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Antropologia, identidade e diversidade E-book 1 César Niemietz Neste E-book: Introdução ���������������������������������������������������� 3 Sobre a noção de identidade cultural 5 Questões clássicas de Antropologia ��� 7 Os primórdios da perspectiva antropológica ������� 9 A Antropologia moderna e seus objetos de estudos �����������������������������������������������������������������13 As culturas e as mudanças de perspectivas ������ 20 Alteridade, identidade coletiva, mitos e ritos ������ 21 A identidade do “eu” ���������������������������������������������29 Sobre o conceito de indivíduo e individualismo � 32 Considerações finais������������������������������� 35 Síntese ���������������������������������������������������������36 2 E-book 1 E-book 1 INTRODUÇÃO As perguntas a seguir talvez pareçam um tanto confusas para iniciarmos nossa discussão sobre Antropologia, identidade e diversidade, mas vale o esforço de abstração: as noções de eu e de outro são naturais ou são formuladas de acordo com o con- texto cultural em que são enunciadas? As categorias eu e outro estão presentes de maneira semelhante em todas as sociedades? Todos os grupos huma- nos percebem os outros e a si mesmos de maneira parecida? Ou será que essas concepções são dife- rentemente compartilhadas por grupos igualmente distintos? Com essas questões em nosso horizonte, entrare- mos em um terreno amplo e ao mesmo tempo espe- cífico. Amplo, pois trata da complexidade dos agru- pamentos humanos, ou seja, algo necessariamente múltiplo, mas também específico, uma vez que essas características contribuem para formular, como diria o sociólogo e antropólogo Émile Durkheim, as nos- sas maneiras de agir, pensar e sentir o mundo ao nosso redor� Essa aparente ambiguidade está pre- sente em um dos principais eixos sobre o qual o pre- sente material irá se debruçar, a saber: a identidade� A origem da palavra antropologia indica de saída a dimensão humana como central para a análise que essa disciplina promove, uma vez que a junção 3 entre os termos anthropos e logos resulta, de manei- ra literal, em estudo do homem. Todavia, devemos pensar qual é a característica específica desse tipo de estudo sistemático realizado pela Antropologia� A Biologia e a Psicologia não são também discipli- nas que estudam o homem? Então em que difere a Antropologia dos demais modos de compreensão do ser humano? A resposta a essas questões não é simples, pois os próprios problemas não são, mas, para os nos- sos propósitos, tomaremos a especificidade da Antropologia como relacionada à dimensão da cultura e da sociedade� Ou seja, trataremos aqui dos cruzamentos entre a Antropologia cultural e a Antropologia social, deixando provisoriamente de lado as questões que envolvem as características biológicas dos grupos humanos� Podcast 1 4 https://famonline.instructure.com/files/86483/download?download_frd=1 SOBRE A NOÇÃO DE IDENTIDADE CULTURAL Ao abordarmos a noção de identidade pela perspec- tiva da cultura e da sociedade, direcionaremos nosso interesse para o espaço de construção simbólica da identidade, sendo esse o problema característico que nos diferenciará dos estudos biológicos e psi- cológicos acerca desse mesmo assunto� Nesse sentido, tal como defende o antropólogo Roberto Cardoso de Oliveira (1976), podemos per- ceber que a noção de identidade comporta ao menos duas dimensões fundamentais: pessoal (ou individu- al) e social (ou coletiva)� Embora essas duas formas de identidade sejam difíceis de ser discernidas, uma vez que uma influencia a outra, em menor ou maior grau� Costuma-se atribuir à psicologia a função de exame da perspectiva individual e psíquica, enquanto a dimensão social é investigada pelas ciências so- ciais, destacando-se a sociologia e a antropologia� Quanto à noção de indivíduo, trata-se de noção es- pinhosa para a antropologia, pois exige o constante esforço de analisar essa categoria de acordo com o contexto em que é apresentada� Nas palavras do antropólogo Gilberto Velho: 5 Ora, a antropologia, justamente por ter, por definição, uma perspectiva comparativista, é o ramo do conhecimento que, ao defrontar- -se com sociedades e culturas díspares e diferenciadas, é obrigada a relativizar o indi- víduo, tal como entendido e percebido na so- ciedade e na cultura nas quais a psiquiatria, a psicologia e a psicanálise se desenvolve- ram. Esse indivíduo universal, que varia seu comportamento em função de modelos dife- rentes apresentados por culturas específicas, é que está sendo questionado. Na realidade, parece que se corre o risco de confundir o indivíduo biológico, membro de uma espécie, com a noção de indivíduo, produto particular de uma cultura que, esquematicamente, cha- marei de ocidental-moderna-contemporânea (VELHO, 2012, p.98). Ao leitor iniciante dos textos antropológicos, as questões acima apresentadas correm o risco de soar um tanto quanto esquisitas, pois aparentemen- te estão distantes das nossas reflexões cotidianas� Todavia, ao fim desse nosso percurso, será possível afirmar que não estão, pois essas indagações são fundamentais para a compreensão do mundo ao nosso redor� 6 QUESTÕES CLÁSSICAS DE ANTROPOLOGIA O termo identidade traz consigo diversos sentidos que, por sua vez, são adaptáveis aos diferentes con- textos em que são apresentados� Em termos mais usuais, podemos compreender seu sentido geral como algo que possui uma característica distinguí- vel, ou que estabelece uma relação de semelhança� Porém, essa definição se encontra no registro do senso comum, o que exige de nós uma elaboração teórica para definir de maneira mais precisa o termo, enquadrando seu sentido nos diferentes contextos históricos a que esteve submetido� Podemos afirmar que, de certa maneira, o termo identidade está relacionado a processos de iden- tificação entre os indivíduos em seus espaços de socialização� Por sua vez, tais processos, como ob- servaremos nas seções a seguir, estão relacionados à imagem que os indivíduos fazem de si mesmos (autoconsciência) e com a imagem que fazem tam- bém dos outros indivíduos� Esse duplo movimento de se compreender e compreender os outros traz consigo uma série de questões que são objetos de análise da Antropologia� Quando ampliamos nosso olhar para as identidades dos grupos, esbarramos no conceito de etnicidade� 7 Tal conceito se insere como uma das principais no- ções sobre as quais a antropologia passou a refletir ao longo do século 20� Para nosso objetivo, neste material de estudo, podemos compreender a etni- cidade como uma noção que define o conjunto de aspectos culturais e/ou biológicos semelhantes em relação a grupos humanos específicos. Os traços aos quais o termo se refere não são limitados ex- clusivamente pela Biologia, de modo que a noção de etnia difere significativamente da ideia de raça. Difere também do conceito de nação, pois deve-se levar em consideração o fato de que existem na- ções que são compostas por identidades étnicas distintas, sendo estas anteriores ao advento dos Estados modernos� A Antropologia moderna se distanciou significativa- mente das perspectivas evolucionistas, fundamen- tadas sobre o conhecimento biológico das espécies vivas, uma vez que os autores culturalistas verifi- caram que é impossível indicar uma cultura única que serve como referencial de evolução para todos os agrupamentos sociais, conforme analisamos anteriormente� Desse modo, o interesse nos grupos étnicos pas- sou a fundamentar a experiência antropológica, ampliando o conhecimento humano a respeito da diversidade cultural existente� 8 Os primórdios da perspectiva antropológica Embora a Antropologia moderna tenha sido desen- volvida sobretudo na virada do século 19 para o sé- culo 20, os europeus contaram com dois importantes precursores: Michel de Montaigne (1533-1592) e Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)� Diz-se sobre Montaigne que teria sido um provoca- dorde seu tempo – século 16 – e do meio social em que viveu – Europa –, tecendo comentários áspe- ros em ensaios que geralmente causavam grandes polêmicas devido às suas duras críticas� É esse o tom presente, por exemplo, em um comentário seu a respeito das notícias que os franceses receberam sobre a existência dos índios no litoral brasileiro, que, segundo esses relatos, seriam adeptos da an- tropofagia, prática que consistia no consumo ritual da carne dos inimigos guerreiros, com o intuito de incorporar simbolicamente suas virtudes: Penso que há mais barbárie em comer um homem vivo do que em comê-lo morto, em dilacerar por tormentos e suplícios um corpo ainda cheio de sensações, fazê-lo assar pou- co a pouco, fazê-lo ser mordido e esmagado pelos cães e pelos porcos (como não apenas lemos mas vimos de fresca memória, não entre inimigos antigos, mas entre vizinhos e compatriotas, e, o que é pior, a pretexto de piedade e religião) do que em assá-lo e 9 comê-lo depois que está morto [...]. Portanto, podemos muito bem chamá-los de bárbaros com relação às regras da razão, mas não com relação a nós, que os ultrapassamos em toda espécie de barbárie (MONTAIGNE, 2010, p.140). Essas questões levantadas por Montaigne datam do longínquo século 16� De lá para cá, tanto os índios descentes dos Tupinambá quanto os europeus pas- saram a atenuar diversos de seus costumes, uma vez que, como estudaremos, mitos quanto os ritos são constantemente reformulados na dinâmica per- manente de construção e reconstrução das culturas� São antigas constatações, mas deixaram uma mar- ca: a ideia de que parece ser mais fácil apontar as culturas alheias como inferiores do que perceber que cada cultura possui características particulares que são irredutíveis às lógicas umas das outras – no caso, utilizava-se pejorativamente o termo bárbaro para tudo aquilo que não fosse apresentado à ima- gem que o europeu tinha de si mesmo� 10 Figura 1: Tapuia (1641), pintado pelo holandês Albert Eckhout, um dos principais responsáveis pela criação do imaginário sobre os in- dígenas brasileiros até a chegada da família real portuguesa. Fonte: https://samlinger.natmus.dk/ES/asset/25615 11 https://samlinger.natmus.dk/ES/asset/25615 Dois séculos adiante, e em uma forma distinta de se considerar os “selvagens”, o filósofo iluminista Jean-Jacques Rousseau também se esforçou para deixar de lado seus preconceitos europeus ao refletir sobre os “outros”� Em sua obra Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, publicada em 1755, Rousseau defendeu a necessidade de se realizar uma história natural, moral e política dos diferentes grupos humanos distribuídos ao redor do mundo, de modo a melhor compreender o próprio horizonte cultural dos euro- peus do seu tempo� A respeito do filósofo iluminista, é considerado como o pai das ciências do homem por um importante antropólogo francês (LÉVI-STRAUSS, [1973], 2018), uma vez que Rousseau teria apresentado a perspec- tiva de investigação humanística das diferentes cul- turas� Desse modo, a perspectiva de Rousseau teria aberto caminho para o desenvolvimento posterior da etnografia e da etnologia, sendo a primeira o traba- lho de registro e descrição, por parte do antropólogo, dos aspectos culturais de cada grupo estudado e a segunda o estudo sistemático das diferentes formas culturais e históricas estudadas pelos antropólogos� 12 A Antropologia moderna e seus objetos de estudos Pode-se afirmar que o surgimento da Antropologia esteve relacionado a certa perspectiva estreita atri- buída aos chamados “evolucionistas”, identificados dessa forma pois aderiam à teoria da evolução de Charles Darwin (1809–1882) para a compreensão dos fenômenos culturais� Para eles, havia apenas uma única cultura considerada superior, de modo que as demais seriam derivações ainda não desen- volvidas� Trata-se de uma visão associada ao et- nocentrismo, ou seja, à concepção que define uma única cultura como central e as demais, por con- seguinte, como marginais em relação a ela� Essa visão etnocêntrica esteve associada inicialmente aos antropólogos europeus, que viam em sua própria cultura indícios de superioridade sobre as demais� Podcast 2 Como resposta ao evolucionismo, estabeleceu-se a moderna Antropologia, fundamentada em uma vi- são abrangente e relativista das posições ocupadas pelas diferentes culturas humanas� A esta nova ma- neira de se considerar os grupos humanos, deu-se inicialmente o nome de culturalismo, uma vez que a pluralidade passou a prevalecer sobre a divisão entre superioridade e inferioridade das culturas� Mas, antes de comentarmos a respeito desses autores, como podemos definir cultura? 13 https://famonline.instructure.com/files/86484/download?download_frd=1 A noção de cultura pode ser compreendida por mais de uma perspectiva� De um lado, no sentido amplo, temos cultura como um todo que engloba tradições, língua, regras, comportamentos e formas de socia- bilidade específicas de um determinado grupo. A origem do termo cultura advém da palavra latina colere, que significava uma série de processos rela- cionados aos verbos habitar, cultivar e proteger, entre outros� Com o passar do tempo, o termo foi adqui- rindo significados em razão dos contextos históricos em que foi considerado� Todavia, se considerarmos a maneira como utilizamos o termo nos dias de hoje, podemos considerar suas origens modernas du- rante o século 19� Trata-se de considerar não mais o termo no singular, mas sim compreender cultura como expressão plural� Segundo Raymond Williams: As culturas especificas e variáveis de dife- rentes nações e períodos, porém também as culturas específicas e variáveis dos grupos sociais e econômicos contidos dentro de uma mesma nação. O movimento român- tico desenvolveu amplamente este sentido como uma alternativa à ‘civilização’ ortodoxa e dominante. Em um primeiro momento se utilizou para ressaltar as culturas nacionais e tradicionais [...]. Posteriormente, utilizou- -se o termo para atacar o que se via como o caráter ‘mecânico’ da nova civilização então emergente: tanto por seu raciona- lismo abstrato como pela ‘desumanidade’ 14 do desenvolvimento industrial do momento (WILLIAMS, 2003, p.90, tradução própria). Em seus usos mais específicos, a cultura designa uma série de processos estudados com atenção, que foram se tornando cada vez mais importantes para se compreender as características de pensa- mentos, ações e sentimentos que diferenciam os grupos humanos� Nesse sentido, gradualmente, deixa-se de defender-se a existência de um mode- lo cultural universal que define a espécie humana, bem como a noção de que existem culturas puras ou superiores, uma vez que se tem constatado, cada vez mais, a pluralidade imensa de formas de se vi- ver que não podem ser reduzidas a modelos sim- plistas que separam culturas em desenvolvidas e subdesenvolvidas� A partir do constante exercício de reflexividade so- bre a ideia de cultura, feita pelos cientistas sociais, pode-se verificar a complexa relação existente entre os objetos e tecnologias produzidos pelos grupos humanos – cultura material – e a produção simbó- lica desses mesmos grupos – cultura imaterial –, pertinente às suas demandas específicas. Percebe- se, assim, o equívoco de se medir ou de se comparar as culturas de acordo com um parâmetro único de desenvolvimento� 15 Enquanto domínio de análise dentro das ciências sociais, a Antropologia moderna, preocupada com o domínio cultural, desenvolveu métodos próprios de investigação dos grupos humanos, sendo Franz Boas (1858-1942) e Bronislaw Malinowski (1884- 1942) dois de seus principais iniciadores� A partir das obras desses dois autores, os grupos passaram a ser cada vez mais analisados, sobretudo em fun- ção de seus contextos e em seus próprios termos� Antropólogo de origem alemã, Franz Boas defendeu a noção de que a Antropologia deveria se afastardas concepções que estabelecem hierarquias entre os grupos humanos� Essa mudança de perspectiva foi fundamental, pois distanciou-se da noção de que os diferentes grupos humanos evoluem de maneira unilinear, sendo esta concepção presente, por exem- plo, entre aqueles que defendiam que as centenas de grupos indígenas então conhecidos estavam em uma etapa primitiva de evolução, enquanto a socie- dade europeia estaria no grau mais elevado� 16 Figura 2: Homem Kwakiutl com vestimentas tradicionais, fotogra- fado por Edward S. Curtis, 1914. Fonte:https://www.britannica.com/ topic/Kwakiutl/images-videos/media/325792/92280 17 https://www.britannica.com/topic/Kwakiutl/images-videos/media/325792/92280 https://www.britannica.com/topic/Kwakiutl/images-videos/media/325792/92280 Embora ainda estivesse relacionada ao espírito de seu tempo, expressando ainda algumas inconsistên- cias analíticas a respeito das relações entre natureza e cultura, que posteriormente foram motivo de am- plos debates entre os antropólogos, pode-se dizer que a importância de Franz Boas foi notável� Como exemplo da agudez de seu pensamento humanis- ta, tem-se o fato de que os nazistas consideraram seus livros perigosos, pois defendiam ideias que iam contra as propostas de supremacia racial de Adolf Hitler, de modo que seus livros foram retirados das prateleiras da Universidade de Heidelberg e quei- mados pela polícia nazista� A percepção de que é necessário compreender-se os detalhes referentes às lógicas internas das culturas resultou na necessidade de se acompanhar de perto o cotidiano dos grupos nativos, ou, em outras pala- vras, tornou-se fundamental desenvolver um estudo imersivo junto aos grupos� Essa percepção resultou na ideia de trabalho de campo, que pode ser definida como a inserção do antropólogo no dia-a-dia dos grupos por ele estudados� Bronislaw Malinowski, antropólogo de origem po- lonesa, desenvolveu diversos estudos a respeito de grupos localizados na costa oriental da Nova-Guiné, nas Ilhas Trombriand� Partindo da premissa de que é necessário conviver com as pessoas dos grupos pesquisados, Malinowski passou a ser um dos prin- cipais defensores do trabalho de campo como es- sencial para a análise realizada pelos antropólogos� 18 Em sua obra mais famosa, Argonautas do Pacífico Ocidental, publicada em 1922, Malinowski defen- de uma forma de análise dos fenômenos culturais a partir da adoção de um método que se tornou fundamental para a antropologia: a observação participante� Figura 3: O antropólogo Bronislaw Malinowski em observação par- ticipante junto aos habitantes das Ilhas Trombriand. Fonte: http:// anthronow.com/wp-content/uploads/2015/10/young-2.jpg Em linhas gerais, a observação participante pode ser compreendida como uma forma de compreen- são dos aspectos culturais dos grupos que exige um esforço de se inserir no cotidiano dos nativos, resultando na compreensão dos “imponderáveis da vida cotidiana”, segundo Malinowski� Por trás dessa prática, encontra-se a ideia de que não basta consultar documentos e realizar entrevistas com os nativos, deve-se entrar de cabeça na cultura que se deseja investigar, de modo a aprender a língua, os 19 http://anthronow.com/wp-content/uploads/2015/10/young-2.jpg http://anthronow.com/wp-content/uploads/2015/10/young-2.jpg valores e os padrões de gostos, bem como as regras explícitas e implícitas que permeiam a sociabilida- de dos grupos. Essa premissa ficou consagrada na representação do antropólogo sempre acompanha- do de seu fiel caderno de anotações. Dentre essas anotações, são ressaltados costumes, aspectos linguísticos, rituais e todo tipo de regularidades es- pecíficas da cultura analisada. Após desenvolver suas próprias perspectivas e téc- nicas, distanciadas das teorias evolucionistas, pode- -se dizer que a Antropologia moderna ingressou em um espaço particular de compreensão da formação das identidades entre pessoas que estão em con- textos históricos e culturais específicos. As culturas e as mudanças de perspectivas Podemos afirmar que, em sua acepção mais comum, o termo perspectiva indica uma posição específica de determinado observador a respeito do seu entor- no� Quando aplicamos essa noção para estudarmos os temas da Antropologia, verificamos necessaria- mente que é possível ampliar nossa perspectiva para além do nosso espaço imediato de observação� Assim, pode-se dizer que a Antropologia possibilita uma significativa extensão de nossas perspectivas, inclusive no que concerne ao reconhecimento de nossa própria identidade e das identidades alheias, como observaremos a seguir� 20 Alteridade, identidade coletiva, mitos e ritos Ao considerarmos as culturas em seus próprios ter- mos, outro campo de preocupações surge� Trata-se das constantes relações de mudanças dos padrões culturais, mediante o encontro entre grupos de ori- gens diferentes� Quando nos referimos à compreensão das diferen- ças dos outros em relação à nossa identidade cul- tural, estamos pensando em termos de alteridade� Essa noção faz parte constitutiva da antropologia, na medida em que o antropólogo procura compreender a diferença em relação aos grupos por ele estudado� É o que afirma Marcio Goldman, por exemplo, ao constatar que o objetivo do antropólogo é neces- sariamente permeado pela alteridade� Diz o autor: [...] O próprio fato de dedicar-se à diferen- ça nunca é desprovido de consequências e, em lugar de simplesmente diferi-la, a Antropologia sempre foi capaz de valori- zar essa diferença, sempre foi capaz de ao menos tentar apreendê-la sem suprimi-la, pensá-la em si mesma, como ponto de apoio para impulsionar o pensamento, não como objeto a ser simplesmente explicado – ex- plicação que, aliás, acaba por deter a própria marcha do pensamento (GOLDMAN, 2006, p.163). 21 SAIBA MAIS: Filme Moi, um noir (Eu, um negro)� Dirigido por Jean Rouch,1958, 70 min� Produzido por Les Fil- ms de la Pléiade� Figura 4: Pôster do filme Moi, um noir, de Jean Rouch�Fonte:https://www�imdb�com/title/ tt0051942/ O cineasta e antropólogo Jean Rouch (1917– 2004) foi um dos nomes fundamentais para o que posteriormente ficou conhecido como et- nocinema. Rouch dirigiu filmes que retrataram questões relacionadas à etnicidade e às múlti- plas identidades de populações marginalizadas� Dentre suas obras fílmicas, talvez a que mais se destaque é Moi, un noir (em português: Eu, um 22 negro). Neste filme, Jean Rouch acompanha a trajetória de jovens desempregados que deixam suas comunidades rurais no interior da Nigéria e partem para as grandes cidades, em busca de oportunidades no “mundo moderno”� Trata-se, como adverte Rouch logo no início do filme, de uma juventude presa entre tradições e máqui- nas, entre o Islã e o álcool, e que não renunciou às suas crenças, mas adora os ídolos modernos do boxe e do cinema. Ao longo do filme surgem questões relacionadas a como os jovens se per- cebem no mundo social, bem como o universo de possibilidades que conseguem identificar para si mesmos em um mundo que se torna cada vez mais complexo� Compreender a cultura em seus próprios termos exige atenção aos conhecimentos compartilhados pelos grupos estudados� Tomemos a questão dos mitos nas sociedades indígenas� Uma visão dis- tanciada e pautada por senso-comum a respeito das dinâmicas culturais afirma que os mitos são heranças de um passado distante, histórias que fi- caram na memória e são revisitadas apenas como nostalgia� Porém essa noção é equivocada� Para Eduardo Viveiros de Castro, um mito não é “apenas o repositório de eventos originários que se perde- ram na aurora dos tempos; ele orienta e justifica constantemente o presente” (CASTRO, 2014, p� 69), ou seja, os mitos são representações vivas no in- consciente coletivo� De maneira geral, o termo mito designa uma narra- tiva que está associada a eventos de fundação de 23 determinados agrupamentos humanos, de início incerto e que foram incorporadosao imaginário des- ses mesmos grupos sociais� Assim, os chamados mitos de origem indicam uma situação que serviu de criação para a formação de uma certa identidade coletiva� Essa perspectiva está presente, por exem- plo, nas palavras de Joseph Campbell, ao afirmar que “mitos são pistas para as potencialidades espiritu- ais da vida humana” (CAMPBELL, 1988, p� 17)� Ou seja, através da compreensão dos mitos, é possível compreender as diferentes formas de construção simbólica dos grupos humanos para além daquelas que nos são próximas no tempo e no espaço� As narrativas associadas aos mitos se apresentam de diversas formas, nem sempre relacionadas a uma perspectiva racional, no sentido que esta palavra passou a adquirir com os desenvolvimentos ociden- tais da ciência� Mas ao separarmos mito e ciência entramos em um problema que ocupou o grande antropólogo francês chamado Claude Lévi-Strauss� Para Claude Lévi-Strauss (1908–2009), a partir dos séculos 17 e 18, ocorreu um importante movimento de construção da diferença entre pensamento mí- tico e pensamento lógico-científico, a partir de no- mes como René Descartes, Isaac Newton e Francis Bacon� A essa separação o antropólogo atribui a noção de divórcio, uma vez que, até então, ambas as formas de explicação do mundo estavam bastante relacionadas entre si� 24 Contudo, a leitura da obra de Lévi-Strauss indica a complexidade existente nas explicações sobre o funcionamento do mundo de acordo com os diferen- tes grupos indígenas, de maneira a se distanciar do senso comum que compreende tais grupos humanos como pouco desenvolvidos em suas capacidades de abstração e de entendimento da realidade ao seu redor� Trata-se precisamente do oposto: esses grupos humanos deixam de ser considerados pelo antropólogo como primitivos, uma vez que talvez o único traço que os distancia de fato das sociedades consideradas desenvolvidas é a sua inclinação à escrita, atuando de maneira intensa em suas pro- duções intelectuais, bem como no desenvolvimento de suas próprias representações a respeito de sua história e de sua ecologia� Evidentemente, os mitos exigem interpretação ade- quada, correndo-se o risco de reduzir-se sua com- preensão aos seus aspectos superficiais. Ou seja, um mito esconde elementos nem sempre visíveis em uma primeira apreensão� Seus significados demandam um grande esforço interpretativo e é nesse ponto que a figura do antropólogo se torna fundamental� As questões anteriormente levantadas por Lévi- Strauss demonstram a contribuição que essas outras maneiras (diferentes) de se refletir sobre o universo podem servir para o desenvolvimento mesmo da ciência ocidental� No limiar do século 20, Lévi-Strauss identificava a necessidade de se repensar essa separação, sem, contudo, abando- 25 nar o conjunto de métodos oferecidos pela própria ciência� Segundo ele: A ciência moderna parece ser capaz de pro- gredir não só segundo a sua linha tradicional – pressionando continuamente para a frente, mas sempre no mesmo canal limitado – mas também, ao mesmo tempo, alargando o ca- nal e reincorporando uma grande quantidade de problemas anteriormente postos de parte (LÉVI-STRAUSS, 2010, pp. 18-19). O mito está relacionado à cosmologia, que pode ser compreendida como uma determinada ambição de se conhecer o universo de maneira total, sendo os mitos parte constitutiva dessa forma ampliada de explicação da realidade existente� A cosmologia, dessa forma, indica as relações existentes entre mitos e a sua dimensão prática, os ritos� Em Antropologia, ritos podem ser compreendidos como cerimônias nas quais ocorrem eventos ex- traordinários (ou seja, que não estão no registro do ordinário), caracterizados por conjuntos de palavras e de ações ordenadas que definem uma determi- nada situação em que predominam as interações simbólicas� Nesse sentido, esse tipo particular de cerimônia está relacionado às mudanças ocorridas nas posições e nas identidades assumidas pelas pessoas ao longo de suas vidas� Arnold van Gennep (1873–1957), um dos primeiros teóricos a investigar 26 de maneira aprofundada as questões relativas aos ritos de passagens, afirma que: É o próprio fato de viver que exige as passa- gens sucessivas de uma sociedade especial a outra e de uma situação social a outra, de tal modo que a vida individual consiste em uma sucessão de etapas, tendo por término e começo conjuntos da mesma natureza, a saber, nascimento, puberdade social, casa- mento, paternidade, progressão de classe, especialização de ocupação, morte (GENNEP, 2013, p. 21). Nessa perspectiva apontada por Gennep (2013), os ritos são fundamentais para demarcar a mudança de espaços e de comportamentos que definem as pessoas em determinados momentos de suas vi- das� Vê-se, desse modo, que a importância dada a tais eventos não está restrita apenas aos seus as- pectos sagrados, uma vez que eles se combinam a todo momento com elementos da nossa vida vulgar, compreendidos como profanos� Essas referidas interações podem ser definidas como detentoras de características particulares, que estão próximas à noção de performance social: A ação ritual nos seus traços constitutivos pode ser vista como “performativa” em três sentidos: 1) no sentido pelo qual dizer é também fazer alguma coisa como um ato 27 convencional [como quando se diz “sim” à pergunta do padre em um casamento]; 2) no sentido pelo qual os participantes expe- rimentam intensamente uma performance que utiliza vários meios de comunicação [um exemplo seria o nosso carnaval] e 3), final- mente, no sentido de valores sendo inferidos e criados pelos atores durante a performance (por exemplo, quando identificamos como “Brasil” o time de futebol campeão do mun- do) (TAMBIAH apud PEIRANO, 2003, p. 10). Dentre os rituais mais comuns, estão aqueles de iniciação, de nascimento, de puberdade, nupciais e de purificação. Há de se ressaltar que, assim como os mitos, os ritos não estão restritos às sociedades não-brancas (indígenas e outras), pois são presen- ças constantes mesmo em sociedades industriais e urbanas� Dessa forma, deixamos de compreender os rituais exclusivamente como referentes à esfe- ra do religioso e passamos a pensá-lo também em contextos nos quais existe o predomínio do pensamento racional, a exemplo das sociedades contemporâneas� 28 A identidade do “eu” Em texto intitulado Uma categoria do espírito hu- mano: a noção de pessoa, a de “eu”, publicado ori- ginalmente em 1938, o antropólogo Marcel Mauss (1872–1950) dedicou-se a estudar como a ideia de que existe um eu, relacionado por sua vez a uma pessoa, surgiu e se modificou ao longo dos tem- pos� Para tanto, o autor defende a necessidade de nos afastarmos de uma visão ingênua a respeito do sentido que atribuímos a essas duas categorias� Em primeiro lugar, Mauss defende que mesmo no tempo presente não há um consenso sobre o que seja o eu em todos os grupos humanos espalhados ao redor do mundo� E o mesmo vale para a perspec- tiva histórica: como, durante o desenrolar do tempo, foi elaborada essa noção tão singular, essa forma que adquirimos para pensar sobre nós mesmos atra- vés da noção de eu? Para tanto, Mauss recorre a diferentes códigos legais, costumes e religiões, que estruturam diferentes sociedades e, consequente- mente, diferentes mentalidades� Os exemplos colhidos por Mauss oferecem uma vi- são para além da nossa própria cultura, de maneira a compreender-se as características específicas desse grupo estudado, incluindo a própria forma como eles se veem� De acordo com Mauss, diferentemente de nossa compreensão ocidentalizada do eu como relacionado à noção de indivíduo, os Kwakiutl, por 29 exemplo, compartilham essa noção a partir da ideia de atores que são separados por castas: Ordenam-se as “pessoas humanas”, e, a par- tir destas, ordenam-se os gestos dos ato- res num drama. Aqui, todos os atores são teoricamente todos os homens livres. Mas, destavez, o drama é mais do que estético. É religioso, e ao mesmo tempo cósmico, mi- tológico, social e pessoal (MAUSS, 2003, p. 376). 30 SAIBA MAIS: Os gregos acreditavam em seus mitos? Você já se questionou a respeito de como os gre- gos consideravam os seus mitos? Será que o re- lacionamento que eles tinham com suas crenças é semelhante ao que as pessoas têm nos dias de hoje com suas religiões? Para o historiador Paul Veyne, essa não é uma boa analogia, pois induz a uma adaptação forçada da experiência histórica dos gregos à nossa experiência contemporânea� Segundo ele, os mundos lendários relacionados aos mitos não eram percebidos como mentiras pelos gregos, embora eles compreendessem es- ses universos como pertencentes a um outro lo- cal, no qual a temporalidade era vista de maneira diferente daquela em que as pessoas estavam envolvidas� Trata-se, desse modo, de uma for- ma complexa de se relacionar com os mitos que deve levar em consideração as alternativas cul- turais dessa sociedade� De acordo com Veyne, “um grego colocava os deuses 'no céu’, mas teria ficado atônito se os percebesse no céu” (VEYNE,1983, p� 28)� Vê-se, desse modo, que, para o historiador, a questão não está relacionada exclusivamente à questão da crença, mas também à forma como os gregos entendiam a própria noção de verdade� Assim, diversas percepções a respeito da “verdade” dos mitos eram compartilhadas por diferentes es- tratos da sociedade grega, soando, muitas ve- zes, contraditórias aos nossos ouvidos de hoje, mas fazendo todo o sentido para quem ali se encontrava� 31 Sobre o conceito de indivíduo e individualismo Nossa experiência contemporânea define pessoa como um indivíduo, ou seja, uma unidade indivisível e única que se projeta como distinguível diante do grupo do qual participa� Essa perspectiva, como pu- demos observar, não é universal, uma vez que cada cultura possui formas específicas de representar as pessoas, sendo a nossa demasiado particular� Em outras palavras, a própria forma como conside- rarmos uns aos outros em nosso meio social e no tempo em que vivemos é condicionada por deter- minantes particulares, não sendo possível esperar que toda a diversidade de culturas tenha percebido a experiência humana da mesma forma como per- cebemos nos dias de hoje� O antropólogo Roberto DaMatta define a forma de percepção individual das pessoas como um dado evidente de nossas sociedades contemporâneas� Afirma ele que: [...] Individualidade se associa fortemente à tradição clássica da filosofia política, uma tradição que moldou o pensamento social moderno. Um modo de pensar a sociedade historicamente fundado e, em consequência, sumamente preocupado com as conexões entre instituições, práticas sociais e esfe- ras percebidas como críticas (e universais), como o “religioso”, o “político” e o “econô- mico (DAMATTA, 2000, p. 9). 32 Desse modo, falar de indivíduo em nossa socieda- de demanda uma conexão com a influência que os valores políticos, econômicos e religiosos exercem sobre nossa identidade� Nosso comportamento e a forma como nos identificamos uns com os outros estabelece conexões sobretudo com o tipo de so- ciedade em que vivemos, ou, no nosso caso, com o modelo sócio-histórico denominado capitalismo� As sociedades capitalistas, provenientes dos va- lores e padrões de socialização originados no bojo da Revolução Francesa (final do século 18) e da Revolução Industrial (sobretudo durante o século 19), constituíram-se como sociedades permeadas por ampla diversidade de identidades situadas em espaços cada vez mais urbanos e cosmopolitas� Esse encontro de identidades torna a compreensão da diferença uma necessidade diária aos habitantes das grandes cidades, resultando em uma série de aspectos que demarcam a experiência do homem na multidão� Dessa forma, a individualidade que marca nossa noção de pessoa passa a ser condicionada pelos es- tímulos específicos de nosso tempo. Tem-se, dessa maneira, o advento do individualismo, compreendido como um processo de produção de identidades que induz a uma intensificação da sensação de autono- mia das pessoas diante do mundo em que vivem� Assim, o individualismo resulta em um sistema de pensamentos e de ações que toma como postula- do o valor da pessoa em detrimento da autoridade tradicional dos grupos, ou, em outras palavras, na 33 produção de pessoas autocentradas propensas a afastarem suas personalidades da coletividade� Figura 4: Figura 5: Operários, obra de Tarsila do Amaral (1933, óleo sobre tela, 150x205 cm) Fonte: http://tarsiladoamaral.com.br/obra/ social-1933/ (Acesso em: 12 jun. 2019). 34 http://tarsiladoamaral.com.br/obra/social-1933/ http://tarsiladoamaral.com.br/obra/social-1933/ CONSIDERAÇÕES FINAIS Como estudamos anteriormente, a noção de identi- dade, quando percebida pela perspectiva analítica da Antropologia, indica a existência de uma construção social prévia, ou seja, a identidade é produzida e defi- nida de acordo com os diferentes tempos e espaços em que é formulada, seguindo padrões culturais distintos� Assim, expressões recorrentes como eu e outro ganham novos significados, pois as investiga- ções realizadas pela Antropologia demonstram que essas são formas particulares de compreensão do mundo ao nosso redor, sendo impossível reduzir-se a pluralidade de perspectivas existentes entre todos os grupos humanos a uma construção identitária única e parcial� Na próxima unidade investigaremos outras formas de produção das identidades a partir de estudos clássicos realizados por antropólogos, de maneira a darmos continuidade ao nosso exercício de desna- turalização do senso comum mediante uma compa- ração de diferentes grupos humanos, marcada pelo reconhecimento da alteridade� 35 c) Sobre os conceitos de individuo e individualismo nas sociedades urbanas e industrializadas. b) A identidade do “eu” - Marcel Mauss. c) Franz Boas e Bronislaw Malinowski: ênfase nos aspectos culturais e no funcionamento interno dos grupos. b) A Antropologia moderna, seus métodos, técnicas e objetos de estudo: etnografia, etnologia, etnocentrismo, culturalismo. Questões clássicas presentes nos estudos antropológicos: 2 Sobre a noção de identidade cultural: a formação da identidade das pessoas a partir de suas relações sociais e culturais. Introdução: Antropologia como estudo das formas de interação humanas. Antropologia cultural e social como estudo das formas culturais e sociais das relações entre grupos humanos. a) Primórdios da explicação antropológica a partir de Michel de Montaigne e Jean-Jacques Rousseau: o interesse pela diversidade humana. Perspectivas na compreensão das culturas: 3 a) Alteridade, identidade coletiva, mitos e ritos: Claude Lévi-Strauss e Arnold van Gennep. 1 ALGUMAS QUESTÕES INICIAIS Referências BOAS, Franz� Antropologia cultural� Zahar, 2004� CAMPBELL, Joseph� O poder do mito� São Paulo: Palas Athenas, 1988� CASTRO, Eduardo Viveiros de� A inconstância da alma selvagem� São Paulo: Editora Cosac Naify, 2014� CASTRO, Celso� Textos básicos de antropologia, cem anos de tradição: Boas, Malinowski, Lévi-Strauss e outros� Rio de Janeiro: Zahar, 2016� DAMATTA, Roberto� Individualidade e liminaridade: considerações sobre os ritos de passagem e a mo- dernidade� Mana, Rio de Janeiro, v� 6, n� 1, p� 7-29, Abr� 2000� GENNEP, Arnold van� Os ritos de passagem: estudo sistemático dos ritos da porta e da soleira, da hos- pitalidade, da adoção, gravidez e parto, nascimento, infância, puberdade, iniciação, coroação, noivado, casamento, funerais, estações etc� Petrópolis: Vozes, 2013� GEERTZ, Clifford� Nova luz sobre a antropologia� Rio de Janeiro: Zahar, 2014� GOLDMAN, Marcio� Alteridade e experiência: Antropologia e teoria etnográfica� Etnográfica, Lisboa, v� 10, n� 1, p� 161-173, mai� 2006� GOMES, Márcio Pereira� Antropologia: ciência do homem, filosofia da cultura� São Paulo: Editora Contexto, 2008�LEIRNER, Piero de Camargo� Hierarquia e individu- alismo� Rio de Janeiro: Zahar, 2003� LÉVI-STRAUSS, Claude. Mito e significado. Lisboa: Edições, 2010� LÉVI-STRAUSS, Claude� Antropologia estrutural dois� São Paulo: Editora Ubu, 2018� MAUSS, Marcel� Sociologia e antropologia� São Paulo: Cosac Naify, 2003� MONTAIGNE, Michel de� Os ensaios: uma seleção� São Paulo: Companhia das Letras, 2010� OLIVEIRA, Roberto Cardoso de� Identidade, etnia e estrutura social� São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1976� PEIRANO, Mariza� Rituais ontem e hoje� Rio de Janeiro: Zahar, 2003� VELHO, Gilberto� Individualismo e cultura: notas para uma antropologia da sociedade contemporânea� Rio de Janeiro: Zahar, 1987� VELHO, Gilberto� Individualismo e cultura: notas para uma antropologia da sociedade contemporânea� Rio de Janeiro: Zahar, 2012� VELHO, Gilberto� Um antropólogo na cidade: ensaios de antropologia urbana� Rio de Janeiro: Zahar, 2013� WILLIAMS, Raymond� Palabras clave: un vocabulario de la cultura y de la sociedade� Buenos Aires: Nueva Visión, 2003� _Hlk12280187 _GoBack Introdução Sobre a noção de identidade cultural Questões clássicas de Antropologia Os primórdios da perspectiva antropológica A Antropologia moderna e seus objetos de estudos As culturas e as mudanças de perspectivas Alteridade, identidade coletiva, mitos e ritos A identidade do “eu” Sobre o conceito de indivíduo e individualismo Considerações finais Síntese bt_foward 15: Página 1: bt_foward 18: bt_foward 17: Página 37: Página 38: Página 39:
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