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UNIDADE 2 - Direitos humanos no sistema internacional (AULA)

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Direito internacional 
 
Ainda que o direito internacional tenha origens que remontem ao antigo direito das gentes, pode-se dizer que 
sua faceta moderna, que coloca o indivíduo no centro do seu espectro de proteção, nasce posteriormente a 
esse contexto. 
Se as primeiras raízes do novo direito internacional começam a nascer no fim do século XIX, com o 
surgimento do direito internacional humanitário, pode-se afirmar, de outro lado, que o segundo pós-guerra 
se constitui em um marco para novos paradigmas do direito internacional. Esse é o momento histórico em 
que se inaugura o sistema de proteção das Nações Unidas e toda uma construção normativa iniciada com a 
Declaração Universal dos Direitos Humanos. 
Para se compreender estes passos, ainda que de forma breve, é importante trazer alguns conceitos que 
possam identificar as três vertentes internacionais de proteção do indivíduo. 
O Direito Internacional Humanitário, também denominado Direito Internacional dos Conflitos Armados, é 
parte do Direito Internacional Público. Apresenta-se como um corpo de normas internacionais, de origem 
convencional ou consuetudinária, destinado especificamente a ser aplicado nos conflitos armados, 
internacionais ou não internacionais, que limita o direito das partes em conflito de escolher livremente os 
métodos e os meios utilizados na guerra, ou que protege as pessoas e os bens atingidos, ou que possam ser 
atingidos pelo conflito. Embora não tenha a pretensão de proibir a guerra, tampouco a ambição de definir 
sua legalidade ou legitimidade, evidencia-se que deve ser aplicado quando o recurso à força foi infelizmente 
imposto e o que resta é reduzir o sofrimento das pessoas que não participaram ou que deixaram de participar 
das hostilidades. 
O foco do Direito Internacional Humanitário relaciona-se à limitação dos meios e métodos utilizados 
durante o conflito, entendendo-se por meio o tipo de arma utilizada durante os atos de beligerância, 
enquanto o método significa a maneira de utilizar tal arma. Os beligerantes não têm o direito ilimitado e 
aleatório de utilizar, de forma arbitrária, cruel e desumana, armas e métodos que possam causar sofrimento 
desnecessário. 
Quanto ao instituto dos refugiados, abarca várias situações relacionadas a perseguições por motivos de raça, 
religião, nacionalidade, opiniões políticas que contrariem os interesses de grupos à frente de um Estado etc. 
As normas internacionais que se aplicam para os refugiados decorrem do contexto de grandes conflitos 
internacionais produzidos no curso do século XX e dos diversos problemas advindos deles, tendo sido 
nomeado, em 1921, como Alto Comissário para os Refugiados, o Sr. Fridtjof Nansen, ainda sob o 
funcionamento da Liga das Nações. Porém, a amplitude da matéria deu-se em decorrência dos 
acontecimentos produzidos durante a Segunda Guerra Mundial, na qual milhares de pessoas foram 
deslocadas de seus Estados de origem. Sob a batuta da Organização das Nações Unidas (ONU), criou-se o 
Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), com o propósito de encontrar 
soluções duradouras para a questão dos refugiados. 
No caso do Direito Internacional dos Direitos Humanos, evidencia-se que está relacionado ao pós Segunda 
Guerra Mundial, tendo seu desenvolvimento sido atribuído às monstruosas violações de direitos humanos da 
era Hitler e à crença de que parte dessas violações poderia ser prevenida se um efetivo sistema de proteção 
internacional em favor do indivíduo já existisse. A pessoa humana passou a ser foco da atenção 
internacional e a dignidade humana se estabeleceu, até certo ponto, como princípio universal e consolida a 
ideia de limitação da soberania nacional e reconhece que os indivíduos possuem direitos inerentes à sua 
existência, que devem ser protegidos. 
 
As três vertentes de tutela internacional 
 
As normas do Direito Humanitário, especialmente a Convenção de Genebra, de 1864, previram o 
regramento em situações de guerra, com o intuito de minimizar a dor e o sofrimento de soldados 
prisioneiros, doentes e feridos em situações de conflito armado. Porém, é a partir de 1945, com a 
proclamação da Carta da ONU, que o sistema internacional de proteção dos direitos humanos ganha força e 
destaque, ao “inaugurar” o Direito Internacional dos Direitos Humanos. 
Dentre vários artigos da Carta da ONU, o art. 55, alínea c, dispõe que as Nações Unidas favorecerão o 
respeito universal e efetivo aos direitos humanos e das liberdades fundamentais para todos, sem distinção de 
raça, sexo, língua ou religião. 
Além disso, o art. 56 estabelece que, para a realização dos propósitos enumerados no art. 55, todos os 
Membros da Organização se comprometem a agir em cooperação com esta, em conjunto ou separadamente. 
No entanto, foi em 1948 que a ONU descreveu o significado de direitos humanos na Declaração Universal 
de Direitos Humanos, adotada sem discordância, mas com abstenções por parte das nações do bloco 
soviético, África do Sul e Arábia Saudita. 
Nos anos seguintes, foram promovidos vários acordos internacionais, entre eles, a Convenção Europeia de 
Direitos Humanos (1950); o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (1966); a Convenção 
Interamericana de Direitos Humanos (1969); os Acordos de Helsinque (1975) e a Carta dos Povos Africanos 
de Direitos Humanos (1981). 
Hoje, não há povo que negue uma Carta de direitos e o respectivo mecanismo de efetivação, o que, todavia, 
ainda não significa uma garantia de justiça concreta, porquanto esses direitos podem variar ao sabor do 
pensamento político ou filosófico informador de determinado Estado. 
Indubitavelmente, o necessário desenvolvimento das instituições de proteção e promoção dos direitos 
humanos é importante para todas as pessoas, sejam elas pobres ou ricas, bem como para existir paz e 
segurança no mundo. 
Neste sentido, é possível inferir que, no sistema internacional, há três vertentes de proteção internacional do 
indivíduo: o Direito Internacional Humanitário, o Direito Internacional dos Refugiados e o Direito 
Internacional dos Direitos Humanos. Em que pese terem normas próprias, apresentam como objetivos 
comuns a salvaguarda dos indivíduos. 
Por essa razão que autores, como Cançado Trindade, procuram estabelecer aproximações e convergências 
entre os “direitos” indicados ao assinalarem matérias relativas à proibição da tortura e de tratamento ou 
punição cruel, desumana ou degradante, a detenção e a prisão arbitrárias, as garantias do devido processo 
legal, a proibição de discriminação de qualquer tipo etc. 
Ressalta-se que, embora existam traços marcantes de aproximação dos “direitos” indicados, não se pode 
olvidar que o emprego das expressões, quando utilizadas como sinônimos, deve ser evitado, pois possuem 
origens históricas distintas e aplicações igualmente diferenciadas, o que, por vezes, acaba por trazer grandes 
dúvidas aos iniciantes do estudo. 
 
Direito Internacional dos Direitos Humanos 
 
O século XX foi marcado pelas trágicas consequências para a humanidade advindas da eclosão de grandes 
conflitos mundiais. Porém, é possível afirmar que a Segunda Guerra Mundial se apresenta como marco de 
afronta à dignidade da pessoa humana. 
No pós-guerra, os direitos da pessoa humana ganharam extrema relevância ao serem consagrados 
internacionalmente como resposta às atrocidades cometidas durante o período indicado. 
Os direitos humanos ganham força sob a égide da Organização das Nações Unidas, tendo sido produzidos 
vários documentos internacionais para a proteção dos referidos direitos (Declaração Universal de Direitos 
Humanos; Pacto de Direitos Civis e Políticos e Pacto de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais; 
Convenção sobre Discriminação Racial; Convenção sobre os Direitos da Mulher; Convenção sobre a 
Tortura; Convenção sobre os Direitos da Criança etc.). 
A fase legislativa dos direitos humanos corresponde à criação de quadronormativo extenso, que procura 
efetivamente vincular a Organização Internacional aos seus propósitos, bem como a certas disposições 
contidas em seu ato de criação. 
Assim, a proteção internacional dos direitos humanos defere um status e um standard diferenciados para o 
indivíduo, isto é, apresenta um sistema de proteção à pessoa humana, seja nacional ou estrangeiro, diplomata 
ou não, um núcleo de direitos insuscetíveis de serem derrogados em qualquer tempo, condição ou lugar. 
O vasto número de documentos internacionais que foram produzidos sob os auspícios da ONU em matéria 
de direitos humanos fez com que a dignidade da pessoa humana passasse a se inserir entre os principais 
interesses da sociedade internacional. 
Há uma visão de que a sociedade internacional forma um todo e os seus interesses predominam sobre os dos 
Estados individualmente. Outra consequência relevante da internacionalização desses direitos relaciona-se 
com a soberania dos Estados, cuja noção vai sendo alterada de forma sistemática, ou seja, os direitos 
humanos deixam de pertencer à jurisdição doméstica ou ao domínio reservado dos Estados. 
Dessa forma, os direitos humanos que pertenciam ao domínio constitucional estão em uma migração 
contínua e progressiva para uma diligência internacional. Na busca incessante do reconhecimento, do 
desenvolvimento e da realização dos maiores objetivos por parte da pessoa humana e contra as violações que 
são perpetradas pelos Estados e pelos particulares, o Direito Internacional dos Direitos Humanos tem-se 
mostrado um instrumento vital para a uniformização, o fortalecimento e a implementação da dignidade da 
pessoa humana, que se constitui como um verdadeiro valor na sociedade internacional e deve servir de 
orientação a qualquer interpretação do Direito Internacional Público. 
Ao se solidificar a ideia de que os direitos humanos permeiam todas as áreas da atividade humana e 
correspondem a um novo ethos de nossos tempos, a dignidade da pessoa humana passa a ser considerada 
como núcleo fundamentador dos ordenamentos jurídicos (nacional e internacional), entendendo-se como o 
conjunto de normas que estabelecem os direitos que os seres humanos possuem para o desempenho de sua 
personalidade e determinam mecanismos de proteção a tais direitos. 
No caso das normas de Direito Internacional dos Direitos Humanos, estas encontram-se intimamente 
relacionadas com o tema da subjetividade internacional do indivíduo, tendo se desenvolvido após a Segunda 
Guerra Mundial. São construídos os seus alicerces com base em princípios distintos dos que imperam no 
Direito Internacional Clássico, que desconhecia o indivíduo como sujeito de direito internacional, o que trará 
grandes repercussões em sua autonomia dogmática e na atuação prática. 
Foram criados diversos mecanismos de proteção na ordem jurídica internacional, por exemplo, no âmbito da 
Organização das Nações Unidas, o sistema de relatórios; de queixas; de reclamações interestatais; o 
Conselho (antiga Comissão) de Direitos Humanos etc. Também, nos sistemas regionais de proteção dos 
direitos humanos, a ser posteriormente demonstrado. 
 
 
 
 
Introdução da aula 
 
Caro aluno, a Organização das Nações Unidas, ao ser criada no ano de 1945, inaugura um novo momento no 
campo das relações internacionais ao integrar o indivíduo como sujeito de Direito Internacional. Os direitos 
da pessoa humana passam a ser universalizados, propiciando a criação de um verdadeiro “código 
internacional dos direitos humanos”. 
Os Estados instituíram, na Carta de São Francisco – a Carta da ONU –, a necessidade de preservar as futuras 
gerações do “flagelo da guerra” e, para tanto, atuar para a manutenção da paz e da segurança internacional, 
bem como para a valorização e a proteção da pessoa humana, de modo que os Estados devem promover e 
proteger os direitos humanos com ações que possam estar acompanhadas de atitudes que demonstrem a 
intenção em cooperar com os trabalhos desenvolvidos na esfera internacional. Nessa esteira, as etapas de 
produção normativa, de promoção e de proteção ganham relevo para a compreensão da matéria. 
 
Direito Internacional dos Direitos Humanos 
 
Após a hecatombe da Segunda Guerra Mundial, durante a qual o mundo teve a oportunidade de assistir a 
uma série de barbaridades envolvendo milhares de pessoas, sentiu-se a necessidade de criar mecanismos que 
pudessem garantir proteção aos seres humanos, florescendo o Direito Internacional dos Direitos Humanos. 
O moderno Direito Internacional dos Direitos Humanos é um fenômeno do pós-guerra e seu 
desenvolvimento pode ser atribuído às monstruosas violações de direitos humanos da era Hitler e à crença 
de que parte dessas violações poderia ser prevenida se um efetivo sistema de proteção internacional dos 
direitos humanos já existisse, o que motivou o surgimento da Organização das Nações Unidas, em 1945. 
O Direito Internacional dos Direitos Humanos afirma-se, em nossos dias, com inegável vigor, como ramo 
autônomo da ciência jurídica contemporânea, dotado de especificidade própria. Trata-se, essencialmente, de 
um direito de proteção, marcado por uma lógica própria, voltado à salvaguarda dos direitos dos seres 
humanos, e não dos Estados. 
Com efeito, os direitos inerentes à pessoa humana passaram a ocupar um lócus privilegiado ao serem 
consagrados no ordenamento jurídico internacional. Ao ser considerado objeto principal, pode-se afirmar 
que os indivíduos possuem direitos inerentes à sua existência, que devem ser protegidos. 
A Organização das Nações Unidas tem sua atuação voltada para a manutenção da paz e para a segurança 
internacional, bem como para a valorização e a proteção da pessoa humana, período em que houve 
vertiginoso crescimento de documentos internacionais voltados aos indivíduos. 
A importância e a envergadura das atividades desenvolvidas pelas Nações Unidas no sentido de promover e 
proteger os direitos humanos se expandem com o passar dos anos, atuando em várias frentes, por exemplo, 
na construção e difusão de uma consciência voltada à proteção dos direitos humanos; no processo 
legislativo; na vigilância; no fomento aos estudos; como instância de promoção e de proteção dos direitos 
humanos. 
Com as ações deflagradas pelas Nações Unidas, consolida-se o movimento de internacionalização dos 
direitos humanos, no qual as relações dos Estados com seus nacionais deixam de ter apenas o interesse 
doméstico e passam a ser de interesse internacional, e definitivamente o sistema internacional deixa de ser 
apenas um diálogo entre Estados, sendo a relação de um Estado com seus nacionais uma questão de 
interesse internacional. 
Por fim, pode-se afirmar que o sistema de proteção internacional dos direitos humanos no âmbito da 
Organização das Nações Unidas caracteriza-se como um sistema de cooperação intergovernamental, que 
tem por objetivo a proteção dos direitos inerentes à pessoa humana. Esse sistema é inaugurado no ano de 
1945, com a criação da referida organização internacional, em que fica evidente que o sistema acaba por 
convergir para a proteção dos direitos humanos, ao consagrar princípios fundamentais de seu texto 
normativo, bem como explicitar que a proteção dos direitos humanos é um meio importante para assegurar a 
paz. 
 
Declaração Universal dos Direitos Humanos 
 
 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, consolida a ideia de uma ética universal e, ao 
combinar o valor da liberdade com o da igualdade, enumera os direitos civis e políticos (arts. 3º a 21), como 
também os direitos sociais, econômicos e culturais (arts. 22 a 28), isto é, os denominados direitos de 
primeira e segunda dimensão. Ademais, também proclama a indivisibilidade dos direitos humanos. É 
possível afirmar que as questões voltadas à indivisibilidade e à universalidade dos direitos humanos tornam-
se temas globais, e a dignidade da pessoa humana passou a refletir o fundamentode muitas Constituições a 
partir de então. 
Embora a universalidade dos direitos humanos tenha sido proclamada com a Declaração de 1948, a matéria 
ganhará amplitude de forma inequívoca a partir das duas Conferências Mundiais de Direitos Humanos: a de 
Teerã, de 1968, e a de Viena, de 1993. 
A Conferência Mundial de 1968 objetivou examinar os progressos alcançados nos vinte anos transcorridos 
desde a aprovação da Declaração Universal, em 1948, bem como instou os Estados a aderirem aos pactos e a 
outros instrumentos internacionais de direitos humanos. 
A Conferência de Viena, no ano de 1993, estabeleceu importantes pressupostos programáticos 
indispensáveis à universalização dos direitos humanos, tais como a interrelação entre desenvolvimento, 
direitos humanos e democracia; a legitimidade do monitoramento internacional de suas violações; o direito 
ao desenvolvimento e a interdependência dos direitos fundamentais. Confirmou-se também a ideia de que os 
direitos humanos extrapolam o domínio reservado dos Estados, invalidando o recurso abusivo ao conceito 
de soberania para encobrir violações, ou seja, os direitos humanos não são mais matérias exclusivas das 
jurisdições nacionais. 
Apesar da diversidade de interesses dos Estados, a constitucionalização das regras de conduta da sociedade, 
no que se refere à proteção dos direitos humanos, é cada vez mais premente. 
Além da fase que corresponde à produção normativa internacional sobre direitos humanos, não se pode 
olvidar das ações de promoção que, da mesma forma, torna-se imprescindível pela ação e realização de 
congressos, conferências, seminários, publicações e todas as demais ações que estejam voltadas à difusão da 
matéria, posto que, para se estabelecer a proteção de maneira efetiva, é necessário que sejam conhecidos os 
mecanismos e procedimentos que estão à disposição para tal. 
No sistema onusiano, ganha relevo o órgão dotado de competência para proteção dos direitos humanos, qual 
seja o Conselho de Direitos Humanos. Todavia, deve-se registrar que há outros órgãos, cuja competência 
originária não esteja voltada aos direitos humanos, mas que também atuam de maneira reflexa. A título 
ilustrativo, cita-se o art. 13 da Carta que atribui à Assembleia Geral a possibilidade de iniciar estudos e fazer 
recomendações, destinados a promover cooperação internacional no terreno político e incentivar o 
desenvolvimento progressivo do Direito Internacional e sua codificação; promover cooperação internacional 
nos terrenos econômico, social, cultural, educacional e sanitário e favorecer o pleno gozo dos direitos 
humanos e das liberdades fundamentais, por parte de todos os povos, sem distinção de raça, sexo, língua ou 
religião. 
Também, torna-se digno de registro o Alto Comissariado para os Direitos Humanos, cujas atribuições 
principais são: promover e proteger o gozo de todos os direitos civis, políticos, econômicos e culturais; 
desempenhar as tarefas designadas pelos órgãos competentes do sistema das Nações Unidas, formulando 
recomendações para promoção dos direitos humanos; proporcionar serviços de assessoramento e assistência 
técnica e financeira; coordenar programas de informação e educação em direitos humanos; aumentar a 
eficiência do mecanismo internacional de proteção dos direitos humanos. Ademais, deve-se enfatizar que 
existem os sistemas regionais de proteção, a exemplo do europeu, americano e africano, que serão 
analisados na sequência. 
 
 
 
 
 
Proteção dos direitos humanos 
 
Os direitos humanos, que pertenciam ao domínio constitucional, estão em migração contínua e progressiva 
internacionalização, sendo certo afirmar que, na busca incessante do reconhecimento, do desenvolvimento e 
da realização dos maiores objetivos por parte da pessoa humana e contra as violações perpetradas pelos 
Estados e pelos particulares, o Direito Internacional dos Direitos Humanos tem-se mostrado um instrumento 
vital para a uniformização, o fortalecimento e a implementação da dignidade da pessoa humana. 
A dignidade da pessoa humana passa a ser considerada como núcleo fundamentador do Direito Internacional 
dos Direitos Humanos (e do direito interno), entendido como o conjunto de normas que estabelecem os 
direitos que os seres humanos possuem para o desempenho de sua personalidade e determinam mecanismos 
de proteção a tais direitos. Neste sentido, é possível inferir que há vários mecanismos de proteção na ordem 
jurídica internacional para a proteção de direitos, cujo destaque é o Conselho de Direitos Humanos. 
O órgão foi criado em 15 de maio de 2006, ao substituir a antiga Comissão de Direitos Humanos, por força 
da Resolução nº 60/251, com a aprovação de 170 países, havendo quatro votos contra (Estados Unidos, 
Israel, Ilhas Marshall e Palau) e três abstenções (Venezuela, Irã e Belarus). 
O Conselho, por meio da Resolução nº 60/251, também chamou a si a responsabilidade de prosseguir com 
todos os mandatos, mecanismos, funções e responsabilidades da Comissão, visando manter um sistema de 
procedimentos especiais, de denúncia e de grupo de trabalhos. 
No tocante aos procedimentos de denúncia (complaint procedures), a Resolução nº 5/1 permite que 
indivíduos e organizações possam trazer reclamações sobre violações para a apreciação do Conselho. Cria, 
também, dois Grupos de Trabalho distintos: o primeiro é o Grupo de Trabalho em Comunicações (Work 
Group on Communications), responsável por examinar as denúncias com base nos critérios de 
admissibilidade previamente estabelecidos. Após análise, a denúncia será submetida ao Estado interessado, 
para que este possa se manifestar a respeito das alegações sobre violações de direitos humanos levadas ao 
seu conhecimento. O segundo é o Grupo de Trabalho em Situações (Work Group on Situations), o qual, com 
base nas informações e recomendações fornecidas pelo Grupo de Trabalho em Comunicações, elabora um 
relatório, que será submetido ao Conselho. Outra criação da Resolução nº 60/251 é o Comitê Consultivo 
(Advisory Committee), que substitui a antiga Subcomissão de Promoção e Proteção dos Direitos Humanos. 
Sua atribuição consiste em fornecer opiniões consultivas de experts ao Conselho, baseadas em estudo e 
pesquisa prévios. 
O Conselho de Direitos Humanos conta, ainda, com outros órgãos subsidiários, que foram estabelecidos pela 
antiga Comissão de Direitos Humanos, incluindo: o Mecanismo de Especialistas em Direitos Humanos dos 
Povos Indígenas; o Fórum sobre Questões Minoritárias; o Fórum Social; o Fórum sobre Empresas e Direitos 
Humanos. 
A agenda do Conselho de Direitos Humanos deve definir os itens a serem tratados pelo Conselho de Direitos 
Humanos em suas reuniões ordinárias, que são acomodadas no programa de trabalho anual e de cada sessão 
do Conselho. Essa agenda deve se basear nos princípios de universalidade, imparcialidade, objetividade, não 
seletividade, diálogo construtivo e cooperação, previsibilidade, flexibilidade e transparência, accountability, 
equilíbrio, caráter inclusivo, perspectiva de gênero, implementação e acompanhamento de decisões, e é 
composta por 10 itens: questões de organização e procedimentos; Relatório Anual do Alto Comissariado 
para os Direitos Humanos e do Secretário-Geral da ONU; promoção e proteção de todos os direitos 
humanos, civis, políticos, econômicos, sociais e culturais, incluindo o direito ao desenvolvimento; situações 
de direitos humanos que requerem a atenção do Conselho; órgãos e mecanismos de direitos humanos; 
Revisão Periódica Universal; situação dos direitos humanos na Palestina e outros territórios árabes 
ocupados; seguimento e implementação da Declaração e Programa de Ação de Viena; racismo, 
discriminação racial, xenofobia e outras formas de intolerância, seguimento e implementação da Declaração 
e Programa de Ação de Durban; assistência técnica e reforço da capacidade institucional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Introdução da aula 
 
Alémdo sistema global de proteção dos direitos humanos, registra-se, com elevada importância, os sistemas 
regionais de proteção internacional dos direitos humanos: o europeu, o interamericano, o africano, além do 
incipiente sistema árabe. É interessante notar que todas as Convenções preveem, de diferentes modos, a 
expressão dignidade da pessoa humana ou direitos inerentes à pessoa humana em seus preâmbulos, embora 
não possuam necessariamente perspectivas idênticas. 
Fato é que nenhum dos sistemas regionais é estanque ou completamente enclausurado em si mesmo. Pelo 
contrário, convenções de direitos humanos são instrumentos vivos, cujo diálogo recíproco entre os órgãos 
encarregados de dar efetividade à promoção e à proteção dos direitos humanos acaba por promover um 
constante aprendizado recíproco. Essa concepção, que conjuga a necessidade de sistemas de monitoramento 
e, ainda, uma visão dos direitos humanos como interdependentes, está diretamente relacionada às 
Conferências de Teerã e de Viena. Essa última enfatiza, em particular, as conexões entre direitos humanos, 
desenvolvimento e democracia. 
 
Terminologia 
 
A Convenção Europeia de Direitos Humanos (CEDH) de 1950, em seu preâmbulo, apresenta um primeiro 
“considerando” que se reporta à Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) de 1948. Em seguida, 
afirma que a CEDH se “destina a assegurar o reconhecimento e aplicação universais e efetivos dos direitos 
nela enunciados”. Reconhece como bases para a justiça e a paz no mundo, tanto “num regime político 
verdadeiramente democrático” quanto o “respeito dos direitos do humanos”. Conclui que os governos dos 
Estados europeus, com base nisso, tomaram essas primeiras providências para “assegurar uma garantia 
coletiva de certo número de direitos enunciados na Declaração Universal” (TRIBUNAL EUROPEU DOS 
DIREITOS DO HOMEM, 1950, p. 5). 
A Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969 é posterior à Carta da OEA de 1948 e à Declaração 
Americana de Direitos e Deveres de 1948, que são documentos centrais na estruturação desse sistema 
regional de proteção dos direitos humanos. A Carta da OEA foi reformada pelos Protocolos de Buenos Aires 
(1967), Cartagena de Índias (1985), Washington (1992) e Managua (1993). Seu preâmbulo contempla a 
“missão história da América” em oferecer ao indivíduo uma “terra de liberdade, favorável ao 
desenvolvimento de sua personalidade e justas aspirações de conviver em paz” e propiciar mediante a sua 
“mútua compreensão e seu respeito à soberania de cada um”. Nessa linha, o preâmbulo entende que a 
“democracia representa condição indispensável para a estabilidade, paz e desenvolvimento da região” (OEA, 
1948, [s. p.]). Já em um contexto diverso da Guerra Fria, a Carta Democrática Interamericana de 2001 
reafirmou, por meio da Assembleia Geral, o compromisso da OEA com a democracia representativa. São 
basicamente essas as diretrizes para uma organização intergovernamental realizar uma sintonia fina entre 
respeito à soberania e à efetivação dos direitos humanos. 
O sistema africano foi concebido por meio de sua Carta, aprovada pela Conferência Ministerial da 
Organização da Unidade Africana (OUA), em Banjul, Gâmbia, em janeiro de 1981, e adotada pela XVIII 
Assembleia dos Chefes de Estado e Governo da Organização da Unidade Africana (OUA), em Nairóbi, 
Quênia, em 27 de julho de 1981. A perspectiva adotada foi mais coletivista, global, comunitária e focada nos 
direitos de 3ª geração/dimensão, quando comparada às Convenções Europeia e Americana. Fica evidente, a 
começar pela própria parte final do nome empregado para designar o documento “... e dos povos”. Essa 
perspectiva também fica evidente em três partes do preâmbulo. A primeira parte enfatiza a liberdade, a 
igualdade, a justiça e a dignidade como objetivos a serem realizados para atender às “aspirações dos povos 
africanos” e conclui, ainda no preâmbulo, com a importância de, nos termos do art. 2º da Carta, “eliminar 
sob todas as suas formas o colonialismo da África” por meio da cooperação e coordenação com os 
instrumentos da Carta da ONU e da DUDH. A segunda traça a diretriz para se adotar os direitos humanos 
em sua universalidade, o que significa, na Carta Africana, “dedicar particular atenção ao direito ao 
desenvolvimento”, já que os “direitos civis e políticos são indissociáveis dos direitos econômicos, sociais e 
culturais” (OUA, 1981, [s. p.]). A terceira merece ser enfatizada: 
 
Os povos continuam a lutar pela sua verdadeira independência e pela sua dignidade, e comprometendo-se a 
eliminar o colonialismo, neocolonialismo, apartheid, o sionismo, as bases militares estrangeiras de agressão 
e quaisquer formas de discriminação, nomeadamente as que se baseiam na raça, etnia, cor, sexo, língua, 
religião ou opinião política. (OUA, 1981, [s. p.]) 
Por fim, há de ressaltar que também existe o incipiente sistema árabe. 
 
Aspectos históricos 
 
A região do continente europeu, abrangida pelo Conselho da Europa, é a parte do mundo mais desenvolvida 
no que tange à proteção dos direitos humanos, nos termos da Convenção Europeia para a Proteção dos 
Direitos Humanos e das Liberdades Fundamentais. Essa necessidade de proteger os direitos humanos 
ocorreu, em grande medida, em razão das atrocidades que foram praticadas, especialmente, por ocasião da 
Segunda Guerra Mundial no velho continente. O sistema europeu possui dispositivos que são consagrados 
na Convenção Europeia para a Proteção dos Direitos Humanos e das Liberdades Fundamentais, bem como 
em instrumentos da União Europeia e na Carta de Direitos Fundamentais da União Europeia. 
No caso do sistema africano, este foi concebido pela sua Carta, aprovada pela Conferência Ministerial da 
Organização da Unidade Africana (OUA) em Banjul, Gâmbia, em janeiro de 1981, e adotada pela XVIII 
Assembleia dos Chefes de Estado e Governo da Organização da Unidade Africana (OUA) em Nairóbi, 
Quênia, em julho de 1981. Apresenta como objetivos fundamentais a defesa da soberania dos Estados, bem 
como da integridade territorial e independência de seus membros, o desenvolvimento e a integração 
socioeconômica do continente africano e o respeito aos direitos humanos. Além da Carta Africana sobre 
Direitos Humanos, o sistema africano de proteção aos direitos humanos apresenta outros documentos 
importantes e que versam sobre temas específicos, como a Convenção para Eliminação dos Mercenários e a 
Carta Africana sobre os Direitos e o Bem-estar da Criança. Destaca-se que o texto produzido na África 
distingue-se em seus traços gerais dos documentos produzidos na Europa e na América, pois, ao invés de 
consagrar de forma preponderante os direitos civis, como os outros continentes, o aludido texto preconiza a 
proteção de direitos dos povos. Foi assim que os Estados africanos estabeleceram, nesse documento 
internacional, direitos relativos à afirmação da independência, da autonomia e do progresso dos referidos 
Estados. 
Quanto ao sistema de proteção internacional dos direitos humanos no continente americano, evidencia-se 
que este abarca os procedimentos contemplados na Carta da Organização dos Estados Americanos, na 
Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e na Convenção Americana de Direitos Humanos. 
O sistema americano, num primeiro momento, atribuía competências para todos os Estados-membros, por 
força da Carta da Organização dos Estados Americanos e da Declaração Americana dos Direitos e Deveres 
do Homem. Posteriormente, com a Convenção Americana de Direitos Humanos, os procedimentos e 
instrumentos ali previstos passaram a ser aplicados tão somente aos Estados-partes do referido tratado 
internacional. Por essa razão é que se costuma afirmar que no âmbito americano existe um sistema duplo de 
proteção dos direitos humanos: o sistema geral, baseado na Carta e na Declaração, e o sistema que abarca 
apenas os Estados signatários da Convenção, que, além decontemplar a Comissão Interamericana de 
Direitos Humanos, como no sistema geral, também alcança a Corte Interamericana de Direitos Humanos. 
Por fim, ressalta-se que, embora o sistema de proteção regional dos direitos humanos esteja funcionando em 
vários pontos do globo, deve-se alertar que, no mundo árabe, ainda não passa de uma grande aspiração, pois 
os direitos humanos para os povos árabes, em regra, apresentam-se como um poder derivado de um poder 
divino, o que acaba por produzir situações complexas para alguns segmentos da população, como no caso 
das mulheres. 
 
Fundamentos 
 
A Convenção para a Proteção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais foi concebida pelo 
Conselho da Europa, tendo sido aberta à assinatura em Roma, no dia 4 de novembro de 1950, e entrou em 
vigência no mês de setembro de 1953. Essa Convenção foi e continua a ser o mais importante catálogo 
europeu de direitos. A experiência bem-sucedida de um texto que vigora por tanto tempo, sucessivamente 
renovado e ampliado por protocolos adicionais, cuja garantia foi confiada a um verdadeiro tribunal, é o 
principal fator que converge no sentido de fazer da Convenção a mais exemplar realização de objetivos 
realizados pelo Conselho da Europa. Outro ponto importante da referida Convenção relaciona-se à 
instituição de órgãos destinados a fiscalizar o respeito aos direitos humanos declarados no referido 
documento internacional, como também julgar os casos que ensejassem a violação dos direitos por Estados 
signatários do Tratado. Três instituições ficavam responsáveis pelo controle: a Comissão Europeia dos 
Direitos do Homem (criada em 1954), o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (instituído em 1959) e o 
Comitê de Ministros do Conselho da Europa, composto por ministros dos negócios estrangeiros dos 
Estados-membros ou pelos seus representantes. A existência de órgãos incumbidos de fiscalizar o respeito 
aos direitos humanos e julgar as suas eventuais violações foi, sem dúvida, um grande marco para a evolução 
do sistema de proteção dos direitos humanos no plano internacional. 
No sistema africano, além da Carta Africana sobre Direitos Humanos, ganha relevo cinco instrumentos 
vinculativos ainda não ratificados por todos os Estados, a saber: Carta Africana sobre a Democracia, Carta 
da Criança, Convenção dos Refugiados, Protocolo da Mulher e Protocolo sobre o Estabelecimento do 
Tribunal Africano. Dentre as Instituições de Garantia e de Controle da Carta Africana, as principais são a 
Comissão Africana, que busca promover e garantir a realização dos Direitos Humanos no continente, e a 
Corte Africana, que reforça a atuação da Comissão com seu caráter contencioso e consultivo. A Comissão é 
a primeira a analisar os casos, porém, como não possui caráter vinculante, apenas pode fazer recomendações 
aos Estados. A Corte, por outro lado, tem força vinculante e pode punir os Estados por sua negligência ou 
por violação direta dos direitos humanos. 
O sistema interamericano consagra a Carta, que é um documento mais abrangente no que tange ao número 
de Estados a ela submetidos, porém menos protetivo, por abarcar apenas a Comissão como órgão voltado à 
proteção dos direitos humanos, e a Convenção, que se apresenta como documento hábil para os Estados que 
reconhecem a jurisdição da Corte Interamericana. Para melhor compreensão do sistema interamericano de 
proteção dos direitos humanos, devem ser levados em consideração dois aspectos: o contexto histórico e as 
peculiaridades da região, pois trata-se de um local marcado por elevado grau de exclusão e desigualdade 
social, ao qual se somam democracias em fase de consolidação. A região convive, ainda, com as 
reminiscências do legado dos regimes autoritários ditatoriais, com uma cultura de violência e de 
impunidade, com a baixa densidade dos Estados de Direito e com a precária tradição de respeito aos direitos 
humanos no âmbito doméstico. Dois períodos assim demarcam o contexto latino-americano: o período dos 
regimes ditatoriais e o período da transição política aos regimes democráticos, marcado pelo fim das 
ditaduras militares na década de 1980 na Argentina, no Chile, no Uruguai e no Brasil. 
 
Introdução da aula 
 
O Sistema Interamericano de Direitos Humanos apresenta-se como uma ferramenta de importância 
inestimável para a garantia efetiva dos direitos humanos no continente americano, pois através dos dois 
órgãos de proteção dos direitos humanos previstos nos documentos internacionais americanos (a Comissão 
Interamericana e a Corte Interamericana) garante-se não só o acompanhamento da conduta dos Estados 
membros como também a possibilidade de se julgar casos atentatórios aos direitos humanos. Os referidos 
órgãos, que são responsáveis pela proteção dos direitos humanos no continente americano, possibilitam a 
resolução de casos de presumida violação de direitos e liberdades contidas na Convenção Americana sobre 
direitos humanos, por meio de um procedimento que se inicia na Comissão e que poderá ter a sua apreciação 
na Corte, com a consequente condenação do Estado por atos atentatórios aos direitos inerentes à pessoa 
humana. 
 
Terminologia 
 
Por meio do funcionamento dos órgãos de proteção dos direitos humanos no sistema interamericano, é 
possível acompanhar a conduta dos Estados-membros que envolva atentados aos direitos humanos, como 
também que os Estados sejam julgados com a correspondente sentença condenatória que deverá ser 
cumprida, sob pena de sanções de natureza política perante a Organização dos Estados Americanos. Trata-se 
de matéria de grande interesse à medida que as decisões proferidas pela Corte Interamericana produzem 
efeitos significativos para os Estados que são parte dos tratados internacionais de direitos humanos e que 
reconhecem a jurisdição da Corte. 
Neste sentido, a título inaugural, apresenta-se a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, cuja sede 
encontra-se em Washington, que é um órgão da Organização dos Estados Americanos (OEA) criado para 
promover a observância e a defesa dos direitos humanos, bem como para funcionar como órgão consultivo 
da OEA nesta matéria. Ela representa todos os Estados integrantes da OEA. Seus membros devem ser eleitos 
pela Assembleia Geral da Organização, de uma lista de candidatos propostos pelos governos dos Estados-
membros. A competência da Comissão alcança todos os Estados-partes da Convenção Americana, em 
relação aos direitos da pessoa humana nela consagrados, bem como a todos os Estados integrantes da OEA, 
em relação aos direitos consagrados na Declaração Americana de 1948. A Comissão Interamericana de 
Direitos Humanos é constituída por sete pessoas de alta autoridade moral e reconhecido saber em matéria de 
direitos humanos, cuja missão precípua é promover a observância e a proteção dos direitos da pessoa 
humana no âmbito do continente americano. Os integrantes da Comissão são eleitos por quatro anos e só 
poderão ser reeleitos uma vez, sendo igualmente vedada a participação na Comissão de mais de um nacional 
de um mesmo país. 
Em relação à Corte Interamericana de Direitos Humanos, apresenta-se como uma instituição judicial 
independente e autônoma regulada pelos artigos 33 (alínea b) e 52 a 73 da Convenção Americana de 
Direitos Humanos, bem como pelas normas do seu Estatuto, tendo sido instalada em 1979. Situada na cidade 
de São José, Costa Rica, sua criação tem origem na proposta apresentada pela delegação brasileira à IX 
Conferência Interamericana, realizada em Bogotá, no ano de 1948. Composta por sete juízes, nacionais dos 
Estados-membros da Organização, eleitos a título pessoal dentre juristas da mais alta autoridade moral, de 
reconhecida competência em matéria de direitos humanos, que reúnam as condições requeridas para o 
exercício das mais elevadas funções judiciais, de acordo com a lei do Estado do qual sejam nacionais ou do 
Estado que os propuser como candidatos.Os juízes da Corte são eleitos por um período de seis anos e 
poderão ser reeleitos uma vez, em votação secreta, pelo voto da maioria absoluta dos Estados-partes na 
Convenção, na Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos, de uma lista de candidatos 
propostos pelos mesmos Estados. A Corte também pode contar com juízes ad hoc para tratar de 
determinadas matérias, conforme estabelece o art. 55 da Convenção Americana, cujos requisitos são os 
mesmos dos demais juízes da Corte. 
A Corte Interamericana de Direitos Humanos, originada por meio do Pacto de São José da Costa Rica 
(Convenção Americana sobre Direitos Humanos – 1969), apresenta como objetivos a aplicabilidade do 
referido tratado internacional na ordem jurídica dos Estados-membros que a compõem, conforme preceitua o 
art. 1º. Quanto às funções da Corte Interamericana, são classificadas e definidas pela Convenção Americana 
em duas categorias: contenciosa (artigos 61, 62 e 63) e consultiva (art. 64). 
 
Aspectos históricos 
 
Embora a Comissão Interamericana de Direitos Humanos tenha diversas atribuições, pode-se afirmar que 
sua principal função está relacionada à promoção, à observância e à defesa dos direitos humanos. Para 
alcançar esse desiderato, no que tange à promoção dos direitos humanos, a Comissão deve preparar estudos, 
relatórios e propor recomendações aos Estados, tendo em vista a adoção de medidas que favoreçam o 
sistema de proteção aos direitos humanos no plano doméstico, como também conhecer petições individuais 
e comunicações interestatais que contenham denúncias de direitos que tenham sido aviltados nos termos da 
Convenção. Ela realiza seu trabalho com base em três pilares: o sistema de petição individual, o 
monitoramento da situação dos direitos humanos nos Estados Membros e a atenção a linhas temáticas 
prioritárias. Por meio desta estrutura, a Comissão considera que, no contexto da proteção dos direitos de 
toda pessoa sob jurisdição dos Estados americanos, é fundamental dar atenção às populações, às 
comunidades e aos grupos historicamente submetidos à discriminação. Digno de registro o fato de que 
qualquer pessoa, grupo de pessoas ou entidade não-governamental legalmente reconhecida em um ou mais 
Estados-membros da Organização, nos termos do art. 44, pode apresentar à Comissão petições que 
contenham denúncias ou queixas de violação desta Convenção por um Estado-parte. Inicialmente, a 
competência da Comissão estava adstrita à promoção dos direitos humanos por meio de preparação de 
estudos e relatórios, bem como de recomendações aos governos dos Estados, com vistas à adoção de 
medidas em prol dos direitos humanos no plano doméstico dos seus respectivos territórios. Hodiernamente, 
possui também competência para efetiva proteção dos direitos humanos em razão do conhecimento de 
petições individuais e de comunicações interestatais que contenham denúncias de violações aos direitos 
previstos na Convenção Americana. 
Quanto à Corte Interamericana de Direitos Humanos, evidencia-se que ela pauta suas atuações em prol da 
observância dos principais documentos internacionais protetivos aos direitos humanos e propicia 
significativos avanços nesta matéria no âmbito do continente americano. Neste sentido, houve modificações 
no campo dos direitos humanos e até mesmo no próprio funcionamento do Estado, por exemplo, os estudos 
que envolvem a soberania, que passa a ser mitigada na medida em que os Estados se submetem à 
obrigatoriedade da jurisdição da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Os Estados, ao se tornarem 
signatários da Convenção Americana, geram para si um dever, qual seja, o de adequar sua legislação e 
jurisdição interna para que estas estejam em consonância com as normas externas e com a jurisprudência da 
Corte Interamericana, sendo necessária a observância do controle de convencionalidade. 
A adesão da República Federativa do Brasil ao sistema da Corte Interamericana de Direitos Humanos é 
vantajosa para o Estado e para a pessoa humana, posto que, a partir do desenvolvimento dos mecanismos 
coletivos de aferição de eventual violação de direitos humanos, ganha o indivíduo, por ter acesso a 
mecanismos internacionais de proteção; ganha todo e qualquer Estado, por neutralizar os mecanismos 
unilaterais; ganha a sociedade internacional como um todo, por ser a proteção dos direitos humanos 
essencial rumo ao estabelecimento de uma sociedade humana justa, igual e em paz. Por fim, conclui-se que 
os compromissos assumidos pelo Estado brasileiro junto ao Sistema Interamericano e, particularmente, ao 
reconhecer a jurisdição da Corte, alcançou resultados significativos, tendo sido apreciados diversos casos 
que envolveram a República. 
 
Fundamentos 
 
O controle de convencionalidade em sede nacional ocorre quando se aplica a Convenção Americana de 
Direitos Humanos ou as normas de direitos humanos incluídas em tratados internacionais ao bloco de 
constitucionalidade ao invés de utilizar o direito interno, mediante um exame de confrontação normativo 
(material) em um caso concreto e a elaboração de uma sentença judicial que proteja os direitos da pessoa 
humana. Neste caso, corresponde ao controle de caráter difuso, em que cada juiz aplica este controle de 
acordo com o caso concreto que será analisado. Isso se dá na esfera interna (controle de convencionalidade) 
por intermédio da atuação dos tribunais e juízes internos que terão a competência de aplicar a Convenção em 
detrimento da legislação interna, em um caso concreto, a fim de proteger direitos mais benéficos à pessoa 
humana. Se por um lado os juízes de primeiro grau e os tribunais estão submetidos ao império da lei estatal, 
por outro também não se pode olvidar que um tratado internacional, quando ratificado pelo Estado, é 
incorporado à ordem jurídica interna. Ao ratificar um tratado internacional de direitos humanos, o Estado se 
vincula a ele. Assim, é dever do Estado garantir mecanismos no plano interno que estejam afinados com as 
normas internacionais, que passam a fazer parte do ordenamento jurídico interno do Estado, impondo 
desafios para sanar o conflito que uma norma poderá apresentar em relação à outra. 
Ao se realizar o controle de convencionalidade, é possível inferir que o profissional do direito não é 
obrigado a indicar apenas um fundamento normativo para tutelar direitos em favor do indivíduo, sendo, 
portanto, possível utilizar mais de uma norma (interna ou internacional) que possibilite o diálogo entre elas, 
com o intuito de alcançar o resultado mais adequado em benefício dos interesses da pessoa humana. 
Sem embargo, ao ocorrer um conflito entre uma norma de direito internacional e uma norma 
infraconstitucional, os tribunais e os juízes nacionais poderão aplicar dois tipos de controles: o controle de 
constitucionalidade e o controle de convencionalidade, que poderá ser realizado tanto pela via difusa quanto 
pela via concentrada. Assim, a norma interna de natureza infraconstitucional terá validade se conseguir 
passar por estes dois dispositivos de controle: o primeiro tem a finalidade de verificar se a lei 
infraconstitucional é compatível com a Constituição, e o segundo serve para averiguar se há violação de 
direitos consagrados em tratados internacionais de direitos humanos ratificados pelo país. O controle de 
convencionalidade deve ser exercido pelos órgãos da justiça nacional relativamente aos tratados de direitos 
humanos aos quais o país se encontra vinculado. Trata-se de adaptar ou conformar os atos ou as leis internas 
aos compromissos internacionais assumidos pelo Estado, que criam para estes deveres no plano 
internacional com reflexos práticos no plano do seu direito interno, ou seja, não somente os tribunais 
internacionais devem realizar este tipo de controle mas também os tribunais internos. Por fim, registra-se 
que o controle de convencionalidade doméstico consiste numa sindicância de compatibilidadeentre o direito 
estatal e o internacional dos direitos humanos, que trarão vários desdobramentos para a ordem jurídica 
interna. 
 
 
 
 
 
 
Aspectos históricos e conceituais 
 
Caro aluno, a presente unidade de revisão se propõe a revisitar os estudos voltados à proteção internacional 
dos direitos humanos. Para tanto, analisaremos antecedentes importantes voltados às três vertentes de 
proteção internacional do indivíduo; abordaremos o sistema das Nações Unidas, com a correspondente 
proteção global de proteção, para, na sequência, identificarmos os sistemas regionais, com maior ênfase no 
sistema interamericano e no controle de convencionalidade. 
Assim, como assentado na primeira aula da Unidade 2, apresentamos aspectos históricos sobre a proteção 
internacional do indivíduo, que corresponde às três vertentes: o Direito Internacional Humanitário, o Direito 
Internacional dos Refugiados e o Direito Internacional dos Direitos Humanos. Ademais, abordamos o 
processo de positivação, o processo de generalização, o processo de internacionalização e o processo de 
especificação. 
Na segunda aula, contemplamos os pontos relativos à proteção internacional dos direitos humanos após a 
Segunda Guerra Mundial, com a criação da Organização das Nações Unidas, em 1945, com o consequente 
reconhecimento da subjetividade internacional do indivíduo. 
Na aula seguinte, destacamos os sistemas regionais de proteção dos direitos humanos, ocasião em que 
indicamos pontos importantes dos referidos sistemas, notadamente o europeu, o africano e o americano, que, 
na aula seguinte, ganhou destaque especial. 
Por fim, na última aula, estudamos os órgãos de proteção dos direitos humanos do sistema americano, in 
casu, a Comissão Interamericana e a Corte Interamericana de Direitos Humanos. Além disso, apresentamos 
a aplicabilidade do controle de convencionalidade para emprego da norma mais benéfica em favor da pessoa 
humana. 
Indubitavelmente, ao compreender as aulas ministradas ao longo da unidade, você será capaz de se debruçar 
de maneira satisfatória, não apenas no estudo de caso a ser realizado mas também em outros que versem 
sobre a proteção internacional do indivíduo. 
 
Estudo de caso 
 
Caro aluno, é hora de colocar em prática os conhecimentos adquiridos ao longo dos nossos estudos. Para 
tanto, foi escolhido o caso paradigmático que envolveu o Estado brasileiro junto ao sistema interamericano 
de proteção dos direitos humanos (República Federativa do Brasil x Damião Ximenez Lopes). 
Aqui, é possível identificar a relação estreita do sistema internacional com o interno no que tange à proteção 
dos direitos humanos. 
Sobre o caso a seguir, com texto adaptado, analise a situação que envolve o sistema internacional e o interno 
em relação à proteção dos direitos humanos e explique por que a demanda que envolveu Damião Lopes foi 
submetida aos órgãos de proteção do sistema interamericano (Comissão e Corte). 
 Damião Lopes, pessoa com deficiência, foi internado em uma casa de repouso do Sistema Único de Saúde, 
em uma cidade no estado do Ceará, sem quaisquer marcas de agressão física. Alguns dias depois, sua mãe, 
ao visitá-lo na unidade de saúde, o encontrou agonizando, com diversos hematomas pelo corpo, com as 
mãos amarradas e sinais de tortura, vindo a falecer nesse mesmo dia sem apoio médico. 
A justiça brasileira foi acionada nas esferas criminal e civil. Porém, em face da morosidade do Estado 
brasileiro para verificação da matéria e a consequente não prestação jurisdicional, a matéria foi levada ao 
sistema interamericano pelos familiares de Damião, para apreciação do caso. 
A partir do texto, pergunta-se: 
https://www.corteidh.or.cr/casos_sentencias.cfm?lang=pt
 Qual é o principal papel da Comissão Interamericana de Direitos Humanos e quais são os requisitos 
para que o órgão aprecie a matéria? 
Sobre a decisão proferida pela Corte Interamericana, quais são os desdobramentos para o Estado brasileiro? 
 
Reflita 
A partir de um caso concreto que envolveu o Estado brasileiro junto ao sistema interamericano de proteção 
dos direitos humanos, que culminou, inclusive, na primeira condenação do Brasil junto à Corte, você terá a 
oportunidade de verificar a grande interação que envolve o sistema internacional com o interno em face 
desta matéria. 
Torna-se evidente que as normas de proteção dos direitos humanos produzidas na arena internacional 
repercutem diretamente no direito doméstico, sendo possível inferir que se apresentam como instrumentos 
poderosos para que os direitos inerentes à pessoa humana sejam protegidos e garantidos. 
A dignidade da pessoa humana se apresenta como fundamento e princípio relevante no direito interno e no 
direito internacional dos direitos humanos, cabendo ao intérprete e aplicador do direito usar a norma mais 
benéfica em favor do indivíduo. 
A compreensão das fases legislativa, de promoção e de proteção dos direitos humanos é relevante e, a partir 
de um caso concreto, que foi submetido ao crivo do sistema interamericano, torna-se perceptível a 
concretude da matéria.

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