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2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 3 2 PSICOLOGIA DA RELIGIÃO ............................................................................... 4 2.1 Teorias Clássicas da Psicologia da Religião ......................................................... 4 2.1.1 Psicologia Comportamental-Cognitivista e Religião ......................................... 5 2.1.2 Teorias da Psicologia Profunda ou Psicodinâmica e Religião .......................... 6 2.1.3 Teorias da Psicologia Humanista e Religião ..................................................... 8 3 TEORIAS CONTEMPORÂNEAS DA PSICOLOGIA DA RELIGIÃO ................. 11 4 SISTEMA DE CRENÇAS ................................................................................... 15 4.1 Crenças e Experiência Religiosa ........................................................................ 16 4.2 Freud e o Sistema de Crenças ........................................................................... 17 4.3 Erich Fromm e o Sistema de Crenças ................................................................ 20 5 A ORIGEM DA RELIGIÃO ................................................................................. 23 6 RELIGIÃO E CIÊNCIA EM BUSCA DO SENTIDO ............................................ 26 7 PSICOLOGIA, RELIGIÃO E CIÊNCIA ............................................................... 29 8 ADOECIMENTO MENTAL E RELIGIÃO ............................................................ 31 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 40 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 PSICOLOGIA DA RELIGIÃO Fonte: https://bit.ly/3wYdlPh A psicologia é uma ciência que estuda o comportamento humano, e como as atividades religiosas são comportamentos humanos, elas também devem ser consideradas como elementos da psicologia (FARRIS, 2002). Portanto, é correto dizer que a psicologia da religião não tem relação com religião, na verdade, tem a ver com a experiência do religioso (PAIVA, 1998). O “Comportamento religioso” pode ser entendido como “qualquer ato ou atitude, individual ou coletiva, pública ou privada, que tenha específica referência ao divino ou sobrenatural” (ROSA, 1979, p.15). Com efeito, a psicologia, como sucessora da Filosofia, tem a tarefa de conquistar os campos cada vez mais complexos, culminando no campo da religião (PAIVA, 1990). No entanto, “como as formas religiosas são históricas, a psicologia só se aplicará com competência a uma modalidade religiosa se apreender seu sentido”, para o que precisa estar atenta à cultura e ao que outras disciplinas têm a dizer. De fato, “a psicologia tem buscado interagir com disciplinas biológicas, como a fisiologia e a psiconeuroimunologia, e com disciplinas sociais, como a antropologia” (PAIVA, 2007, p. 101, 102). 2.1 Teorias Clássicas da Psicologia da Religião Qual é o propósito da psicologia da religião? A pergunta parece óbvia: a religião é a resposta. Mas o que é religião? Conceituar religião tem sido um desafio, não apenas para a psicologia da religião, mas para o campo dos estudos religiosos como 5 um todo, e é um desafio para o qual a filosofia da religião e a fenomenologia são mais adequadas (BELZEN, 2009). Entende-se que, “a religião é uma instituição social que discute a realidade que transcende a humana, repetindo-se dinamicamente em diferentes signos, símbolos, mitos e ritos nas diversas organizações humanas” (RODRIGUES; GOMES, 2013, p. 334). O mais interessante na Psicologia da Religião é que “a religião trata de uma realidade em que os afetos, a razão, os valores, os comportamentos humanos estão envolvidos, bem como suas crenças, sua dimensão social, cultural, política e ética” (RODRIGUES; GOMES, 2013, p. 334). Na verdade, a psicologia da religião está cada vez mais reconhecendo a sua finalidade: “descrever, fenomenologicamente, a religião e não julgar ou avaliar os valores ou as verdades existenciais dessas práticas” (FARRIS, 2002, p.36). Segundo a Paiva (1998, p.155), “o objeto religioso torna-se possível quando aceito como dado. O estudo científico desse objeto parece exigir, epistemologicamente, o reconhecimento da competência de outras instâncias, anteriores e exteriores à ciência, para falar o transcendente”. 2.1.1 Psicologia Comportamental-Cognitivista e Religião Edênio Valle (2008, p. 44) confirma que “na psicologia da religião estão presentes todas as tendências existentes na ciência psicológica”. Em um extremo, “a experiência religiosa é uma neurose, segundo Freud, e, no outro extremo, ela pode ser um aspecto saudável da busca de sentido, de acordo com Frankl” (FARRIS, 2002, p. 31). Segundo Edênio Valle (2008, p. 45, grifo do autor), “os psicólogos norte- americanos tendem a assumir posições de cunho experimentalista, preocupando-se prioritariamente em definir as condições da observação e em discriminar os estímulos e reações comportamentais religiosas a serem mensuradas”. A psicologia experimental considera o comportamento o único componente quantificável em humanos, Girgensohn conduziu o primeiro estudo experimental da Psicologia da Religião. No entanto, os behavioristas, não estavam particularmente interessados em comportamento religioso, e suas pesquisas nessa área foram paralelas a outras pesquisas conduzidas. Podemos citar as (refere-se a pesquisas) que tratam de temas religiosos: Sargant, Skinner, Stark e Glock. 6 Sagant aplicou os experimentos de Pavlov ao problema religioso, observando a influência do ritmo e da dança no ritual religioso e deixando o líder carismático controlar o colapso emocional dos participantes. Skinner observa sistemas de comportamento social e mostra que a religião reforça/suprime atitudes prometendo recompensas ou ameaçando punição eterna. Starks e Glocks na América do Norte foram uns dos poucos cientistas comportamentais que aderem às verdades religiosas. Stark e Glock investiga a natureza das crenças religiosas e suas consequências psicológicas e sociais. Embora não tenha feito estudos importantes na psicologia da religião, o behaviorismo o apresentou à validade dos métodos estatísticos para análise (RODRIGUES; GOMES, 2013). Estudos com abordagem psicofisiológica têm levado em consideração as alterações hormonais, de humor e emocionais associadas à crença religiosa, permitindo uma melhor compreensão dos processos neuropsicológicos envolvidos no comportamento religioso. No âmbito da psicologia cognitiva, Pierre Piaget observou em seus estudos sobre o desenvolvimento cognitivo humano que as atitudes religiosas estão ligadas à relação entre o sujeito e seus pais: os membros da família desencadeiamrelações internas com o sagrado dos adultos. Desse ponto de vista, a psicologia da religião deveria considerar o desenvolvimento infantil e a inteligência humana, uma vez que a religião promove crenças e ideias desenvolvimentistas sobre Deus (RODRIGUES; GOMES, 2013). 2.1.2 Teorias da Psicologia Profunda ou Psicodinâmica e Religião Em psicologia, a chamada abordagem psicodinâmica ou aprofundada não é exclusiva da psicanálise de Freud. A psicologia profunda tem implicações para o estudo de Psicologia da Religião por causa da diversidade de autores e pensamento, e por meio da ênfase da psicologia no combate ao viés no estudo da religião. Seus principais representantes são Sigmund Freud, Carl Jung, Erich Fromm e E. Erickson (DIAS, 2017). A Psicanálise de Freud foi baseada na suposição de que a neurose tinha uma base inorgânica, e ele usou a hipnose para tratar seus sintomas e, posteriormente, desenvolveu o método da associação livre.. Ele dedicou cinco livros para analisar a influência da religião no comportamento humano, o mais direto dos quais foi Futuro de uma Ilusão, publicado em 1927. Ele entendia a crença religiosa como uma ilusão 7 de onipotência e o desejo de imortalidade. Entre 1914 e 1930, considerou qual seria o destino da religião na sociedade moderna, partindo do pressuposto de que o indivíduo compensa a vida pelos limites de sua felicidade, sentindo a ilusão de ser amado, Freud enumerou três funções da religião, a saber: 1. Afastar os medos da natureza; 2. Prover alguma esperança; 3. Compensar as privações que a vida civilizada impõe. A ideia de que, a religião continuará enquanto os humanos forem imaturos e incapazes de suportar as dificuldades da existência, foi abandonada por Freud. Depois de 1930, Freud reorganizou sua Psicologia da Religião. No texto “O mal-estar da civilização’’, ele aborda sobre moralidade, culpa e felicidade. A obra preza pelo valor da religião na vida humana, abordando entre outros assuntos os limites éticos da religião ao comportamento sexual e agressivo e da redução dos conflitos internos de grupos humanos a fim de garantir a preservação de espécies (RODRIGUES; GOMES, 2013). Portanto, a visão freudiana da religião é redutora e negativa. Até hoje, o método de Freud e suas variantes continuam sendo modelos influentes para explicar a religião e a cultura. A principal contribuição de Freud é o seu inconsciente: para ele, são os motivos inconscientes que sustentam os símbolos religiosos, ou seja, a religião é o sonho coletivo que possibilita a expressão inconsciente do conteúdo (PADEN, 2002). Freud considerava a religião inimiga do pensamento livre e da culpa, então quando menciona a religião não queria apenas especular sobre ela, ele tinha um propósito muito prático, percebia que “o objetivo da terapia é tornar o ego consciente do que está reprimido, para não se sujeitar a comportamentos irracionais ou defensivo. [...] Não podemos curar a sociedade, se não conhecemos a doença” (PADEN, 2002, p. 49-50). A diferença entre a escola freudiana e junguiana é conhecida, esta última “dá um lugar positivo e central à experiência religiosa no processo de individuação” (VALLE, 2008, p. 47). Carl Jung foi um dos alunos mais próximos de Freud, mas ele se distanciou dele ao introduzir a nova visão do inconsciente e estender o conceito de desejo sexual à energia vital. Jung tinha uma visão mais positiva do inconsciente 8 humano, enquanto Freud via o inconsciente como um exemplo de emoções e impulsos reprimidos (RODRIGUES; GOMES, 2013). Segundo a Paden (2002, p. 93), podemos nos referir ao inconsciente de Freud como um “porão”, enquanto “Jung postulou um esquema mais amplo, que via o inconsciente não como uma lata de lixo, mas como uma mansão com muitos tipos de quartos”. Esta é uma diferença importante na religião entre os dois. Enquanto Freud vê os símbolos religiosos como fragmentos não resolvidos da infância, “como um modo de regressar a um estado de segurança pré-egóico, sem fronteiras, conhecido na infância ou mesmo no útero” (PADEN, 2002, p. 47), para Jung, os símbolos religiosos também funcionam “como mediadores positivos entre o ego e uma parte mais profunda do self, i. e., como agentes ativos de mudança psicológica e recentramento” (PADEN, 2002, p. 93, grifo do autor). Jung entende que a expansão da consciência individual em contato com o inconsciente coletivo leva ao desenvolvimento do que ele chamou de processo de individuação, ou seja, o processo de tornar-se si mesmo. Primeiro, Jung reduz a experiência religiosa a um fenômeno psicológico, depois afirma que a crença religiosa é uma experiência essencialmente sagrada, um processo que promove a saúde mental ao colocar o indivíduo em contato com o inconsciente coletivo (RODRIGUES; GOMES, 2013, p. 340). Pode-se certamente reconhecer conexões intelectuais entre a psicologia junguiana e os fenômenos de Rudolf Otto, Van der Leew e Mircea Eliade (VALLE, 2008). 2.1.3 Teorias da Psicologia Humanista e Religião Os psicólogos que coletam essas teorias, também chamadas de "existenciais", tendem a ser introspectivos e expositivos. A intenção do autor humanista era afastar- se da escala tão comum aos psicólogos americanos, e da retórica frouxa da psicanálise clássica, que é redutora. Os autores estimaram que a experiência religiosa assumiu formas diferentes, que não pode ser atingida em si, dada sua radical originalidade experiencial” (VALLE, 2008, p. 48). No contexto da segunda metade do século XX, marcada pelos horrores da Grande Guerra, a Psicologia Humanista desenvolveu-se a partir da abordagem humanística de psicólogos americanos preocupados com o desenvolvimento humano, a qualidade de vida, a saúde e a maturidade (RODRIGUES; GOMES, 2013). 9 Entre os representantes da psicologia humanística estão Maslow, Goldstein, Rogers, Fromm, Horney e Erickson. Como princípio, a abordagem humanística entende que a Psicologia deve praticar a experiência antropocêntrica e fenomenológica e afirma a objetividade na escolha das coisas com as quais trabalhar para melhorá-la através do desenvolvimento da dignidade humana e do valor social (RODRIGUES; GOMES, 2013, p. 341). Maslow, com formação behaviorista, e com múltiplas influências da Psicanálise e da Gestalt, afirmou através de sua pesquisa que a Religião desenvolve valores que dão sentido à vida e, portanto, a religião pode funcionar como uma instituição social que melhora o bem-estar humano e felicidade. G.W Allport, um dos nomes mais importantes da psicologia do século XX, descreveu aspectos do comportamento humano como adaptativo (o que você faz) ou expressivo (o que você comunica no que você faz). Para ele, as pessoas expressam sua identidade por meio de tudo o que fazem. Allport examina a importância da religião na existência humana e conclui que a experiência religiosa pode ser madura, saudável ou dependente, imatura e desapegada, dependendo das crenças religiosas, que o sujeito apresenta (RODRIGUES; GOMES, 2013, p. 341). Allport nos legou uma nova abordagem para o estudo da personalidade e comportamento humanos; embora tenha se engajado na prática da terapia no início de sua carreira. Ele foi antes de tudo um cientista e pesquisador que se destacou por seu interesse em integrar perspectivas sobre personalidade e comportamento. Convencido de que a ciência se baseia sempre nos pressupostos da epistemologia e da filosofia, ele se comprometeu a aprofundar a relação entre filosofia e psicologia, entendendo que a relação entre as duas não pode ser abrangida como uma ferramenta neste ou a partir de sistemas filosóficos à psicologia. É importante acatar a autonomia de cada uma das duas disciplinas (VALLE, 2008). Conforme a psicologia de Allport, as formas de religiosidade individual subjetiva se apresentam sob infinitasformas e desenhos que não são colhidas psicologicamente por crivos orientados em sentido único, causal ou não, nem podem ser definidas a partir de credos, normas e padrões institucionalizados (VALLE, 2008, p. 91). A partir dessa perspectiva, o psicólogo deve passar da observação dos fatores externos do comportamento para a elicitação das razões subjacentes ao 10 comportamento religioso. A distinção de Allport entre crenças religiosas extrínsecas e intrínsecas também é bem conhecida. Para ele, religiosidade intrínseca significa experiência “um valor supremo, de próprio direito, é um sentimento que flui da vida como um todo, com suas motivações e seu sentido”, já a religiosidade extrínseca “é estritamente de utilidade para o self enquanto lhe oferece garantia de segurança, posição social, consolação e endosso do caminho de vida que a pessoa já escolheu” (VALLE, 2008, p. 94). Erich Fromm nasceu em Frankfurt, em 1900, em uma família muito religiosa, muitos dos quais se tornaram rabinos, a profissão planejada para se exercer. No final da década de 1920, quando iniciou seus estudos psicanalíticos no Instituto Psicanalítico de Berlim, abandonou uma educação judaica ortodoxa. Fromm se esforçou para entender por que pessoas adotam atitudes irracionais, como durante a Grande Guerra do século XX. Ele via a religião como uma parte normal da existência humana, mas reconhece que nem todas as religiões contribuem para o bem-estar humano. Existem religiões que cobram a fé cega e não aceitam a dúvida, enquanto religiões humanistas incentivam o progresso humano, permitindo que as pessoas conheçam a si mesmas e aos outros e seu lugar na natureza. Também distingue entre crenças racionais e irracionais, sendo a primeira equilibrada e encorajando todos a encontrar o melhor caminho para si, enquanto a segunda é extrema e indisciplinada. No entanto, uma pessoa não carece de fé, ela simplesmente escolhe seguir crenças racionais ou tolas. Parte do pensamento de Erich Fromm gira em torno do tema da liberdade do humano. De todos os seres vivos, apenas o humano tem consciência de sua existência, um estado que leva a necessidades humanas específicas como: amor, segurança e significado. É precisamente na tensão da existência que a religião encontra um lugar para responder ao sentido último da vida (RODRIGUES; GOMES, 2013. Erickson também foi ativo na psicanálise. Ele estava profundamente interessado em entender a dinâmica da juventude e produziu biografias de pessoas religiosas que contribuiriam para sua visão da vida como um processo dinâmico no qual o desenvolvimento humano não se limita à infância e à juventude. Para Erickson, a tensão evolutiva se traduz no caráter de uma pessoa: superar a adversidade produz esperança, força, propósito, competência, amor e sabedoria. Se as crenças de 11 Erickson podem ser suscetíveis a influências patológicas, ele também acredita que as crenças podem levar uma pessoa à maturidade (RODRIGUES; GOMES, 2013). Segundo Erickson, o principal problema que os jovens enfrentam é a definição de sua identidade e como eles são percebidos pelo grupo ao qual pertencem: “Quem sou eu?”, “Aonde irei na vida?” (SUÁREZ, 2005, p. 32). Segundo Johnson (1964) na adolescência observa-se que os interesses sociais se ampliam, os poderes intelectuais são aumentados, os objetivos da vida se expandem, e as experiências pessoais se aprofundam, trazendo mais atenção para seitas e tópicos religiosos. Erickson, filho de mãe judia e pai dinamarquês, sente-se duplamente forasteiro e este constitui sua “crise de adolescência” talvez esta seja a razão de seu interesse pela psicologia do desenvolvimento. (SUÁREZ, 2005, p. 32). 3 TEORIAS CONTEMPORÂNEAS DA PSICOLOGIA DA RELIGIÃO Geraldo Paiva (2013) no capítulo, intitulado ‘’Compêndio de Ciência da Religião’’, menciona sete teorias contemporâneas da Psicologia da Religião, sendo: Psicologia Narrativa Do ponto de vista psicológico, a maioria busca o sentido da vida não na relação entre estímulo e resposta, mas na série de suas experiências vividas. A narrativa assume uma audiência, e é o próprio narrador, falando consigo mesmo, buscando para entender melhor a vida. Parte da psicologia narrativa, sob Psicologia da Religião, o sueco Hjalmar Sundén, cuja experiência religiosa pode ser compreendida em termos de quadros de referência e o conceito de papéis, quem pode desempenhar um papel (o que o sujeito desempenha) e papel adotado (papéis de outras pessoas, em relação ao sujeito assumir seu próprio papel). Várias tradições religiosas estão repletas de histórias de pessoas interagindo com divindades. No campo da religião, Deus desempenha o papel de Deus, e o homem desempenha o papel de homem em sua interação com Deus, acredita que Deus o tratará como o personagem que tem um relacionamento com ele na história. Histórias religiosas são um quadro de referência. Van der Lans, da Universidade de Nijmegen, se pergunta como pode substituir o quadro de referência secular que constantemente é afirmado nas interações sociais cotidianas e evoca o quadro de referência religioso. 12 Inadequada para ele lidar com os estímulos recebidos, a imagem mundana pode dar lugar à dimensão religiosa. Esse autor mostra que a religião madura é caracterizada pela capacidade de mudar voluntariamente de um quadro de referência secular para um quadro de referência religioso (PAIVA, 2013). Teoria da Atribuição A teoria enfoca uma forma específica de unidade cognitiva, estabelecendo unidade entre diferentes fenômenos perceptivos por meio de relações causais. Heider enfatiza a atribuição de causalidade a um dos recursos psicológicos que organizam o mundo da experiência. Ele distingue entre causalidade pessoal e impessoal. É propositalmente dotado de causalidade pessoal e sua consciência induz uma série de ações no receptor que busca seus motivos, abertos ou ocultos, e meios de se opor ou resistir a eles contra ele. Embora o foco inicial dessa teoria fosse o indivíduo, ela logo se expandiu para incluir processos psicossociais e, assim, tornou-se parte da Psicologia da Religião, e a referência a Deus como a primeira causa humana é típica da religião. Na obra de Proudfoot e Shaver, e principalmente nas propostas de Spilka, Shaver e Kirkpatrick, ocorre a integração da teoria da atribuição e da psicologia da religião. No entanto, foram esses segundos que formaram a teoria geral de atribuição da Psicologia da Religião. Para eles, o sistema religioso fornece tanto os conjuntos de interpretações facilitadoras quanto o conjunto de conceitos e ações de construção da autoestima (crenças pessoais, orações, rituais) (PAIVA, 2013). Teoria das Representações Sociais Trata-se de uma teoria proposta por Serge Moscovici, que visa compreender os valores, ideias e práticas que orientam as pessoas em seu mundo social e material, permitindo que ambas as partes controlem o neste mundo e estabeleçam contato entre si nomeando e classificando o símbolo do mundo sua história pessoal e coletiva. A representação social é o processo psicossocial pelo qual torna o desconhecido familiar e o abstrato concreto por meio do diálogo. Um processo que consiste em operações de rebitagem e conformação. Durante a ancoragem, o novo conteúdo é 13 parcialmente assimilado ao conhecido; durante a incorporação, o conteúdo abstrato é transformado em algo concreto e perceptível: ícones, imagens e gestos físicos. A religião é um fenômeno psicossocial compartilhado por pessoas e grupos de diferentes tamanhos. Onde os valores e ensinamentos às vezes assumem uma apresentação muito abstrata e teológica, a religião vivida é concreta, simbólica e ritualística. Esta realização material e física corresponde ao processo de objetivação. Ao mesmo tempo, todo o conteúdo e atitudes dogmáticas geradas fazemparte do cotidiano de quem a ele se funde (PAIVA, 2013). Religião como apego Essa teoria é imposta à psicologia clínica sem qualquer referência à Psicologia da Religião. O psiquiatra infantil J. Bowlby e seu assistente M. Ainsworth agradaram- se das “figuras de apego”, das pessoas com as quais a criança vulnerável está associada e dos relacionamentos que elas formam. Com base na insensibilidade ou sensibilidade que esse relacionamento? Figuras de apego? Teoria? confere, a criança desenvolve padrões internos de ação em relação a si mesma e aos outros. Kirkpatrick propõe vincular a teoria do apego à Psicologia da Religião, para ele, muitas vezes a relação com Deus é regida pelos critérios de associação produzidos pelos processos evolutivos. Os dois primeiros derivados da teoria do apego na Psicologia da Religião são chamados de “correspondência” e de “compensação”. Através da correspondência, a religião evolui de representações positivas de si e dos outros e da adoção parcial da religião por cuidadores sensíveis. Através do processo de substituição, Deus substitui o suplemento na figura de apego (PAIVA, 2013, p. 355). Psicologia Cultural da Religião O defensor mais proeminente dessa visão foi Jacob Belzen, da Universidade de Amsterdã, que afirmou ter encontrado influência no trabalho de Wundt. Além de investigações laboratoriais, Wundt trabalhou no estudo da função mental, resultado de interações sociais, manifestadas na linguagem, nos costumes e na cultura. No entanto, a história da psicologia lembrou-se somente de Wundt do laboratório. 14 A partir da década de 1950, a Psicologia Intercultural desenvolveu-se fortemente e tornou-se interessado em estudar os fenômenos psicológicos de diferentes culturas. Assim, a hegemonia da visão euro-americana ocidental foi quebrada, muitas culturas (principalmente asiáticas e africanas) foram valorizadas por sua função psicológica, mas inspiraram o conceito de uma alma universal encontrada em todas as expressões de culturas idênticas. Em contraste, a psicologia cultural não visa encontrar o universal. Segundo ele, esse comportamento estava tão entrelaçado com a cultura do que o levou a compreendê-lo como algo único. A maior diferença entre esta perspectiva e outras abordagens, incluindo abordagens interculturais, é a relação direta entre cultura e comportamento: a Psicologia Cultural trata a cultura como uma função concreta da própria psicologia. A Psicologia Cultural é muitas vezes um estudo interdisciplinar em colaboração com a Antropologia, Sociologia, Lingüística e História. Na Teoria do Self, Belzen vê um compromisso da psicologia cultural com a Psicologia da religião. A teoria dialógica do self entende a pessoa não como uma unidade, mas como multiplicidade, relativamente independentes nos espaços do presente, passado e futuro, real e imaginado, pessoal e social. A Psicologia Cultural sustenta que, se alguém é religioso, ele está imerso em histórias sobre deuses e santos, com os quais podem ou não interagir (PAIVA, 2013). Psicologia Evolucionária Também conhecida como Psicologia Cognitiva, situa-se no quadro teórico do darwinismo e procura responder às questões colocadas pela cultura. Quanto à prática religiosa, revela-se uma prática de grande significado cultural, que inclui símbolos e rituais , mitos e tradições e costumes, cujo significado só pode ser encontrado na cultura. A psicologia evolutiva enfoca estados pré-culturais, o cérebro e outros estados desse comportamento cultural. Em Psicologia da Religião, Pascal Boyer da Washington University de Saint Louis se destaca neste ponto. Boyer pretende explicar como e por que a mente humana tem a capacidade única de adquirir e propagar ideias religiosas. A Psicologia Evolutiva da Religião concentra-se nas condições biológicas que precedem a cultura, mas não exclui a cultura na identificação do comportamento 15 cultural, por exemplo, incluindo arte, religião e ciência. Essa perspectiva reconhece a integração biológica e cultural (PAIVA, 2013). Perspectivas Contemporâneas da Psicanálise Winnicott foi apontado por Paiva como um das figuras-chave no estudo contemporâneo do comportamento religioso, a partir de uma perspectiva psicanalítica. Winnicott usou conceitos de relações objetais, sendo os mais proeminentes o relacionamento mãe/bebê, separação, ambiente externo, eu, verdadeiro/falso, ilusão, espaço latente e objetos transicionais. Através de objetos transicionais, a criança estabelece sua relação com seu ambiente. Esses objetos, na memória clássica como ursinhos de pelúcia ou cobertores, libertam a criança autista da onipotência e reconhecem a existência independente do mundo real. A criança constrói este objeto através da imaginação o objeto construído é chamado de ilusão, mas não é um "delírio de desejo" no sentido freudiano, mas um jogo, uma farsa no sentido. Uma alucinação é compreendida em chave simbólica porque não é mais a mente pura da criança, nem é uma realidade externa. O próprio Winnicott não deu tratamento especial às questões religiosas, mas suas ideias inspiraram a discussão do comportamento religioso nos escritos de muitos escritores (PAIVA, 2013). 4 SISTEMA DE CRENÇAS Segundo Azevedo (2018), o sistema de crenças é um campo relativamente novo dos estudos religiosos porque a pesquisa nesse campo é multifacetada. Assim, deve-se ampliar os estudos em Freud e Fromm, a partir da perspectiva da psicologia da religião, pode expandir a discussão. Compreender as crenças humanas dos autores interpretados aqui permite uma compreensão mais sistemática de como as crenças se formam e se ramificam em nossas mentes. Um sistema de crenças permeia todas as visões de mundo, ora como um fator definidor, ora determinado, por isso é útil examinar essa perspectiva para ver melhor como comportamento, reações, emoções, neuroses e religiosidade são partes integrantes de nossa vida diária (AZEVEDO, 2018). 16 4.1 Crenças e Experiência Religiosa Seja a experiência religiosa transcendental ou não, o fato é que ela é vivida na mente, por isso é necessário primeiro propor um conceito de psicologia da religião para perceber seu campo de estudo (AZEVEDO, 2018). Para Paiva: A Psicologia da Religião (PR) consiste no estudo do comportamento religioso, isto é, do comportamento que se refere a um objeto transcendente, denominado “Deus” na cultura ocidental. Para a PR, esse comportamento pode ser de aceitação ou de rejeição do objeto transcendente, e esse objeto pode receber diversas outras denominações, além da predominante na cultura ocidental (PAIVA, 2009, p. 441). Segundo o mesmo autor, trata-se de um artigo publicado por Antonius Benkö, em 1956, por ocasião do centenário dos estudos de psicologia da religião na USP. Como mencionado, a pesquisa nesta área é em grande parte comportamental para começar. Os artigos alcançaram certa diversidade temática na década de 1970 (AZEVEDO, 2018). Segundo Paiva (1998), muitas tradições religiosas são apresentadas como histórias nas quais figuras divinas e humanas agem e interagem de acordo com seus traços de personalidade. Assim como a interação social pode ser uma encenação, a interação religiosa também pode. Conforme Azevedo (2018), no âmbito da religião, a pessoa assume o seu papel e atribui a Deus o papel que lhe cabe, e a partir dessa relação se estabelece a crença de que Deus trabalha com o homem. Para Paiva: "Se a pessoa foi introduzida nesse registro, por meio da aprendizagem de mitos, símbolos e ritos, ele constituirá um quadro de referência, dando um sentido religioso ao percepto [...]" (PAIVA, 1998, p. 157). A experiência religiosa permeia a vida cotidiana em todas as culturas existentes, nem sempre como religião, mas como dogma. As crenças são os mecanismos de equilíbrio mental,referências que direcionam nosso ser, nosso comportamento e nosso pensamento no mundo. Segundo Paiva (1998), o referencial que molda um indivíduo nada mais é do que um conjunto de crenças sustentadas por relações que se expressam no cotidiano. 17 Neste sentido, entende-se que qualquer experiência quotidiana é uma experiência no contexto de uma ou mais crenças, religiosas ou não religiosas. A prática compõe, conforme Paiva(1998): todos os sentimentos, percepções e sensações que afetam a pessoa ou que são definidos por um grupo religioso como implicando alguma comunicação, por tênue que seja, com uma essência divina, isto é, com Deus, com a realidade última, com uma autoridade transcendente (PAIVA, 1998, p. 158). Segundo Stark (1965), a experiência religiosa pode ser positiva, interativa, estática e reveladora. Esses quatro níveis contêm as principais características dos sistemas de crenças, com todas as ações envolvendo capacitação mental e suposições (causa e efeito) e pontos de referência e revelações. Dois outros comentários de Paiva (1998) sobre a experiência religiosa também tratam de questões da fé na psicologia da religião: misticismo e experiência divina. O sufismo é uma experiência religiosa excepcional. A experiência original e essencial. Um sufi é uma pessoa que integra a experiência religiosa na vida cotidiana. Nesse caso, o místico é a pessoa que acessa seu sistema de crenças e o utiliza (religião, no caso) para se explicar e agir em todas as situações. Quanto à experiência divina, esta pressupõe as condições de profundidade, eternidade e continuidade da experiência. O sagrado inclui verdades tão invioláveis como a vida, a liberdade, a família e, em última análise, o lar, os valores pelos quais se vive e morre e íntegro entre existência e realidade, que insistimos em chamar perfeição. 4.2 Freud e o Sistema de Crenças Sigismund Schlomo Freud nasceu em Freiberg, Alemanha, em 1856. Foi médico de anos que trabalha com problemas neurológicos numa época em que o cérebro humano estava em fase de descoberta. Crescendo em uma família judia, ele encontrou resistência moral e treinamento religioso como base para a formação do caráter. começou sua pesquisa usando técnicas hipnóticas como um mecanismo para acessar a mente humana, e finalmente concluiu que a causa da histeria é, portanto, psicológica e espiritual e não orgânica como se acreditava. Freud desenvolveu uma teoria completa da mente e seus mecanismos que permitem o desenvolvimento das relações familiares e sociais. Freud morreu, em Londres, em 1939 (AZEVEDO, 2018). 18 As vivências da infância de Freud com a babá, com quem mantinha uma espécie de relação edipiana, e com quem frequentemente visitava algumas exposições, e depois a imagem opressiva do pai autoritário, parecem ter moldado a experiência religiosa do fundador da psicanálise. A partir dessa experiência, Freud construiu toda uma teoria da religião. (Figura 1). Figura 1 – Sigismund Schlomo Freud Fonte: https://bit.ly/3XVOkQ2 A primeira obra de Freud que aborda exclusivamente os elementos relacionados à religião foi publicada em 1907 como "Atos obsessivos e práticas religiosas", nela ele analisou a relação entre rituais repetitivos e obsessões em pacientes neuróticos. Embora a relação aparente sugerida por Freud pareça ter semelhança, posteriormente foi apontado que levaria a erros conceituais, pois os rituais religiosos não têm a capacidade de atrair a atenção do indivíduo, por se tratar de um estado de mente que foi desenvolvido da higiene pessoal à ordem alimentar e comportamento profissional (AZEVEDO, 2018). Em 1913, Freud empreendeu um novo estudo comparativo de religião e psicologia e publicou o livro "O futuro de uma ilusão"; onde, analisa os conceitos e propósitos de religiões e como os fenômenos religiosos surgem através da proibição do incesto. Aqui, Freud desenvolve a ideia de que a religião será uma inibição instintiva, uma emanação do complexo de Édipo que desenvolvemos por causa de 19 nossa existência infantil. Ele usa elementos do totemismo para justificar suas conclusões. Após oito anos, publica “Totem e Tabu” (1921), onde aborda a transição da natureza para a cultura. Nessa obra, Freud percebe que a cultura é uma expressão da consciência humana que permite ao homem aprender por meio da espiritualidade e do totemismo e introduzir tabus como regras mínimas propícias à sua residência segura no mundo. Na obra “O futuro de uma ilusão” (1927), ele também lida com questões religiosas, e no livro de Freud esse desejo de transcender é a raiz dos problemas sociais existentes e um poderoso motivador para instituições religiosas, de modo que a religião na sociedade humana se torna conservadora. Neste trabalho, se esclareceque a religião é uma abstração humana única e o fator de proteção mais importante para nós porque é baseada na moralidade, que tem sua origem no incesto das civilizações primitivas. Para Freud, a função da Civilização era evitar ou abreviar a dor, proporcionar uma sensação de segurança e colocar o prazer em segundo plano (AZEVEDO, 2018). Posteriormente ao lançar "O mal-estar da civilização" (1930), ele retorna a ideia e relata: O homem comum só pode imaginar essa Providência sob a figura de um pai ilimitadamente engrandecido. Apenas um ser desse tipo pode compreender as necessidades dos filhos dos homens, enternecer-se com suas preces e aplacar-se com os sinais de seu remorso. Tudo é tão patentemente infantil, tão estranho à realidade, que, para qualquer pessoa que manifeste uma atitude amistosa em relação à humanidade, é penoso pensar que a grande maioria dos mortais nunca será capaz de superar essa visão da vida (FREUD, 1930, p. 82). Nessa obra, Freud analisou de forma geral a ideia de que a cultura pode causar desconforto nas pessoas porque a cultura vem sempre acompanhada de um desejo de conquista sem fim. As nossas tendências destrutivas, anti-sociais e anti-culturais tornam-nos inimigos da civilização, que continuamente impõe as suas regras ao homem isolado e à sua liberdade, substituindo o poder da sociedade pelo poder do indivíduo: “Uma satisfação irrestrita de todas as necessidades apresenta-se como o método mais tentador de conduzir nossas vidas; isso, porém, significa colocar o gozo antes da cautela, acarretando logo o seu próprio castigo” (FREUD, 1930, p. 95). “O mal-estar 20 da civilização” pragmaticamente, foi a última das obras em que Freud se debruçou sobre questões religiosas (AZEVEDO, 2018). Apesar desta afirmação, em seu texto Moisés e o monoteísmo (1939), Freud provocou um debate sobre o processo de formação judaica, atribuindo esse processo à consciência coletiva da humanidade e não à escolha divina. Aqui reconstrói seus pontos de vista sobre o sistema de crenças, pois acredita que a história do sangue judeu apenas revela a neurose civilizacional desse povo. Ao longo de sua apresentação, Freud sempre considerou a religião como suporte do ser humano, e nunca assumiu um papel estrutural, que é seu maior erro, pois considera a cultura e a civilização como estruturas e nega a religião, religião como um atributo; no entanto, ele está ciente de que a religião constitui um determinado sistema de crenças que "salva" o homem de sua vitalidade e o transforma em um ser abstrato ou imaginário, um ser futurista (AZEVEDO, 2018). 4.3 Erich Fromm e o Sistema de Crenças Fonte: https://bit.ly/3j0FUIq As experiências religiosas do psicanalista Erich Fromm também foram associadas ao seu tempo em campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial, o que influenciou cerca de seus escritos sobre a relação entre religião e natureza humana. Ele nasceu em Frankfurt, em 1900, na Alemanha. Estudou primeiro direito, depois sociologia e obteve um doutorado foi diretor de pesquisado Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt, mais conhecido como Escola de Frankfurt, que incluía 21 muitos dos maiores nomes da filosofia. Depois que Hitler chegou ao poder, Fromm mudou-se para Genebra e, em maio de 1934, para os Estados Unidos para trabalhar na Columbia University em Nova Iorque. Sua pesquisa em psicologia da religião enfoca a formação de normas sociais e o fortalecimento da moralidade em sociedades. Ele é um humanista de coração, investiga sistemas de crenças e trabalha para explicar como os indivíduos perdem sua riqueza interior e verdadeira felicidade por causa da sensação de segurança que deriva de pertencer a outros. Na vida, Fromm não era diferente da cultura judaica, mas não se considerava um crente em Deus (AZEVEDO, 2018). Como observado, Fromm tomou o caminho da psicologia da religião com um viés humanista. Após publicar “O medo à liberdade” (1941), obra que prediz concepções da obra “Análise do Homem” (1947) e marcaria sua saída da Escola de Frankfurt. Em seu livro “O medo à liberdade”, Froomm analisa a ascensão do nazismo, e através dos conceitos de libido e medo existencial. A obra conclui que embora o ser humano anseie por liberdade, os paradigmas coletivos também são necessários, para orientar os seus paradigmas existenciais, como uma mãe faz nos primeiros anos de cada um. Com o mesmo próposito, "Analise do Homem" conceitua a personalidade social o que caracteriza traços produtivos e não produtivos que são declarados na teoria das tendências vitais e necromorfos como disposições naturais do ser humano. Essa visão o levou a publicar "A anatomia da destrutividade humana", em 1973. Em ambas as obras, Fromm afirma que a primazia do capitalismo é uma força lepidogênica antropocêntrica que leva à destruição de nós mesmos como seres humanos e animais instintivos (AZEVEDO, 2018). Enquanto a vida se caracteriza pelo crescimento numa maneira estruturada e funcional, a pessoa necrófila ama o que não cresce, tudo que é mecânico. É impelida pelo desejo de transformar o orgânico em anorgânico, de aproximar-se da vida mecanicamente, como se todas as pessoas vivas fossem coisas. Memória em vez de experiência; ter em vez de ser, é o que interessa. O necrófilo pode relacionar-se com um objeto – uma flor ou uma pessoa – somente para possuí-la; por isso, uma ameaça a sua posse é uma ameaça a ele mesmo. [...] Ele gosta de controle, e no ato de controlar, ele mata a vida. Teme profundamente a vida por ela ser, por sua natureza, desordenada e incontrolável. ‘Lei e ordem’ são para ele ídolos – tudo que ameaça a lei e a ordem é sentido como um ataque satânico aos seus valores supremos (FROMM, 1974). 22 Para Fromm, a natureza humana é criada e assim sua constituição é destruída. Não podíamos nos tornar quem queríamos ser e não podíamos voltar completamente ao que éramos: animais irracionais, violentos e sexuais. A formação das nossas crenças e a elevação do grupo ao nível do indivíduo são o resultado de anos de dominação diferente e altos níveis de violência, que acabaram por criar esperança num futuro mais confiante e esperançoso. Fromm lançou, em 1950, o título de sua primeira análise social. Ela estava relacionada à religião: "Psicanálise e Religião. Nesta obra, argumenta-se que o ser humano torna-se um ser divino quando se pergunta se o esforço para aperfeiçoar sua própria existência, o faz acreditar em uma realidade pessoal. Segundo Fromm, muitas pessoas procuram a religião como um meio para se sentirem seguras no mundo e para construir e revelar os seus próprios destinos, mas também há quem negue que a religião seja um obstáculo a esta melhoria (AZEVEDO, 2018). Na base da sua confiança na razão humana, os filósofos do Iluminismo, que igualmente investigaram a alma humana, afirmaram a independência do homem das correntes políticas bem como dos elos da superstição e da ignorância. Eles ensinaram como defender-se de condições da existência que exigem a manutenção de ilusões. Sua investigação psicológica fundamentou- se na tentativa de descobrir as condições da felicidade humana. Eles diziam que um estado de felicidade só pode ser atingido quando o homem alcançou sua liberdade interna (FROMM, 1950, p. 232). A análise de Fromm, nesta obra, reproduz a ideia do culto ao podertão característico dele. O homem moderno substituiu o Deus primordial arquetípico por um poder humano arquetípico e, desde então, o fervor do Iluminismo procurou iluminar o mundo e a sociedade que o homem criou e está criando ativamente. Para Fromm, o homem moderno tornou-se neurótico em relação ao poder sem abandonar formas de religião primitiva (culto aos ancestrais, culto ao totem, ritualismo e obsessão pela limpeza). Nesse sentido, o simbolismo religioso totêmico torna-se a principal característica do homem moderno, pois quando ele se associa cegamente a um partido político e o venera como um totem, a segurança pensa o coletivismo (AZEVEDO, 2018). Ao mergulhar em um sistema de crença na autoridade, a pessoa se liberta da decisão e da responsabilidade social, ou seja, a pessoa "necessita de normas e princípios que o conduzem a este objetivo. Experiência religiosa neste tipo de religião 23 significa experiência da união com o todo, baseada na relação com o mundo, como alguém a compreende em pensamento e amor" (FROMM, 1950, p. 249). Fromm defende a religião humanista que respeite a razão humana, sem abolir os sistemas de crenças religiosas. Para ele, o foco de qualquer sistema é a pessoa, não o sistema. O autor entende que as pessoas se conectam ao sistema com suas forças, mudam suas atitudes de inércia e solidariedade e constroem um profundo respeito pela vida. Em 1966, Fromm lançou uma nova análise, “O Espírito de Liberdade”. Nele, reflete-se sobre a adoração moderna aos ídolos destruidores de vidas, que requer submissão ao poder criativo pessoal, mas que simbolicamente se torna maior do que ele. Com base na tradição judaica, a obra analisa o Antigo Testamento e a experiência religiosa que ele contém, e concentra uma reflexão sobre o que chama de "O Deus da vida". Afirma-se também que Deus age precisamente na história e fornece condições favoráveis. Na figura desse "Deus da vida" Fromm propõe no arquétipo do poder humano positivo as falsas intenções humanas dilaceradas pelo interesse próprio e pela auto- adoração. A humanidade deve voltar a perceber que foi criada para servir a si mesma, não o contrário, mas para isso esse conjunto de crenças deve ser reinterpretado estruturalmente. 5 A ORIGEM DA RELIGIÃO A psicanálise enfatiza o totemismo como fonte de conhecimento sobre as origens da religião. No entanto, não afirma que esta seja a única fonte de algo tão complexo. Uma melhor descrição das origens da religião só é possível quando combina achados de vários campos de estudo. A adoração do totem é relevante porque substituiu a religião em alguns povos primitivos e formou a base de sua organização social (FREUD, 1913/2006). Freud (1913/2006) descreveu o "totem" como uma classe de coisas, animais ou plantas consideradas supersticiosas e de respeito pelos primitivos, que acreditavam existir uma relação íntima entre o totem e sua sociedade, de maneira que ele protegia o homem e este demonstrava respeito de diversas formas. Essas pessoas são chamadas de totens, como: família do urso, família do lobo, família do leão, etc. 24 Acreditam que são descendentes de ancestrais, vinculados por obrigações, e comunidades acreditam em símbolos sagrados. O que fazia desta crença uma religião composta de respeito e proteção entre pessoas e totens, e ao mesmo tempo um sistema social que inclui as regras de relacionamento entre membros do mesmo clã e clãs diferentes. A principal característica dos antigos rituais religiosos era oferecer sacrifícios em altares, e esses rituais desempenhavamo mesmo papel em todas as religiões, mas as oferendas eram originalmente um processo de comunicação entre deuses e crentes. Os alimentos que os humanos sacrificavam aos deuses eram alimentos que as pessoas consumiam. Desta forma, os sacrifícios eram feitos pelos devotos, e a comida era destinada às divindades. Essa ideia foi abandonada quando os deuses deixaram de ser importantes ao longo do tempo. Entrar no fogo naquele momento era um fator importante; através da fumaça crescente, o sacrifício tinha uma fragrância agradável, tornando-o mais adequado para a natureza divina. Como bebida, se ofereciam sangue animal, que posteriormente foi substituída por vinho, chamada de sangue de uva (FREUD, 1913/2006). A forma mais antiga de sacrifício era o animal, onde os deuses e os adoradores comiam sua carne e o seu sangue. Esses rituais eram realizados publicamente por todo o clã. A religião faz parte do dever social e, nesta observação, o indivíduo deixa de lado os seus próprios interesses e afirma a interdependência entre a sociedade e o seu Deus. Em culturas antigas, comer e beber juntos era a força moral do sacrifício porque quando um come com outros está seguro na presença deles e o outro não é um inimigo, assim ninguém têm algo a temer. Uma coalizão é formada e continuamente renovada pela mesma lei de comer e beber juntos (FREUD, 1913/2006). Freud (1913/2006) refere como início da organização social, as restrições morais e religiosas que existiam no festival do totem, quando o pai primevo, foi assassinado pelos filhos que havia expulsado. Eles voltaram à tribo patriarcal findando à horda sujeitos às restrições do sistema totem. Odiavam o pai, que bloqueava o desejo por sexo e poder. Depois que os irmãos cumprem com o desejo de se livrar do pai, tornam a sentir-se culpados por ele. Assim, o pai morto aparece mais forte do que quando estava vivo. Então, os filhos entendem que o que fizeram com o pai não pode ser repetido. Durante esse processo, o totem surge, ocupa o lugar do pai e não pode 25 ser morto. A existência do tabu elimina os dois desejos que contribuíram para a morte do Pai: 1) o irmão não deve querer ocupar o lugar do Pai, agora que o Pai está ocupado pelo totem, e; 2) Ele não poderia almejar a esposa do pai, o que procederia em incestos. No culto do totem da primeira tentativa de tabu, a religião pode ser vista como matar animais. O animal toma o lugar do pai e os filhos devem-no tratar como se fosse o próprio pai porque os irmãos podem expiar suas ações. O totem não agirá como um pai cruel porque ele é o protetor, então não há necessidade de sua astúcia, pois, ele prometeu aos membros do clã que eles o respeitariam. Acontece que a dívida vem da culpa das tentativas de apaziguar o pai obedecendo à imagem totêmica. Este sistema resolveu com sucesso o arrependimento e lidou com a vitória do pai. Na cerimônia, foram suspensas as restrições para totens comerem e os animais totêmicos foram sacrificados com a intenção de livrar-se do pai cruel. Neste ritual, comemora-se e lamenta-se a morte do pai. Com a morte do totem, se estabelece uma lei que transcende o povo: Não matarás. Assim, totem comer é um ato sagrado, e torna-se uma refeição em comum (FREUD, 1913/2006). Freud (1913/2006) destaca que de alguma forma desconhecida Deus controla toda a vida religiosa do homem. Para sobreviver, a refeição totêmica deve se adaptar ao novo sistema. Nesse sistema, a psicanálise ensina que a divindade humana consiste na semelhança encontrada na relação da pessoa com seu pai e o relacionamento com Deus depende do relacionamento com o pai de carne e sangue de fato porque Deus é o pai da glória. Segundo Freud (1913/2006), o Pai aparece como duas figuras sacrificiais: como Deus e o totem. Para entender as raízes de todas as religiões, é razoável pensar que o próprio Deus é o totem animal. O totem é a primeira forma representada pelo Pai, e Deus é a próxima, porque ele tem uma aparência humana. Freud (1939/2006) passou a descrever as divindades como animais totêmicos, afirmando que as divindades egípcias tinham formas animais, como se não tivessem completado sua evolução para a forma humana. O pai é representado no sacrifício quando o animal é sacrificado e a divindade o recebe de sacrifício. O pai como animal é claramente derrotado, e a derrota 26 sacrificial na imagem do totem é sua maior vitória. O homem explica os crimes cometidos contra ele. Com o tempo, o animal perdeu sua divindade, e tornou-se um mero sacrifício; por outro lado, Deus é exaltado acima do homem. Neste ponto, aparece a figura do sacerdote: os seres humanos só podem aproximar-se de Deus através da mediação. O sacerdote surgiu para que o homem deixasse de ser responsável pelo ato de sacrificar o pai, uma negação do ato conforme a psicanálise. O cristianismo foi o primeiro a usar um método para todas essas figuras concentradas em uma pessoa. Cristo combina em si todos os atributos do ritual, ele é ao mesmo tempo sacerdote e vítima e vítima e o próprio Deus. Ele redimiu todos os seus irmãos dos pecados originais que cometeu contra o Pai e tornou-se divindade ao lado do Pai, ou melhor, com o Pai. O que resta aos irmãos é participar da comunhão de carne e sangue dos filhos, igual a pessoas. A redenção acontece, o irmão é sacrificado no lugar dos outros irmãos, e torna-se pai e compensa os outros do que fizeram (FREUD, 1913/2006). 6 RELIGIÃO E CIÊNCIA EM BUSCA DO SENTIDO Fonte: https://bit.ly/3wktzij Philip Hefner (1997), redator-chefe de Zygon, acredita que hoje atualmente cientistas e teólogos compartilham de uma interface que pode ser denominada “busca de sentido”. Embora as religiões tradicionais forneçam uma estrutura geral de sentido, as ciências fornecem uma estrutura completa para causalidade. São diferentes enquadramentos com convergências e divergências, mas hoje temos interesses 27 acadêmicos e buscamos formas de expressá-los. Segundo Hefner, seis caminhos podem ser distinguidos na história da busca de significado na interface religião/ciência: 1) A opção moderna: Traduz a sabedoria religiosa em conceitos científicos. É adequado para aqueles que pensam, como R. W. Burhoe, como fundadores de Zygon, esta ciência (natural) e seus métodos abalaram os paradigmas tradicionais de construção de significado religioso; Como esses modelos são essenciais para qualquer sociedade saudável, eles tentaram convencer os cientistas de que a ciência e a religião vieram do mesmo processo evolucionário eles escolheram a ciência para revelar o mundo natural e eles escolheram a religião para fornecer a sabedoria necessária para a sociedade humana sobreviver. No campo da psicologia, Campbell (1975), presidente da American Psychological Association, é mais conhecido por sua posição controversa de que a sabedoria das tradições religiosas, que ensinam disciplina e autocontrole, é um guia para uma melhora mais confiável do que a psicoterapia atual. 2) A opção pós-moderna: Construindo novas lendas, baseadas em tradições. Outros argumentam que as religiões tradicionais são insuficientes para dar sentido à vida moderna. Por exemplo dizem, de ‘a-mitia’. Não existem mitos ou padrões de opinião predominantes na sociedade de hoje. Portanto, é necessário estabelecer novos mitos, baseados no pensamento evolutivo e suficientes para alcançar a diversificação global. Por exemplo, esses mitos seriam inspirados na cosmologia do Big Bang, na teoria bioquímica da origem da vida e na ecologia. O mito de não precisa ser verdadeiro no sentido moderno de: basta pensar que foi um "nobre engano" que garantiu a sobrevivência da humanidade. 3) A opção crítica pós-iluminista: Ela expressa a verdade meta da ciência. Alguns criticam a posição do Iluminismo, argumentando que não há mais necessidade de construirmitos ou outras formas de entendimento como a própria ciência, porque o conhecimento é, em última instância, unificador e autoritário. A religião, por outro lado, embora não se oponha à ciência, não afirma possuir conhecimento pronto: nas "margens obscuras" do 28 conhecimento científico confiável, a religião prevê transcendência quando necessário (PAIVA, 2002). 4) A opção construtivista pós-moderna: Novo modelo metafísico do conhecimento científico. Outros propõem uma nova metafísica para a ciência em vez de construir um novo mito global como o caminho. Eles deixaram de acreditar que a ciência que se desenvolveu no Ocidente estava inerentemente entrelaçada ou fora da visão do mundo. Suposições metafísicas sobre as experiências reais, pessoais e sociais da ciência. Feministas argumentam que as noções metafísicas de hierarquia e propósito de derivam mais do patriarcado de do que da realidade física. Outros entendem que a distinção entre sujeito e objeto distorce a relação entre homem e ambiente, ou que a suposição de que o todo é uma coleção de partes ignora a função orgânica do todo. Algumas sugestões nessa posição são a metafísica do processo (Whitehead, na filosofia; Hartshorne, na teologia), a metafísica feminista inclusiva e unificadora; Teoria de "Gaia" do sistema interconectado planeta-Terra; "A ordem implícita" da natureza, D. Bohm. 5) A opção construtivista tradicional: É a interpretando da Ciência com conceitos dinâmicos tradicionais. Esta é uma possibilidade para muitos teólogos, incluindo teólogoscientistas, incluindo os da Ordem dos Cientistas Ordenados (Ex.: o físico J. Polkinghorne e o bioquímico A. Peacocke), Eles tentam explicar o conhecimento científico em termos de conceitos cristãos tradicionais e explica esses conceitos em termos de conhecimentos científicos. A base para esta possibilidade é que a cosmovisão tradicional, particularmente a cosmovisão cristã, não é de forma alguma abrangente e essa essência pode ser reinterpretada para explicar o conhecimento científico que remodela a visão do mundo. Exemplo: a teoria do Big Bang descreve um universo emergente, a teologia estudará suas características básicas; a dinâmica do caos e a física quântica apontam para buracos no centro das coisas, consistente com a afirmação da teologia sobre as ações de Deus na natureza e na história sob a abordagem biológica, outros argumentam que o ato da criação deve ser entendido como a tendência 29 gerações, de estágios mais simples de evolução, a formas cada vez mais complexas. 6) A opção cristã evangélica: reafirmação da racionalidade da crença tradicional. Enfim uma das mais dinâmicas e brilhantes jornadas, segundo Hefner (1997), é composto por filósofos e teólogos cristãos "evangélicos", assim chamados porque pertencem principalmente ao cristianismo predominante nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha. Esses estudiosos tentaram demonstrar que o domínio das ciências nos séculos XIX e XX não diminuiu a aceitação ou compreensão da fé cristã. Hefner destaca dois argumentos típicos nos quais os cientistas frequentemente fazem suposições logicamente questionáveis, como quando argumentam que a evolução prova que Deus não existe ou que o universo é uma realidade fundamental; já no segundo argumento, a ciência e a religião revelaram, construções racionais possíveis (PAIVA, 2002). 7 PSICOLOGIA, RELIGIÃO E CIÊNCIA Afirma-se que a relação Religião/Ciência assume um caráter psicologicamente diferente. A psicologia tem uma dimensão que a aproxima das ciências naturais e biológicas, e das ciências históricas e hermenêuticas. Alguns exemplos dessa relação são a neuropsicologia, a psicologia cognitiva, a psicanálise de inteligência artificial e várias outras terapias psicológicas. Esses dois aspectos são apresentados por Habermas quando distingue duas formas de ciência por um lado a ciência empírica analítica construída e testada com base na heterogeneidade na teoria dos eventos observados, e, por outro lado, a ciência das interpretações históricas que têm “acesso aos fatos por meio do entendimento do sentido, e não pela observação” (SCHAFRANSKE, 1997, p.162). Em relação à religião e à procura de sentido, a psicologia encontra-se mais vizinha na dimensão histórico-hermenêutica, ou seja, “produz conhecimento, desperta motivação e muitas vezes leva à transformação pessoal” (SHAFRANSKE, 1997, p.163). Entretanto esta dimensão não pode ser considerada independente de outras dimensões: “o que parece estarmos aprendendo por meio da pesquisa em neurociência é que as explicações do cérebro podem acabar exigindo termos tais 30 como crenças, desejos e sentimentos, bem como neurônios, sinapses e serotonina” (SHAFRANSKE, 1997, p.163). Com base na teoria multinível de Barbour Schafranske (1990), compreende-se desde uma perspectiva integrada que é a partir do self os fatos no cérebro evoluem para sentidos psicológicos, entre os quais o da procura de sentido. Há também um terceiro aspecto da Psicologia que estuda a psicologia dos cientistas, incluindo a psicologia das atitudes dos cientistas em relação à religião (PAIVA, 2000). Em pesquisa realizada por meio de entrevistas em profundidade, com professores e pesquisadores da Universidade de São Paulo, confirmamos que as razões para aceitar ou rejeitar religiões tradicionais ou outras não são determinadas por características epistemologicamente definidas, sejam elas científicas ou religiosas, nem por uma pessoa e suponha que variações da situação a pedido de outra pessoa. Por exemplo, estas diferenças de opinião promovem a independência, a liberdade, o pensamento crítico, o questionamento e a tolerância para com a ciência; favorece submissão, compromisso, intolerância (PAIVA, 1995, 2000). Ao contrário do que a mídia poderia esperar, cientistas, físicos, zoólogos ou historiadores não comparam o conhecimento científico com escolhas religiosas ou não religiosas. Partindo da noção usual de conflito na introdução à disciplina Ciência/Religião, não encontramos nenhum conflito de natureza cognitiva, seja porque a religião não faz parte do mundo espiritual do estudioso, seja porque embora seja considerada, é outra parte do universo espiritual do mundo que não afetou os entrevistados, seja porque religião e ciência foram consideradas campos não relacionados de, ou porque atribuíram um domínio à religião (o por que) e outro domínio à ciência (o com). Foram encontrados conflitos indiretamente, os quais podemos localizar no pré- consciente e inconsciente do pesquisador. Há, porém, os que não aparecem como conflitos científicos, mas humanos. Enquanto pessoas, os estudiosos lutam não com qualquer realidade divina e religiosa, mas com ideias cristãs de Deus. O resultado das pesquisas mostra que os mundos podem não ter problemas em aceitar divindades cósmicas impessoais, dotadas de sabedoria e poder, e eles podem governar o mundo. No entanto, muitos deles rejeitaram a ideia contudo, a ideia de um Deus/pai que estabelece a lei. Esta terceira característica da Psicologia pareceu-lhe mais adequada, pois distinguia a ciência em geral e a relação entre 31 ciência e religião, e a reconhecia no exercício da sua função especial: investigação do comportamento humano (PAIVA, 2002). 8 ADOECIMENTO MENTAL E RELIGIÃO A aliança entre a ciência, principalmente a psiquiatria, psicologia e a religião estagnaram devido à aversão histórica entre esses dois campos do conhecimento. A doença mental dirigida a partir da perspectiva da ciência é, portanto, diferente da concepção religiosa da doença mental em que excessos de positivismo e dogmatismo religioso minam a compreensão das complexidades da doença mental (GROF, 1988). A antiga noção de que o universo é um relógio, e que pode ser estudada e compreendida através da análise racional humana deuorigem ao sonho de objetividade científica, que deu origem ao conceito de regularidade, e referiu-se ao conceito de normalidade (SCHULTZ, D.; SCHULTZ, S., 2002). Nesse contexto, a psicopatologia do indivíduo encontrou terreno fértil para florescer e preencher os requisitos do modelo médico do ponto de vista da saúde. O médico é como um pesquisador da saúde e, portanto, um cientista de campo, com a verdade. Não há variáveis culturais ou históricas de valor no diagnóstico da doença, desfazendo a ilusão da multiplicidade cotidiana e buscando as leis "naturais", as singularidades dão lugar às categorias universais, e o tende a permanecer o mesmo, mesmo em contextos diferentes. Assim, pode-se observar como, independentemente das inúmeras representações encontradas no comportamento social dos sujeitos, o processo diagnóstico permanece aleatório e desvinculado da questão do próprio significado, uma vez que se concentram em captar a dinâmica que atribuem a [do cientista] arsenal e leitura, independentemente da data e o contexto dessas operações é relações (NEUBERN, 2004, p.27). A sociedade rejeita o que é diferente, o que de uma forma ou de outra é contrário à opinião pública baseada na aceitação científica, não tem espaço para considerações sociais e culturais, porquanto a teoria, base da construção científica, exige elevado grau de imobilidade como critério fundamental para seu funcionamento e aplicabilidade. Assim, o sujeito deve submeter-se a pressupostos teóricos que estão além de suas “ínfimas” produções de sentido privados (tais quais as experiências religiosas) moldando-se, dessa forma, a um campo teórico específico, ou paradigma. 32 A Psicologia, que assume esta posição de pesquisar e teorizar, inseriu-se numa incômoda contradição, porque se baseia no estudo da subjetividade, e levanta a bandeira do cientificismo (NEUBERN, 2004). Mais radical parece ser a posição adotada pela psiquiatria, que relega a psicodinâmica a um campo secundário que satisfaça o padrão positivista, e que impõe medidas mais estritas aos procedimentos nas humanidades. Auguste Comte exigiu que o rigor metodológico da física fosse aplicado às ciências humanas. Tal perspectiva positivista completou o legado do dualismo cartesiano que, pela separação entre mente e corpo, permitiu o estudo anatômico deste último até censurado pela igreja que colaborou quando a filosofia deu lugar ao estudo da fisiologia e da neurofisiologia. Os aspectos psicológicos de ser e a psicologia são classificados como ciência de segunda classe (BOCK, FURTADO; TEIXEIRA, 2001). Nos primórdios da psiquiatria, os aspectos psicológicos não tinham lugar diante da natureza orgânica dominante, então a esfera psicológica era considerada, segundo Sterian (2002) no campo da medicina, com base apenas nas ideias freudianas sobre o funcionamento da psiquiatria. Em seus estudos sobre a histeria, o pai da psicanálise equacionou a existência de uma relação contraditória entre os desejos inconscientes e o contexto de vida do sujeito (FREUD, 1917). Esse conflito poderia, por sua vez, ser mitigado ou mesmo resolvido por meio da associação livre. A psicanálise dá assim voz à conversa de louco. Freud passa da hipnose para o método de catarse e associação livre, caracterizado por escuta diferenciada e desenvolvimento do sujeito, focando assim na singularidade do sujeito e não em seu enquadramento como norma. Em outras palavras: “Quando Freud se dispôs a ouvir seus pacientes, ele restituiu à loucura seu poder de fala. Ela acreditava numa verdade existente na loucura, a verdade daquele sujeito” (STERIAN, 2002, p.43). Freud então define uma nova abordagem para a doença mental. Já a psiquiatria assimilou as ideias freudianas (BRAGA, 2007). No entanto, esses insights foram aparentemente insuficientes para aliviar o reducionismo neurobiológico presente na psiquiatria moderna e em algumas escolas de psicologia. Se o homem constitui a partir de uma composição biológica, qual o sentido da dimensão transcendente? Quando todas as explicações estão enraizadas na fisiologia, não há lugar para contemplação reverente do sagrado. Portanto, considerar as extensas afirmações científicas neste contexto ignora as diversas possibilidades humanas realizadas nas experiências religiosas. Perde-se assim o que talvez seja 33 mais importante para as pessoas: “(...) a descoberta daquilo que a vida, a cada momento, nos propõe, inspirando ao amor ao universo, à vida, à ordem superior da Criação, à existência de todas as criaturas” (BERTOLUCCI, 1991, p.24). São necessárias observações no campo da fisiologia humana para comprovar as influências biológicas nas ações e pensamentos humanos. Entretanto, reduzir a psicologia a uma mera teia de articulações bioquímicas e celulares é ignorar a grandeza da psique. A mente que experimenta contato íntimo e profundo com o divino apreenderá claramente uma realidade que lhe pode parecer mais bela, mais harmoniosa (BERTOLUCCI, 1991). A experiência transcendental pressupõe, portanto, produções especiais de significado, que são impossíveis na vigília comum ou nos estados conscientes. A forte biologia deve ter dado lugar à natureza psicológica de pessoas por sugestão de Freud. Parecia uma excelente oportunidade para a religião, uma parte importante da psique humana, receber a devida atenção da psiquiatria. Apesar de elevar o psiquismo à posição de caso fundamental do psiquismo em desequilíbrios da saúde mental e incluir a história de vida do sujeito no processo de adoecimento mental, a psicanálise colocou a religiosidade em patamar quase desprezível (REY, 2003). A religião não foi reconhecida como um fator importante na criação de significado e foi entendida como um mero alimentador de símbolos que não tinham outro significado além de pistas para a ação inconsciente (BRAGA, 2007). Na psicanálise, nem todas as funções da religião ficam de fora da dimensão secular e se limitam à dimensão institucional, onde uma relação íntima com o sagrado é apenas uma fantasia que se dissolve à medida que a racionalidade científica se desenvolve (BRAGA, 2007). Nesse sentido, ele se refere à religião como uma projeção dos desejos humanos, construída a partir do complexo de Édipo de que impede o comportamento antissocial, permitindo assim que a sociedade se configure como tal. A religião seria uma no sentido de esconder os desejos edipianos de destruição do pai. Essa destruição desencadeou em um sentimento de culpa que o fez procurar a "reposição" de seu pai desaparecido. A religião, que por sua vez sustenta a figura paterna, seria fruto de uma defesa psíquica contra o parricídio (FREUD, 1927). A psiquiatria, por outro lado, baseia-se nessa compreensão freudiana da religião e usa prescrições psicanalíticas para enquadrar as manifestações religiosas 34 como produtos da atividade psíquica patológica. Num sujeito psicologicamente definido pela esfera do inconsciente, que segundo a psicanálise geralmente existe em conflito honesto com as normas sociais, a religiosidade era, segundo Freud (1908), apenas funcionamento neurose-obsessivo. A esse respeito, Grof (1988, p.242) explica que: “A psiquiatria recorre à psicanálise, sugerindo que as origens da religião provêm de conflitos irresolutos da infância e da meninice” e adiciona que os costumes religiosos são sinais de “[...] imaturidade e dependência infantil; as atividades rituais indicam uma luta com impulsos psicossexuais ameaçadores, comparável à de um neurótico compulsivo obsessivo”. Essa compreensão psicanalítica da religião, aliada ao reducionismo neurobiológico, preserva a experiência religiosa como loucura a ser intervencionada, independentemente do sujeito. Psiquiatras e psicólogos cognitivos, muitas vezes repetem o tratamento dos chamados loucos por crentes medievais com medicamentos e biologia complementaresque afirmavam funcionar contra a possessão demoníaca (BRAGA, 2007). A ideia de loucura vem do fim do poder da Inquisição sobre os diagnósticos médicos. Assim, a loucura é em parte um legado da perseguição às bruxas de pela Inquisição da Santa Igreja, que de uma forma mais excêntrica, por assim dizer, viu a presença do próprio diabo em como "digna" de sua posse, uma decisão tomada na fogueira. No entanto, com o advento do Renascimento em e a consequente quebra do paradigma religioso, os médicos ficaram livres para estudar as doenças que atingiam as pessoas. Mas porque as mudanças, embora radicais, costumam levar décadas, senão séculos, para se materializarem historicamente, houve doenças nas quais não foram identificadas lesões ou princípio infeccioso (a dita loucura) marca de propriedade. Mas queimar Os processos não estava mais na moda, sua exclusão social era "a nova moda". Assim, no século XVII, os loucos foram internados, e somente após a Revolução Francesa em 1789, adquiriu o caráter de procedimento médico de acordo com os ideais antiopressivos do Iluminismo (STERIAN, 2002). Esclarece que o campo médico, "infectado" com o pensamento positivista do século XVIII, procura conexões doença/lesão com base no modelo neuro-sífilis, doença que afeta o sistema nervoso, e defende a mudança comportamental. No entanto, essa falha não foi efetivamente descoberta até meados do próximo século. Assim, confiando neste modelo “começou-se a agrupar os sintomas em síndromes, 35 cuja etiologia estaria prestes a ser desvendada, mas com certeza, estaria em lesões orgânicas e, muito provavelmente, neurológicas” (STERIAN, 2002, p.39). A descoberta da espiroqueta pálida, dita protozoário causador da sífilis, e o controle da doença por meio de indução febril eficaz e terapia medicamentosa gerou entusiasmo orgânico, e outras disfunções logo foram encontradas. Os transtornos mentais tiveram correlatos orgânicos e foram causados por degeneração cerebral, tumores cerebrais, problemas nutricionais, meningite e várias outras alterações fisiológicas. A eficácia da medicina no tratamento de tais doenças orgânicas permitiu à psiquiatria e a alguns ramos da psicologia criar a ilusão de que todas as doenças mentais podem ser reduzidas a alterações prejudiciais no equilíbrio fisiológico. No entanto, “apesar de seu sucesso inicial, o enfoque médico da psiquiatria não descobriu a etiologia orgânica específica para problemas que afligem a maioria absoluta de seus clientes (...)”. Entre esses problemas estavam manifestações psicóticas (GROF, 1988, p.232) A redução da pessoa inteira a uma rede complexa de reações bioquímicas, fisiológicas, tornou possível “poder do jaleco branco”. A indiscutível autoridade médica refletia-se na relação assimétrica entre este e o paciente, que constituía uma relação de poder em que a internação do paciente era plenamente justificada, principalmente no caso de pacientes psiquiátricos. Segundo Basaglia (1985), a institucionalização característica da sociedade capitalista requer relações de poder, ou seja, violentas. Essa relação é mantida pelo “saber científico”, que a justifica perante a própria sociedade. Esse conhecimento, por sua vez, está relacionado à ideia de tratar o indivíduo como um objeto. É um objeto de outra forma incapacitado que perdeu sua tão alardeada inteligência. Assim, “independente de seus sucessos e possibilidades de novas construções, o paciente dificilmente poderia escapar da noção de falta, incapacidade e doença e, consequentemente, de ser tido como necessitado de uma terapia interminável” (NEUBERN, 2004, p.31). Segundo Sterian (2002, p.39), uma pessoa socialmente desviante que não conseguia controlar totalmente sua vontade e instintos era considerada louca, então a ressocialização era uma "cura" obrigatória, mas era feita por meio de humilhação, privação de comida, que infantilizava e culpou os loucos, que deveriam cada um por 36 um preço reintegrar-se à sociedade através da moralização de modo que “médico era o responsável por um controle ético, mais do que por uma intervenção terapêutica”. Tal procedimento permite formulações interessantes, ou melhor, hipóteses no campo da psicologia. Uma delas pode ser percebida tomando emprestado o conceito psicanalítico de projeção: ao abordar o tema saúde-doença mental, não é difícil perceber o medo imensurável de enlouquecer que assalta o sujeito supostamente normal. A perda da razão significa a perda das referências acumuladas durante a existência individual, ou seja, de alguma forma impossível, e culmina na desumanização ou desvalorização do outro, pois a inferioridade incita o "instinto humano" a dominar. dos quais eram mais fracos. Esse "instinto" parece estar relacionado a projeções inconscientes onde é colocado com outro conteúdo reprimido (BRAGA, 2007). Dessa forma, o que se quer ignorar é o colocado no outro para isolar o que é insuportável em si, e a energia libidinal pode então ser liberada atacando de diversas formas a pessoa sobre a qual é feita a projeção. Assim, uma relação assimétrica paciente-terapeuta/paciente-médico exige a desumanização do outro (do paciente). Basicamente, a visão médica da insanidade carece do lado humano e, portanto, pode ser tratada sem qualquer tratamento ou reabilitação. Por outro lado, com base no ponto de vista junguiano, pode-se supor que não se trata de uma desumanização do outro, mas de uma deificação de si mesmo. Mas esta noção não contradiz a ideia de desumanização e de alguma forma a completa (BRAGA, 2007). Conforme os estudos de Braga (2007), a atividade psíquica básica analisa perspectiva junguiana, explicando que na infância o ego se afasta do self, o que representa um estado primitivo, mas divino. estado de espírito - sob a influência de permite alcançar a consciência. Em outras palavras, o ego incha e assim se separa do self. Tal inflação é desejável desde que não seja exagerada. O exagero ocorre quando o ego se vê tão poderoso quanto o eu por meio da inflação, o que significa que se identifica com essa estrutura, vendo-se como divino. Mas trazendo essa interpretação para o âmbito da relação médico/paciente, pode-se dizer que o médico se comporta diante de seus pacientes sob a ótica de que os primeiros possuem a verdade legitimada pelo conhecimento científico como um deus diante de um mortal. O médico, portanto, ignora sua própria mortalidade, ou seja, o risco de adoecer, como seus pacientes. Conforme destaca Craig (2004, p.88): “Ao 37 objetivar a doença, ele [o médico] distancia-se de sua própria fraqueza, eleva-se e degrada o paciente”. Esse contexto médico, que legitima uma relação de poder onde o paciente é sempre o portador de uma subjetividade sem sentido, representa a força do modelo biológico em detrimento da importância do sujeito. O significado das experiências do sujeito se resume a condições que podem ser acessadas no laboratório sem que a consciência subjetiva do sujeito esteja completamente ausente. A esse respeito esclarece Filho (2002, p.164) que com uma redução do homem ao campo biológico “volta-se, por conseguinte, ao objetivismo excessivo do Iluminismo, dando novos rótulos às síndromes há longo tempo descritas e procurando se tratar mais as doenças do que os pacientes em sua subjetividade”. Com base em argumentos psicanalíticos, a psiquiatria afirma que considera subjetivos os aspectos psicológicos de uma pessoa, como se, valendo-se das prescrições de Freud, estivesse livre de questionar outras abordagens da psicologia. Por outro lado, a religião, distante da esfera orgânica, encontra pouco espaço nesse discurso médico para confirmar as visões e possibilidades de construção do mundo que oferece ao sujeito, e as explicações religiosas são entendidas como ingenuidade ou psicopatologia. De acordo com o objeto da fórmula, o louco