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Historiografia Brasileira

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22/04/2024, 14:59 Historiografia brasileira e pós-modernidade
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04410/index.html?brand=estacio# 1/59
Historiogra�a brasileira e pós-modernidade
Prof. Cairo Barbosa
Descrição
Analisar as diferenças entre pós-modernidade e pós-modernismo como
reações ao paradigma moderno nos debates e na produção histórica na
historiografia brasileira.
Propósito
Identificar os desdobramentos da pós-modernidade no campo dos
estudos historiográficos no Brasil é fundamental para os profissionais
de Ciências Humanas e os historiadores que desejam se posicionar no
campo.
Objetivos
Módulo 1
Modernidade, pós-modernidade e
pós-modernismo
22/04/2024, 14:59 Historiografia brasileira e pós-modernidade
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04410/index.html?brand=estacio# 2/59
Relacionar as ideias de pós-modernidade e pós-modernismo em
tensionamento com o projeto moderno.
Módulo 2
Historiogra�a brasileira e pós-
modernidade
Examinar a recepção dos estudos pós-modernos na historiografia
brasileira na segunda metade do século XX.
Módulo 3
O campo dos estudos históricos
pós-modernos no Brasil
Analisar as novas abordagens pós-modernas na historiografia
brasileira com foco nos estudos da micro-história e nas análises
sobre gênero/mulheres.
Introdução
Quais são os impactos da pós-modernidade na historiografia, em
geral, e na historiografia brasileira, em particular? Para responder
a tal pergunta, faremos um percurso dividido em três módulos.
No primeiro módulo, vamos apresentar definições gerais e
específicas para os termos “modernidade”, “pós-modernidade” e
“pós-modernismo”, procurando aproximá-los ou diferenciá-los. No
segundo, investigaremos a recepção dos “estudos pós-
modernos” na historiografia brasileira.

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Por fim, no último módulo, indicaremos os desdobramentos e os
impactos temáticos da pós-modernidade nos estudos históricos
no Brasil atual, focando as novas abordagens, fontes e
perspectivas apresentadas, como as discussões sobre
gênero/mulheres e as abordagens da micro-história.
1 - Modernidade, pós-modernidade e pós-
modernismo
Ao �nal deste módulo, você será capaz de relacionar as ideias de pós-
modernidade e pós-modernismo em tensionamento com o projeto
moderno.
O nascimento de um fazer
histórico cientí�co
Modernidade
Com os eventos que inauguram a “modernidade”, como o
Renascimento, as reformas religiosas, a expansão marítima e os
processos de colonização das Américas, a Revolução Industrial, o
Iluminismo e a Revolução Francesa, a humanidade passou a ser
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submetida a novas experiências, produzindo um novo mundo que se
diferenciava desses tempos anteriores pela necessidade de vivenciar,
experimentar e assimilar novos acontecimentos, novas situações e
novos cenários, alargando os limites do conhecimento e da consciência
histórica que existiam até então.
Com esse novo horizonte histórico específico, sentimentos,
significados, sentidos e percepções são modificados, alterando não
somente a forma como os humanos buscaram agir no mundo, mas
também o modo com que eles se (re)orientaram no tempo.
Alusão às grandes navegações que contribuiram para os choques culturais.
A modernidade é fruto de amplas transformações estruturais e eventos
disruptivos que inauguram uma temporalidade qualitativamente nova. O
resultado é o aparecimento de choques culturais distintos e novos
mecanismos de acumulação econômica – e, sobretudo, a invenção de
modernas formas de organização da vida social baseadas em modelos
políticos mais complexos.
No livro Modernização dos sentidos (1998), o crítico alemão Hans Ulrich
Gumbrecht sugere que, a partir do século XVI, o mundo teria vivido sua
primeira “cascata de modernidade”, cuja marca principal é o surgimento
de um sujeito histórico crente de si como um observador de primeira
ordem da experiência prática, além de proclamar a si mesmo como o
único capaz de produzir saber no âmbito da história.
Para Gumbrecht, portanto:
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A modernidade é tanto uma experiência histórica e um
acontecimento quanto o surgimento e a consolidação
de uma nova subjetividade humana no mundo voltada
especialmente para a construção de projetos de
transformação da ordem político-social.
No livro Futuro passado (2006), o historiador alemão Reinhart Koselleck
entende que esse momento de virada da modernidade inaugura uma
alteração substancial na concepção de história que se tinha até ali,
afetando a própria maneira como os homens vivenciavam as
experiências e enxergavam o tempo. A defesa da ideia de razão e
ciência por parte dos renascentistas e dos iluministas e o posterior
desenvolvimento da industrialização na Europa entre os séculos XVI e
XVIII apresentaram ao mundo experiências históricas inéditas,
inaugurando um período de desenvolvimento social que deveria ser
espalhado pelo mundo a ponto de ser universalizado.
É por isso que, no âmbito do discurso da modernidade, o progresso
passa a ser a finalidade última das ações humanas. Os acontecimentos
são vistos como parte de uma marcha em direção à liberdade e à
igualdade, sendo a história o palco onde se desenrolam tais eventos,
que, em tese, deveriam levar o mundo para um futuro promissor e
transformador.
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Até por isso, surge no vocabulário moderno a ideia de oposição entre o
“novo”/”atual” e o “velho”/”tradicional”, em que o passado representa
tudo o que deveria ser abandonado e o futuro, tudo o que deveria ser
buscado e alcançado.
Desde então, homens e mulheres passaram a ter consciência qualitativa
da mudança temporal, criando formas singulares de apreensão da
experiência e, sobretudo, de diferenciação histórica.
Pintura El conjuro, que faz crítica aos pensamentos tidos como ultrapassados para os
pensadores da época.
A solidificação da narrativa da modernidade fez com que a ideia de
progresso descortinasse um futuro capaz de ultrapassar o espaço do
tempo e da experiência tradicional, natural e/ou prognosticável. Ela, com
isso, passa a ser compreendida como o “tempo do novo” não somente
do ponto de vista factual, mas também – e sobretudo – pela capacidade
de aceleração do próprio tempo histórico e pela alteração significativa
do modo com que a humanidade se relacionava com a própria vida
social.
Comentário
Nessa nova percepção, a história torna-se, ela própria, um sujeito. O
advento dela como coletivo singular deu-se em uma circunstância
temporal que pode ser entendida como “a época das singularizações”,
das simplificações, que se voltavam social e politicamente contra a
sociedade estamental do Antigo Regime.
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A história passa a ser enxergada como uma marcha universal do
progresso humano na Terra que busca afastar-se sempre das
experiências do passado e projetar novas expectativas de futuro. É a
partir dessa singularização dela, fenômeno indicado especialmente por
sua temporalização, que se anuncia uma transformação da experiência
que domina a época moderna e, portanto, indica uma alteração
significativa da própria ideia de história.
Conforme define o historiador francês François Hartog no livro Regimes
de historicidade (2013), a modernidade constitui um regime de
historicidade futurista que exalta o progresso e a esperança no futuro
como melhoriae aperfeiçoamento da humanidade. Nesse novo regime
histórico, com a crescente aceleração do tempo e a capacidade de
mutabilidade dos acontecimentos no mundo prático, o passado é
colocado de lado por perder a capacidade de balizar as ações humanas.
Essa acepção fica evidente na emergência das filosofias da história e
nas ideologias políticas modernas, como:
Iluminismo
Socialismo
Comunismo
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Nelas, o presente seria apenas a antessala de um futuro utópico e
transformador, demolidor de experiências, tradições e memórias. Marca-
se, com isso, o surgimento de uma história agora com uma qualidade
temporal própria, na qual diferentes durações e períodos de experiência,
passiveis de alternância, tomaram o lugar outrora reservado ao passado
entendido como exemplo.
É possível dizer que:
Resumindo
Na modernidade, vigorou, de maneira hegemônica, uma concepção de
história linear, progressiva e evolutiva, ancorada na ideia de que a
experiência temporal por excelência é aquela voltada para o futuro, a
finalidade do desenvolvimento progressivo das faculdades racionais
humanas.
Além disso, a modernidade criou um tipo ideal específico do que é a
“marcha da civilização” e o universalizou, enquadrando sujeitos e
experiências distintas como “atrasados” ou passíveis de serem
“transformadas”.
Como veremos a seguir, existe na pós-modernidade uma atitude crítica
que busca romper com essas concepções criadas e desenvolvidas no
arco entre os séculos XVI e XVIII. Trata-se de um momento de crise
aguda do paradigma moderno e de surgimento de uma nova visão de
mundo: a pós-moderna.
Pós-modernidade
Novos paradigmas
Liberalismo
Anarquismo
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No século XX, o “paradigma moderno” vai ser abalado por diversos
eventos e acontecimentos traumáticos e violentos, como os
totalitarismos, o holocausto, as guerras mundiais e as bombas
atômicas.
Se o discurso da modernidade vinha acompanhado de uma adesão à
ideia de progresso e liberdade, esses acontecimentos mostraram que a
ciência, a técnica e a razão, caso fossem apropriadas e utilizadas de
forma instrumental por ideologias políticas autoritárias, poderiam
produzir violência, barbárie, genocídio e catástrofes. Vamos a um
exemplo imagético disso.
Guernica, Pablo Picasso.
Para Hans Gumbrecht, no livro Nosso amplo presente: o tempo e a
cultura contemporânea (2015), tais experiências negativas da primeira
metade do século XX operaram uma nova transformação na relação dos
homens com o tempo. Nesse caso, o futuro passou a não se apresentar
mais como um horizonte aberto de possibilidades, liberdade e
progresso.
Pelo contrário, especialmente por conta da ampliação da capacidade
destrutiva da humanidade e pela aceleração dos acontecimentos, o
futuro se torna, aos poucos, uma dimensão cada vez menos
prognosticável e mais indesejável, porque é nele que pode residir a
concretização do que há de pior na existência humana.
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Forma-se o que Gumbrecht chama de “cronotopo
presentista”, um mundo em que homens e mulheres
sentem-se encurralados entre o temor do futuro e a
incapacidade de se reconectar com o passado.
Com o crescimento da desconfiança sobre a ideia de progresso e a
percepção de que o futuro seria o lugar da liberdade, é possível afirmar
que a principal característica do “paradigma moderno” se dissolveu.
Desse modo, o presente, o lugar do agora, sobrepôs-se ao peso do
passado e ao apego ao futuro.
Segundo François Hartog (2013), nasce então o “regime de historicidade
presentista”, no qual existe um constante desgarramento em relação às
experiências do passado e às expectativas do futuro. Inconstante,
acelerado e fragmentado, esse “novo presente”, no século XX, é
hipertrofiado e volátil, sendo incapaz tanto de enraizar os seres
humanos em tradições passadísticas quanto de assegurar projeções
minimamente prognosticáveis do porvir.
Essa nova condição histórica é conhecida
como “pós-modernidade”.
Além dos eventos da primeira metade do século XX que já
mencionamos, outros acontecimentos são importantes.
Queda do muro de Berlim em 1989.
A queda do Muro de Berlim (1989), o colapso da União Soviética e a
consequente crise das grandes ideologias políticas modernas,
principalmente do Socialismo e o do Comunismo.
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Tais mudanças configuram um refluxo dos movimentos de massa e,
sobretudo, um declínio das utopias, inaugurando a “era conformismo
político”. Um dos principais analistas dessa transformação
paradigmática é o filósofo francês François Lyotard.
No livro A condição pós-moderna (2004), Lyotard indica que esse novo
período histórico marca o momento de crise aguda das "grandes
narrativas" totalizantes da modernidade, fundadas, como já apontamos,
tanto na crença no progresso e nos ideais de igualdade e liberdade
quanto na busca constante pela “melhoria” e pelo “aperfeiçoamento” da
vida humana na terra.
Comentário
Na visão do filósofo francês, a condição pós-moderna apresenta uma
razão fundamentalmente marcada pela ideia de dúvida e atravessada
pelas noções de relativização, perspectiva, desconstrução e
desconfiança, o que coloca em dúvida especialmente a narrativa que
prometia um futuro emancipado para as sociedades.
Outro autor importante a refletir sobre essa problemática foi o sociólogo
francês Michel Maffesoli. No livro Elogio da razão sensível (2001), o
autor entende a “pós-modernidade” como um período histórico
caracterizado pelo desenvolvimento de um imaginário – símbolos,
valores e percepções – que rompe com o racionalismo e o culto
apaixonado do progresso.
Na visão de Maffesoli, houve uma saturação do projeto moderno.
Produziu-se, no mundo contemporâneo, uma ruptura com valores e
percepções erigidas principalmente no século XVIII, abrindo espaço para
a apreensão de novas formas de sociabilidade, focando o que é plural,
complexo e multifacetado. A marca da condição pós-moderna seria a
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construção de uma nova “razão sensível” preocupada com elementos
alijados do campo científico. Vejamos:
Exemplo
O sonho, o festivo, o lúdico, o fragmento e a diferença.
De acordo com a visão do sociólogo polonês Zygmunt Bauman exposta
em O mal-estar da pós-modernidade (1998), as relações sociais
contemporâneas, especialmente a partir da segunda metade do século
XX, desmancharam a “solidez” da modernidade, que se baseava na
crença no futuro. Emerge então uma “modernidade líquida”, também
chamada de pós-modernidade, em que o mundo se torna fluido, sem
forma definida, veloz, móvel, inconstante e inconsistente.
Do ponto de vista da consciência histórica, desenha-se, assim, um
mundo de incertezas, indefinição e imprevisibilidade. Vínculos sociais
rígidos produzidos por instituições, como Estado, família, partido e
sindicato, são substituídos por vínculos seccionados e fragmentados,
como é o caso dos pertencimentos de gênero, raça e etnia, por exemplo.
É possível dizer, portanto, que o período conhecido como “pós-
modernidade” sedimentou uma consciência histórica que, de maneira
sintética, procura questionar os princípios estruturantes do paradigma
moderno, tais como:
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https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04410/index.html?brand=estacio# 13/59
 A concepção de verdade absoluta A ideia de progresso e de uma
história linear e evolutiva
 A possibilidade de emancipação
universal
 O conceito de razão
 A pretensão à objetividade
cientí�ca
 A padronização produzida pelas
grandes narrativas ou ideologias
políticas
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Pós-modernismo
Nova consciência histórica
A nova “consciência histórica” se propagou pela sociedade, afetando
diversas áreas, incluindo a ciência e, em específico, a historiografia. No
âmbito epistemológico, o paradigma pós-moderno procura descontruir a
possibilidade do conhecimento absoluto e total da realidade e dos
fenômenos.
Aposta-se agora que a razão humana é incapaz de garantir uma
compreensão completa do mundo e da natureza.
Mais do que isso, entende-se que a tentativa científica de explicar a
história pautada em esquemas totalizantes, as chamadas
metanarrativas, é uma ilusão.
O pós-modernismo seria o efeito desse paradigma pós-moderno nos
campos da filosofia, da ciência, da cultura e das artes. Nesse caso, suas
marcas de expressão mais importantes seriam uma:

Atitude cética em relação às verdades estabelecidas.

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Rejeição às grandes narrativas, às ideologias e ao princípio da
“universalidade”.

Oposição às certezas epistêmicas e à estabilidade dos significados
discursivos.
O gesto “pós-modernista” também pode ser caracterizado pela
dissolução das visões binárias de mundo, operando como uma crítica
às identidades estáveis, às hierarquias rígidas e às categorizações
cristalizadoras.
O pós-modernismo, afinal, considera o conhecimento e os sistemas de
valores estabelecidos como fenômenos contingentes e socialmente
condicionados, estando ligados a discursos políticos e hierarquias
sociais estabelecidas ao longo da modernidade. No livro Após a grande
divisão: modernismo, cultura de massa, pós-modernismo, Andreas
Huyssen diz que, no campo dos conhecimentos científicos, esse
movimento operou com uma recusa à divisão entre, por exemplo,
“ciência válida” e “crença popular”.
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Robert Rauschenberg, Retroactive II, 1963
Por isso, os “estudos pós-modernos” procuram adotar uma postura de
desconstrução e relativização de ideias estabelecidas, valorizando
visões dissidentes, narrativas plurais, relatos múltiplos e novos sujeitos
e objetos. Outros saberes marginalizados e esquecidos foram
incorporados como objetos de análise e tratados como fenômenos
socialmente determinados que merecem a atenção dos pesquisadores.
Como veremos adiante, a pós-modernidade e o pós-modernismo
chegaram ao debate acadêmico brasileiro no final do século XX e
impactaram diretamente a forma de se escrever história no Brasil.
Atividade discursiva
Construa um texto discutindo, a partir de um exemplo a sua escolha, a
interpretação moderna e a pós-moderna.

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Digite sua resposta aqui
Chave de resposta
O momento é seu, mas você precisa estar atento aos
instrumentos, à noção cientificista da modernidade e à visão
discursiva relacionada à pós-modernidade.
Pós-modernismo e a história
brasileira
Acompanhe agora a chegada do pós-modernismo na historiografia
brasileira.

22/04/2024, 14:59 Historiografia brasileira e pós-modernidade
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04410/index.html?brand=estacio# 18/59
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
“Na sociedade e na cultura contemporânea, sociedade pós-
industrial, cultura pós-moderna, a questão da legitimação do saber
coloca-se em outros termos. O grande relato perdeu sua
credibilidade, seja qual for o modo de unificação que lhe é
conferido: relato especulativo, relato da emancipação, pois eles
sofrem um processo de deslegitimação.”
22/04/2024, 14:59 Historiografia brasileira e pós-modernidade
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LYOTARD, J. F. O pós-moderno. 4. ed. Rio de Janeiro: José Olympio,
1993. p. 69.
Um dos principais estudiosos da chamada “pós-modernidade”, o
filósofo François Lyotard estabelece um contraponto entre a forma
de saber típica do Iluminismo e a legitimidade do conhecimento na
era pós-moderna. Na visão do autor, essa contraposição baseia-se
no fato de que
Parabéns! A alternativa C está correta.
A questão aborda a visão de Lyotard sobre a natureza dos
discursos na pós-modernidade. Na visão do autor, o “macrorrelato”
típico da modernidade perde espaço na época pós-moderna por
conta da fragmentação social e da diversidade cultural, que passam
a vigorar com mais força no espaço público
A
na modernidade, o grande relato, embora parcial, era
afeito à própria fragmentação do mundo.
B
na época moderna, o microrrelato, embora parcial,
procurava recolher fragmentos do mundo para
construir um mosaico socio-histórico da realidade.
C
na pós-modernidade, com o mundo fragmentado, o
macrorrelato é descredibilizado pela sua pretensão
à totalidade, já que o mundo é visto, cada vez mais,
como diverso e múltiplo.
D
na chamada “época pós-moderna”, a globalização
impôs à ordem social mundial uma
homogeneização que influiu diretamente na
construção de macrorrelatos sociais válidos e
totalizadores.
E
no contexto da pós-modernidade, as noções plurais
e fragmentadas do iluminismo, como razão e
liberdade, são substituídas por conceitos unitários
que buscam abarcar de forma uníssona a totalidade
social.
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Questão 2
O conceito de modernidade histórica não é uma mera marcação de
periodicidade. De maneira prática, ele acaba por criar uma
abordagem singular de percepção do tempo. Essa conceção é
marcada por ser
Parabéns! A alternativa E está correta.
Conforme apontam diversos autores que discutem a modernidade,
ela é constituída por uma visão marcada pelo eurocentrismo e pelo
civilizacionismo. Dessa maneira, em uma grande marcha
civilizacional, a modernidade parte de uma construção científica de
validação de dados fortemente linear, progressiva e evolutiva.
A teológica.
B estritamente econômica.
C descolada da realidade.
D funcionalista.
E linear e evolutiva.
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2 - Historiogra�a brasileira e pós-modernidade
Ao �nal deste módulo, você será capaz de examinar a recepção dos estudos
pós-modernos na historiogra�a brasileira na segunda metade do século
XX.
História mestra da vida
Antes de apontar os impactos da pós-modernidade e do pós-
modernismo nos estudos históricos brasileiros atualmente, é preciso
indicar os rumos que a historiografia tomou no período que vai do
surgimento da modernidade, entre os séculos XVI e XVIII, até sua
consolidação como disciplina acadêmica, no século XX.
Na Grécia Antiga, a historiografia abordava um número restrito de temas
e tinha por tarefa principal, acima de tudo, preservar a memória de fatos
importantes e apresentá-los de maneira confiável e atrativa do ponto de
vista do estilo de escrita. Essa visão estava ligada, sobretudo, à ideia de
que o passado era relevante, porque servia de ensinamento ao futuro, e
deveria, portanto, ser transmitido como uma herança cultural ao longo
do tempo.
22/04/2024, 14:59 Historiografia brasileira e pós-modernidade
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A história, desse modo, era como uma “mestra da vida” (magistra vitae).
Ela cumpria tanto uma função política, por tratar de assuntos
relacionados às formas de governo, à função dos cidadãos na vida
pública, às táticas de guerra e à mediação de conflitos, entre outros
exemplos, quanto função moral, já que falava de valores,
comportamentos e princípios que deveriam ser seguidos.
Na Roma Antiga, berço da cultura latina, a história, como prática de
representação dos eventos passados, era tratada como um testemunho
da passagem do tempo, uma forma de o passado se comunicar
pedagogicamente com o presente à luz da verdade dos fatos.
Comentário
Como se percebia a natureza humana como algo estável e permanente
– e que as formas de experimentação do tempo se baseavam muito nos
ensinamentos deixados pelos acontecimentos –, a história tinha, a partir
dos relatos das “autoridades”, como Cícero (106-43 a.C.), por exemplo,
exatamente a função de mediar essa relação entre o passado e o futuro.
Tratava-se, em suma, de uma historiografia voltada para resguardar a
memória de vitórias, batalhas, epopeias, calamidades e outros
exemplos, adquirindo uma feição pedagógica testemunhal e
memorialística. Entre os antigos, portanto, a história era “mestra da vida”
e se preocupava em fornecer exemplos a serem seguidos e imitados no
futuro.
Como guardiã dos fatos e eventos grandiosos, ela era responsável por
manter vivas as lembranças e reminiscências de um tempo que já
22/04/2024, 14:59 Historiografia brasileira e pós-modernidade
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passou, com a finalidade máxima de torná-las uma tradição edificada
que possa guiar, de maneira segura e balizada, os passos das gerações
futuras. Com a modernidade, esse modelo historiográfico foi dissolvido,
dando lugar a uma nova forma de escrita da história.
Como já vimos, com os grandes movimentos que inauguraram, do ponto
de vista factual, a modernidade, houve uma modificação importante da
forma com que os homens experimentavam a história até ali. Se antes
havia a percepção de que as experiências do passado e as tradições
eram fundamentais para sedimentar o futuro, por volta do século XVIII,
com as rupturas causadas por alguns desses processos
transformadores e revolucionários, inaugurou-se um tempo do novo e do
inédito, em que a ideia de história pedagógica se esvazia e perde seu
sentido usual dado desde a Antiguidade.
Comentário
Com o surgimento das grandes filosofias da história (iluminismo,
socialismo, liberalismo, anarquismo etc.), o presente passou a ser
apenas a antessala de um futuro necessariamente diferente, capaz de
demolir as experiências, as tradições e as memórias. Em síntese, se
antes a história considerava o passado um repositório de
acontecimentos e relatos variados, recolhidos em torno de memórias
dos feitos notáveis e extraordinários que tinham a função de orientar, a
nova história, no século XVIII, passou a ser entendida como um
acontecimento único e singular, o qual não é mais capaz de instruir nem
de aconselhar.
História Moderna
Foi no século XIX que a historiografia, como estudo da História, se
consolidou como “ciência humana”. Um dos expoentes desse
movimento foi o historiador alemão Leopold von Ranke (1775-1886).
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Leopold von Ranke.
Ranke é considerado um dos “pais fundadores” da historiografia
científica, ligada à institucionalização das Ciências Humanas como
campo do conhecimento no interior das universidades europeias. Sua
compreensão indica que a História, antes de mais nada, é uma ciência
reflexiva cujo objeto primordial é o passado, e não o presente.
Na perspectiva do historiador alemão, cada povo tem o seu “espírito”,
que se manifesta, no plano histórico, nos “grandes homens” e nos
grandes eventos e acontecimentos. A função do historiador seria, assim,
encontrar esse espírito e narrá-lo.
Na visão de Ranke, a historiografia tem uma função eminentemente
política: auxiliar na construção dos valores sociais de um povo e
contribuir para educar moralmente os cidadãos com a finalidade de criar
vínculos culturais que ajudem a construir os contornos do Estado-nação
– no caso alemão, um Estado nacional recém-criado, já que a unificação
do país é tardia (1871). Para Gérard Noiriel, autor do livro O nascimento
da profissão historiador (1990), essa relação entre historiografia, Estado
e política se devia ao fato de que o ensino superior deveria funcionar
como elemento central para a afirmação de valores culturais
necessários à organização de uma nação coerente, coesa e unitária.
No método historiográfico rankeano, em vez de se buscar inventariar o
presente, transformando-o em tradição, o historiador, quase sempre
próximo das posições de poder, preocupava-se em captar todas as
dimensões do passado de seu povo. Ele buscava, com isso, uma
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posição “impessoal” ao mesmo tempo que apagava memórias, visões e
percepções divergentes e conflitantes em nome de um interesse maior:
Formar a nação.
Como saber universitário, portanto, a escrita da história, com aspirações
à cientificidade, amordaçava as diversas visões sobre os
acontecimentos que existiam nas sociedades em nome de uma “história
oficial”, considerada como a única portadora da Verdade. Por isso, o
conhecimento sobre o passado dependia fortemente das fontes
históricas.
Atenção!
Como “ciência positiva”, a História deveria fugir do subjetivismo e se
esforçar para construir uma narrativa de fatos e eventos ancorada na
objetividade, sem produzir, nesse processo, uma escrita de caráter
literário que pudesse afastá-la do objeto analisado. O historiador precisa
lançar-se ao passado com desinteresse pessoal, condição primordial
para que sua narrativa, baseada em comparações e cotejamentos de
fatos, seja capaz de testar as conclusões gerais nas fontes consultadas.
Até por isso, os vestígios do passado, como documentos, imagens,
textos e, sobretudo, memórias, deveriam passar pelo crivo do
historiador. Ele, afinal, é responsável por analisá-los metodicamente, ou
seja, de maneira sistemática, sempre tendo “a verdade única dos
acontecimentos” como horizonte.
Diferentemente do que havia sido solidificado no modelo magistra vitae,
que registrava o presente com vistas a preservá-lo como uma memória
de acontecimentos considerados importantes, no século XIX,
principalmente no modelo rankeano, a “historiografia científica” buscou
analisar o passado de maneira pretensamente distanciada, metódica e
investigativa. Baseando-se sempre em provas documentais e
amordaçando as “vozes dissonantes”, ela tinha como horizonte acessar
a verdade dos fatos e edificar os valores da nação em formação.
A nação, por sinal, era definida dentro de limites conservadores,
considerando apenas tipos ideais de sujeitos, gêneros, raças e classe –
todos sempre ligados a grupos dominantes e hegemônicos
historicamente. Como não poderia deixar de ser, a partir da segunda
metade do século XX, esses critérios também foram cruciais na
formação da historiografia brasileira no âmbito científico e acadêmico
com a institucionalização da História no ensino universitário.
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A formação da moderna
historiogra�a brasileira
Entre as décadas de 1950 e 1970, a produção historiográfica brasileira
passa a se concentrar sobretudo nas universidades, iniciando um
processo longo de consolidação da profissão historiador e dos estudos
históricos como campo disciplinar. Uma das figuras mais importantes
desse período de transição foi JoséHonório Rodrigues.
José Honório Rodrigues, 1969.
Na perspectiva de Honório, o ensino universitário de História deveria se
preocupar com a investigação, o manejo de fontes, os procedimentos de
análise e a interpretação de documentos com vistas – todos operando
como protocolos que deveriam contribuir para, a partir de uma recriação
do passado, a produção de uma síntese histórica.
Em certa medida, do ponto de vista metodológico, o autor nutria um
apego pelo documento histórico, já que ele serviria como “instrumento
de prova”.
O auge dessa “institucionalização científica e universitária” foi atingido
nas décadas de 1980 e 1990, momento no qual as indagações sobre o
sentido da nacionalidade e a formação geral do Brasil, em suas diversas
perspectivas analíticas, passam a perder espaço. A questão da
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“explicação da nação” fica em segundo plano, um movimento que pode
ser associado à consolidação da formação do campo profissional da
historiografia no país.
A partir desse momento, os historiadores apegaram-se ao seguinte
objetivo:
Desenvolver trabalhos acadêmicos de acordo com as
convenções teórico-metodológicas estabelecidas pela
comunidade de pares, buscando tornar-se cada vez
mais um corpus relativamente autônomo em relação
às forças sociais e políticas externas ao fazer
historiográfico.
Em outros termos, essa profissionalização foi construída com base nos
parâmetros da pesquisa científica universitária.
A partir daí, saem de cena as explicações gerais e a busca por “verdades
perenes” em relação à história do Brasil. Em vez disso, passa a ser
valorizada a análise histórica minuciosa baseada em metodologias
específicas do campo e ancorada em discussões teóricas densas.
Diversos debates internacionais foram incorporados ao universo dos
estudos históricos nacionais. A historiografia brasileira, desse modo,
modificou-se substancialmente – e a recepção dos estudos sobre pós-
modernidade e pós-modernismo faz parte dessa renovação.
Pós-modernidade na
historiogra�a brasileira
A historiografia pós-moderna parte de uma reformulação teórica,
metodológica e epistemológica dos pressupostos básicos da
historiografia do século XIX e da primeira metade do século XX. Nessa
abordagem, recusa-se o estudo do passado como uma totalidade única
e acabada, passível de ser decodificada pelo trabalho do historiador.
Atenção!
É importante considerar que a própria escrita da história é, por si só,
uma forma de representação de determinado passado, e nunca uma
maneira de esgotá-lo nem de atingir a verdade única e absoluta que ele
poderia comportar.
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A historiografia, portanto, também comporta elementos estéticos e
estilísticos; por isso, o estudo da narrativa é considerado fundamental.
Sobre os objetos, a escrita da história pós-moderna procura ampliar as
fontes, os sujeitos e os enredos de análise para mostrar a
heterogeneidade e a infinitude da realidade social.
É preciso ressaltar que, além dessas características, a historiografia
pós-moderna possui outros pressupostos. Um deles é a desconstrução
das ideias de causalidade e linearidade, ou seja:
A história não é um todo coeso e progressivo.
Valorizam-se a contingência, o acaso, os não ditos, os silêncios, os
hiatos, os fragmentos e o descontínuo nos relatos sobre o passado.
Resumindo
A historiografia é uma forma metafórica de falar sobre as
representações dos acontecimentos.
Um dos primeiros usos do termo “pós-moderno” no debate
historiográfico brasileiro foi o do historiador Nicolau Sevcenko, autor de
clássicos, como Orfeu extático na metrópole - São Paulo nos frementes
anos 20 (1992) e Literatura como missão: tensões sociais e criação
cultural na I República (2003). Originalmente publicado em 1984 como
artigo no jornal Folha de São Paulo, o texto do então professor da USP
denominado O enigma pós-moderno analisou a pós-modernidade pelo
aspecto da mudança das formas de apreensão do tempo.
Comentário
Em substituição ao tempo homogêneo, progressivo e linear da
modernidade, no período pós-moderno teria se instaurado um que
rejeita as ideias de unidade e homogeneidade e que se abre às
ambiguidades, à pluralidade e à multiplicidade da história. Para
Sevcenko, o pós-moderno é o tempo da fragilidade, da inconsistência,
do provisório, relativo e do incerto.
Anos depois, no livro História, modernidade e pós-modernidade: os
desafios contemporâneos do conhecimento (1994), o historiador
Francisco Moraes Paz avançou no debate sobre a pós-modernidade.
Para o autor, o período pós-moderno produziu uma falência dos mitos
dominantes da cultura ocidental, levando a humanidade a repensar os
elementos que constituem a realidade e o conhecimento científico. No
âmbito epistemológico, há uma crise das análises estruturais e das
grandes narrativas – e, por conseguinte, a valorização das
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micronarrativas capazes de ampliar aspectos da diversidade e das
diferenças sociais existentes.
Em 1997, Ciro Flamarion Cardoso publicou o clássico Paradigmas rivais.
Nele, o autor buscava estudar o chamado “tempo pós-moderno” como
um período de amplas transformações sociais, políticas e culturais que
teria se iniciado na década de 1960 na Europa e nos EUA.
Para Flamarion, essa mudança na condição histórica afetou a própria
historiografia. Afinal, aos poucos, ela foi perdendo seu caráter científico
e racional, fazendo-a renunciar às análises macro e gerais em troca do
exercício meramente hermenêutico (interpretativo), micro-histórico,
recortado, específico e, sobretudo, apegado à narrativa literária.
Pós-modernismo em prática
na historiogra�a brasileira
Em artigo intitulado A “nova” historiografia brasileira, publicado em 1999,
Margareth Rago produz um diagnóstico interessante. Para a autora, a
década de 1990, no Brasil, foi um período de amplo florescimento
cultural e intelectual, ocasionado sobretudo pela expansão urbano-
industrial, pela massificação e pelo desenvolvimento das
telecomunicações.
Consequentemente, novos grupos sociais, étnicos e sexuais passaram a
buscar maior participação na vida pública, reivindicando pautas políticas
específicas.
Como vimos anteriormente, o cenário de fundo, chamado de período
“pós-moderno”, abria espaço não apenas para essas múltiplas vozes,
perspectivas e visões de mundo, mas também para a construção de
uma historiografia que procure abordar novos objetos a partir de novas
perspectivas teórico-metodológicas.
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Movimento caras pintadas, 1992.
Em 2011, José Carlos Reis publicou História & teoria: historicismo,
modernidade, temporalidade e verdade. No livro, o autor aponta no
tempo pós-moderno um momento de retorno do trágico na sociedade
contemporânea, marcada agora pelas rupturas, pelos dissensos e por
uma disputa de narrativas e linguagens. Trata-se, na visão de Reis, de
um momento histórico avesso à sensação de linearidade e progresso
contínuo, uma vez que o futuro do mundo é agora o lugar do incerto, do
imprevisível e do incalculável.
Comentário
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Como foi possível observar, os debates sobre tais transformações
sociais, políticas, culturais, econômicas e científicas chegaram aos
estudos históricos brasileiros e passaram a produzir múltiplos debates
metodológico e teóricos. Nas análises dos autores que mobilizamosacima, entende-se que a discussão sobre a era pós-moderna aterrissou
no país de modo contundente, produzindo reflexões internas aos
campos de estudos das Humanidades, principalmente na historiografia.
A partir disso, abre-se uma seara que chamaremos de “historiografia
pós-moderna”, cujas características principais encontram-se na busca
por um afastamento sistemático em relação aos valores da
historiografia do século XIX e da primeira metade do XX. Por isso, saem
de cena os grandes heróis, as histórias nacionais, os “relatos oficiais”,
os “sujeitos-padrão”, a luta de classe, as grandes estruturas sociais, os
discursos hegemônicos e as narrativas dominantes.
Esse abalo sísmico nos modelos historiográficos filosóficos e/ou
positivistas – que se baseavam ora em uma ânsia por verdades
absolutas e explicações generalistas, ora no apego a documentos
oficiais, no relato dos grandes eventos e heróis e na construção de
valores nacionais – poderá ser sentido se analisarmos as produções
historiográficas recentes que se ancoram em novas veredas
metodológicas e em novos objetos de análise.
Atividade discursiva
Discuta qual é o seu posicionamento frente à história. Você opta por
uma visão cientificista, mais vinculada à pós-modernidade, ou por um
olhar mais voltado para a modernidade histórica?
Digite sua resposta aqui
Chave de resposta

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O mais importante é ser coerente: compare seus argumentos com
as bases apresentadas até aqui e saiba que, nesse momento, de
alguma forma, você também está entrando na historiografia.
Vamos fazer um contraponto entre os olhares apresentados e
verificar se isso nos ajuda a entendê-los melhor.
Modernidade x pós-
modernidade histórica
Saiba mais sobre o ofício do historiador e como ele se transformou
entre as noções de modernidade e pós-modernidade.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
“O desenvolvimento de diferentes áreas de estudo e a sofisticação
das pesquisas elaboradas tornam complexa a tarefa de mapear as
diversas tendências históricas que se entrecruzam no país,
marcadas por uma grande variedade e riqueza, desde então. Das
questões femininas e do gênero à masculinidade, da sexualidade às
relações raciais, da história do público ao privado, da ciência à
religiosidade e à magia, da cultura erudita à cultura popular e à
mídia, da história social à história cultural, assistimos a uma
crescente produção acadêmica, criativa, instigante e polêmica, nas
últimas décadas.”
RAGO, M. A “nova” historiografia brasileira. Anos 90. n. 11. jul.
1999, p. 74.
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A historiadora Margareth Rago analisa as transformações no
campo historiográfico brasileiro nas últimas décadas do século XX.
Na visão da autora, há uma mudança significativa na forma de
escrita da história que abarca questões teóricas e metodológicas.
Sobre essas modificações, é possível dizer que
Parabéns! A alternativa D está correta.
Na visão de Rago, as mudanças operadas no interior da
historiografia brasileira são fruto principalmente das
transformações socio-históricas ocorridas no país e no mundo no
A
a despeito da pluralidade de grupos sociais na arena
pública, a historiografia brasileira manteve-se afeita
aos tópicos do positivismo e da história filosófica,
rejeitando o fragmento e a diferença.
B
embora a historiografia brasileira seja porosa às
novas demandas sociais, as fontes, os objetos e as
abordagens permanecem parcialmente iguais às do
período de institucionalização do campo, no final do
século XX.
C
a pressão exercida pelos novos movimentos sociais
que ocuparam o espaço público com mais afinco
nas últimas décadas apagou o rigor científico da
historiografia brasileira, que passou a se apegar à
vulgarização da ideia de “história”.
D
os novos estudos de historiografia brasileira, nas
últimas décadas, foram permeados pelas novas
demandas políticas de grupos que, no passado,
haviam sido alijados do fazer historiográfico e dos
próprios relatos históricos.
E
à luz dos debates pós-modernos, a historiografia
brasileira das últimas décadas promoveu uma
reativação dos princípios positivistas, especialmente
na busca pela verdade factual dos acontecimentos.
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final do século XX, em especial com o desmonte das grandes
ideologias de corte iluminista e as filosofias da história modernas.
Para a autora, portanto, emerge, sobretudo na década de 1990, uma
“nova historiografia” porosa às demandas sociais e aberta à
pluralidade de sujeitos, personagens, objetos e fontes de
conhecimento que configuram a “pós-modernidade”.
Questão 2
A discussão feita por Ciro Flamarion Cardoso em Paradigmas rivais
apresenta a relação política dos olhares históricos. De um lado, a
defesa da modernidade em nome da materialidade; de outro, a
possibilidade de um olhar pós-moderno que valoriza
Parabéns! A alternativa E está correta.
A lógica acerca do significado da verdade na perspectiva pós-
moderna, em detrimento da apuração do real, é um ponto vital
dessa percepção, assim como é, por consequência, a valorização
do discurso.
A a construção de uma unidade nacional.
B a adoção de autores franceses.
C a guerra entre os partidos políticos brasileiros.
D a desvalorização da História como campo de saber.
E
os discursos diversos e a ausência de uma
percepção de verdade absoluta.
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3 - O campo dos estudos históricos pós-modernos
no Brasil
Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar as novas abordagens
pós-modernas na historiogra�a brasileira com foco nos estudos da micro-
história e nas análises sobre gênero/mulheres.
Micro-história
História em migalhas?
A partir da segunda metade do século XX, a historiografia passou a se
preocupar mais com os sujeitos do que apenas com os
“acontecimentos coletivos” e os “eventos grandiosos”. A revalorização
da “primeira pessoa” como ponto de vista, pautando a dimensão
subjetiva da existência histórica, fez com que sujeitos marginais e
cidadão comuns – os quais, ao longo do tempo, foram relativamente
ignorados em outros modos de narração do passado – aparecessem
em textos, livros e artigos do campo da História e das Humanidades em
geral.
No início dos anos 1980, em meio às mudanças na historiografia
ocasionadas especialmente pelo impacto do pós-modernismo, surge, na
Itália, uma abordagem conhecida como micro-história. Articulada
inicialmente pelos italianos:
Edoardo Grendi
1932-1999
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Carlo Ginzburg
1939 - atual
Giovanni Levi
1939 - atual
A micro-história buscou se insurgir contra as totalizações, as
generalizações e os estudos acerca de grandes eventos, personagens e
acontecimentos (comuns principalmente no positivismo, no
historicismo e na história econômica), todos dominantes no século XX.
A ideia dos estudos de micro-história é propor uma:
A redução da escala permitiria que as experiências individuais,
concretas e locais ganhassem relevo e relação aos fenômenos coletivos
e gerais. A partir de um indício, um sujeito, um objeto específico, parte-
se para uma reconstrução do cenário histórico de fundo e,
posteriormente, para uma compreensãomais ampla da sociedade a fim
de captar e perceber aspectos que, de outro modo, passariam
despercebidos.
No livro À beira da falésia: a história entre certezas e inquietudes, o
historiador francês Roger Chartier diz que a micro-história procura:
 Redução de escala de análise
 Descrição da “realidade social”
mais detalhada
 Maior exploração do objeto de
estudo
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Em outros termos, sua abordagem busca, por intermédio dessa redução
da escala de análise, entender a formação de dinâmicas culturais,
simbólicas e sociais mais amplas.
Na visão do também historiador José D’Assunção Barros defendida no
artigo Sobre a feitura da micro-história (2007, p. 171), pode-se
compreender a micro-história a partir de uma metáfora:
“O micro-historiador examina ‘uma gota
d’água para enxergar algo do oceano inteiro”.
Também é por meio da escala micro, assim, que o historiador pode
apreender parcialmente elementos mais amplos da sociedade, da
cultura, da política etc.
Essa renovação só foi possível, é importante ressaltar, graças à
expansão e à difusão da abordagem pós-moderna, a qual, do ponto de
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vista filosófico, pautou a necessidade de desconstrução e relativização
das macronarrativas e das histórias gerais, ampliando as visões
dissidentes, as narrativas plurais, os relatos múltiplos e os novos
sujeitos e objetos que ganharam corpo no espaço público no final do
século XX, especialmente a partir dos anos 1960.
Como veremos a seguir, alguns estudos floresceram na
esteira desse movimento de transformação do método
historiográfico.
The Gardener, obra utilizada na capa de algumas versões de O queijo e os vermes.
Sem dúvidas, o mais impactante entre esses estudos foi O queijo e os
vermes – o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela
Inquisição, de Carlo Ginzburg, publicado pela primeira vez em 1976. No
livro, o historiador italiano analisa a vida do moleiro Domenico
Scandella, conhecido por “Menocchio", que, no século XVI, vivia na aldeia
de Montereale, na Itália.
Menocchio foi condenado pela Inquisição católica sob acusação de
heresia. De origem humilde, o moleiro se alfabetizou e teve contato com
obras do pensamento da época, marcada tanto pela invenção da
imprensa quanto pelas Reformas Protestantes.
Comentário
O que produziu surpresa em Ginzburg, contudo, é que as críticas de
Menocchio ao catolicismo não eram fruto do espírito protestante, e sim
de uma formação intelectual advinda sobretudo da cultura tradicional,
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oral e popular daquele contexto. Nesse estudo de micro-história, um
personagem comum (camponês) toma o centro da narrativa como
elemento central para a compreensão de regras, padrões e brechas
encontradas na Europa no final da Idade Média.
Nos estudos de Natalie Davis, especialmente no livro Nas margens: três
mulheres do século XVII, publicado originalmente em 1995, essa
mudança no paradigma historiográfico ganhou força com o advento da
crítica pós-modernista ao historicismo e às “histórias totais”. Davis
pretendia analisar a realidade de uma época histórica da Europa
moderna a partir das relações sociais e dos significados que os sujeitos
atribuíam à vida em seu próprio tempo.
Para isso, a autora buscou visualizar a história particular de sujeitos
“excluídos” que dificilmente tiveram lugar de destaque nos estudos
históricos ao longo do tempo até aquele momento. No livro, Davis
reconstruiu a experiência de vida de três mulheres do século XVII:
Glikl bas Judah Leib
Judia negociante de Hamburgo, Leib produziu uma narrativa
que mesclava elementos autobiográficos e ensinamentos
religiosos. E foi justamente graças ao universo religioso que ela
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teve acesso à cultura letrada, que a permitiu ter contato com
obras pagãs e produzir textos com ensinamento éticos.
Marie de l'Incarnation
Mística que se tornou ursulina em Tours, na França, Marie
também vivia em meio às ordens religiosas. Aproveitando a
brecha aberta pela Igreja às mulheres devotas, ela redigiu
textos devocionais e de caráter teológico, o que lhe permitia
manter um canal de diálogo “direto” com Deus, sem a
intermediação masculina.
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Maria Sibylla Merian
Segundo Davis (1997, p. 146), “foi uma pioneira: atravessou as
fronteiras da instrução e do sexo para adquirir conhecimentos
sobre insetos e criou as filhas ao mesmo tempo que observava,
pintava e escrevia”.
Nas margens: três mulheres do século XVII mostra que a abordagem da
micro-história individual de três personagens proposta por Davis é capaz
de apreender tanto as limitações impostas às mulheres pela cultura
heteropatriarcal quanto as brechas encontradas por elas no sistema de
dominação masculino. Mais do que isso, é possível perceber, a partir
desse estudo, como se estruturou a sociedade europeia do século XVII
em relação a aspectos:
Sociais
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O livro de Natalie Davis apresenta, portanto, as relações de conflito e
harmonia que elas mantiveram com o mundo em que viveram, sem
reforçar estereótipos e lugares-comuns da narrativa historiográfica.
Essa abordagem se faz presente também no movimento de renovação
da historiografia brasileira, que, a partir de meados dos anos 1980,
possibilitou novos estudos sobre nosso passado nacional.
Um dos primeiros trabalhos de micro-história no Brasil foi produzido por
Laura de Mello e Souza. Trata-se de O diabo e a Terra de Santa Cruz,
publicado em 1986.
Comentário
Nessa obra, a autora estuda a feitiçaria e a religiosidade colonial na
América portuguesa. Recorrendo à análise de casos específicos,
Religiosos
Políticos
Culturais
Econômicos
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especialmente a partir de processos inquisitoriais, Laura buscou
compreender a formação de práticas mágico-religiosas e a religiosidade
popular no território colonial.
Para ela, as religiões comuns no Brasil, como as crenças cristãs,
judaicas, indígenas e africanas, não poderiam ser analisadas, como era
comum à época, de maneira isolada, como elementos particulares e
singulares. Antes disso, as micro-histórias analisadas possibilitavam a
compreensão de que as religiosidades no período colonial brasileira
eram complexas e resultado de entrelaçamentos múltiplos.
Para a chegar a essa conclusão, a historiadora tentou reconstruir o
cotidiano, as práticas e as visões de mundo de homens e mulheres
“comuns”. Foi por meio de uma redução de escala, portanto, que se
conseguiu ampliar o entendimento sobre a formação de aspectos
culturais e sociais da sociedade brasileira.
É possível destacar também Trabalho, lar e botequim: o cotidiano dos
trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Époque (1986), clássico do
historiador Sidney Chalhoub. O livro trata dos costumes e da rotina dos
trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Époque, momento de chegada
dos imigrantes europeus ao país e de construção da liberdade dos
negros no período pós abolição.
Avenida central, Rio de janeiro, Belle Époque.
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Os protagonistas da narrativa são os personagens Zé Galego, Paschoal
e Júlia. O trio discorre sobre como eles viveram suas experiências na
capital da jovem República, a qual, à época, passava por profundas
modificações econômicas, sociais, urbanas e demográficas.
Por meio dessa abordagem micro-histórica, o autor deslindou o
processo de marginalização do negro em detrimento do imigrante,
considerado pela elite branca brasileira mais apto ao trabalho regular. A
obra de Chalhoub chama a atenção também para o desenvolvimento de
normas e regulações produzidas pelos próprios trabalhadores na
operacionalização da convivência, assim como na interação, integração
e adaptação desses homens e mulheres ao mundo do trabalho.
Comentário
Outra reflexão de destaque é Trópico dos pecados – moral, sexualidade e
Inquisição no Brasil, de autoria de Ronaldo Vainfas, publicada em 1989.
No livro, Vainfas analisa as seguintes fontes: arquivos inquisitoriais,
tratados morais, legislações régias e constituições eclesiásticas.
A partir dessa massa documental (e, de maneira específica, do estudo
de alguns casos particulares), o autor conseguiu compreender a
dinâmica maior do projeto colonial português, de caráter moralizante e
conservador, no Brasil. Mas não somente isso:
Vainfas também conseguiu apreender, a partir de
micro-histórias, os contornos específicos da ideologia
dominante, bem como as práticas exercidas pelos
grupos privilegiados com a finalidade de manter a
estrutura de poder social, política, econômica e
cultural.
No ano de 1990, João Fragoso publicou Homens de grossa aventura,
obra na qual o autor opera uma redução drástica da escala de análise de
modo a visualizar o funcionamento do mercado (e de suas formas de
produção) da praça do Rio de Janeiro na virada do século XVIII para o
XIX. O olhar focalizado de Fragoso mostrava que, diferentemente do que
as perspectivas totalizantes propunham, como a ideia de que a
economia brasileira se resumia à “plantation escravista e exportadora”,
existia uma lógica própria no enriquecimento da elite da então cidade
mais importante do espaço colonial.
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Todas essas obras (produzidas dentro dos parâmetros da abordagem
da micro-história) e seus autores redimensionam os objetos de estudo a
fim de reduzir a escala de observação da realidade.
Atenção!
Não se trata, contudo, de produzir “biografias” particulares de
determinados indivíduos, e sim de ver na história desses personagens
traços capazes de facilitar a apreensão de partes e componentes da
vida social e coletiva, tomada não mais como um “todo unitário”.
O estudo das pessoas e dos seus problemas cotidianos, assim como de
suas ações e reações comuns, possibilita ir além das grandes narrativas
totalizantes e das verdades pré-estabelecidas sobre o passado. Com
isso, abre-se espaço não mais apenas para os sujeitos-padrão (os
“grandes personagens”), mas também para aqueles marginalizados e
excluídos.
Regionalismos e o valor do
micro na história brasileira
Conheça agora o valor do micro na história por meio do regionalismo.
Mulheres e gênero
Uma história comprometida
com a luta

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Nas últimas décadas, os debates sobre a presença das mulheres na
historiografia brasileira ganharam fôlego. Se, por muito tempo, os
estudos históricos se voltaram apenas para os chamados “sujeitos
universais” (nomeadamente homens), as discussões sobre o gênero
foram quase sempre marginalizadas e colocadas de lado.
Muito dessa transformação responsável por produzir a inserção das
mulheres na historiografia se deve a diversas disputas e ganhos que
esse grupo obteve no espaço público com a eclosão do movimento
feminista na década de 1970 e sua consolidação definitiva no mercado
de trabalho e nas universidades.
União de mulheres em manifestação na Praça da Sé, em São Paulo, 1983.
Bloco das Mulheres na Luta Contra a Violência do Estado n Dia da Mulher em Belo Horizonte,
2013.
Além disso, foi o próprio alargamento temático, discursivo e
epistemológico da historiografia – mais uma vez na esteira da condição
pós-moderna – que proporcionou a aparição definitiva delas na
historiografia não só como produtoras da história, mas também como
objetos de análise e tema de interesse de pesquisa.
Comentário
No Brasil, um dos primeiros estudos com essa temática foi produzido
por June Hahner. No livro A mulher brasileira e suas lutas sociais e
políticas: 1850-1937, lançado por aqui em 1981, a autora aborda o
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surgimento, no início do século XX, do chamado “movimento feminista
brasileiro” a partir da articulação de mulheres de elite e da criação e
difusão da imprensa.
A principal reflexão do livro, entretanto, encontra-se na introdução. Nela,
sua autora procura responder à seguinte questão:
Por que as mulheres estão ausentes da história
o�cial brasileira?
A resposta é importante, uma vez que levanta aspectos metodológicos,
epistemológicos e teóricos da própria historiografia, segundo a qual a
“história tradicional” foi produzida por homens que, de forma geral,
buscaram reproduzir apenas os acontecimentos ligados às atividades
típicas do seu gênero, como a atividade política, a econômica etc.
Em outros termos, os homens buscavam falar de si próprios, pois era
apenas o universo masculino que historicamente lhes interessava.
Hahner, assim, exerce o importante papel de retirar as mulheres dessa
posição “marginal” à qual elas foram relegadas ao logo do tempo no
interior dos estudos históricos.
Em 1984, dois importantes estudos foram lançados.
De autoria de Maria Odila Leite da Silva Dias, o livro focalizou a
atuação das mulheres pobres ao longo do século XX no Brasil.
Com um trabalho de “resgate histórico” de personagens até
então “esquecidas”, Odila procurou demonstrar que o
apagamento das mulheres era antes uma escolha da
historiografia que o resultado da ausência de fontes e
documentos disponíveis.
De Miriam Moreira Leite, foi outro estudo importante no ano de
1984. Seu texto, como indica o título, aborda os relatos de
viagem que, ao produzir as representações da sociedade
brasileira, acabavam abordando, de maneira especial, a condição
Quotidiano e poder em São Paulo no século XIX 
A condição feminina no Rio de Janeiro, século XIX:
antologia de textos de viajantes estrangeiros 
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feminina à época no tocante a temas, como relacionamentos,
atividades e participação social.
Pouco tempo depois, em 1989, a Revista brasileira de História publicou
um número intitulado “A mulher no espaço público”, que foi organizado
por Maria Stella Martins Bresciani. Na visão da autora, tratava-se de
produzir uma “história da exclusão”.
Para tal, foram utilizadas categorias, como “mulher” e “condição
feminina”.
Embora fosse uma novidade na historiografia
brasileira, o termo “gênero” fazia uma de suas
primeiras aparições nos estudos históricos nacionais.
A consolidação desse debate se deu no ano seguinte, em 1990, com o
artigo Gênero: uma categoria útil de análise histórica, da norte-americana
Joan Scott, traduzido e publicado aqui na revista acadêmica Educação e
realidade. Na visão da autora, as relações entre os sexos “masculino” e
“feminino” são construídas socialmente de modo desigual a partir de
relações de poder estabelecidas historicamente.
Em outros termos, Scott afirma que:
Gênero é um elemento constitutivo
das relações sociais baseadas nas
diferenças percebidas entreos
sexos. E mais: o gênero é uma
forma primeira de dar significado às
relações de poder.
(SCOTT, 1994, p.13)
Foi a partir desse estudo que, no Brasil, abriu-se ainda mais espaço para
a construção de pesquisas históricas sobre a temática das mulheres.
Um clássico dos estudos históricos sobre gênero e mulheres no país é o
livro História das mulheres no Brasil, organizado por Mary del Priore e
publicado em 1997. Trata-se de um estudo das mulheres não somente
em sua inserção política no mundo do trabalho, mas também a partir de
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seu pertencimento familiar, por exemplo, ou de sua representação na
mídia, nos esportes etc.
Abordando questões díspares, como corpo, sexualidade, violência,
loucura, amor, sentimento e relacionamentos, entre outros exemplos, a
obra tensiona a lógica “universalista” que dava centralidade aos homens
na historiografia, pautando sobretudo a importância de se pensar a
categoria gênero como uma forma de compreensão da formação social
brasileira.
Em 2006, o livro História & gênero, de autoria de Andréa Lisly Gonçalves,
trouxe mais elementos para essa discussão. A publicação em si foi um
marco, já que se tratava de uma novidade no tópico história e reflexões,
com publicações relacionadas a temáticas até então canônicas da
historiografia.
Exemplo
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A relação entre história e religião, natureza ou sociologia.
No livro, Lisly trata de aspectos políticos da “militância feminista”, como
a luta pelo abolicionismo e pelo sufrágio universal, além de discutir
algumas das mais importantes postulações teóricas que demarcaram
as diferenças sexuais entre homens e mulheres com o objetivo de
solidificar as identidades coletivas na passagem do século XIX para o
XX. Por fim, a historiadora também indica aspectos metodológicos da
pesquisa em História das mulheres e das relações de gênero, dando um
enfoque especial às fontes que podem ser mobilizadas nesse tipo de
análise.
Exemplo
Biografias, manuais de etiquetas, testamentos, processos, crimes e
dados censitários.
Mais recentemente, o debate se ampliou bastante, a ponto de alguns
autores passarem a produzir textos críticos à manutenção de alguns
critérios restritivos específicos da historiografia. Esse é o caso do artigo
Os sons do silêncio: interpelações feministas decoloniais à história da
historiografia, publicado em 2018, no qual sua autora, Maria da Glória de
Oliveira, questiona a invisibilidade das produções de autoria feminina no
campo específico da história intelectual.
Comentário
Na visão de Oliveira, ao permanecer ancorado em aspectos típicos da
“história oficial” e se concentrar na autoria masculina, branca e europeia,
o modelo de pesquisa histórica vigente no Brasil e em parte do mundo
relegou a autoria feminina a um segundo plano, mantendo-a como o
“outro” silenciado, marginal e periférico. A proposta da historiadora,
portanto, é tensionar esse cânone à luz do marcador de gênero,
mostrando que só será possível produzir outros modelos de história se
houver uma mudança importante nos “autores da história”, abrindo
espaço para figuras que, ao longo do tempo, foram apenas objeto de
estudos, e não sujeitos.
Como pudemos observar, ao menos nas últimas três décadas, a
historiografia brasileira passou a abrigar estudos sobre:
 A condição feminina
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Trata-se de uma mudança paradigmática significativa. Basta, afinal,
observar a configuração própria do campo dos estudos históricos na
modernidade, que está preocupado principalmente com “sujeitos
universais” e grandes heróis – em geral, homens.
Com esse novo repertório crítico, foi possível tensionar essas balizas
rígidas da historiografia brasileira, propondo tanto uma ampliação de
sujeitos e objetos de análise quanto o foco na abertura para aqueles até
então “marginalizados” e “excluídos” da história. É possível dizer,
portanto, que esse movimento foi fruto exatamente do “abalo sísmico”
provocado pela crítica pós-moderna, que se mostrou capaz de
desestabilizar o projeto moderno e, por conseguinte, seus pressupostos
básicos.
História de gênero e seu valor
na sociedade brasileira
Veja agora alguns exemplos do conteúdo apresentado neste módulo.
 O papel das mulheres
 As relações de gênero que
con�guraram a formação do país

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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
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Questão 1
“Pós-modernidade" é um termo que procura dar conta de um
período histórico de amplas transformações sociais, políticas,
culturais e econômicas ao redor do mundo. Tais mudanças também
tiveram impactos decisivos, como não poderia deixar de ser, no
campo científico, nas pesquisas universitárias e, mais
especificamente, nos estudos de Humanidades. Se existe um novo
mundo, então é preciso lançar sobre ele um novo olhar, com novas
ferramentas de sondagem.
Sobre a ampliação da noção de sujeito e objeto nos debates da
historiografia brasileira na reta final do século XX, é possível afirmar
que
A
tratou-se de um movimento eminentemente político
gestado na atuação de partidos, sindicatos e
movimentos sociais que só posteriormente produziu
um impacto irrisório no cânone historiográfico.
B
embora as agendas sociais tenham sido
importantes, a inclusão de mulheres, negros e
outras minorias políticas nos relatos históricos foi
um movimento exclusivo do campo historiográfico
acadêmico, que há tempos tenta fechar-se às
flutuações e às influências externas à universidade.
C
foi fruto mais da falência das narrativas das
filosofias da história do Iluminismo, o que por si só
acarretou a desagregação dos métodos tradicionais
da historiografia, sem haver uma participação ativa
da comunidade de historiadores.
D
não se tratou propriamente de uma ampliação,
tendo em vista a presença constante de negros,
mulheres e outras minorias políticas nos relatos
historiográficos desde ao menos a Idade Média.
trata-se do resultado da conjunção entre uma
atuação política de movimentos sociais, que
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Parabéns! A alternativa E está correta.
A recepção do repertório crítico dos estudos pós-modernos no país
proporcionou a ruptura de balizas rígidas da historiografia brasileira,
propondo uma ampliação de sujeitos e objetos de análise e focando
uma abertura para aqueles até então “marginalizados” e “excluídos”
da história. Por conta disso, mulheres, negros e outras minorias
políticas foram incluídas não somente nos relatos, mas também
como sujeitos da própria história.
Questão 2
Ao longo do século XIX e na primeira metade do XX, tanto os
estudos oitocentistas quanto os estudos históricos de historiografia
brasileira que abordaram o problema do “gênero” e da condição das
mulheres na nossa formação social foram produzidos por homens
ligados às elites intelectuais nacionais. Nessas produções
historiográficas, a ideia de “mulher” apresentava-se
E
propuseram novas agendas de pesquisa, e as
inovações do próprio campo historiográfico,
sobretudo o tensionamento das premissas
modernas que enrijeciam a escrita da história.
A
como questão central para a compreensão do
Brasil, estando acima de aspectos outros, como
território,cultura etc.
B
como elemento secundário da vida social brasileira;
por isso, dificilmente aparecia nos livros da época.
C
como parte dispensável da formação social do país,
embora aparecesse, em algumas narrativas, como
elemento implícito de questões mais amplas, como
nacionalidade etc.
D
como fator único de explicação das condições de
formação do povo e do território brasileiros.
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Parabéns! A alternativa C está correta.
Nos tradicionais estudos de historiografia brasileira dos séculos XIX
e XX, a noção de gênero/mulher aparece como um elemento lateral
e secundário da formação da nação.
Considerações �nais
Neste material, procuramos, em primeiro lugar, discutir e analisar as
semânticas dos termos “pós-modernidade” e “pós-modernismo”,
contrapondo-os à própria noção de “modernidade”. Como vimos, as
ideias e as percepções do paradigma moderno, erigidas entre os
séculos XVI e XIX, foram aos poucos desmanteladas a partir da primeira
metade do século XX – especialmente por conta dos eventos
catastróficos, traumáticos e violentos que se desenharam à época.
No paradigma pós-moderno e nas expressões pós-modernistas, abrem-
se novas possibilidades de visão de mundo mais plurais, heterogêneas e
múltiplas, havendo espaço para o dissenso, o fragmento e a diferença.
Saíam de cena, como frisamos, as metanarrativas totalizantes que
operavam com discursos homogeneizadores e capazes de produzir
“imagens” sociais muito rígidas.
Os impactos desse consciência histórica pós-moderna na historiografia
brasileira foram bastante relevantes. Como identificamos, nos últimos
anos, os estudos históricos no país deslocaram-se da pretensão
científica positivista e historicista, fruto ainda de um “projeto moderno”,
para abordagens que, a partir de um novo referencial teórico-
metodológico, buscavam dar voz a novos atores, sujeitos e objetos,
como as questões raciais, étnicas e de gênero.
E
como critério exclusivo de compreensão da
nacionalidade brasileira e, por conseguinte, dos
conflitos que nos assolam como país.
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Podcast
Para encerrar, ouça um resumo dos aspectos mais relevantes deste
conteúdo.
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Confira as indicações que separamos especialmente para você!
Leia os livros História e pós-modernidade, de José d'Assunção Barros, e
A história em migalhas: dos Annales à Nova história, de François Dosse.
Consulte a pesquisa recente de Beatriz do Nascimento Prechet
intitulada Enegrecendo o meretrício: experiências da prostituição
feminina no Rio de Janeiro (1871-1909). Nela, Prechet analisa a história
do Brasil na 1ª República à luz de questões de raça e gênero e a partir de
uma sondagem da história social com elementos de micro-história.
Ouça o podcast A mulher da casa abandonada, que narra a história do
crime de escravidão cometido por um casal de brasileiros nos EUA entre
o ano de 1979 e o final da década de 1990, disponível na Folha de São
Paulo. Com o relato “particular” e “micro-histórico”, é possível perceber
elementos importante da história das elites brasileiras.
Conheça o site Humanas em rede, criado por pesquisadoras que
buscam ampliar a participação das mulheres nas ciências brasileiras.
Leia a entrevista com a historiadora Maria da Glória Oliveira, na qual são
abordados assuntos pertinentes à naturalização do fazer historiográfico
como um empreendimento universal, objetivo, neutro e científico.
Atente-se à crítica que a autora produz a partir da categoria “gênero” a
fim de tensionar o cânone dos estudos históricos no Brasil.
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Assista à Entrevista com Maria da Glória Oliveira, de CAIXETA, L. J.;
CALDEIRA, H. R. (Org.), na revista Temporalidades. v. 11. n. set./dez.
2019.
Ouça no Spotify o podcast História preta, produção
narrativa/documental sobre a memória histórica da população negra no
Brasil e no mundo que dá voz a sujeitos que foram “marginalizados” ao
longo do tempo.
Referências
BARROS, J. D. Sobre a feitura da micro-história. Opsis. v. 7. n. 9. 2007. p.
167-186.
BAUMAN, Z. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editora, 1998.
CHARTIER, R. A história hoje: dúvidas, desafios, proposta. Estudos
históricos. v. 7. n. 13. 1994. p. 97-113.
DAVIS, N. Nas margens: três mulheres do século XVII. São Paulo:
Companhia das Letras, 1997.
GUMBRECHT, H. U. Nosso amplo presente: o tempo e a cultura
contemporânea. São Paulo: Unesp, 2015.
GUMBRECHT, H. U. Modernização dos sentidos. São Paulo: 34, 1998.
HARTOG, F. Regimes de historicidade: presentismo e experiências do
tempo. São Paulo: Autêntica, 2013.
HUYSSEN, A. After the great divide: modernism, mass culture and post-
modernism. London: Macmillan, 1986.
KOSELLECK, R. Futuro passado. v. 25. Rio de Janeiro: Contraponto,
2006.
LYOTARD, J. A condição pós-moderna. 8. ed. São Paulo: Jose Olympio,
2004.
MAFFESOLI, M. Elogio da razão sensível. Petrópolis: Vozes, 2001.
NOIRIEL, G. Naissance du métier d’historien. Genèses. n. 1. set. 1990.
RAGO, M. A “nova” historiografia brasileira. Anos 90. n. 11. jul. 1999. p.
74.
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SCOTT, J. Prefácio a “Gender and politics of history”. Cadernos Pagu. n.
3. 1994. p. 11-27.
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