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CLARA MARIA SANTOS DE LACERDA_2022

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE 
ESCOLA DE ARQUITETURA E URBANISMO 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO 
 
 
 
CLARA MARIA SANTOS DE LACERDA 
 
 
 
 
Espaços verdes em Oslo, Noruega e Rio de Janeiro, Brasil: a 
relevância socioambiental do Parque Frogner e da Quinta da Boa 
Vista para a paisagem urbana da cidade contemporânea 
 
 
 
 
 
 
 
Niterói 
2022 
 
 
 
CLARA MARIA SANTOS DE LACERDA 
 
 
 
ESPAÇOS VERDES EM OSLO, NORUEGA E RIO DE 
JANEIRO, BRASIL: A RELEVÂNCIA SOCIOAMBIENTAL 
DO PARQUE FROGNER E DA QUINTA DA BOA VISTA 
PARA A PAISAGEM URBANA DA CIDADE 
CONTEMPORÂNEA 
 
 
 
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação 
em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense, 
como requisito para obtenção do Grau de Mestre em Arquitetura e 
Urbanismo. Linha de Pesquisa: Espaço construído, sustentabilidade e 
ambiente. 
 
ORIENTADORA: 
PROF.ª DR.ª ELOÍSA CARVALHO DE ARAÚJO 
 
 
 
 
 
 
NITERÓI 
2022 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CLARA MARIA SANTOS DE LACERDA 
 
 
ESPAÇOS VERDES EM OSLO, NORUEGA E RIO DE JANEIRO, 
BRASIL: A RELEVÂNCIA SOCIOAMBIENTAL DO PARQUE 
FROGNER E DA QUINTA DA BOA VISTA PARA A PAISAGEM 
URBANA DA CIDADE CONTEMPORÂNEA 
 
 
Dissertação de Mestrado apresentada ao 
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e 
Urbanismo da Universidade Federal 
Fluminense, como requisito para obtenção do 
Grau de Mestre em Arquitetura e Urbanismo. 
Linha de Pesquisa: Espaço construído, 
sustentabilidade e ambiente. 
 
 
 
Aprovada em 24 de maio de 2022. 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao universo, por me oferecer um determinado tempo 
de vida neste planeta, vivenciando e conhecendo tantas pessoas e lugares significativos. 
Agradeço a minha mãe, pelo exemplo de ser humano que ela é, pelo suporte, pela relação de 
amizade e as histórias que a cada dia construímos juntas. Também sou muito grata aos meus 
amigos que me possibilitam enxergar o mundo por outras perspectivas, dando significado ao 
incompreensível. Agradeço a minha professora orientadora, por ter topado embarcar nesta 
pesquisa, por sua experiência e por me auxiliar a traduzir as minhas inquietações sobre a 
natureza urbana em palavras, conceitos e teorias. Agradeço aos membros da banca, pelo 
aceite e disponibilidade em participar dessa etapa tão importante no meu percurso do 
mestrado acadêmico. Minha gratidão a Glaiane Quinteiro Campos, pela revisão criteriosa das 
normas ABNT desta dissertação. Um muito obrigada também para meu pai e meus demais 
familiares, pelo apoio desde sempre. Manifesto minha gratidão a todas as instituições de 
fomento à pesquisa que investiram no meu progresso pessoal e profissional, por meio da 
concessão de bolsas de estudo, como a International Summer School, Universitetet i Oslo 
(Noruega) e a CAPES -Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior 
(Brasil). Também sou grata a todos os meus professores nas escolas por onde passei, na 
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, na Universidade de Oslo e na 
Universidade Federal Fluminense, que de alguma forma me ajudaram a chegar até o momento 
presente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A vida atravessa tudo, atravessa uma pedra, a camada de ozônio, 
geleiras. A vida vai dos oceanos para a terra firme, atravessa de norte 
a sul, como uma brisa, em todas as direções. A vida é esse 
atravessamento do organismo vivo do planeta numa dimensão 
imaterial. Vida é transcendência, está para além do dicionário, não 
tem uma definição”. 
(Ailton Krenak, 2020, p. 15). 
 
 
RESUMO 
Natureza é um conceito chave para se pensar nas dinâmicas socioespaciais da 
contemporaneidade, tendo em vista que tudo o que existe no mundo se constitui como 
pertencente a ela, inclusive as cidades. As transformações espaciais ocorridas ao longo dos 
séculos, culminando na expansão da lógica urbana pós Revolução Industrial, trouxe um novo 
cenário socioambiental, acarretando em desafios no contexto do bem-estar urbano e da 
resiliência das cidades da atualidade. A partir desse raciocino, a presente pesquisa abordará o 
panorama dos espaços verdes no contexto de planejamento urbano e ambiental de duas 
cidades distintas: Oslo, localizada na Noruega e Rio de Janeiro, no Brasil, dentro de um 
recorte temporal do final do século XIX até o atual século XXI. A questão central diz respeito 
a investigar como os aspectos socioambientais presentes especificamente no Parque Frogner 
(OSL) e na Quinta da Boa Vista (RJ) interferem e se inserem no bem-estar urbano das 
respectivas cidades. Para tanto, o caminho metodológico foi pautado em três categorias 
analíticas, a fim de proporcionar uma maior imersão investigativa na realidade dos fenômenos 
estudados: 1- Sociabilidade, 2- Sustentabilidade e 3- Gestão. A análise da temática da 
natureza urbana se pautou nos campos disciplinares da geografia cultural e arquitetura e 
urbanismo para investigar os aspectos socioambientais dos parques. A investigação buscou 
analisar as conexões entre o campo teórico do urbanismo ecológico e das cidades biofílicas e 
os contextos urbanos de Oslo e do Rio de Janeiro. A partir da análise qualitativa, os dois 
parques públicos foram considerados por meio da pesquisa bibliográfica acerca dos seus 
históricos de formação, além de entrevistas e análise de diferentes fontes investigadas em 
conjunto, visando compreender como as atividades realizadas nos dois contextos empíricos, 
bem como os conjuntos de ações que os preservam são experiências espaciais permeadas de 
significados relevantes para a compreensão das dinâmicas socioambientais da cidade 
contemporânea. Ao final, espera-se contribuir para uma maior conscientização acerca do 
papel dos parques urbanos e públicos como espaços multifuncionais de sociabilidade e 
sustentabilidade, além de inspirar outros estudos sobre a natureza urbana nas cidades, bem 
como trazer novas perspectivas com relação às possibilidades criadas pelos espaços verdes 
para um planejamento urbano e ambiental mais holístico neste século XXI. 
Palavras-chave: Parques públicos; natureza urbana; espaços verdes; paisagem urbana 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
Nature is a key concept to think about the socio-spatial dynamics of contemporaneity, 
considering that everything that exists in the world belongs to it, including cities. The spatial 
transformations that have taken place over the centuries, culminating in the expansion of the 
post-Industrial Revolution urban logic, brought a new socio-environmental scenario, resulting 
in challenges in the context of urban well-being and the resilience of today's cities. Therefore, 
the present research will approach the panorama of green spaces in the context of urban and 
environmental planning of two different cities: Oslo, located in Norway and Rio de Janeiro, in 
Brazil, within a time frame from the end of the 19th century until the current 21st century. 
The central question concerns the investigation of how the socio-environmental aspects 
located specifically in Parque Frogner (OSL) and Quinta da Boa Vista (RJ) interfere in the 
urban well-being of these respective cities. Hence, the methodological pathway of this 
research was based on three analytical categories, in order to provide a greater investigative 
immersion in the reality of the phenomena studied: 1) Sociability, aiming to understand how 
the activities carried out in the two empirical contexts are spatial experiences permeated with 
relevant meanings for the understanding of the socioenvironmental dynamics of the 
contemporary city; 2) Sustainability, seeking to analyse the potential for connectivity between 
these parks and other green spaces in their cities, in addition to understanding the sets of 
actions that preserve them; 3) Management, with the objective of identifyinghow these parks 
are managed by their municipalities and how the image of urban nature is conveyed in official 
media discourses. The analysis was based on the study area of cultural geography and 
urbanism on the theme of urban nature, to investigate the socio-environmental aspects of the 
parks. The investigation sought to analyse the connections between the theoretical field of 
ecological urbanism and biophilic cities and the urban contexts of Oslo and Rio de Janeiro. 
From the qualitative analysis, the two public parks were considered through bibliographic 
research about their histories, in addition to interviews and analysis of different sources 
investigated together. In the end, it is expected to contribute to a greater awareness of the role 
of urban and public parks as multifunctional spaces of sociability and sustainability, in 
addition to inspiring other studies on urban nature in cities, as well as bringing new 
perspectives regarding the possibilities created by green spaces for more holistic urban and 
environmental planning in this 21st century. 
Keywords: Public parks; urban nature; sociability; green spaces, urban landscape 
 
 
Sumário 
 
INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 16 
OBJETIVOS DA PESQUISA ........................................................................................................... 21 
ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS ................................................................................................... 22 
CAPÍTULO 1: CAMINHO METODOLÓGICO .................................................................................. 23 
ETAPAS DA PESQUISA ................................................................................................................. 27 
ENTREVISTAS ................................................................................................................................ 29 
CAPÍTULO 2- A INTERDISCIPLINARIDADE DAS RELAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS ............. 31 
2.1 ARQUITETURA DA PAISAGEM E ESPAÇO URBANO: ALGUMAS DINÂMICAS E 
ATORES ........................................................................................................................................... 33 
2.2 UMA COMPREENSÃO GEOGRÁFICA DA ECOLOGIA NO SÉCULO XX ........................ 42 
2.3 ABRINDO ESPAÇO PARA A NATUREZA NA CIDADE CONTEMPORÂNEA ................. 48 
2.3.1 Natureza urbana .................................................................................................................... 54 
2.3.2 Cidades biofílicas: o lugar da natureza urbana no imaginário urbano emergente ................ 62 
CAPÍTULO 3: UMA VISÃO SOCIOCULTURAL DA NATUREZA URBANA EM OSLO, 
NORUEGA E RIO DE JANEIRO, BRASIL ........................................................................................ 68 
3.1 OS ESPAÇOS VERDES NA PAISAGEM URBANA DE OSLO ............................................. 69 
 3.2 OS ESPAÇOS VERDES NA PAISAGEM URBANA DO RIO DE JANEIRO, BRASIL ....... 82 
3.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE A GESTÃO E A IMAGEM DA NATUREZA URBANA EM 
OSLO E NO RIO DE JANEIRO ...................................................................................................... 94 
CAPÍTULO 4: CONTEXTOS EMPÍRICOS – A CONTEMPORANEIDADE DO PARQUE 
PÚBLICO ............................................................................................................................................ 107 
 4.1 PARQUE FROGNER ................................................................................................................ 107 
4.1.1 A paisagem e as vivências .................................................................................................. 116 
4.1.2 Aspectos da gestão ............................................................................................................. 122 
4.2 QUINTA DA BOA VISTA ....................................................................................................... 126 
4.2.1 Um jardim e muitas histórias ............................................................................................. 137 
4.2.2 Aspectos da gestão ............................................................................................................. 148 
4.3 A RELEVÂNCIA DOS DOIS PARQUES NO AMBIENTE URBANO CONTEMPORÂNEO
 ......................................................................................................................................................... 152 
4.3.1 Abordagens da sustentabilidade e gerenciamento dos parques .......................................... 159 
4.3.2 Natureza urbana e bem-estar .............................................................................................. 169 
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................................. 174 
OBRAS CITADAS ............................................................................................................................. 180 
OBRAS CONSULTADAS ................................................................................................................. 187 
ANEXOS............................................................................................................................................. 190 
 
 
ANEXO 1: MODELO DOS EIXOS TEMÁTICOS UTILIZADOS NAS ENTREVISTAS COM 
FREQUENTADORES DOS PARQUES ........................................................................................ 190 
ANEXO 2: SÍNTESE DAS RESPOSTAS DAS ENTREVISTAS COM 8 FREQUENTADORES 
DO PARQUE FROGNER .............................................................................................................. 191 
ANEXO 3: TRANSCRIÇÃO, COM TRADUÇÃO LIVRE EM PORTUGUÊS, DA ENTREVISTA 
REALIZADA COM A URBANISTA NORUEGUESA ELLEN DE VIBE, EM 2020 ................. 195 
ANEXO 4: SÍNTESE DAS RESPOSTAS DAS ENTREVISTAS COM 8 FREQUENTADORES 
DA QUINTA DA BOA VISTA ...................................................................................................... 197 
ANEXO 5: TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA REALIZADA EM 2022, COM A EX 
FUNCIONÁRIA DA PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO, JEANNE ALMEIDA DA 
TRINDADE .................................................................................................................................... 201 
ANEXO 6: NOTA DA FUNDAÇÃO PARQUES E JARDINS NA ÍNTEGRA, SOBRE O 
VAZAMENTO DE ÓLEO NOS LAGOS EM 2020 ...................................................................... 204 
 
 
 
Lista de figuras 
Figura 1: Desdobramento dos componentes de análise e das categorias utilizadas..................24 
Figura 2: Extensão do alcance da pesquisa. .............................................................................25 
Figura 3: Vista aérea do Central Park atual, Civitatis- Nova Iorque........................................35 
Figura 4: Mapa atual do Emerald Necklace- Boston EUA......................................................36 
Figura 5: Esquema das cidades-jardins desenhado por Ebenezer Howard em 1902................38 
Figura6:RamsayGarden............................................................................................................40 
Figura 7: Práticas urbanas aliadas a ecologia urbana e ao pensamento sistêmico....................54 
Figura 8: Red Ribbon Park, Qinhuangdao , China. .................................................................58 
Figura 9: Mulher admirando as flores no Red Ribbon Park, Qinhuangdao -China..................58 
Figura 10: Drenagem urbana sustentável e cobertura vegetal no Cheonggyecheon, Seul.......60 
Figura 11: Festival das lanternas no Cheonggyecheon, Seul. .................................................60 
Figura 12: Parque ambiental Professor Mello Barreto, Barra da Tijuca-RJ ............................61 
Figura 13: Vegetação no Parque ambiental Professor Mello Barreto- Barra daTijuca-RJ. ....61 
Figura 14: Exemplos de biofilia na cidade do Rio de Janeiro e Niterói- Brasil. .....................66 
Figura 15: Exemplos de biofilia (verão-2019) em Oslo, na Noruega.......................................67 
Figura16:Slottsparken ..............................................................................................................73 
 
 
Figura 17: Mapeamento da Oslomarka realizado pela Associação Norueguesa de Turismo 
(Den Norske Turistforening- DNT)..........................................................................................80 
Figura 18: Nordmarka e lago Sognsvann................................................................................. 80 
Figura 19: Jardim botânico do Rio de Janeiro. ........................................................................84 
Figura 20: Mapa Turístico da Floresta da Tijuca, distribuído no Centro de Visitantes do 
Parque........................................................................................................................................89 
Figura 21: Floresta da Tijuca....................................................................................................89 
Figura 22: Divulgação do programa Adote.Rio....................................................................... 92 
Figura 23: O azul, o verde e a cidade no meio- mapa da cidade de Oslo, produzido pela USE-
IT Oslo......................................................................................................................................98 
Figura 24: Park life- mapa da cidade de Oslo, produzido pela USE-IT Oslo. .........................99 
Figura 25: Revistinha do Zé Carioca e Cartaz do filme Rio (2011).......................................101 
Figura 26: Grafite sobre a Floresta da Tijuca- Gloye............................................................ 104 
Figura 27: Parque Vigeland....................................................................................................108 
Figura 28: Mapeamento da área de cobertura vegetal em Oslo com destaque em vermelho 
para os bairros de Frogner e Sentrum.................................................................................... 109 
Figura 29: Localização do Parque Frogner no contexto do bairro e áreas vizinhas. .............110 
Figura 30: Identificação dos mosaicos internos do Parque Frogner, destacado em laranja...110 
Figura 31: O Parque Frogner no inverno. ..............................................................................111 
Figura 32: O parque Frogner no verão. ..................................................................................112 
Figura 33: Mapa de localização e Entrada lateral do Parque. ................................................112 
Figura 34: Entrada da piscina pública Frognerbadet. ………................................................113 
Figura 35: Norwegian Wood Festival. ..................................................................................113 
Figura 36: Gramado e o Museu da cidade (Bymuseet) ao fundo...........................................114 
Figura 37: Cafeteria. ..............................................................................................................115 
Figura 38: Texto aos fundos da cafeteria do Parque, sobre os grupos étnicos presentes em 
Oslo. ......................................................................................................................................115 
Figura 39: Aspectos da vegetação do Parque Frogner. ..........................................................117 
Figura 40: O parque durante o outono....................................................................................120 
Figura 41: Família realizando um piquenique no gramado e homem passeando com cachorro -
Parque Frogner. ......................................................................................................................121 
Figura 42: Imagem do Instagram sobre o Parque Frogner 1,. ...............................................124 
 
 
Figura 43: Imagem do Instagram sobre o Parque Frogner 2. ................................................125 
Figura 44: A transição para do outono no Frognerparken. ....................................................125 
Figura 45 : Passeios na Quinta da Boa Vista (1911).. ...........................................................127 
Figura 46: Lago da Quinta da Boa Vista e rochas construídas utilizando a técnica do 
roccaille...................................................................................................................................128 
Figura 47: Projeto para os jardins da Quinta da Boa Vista atribuído à Glaziou. ...................128 
Figura 48: Vista aérea da Quinta da Boa Vista-......................................................................129 
Figura 49: Piquenique na Quinta da Boa Vista...................................................................... 133 
Figura 50: Museu Nacional antes do incêndio........................................................................133 
Figura 51: Jardim Burle Marx. ...............................................................................................135 
Figura 52: Entrada do Bio Parque do Rio. .............................................................................135 
Figura 53: Visitação escolar ao Bio Parque................................ ...........................................135 
Figura 54: Mosaicos espaciais da Quinta da Boa Vista. ........................................................136 
Figura 55: Quinta da Boa Vista. .............................................................................................137 
Figura 56: Lago da Quinta da Boa Vista. ...............................................................................139 
Figura 57: Entrada principal da Quinta da Boa Vista............................................................ 139 
Figura 58: Caminhos da Quinta da Boa Vista. ......................................................................142 
Figura 59: Lago- Quinta da Boa Vista. .................................................................................143 
Figura 60: Bioparque na Quinta da Boa Vista. ......................................................................144 
Figura 61: Bioparque do Rio sobre o Rolé carioca na Quinta da Boa Vista. ........................145 
Figura 62: Propaganda da visitação a Quinta da Boa Vista. ..................................................146 
Figura 63: Postagem após o encontro presencial na Quinta Da Boa Vista-...........................147 
Figura 64: Feira vegana Veg Borá, realizada na Quinta da Boa Vista. .................................147 
Figura 65: A gestão da imagem da Quinta da Boa Vista no perfil turístico da cidade...........150 
Figura 66: Apartheid verde.....................................................................................................154 
Figura 67: Esquema sobre a relação entre os objetivos específicos e os questionamentos da 
pesquisa...................................................................................................................................156 
Figura 68: Foto dos Desgastes no gramado da Quinta da Boa Vista......................................164 
Figura 69: Evelangs Frognerelven, evento cultural de música e dança ao longo rio, com 
alunos das escolas Majorstuen, Skøyen e Uranienborg..........................................................167 
 
 
Figura 70: Castor nadando no seu novo habitat, o Rio Frogner.............................................167 
Figura 71: Nuvem de palavras sobre o Parque Frogner..........................................................170 
Figura 72: Nuvem de palavras sobre a Quinta da Boa Vista..................................................171 
 
Tabelas e Quadros 
 
Tabela 1: Autores clássicos considerados no referencial teórico da pesquisa.........................28 
Tabela 2: Bases de dados e informações obtidas. ....................................................................29 
Tabela 3: Situações/políticas que influenciaram a gestão e o planejamento da natureza urbana 
emOslo......................................................................................................................................79 
Tabela 4: Situações/políticas que influenciaram a gestão e o planejamento da natureza urbana 
noRiodeJaneiro......................................................................................................................... 94 
Tabela 5: Panorama das respostas obtidas por diferentes fontes de pesquisa sobre a 
sociabilidade, sustentabilidade e gestão do Parque Frogner (OSL) e da Quinta da Boa Vista 
.................................................................................................................................................157 
Tabela 6: Aspectos da sustentabilidade nos contextos empíricos da pesquisa. 
.................................................................................................................................................161 
 
Lista de Siglas 
 
AMASC- Associação de Moradores e Amigos de São Cristóvão 
C.E- Comissão Europeia 
CONLURB- Companhia Municipal de Limpeza Urbana 
DNT- Den Norske Turistforening- Associação Norueguesa de Turismo 
FPJ- Fundação Parques e Jardins 
IBEU- Índice de Bem-Estar Urbano 
IBGE -Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
IPHAN- Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional 
ISS- International Summer School 
JBRJ- Jardim Botânico do Rio de Janeiro 
MAM- Museu de Arte Moderna 
 
 
MMA Ministério do Meio Ambiente 
MMA-Ministério do Meio Ambiente 
NIMA-Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente 
OMS- Organização Mundial da Saúde 
ONU - Organização das Nações Unidas (UN - United Nations) 
OSL- Oslo 
PDA- Plano diretor de arborização 
PDDU- Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano 
PDM- Plano diretor municipal 
PUC-Rio- Pontifícia Universidade Católica do Rio de janeiro 
RJ - Rio de Janeiro 
SBN- Soluções baseadas na natureza 
SMAC- Secretária de Meio Ambiente da cidade do Rio de Janeiro 
SNL- Store norske leksikon- Grande Enciclopédia Norueguesa 
UFF- Universidade Federal Fluninense 
UFRJ- Universidade Federal Do Rio de Janeiro 
UiO- Universitetet i Oslo 
UNESCO- Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (The 
United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization) 
WHO- World Health Organization 
ZEE- Zoneamento ecológico econômico 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
“O conhecimento é o que nos liberta: o conhecimento é o que nos permite sair mesmo 
nas situações mais desafiadoras” (BÍSSO, 2021, informação verbal)1. Esta afirmação, em 
palestra pública e online, proferida pela pesquisadora Beatriz Bísso, nos faz refletir acerca do 
lugar do conhecimento na nossa sociedade e sobre o quão importante é aprender e dialogar 
com indivíduos tanto de diferentes campos do saber, quanto de culturas distintas. O ato de 
conhecer e refletir criticamente através do recurso da razão, é o que nos faz humanos e usar 
esse conhecimento para a promoção de uma vida mais plena e próspera é uma questão ética. 
De acordo com Paulo Freire (1996, p. 18), a criatividade existe em conjunto com a 
curiosidade, e é ela que nos “põe pacientemente impacientes diante do mundo que não 
fizemos, acrescentando a ele algo que fazemos”. Por isso, a curiosidade que impulsiona o 
conhecimento é capaz de nos fazer enxergar a nossa realidade, tendo a potencialidade de 
trazer soluções e novos desafios para questões inerentes ao período histórico no qual estamos 
inseridos. Neste contexto, no ano de 2016, ingressei no estágio voluntário no NIMA (Núcleo 
Interdisciplinar de Meio Ambiente da PUC-Rio), no qual pude trabalhar em conjunto com 
alunos e professores para reformular a Agenda Ambiental da universidade, no quesito de 
espaços de convivência e mobilidade dentro do campus2. 
No ano de 2018, obtive o grau de bacharelado em Geografia na Pontifícia 
Universidade Católica do Rio de Janeiro, onde defendi a pesquisa sobre a morfologia e a 
simbologia do Campo de São Bento, um parque urbano localizado em Niterói-RJ. A pesquisa 
versou sobre a identidade deste parque como um lugar significativo da cidade, levando em 
consideração conceitos como lugar e espaço público, bem como sua importância histórica 
para o bairro de Icaraí. Além disso, por meio de entrevistas e trabalhos de campo, foi possível 
desenhar três croquis simbólicos com informações sobre o Campo de São Bento, com o 
intuito de divulgação do conhecimento acadêmico para a sociedade3. Neste sentido, conhecer 
e aprender mais sobre esse espaço verde me fez perceber ainda mais a relevância da natureza 
urbana para as cidades, num momento no qual a expansão urbana, por vezes, tende a 
substituir esses locais por construções padronizadas no concreto. 
 
1 Bandung e os não alinhados: Palestra proferida pela professora Beatriz Bíssio (UFRJ) no curso de Atualização 
em estudos asiáticos da coordenadoria de Estudos da Ásia da UFF/UFPE. Disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=mjtJYbUFVeg>. Acesso em: 13 maio 2021. 
2 O campus da PUC-Rio, na Gávea, é reconhecido por sua intensa cobertura vegetal da Mata Atlântica, 
oferecendo espaços verdes, como o bosque, à comunidade acadêmica, que usufrui para relaxar, estudar e 
conversar com colegas, sendo um importante espaço social na rotina acadêmica. 
3 Para mais informações consulte: https://clarathegeographer28.wordpress.com/campo-de-sao-bento-croquis/. 
17 
 
 
 
Logo um ano depois, eu tive a oportunidade de participar do curso de verão sobre 
Energia, Meio Ambiente e Mudança Social, oferecido pela International Summer School da 
Universidade de Oslo, na Noruega. Em conjunto com outros estudantes de países e campos de 
estudo distintos, dialogamos sobre as relações entre o ser humano e a natureza, sobre técnicas 
para um consumo energético mais eficiente e sobre infraestrutura verde e azul nas cidades 
pelo mundo. No contexto específico norueguês, viajamos em trabalho de campo por diversas 
regiões do país (cidades e vilarejos nas duas grandes áreas geográficas: Vestlandet e 
Østlandet), para conhecer um pouco mais sobre o passado e a contemporaneidade das 
políticas públicas e do desenvolvimento da Noruega. Porém, o principal questionamento que 
baseava os nossos debates, era justamente o desenvolvimento, sendo algo visto de maneiras 
diferentes de acordo com cada país ali representado. Apesar de estarmos em um curso em 
conjunto, numa realidade global que se pressupunha cada vez mais padronizada por relações 
capitalistas e rígidas, as especificidades sociais, culturais, econômicas e ambientais se 
sobrepunham, mostrando suas influências nas práticas urbanas. 
Tendo esses debates como base, ao retornar ao Brasil, me interessei por conhecer as 
dinâmicas socioespaciais na cidade do Rio de Janeiro, mais especificamente no que tange aos 
espaços verdes urbanos. Dessa forma, fiz minha inscrição no mestrado da Escola de 
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense, pois pensei que o diálogo com 
professores e demais colegas seria de grande relevância para a minha reflexão sobre as 
questões socioambientais pelo víeis da prática urbana (tendo em vista que Arquitetura e 
Urbanismo está no campo das Ciências Sociais Aplicadas). Eu penso que o mestrado me 
possibilitou enxergar o espaço urbano por uma outra perspectiva, com relação a práxis das 
dinâmicas de planejamento urbano e ambiental, o que complementa a ótica geográfica mais 
teórica (minha formação original). 
Neste sentido, o caso particular da Quinta da Boa Vista, me chamou a atenção, devido 
a sua mudança estrutural e social nobairro de São Cristóvão, ao longo dos séculos XIX-XX. 
Por exemplo, o século XIX foi o momento da estruturação do Brasil como nação, no qual 
ocorreram profundas transformações para atender à família real e as novas demandas sociais. 
No período, o Rio de Janeiro passou por uma reestruturação para desempenhar suas novas 
funções simbólicas e administrativas e a área onde se localiza a Quinta era essencialmente 
relacionada à aristocracia (MACEDO; SAKATA, 2002). Já no século XX, o espaço do bairro 
de São Cristóvão se tornou o local da classe operária e os jardins da Quinta da Boa Vista se 
adequaram à função de parque público, sendo um importante espaço verde no meio urbano. 
18 
 
 
 
Em paralelo, inspirada pelas experiências na Noruega, acredito que investigar sobre o 
processo de urbanização da cidade de Oslo, nos séculos XIX- XX, em especial sobre o bairro 
Frogner, onde se situa o Parque Frogner, como parte de um histórico de políticas públicas que 
se propunham a integrar os espaços verdes à paisagem urbana no século XX, seja relevante 
para uma análise paralela à realidade socioespacial do contexto carioca. Na Noruega, esse 
recorte temporal também é importante por causa do advento do romantismo e dos 
movimentos nacionalistas. Foi um período no qual o país estava em processo de libertação da 
união com a Dinamarca (1814) e, posteriormente, a Suécia (1905). Neste sentido, as florestas 
e os parques urbanos passaram a simbolizar o pertencimento social da nação que se formava. 
Tanto os intelectuais, quanto a classe operária enxergavam os espaços verdes como parte da 
identidade nacional norueguesa (SYSE, 2016, p. 47). 
De acordo com Brøgger (2016), o Frogner é um parque único na Noruega. Ele não 
somente está conectado à história do bairro de mesmo nome, remontando às origens agrárias 
medievais até o seu posterior desenvolvimento como propriedade burguesa, mas também está 
intimamente ligado à história social de Oslo e às ideias do século XX de planejamento 
urbano, paisagismo, sociabilidade e cultura popular (BRØGGER, 2016, p. 71). Ainda de 
acordo com este autor, o parque possui bastante biodiversidade e este é o principal fator pelo 
qual esse espaço verde é relevante, particularmente, para ele (BRØGGER, 2016, p. 71). 
As origens do parque Frogner e da Quinta da Boa Vista são distintas; na qual o 
primeiro foi projetado nos anos de 1920, e não exerceu a função de residência da realeza, e o 
segundo teve suas áreas ajardinadas em 1869 e era a residência da família imperial. Porém, 
ambos possuem um valor paisagístico relacionado ao processo de formação da identidade 
nacional. Além disso, tanto a Quinta da Boa Vista, quanto o parque Frogner passaram por 
mudanças funcionais e organizacionais, dentro de uma perspectiva do sistema urbano, que 
permitiram a um maior acesso da população aos espaços verdes no século XX. Os dois 
parques se localizam em bairros com diferentes tipos de integração via transporte público, e 
oferecem um lugar de sociabilidade em suas respectivas cidades. 
 Os dois parques possuem uma forma artística distinta, pois foram pensados sob 
contextos diferentes. A área onde se ocupa a Quinta da Boa Vista era parte de uma fazenda 
dos jesuítas, sendo posteriormente passada para proprietários privados. Antes da família real 
chegar ao Brasil, havia no local apenas um casarão do qual se tinha uma vista para a Baía de 
Guanabara. Apenas em 1868, já como posse da família imperial, os jardins da Quinta da Boa 
Vista, foram projetados à mando de D. Pedro II por Auguste François-Marie Glaziou, feitos 
19 
 
 
 
com a técnica dos rocailles, vinda da França e típica dos jardins paisagísticos do século XVIII 
ao XIX. Nela, eram usados materiais de construção que pretendiam imitar os elementos da 
natureza, como as rochas (TRINDADE, 2014, p. 63). 
É interessante observar que Glaziou realizou uma intensa pesquisa botânica sobre as 
espécies nativas brasileiras, a fim de utilizá-las nos jardins que estava em processo de 
construir. Esse fato tem a potencialidade de exercer influência para a área da Quinta da Boa 
Vista até a contemporaneidade, no que diz respeito à biodiversidade presente no parque. Além 
disso, Glaziou tinha a intenção de projetar uma outra natureza4 no espaço dos jardins, de 
modo a promover o deleite da família imperial. No romantismo brasileiro, essa natureza 
tropical recriada e idealizada, significava os ideais nacionais, onde a força motriz da nação em 
processo de libertação eram as suas riquezas naturais. 
Durante o reinado de D. Pedro II, a área total do parque manteve-se praticamente 
inalterada. Entretanto, com a chegada do século XX, o perímetro de extensão foi-se 
reduzindo, pois partes do terreno foram sendo cedidas ao governo republicano para outros fins 
(FERREIRA; MARTINS, 2000). O alargamento da via férrea e a abertura de rodovias fazem 
parte dessas modificações, o que foi progressivamente descaracterizando a morfologia que o 
parque possuía durante o império de D. Pedro II, principalmente na parte sul do parque, no 
qual foi aberta a via férrea, e na parte norte, desde o portão monumental da alameda até o 
portão que dá para o largo da Cancela. Estas intervenções deixaram uma boa parte da área 
original de fora dos limites morfológicos atuais (FERREIRA; MARTINS, 2000). 
De outro ponto, o Parque Frogner era uma área agricultável durante a Idade Média, na 
qual o nome Frogner, significava fértil, se referindo a fertilidade da terra para as plantações. 
Com o advento da burguesia nos séculos XVIII-XIX, o local onde hoje se situa o parque 
também foi uma mansão agrícola, que pertencia a um proprietário particular. Em 1896, a 
prefeitura comprou a propriedade no contexto de expansão urbana da cidade, e em 1900 foi 
implementado um parque público para as pessoas. Em 1924, o escultor norueguês Gustav 
Vigeland projetou o seu próprio espaço em formato neoclássico dentro do parque, e em 1930 
o local ficou conhecido como “parque Vigeland”, composto por suas esculturas com figuras 
humanas expressando diversos sentimentos e que se conectam aos movimentos nacionalistas 
da Noruega5. As ideias de Vigeland foram intensamente criticadas por intelectuais e 
 
4 Simbólica. 
5 A escultura era uma forma artística valorizada para constituir as bases culturais da nação norueguesa em 
formação. 
20 
 
 
 
planejadores urbanos da época, como Marius Røhne, chefe encarregado de planejar as áreas 
verdes da cidade de 1916 até 1948 (JØRGENSEN, 2018). 
Cabe observar que para Røhne, o parque Frogner não deveria ser gerenciado sob uma 
perspectiva individualista e fragmentada, como previa Gustav Vigeland. Marius Røhne 
acreditava que aquele era um lugar na cidade para a garantia da conexão entre a área das 
florestas e dos parques urbanos a partir de um sistema de corredores verdes integrados. Sob 
sua liderança, o planejamento urbano e ambiental da cidade gradualmente assumiu uma 
abordagem mais sistemática, no qual ele se preocupou com Oslo como um todo: desenvolveu 
áreas de parque nas partes leste e mais pobres, ao longo do rio Akerselva, transformando a 
cidade em um lugar onde o planejamento possibilitava os espaços verdes para o público 
dentro e ao redor das áreas residenciais, sem distinção de classes sociais. Essa ‘cultura de 
parques’, pretendia nutrir o sentimento de que as pessoas eram pertencentes à paisagem 
urbana e dessa forma também cuidassem da natureza local (JØRGENSEN, 1997). Sendo 
assim, foram retiradas todas as cercas ao redor das áreas verdes, mantendo um alto padrão de 
manutenção (JØRGENSEN, 1997). 
Atualmente, o parque Frogner é o maior espaço verde nas partes centrais de Oslo e 
possui uma popular área de lazer para a população, contando com inúmeros locais para a 
caminhada e práticas esportivas, além de um museu. Além disso, o parque, assim como a 
Quinta da Boa Vista no Rio de Janeiro, se localiza próximo a um importante estádio de 
Futebole a vias de transporte público integradas como metrôs e pontos de ônibus. Outra 
característica em comum entre os dois parques diz respeito a proximidade com as florestas 
urbanas presentes nas duas cidades: enquanto o parque Frogner está geograficamente em 
conexão com a Oslomarka, a Quinta da Boa Vista também se encontra em proximidade com a 
Floresta da Tijuca. Esse fator é potencialmente benéfico para possíveis integrações futuras no 
planejamento urbano dos espaços verdes nas duas cidades. 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
 
 
 OBJETIVOS DA PESQUISA 
 
Diante do exposto acima, durante as etapas de pesquisa, investiguei como a natureza 
urbana, em especial os dois contextos empíricos aqui abordados, são áreas relevantes para a 
rede urbana, possibilitando novas interpretações para o cotidiano de ambas as realidades 
urbanas estudadas. O objetivo geral da pesquisa diz respeito a investigar como os aspectos 
socioambientais presentes no Parque Frogner e na Quinta da Boa Vista interferem no 
bem-estar de suas respectivas cidades. 
A pesquisa engloba cinco objetivos específicos, que pretendem promover uma imersão 
profunda, através da pesquisa bibliográfica acerca dos contextos empíricos, entrevistas e 
análise de diferentes fontes que possam ser interpoladas: 
1. Realizar um levantamento bibliográfico sobre a temática socioambiental e as 
políticas dos espaços verdes nas cidades estudadas (recorte temporal séculos XIX-
XXI); 
2. Analisar como os dois parques se integram à paisagem urbana na concepção da 
sustentabilidade; 
3. Investigar o papel dos dois parques como espaços de sociabilidade, 
promovendo o acesso à natureza urbana; 
4. Verificar como a atual gestão administra esses espaços e contribui (ou não) 
para seu aprimoramento; 
5. Avaliar a potencialidade dos parques na promoção do bem-estar na cidade de 
Oslo e no Rio de Janeiro. 
 
 
Nesta pesquisa, a abordagem do bem-estar urbano considera: 
• Os aspectos multifuncionais dos parques; 
• Atividades sociais realizadas dentro dos parques; 
• Acesso à natureza urbana. 
• Biodiversidade da fauna e flora; 
• Conectividade a outros espaços verdes na rede urbana. 
 
 
 
 
 
 
22 
 
 
 
 ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS 
 
Dentro deste quadro reflexivo, o capítulo 1 pretende demonstrar a metodologia 
utilizada durante as etapas investigativas, trazendo informações sobre a extensão do alcance 
da pesquisa, os esquemas argumentativos, as relações de semelhança e dissemelhança entre os 
casos, bem como os instrumentos utilizados para a análise dos dois contextos empíricos. 
Neste capítulo também serão apresentadas as bases de dados (abordagem perceptiva, 
reflexiva, acadêmica e institucional) acessadas para coleta bibliográfica e imagética. Além 
disso, serão apresentados os eixos temáticos utilizados com os entrevistados com relação ao 
contexto norueguês e brasileiro, bem como o perfil dos relatos obtidos. 
Para explicar e delimitar a visão de mundo à qual dá suporte à investigação aqui 
realizada, no capítulo 2, foram discutidos os questionamentos mais gerais, relacionados a 
natureza e a cidade, abordando as concepções dos jardins e parques públicos dentro da 
perspectiva dos debates ecológicos, num recorte histórico que pretende situar o leitor com 
relação ao desenvolvimento de uma natureza urbana, influenciando o planejamento urbano e 
ambiental contemporâneo. 
O capítulo 3 aborda o espaço urbano de Oslo e do Rio de Janeiro, apresentando o 
cenário socioespacial dessas duas cidades e os principais processos de planejamento de 
espaços verdes que impactaram os dois parques urbanos aqui analisados, dos séculos XIX ao 
XXI. Além disso, foi considerada também a forma pela qual a natureza se insere na paisagem 
urbana. Neste capítulo, foram investigados os aspectos socioculturais relacionados à 
morfologia e ao histórico de formação dos parques e florestas no imaginário coletivo, bem 
como a atual imagem da natureza urbana propagada pela mídia e pelos órgãos de gestão 
dessas duas realidades urbanas. Outro ponto destacado nesse capítulo, diz respeito às 
justificativas dessa pesquisa acadêmica, identificando os fatores que me fizeram iniciar no 
mestrado e as minhas inquietações sobre Oslo e o Rio de Janeiro. 
O capítulo 4 corresponde a análise dos contextos empíricos do Parque Frogner e da 
Quinta da Boa Vista. Neste capítulo as entrevistas, no formato de relatos, foram apresentadas 
e examinadas, bem como as demais fontes de pesquisa que contribuem para revelar a 
importância dos parques públicos como ambientes relevantes de natureza urbana para as 
cidades contemporâneas. A partir das três categorias de análise 1) sustentabilidade, 2) 
sociabilidade e 3) gestão, se buscou contemplar os vários aspectos que tornam os contextos 
empíricos espaços socioambientais essenciais sob a perspectiva do bem-estar e da biofilia. 
23 
 
 
 
 CAPÍTULO 1: CAMINHO METODOLÓGICO 
 
Segundo Cardano (2017), a pergunta a partir da qual se move o estudo sugere o 
contexto empírico no qual se admite poder obter uma resposta pertinente. Ele diz que o 
contexto empírico é o lugar no qual o observador (pesquisador) pode fazer a experiência mais 
coerente com os objetivos da pesquisa (CARDANO, 2017, p. 65-66). Esse lugar não é o 
objeto da pesquisa, mas sim toda a comunidade interpretativa da qual o pesquisador faz parte, 
somado ao objeto de pesquisa que trará novas perspectivas ao questionamento da 
investigação, a partir de um referencial teórico. Dentro da temática cidade e natureza 
urbana, o objeto de estudo parque urbano possibilita uma análise em profundidade por 
meio dos contextos empíricos: Parque Frogner e Quinta da Boa Vista. 
A pesquisa aqui realizada é qualitativa e explicativa, pretendendo descrever a 
complexidade dos casos concretos e explicar o porquê dos fenômenos e dos processos, 
sugerindo algum tipo de ação propositiva, onde pode-se adquirir conhecimento a partir da 
exploração intensa de um único ou mais casos (contextos). De acordo com Mason (2002), 
nesse tipo de exploração científica a análise holística também se faz necessária, pois ela 
considera a unidade social estudada como um todo, com o objetivo de compreende-los em 
seus próprios termos. Além disso, a autora enfatiza que a pesquisa qualitativa deve produzir 
explicações ou argumentos indo além da mera descrição dos fatos estudados (MASON, 2002, 
p. 7). 
Para tanto, como pressuposto teórico metodológico, os dois parques urbanos aqui 
estudados, ilustram formas de experiência com a natureza urbana dentro de duas cidades 
distintas. Nesta pesquisa, ambos os termos natureza urbana e espaços verdes são usados 
para designar as áreas com presença de espécies vegetais num contexto urbano. Ao longo dos 
procedimentos investigativos, pretende-se destacar como justamente esses locais são 
multifuncionais, representando espaços que participam das dinâmicas socioambientais na 
paisagem urbana. A seleção dos recortes geográficos, Oslo e Rio de Janeiro, seguiu quatro 
critérios de seleção: densidade populacional, histórico sociocultural, elementos climáticos e 
geográficos; e políticas de planejamento urbano e ambiental. Esses critérios correspondem 
justamente às principais diferenças entre os dois contextos escolhidos. Optou-se por trabalhar 
com o que Cardano (2017) chama de comparação dos casos mais distantes. 
A hipótese da pesquisa é a de que os dois parques são unidos por uma sólida imagem 
na narrativa urbana, mas são separados por profundas diferenças relativas aos contextos 
24 
 
 
 
socioculturais, econômicos e ambientais onde estão inseridos. A passagem da pergunta de 
partida a partir da qual se move a pesquisa em direção ao contexto empírico é mediada por 
uma escolha estratégica, que se refere aos estudos de caso escolhidos para a pesquisa. Tanto o 
Parque Frogner, em Oslo, quanto a Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, tem a 
potencialidade de fornecer respostaseloquentes à questão principal, procurando chegar ao 
alcance da pesquisa: de que forma os parques são relevantes em diferentes contextos 
urbanos? 
O embasamento teórico da pesquisa e a sustentação empírica utilizada foi o que 
Cardano chamou a Teoria da Argumentação, com a qual é possível construir uma moldura 
teórica, sustentando a legitimidade dos resultados de pesquisa. Analisar os dois parques a 
partir de componentes de análise verificativa como a sociabilidade, a sustentabilidade e a 
gestão, conectam a extensão da pesquisa aos objetivos geral e específicos estipulados, 
averiguando suas conexões às temáticas das cidades biofílicas e do urbanismo ecológico. 
Dessa maneira, a investigação demostra seu desdobramento, seguindo uma dupla trajetória 
dedutiva e indutiva, na qual a representatividade dos estudos de caso é dada pela possibilidade 
de explorar um problema de pesquisa em aprofundamento pelo objeto em questão 
(GOLDENBERG, 2004). 
 
Figura 1: Desdobramento dos componentes de análise e das categorias utilizadas. 
Fonte: Elaborado pela autora. 
25 
 
 
 
 
Estes aspectos foram trabalhados no capítulo 4, onde o parque é visto como uma 
unidade de síntese. Através da pesquisa teórica e conceitual, os dois parques foram abordados, 
sendo analisados de forma crítica, buscando refletir e dialogar com os demais objetivos 
específicos da pesquisa. A análise das entrevistas também entrou nesta seção. Nestes 
capítulos, o caminho metodológico utilizado até então, fornece uma ampla base teórica- 
conceitual, fomentando dados para o universo compreendido pela investigação. Os 
instrumentos de análise foram adaptados, também em função do atual contexto de pandemia 
global (no qual as entrevistas e demais pesquisas foram realizadas de maneira virtual, por 
recursos de comunicação via internet). 
Neste contexto, o parque atua como meio e como fim, onde foram apresentadas as 
características dos contextos empíricos, que foram determinantes para sua escolha, além de 
deixar claro os limites e dificuldades da pesquisa. O caminho metodológico aqui proposto não 
intenta generalizar dados que se baseiem em análises de determinados casos particulares, mas 
sim entender qual é a extensão do alcance da pesquisa, num movimento do geral para o 
particular e do particular para o geral. 
 
Figura 2: Extensão do alcance da pesquisa. 
Fonte: Elaborado pela autora. 
 
26 
 
 
 
Dessa maneira, os dois contextos empíricos aqui analisados são casos exemplares para 
revelar a cultura e os aspectos socioambientais dos locais onde eles se situam. O potencial 
comparativo desses casos mais distantes, perpassa a hipótese que guia o trabalho: apesar de 
estarem em realidades urbanas distintas, existe uma certa semelhança na importância 
socioambiental deles para os seus contextos urbanos. Eles possuem uma sólida imagem na 
narrativa urbana. Dessa forma, a hipótese depende da relação que ocorre entre o perfil dos 
parques (suas características) e o problema de pesquisa a partir do qual a pesquisa se 
movimenta (isto é, de que maneira os parques são relevantes nas cidades atuais). A 
aproximação desses dois casos o máximo possível diferentes, confere particular solidez aos 
traços que os unem (CARDANO, 2017, p. 85). 
Portanto, com as distinções entre o Parque Frogner e a Quinta da Boa Vista, também é 
possível encontrar semelhanças e possíveis ressonâncias que os unam, para promover o 
avanço do conhecimento acerca da temática cidade e natureza urbana, inspirando novas ideias 
tanto para a gestão, quanto para o planejamento urbano e ambiental contemporâneo. Isso se 
coloca em lado oposto ao que uma análise comparativa de casos semelhantes se proporia a 
desvendar. Numa comparação entre casos semelhantes, se esperaria encontrar uma certa 
diferença comparativa entre os casos. 
A pesquisa seguiu um caminho metodológico no qual o objeto de estudo mostrou o 
funcionamento das teorias em contextos empíricos distintos, pretendendo fornecer uma 
análise sobre o papel dos parques públicos em promover o acesso à natureza em dois 
contextos urbanos, assim como demostrar a inserção desses parques na cultura local 
(considerando a relevância deles na dinâmica socioambiental do lugar/região onde operam). 
Esses dois aspectos norteadores da pesquisa, se dedicaram a utilizar o parque como meio e 
como fim. A individuação do contexto empírico passou através da interpretação da sugestão 
fornecida pela pergunta de partida e a qualificação do tipo de contexto a partir do qual foi 
razoável se esperar uma resposta pertinente às próprias perguntas de partida (CARDANO, 
2017, p. 66). 
 
 
 
 
 
27 
 
 
 
ETAPAS DA PESQUISA 
 
Para tanto, o método de análise escolhido contribuiu para delimitar a bibliografia a ser 
entendida como fonte, possibilitando a obtenção de informações e evidências sobre a temática 
estudada. Nesta perspectiva, as fontes geralmente se constituem de textos produzidos e outros 
dados imagéticos e visuais, que nesta pesquisa foram divididos de maneiras distintas. 
Fontes primárias: 
• Documentos históricos (fotografias e mapas...); 
• Artigos e livros escritos pelos autores considerados clássicos (vide Tabela 1); 
• Informações obtidas em sites e páginas de redes sociais governamentais e 
turísticas oficiais; 
• Entrevistas. 
 
Fontes secundárias: 
• Artigos de revisão de literatura científica6; 
• Livros de caráter descritivo com base em pesquisas já realizadas; 
Neste sentido, as fontes secundárias representam produções bibliográficas com 
caráter de revisão da literatura, indicando outros estudos em parques e florestas urbanas em 
diferentes lugares do mundo. Esses estudos são importantes para verificar o conhecimento 
consolidado sobre a relação entre as cidades e os espaços verdes e, por isso, contribuíram para 
o estado da arte, dando sustentação ao problema de pesquisa. Em complementação, como 
parte das fontes primárias, foram analisadas pesquisas acadêmicas específicas sobre as 
dinâmicas de urbanização da cidade de Oslo e do Rio de Janeiro, sobre os contextos empíricos 
do Parque Frogner e da Quinta da Boa Vista, além dos autores clássicos dentro do referencial 
teórico da Geografia Cultural; Arquitetura e Urbanismo, e Sociologia/Filosofia, sendo que 
estes últimos mostram pesquisas e teorias consagradas em seus campos teóricos. Isso significa 
que suas produções, em conjunto com as fontes secundárias, contribuem para um maior 
entendimento das raízes temáticas da natureza urbana no contexto acadêmico e científico, 
estando divididos de acordo com as principais teorias das obras bibliográficas consideradas 
(vide Tabela Autores Clássicos): 
 
6 Os artigos e livros atribuídos como fontes secundárias, foram escritos por pesquisadores com base em 
pesquisas originais de outros autores tidos como clássicos. Desta forma, essas fontes são a interpretação 
realizada sobre outras investigações mais antigas. 
28 
 
 
 
 
Tabela 1: Autores clássicos considerados no referencial teórico da pesquisa. 
Fonte: Elaborado pela autora. 
 
 
Bases de dados utilizadas na construção e identificação das realidades urbanas de Oslo e 
do Rio de Janeiro: 
• University of Oslo Library (https://bibsys-almaprimo.hosted.exlibrisgroup.com/primo-
explore/search?vid=UIO&lang=en_US); 
• Google acadêmico (https://scholar.google.com.br/); 
• Periódicos CAPES (https://www-periodicos-capes-gov-
br.ezl.periodicos.capes.gov.br/index.php?); 
• Oslo Kommune (https://www.oslo.kommune.no/english/); 
• Oslo City Archives (https://www.digitalarkivet.no/en/actors/35/oslo-city-archives); 
• Historical Archive of Norwegian Landscape Architecture – NMBU University 
(https://blogg.nmbu.no/ila-samling/); 
• Kartverket – Mapas open-source (https://www.kartverket.no/en/api-and-data); 
• Parks in Oslo (https://www.visitoslo.com/en/product/?TLp=229664); 
• Guided Tour: Vigeland Sculpture Park – University of Oslo 
(https://www.uio.no/english/studies/summerschool/social-activities/events/social-events/vigeland%282%29.html); 
https://bibsys-almaprimo.hosted.exlibrisgroup.com/primo-explore/search?vid=UIO&lang=en_US
https://bibsys-almaprimo.hosted.exlibrisgroup.com/primo-explore/search?vid=UIO&lang=en_US
https://scholar.google.com.br/
https://www-periodicos-capes-gov-br.ezl.periodicos.capes.gov.br/index.php
https://www-periodicos-capes-gov-br.ezl.periodicos.capes.gov.br/index.php
https://www.oslo.kommune.no/english/
https://www.digitalarkivet.no/en/actors/35/oslo-city-archives
https://blogg.nmbu.no/ila-samling/
https://www.kartverket.no/en/api-and-data
https://www.visitoslo.com/en/product/?TLp=229664
https://www.uio.no/english/studies/summerschool/social-activities/events/social-events/vigeland%282%29.html
https://www.uio.no/english/studies/summerschool/social-activities/events/social-events/vigeland%282%29.html
29 
 
 
 
• Norges Naturvernforbund – Associação norueguesa de amigos da natureza 
(https://naturvernforbundet.no/?lang=en_GB); 
• Bymiljøetaten – setor de meio ambiente (https://nyhetsrom.bymiljoetaten.no/opplev-oslo/); 
• IBGE RJ (https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rj/rio-de-janeiro/panorama); 
• Biblioteca Nacional- Brasiliana Fotográfica (https://brasilianafotografica.bn.gov.br/); 
• Plataforma colaborativa WiKi Rio (https://www.wikirio.com.br/Quinta_da_Boa_Vista); 
 
 
Tabela 2: Bases de dados e informações obtidas. 
 Fonte: Elaborado pela autora. 
 
 ENTREVISTAS 
 
As entrevistas, abordadas no capítulo 4, sobre o contexto urbano de Oslo foram 
realizadas no período correspondido aos anos de 2020 e 2021, em língua inglesa, com um 
grupo de oito pessoas, dentre os quais se destacam estudantes, moradores de bairros próximos 
e distantes do parque, professores universitários e a ex urbanista da cidade de Oslo (Ellen de 
Vibe- Ex-chefe da Agência de Planejamento e Construção em Oslo, onde atuou por 20 anos). 
Além disso, de igual maneira, foram entrevistadas oito pessoas sobre a realidade urbana do 
Rio de Janeiro e da Quinta da Boa Vista, no período de 2021 a 2022. Os entrevistados foram 
selecionados de forma a trazerem exemplos de diferentes tipos de experiencias espaciais, 
destacando também estudantes, moradores dos bairros próximos e distantes ao parque e a ex 
https://naturvernforbundet.no/?lang=en_GB
https://nyhetsrom.bymiljoetaten.no/opplev-oslo/
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rj/rio-de-janeiro/panorama
https://brasilianafotografica.bn.gov.br/
https://www.wikirio.com.br/Quinta_da_Boa_Vista
30 
 
 
 
funcionária da prefeitura do Rio de Janeiro (Jeanne Almeida da Trindade, Arquiteta da 
Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro entre 1986 a 2016). 
As entrevistas ocorreram em meio virtual, através das experiencias relatadas a partir 
de eixos temáticos selecionados sobre as vivências dessas pessoas na natureza urbana e no 
contexto empírico analisado. Isso possibilitou um roteiro para que as pessoas se sentissem 
mais à vontade em discorrer sobre as suas impressões e ideias, tendo em vista que as 
participações em pesquisas acadêmicas no formato de entrevistas discursivas tendem a deixar 
os entrevistados confusos e nervosos em “por onde começar e com o que dizer numa folha em 
branco”. A fim de eliminar esses desconfortos sociais, a técnica utilizada foi a dos eixos 
temáticos, o que facilitou em muito o processo. As respostas ocorreram nos formatos escrito, 
de áudios e também audiovisual (videochamada gravada), de acordo com a preferência e 
disponibilidade dos entrevistados (vide modelo da entrevista Anexo 1). 
No contexto da pesquisa qualitativa, a abordagem teórico-metodológica se pautou 
numa análise em formato de relatos, os quais atuam como a mediação entre a pesquisa e a 
realidade investigada. Nesta perspectiva, a experiencia vivida e relatada por cada indivíduo é 
considerada ao mesmo tempo única e coletiva, pois contribui para se conhecer as diferentes 
formas de ser no mundo, identificando as maneiras com as quais essas pessoas vivenciam a 
natureza urbana e se relacionam com as cidades. Além disso, a coletividade dessas 
experiencias está no fato de cada pessoa pertencer a um determinado contexto sociocultural, 
que influencia também os aspectos sociais que dão base as suas percepções individuais sobre 
o meio ambiente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
 
 
CAPÍTULO 2- A INTERDISCIPLINARIDADE DAS RELAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS 
 
“As palavras são ação”. Assim já falava o Geógrafo Yi-Fu Tuan em seu artigo The city 
and the human speech (TUAN, 1994, p. 144). A maneira pela qual o discurso urbano é 
conduzido através das palavras, que vão sendo introduzidas e/ ou criadas pelos mais diversos 
agentes e atores espaciais, tem a capacidade de tornar visível ou invisível determinada porção 
da cidade ou até mesmo a cidade inteira (TUAN, 1991). A construção simbólica/ social das 
palavras, que é transmitida a cada geração, influencia até mesmo na maneira como 
enxergamos o mundo e participamos da nossa realidade no decorrer do tempo. O ato de 
nomear confere certa existência à elementos antes presentes apenas na mente. Nomear, 
portanto, é dar vida concreta à processos socioculturais e socioambientais, que antes estavam 
apenas no nível do pensamento. 
No caso da palavra jardim, por exemplo, é necessário traçar um percurso histórico que 
nos conduza para o momento no qual o ser humano começou a separar uma determinada 
porção do espaço para o cultivo de práticas agrícolas de subsistência. Isto é, a ideia do jardim 
remonta períodos históricos anteriores à ideia de cidade. Todavia, é o jardim uma construção 
simbólica que não somente influenciou o processo de desenvolvimento social e espacial da 
humanidade, como também influencia as cidades contemporâneas até os dias atuais. 
Em obra relativamente recente, a filósofa francesa Anne Cauquelin (2007) discute as 
origens do jardim em um capítulo do livro “A invenção da paisagem”. Para ela, o jardim, em 
sua gênese, representava um todo contido num lugar simbólico, e a ideia de paisagem era a 
mediação na qual a realidade mais extensa da natureza universal, era transposta para o jardim 
(CAUQUELIN, 2007, p. 60). A autora retorna ao pensamento aristotélico sobre a mímesis, no 
qual ela explica que a ideia de imitar a natureza, não quer dizer imitar o modelo, mas sim o 
modo de produção do modelo. Sendo assim, não é mimetizar os artefatos naturais, mas sim 
imitar o sistema pelo qual a natureza ecônoma age (CAUQUELIN, 2007, p. 70). 
Em contrapartida, Panzini (2013) discute que o jardim é uma forma compositiva que 
nunca se separou totalmente de sua origem agrícola. Ainda assim, os jardins foram assumindo 
outros simbolismos, em outros níveis de leitura socioespacial. Para este autor, eles 
participaram do desenvolvimento da mitologia nas mais diversas culturas humanas, além de 
representarem uma imagem do poderio técnico de manejo do solo, se constituindo em 
territórios (PANZINI, 2013, p. 15). Neste sentido, trazendo essa discussão para a 
contemporaneidade, podemos refletir se os ambientes de natureza urbana das cidades atuais 
32 
 
 
 
podem ser considerados como releituras do jardim, ao serem gerenciados, implementados e 
utilizados cotidianamente; adquirindo novas simbologias e características socioambientais em 
conexão aos discursos e teorias do momento histórico em questão. 
Por isso, neste capítulo, os parques e demais locais de vegetação nas cidades, como 
um prolongamento dos jardins, serão abordados a partir de uma perspectiva ampla, 
contextualizando suas importâncias sociais, compreendendo como a noção de natureza urbana 
ganhou espaço nas cidades e se transformou no decorrer do tempo. Como foi apresentado nos 
parágrafos acima, a ideia de jardim tem acompanhado o ser humano há muito tempo, já os 
parques, por sua vez, surgiram para denominar uma área verde e de lazer, aberta ao público, 
principalmente nos séculos XVII e XVIII com a Revolução Industrial, tendo sido aprimorados 
desde então. Nestesentido, ao longo do subitem 2.1, será abordado o contexto para o 
surgimento da disciplina acadêmica de Arquitetura da Paisagem durante, sobretudo, a segunda 
metade do século XIX, e como isso influenciou em novas dinâmicas socioambientais em 
alguns contextos do mundo. Também será visto o lócus político-social e ecológico para o 
planejamento urbano e ambiental dessas áreas verdes, além de alguns dos atores envolvidos 
neste processo e quais impactos e legados eles deixaram para as práticas urbanas da 
atualidade. 
Já o subitem 2.2, discutirá como os conhecimentos biológicos e geográficos 
contribuíram para uma maior conscientização acerca das questões ambientais no século XX. 
Ademais, será apresentado como a Noruega e o Brasil se inserem neste contexto, 
identificando também algumas políticas e participações dos dois países em conferências sobre 
o meio ambiente. 
Ao final do capítulo, no subitem 2.3, será apresentado o panorama socioambiental 
relacionado às discussões sobre meio ambiente e sustentabilidade ocorridas globalmente no 
final do século XX até a contemporaneidade, além de abordar como as novas práticas do fazer 
urbano inserem os conhecimentos sobre a biogeografia local em seus projetos. Portanto, as 
análises aqui propostas buscam propiciar uma maior compreensão de como a natureza urbana 
vem sendo tratada na contemporaneidade, por meio de exemplos práticos do urbanismo verde 
e do urbanismo ecológico. Em seguida, será discutido o termo “cidade biofílica” e como ele 
está relacionado às vivências cotidianas nos locais de natureza urbana presentes nas cidades 
do século XXI. 
 
33 
 
 
 
2.1 ARQUITETURA DA PAISAGEM E ESPAÇO URBANO: ALGUMAS DINÂMICAS E 
ATORES 
 
Para Leonardo Benevolo, em sua obra História da cidade (2019), a Revolução 
Industrial pode ser considerada uma das grandes transições pelas quais a humanidade passou, 
estando no mesmo patamar da Revolução Agrícola do período Neolítico e das novas técnicas 
provenientes da Idade do Bronze, pois influenciou a sociedade de maneira global 
(BENEVOLO, 2019, p. 240). Ele ainda complementa que a evolução e expansão da indústria, 
permitiu um aumento considerável da população mundial, além do aumento dos bens e 
serviços. Nesse momento, camponeses se tornaram assalariados e muitos migraram para as 
cidades na condição de operários industriais. Com isso, inúmeros pequenos núcleos urbanos 
começaram a surgir justamente ao redor das fábricas (BENEVOLO, 2019). 
Em reflexão mais recente, Herzog (2013, p. 38) aborda o fato das mudanças 
tecnológicas trazidas pelo desenvolvimento da Indústria, representarem um marco no espaço 
geográfico, com reflexos ambientais extremos. A utilização da máquina à vapor e do motor 
em combustão, levaram inúmeras florestas ao desmatamento, para a obtenção de madeira e 
carvão como insumos industriais. Já a energia advinda dos combustíveis de origem fóssil, 
como o petróleo, impactou na forma como a cidade passou a ser planejada. Com a 
disseminação das infraestruturas cinzas, vias asfaltadas foram sendo modeladas para a melhor 
utilização dos automóveis, assim como córregos foram gradualmente sendo canalizados e, 
muitas vezes, até mesmo escondidos embaixo do asfalto. Ao mesmo tempo, o ar foi se 
tornando mais poluído no interior das cidades industriais. 
Durante a primeira metade do século XIX, a rápida expansão urbana originou novos 
centros de confluência. Enquanto a vila medieval era formada nos burgos, e as cidades 
renascentistas possuíam um traçado regular com praças e avenidas de funções bem 
demarcadas, as cidades do período industrial se expandiam para fora destes antigos centros 
urbanos, originando assim as chamadas periferias e subúrbios (BENEVOLO, 2019). Este 
movimento é denominado pelo filósofo Henri Lefebvre como um processo histórico de 
implosão-explosão: num primeiro momento há uma concentração de pessoas, atividades e 
riquezas num local específico e, após a conclusão do processo de urbanização, ocorre a 
projeção da lógica urbana para outros lugares periféricos, formando diferentes subnúcleos 
subordinados à metrópole (LEFEBVRE, 2001). 
34 
 
 
 
Essa nova forma de cidade, cunhada pelo liberalismo econômico, não foi plenamente 
planejada ou coordenada. Sua base era no núcleo privado da vida, ou seja, o indivíduo, 
originando uma ocupação desordenada do espaço urbano, além de condições de salubridade 
que beiravam o caos. Na segunda metade do século XIX, houve uma mudança de interesses, e 
a cidade passou a conferir à administração pública, a gestão e o planejamento da infraestrutura 
dos núcleos urbanos (BENEVOLO, 2019). Foi nesse período que as regras e os planos 
diretores passaram a regulamentar o tecido urbano de cada realidade social. 
Porém, é preciso notar que o período não garantiu a melhoria da qualidade de vida nas 
cidades, tendo em vista que a urbanização se expandiu ainda mais, os centros urbanos ficaram 
cada vez mais densos, com uma maior concentração de serviços em determinadas ruas 
centrais. Os interesses econômicos continuaram a perpassar pela lógica de produção do 
urbano, no qual as novas classes de maior poder aquisitivo (os burgueses), construíam casas 
em localidades mais ajardinadas e à classe operária eram destinadas áreas menos privilegiadas 
(LEFEBVRE, 1999, p. 23). 
Neste sentido, Lefebvre (2001, p.23) afirma que a produção agrícola foi subvertida ao 
setor da produção industrial. O tecido urbano se expandiu não apenas na construção das 
cidades propriamente ditas, mas também numa determinada cultura e forma de pensar 
tipicamente industrial que encontrou seu caminho para as regiões campestres (LEFEBVRE, 
2001, p. 23). É interessante observar que, na história humana, a cidade política sempre 
acompanhou a vida social. Foi assim na ressignificação de diversos centros, como no caso da 
ágora grega ou do fórum romano, que foram simbolicamente substituídos pelas praças do 
mercado medievais. No caso da Revolução Industrial, a cidade ou vila que antes era um lugar 
de heterotopia, especializado nas trocas comerciais e que nas palavras de Lefebvre “eram uma 
ilha urbana num oceano camponês” (LEFBVRE, 2001, p. 23), passam a condição de centro, 
na qual o rural produz para a cidade, o campo é uma região situada no horizonte/limite dos 
centros urbanos. 
No decorrer dos séculos XIX e XX, a concepção dos jardins passou a abarcar projetos 
em áreas maiores, como os dos parques, que se tornaram cada vez mais essenciais na 
produção do espaço urbano. Ao tornar determinada porção de terra visível no contexto das 
cidades modernas, o ser humano pôde resgatar seu contato com um espaço mais “natural”, 
mesmo que o processo de urbanização continuasse se alastrando. Esse pensamento pode ser 
exemplificado na afirmação do arquiteto paisagista norte-americano Frederick Law Olmsted 
(1857), onde o paisagismo ganhou um teor de transformação social: 
35 
 
 
 
Duas classes de melhorias deveriam ser planejadas com este propósito: uma dirigida 
para assegurar o ar puro e saudável, para atuar através dos pulmões; a outra para 
assegurar uma antítese de objetos visuais àqueles das ruas e casas que pudessem agir 
como terapia, através de impressões na mente e de sugestões para a imaginação 
(OLMSTED, 1857 apud MACEDO; SAKATA, 2002, p. 56). 
 
Olmsted exerceu grande influência nas práticas urbanas, podendo ser considerado o 
fundador da disciplina de “arquitetura da paisagem” (PANZINI, 2013). Embora ele tenha 
exercido uma gama variada de profissões, desde jornalista, escritor, administrador até 
agricultor e horticultor, foi com o projeto do Central Park, na ilha de Manhattan em Nova 
Iorque (Figura 3), que o termo arquiteto paisagista se efetivou no contexto social em 1899, 
com a criação da American Society of Landscape Architects (PANZINI, 2013). 
 
 
Figura 3: Vista aérea do Central Park atual. 
Fonte: Civitatis Nova York (n.d.). 
 
Nesta perspectiva,o planejamento urbano não se pautou numa lógica puramente 
higienista ou estética, mas sim em princípios ecológicos aliados ao bem estar urbano. Olmsted 
foi o pioneiro a considerar a paisagem das cidades como um sistema, no qual era necessário 
compreender as dinâmicas naturais dos ecossistemas, considerando que as cidades estavam 
inseridas num contexto ambiental que deveria ser previamente entendido e respeitado. 
Portanto, ele foi um dos precursores do planejamento urbano e regional (OLMSTED, 1870). 
Um de seus mais influentes legados foi o Movimento dos parques7, que revolucionou não 
 
7 Park movement- processo político e social de reconhecimento da importância da proteção de áreas naturais no 
meio urbano, no final do século XIX. 
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somente o contexto norte-americano, como também o de outras realidades urbanas pelo 
mundo. 
O denominado Emerald Necklace em Boston, EUA, pode ser considerado um exemplo 
marcante desta visão integradora de Olmsted. Neste projeto ocorrido entre os anos 1878 e 
1895, o paisagista mimetizou a natureza, usando os próprios princípios ecossistêmicos 
presentes no meio ambiente, para despoluir o rio Muddy, por meio da criação de áreas 
alagadas purificadoras (OLMSTED, 1870). Além disso, ele criou um sistema de espaços 
verdes conectados através de um corredor ecológico, como pode ser observado na figura 4. 
 
Figura 4: Mapa atual do Emerald Necklace, Boston, EUA. 
Fonte: Arboretum of Harvad University (c2022). 
 
Dentro do contexto estadunidense também podemos citar o arquiteto Frank Lloyd 
Wright, que propôs uma outra vertente urbanística e paisagística para integrar o ser humano à 
natureza (HERZOG, 2013). Em 1935, através da utópica ideia da cidade de Broadacre8, 
Wright queria construir realidades urbanas menores, com menos densidade, menos 
verticalizações e mais áreas agricultáveis, nas quais os alimentos seriam produzidos 
localmente. Era uma visão relativamente complementar às das cidades-jardim de Ebenezer 
Howard9, que serão apresentadas no próximo item. Porém, para Wright, essa realidade urbana 
 
8 Broadacre nunca chegou a ser efetivamente construída, sendo materializada apenas em maquetes expositivas. 
9 Howard propunha investir no transporte público de qualidade, destacando-se as vias férreas, para conectar as 
cidades-jardim. 
37 
 
 
 
não seria cooperativa e suas conexões seriam feitas por vias rodoviárias, fato que atenderia à 
indústria automobilística dos Estados Unidos. 
Frank Lloyd Wright recebeu inúmeras críticas (HILL, 1988). Ao propor cidades 
menos densas, ocorreria um descontrole da expansão urbana, onde as cidades ocupariam cada 
vez mais áreas, ocasionando um maior desflorestamento e injúrias à ecossistemas e à 
biodiversidade (HERZOG, 2013). Um outro exemplo de perspectiva divergente, é o da 
urbanista estadunidense Jane Jacobs, que também criticava o pensamento de Wright, pois o 
considerava individualista, que promovia o nacionalismo e o romanticismo campestre. Sua 
principal divergência diz respeito ao fato de Wright ser um antiurbanista, enquanto para a 
intelectual norte-americana, a cidade era o local da cooperação, sociabilidade e diversidade 
(HILL, 1998, p. 307). 
O desenvolvimento da disciplina de arquiteto paisagista abarcou também inspirações 
do mundo intelectual, onde a projeção da natureza ganhou tons de potencial mudança social, 
como na concepção das cidades-jardim, do pensador Ebenezer Howard. Desiludido com a 
sociedade industrial inglesa, Howard escreveu sua principal obra10: To-morrow a Peaceful 
Path to Real Reform (1898) ou Cidades do amanhã, na reedição do ano de 1902. De acordo 
com Howard (1902, p. 110), o aumento do número de pessoas vivendo em cidades era 
causado, principalmente, pela migração proveniente das áreas rurais. Sendo assim, se fazia 
necessário equilibrar a relação entre a cidade e o campo (HOWARD, 1902). 
Em suas análises, ao passo que a cidade era o local da sociabilização, cooperação e 
oportunidades de emprego, ela carecia de elementos naturais que melhorariam seu o clima e 
salubridade. De outro lado, as áreas rurais tinham abundância de natureza, com campos e 
lagos, mas lhes faltava as oportunidades sociais e a infraestrutura. Por isso, ele idealizou a 
cidade-jardim11, como um meio termo a este dilema. Nessa perspectiva, a mescla do que havia 
de melhor em cada um desses espaços, originaria “uma nova esperança, uma nova vida, uma 
nova civilização” (HOWARD, 1902, p. 110). 
As ideias de Howard também influenciaram na criação da Garden cities association 
Ltda, em 1903. Essa associação cooperativa seria a responsável por obter recursos financeiros 
 
10 Obra inspirada no caso de New Lanark, na Escócia, onde o filantropo e idealista utópico Robert Owen 
havia moldado uma comunidade industrial modelo, baseada na produção têxtil no início do século XIX. 
 
11 O protótipo desse tipo de cidade- jardim deveria ser materializado numa área circular com até 2400 hectares, 
sendo 400 hectares destinados à cidade propriamente dita e o restante às áreas agrícolas (cinturão ajardinado). 
Para Howard, cada espaço urbano teria uma função social diferente e era importante que cada cidade-jardim 
fosse autossuficiente e mantida por trabalho cooperativo, sendo capaz de suprir seus moradores com alimentos e 
serviços, além de gerir os resíduos gerados pelos habitantes (HOWARD, 1902). 
 
38 
 
 
 
para a compra dos lotes de terra nos quais as cidades-jardim seriam construídas. Entretanto, 
aos poucos, a associação foi se tornando uma empresa, e seus benfeitores/ doadores passaram 
a coletar juros sobre seus investimentos, ao passo que a cidade-jardim gerasse lucros por meio 
de aluguéis ou por meio da "especulação de terras filantrópicas" (HALL, 2014). Dessa forma, 
Howard preocupado com os rumos de seus projetos, tentou inserir organizações cooperativas 
da classe trabalhadora, mas não conseguiu apoio financeiro suficiente. Ao final, ao ter de 
contar apenas com os investidores ricos e influentes, seu plano de cidade-jardim se modificou 
drasticamente: ocorreu a eliminação do esquema de propriedade cooperativa sem 
proprietários; aumentos de aluguel de curto prazo e contratação de arquitetos que não 
concordavam com o design rígido e funcional da cidade-jardim original. 
 
Figura 5: Esquema das cidades-jardins desenhado por Ebenezer Howard em 1902. 
 Fonte: The Guardian (2014). 
 
Dessa forma, Letchworth (1910-1920), considerada a primeira cidade-jardim12 inglesa, 
teve o seu planejamento desenhado pelos arquitetos Raymond Unwin e Barry Parker (HALL, 
2014). Situada em uma área a 55 km de Londres, a terra onde a cidade foi implementada era 
considerada barata e foi adquirida num momento de depressão agrícola. Com o passar do 
tempo, Letchworth não conseguiu se tornar autossuficiente e se transformou num subúrbio 
londrino, onde a metrópole Londres ainda mantinha sua centralidade política, econômica e 
social. 
 
12 O plano foi considerado o maior e mais completo planejamento de cidade desenvolvido no início do século 
XX na Inglaterra, sendo planejada para abrigar 30 mil habitantes. 
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Isso aconteceu em muitas tentativas de implementação de cidades-jardim pelo mundo. 
O conceito imaginado por Howard não conseguiu ser fielmente executado. A cidade-jardim se 
converteu em bairros nobres e/ ou pequenos núcleos urbanos, onde a palavra jardim passou a 
agregar um valor de troca, sendo apropriada pelo setor imobiliário (HERZOG, 2013). Porém, 
apesar de ter sofrido duras críticas na prática (sobretudo com relação ao funcionalismo), a 
ideia de Ebenezer Howard intensificou a importância da natureza urbana no cotidiano das 
cidades, indicando novos caminhos para o fazer urbano do século XX. 
Ainda com relação às transformações e aos atores que influenciaram as práticas 
urbanas deste período histórico, outro intelectual de destaque é o escocês Patrick Geddes. 
Embora fosse biólogo

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