Delamare Quedinho e Luna Brum Nunes Edição de arte: Christine Getschko, Nathalia Laia, Daniella de Romero Pecora, Bruna H. Fava, Lourenzo Acunzo, Jaime Xavier, Alexandre Bueno e Suellem Silva Machado Design: Adilson Casarotti Licenciamento e multimídia: Leticia Palaria de Castro Rocha, Danielle Navarro Fernandes, Fernanda Bitencourt e Jessica Clifton Riley Revisão: Daniel de Febba Santos, Bianca da Silva Rocha, Bruno Freitas, Eliana Marilia G. Cesar, Ellen Barros de Souza, Ingrid Lourenço, Sara Santos, Sárvia Martins e Thiago Marques Impressão e acabamento: PierPrint Crédito de capa: Avigator Fortuner/Shutterstock.com A Editora Poliedro pesquisou junto às fontes apropriadas a existência de eventuais detentores dos direitos de todos os textos e de todas as imagens presentes nesta obra didática. Em caso de omissão, involuntária, de quaisquer créditos, colocamo-nos à disposição para avaliação e consequentes correção e inserção nas futuras edições, estando, ainda, reservados os direitos referidos no Art. 28 da Lei 9.610/98. Frente 1 11 República Democrática (1946-1964).................................................................5 Redemocratização no Brasil, 6 Governo de Eurico Gaspar Dutra (1946-1951), 7 Governo de Getúlio Vargas (1951-1954), 9 Governo de Juscelino Kubitschek (1956-1960), 11 Governo de Jânio Quadros (1961), 12 Governo de João Goulart (1961-1964), 13 Revisando, 16 Exercícios propostos, 18 Texto complementar, 24 Resumindo, 25 Quer saber mais?, 25 Exercícios complementares, 25 BNCC em foco, 30 12 As ditaduras no Brasil e na América Latina ................................................. 31 América Latina no contexto da Guerra Fria, 32 As ditaduras na América Latina, 33 Revisando, 47 Exercícios propostos, 49 Texto complementar, 57 Resumindo, 58 Quer saber mais?, 58 Exercícios complementares, 59 BNCC em foco, 65 13 A Nova República (de 1985 à atualidade).....................................................67 Governo de José Sarney (1985-1990), 68 Governo de Fernando Collor de Mello (1990-1992), 70 Governo de Itamar Franco (1992-1994), 71 Governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), 71 O governo de Lula (2003-2010), 74 O governo de Dilma Rousseff (2011-2016), 74 O governo de Michel Temer (2016-2018), 76 O governo de Jair Bolsonaro (2019-), 76 Revisando, 77 Exercícios propostos, 79 Texto complementar, 83 Resumindo, 84 Quer saber mais?, 84 Exercícios complementares, 84 BNCC em foco, 88 Sumário Frente 2 12 O período entreguerras .......................................................................................89 A Crise de 1929, 90 O fascismo, 93 O nazismo na Alemanha, 96 A Guerra Civil Espanhola (1936-1939), 99 Revisando, 100 Exercícios propostos, 103 Texto complementar, 109 Resumindo, 109 Quer saber mais?, 110 Exercícios complementares, 110 BNCC em foco, 116 13 Segunda Guerra Mundial e mundo contemporâneo .................................... 117 Segunda Guerra Mundial, 118 A Guerra Fria, 122 O fim da Guerra Fria e a Nova Ordem Mundial, 137 Revisando, 140 Exercícios propostos, 142 Texto complementar, 152 Resumindo, 153 Quer saber mais?, 153 Exercícios complementares, 154 BNCC em foco, 165 Gabarito ......................................................................................................................167 República Democrática (1946-1964) 11 CAPÍTULO FRENTE 1 O período que se estendeu de 1946 a 1964 constituiu a quarta experiência republicana do Brasil e recebeu diferentes denominações, como “República Populista”, “República Democrática” e “República Liberal”, que dão ênfase a diferentes aspectos desse mo- mento histórico. O termo “República Populista” indica o caráter populista de algumas das principais lideranças do país no período, enquanto “República Democrática” ou “Re- pública Liberal” destacam a retomada do regime democrático após o término do Estado Novo varguista. Como veremos neste capítulo, um dos principais marcos desse período foi a grande tensão que ocorreu entre os governos de Eurico Gaspar Dutra e João Goulart, cujo des- fecho culminou em uma nova ditadura no país. A rq ui vo N ac io na l. Fu nd o A gê nc ia N ac io na l. 6 HISTÓRIA Capítulo República Democrática (-) Redemocratização no Brasil O período da redemocratização no Brasil, após a di- tadura do Estado Novo, foi intensamente marcado pelo contexto da Guerra Fria. Findada a Segunda Guerra Mundial, Estados Unidos e União Soviética disputavam a hegemonia política em termos mundiais, lançando mão de estratégias para ampliar suas influências sobre os demais países. Nesse contexto, a polarização ideológica entre as ideias capitalistas, sob a liderança dos Estados Unidos, e as socialistas, lideradas pelos soviéticos, foi o ponto de tensão de uma série de disputas políticas que afetaram não só o Brasil, mas todo o mundo. No Brasil, o desenvolvimento industrial contribuiu para que houvesse aceleradas mudanças socioeconômicas, incluindo um intenso processo de urbanização e de êxodo rural. O debate político brasileiro foi marcado pelo choque de dois diferentes modelos acerca da industrialização. Por um lado, a política econômica do desenvolvimentismo (ou nacional-desenvolvimentismo) buscava a manutenção do modelo adotado durante a Era Vargas. Nesse senti- do, defendia-se a ideia de que o Estado seria o principal interventor e indutor do desenvolvimento econômico e do advento da modernidade. Tratava-se, portanto, de um modelo intervencionista que depositava no capital público e nas empresas estatais a principal agência para a indus- trialização. Em contrapartida, a era favorável à ideia de que o setor privado deveria agir como o principal incentivador do capital. Para isso, buscava o processo de desenvolvimento econômico e da industrialização por meio de uma soma de aplicações liberais e privatizações. Eleições de 1945 Após a renúncia forçada de Vargas em 1945, foi mon- tado um governo provisório chefiado por José Linhares (1886-1957), então presidente do Supremo Tribunal Fe- deral. A função de Linhares era organizar as eleições presi- denciais e da assembleia constituinte, que ocorreriam em dezembro de 1945, além de garantir a posse do presiden- te eleito. Durante seu breve governo, que durou de 29 de outubro de 1945 até 31 de janeiro de 1946, Linhares extinguiu o Tribunal de Segurança Nacional, o que de- monstrava arrefecimento nas práticas persecutórias do governo e certo direcionamento à retomada democrática no país. Os principais partidos políticos que disputaram as elei- ções em 1945 podiam ser divididos em dois grupos: os “de dentro”, que representavam a ala situacionista e, de alguma forma, buscavam dar continuidade às políticas promovidas durante o Estado Novo, e os “de fora”, que compunham a oposição, caracterizada pelo antigetulismo. Entre os partidos “de dentro” havia o Partido Social De- mocrático (PSD), formado por ex-integrantes da burocracia do Estado Novo, e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), também formado por antigos membros do governo varguis- ta, embora fossem representantes das camadas populares urbanas que defendiam políticas trabalhistas. Os partidos “de fora” reuniam a União Democrática Nacional (UDN), principal partido antigetulista, que representava a ortodo- xia e as classes médias e industriaisurbanas, e o Partido Comunista Brasileiro (PCB), que, apesar de ter apoiado o movimento “queremista” em 1945, buscava romper com a ideologia vigente. Curiosamente, nas eleições à presidência que ocorre- ram em 1945, todos os candidatos, tanto os da situação quanto da oposição, eram oficiais de alta patente do exérci- to. A única exceção era o candidato do PCB. O afastamento de Vargas pelos militares trouxe a sensação de que o exér- cito havia sido o responsável pela redemocratização. Praça Ramos de Azevedo, na região central de São Paulo (SP), em . Nos anos 0, o crescente número de edifícios e arranha-céus, assim como a movimentação de veículos pela cidade, simbolizava o intenso processo de urbanização no contexto brasileiro. Depois de 2 anos sem votar, a população fez fila na cidade de São Paulo para eleger seu candidato em 5. A R Q U IV O /E S TA D Ã O C O N TE Ú D O /A E A R Q U IV O /E S TA D Ã O C O N TE Ú D O /A E Outra questão importante que marcou a política brasi- leira e a de outros países latino-americanos foi o populismo. 7 F R E N T E 1 [...] Do quarteto de candidatos, dois duelavam com chances de vitória: o brigadeiro Eduardo Gomes, da União Democrática Nacional; e o general Eurico Gaspar Dutra [...]. A impressão dominante era da vitória, de antemão assegurada, do brigadeiro [...]. Mas o brigadeiro estava longe de ser uma figura com apelo entre os menos favorecidos. Falava em tom monótono, carente de emoção [...]. Até que, em 20 de novembro, emissoras de rádio controladas pelo empresário Hugo Borghi, vinculado à candidatura Dutra, detonaram uma bomba. Em discurso, alardearam, o brigadeiro se jactara: “Não preciso do voto dos marmiteiros”. Ele teria empregado a palavra com sentido de trabalhadores humildes, que carregam comida na marmita (mar- miteiro era igualmente o funcionário de bares e restaurantes entregador de marmitas). Era tudo mentira, ou “fake news”. [...] Em suas rádios, [...] Borghi reverenciou Getúlio Vargas e mandou brasa na propaganda: “Não vencerá aquele que disse não necessitar dos votos dos marmiteiros e da patuleia [...]. Getúlio mantinha-se discreto sobre o pleito, sem anunciar adesão a nenhum postulante. [..] O brigadeiro não percebeu o estrago que a estória ameaçava provocar. No dia 21, ele passava pela cidade paulista de Bauru quando o “Correio da Manhã” alcançou-o com uma ligação telefônica. O repórter perguntou “se estava a par do caso dos marmiteiros”. “Marmiteiros?”, indagou. Não entendera. [...] Carlos Lacerda rememoraria lhe ter dito: “Brigadeiro, o senhor tem que fazer um discurso hoje, desmentindo isso, mas hoje”. O oficial da Aeronáutica encaminhou-o a outro correligionário, o ex-deputado Prado Kelly, que teria minimizado: “Mas isso, Carlos, não tem tanta importância! O povo não vai acreditar nisso. Imagina…”. Já era tarde. Nos comícios da UDN, os palanques aclamavam Eduardo Gomes como um amigão dos trabalhadores. “Mas não houve mais pobre no Brasil que se convencesse disso”, reconheceu Lacerda. Saiba mais Com o apoio de Getúlio Vargas e do PDT, o general Eurico Gaspar Dutra, candidato pelo PSD, foi eleito presi- dente em 1945. O vice, Nereu Ramos, também do PSD, foi eleito pelo Congresso Nacional no ano seguinte. Apesar de afastado da presidência, Getúlio Vargas ainda tinha um peso importante para definir os rumos políticos do país. O apoio de Vargas ao PSD foi fundamental para que o par- tido contasse também com o apoio do PTB, ainda pouco estruturado para lançar seu próprio candidato. Constituição de 1946 A Constituição de 1946, a quinta da história do país, estabeleceu que o Brasil fosse um regime republicano, presidencialista e federalista. A estrutura da divisão institucional dos três poderes permaneceu. O Legislativo manteve-se bicameral, os de- putados eram eleitos para mandatos de quatro anos, e os senadores, para mandatos de oito anos; no entanto, o número de representantes por estado passou a três. O Judiciário foi formado por: Supremo Tribunal Federal, Tribunal Federal de Recursos, Juízes e Tribunais Militares, Juízes e Tribunais Eleitorais, Juízes e Tribunais do Trabalho. O Executivo continuaria a ser exercido por um presidente da República e um vice, ambos com mandatos de cinco anos. O voto era direto, obrigatório e secreto. O direito de voto das mulheres foi assegurado, mas mantiveram-se ex- cluídos os analfabetos, os indivíduos privados de direitos políticos e os militares . O Estado permaneceu laico, e os direitos trabalhistas foram mantidos (garantindo o direito à greve, ainda que re- gulamentada pelo Estado e vetada para algumas categorias). A nova Constituição derrubou as restrições aos direitos indi- viduais promovidas pelo Estado Novo e, por isso, recebeu o apelido de Constituição liberal. Promoveu a liberdade de expressão, a inviolabilidade do sigilo de correspondência, a liberdade de associação e a garantia de ampla defesa aos judicialmente acusados. Sua defesa à propriedade privada supunha o pagamento de indenizações para o caso de desapropriações, o que, na prática, dificultava qualquer ten- tativa de promover uma reforma agrária. Governo de Eurico Gaspar Dutra (1946-1951) No início de seu mandato, em 1946, Dutra promoveu um alinhamento político-econômico com os Estados Unidos e, consequentemente, com o bloco capitalista. Rompeu as relações diplomáticas com a União Soviética, colocou o PCB na ilegalidade e cassou o mandato de políticos comu- nistas que haviam sido eleitos no ano anterior. Em 1949, inaugurou a Escola Superior de Guerra (ESG), que serviu como centro de combate à disseminação de ideais comu- nistas no Brasil. A ESG foi a responsável pela elaboração, em 1950, da teoria da Segurança Nacional, doutrina base- ada em preceitos de defesa das fronteiras contra “inimigos externos” e, sobretudo, combate a “inimigos internos”, ou seja, críticos do governo e comunistas. 8 HISTÓRIA Capítulo República Democrática (-) Do ponto de vista econômico, o governo de Dutra foi marcado por dois importantes fatores: uma política de aber- tura às importações, para atrair multinacionais ao Brasil, e o Plano Salte, que consistia em investimento nos setores de saúde, alimentação, transporte e energia, por meio de em- préstimos feitos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Tais esforços se concentraram nos setores de transporte e energia. Foram construídas, por exemplo, diversas rodovias e hidrelétricas. Brasil: índices de valor real do salário mínimo – 1940-1951 Fonte: Segundo Governo Vargas (-). Índices de valor real do salário mínimo. Atlas histórico do Brasil. FGV-CPDOC. Disponível em: https://atlas.fgv.br/marcos/segundo- governo-vargas--/mapas/indices-de-valor-real-do-salario-minimo. Acesso em: jan. . O crescimento econômico no período, entretanto, foi baseado no endividamento. A abertura ao capital internacional contribuiu para que houvesse um esgota- mento das reservas cambiais, o que acabou favorecendo o crescimento do processo inflacionário. Com o objetivo de manter o apoio dos industriais, ficou estipulado que o salário mínimo não seria reajustado perante a inflação, o que fez o poder de compra das camadas populares cair significativamente. Observe, no gráfico a seguir, o índice do salário mínimo entre 1946 e 1951 em comparação com os anos anteriores. Atenção Para a construção do Maracanã, aconteceu uma briga entre dois políticos famosos no Rio de Janeiro na época, Carlos Lacerda e Mendes de Morais. Este era o prefeito à época da construção do Maracanã, na segunda metade da década de 40 [foi prefeito do Rio entre os anos de 1947 e 1951] e o Carlos Lacerda era opositor e queria ser o pai da construção do Maracanã. Lacerda fez de tudo para que o estádio fosse construído sob a sua batuta, ele queria que ele fosse feito em Jacarepaguá, longe do centro. [...] Mendes de Morais tomou a frente da situação e, como prefeito do Rio de Janeiro, definiu o local da construção e foi o verdadeiro pai do Maracanã. Tantoque o nome oficial do Maracanã era estádio Mendes de Morais, só depois mudou para o nome atual, Jornalista Mário Filho [irmão de Nelson Rodrigues], na década de 1960. Então a construção do Maracanã mostra bem essa guerra política para ver quem ficaria com os louros da construção do estádio: o Mendes de Morais ou o Car- los Lacerda, que depois veio até a se tornar governador do estado da Guanabara. O Maracanã é um exemplo específico de que a Copa de 1950 teve essa conotação política bem clara. Estabelecendo relações 9 F R E N T E 1 Governo de Getúlio Vargas (1951-1954) Em 1951, quando Vargas assumiu a presidência, o país estava em condições bastante distintas das quais se encontrava em 1945. No início da década de 1950, o elevado déficit público e a inflação crescente afetavam diretamente as classes trabalhadoras, principal grupo de apoio político de Getúlio Vargas. Além disso, o presidente sofria forte oposição encabeçada pela UDN e por um de seus principais representantes, o jornalista Carlos Lacerda, que constantemente criticava a política desenvolvimentista de Vargas. Lacerda também afirmava que a aproximação do presidente com as organizações trabalhistas era uma tentativa de montar, no Brasil, uma “República dos Sin- dicatos”, analogia aos sovietes da União Soviética, que constituíam conselhos ou órgãos deliberativos formados por operários. Mesmo diante das críticas, para tentar conter os pro- blemas econômicos e sociais, Vargas manteve sua política nacional-desenvolvimentista. A base dessa política foi o Plano Lafer, responsável pela criação de estatais, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), a Eletrobras (que só foi fundada em 1962) e a Petrobras (1953), lançada sob a campanha “O petróleo é nosso”. Com a descoberta de reservas de petróleo na costa da Bahia, Vargas pretendia que a recém-criada Petrobras tivesse o monopólio na extração. fizesse um acordo com os sindicatos. Jango, como João Goulart era conhecido, era um importante aliado político de Vargas e, com carta branca e aprovação do presidente, acordou um reajuste de 100% no salário mínimo. Esse conjunto de medidas promoveu um recrudescimento na oposição. A campanha “O petróleo é nosso” contrariava os interesses das grandes petrolíferas, em sua maioria esta- dunidenses. A Lei dos Lucros Extraordinários foi interpretada, ainda que de forma equivocada, como uma tentativa de esta- tizar as multinacionais. No contexto da Guerra Fria, as ações que não estavam alinhadas aos interesses políticos e eco- nômicos dos Estados Unidos geralmente eram interpretadas como comunistas. A medida tomada por Jango também gerou descontentamento e levou 79 militares a assinar um docu- mento chamado “Manifesto dos Coronéis” para expressar a insatisfação com o aumento proposto e os salários do exército. Cada vez mais crítico das ações de Vargas, Carlos Lacerda passou a contar com membros das forças militares para sua segurança pessoal. Nesse momento, sobretudo o alto escalão da aeronáutica e do exército havia assumido significativamente uma postura de oposição em relação a Vargas. No dia 5 de agosto de 1954, teve início uma série de eventos que levou o mandato de Vargas a um desfecho inesperado. Chegando em sua casa, Lacerda sofreu um atentado a tiros que acabou matando Rubens Vaz, major da aeronáutica e segurança pessoal do jornalista. Lacerda, que foi atingido no pé durante o atentado, acusou publica- mente Vargas de ter sido o mandante do crime, conhecido como “atentado da Rua Tonelero”, endereço da residência de Lacerda na cidade do Rio de Janeiro, onde ocorreu o episódio. No jornal Tribuna da Imprensa, Lacerda escreveu o seguinte sobre o atentado: “Perante Deus, acuso um só homem como responsável por esse crime. É o protetor dos ladrões, cuja impunidade lhes dá audácia para atos como os dessa noite. Este homem chama-se Getúlio Vargas [...] ele está deposto moralmente pelo sangue que fez derramar”. Selo comemorativo da criação da Petrobras em que Vargas é representado com a mão suja de petróleo. Um dos principais problemas de Vargas era lidar com as multinacionais que chegaram ao país durante o governo Dutra. O capital gerado por essas empresas em território nacional saía do Brasil e era direcionado para o país de origem das multinacionais. Como medida para manter os lucros no Brasil, em 1953, Vargas tentou aprovar no Con- gresso a Lei dos Lucros Extraordinários, cuja proposta era impor um limite sobre o envio dos lucros das companhias estrangeiras para o exterior. Caso desejassem expatriar maiores quantidades de capital, essas empresas deveriam promover investimentos no Brasil como contrapartida. Para melhorar a condição dos trabalhadores, Vargas permitiu que seu então ministro do Trabalho, João Goulart, Carlos Lacerda com o pé enfaixado, 5, Rio de Janeiro (RJ). O atentado aumentou a pressão contra o governo, e a situação tornou-se crítica quando as investigações apontaram Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal de Vargas, como o mandante do crime. Nesse momento, a oposição começou a organizar de forma categórica a derrubada do presidente. A ce rv o Ic on og ra fia E m pr es a B ra si le ira d e C or re io s e Te lé gr af os 10 HISTÓRIA Capítulo República Democrática (-) No dia 14 de agosto, 1500 oficiais se reuniram no Clube Militar, exigindo a renúncia de Vargas. Em 21 de agosto, o vice-presidente João Café Filho propôs que ambos renunciassem. Na madrugada do dia 23 para 24 de agosto, Vargas recebeu um ultimato dos militares para que abandonasse o cargo. Vargas se reuniu com seus ministros, aliados e familiares, mas não conseguiram chegar a nenhum consenso. Na manhã do dia 24 de agosto, Lutero Vargas, filho de Getúlio, encontrou o pai morto em seus aposentos. Getúlio Vargas se suicidou com um tiro no peito, deixando uma carta-testamento que foi lida na rádio, provocando grande comoção nacio- nal. Jornais que faziam oposição ao governo foram invadidos e depredados pela população que tomou as ruas durante o cortejo fúnebre do presidente. A pressão sobre Vargas, promovida tanto pelos militares como pela UDN, foi o início de uma série de tentativas de golpe que assolaram o país ao longo da década seguinte. As primeiras tentativas de golpe Nesse delicado contexto, o vice-presidente João Café Filho (1899-1970) assumiu a presidência para terminar o man- dato de Getúlio Vargas. As eleições presidenciais, em 1955, foram polarizadas por getulistas e antigetulistas. Entre os apoiadores de Vargas, o PSD indicou o então governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek (1902-1976), enquanto o PTB lançou João Goulart para vice. A UDN, que liderava a oposição, indicou como candidato o ex-tenentista Juarez Távora. Também concorreram Adhemar de Barros, pelo PSP, e Plínio Salgado, pelo PRP. Juscelino Kubistchek e João Goulart foram eleitos, respectivamente, presidente e vice-presidente. Observe no mapa a seguir a votação por estado para presidência da República em 1955. A eleição Juscelino Kubistchek e Jango, sucessores diretos de Getúlio Vargas, causou revolta entre os setores da oposição. Para eles, Jango estava alinhado a ideias comunistas. Um documento falso indicando uma possível articulação de Jango com Perón, então presidente da Argentina, chegou a circular pelo país no intuito de denunciar a relação de Jango com o comunismo, embora essa ideia fosse bastante contraditória, já que Perón liderou perseguições contra os comunistas na Argentina. Além disso, a UDN e as principais lideranças atreladas à Escola Superior de Guerra estavam determinadas a impedir a posse de Juscelino. Brasil: eleição de Juscelino Kubitschek – 1955 Soma dos votos em todo o país Equador Trópico de Capricórnio 0° OCEANO ATLÂNTICO 50° O Fonte: elaborado com base em A apertada eleição de JK. Governo Café Filho (-). Atlas histórico do Brasil. FGV-CPDOC. Disponível em: https://atlas.fgv.br/marcos/governo-cafe-filho--/mapas/apertada-eleicao-de-jk. Acesso em: jan. . 11 FR E N T E 1 No dia 1 de novembro de 1955, a fala de um oficial do exército contra a eleição de Juscelino foi interpretada pelo então ministro da Guerra, Henrique Teixeira Lott, como incitação ao golpe. Dois dias depois, Café Filho sofreu um ataque cardíaco e foi afastado da presidência. Carlos Luz, presidente da Câmara dos Deputados, o sucedeu para finalizar o man- dato, mas acabou se aliando aos golpistas que pretendiam impedir a posse de Juscelino. Antes que o golpe fosse consumado, Teixeira Lott deu um golpe preventivo. Em 10 de novembro, colocou as tropas sob seu comando nas ruas, depôs Carlos Luz e empossou o presidente do Senado, Nereu Ramos, para garantir a posse de Juscelino em 31 de janeiro de 1956. Governo de Juscelino Kubitschek (1956-1960) Mesmo após enfrentar uma série de conflitos até assumir a presidência, Juscelino não teve um mandato tranquilo. Em abril de 1956, o Congresso tentou aprovar uma reforma política para substituir o regime presidencialista pelo parlamentarismo, com o intuito de reduzir os poderes do Executivo. A proposta, no entanto, foi derrotada no Legislativo. Durante sua gestão, quatro outras tentativas de golpe aconteceram. No campo econômico, o período foi marcado por um acelerado crescimento industrial. Uma das principais propostas de Juscelino era industrializar o Brasil o equivalente a “50 anos em 5”. Para isso, foi traçado o Plano de Metas, que consistia em uma estratégia de caráter desenvolvimentista com capital misto, ou seja, além de empréstimos estrangeiros, destinados à infraestrutura, também seriam usados capital público e privado para investir na indústria de bens de consumo duráveis. As metas estavam divididas em cinco setores: alimentação, energia, indústria de base, educação e transporte. No entanto, assim como ocorreu no governo Dutra, energia e transporte receberam maior atenção. Foi durante o governo de Juscelino que o Brasil consolidou sua estrutura para o transporte rodoviário, o que, por sua vez, foi fundamental para atrair montadoras automobilísticas para o país. Observe no mapa a seguir a expansão da malha rodoviária no Brasil entre 1957 e 1964 e os dados relativos ao pessoal ocupado na indústria em 1957. Brasil: expansão da malha rodoviária 1957-1964 OCEANO ATLÂNTICO OCEANO PACÍFICO Equador Trópico de Capri córnio 0° 50° O Fonte: elaborado com base em Estradas de rodagem – a expansão de -. Governo Juscelino Kubitschek (-). Atlas histórico do Brasil. FGV-CPDOC. Disponível em: https://atlas.fgv.br/marcos/governo-juscelino-kubitschek--/mapas/estradas-de-rodagem-expansao-de--. Acesso em: jan. . Juscelino Kubitschek, conhecido como “presidente bossa nova”, em alusão ao estilo musical que despontava naquele momento sob influência do samba e do jazz. G al er ia d e P re si de nt es /G ov er no d o B ra si l 12 HISTÓRIA Capítulo República Democrática (-) Em 1955, durante a breve presidência de Café Filho, o então ministro da fazenda Eugênio Gudin, em aliança com o presidente da Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc), um embrião do que viria a ser o Banco Central, montou uma política econômica pautada na abertura do país ao capital internacional. No governo JK essa política foi mantida e ampliada ao garantir facilidades a empresas estrangeiras que importassem máquinas e equipamentos para o Brasil. Essa medida facilitava uma possível remessa ilegal de lucros ao exterior por meio da compra de equipamentos muitas vezes considerados obsoletos e tornava o Brasil um lugar interessante para os conglomerados multinacionais. A construção de uma nova capital foi o grande marco do governo Juscelino. A ideia, no entanto, não surgiu no governo JK. Ela já havia sido proposta na Constituição de 1891, com o argumento de que uma capital localizada no interior do território seria menos vulnerável que uma capital localizada no litoral. Apesar disso, no contexto da década de 1950, a mudança da capital para a região Centro-Oeste do país teve como objetivo principal impulsionar as demais metas do plano econômico do governo. Para construir uma nova cidade, que seria planejada pelo urbanista Lúcio Costa e cujas edificações seriam desenhadas pelo arquiteto Oscar Niemeyer, era preciso construir estradas que conectassem as diversas partes do país ao novo centro político administrativo do Brasil, além da infraestrutura para a futura cidade. Outro projeto que buscou promover o desenvolvimento de regiões foi a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), criada em 1959, cuja estratégia de atuação ficou a cargo do economista Celso Furtado até 1964. Apesar do amplo desenvolvimento industrial houve um significativo agravamento da situação econômica com a retoma- da do processo inflacionário e o crescimento da dívida externa. A desvalorização da moeda fortaleceu a exportação de insumos agrícolas, e o Brasil passou a sofrer com uma crise de abastecimento. Ao final do mandato, a popularidade de Juscelino estava em queda e havia acusações de corrupção relacionada à Sudene, embora não houvesse prova disso. Nesse contexto desfavorável, Juscelino não conseguiu eleger Henrique Lott, seu candidato à presidência nas eleições de 1960, que acabou derrotado por Jânio Quadros. Estabelecendo relações Governo de Jânio Quadros (1961) Dotado de uma retórica moralista, teatral e caricata, Jânio Quadros foi eleito com a promessa de salvar o Brasil da corrupção. A vassoura foi o grande símbolo da campanha política de Jânio Quadros, que prometia “varrer” a corrupção do Brasil. Um trecho de um dos jingles mais conhecidos de sua campanha eleitoral dizia “ Varre, varre, varre vassourinha! /Varre, varre a bandalheira!”, e nos comícios eleitorais de Jânio Quadros, seus apoiadores costumavam erguer vassouras para o alto. Em seus discursos, usava um português bastante rebuscado para passar uma imagem intelectualizada. Também jogava talco em seu cabelo e no paletó para simular que tinha “caspa” e ser visto como um homem próximo ao povo. Na legislação da época o presidente e o vice-presidente eram eleitos separadamente, por isso, embora Jânio Quadros tenha sido eleito com o apoio da UDN e vencido o candidato de Juscelino Kubistchek, quem conquistou a vaga de vice-pre- sidente foi João Goulart, político aliado a Getúlio Vargas. Essa e outras contradições marcaram o período. A retórica moralista transpareceu em uma série de medidas tomadas por Jânio Quadros: proibiu apostas em corridas de cavalo durante os dias da semana, o uso de lança perfume, rinhas de galo e biquínis nas praias. A política econômica foi pautada em um pacote de cortes de gastos públicos, de medidas recessivas e com aumento de tributos. O FMI, satisfeito com a economia de contenção, concedeu dois novos empréstimos ao Brasil. 13 F R E N T E 1 Mas a condução das relações internacionais foi o que gerou maiores controversas. Isso porque, em meio à Guerra Fria, Jânio optou por uma polí- tica externa independente. Esse posicionamento adotado pelo presidente levou o Brasil, alinhado com os Estados Unidos desde o governo Dutra, a retomar as relações com o bloco oriental soviético. Além de enviar Jango para a China a fim de estabelecer relações econômicas, Jânio recebeu, em Brasília, o líder revolucionário argentino Ernesto Che Guevara. Se por um lado a oposição a Jânio cresceu em virtude de sua política externa, que aproximou o país das ideias comu- nistas, sua renúncia acarretou a posse de João Goulart, constantemente taxado de comunista pela mídia, pelas classes conservadoras e por outros políticos. No momento da renúncia de Jânio, João Goulart estava na China, e o cenário havia se tornado favorável ao golpe. Ranieri Mazzilli, então presidente da Câmara dos Deputados, foi empossado como presidente, e parte do Congresso, com o apoio de militares, estava determinada a impedir a volta de Jango ao Brasil. Governo de João Goulart (1961-1964) Em oposição aos que não queriam que Jango assumisse a presidência, Leonel Brizolae Tancredo Neves organizaram uma campanha legalista em defesa do cum- primento da Constituição. Contra a tentativa de golpe, sucederam-se passeatas e comícios nos grandes centros urbanos, assim como uma greve nacional, apoiada pela União Nacional dos Estudantes (UNE). Brizola já estava determinado a dar início a uma guerra civil, quando Tancredo Neves, que tinha bom trânsito entre os diversos agrupamentos políticos, conseguiu um acordo para o retorno de João Goulart. No dia 2 de setembro de 1961, como resultado do acordo obtido por Tancredo, foi assinada uma Emenda Constitucional que instituiu o sistema parlamentar de governo. Jango voltaria, mas com poderes limitados. Pela emenda, o presidente nomearia o Presidente do Conselho de Ministros (primeiro-ministro) que, por sua vez, nomearia os demais ministros do Estado; no entanto, o primeiro-ministro e os ministros nomeados precisavam ser aprovados pelo Congresso, o que conferia maior poder ao Legislati- vo. Previa-se, ainda, a realização, em 1965, de um referendo para decidir acerca da continuidade ou não do parlamentarismo. Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando, nesse sonho, a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os interesses gerais aos apetites e às ambições de grupos ou de indivíduos, inclusive do exterior. Sinto-me, porém, esmagado. Forças terríveis levantam-se contra mim e me intrigam ou infamam, até com a desculpa de colaboração. Se permanecesse, não manteria a confiança e a tranquilidade, ora quebradas, indispensáveis ao exercício da minha autoridade. Creio mesmo que não manteria a própria paz pública. Encerro, assim, com o pensamento voltado para a nossa gente, para os estudantes, para os operários, para a grande família do Brasil, esta página da minha vida e da vida nacional. A mim não falta a coragem da renúncia. Saiba mais Em agosto de , Jânio condecorou Che Guevara com a Ordem do Cruzeiro do Sul no intuito de fortalecer vínculos com Cuba, que havia passado por um processo revolucionário anos antes. Para que a oposição aceitasse a posse de João Goulart foi preciso um acordo que limitasse seus poderes como presidente. Fotografia de . Carlos Lacerda e a UDN romperam com o presidente em retaliação à postura que aproximou o Brasil da China e de Cuba, inimigos dos Estados Unidos. O presidente ficava cada vez mais isolado politicamente e com pouco apoio parla- mentar no Congresso. Foi então que, de forma súbita, Jânio entregou uma carta ao Congresso anunciando sua renúncia. A gê nc ia N ac io na l/A rq ui vo N ac io na l Jo hn F . K en ne dy P re si de nt ia l L ib ra ry a nd M us eu m 14 HISTÓRIA Capítulo República Democrática (-) Parlamentarismo (1961-1963) No período do governo parlamentar de João Goulart, o contexto internacional foi marcado por um dos momen- tos mais delicados de toda a Guerra Fria, em que ficou iminente a eclosão de um conflito nuclear: a Crise dos Mísseis. Em 1962, mísseis soviéticos foram trazidos para Cuba, e a proximidade da ilha caribenha com os Estados Unidos levou ao limite a tensão com a União Soviética, afetando as relações políticas de quase todo o mundo. Além da crise política, o Brasil enfrentava uma crise econômica e social. O processo inflacionário se mantinha crescente, impulsionando agitações populares em todo o país. No campo, os movimentos rurais, por meio da atuação das Ligas Camponesas, lideradas por Francisco Julião Arruda de Paula (1915-1999), exigiam uma reforma agrária; nas cidades, o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) passou a coordenar as greves, cada vez mais constantes no país. Em pouco mais de 15 meses de parlamentarismo, o Brasil teve três primeiros-ministros (Tancredo Neves, Brochado da Rocha e Hermes Lima). No entanto, os problemas mais sérios do país não foram combatidos, como o endividamento, o aumento da inflação e a instabilidade política. Com a aprovação do Congresso, o referendo para decidir sobre o sistema de governo foi adiado para 1963, quando a população votou pelo fim do parlamentarismo. Era a segunda vez que a população votava em João Goulart, a primeira quando o elegeu vice-presidente e, agora, pelo retorno ao presidencialismo. Observe, a seguir, o resultado do plebiscito de 1963 em todo o território nacional. Imagem utilizada pelas agências estadunidenses para justificar a existência de mísseis soviéticos em Cuba, em 2. As cotas em inglês indicam a tenda de mísseis, a posição de lançamento deles e o local de armazenamento do combustível. Brasil: plebiscito referente ao retorno ao presidencialismo – 1963 OCEANO ATLÂNTICO Equador Trópico de Capricórnio 0° 50° O Fonte: elaborado com base em Governo João Goulart (-). Plebiscito de der- ruba o parlamentarismo. Atlas histórico do Brasil. FGV-CPDOC. Disponível em: https:// atlas.fgv.br/marcos/ governo-joao-gou- lart--/mapas/ plebiscito-de--der- ruba-o-parlamentarismo. Acesso em: jan. . A rq ui vo N ac io na l d os E st ad os U ni do s 15 F R E N T E 1 Presidencialismo (1963-1964) Uma vez restaurado o presidencialismo, Jango ainda teria o mandato até 1965. Para lidar com a situação da economia nacional, o presidente reuniu uma equipe de intelectuais, como o economista Celso Furtado, responsável pela criação da Sudene no governo de Juscelino Kubitschek, para montar o Plano Trienal. A proposta era contornar a crise econômica sem que houvesse prejuízos à perspectiva desenvolvimentista. Ao aumentar os impostos sobre os grupos mais ricos, um dos pontos do Plano Trienal, o empresariado se sentiu prejudicado. Da insatisfação da classe patronal decorreu que, nos primeiros seis meses de 1963, houve um decréscimo de 30% no volume de créditos bancários obtidos pelo setor privado. O plano econômico de Jango não conseguiu apoio dos industriais nem dos trabalhadores, mostrando-se inviável. Ao final de 1963, o PIB brasileiro havia sofrido intensa desaceleração, chegando a valores abaixo de 1%. Observe, no gráfico a seguir, os índices econômicos durante o governo de João Goulart. Brasil: índices econômicos no governo João Goulart – 1961-1964 Fonte: Governo João Goulart (-). Índices econômicos no governo Jango. Atlas histórico do Brasil. FGV-CPDOC. Disponível em: https://atlas.fgv.br/marcos/governo-joao-goulart--/mapas/indices-economicos-no-governo-jango. Acesso em: jan. . João Goulart manteve, então, a postura de não alinhamen- to político e aproximação econômica com a União Soviética e passou a trocar café por petróleo e helicópteros com a antiga Tchecoslováquia. As medidas não foram suficientes, e como era necessário ga- rantir a governabilidade mesmo sem o apoio de parte do Legislativo, Jango optou por uma nova estratégia: discutir as propostas políticas e econômicas diretamente com o povo por meio de comícios. Ao conquistar o apoio das massas, ele poderia governar por decretos, atravessando o Legislativo. Caso houvesse algum tipo de ruído por parte do Congresso, seria possível recorrer a plebiscitos para demonstrar que tinha o apoio popular. O primeiro comício ocorreu em 13 de março de 1964, na estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Nesse momento, Jango apresentou para uma grande plateia suas Reformas de Base, cujas propostas abarcavam reforma tributária para que as grandes fortunas fossem taxadas de maneira diferenciada, reforma bancária para que houvesse maior controle sobre os juros, reforma política que inseria os analfabetos e as baixas patentes militares no sistema de eleições, reforma educacional que expandiria as escolas públicas, reforma urbana para conter a especulação imobiliária e, por fim, reforma agrária para distribuir terras aos camponeses. Em São Paulo, em março de , foi organizada a “Marcha da família com Deus pela liberdade”, cujo objetivo era manifestar uma reação conservadora às reformas de Jango. A rq ui vo N ac io na l/ Fu nd o A gê nc ia N ac io na l % % % % % % 16 HISTÓRIA Capítulo República Democrática(-) Ao mesmo tempo que conquistava o apoio da po- pulação, a oposição a Jango crescia em grande medida, principalmente de latifundiários, da classe empresarial e de parte da classe média. Esses setores, impulsionados pelo contexto da Guerra Fria, entendiam as propostas de reforma do presidente como medidas alinhadas ao comunismo. Em apoio às reformas propostas pelo presidente, houve um motim de marinheiros. Como resposta, o alto escalão do exército, da marinha e da aeronáutica se posicionava cada vez mais contrário ao governo, acusando Jango de incentivar rupturas hierárquicas. O clima era de profunda tensão no país. No dia 30 de março, Jango fez um discurso no Automóvel Clube para obter apoio dos setores mais radicais do exército. O dis- curso foi visto como uma ameaça à ordem, uma vez que o presidente estaria passando por cima da autoridade dos Revisando 1. Acafe-SC 2018 Após a saída de Getúlio Vargas do poder em o então Ministro da Guerra do Es- tado Novo, General Eurico Gaspar Dutra, foi eleito presidente do Brasil. Entre as características do seu governo, pode-se destacar, exceto: a) Uma nova constituição foi aprovada e o voto tornou- -se obrigatório para todos os brasileiros alfabetizados, maiores de 18 anos e de ambos os sexos. b) Alinhamento com o bloco capitalista liderado pe- los Estados Unidos e rompimento de relações diplomáticas com a União Soviética. c) Criação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), fundação da Petrobras e iní- cio da campanha nacional “O petróleo é nosso”. d) Propôs o SALTE, um plano econômico desenvol- vimentista que priorizava investimentos na Saúde, Alimentação, Transporte e Energia. 2. Enem 2021 Quando Getúlio Vargas se suicidou, em agosto de 1954, o país parecia à beira do caos. Acuado por uma grave crise política, o velho líder preferiu uma bala no peito à humilhação de aceitar uma nova deposi- ção, como a que sofrera em outubro de 1945. Entretanto, ao contrário do que imaginavam os inimigos, ao ruído do estampido não se seguiu o silêncio que cerca a derrota. REIS FILHO, D. A. O Estado à sombra de Vargas. Revista Nossa História, n. 7, maio 2004. O evento analisado no texto teve como repercussão imediata na política nacional a: a) reação popular b) intervenção militar c) abertura democrática d) campanha anticomunista e) radicalização oposicionista 3. Acafe-SC 2021 Passaram-se anos da morte de Getúlio Vargas, em . Para muitos, um excelen- te presidente, para outros um ditador. Ainda hoje, a trajetória política de Getúlio Vargas suscita o interesse da historiografia brasileira, atestado pelas constantes obras e teses que analisam seu governo. Acerca do seu governo de a é correto afirmar: a) Getúlio Vargas chegou a limitar a remessa para o exterior de lucros de empresas estrangeiras. Criou também o BNDE (Banco Nacional de De- senvolvimento Econômico), para incentivar a área industrial. b) O conhecido atentado da rua Toneleros, contra a vida de Getúlio Vargas, desencadeou uma grande onda de protestos por todo o Brasil. Neste aten- tado morreu o Major da Aeronáutica Rubens Vaz. c) O suicídio de Getúlio Vargas ocorreu logo após a sua destituição do cargo de presidente da repúbli- ca e a nomeação de um interventor federal pelos militares ligados ao Ministério da Aeronáutica. d) Ao nomear Carlos Lacerda da UDN (União Demo- crática Nacional), para o Ministério do Trabalho, Vargas obteve apoio da oposição para a implan- tação da CLT (Consolidação das Leis de Trabalho). 4. Acafe-SC 2021 Chamado de presidente “Bossa-No- va”, em uma alusão ao estilo musical que aparecia e se destacava na década de (XX), Juscelino Kubits- chek foi eleito presidente da república, prometendo um plano desenvolvimentista. Acerca do governo do presidente Juscelino Kubitschek, todas as alternativas estão corretas, exceto a alternativa: a) Juscelino realizou a construção de uma nova ca- pital para o Brasil: Brasília, no Planalto Central. Brasília tornou-se símbolo de modernidade e integração nacional. Foi inaugurada em abril de 1960. b) Em seu “plano de metas – crescer 50 anos em 05 anos”, Juscelino promoveu grandes investimentos nas indústrias de base e nas áreas de transporte e produção de energia. generais ao falar diretamente com seus subalternos. Em reação direta, o general Olímpio Mourão Filho, em Juiz de Fora, Minas Gerais, deu início à “Operação Popeye”, que deslocou indivíduos da Quarta Região Militar e da Polícia Militar de Minas Gerais para o Rio de Janeiro. No dia 1 de abril, as tropas do exército chegaram ao Rio de Janeiro e tomaram o Forte de Copacabana. João Goulart, em reunião no Palácio das Laranjeiras, optou por viajar para Porto Alegre. Alguns militares se opuseram ao golpe e, juntamente com Leonel Brizola, aconselharam o presidente a resistir à ofensiva do Exército, chegando a mobilizar tropas no Rio Grande do Sul. Jango, temendo uma guerra civil, negou qualquer tipo de resistência. Em 2 de abril de 1964, o Congresso Nacional apro- vou a declaração de vacância da Presidência da República, consumando o golpe militar. No dia 4 de abril, João Goulart deixou o Brasil e se exilou no Uruguai. 17 F R E N T E 1 c) Foi criada a Petrobras, possibilitando ao Brasil uma autossuficiência na produção de combus- tível. Isso foi determinante para e entrada, no Brasil, das fábricas de automóveis. d) O prometido crescimento econômico de Jusce- lino, teve um preço: a inflação cresceu e a dívida externa do Brasil cresceu. Esse crescimento não beneficiou todas as camadas sociais, e muitas de- sigualdades sociais permaneceram. 5. Enem 2013 Seu estilo político e personalidade entusiasta re- forçam o tradicional senso de otimismo brasileiro, pois enfatizava soluções ao invés de problemas. Ele irradiava confiança no país e em sua capacidade de unir-se ao mundo industrial. SKIDMORE, T. Uma história do Brasil. São Paulo: Paz e Terra, 1998, p. 204. Essa visão especíca sobre os anos JK encontra res- paldo em alguns episódios de época, como a(o) a) inauguração do Cristo Redentor e a instalação da Companhia Siderúrgica Nacional b) emergência das chanchadas e do Plano SALTE c) realização da Semana de Arte Moderna e a assi- natura do Convênio de Taubaté d) nascimento da Tropicália e a ocorrência do “mila- gre econômico” e) surgimento da bossa nova e a inauguração de Brasília 7. Uece 2020 Quando, em agosto de , Ernesto ‘Che’ Guevara foi condecorado com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, maior honraria que o Estado brasi- leiro oferece a alguma personalidade estrangeira, estava demonstrada a posição da política externa independente do Brasil em relação às potências da época. Esse episódio é considerado como um dos fa- tores que contribuíram para a) o governo de João Goulart sofrer, em 31 de mar- ço de 1964, o golpe militar que instaurou os 21 anos de governos ditatoriais militares. b) o desencadeamento da crise de apoio popular que levou o governo de Getúlio Vargas a ser destituído e à realização de eleições livres para presidência da república. c) o agravamento da crise política urdida por líderes conservadores de direita, como Carlos Lacerda, e para a renúncia do Presidente Jânio Quadros. d) o aumento da popularidade de Juscelino Kubis- tchek, que a utilizou para eleger seu candidato como sucessor na presidência da república. 8. Uece 2018 Como outros governantes brasileiros do século XX, Jânio Quadros também não concluiu seu mandato presidencial. O fim precoce do governo de Jânio Quadros deveu-se a) ao golpe civil-militar que, em março de 1964, derrubou o governo e estabeleceu 21 anos de governo ditatorial conduzidos por militares. b) ao seu suicídio, ocorrido ainda em agosto de 1961, em função da grave crise econômica e po- lítica em seu governo. c) à sua inesperada renúncia apresentada ao con- gresso em uma carta na qual dizia ter forças terríveis agindo contra ele. d) ao processo de impeachment aberto contra ele a partir das denúncias de corrupção feitas pelo seu próprio irmão aos órgãos da mídia.JK — Você agora tem automóvel brasilei- ro, para correr em estradas pavimentadas com asfalto brasileiro, com gazolina brasileira. Quer mais quer? JECA — Um prato de feijão brasileiro, seu doutô! THÉO. In: LEMOS, R. (Org.). Uma história do Brasil através da caricatura (1840-2001). Rio de Janeiro: Bom Texto; Letras & Expressões, 2001. A charge ironiza a política desenvolvimentista do go- verno Juscelino Kubitschek, ao: a) evidenciar que o incremento da malha viária dimi- nuiu as desigualdades regionais do país. b) destacar que a modernização dinamizou a produ- ção de alimentos para o mercado interno. c) enfatizar que o crescimento econômico implicou aumento das contradições socioespaciais. d) ressaltar que o investimento no setor de bens du- ráveis incrementou os salários dos trabalhadores. e) mostrar que a ocupação de regiões interioranas abriu frente de trabalho para a população local. 6. FMP-RJ 2019 Estudando a situação do Brasil durante o governo de Juscelino Kubitschek (-), o bra- silianista Thomas Skidmore escreveu: Além dos avanços econômicos diretos havia também mais benefícios políticos indiretos gerados pela estratégia econômica de Juscelino. 18 HISTÓRIA Capítulo República Democrática (-) 9. Acafe-SC 2021 Após a renúncia de Jânio Quadros à presidência da República, criou-se um impasse pela oposição em relação à posse do vice-presidente, João Goulart (Jango). Dentro deste contexto todas as alternativas estão corretas, exceto a alternativa: a) Com o impasse criado para a posse de João Gou- lart, o governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola iniciou uma campanha pela posse do vice- -presidente, foi a Campanha da legalidade. b) Para a posse de João Goulart, foi instaurado o par- lamentarismo com o objetivo de enfraquecer sua atuação, já que seus poderes estariam limitados. c) Quando Jânio Quadros renunciou à presidência da República, João Goulart estava em visita oficial à China. d) Apesar da resistência da oposição, os militares asseguraram a imediata posse de João Goulart e garantiram apoio ao seu governo. 10. UEPG-PR 2020 O chamado “período de redemocratiza- ção”, ocorrido entre e , está situado entre o fim do Estado Novo e o início da ditadura civil-militar. A res- peito desse período histórico, assinale o que for correto. O presidente Juscelino Kubitschek construiu a ci- dade de Brasília e transferiu a capital federal do Rio de Janeiro para o Centro-Oeste brasileiro. Jânio Quadros, presidente eleito pelo voto direto, renunciou ao cargo poucos meses após assumir a presidência. Getúlio Vargas voltou ao poder por meio do voto direto, mas acabou se suicidando após uma longa crise política. Apoiado pelos militares, João Goulart fechou o Congresso Nacional, mandou prender adver- sários políticos e ampliou seus poderes após o golpe de 1964. Soma: Exercícios propostos 1. FGV-SP 2019 Houve movimentos militares em 1945, 1954, 1964, uma tentativa frustrada em 1961 e um outro movimento em 1955, que precipitou um contramovi- mento em defesa das autoridades constitucionais. Os anos de 1945 a 1964 assinalam o período da primeira experiência do Brasil com uma política competitiva, de- mocrática e aberta. Stepan, A. Os militares na política. As mudanças de padrões na vida brasileira. Rio de Janeiro: Artenova, 1975, p. 66. Sobre os movimentos militares citados no texto é cor- reto a rmar: a) Foram movimentos anticomunistas impulsionados pela polarização ideológica da Guerra Fria. b) Em 1945 e 1964, os presidentes da República foram destituídos, marcando o início de novos pe- ríodos políticos. c) A intervenção mais aguda ocorreu em 1961 com a implementação do regime presidencialista. d) Em seu conjunto, percebe-se a inexistência de correntes políticas de opiniões distintas no seio das Forças Armadas brasileiras. e) Tais intervenções militares revelam a caracterís- tica democrática e civil da história da República brasileira. 2. FGV-SP A gestão do Presidente Eurico Gaspar Dutra foi marcada pela adoção de medidas que visavam à modernização das instituições político-administrati- vas. Entre essas mudanças, pode ser destacada: a) a aprovação de uma nova Constituição que, embora seguisse princípios liberais e democráticos, manti- nha a proibição ao direito de voto das mulheres. b) a aproximação com a União Soviética, em função do enorme prestígio dos parlamentares ligados ao PCB. c) a extinção do corporativismo, com a regulamen- tação de centrais sindicais livres da tutela do Estado. d) a implantação de um plano de metas (Plano Salte) que visava atender às necessidades da industria- lização e do abastecimento doméstico. e) a recusa de participação na Organização dos Estados Americanos (OEA), por considerá-la um instrumento de consolidação da hegemonia nor- te-americana na América Latina. 3. Cefet-MG 2018 A industrialização realizada durante os anos 50 trouxe consigo a modernização do Brasil. Modernização dos homens, tornando-os cada vez mais urbanos. Modernização de seus pensamentos e hábitos, tornando-os consumistas. Modernização do modo de vida, das cidades, da arquitetura, das artes, da técnica, da ciência. RODRIGUES, Marly. A década de 50: populismo e metas desenvolvimentistas no Brasil. São Paulo: Ática, 1992. p. 31. Sobre a modernização do modo de vida brasileiro nos anos , é INCORRETO a rmar que a) atingiu de maneira uniforme todas as parcelas da população, independentemente de classe social e de localização geográfica. b) teve como símbolo do progresso e da liberdade o automóvel, indispensável para vencer as distân- cias nas grandes cidades. c) consolidou o poder homogeneizador da indústria cultural, com o desenvolvimento da publicidade e o avanço dos meios de comunicação de massa. d) representou a criação de novos hábitos, como o uso de roupas de tecidos sintéticos, o consumo de alimentos enlatados e a aquisição de eletro- domésticos. 19 F R E N T E 1 4. FICSAE-SP 2016 b) a tentativa de assassinato sofrida pelo jornalis- ta Carlos Lacerda por apoiar os assessores do presidente que discordavam de suas ideias e o avanço dos conservadores foi intensificado pela ação dos militares. c) o presidente sentiu-se impotente para atender a seus inimigos, como Carlos Lacerda, que o pressionavam contra a ditadura e os aliados do presidente teriam que aguardar mais uma década para concretizar a democracia progressista. d) o jornalista Carlos Lacerda foi responsável direto pela morte do presidente e este fato veio impedir definitivamente a ação de grupos conservadores. e) o presidente cometeu o suicído para garantir uma definitiva e dramática vitória contra seus acusado- res e oferecendo a própria vida Vargas facilitou as estratégias de regimes autoritários no país. 6. Unesp 2015 Examine a charge do cartunista Théo, publicada na revista Careta em ... Flavio de Campos e Miriam Dolhnikoff. Atlas História do Brasil. São Paulo: Scipione, 1994, p.58. “Você é que é feliz”... Getúlio: – Ser pai dos pobres dá mais trabalho do que ser Papai Noel! Você só se amofina no Natal: a mim eles chateiam o ano inteiro! Isabel Lustosa. Histórias de presidentes, 2008. O apelido de “pai dos pobres”, dado a Getúlio Vargas, pode ser associado: a) ao autoritarismo do presidente diante dos mo- vimentos sociais, manifesto na repressão às associações de operários e camponeses. b) aos esforços de negociação com a oposição, com a decorrente distribuição de cargos administrati- vos e funções políticas. c) ao caráter popular do regime, originário de uma revolução social e empenhado no combate à bur- guesia industrial brasileira. d) à política de concessões desenvolvida junto a sin- dicatos, como contrapartida do apoio político dos trabalhadores. e) à supressão de legislação trabalhista no país, que obrigava o governo a agir de forma assis- tencialista. Os grácos acima mostram os resultados das eleições presidenciais brasileiras de , e . Eles permitem constatar a) o declínio da influência política dos estadosde São Paulo e Minas Gerais, que não conseguiram eleger seus candidatos à presidência. b) a ausência de oposição clara ao projeto traba- lhista, o que facilitou a vitória eleitoral de Getúlio Vargas e dos candidatos apoiados por ele. c) a lógica bipartidária, que impedia o surgimento de uma terceira força política, capaz de enfrentar os candidatos da aliança PTB e PSD. d) a força do varguismo, expressa nos seguidos sucessos eleitorais dos trabalhistas e que prosse- guiu mesmo após a morte do seu líder. 5. Enem Zuenir Ventura, em seu livro “Minhas memó- rias dos outros” (São Paulo: Planeta do Brasil, ), referindo-se ao fim da “Era Vargas” e ao suicídio do presidente em , comenta: Quase como castigo do destino, dois anos depois eu iria trabalhar no jornal de Carlos Lacerda, o inimigo mortal de Vargas (e nun- ca esse adjetivo foi tão próprio). Diante daquele contexto histórico, muitos estudiosos acreditam que, com o suicídio, Getúlio Vargas atingiu não apenas a si mesmo, mas o coração de seus aliados e a mente de seus inimigos. A armação que aparece “entre parênteses” no co- mentário e uma consequência política que atingiu os inimigos de Vargas aparecem, respectivamente, em: a) a conspiração envolvendo o jornalista Carlos La- cerda é um dos elementos do desfecho trágico e o recuo da ação de políticos conservadores devi- do ao impacto da reação popular. 20 HISTÓRIA Capítulo República Democrática (-) 7. UEM-PR 2017 No Brasil do final dos anos de e início da década de , vivia-se o período chamado de liberal-democrático, no qual políticas voltadas para o desenvolvimento nacional eram implementadas e o apelo popular da figura política de Getúlio Vargas ain- da era muito forte. Sobre esse período, assinale a(s) alternativa(s) correta(s). O texto da Constituição de 1946 previa uma rotina democrática para as instituições republi- canas, garantia a liberdade de imprensa e de opinião, reconhecia a importância dos partidos políticos e ampliava o escopo democrático da República, incorporando, como eleitores, o contingente populacional com idade a partir de dezoito anos. A Constituição de 1946 estendeu vários direitos sociais aos trabalhadores rurais, através de uma legislação trabalhista moderna e eficiente. O governo do general Eurico Gaspar Dutra, apoia- do pelo PSD-PTB, adotou uma política conflituosa com os Estados Unidos e intensificou as relações diplomáticas com a União Soviética. Durante esse período, a defesa do monopólio da exploração do petróleo pelo Estado havia se transformado em um dos maiores movimentos de opinião pública da nação. A Campanha do Petróleo abrigou grupos políticos heterogêneos, a saber: militares, comunistas, católicos, traba- lhistas. A União Nacional dos Estudantes (UNE) lançou, inclusive, a palavra de ordem: “O petróleo é nosso!”. Carlos Lacerda, da UDN, representou um dos prin- cipais porta-vozes de apoio ao governo de Getúlio Vargas, que regressava ao Palácio do Catete, sede do governo federal, pelo voto direto popular. Soma: 8. UEMG 2017 Os liberais-conservadores não se conforma- vam com Vargas na presidência da República. Por duas vezes derrotada com seu candidato, em 1945 e 1950, a União Democrática Nacional escolheu a estratégia de desqualificar Vargas. A opção pelo golpe vai sendo amadurecida pelos grupos conservadores, tendo a UDN à frente, até tornar-se uma decisão irreversível a partir de 1953. FERREIRA, Jorge. Crises da República: 1954, 1955 e 1961. In: FERREIRA, Jorge & DELGADO, Lucília de A. N. (Orgs.). O tempo da experiência democrática: da democratização de 1945 ao golpe civil-militar de 1964. 4ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011, p. 306-307 (Coleção O Brasil Republicano, v. 3. Nesse contexto, ocorreram fatos que foram decisi- vos para o recuo dos defensores do golpe de Estado e a sobrevivência da democracia, dentre os quais destacam-se a) a vitória de Carlos Lacerda e a instauração de uma ditadura. b) a eleição de Cristiano Machado e o fim do parla- mentarismo. c) o suicídio de Getúlio Vargas e o golpe preventivo do general Lott. d) o impeachment de Juscelino Kubitschek e a pos- se do deputado Carlos Luz. 9. Famerp 2019 Leia o texto para responder à(s) questão(ões). De 1889/1890, começo da República, até 1930-1940 mais ou menos, a indústria e as cidades apresentaram determinadas características. A atividade industrial, sempre crescente, era conduzi- da fundamentalmente no interior de empresas de pequeno e médio porte, ainda que as grandes fábricas existentes concentrassem o maior número de operários e a maior quantidade de capital, sendo responsáveis também pela maior parte da produção industrial. [...] Apenas a partir das décadas de 1940 e 1950 as indústrias de bens de consumo duráveis e bens de capital desenvolveram-se de modo significativo. Maria Auxiliadora Guzzo de Decca. Indústria e trabalho no Brasil, 1991. O segundo ciclo de industrialização mencionado no texto é marcado a) pelo ingresso, no país, de grande quantidade de tecnologia e de capitais estrangeiros. b) pela política nacional de controle do câmbio, o que facilitava a exportação brasileira de produtos industrializados. c) pelo deslocamento do eixo industrial para a região Norte, a partir da criação da Zona Franca de Manaus. d) pela implantação de políticas públicas de apoio às pequenas e médias empresas. e) pelo processo de privatização das empresas estatais, adquiridas por grandes empresários nacionais. 10. FGV-RJ 2016 Leia o fragmento a seguir, extraído de um artigo do jornalista Carlos Lacerda, publicado no jornal A Tribuna da Imprensa, em de junho de . O Sr. Getúlio Vargas senador, não deve ser candidato à presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revo- lução para impedi-lo de governar. A partir do fragmento, assinale a alternativa que apre- senta a interpretação correta do discurso de Carlos Lacerda. a) Marca o rompimento público com o trabalhismo, devido aos planos ditatoriais de Vargas. b) Reflete a posição dos setores liberais contrários à aproximação do Brasil com os países do Leste europeu. c) Denuncia Vargas, que pretendia modificar a constituição para se candidatar à Presidência da República. d) Representa o posicionamento político de setores contrários ao trabalhismo. e) Mostra a defesa intransigente do processo eleito- ral contra as ameaças ao sistema democrático. 21 F R E N T E 1 11. Unesp 2019 Os gráficos indicam a expansão das re- des de transporte ferroviário e rodoviário no Brasil (em km) em função do tempo (ano). Considerando a composição do setor rural nacional e o programa desenvolvimentista do governo JK, é cor- reto armar que: a) A “Marcha para o Oeste” obteve grande êxito porque, além dos grandes ruralistas, conseguia atender também aos interesses dos pequenos posseiros, trabalhadores sem-terra e indígenas. b) O desenvolvimentismo atendia às ambições da oligarquia rural, em função das políticas de mo- dernização da agricultura, permitindo que ela se beneficiasse da expansão do mercado consumi- dor, um dos desdobramentos da industrialização. c) O Plano de Metas do governo JK fracassou por- que os interesses do agronegócio se mostraram posteriormente inconciliáveis com as demandas da velha oligarquia rural das regiões Norte e Cen- tro-Oeste. d) Os interesses agrários e o projeto de industria- lização do nacional-desenvolvimentismo eram compatíveis porque o Partido Trabalhista Brasileiro era composto principalmente pela oligarquia rural. 13. Uece 2017 Eleito com o slogan “cinquenta anos em cinco”, o presidente Juscelino Kubitschek – JK – fez de seu governo um período de grandes investimentos em setores produtivos, mas também de gastos eleva- díssimos. Apesar do inegável avanço e diversificação do setor produtivo, o último ano de seu governo apre- sentou um índice de inflação de ,%. O processo inflacionário gerado nesse período corroeu a econo- mia brasileira nos anos seguintes ao seu governo.Um dos aspectos de destaque do governo de JK foi a) o investimento de capital nacional em indústrias de base, com a criação da Petrobras e da CSN – Companhia Siderúrgica Nacional. b) o aumento da dívida externa em função dos vultu- osos empréstimos tomados para realização de seu Plano de Metas e para a construção de Brasília. c) a promoção da importação de automóveis, pois JK acreditava que era mais importante comprar a preços vantajosos do que investir na produção nacional. d) sua política desenvolvimentista, voltada exclu- sivamente para atender o desenvolvimento das atividades agroexportadoras de que o Brasil dependia. 14. Unesp 2017 A industrialização contemporânea requer investimentos vultosos. No Brasil, esses investimen- tos não podiam ser feitos pelo setor privado, devido à escassez de capital que caracteriza as nações em desen- volvimento. Além disso, o crescimento econômico do Brasil, um recém-chegado ao processo de modernização, processou-se em condições socioeconômicas diferentes. Um efeito internacional de demonstração, na forma de imitação de padrões de vida, entre países ricos e pobres, e entre classes ricas e pobres dentro das nações, resultou em pressões significativas sobre as taxas de crescimento para diminuir a diferença entre nações desenvolvidas e Dados extraídos de: Paul Singer. Interpretação do Brasil: uma experiência histórica de desenvolvimento. In: Boris Fausto (Org). História geral da civilização brasileira, tomo III, vol., . As informações dos dois grácos estão traduzidas na tabela: a) Rede ferroviária Rede rodoviária b) Rede ferroviária Rede rodoviária c) Rede ferroviária Rede rodoviária d) Rede ferroviária Rede rodoviária e) Rede ferroviária Rede rodoviária 12. Unicamp 2018 Vistas em conjunto, as aspirações ruralistas não eram contraditórias ou incompatíveis com o programa desenvolvimentista de Juscelino Ku- bitschek. A ideia de incompatibilidade entre o projeto nacional-desenvolvimentista e os interesses agrários era uma ficção. Adaptado de Vânia Moreira, “Os Anos JK: industrialização e modelo oligárquico de desenvolvimento rural”, em Jorge Ferreira e Lucília Delgado (Orgs.), O Brasil Republicano. v. 3. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, p. 169-170. 22 HISTÓRIA Capítulo República Democrática (-) em desenvolvimento. Em vista das aspirações de melho- res padrões de vida, o governo desempenhou um papel importante no crescimento econômico recente do Brasil. Carlos Manuel Peláez e Wilson Suzigan. História monetária do Brasil, 1981. Adaptado. Os impasses do desenvolvimento industrial brasileiro, apontados pelo texto, foram enfrentados no governo Juscelino Kubitschek (-) com o Plano de Metas, cujo objetivo era promover a industrialização por meio a) da associação de esforços econômicos entre o Es- tado, o capital estrangeiro e as empresas nacionais. b) da valorização da moeda nacional, da estatização de fábricas falidas e da contenção de salários. c) da criação de indústrias têxteis estatais e do au- mento de impostos sobre o grande capital nacional. d) do emprego de empresas multinacionais subme- tidas à severa lei da remessa de lucros, juros e dividendos para o exterior. e) do combate à seca no Nordeste e do aumento do salário mínimo, com controle da inflação. 15. UFJF-MG 2021 Em de abril de , Brasília come- morou anos de sua fundação. A imagem e o texto abaixo são dois registros da inauguração da cidade, em . A partir da imagem e do texto, marque a alternativa CORRETA: a) a fotografia distingue-se do discurso por ser re- veladora de que o projeto de interiorização do governo de Juscelino Kubitschek ampliou as possibilidades para que as classes populares pudessem participar mais diretamente da vida política do país. b) a fotografia e o discurso se assemelham pela linguagem de exaltação ao projeto nacional- -desenvolvimentista do governo Juscelino Kubitschek, que foi acompanhado por uma po- lítica de inclusão social e de enfrentamento das desigualdades sociais do país. c) apesar de se tratar de linguagens distintas, a fotografia e o discurso se aproximam por de- monstrarem que a inauguração de Brasília foi o cumprimento de uma promessa de atender aos anseios das classes populares de transferir a ca- pital para o interior do país. d) a fotografia distingue-se do discurso por expres- sar as contradições entre um projeto de Brasil moderno, simbolizado pela arquitetura ao fundo, e as disparidades sociais e regionais que per- sistiam no país, representadas pela imagem do operário e de sua família. e) a fotografia e o discurso do presidente se apro- ximam, pois ambos simbolizam a defesa de um projeto de interiorização do país ancorado em um passado arcaico, que se contrapunha aos discur- sos de desenvolvimento e de modernização em voga no período. 16. Enem A moderna democracia brasileira foi cons- truída entre saltos e sobressaltos. Em , a crise culminou no suicídio do presidente Vargas. No ano seguinte, outra crise quase impediu a posse do pre- sidente eleito, Juscelino Kubitschek. Em , o Brasil quase chegou à guerra civil depois da inesperada renúncia do presidente Jânio Quadros. Três anos mais tarde, um golpe militar depôs o presidente João Goulart, e o país viveu durante vinte anos em regime autoritário. A partir dessas informações, relativas à história repu- blicana brasileira, assinale a opção correta. a) Ao término do governo João Goulart, Juscelino Kubitschek foi eleito presidente da República. b) A renúncia de Jânio Quadros representou a primeira grande crise do regime republicano bra- sileiro. c) Após duas décadas de governos militares, Getúlio Vargas foi eleito presidente em eleições diretas. d) A trágica morte de Vargas determinou o fim da carreira política de João Goulart. e) No período republicano citado, sucessivamente, um presidente morreu, um teve sua posse contes- tada, um renunciou e outro foi deposto. Fotografia de Rene Burri, 0. Operário leva a família para conhecer Brasília no dia de sua inauguração. Brasília, DF, Magnum Photos. FIGUEIREDO, L; MARTINS, A. História do Brasil em 100 fotografias. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2017, p. 171. TEXTO Dirigindo-me a todos os meus concidadãos, de todas as condições sociais, de todos os graus de cultura, que, dos mais longínquos rincões da Pátria, voltais os olhos para a mais nova das cidades que o Governo vos entrega (...). Não nos voltemos para o passado, que se ofusca ante esta profusa radiação de luz que outra aurora derrama sobre a nossa Pátria. (...) Viramos no dia de hoje uma página da História do Brasil. (...) Olhai agora para a Capital da Esperança do Brasil. (...) Esta cidade, recém-nascida, já se enraizou na alma dos brasileiros já vem sendo apontada como demonstração pujante da nossa vontade de pro- gresso, como índice do alto grau de nossa civilização (...). Discurso do presidente Juscelino Kubitschek na solenidade de inauguração de Brasília. Fonte: BRASIL. Discursos selecionados do Presidente Juscelino Kubitschek. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2009, pp.51-53. 23 F R E N T E 1 17. Mackenzie-SP 2020 O governo do presidente João Goulart pretendeu realizar reformas de base a fim de corrigir as distorções resultantes do processo de de- senvolvimento do país de tal forma que crescimento econômico não veio acompanhado de uma distribui- ção equilibrada dos rendimentos junto à população brasileira. A respeito dessas reformas de base, consi- dere as assertivas abaixo. I. No campo econômico sua proposta principal foi a reforma agrária, com emenda do artigo da Constituição, em que se previa a indenização aos proprietários de terras. II. Tais reformas previam, além da reforma agrária, reformas administrativa, bancária e fiscal, em que o governo buscava unir tanto às massas mobili- zadas, quanto a opinião pública, em relação à necessidade de mudanças institucionais para al- cançar o desenvolvimento nacional. III. A realização de reformas de base foi uma propos- ta do seu antecessor,o presidente Jânio Quadros, que durante sua campanha eleitoral e no seu curto governo, esboçou e deu início a algumas estratégias políticas com o intuito de corrigir as distorções econômicas. Assinale a) se apenas a I estiver correta. b) se apenas a II estiver correta. c) se apenas a III estiver correta. d) se apenas a I e II estiverem corretas. e) se somente a I e III estiverem corretas. 18. Unesp 2017 Observe o cartaz, relativo ao plebiscito realizado em janeiro de . b) renúncia presidencial, debates sobre sistema de governo e projetos de reforma social. c) ascensão de governos conservadores, despoliti- zação da sociedade e abolição de leis trabalhistas. d) deposição do presidente da República, priva- tizações de empresas estatais e adoção do neoliberalismo. e) autoritarismos governamentais, restrições à liber- dade de expressão e cassações de mandatos de parlamentares. 19. UEPG-PR 2018 De acordo com Guita Debert “o po- pulismo constitui uma relação pessoal entre um líder e um conglomerado de indivíduos, relação essa explicada através do recurso à ideia de demagogia, nem sempre claramente definida... o líder populista não aparece como um verdadeiro político, mas sobretudo como um aproveitador da ignorância popular, e as massas, na sua irracionalidade, não constituem fundamento para qual- quer tipo de política. O populismo, desse ponto vista, seria, pois, um fenômeno pré-político ou parapolítico.” DEBERT, Guita G. Ideologia e Populismo: Adhemar de Barros, Miguel Arraes, Carlos Lacerda, Leonel Brizola. Rio de Janeiro: CEPS, 2008. p. 6. Com base no exposto acima, e considerando que a história política brasileira está marcada por governos e políticos populistas, assinale o que for correto. Juscelino Kubitschek foi um líder populista que se caracterizou por reforçar o sentimento de bra- silidade. O projeto nacional-desenvolvimentista de JK baseava-se no crescimento do país sem vínculo com o capital internacional, pautado ex- clusivamente nas potencialidades nacionais. Herdeiro político de Vargas, João Goulart caracteri- zou-se como um dos principais líderes populistas da história política brasileira. Uma das marcas do gover- no Goulart foi o seu contato cotidiano com as massas por meio dos veículos de comunicação. Foi ele o cria- dor do programa radiofônico “Hora do Brasil”. Jânio Quadros, eleito presidente com grande apoio popular, é um dos exemplos de governos populistas brasileiros. Personalista, elegeu-se com um discurso moralista baseado no combate à corrupção. Filiado ao Partido Comunista, Jânio foi o maior exemplo de popu- lismo de esquerda no Brasil. Conhecido como “pai dos pobres”, Getúlio Var- gas é um dos grandes exemplos do populismo brasileiro. Carismático, autoritário, criador de uma ampla legislação social e trabalhista, Vargas foi aprovado e venerado pelas massas no Brasil das décadas de 1930, 40 e 50. O nacionalismo foi um dos valores centrais disse- minados por líderes populistas brasileiros (como Getúlio Vargas e João Goulart). O estímulo ao sentimento de amor à pátria, à nação e aos valo- res originários da brasilidade se fez presente em discursos, peças publicitárias e rituais promovidos por tais líderes. Soma: www.projetomemoria.art.br O cartaz alude à situação histórica brasileira marcada por a) estabilidade política, crescimento da economia agroindustrial e baixas taxas de inflação. 24 HISTÓRIA Capítulo República Democrática (-) 20. PUC-SP 2014 Texto complementar Leia a seguir a carta-testamento escrita por Getúlio Vargas em 1954. Direcionada ao povo brasileiro, a carta procura rebater as acusações dire- cionadas a ele, relembrar sua trajetória política e explicar as razões que o levaram ao suicídio. Carta-testamento Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobras e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder. Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esque- cendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não aba- teram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História. (Rio de Janeiro, 23/08/54 - Getúlio Vargas) BRASIL. Carta Testamento de Getúlio Vargas. Câmara dos Deputados, Brasília, s/d. Disponível em: https://www.camara.leg.br/atividade-legislativa/plenario/ discursos/escrevendohistoria/getulio-vargas/carta-testamento-de-getulio-vargas. Acesso em: jan. . Augusto Bandeira. Correio do Amanhã, ... Apud: Rodrigo Patto Sá Motta. Jango e o golpe de 1964 na caricatura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, , p. . É correto armar que a charge, publicada em setembro de : a) celebra as reformas realizadas pelo presidente João Goulart e as interpreta como sendo resultado das mobiliza- ções populares. b) mostra que o golpe militar é iminente e que o presidente João Goulart defende a necessidade de reprimir os movimentos sociais. c) critica o presidente João Goulart e faz alusão a protestos, greves e forte crise política e social, que ocorriam durante seu governo. d) rejeita a autoridade do presidente João Goulart e defende a rebelião como única saída para superar as dificul- dades políticas e econômicas. e) destaca o uso político da mídia pelo