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2 O IHGB e o projeto de uma história nacional

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22/04/2024, 14:48 O IHGB e o projeto de uma história nacional
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O IHGB e o projeto de uma história nacional
Prof. Rodrigo Perez
Descrição
O propósito da construção de um discurso de história nacional durante
o período pós-independência.
Propósito
O conhecimento produzido pelo Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro (IHGB) ao longo do século XIX é baseado em uma retórica da
nacionalidade que traduzia interesses específicos nas disputas políticas
pelo controle do Estado nacional brasileiro.
Objetivos
Módulo 1
Relatos de conquistadores e
colonizadores
Analisar o processo histórico de fundação do IHGB, com destaque
para os interesses políticos envolvidos.
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Módulo 2
As primeiras escolhas político-
historiográ�cas do IHGB
Interpretar os textos produzidos nos primeiros anos de atuação do
IHGB para a compreensão das primeiras escolhas do instituto.
Módulo 3
A trajetória político-intelectual de
Visconde de Porto Seguro
Analisar a trajetória do Visconde de Porto Seguro, o mais
emblemático entre os historiadores vinculados ao IHGB.
Módulo 4
Os impactos da Proclamação da
República no IHGB
Identificar os impactos da Proclamação da República no IHGB.
Introdução
A história das nações é marcada pelos esforços políticos de
invenção das identidades nacionais. Isso mesmo: “invenção”,
pois o termo é exatamente esse.

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As identidades não nascem naturalmente por geração
espontânea. Isso é sempre resultado de esforços articulados por
aqueles que detêm poder para produzir símbolos e narrativas
públicas que tentam convencer pessoas de que existe algo em
comum entre elas.
Nenhum Estado-nação consegue afirmar sua soberania em
determinado território sem ser aceito simbolicamente pela
população que ali reside. É nesse sentido que a identidade
nacional é estratégica para todo e qualquer aparelho institucional
de poder que pretenda ser tratado pelo mundo como um Estado
nacional.
Neste conteúdo, abordaremos especificamente os esforços
empreendidos ao longo do século XIX para a produção de uma
história oficial para a jovem nação brasileira com o objetivo direto
de inventar um passado em comum capaz de convencer os
“brasileiros” de que eles eram “brasileiros” – ou que deveriam sê-
lo.
Fundado em 1838, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
(IHGB) foi o órgão de Estado responsável por produzir essa
retórica da nacionalidade, quando a nação brasileira era jovem e
ainda tropeçava em guerras civis, o que colocava a própria
existência do Estado nacional em risco. Nosso objetivo aqui é
estudar a história do IHGB ao longo do século XIX, delineando
seus conceitos norteadores e sua colaboração para a formação
de uma imaginação histórica nacional.
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1 - Relatos de conquistadores e colonizadores
Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar o processo histórico
de fundação do IHGB, com destaque para os interesses políticos
envolvidos.
O início
Em março de 1839, Januário da Cunha Barbosa, importante liderança
política brasileira da época, discursou na inauguração do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). Fundado oficialmente em
outubro de 1838 a partir da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional
(SAIN), o IHGB se inspirava em institutos históricos que existiam em
diversos países do mundo, e o instituto de Paris era a principal
referência.
A fundação do IHGB precisa ser inserida no contexto da independência
política e institucional do Brasil. No imaginário nacional, já está
consolidada a memória que define o 7 de setembro de 1822 como o
momento da independência do Brasil. Porém, se tratarmos o assunto
com maior rigor analítico, perceberemos que a realidade foi bem mais
complexa.
No ano de 1808, em virtude das guerras europeias provocadas pela
expansão do império napoleônico, o Estado português se transferiu para
a sua colônia americana.
Isso provocou transformações estruturais no equilíbrio de forças interno
ao Império Português.
Uma série de transformações jurídicas conferiu maior autonomia à
colônia, que, em, 1815 foi elevada à posição de Reino Unido.
Legalmente, foi nesse momento que o Brasil deixou de ser colônia.
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Embarque da família real portuguesa.
A total independência, entretanto, ainda não era possibilidade
consistente. As elites coloniais mais poderosas (de Rio de Janeiro, São
Paulo e Minas Gerais) preferiam manter as relações com Portugal,
reivindicando o legado europeu e usando os vínculos com a metrópole
como garantia de estabilidade política, administrativa e institucional. A
condição da harmonia era a manutenção da autonomia conquistada
com a chegada da corte.
Ilustração da Revolução do Porto.
Em 1820, a Revolução do Porto colocou em risco o projeto do Reino
Unido. As elites portuguesas se rebelaram e passaram a demandar o
retorno imediato do aparato administrativo metropolitano para a Europa.
O rei d. João VI retornou a Portugal no início de 1821, deixando Pedro,
seu filho mais velho, como regente do Brasil.
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A partir de então, radicalizaram-se os conflitos entre as “elites
brasileiras” (as que tinham origem no Rio de Janeiro, em São Paulo e em
Minas Gerais) e as portuguesas.
O príncipe Pedro se tornou objeto de
disputas, e o Dia do Fico, em 7 de janeiro de
1822, sinalizava seu alinhamento com os
brasileiros.
A independência definitiva já era agenda política possível, o que foi
alegorizado por uma certa modalidade de escrita da história que
começava a se formar no período. Intelectuais e lideranças políticas,
como José Bonifácio de Andrada e Silva e Visconde de Cairu,
começaram a escrever a história do Brasil fora da ideia de continuidade
com o Império Português, configurando aquilo que podemos chamar de
uma “historiografia insubmissa”.
Em setembro de 1822, aconteceu, sob a liderança simbólica de Pedro e
o apoio político das elites fluminense, mineira e paulista, a ruptura
formal entre Brasil e Portugal. A independência, contudo, não significou
a estabilização dos conflitos.
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Caricatura de José Bonifácio, por Angelo Agostini.
Ainda era bastante forte a influência portuguesa no Brasil, o que fez com
que o risco da recolonização continuasse a existir, colocando as elites
brasileiras em constante estado de alerta. Rapidamente, formavam-se
ao redor do imperador dois grupos políticos rivais, que passaram a ser
chamados de:

“Partido Português”

“Patido Brasileiro”
Os conflitos entre brasileiros e portugueses assumiram diversos
formatos, desde verdadeiras batalhas campais, como a famosa “noite
das garrafadas”, em 15 de março de 1831, até vigorosas disputas
político-institucionais, como aquelas que envolveram o projeto
constituinte de 1823 e a Constituição outorgada de 1824. Com o tempo,
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D. Pedro I foi se inclinando para o lado dos seus conterrâneos, o que
provocou seu divórcio político com as mesmas elites que tinham lhe
apoiado nos conflitoscom as cortes portuguesas.
Enquanto isso, eclodiam nas províncias do Norte e do Sul rebeliões que
contestavam a autoridade do imperador. Diante de uma grave crise
política, D. Pedro I abdicou ao trono em 7 de abril de 1831.
Como seu filho era criança, a Constituição determinava a organização
de regências (governos eleitos e provisórios) para administrar o país até
a maioridade do herdeiro do trono.
D. Pedro I entrega sua carta de abdicação ao Major Frias.
Começava, assim, o período das regências, um dos mais conflituosos
de toda a história do Brasil e marcado por constante movimentação
militar. Entre 1835 e 1838, várias províncias se rebelaram, algumas com
intenções separatistas, reivindicando independência em relação à
monarquia centralizada no Rio de Janeiro.
Nessa conjuntura, a própria existência do Estado nacional brasileiro
estava em perigo. Foi aí que passou a ganhar força dentro da SAIN,
fundada em 1827, a ideia de criar um instituto destinado aos estudos
históricos e vinculado institucionalmente ao Estado monárquico. A
própria SAIN era uma organização considerada estratégica para a
consolidação da independência do Brasil, já que pretendia fortalecer a
economia nacional por meio da industrialização e da urbanização.
O IHGB
Como já sabemos, no final de 1838, a criação do IHGB foi formalizada. O
instituto foi inaugurado no início do ano seguinte.
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Segundo o historiador Manoel Salgado, o IHGB marcou o início da
produção historiográfica sistematizada institucionalmente no Brasil. No
entanto, isso não significa que, antes de 1838, não se escrevesse a
história do país, e sim que o instituto conferia ao ato certo um grau de
organização institucional até então inédito.
Ao tratar o IHGB como o berço institucional da historiografia brasileira,
verificam-se certas particularidades que chamam a atenção na
comparação entre o instituto e as universidades europeias.
[...] deste lado do Atlântico outro
será o espaço de produção
historiográfica. Não o espaço sujeito
à competição acadêmica própria
das universidades europeias, mas o
espaço da academia de escolhidos
e eleitos a partir de relações sociais,
nos moldes das academias
ilustradas que conheceram seu
auge na Europa nos fins do século
XVII e no século XVIII. O lugar
privilegiado da produção
historiográfica no Brasil
permanecerá até um período
bastante avançado do século XIX
vincado por uma profunda marca
elitista, herdeira muito próxima de
uma tradição iluminista.
(GUIMARÃES, 1988, p. 5)
No modelo moderno criado na Europa na transição do século XVIII para
o XIX, a universidade surge como espaço marcado pela ideia de
conhecimento especializado. Ao menos em tese, isso significa que as
relações estabelecidas no espaço acadêmico são estritamente
profissionais e reguladas pelo critério da competência técnica.
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O ingresso na comunidade acadêmica, assim, se daria
pela seleção, com base na comprovação de
experiência em estudos especializados. O
funcionamento institucional do IHGB, porém, se dava
por valores e normas completamente distintas.
Como mostra a pesquisa de Manoel Salgado, os sócios do IHGB não
precisavam comprovar produção intelectual especializada nas áreas de
interesse do instituto. Tampouco se esperava deles algum coeficiente de
produtividade para que eles continuassem como membros da
associação.
Todo o processo de recrutamento dos novos sócios seguia a lógica dos
vínculos sociais característicos de uma sociedade de corte. O ingresso
no IHGB, assim, se dava mais pela dimensão simbólica da posição e
pelos valores da nobreza brasileira do que pelo eventual apreço dos
letrados pelos estudos históricos e geográficos.
Atenção!
Esse processo não significa que os sócios do IHGB não levavam a sério
o empreendimento adotado como missão, ou seja, a escrita de uma
história nacional e a produção cartográfica capaz de definir dos limites
fronteiriços do país.
Nesse sentido, podemos inventariar da seguinte forma os propósitos do
IHGB ao longo do século XIX:
 Primeiro propósito
Reunir e organizar as fontes de interesses para a
história do Brasil. Nos primeiros textos, os
membros do instituto afirmavam que essa era a
primeira missão, sendo a efetiva escrita da “história
l d B il” l j t d f t A
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Nas palavras de Manoel Salgado:
geral do Brasil” algo projetado para o futuro. A
operação historiográfica, portanto, estava
condicionada ao trabalho de pesquisa nas fontes, o
que sugere que os valores metodológicos que
inspiravam a fundação da ciência histórica na
Europa também serviam de inspiração para os
letrados reunidos no IHGB.
 Segundo propósito
O fato de a história ser escrita deveria trazer à luz o
processo de formação da nação, que, tendo uma
gênese longeva, chegaria até o presente. As elites
deveriam ser educadas nas lições aprendidas com
o estudo dessa história a fim de que pudessem
traduzi-las ao “povo”. Tratava-se, portanto, de
primeiramente educar as elites na imagem de um
passado nacional homogêneo, algo politicamente
importante no momento que parte delas se
rebelava contra a estrutura de poder centralizada no
Rio de Janeiro.
 Terceiro propósito
A “história geral do Brasil” a ser escrita deveria, de
alguma forma, reivindicar o legado português. Ao
IHGB, então, colocava-se a sensível tarefa de
encontrar o equilíbrio entre a ruptura política e a
herança simbólica. Ao mesmo tempo que
pretendiam fazer do Brasil uma nação
independente e um Estado soberano, as elites
dirigentes reivindicavam a filiação com Portugal e a
posição de “civilização tropical”.
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Num processo muito próprio ao
caso brasileiro, a construção da
ideia de nação não se assenta sobre
uma oposição à antiga metrópole
portuguesa; muito ao contrário, a
nova nação brasileira se reconhece
enquanto continuadora de uma
certa tarefa civilizadora iniciada pela
colonização portuguesa.
(GUIMARÃES, 1988, p. 6)
Todos esses objetivos inspiravam o trabalho de vários letrados, os
quais, na posição de sócios do IHGB, se dedicavam aos estudos
históricos. Alguns viajaram o Brasil e o mundo na busca de documentos
e informações. Não raro, eles eram financiados pelo Estado monárquico.
Como demonstra o historiador Temístocles Cezar, a combinação entre
valores antigos e modernos orientava o trabalho desses homens. Eles
estavam convencidos de que precisavam fundamentar suas pesquisas
em fontes, aderindo, desse modo, a valores metodológicos, que, na
época, eram definidos como o fundamento da ciência histórica.
Porém, ao mesmo tempo, esses letrados afirmavam que o
conhecimento histórico tinha a função de inspirar atos virtuosos à luz de
bons exemplos passados. Trata-se de um valor muito antigo que nos
remete ao filósofo romano Cícero, que, no século 1 d.C., disse que a
“história é mestra da vida”.
Comentário
No próximo módulo, nos dedicaremos à análise das fontes primárias
produzidas pelo IHGB em seus primeiros anos de atuação.
Atividade discursiva

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O período compreendido entre 1820 e 1822 marcou a formação de uma
nova forma de escrever a história da América Portuguesa. Discuta essa
afirmação.
Digite sua resposta aqui
Chave de resposta
Você precisa saber que foi nesse período que a ruptura definitiva
entre Brasil e Portugal se tornou uma possibilidademais concreta,
o que deu origem a uma historiografia que passou a narrar a
história de nosso país como algo independente da história
portuguesa.
O nascimento do IHGB
Neste vídeo, o professor Rodrigo Perez recupera as principais ideias
discutidas até aqui.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
A fundação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB)
precisa ser inserida na história da independência política e
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institucional do Brasil. Assinale a alternativa que complementa essa
afirmação da melhor forma.
Parabéns! A alternativa C está correta.
O IHGB fez parte dos esforços de construção da identidade
nacional que marcaram a história brasileira ao longo do século XIX.
Questão 2
Diferentemente do que aconteceu na Europa, no Brasil, a
organização institucional da produção historiográfica não se deu
nas universidades, e sim no IHGB. Aponte a alternativa que
complementa essa afirmação da melhor maneira.
A
A fundação do IHGB precisa ser inserida na
independência política e institucional do Brasil, já
que o instituto defendeu a organização do país no
formato republicano.
B
A fundação do IHGB precisa ser inserida na
independência política e institucional do Brasil, pois
o instituto defendeu a abolição do trabalho escravo.
C
A fundação do IHGB precisa ser inserida na
independência política e institucional do país,
porque o instituto tomou como objetivo a produção
da identidade nacional.
D
A fundação do IHGB precisa ser inserida na
independência política e institucional do Brasil, uma
vez que o instituto defendeu fragmentação político-
administrativa do país.
E
A fundação do IHGB precisa ser inserida na
independência política e institucional do país, já que
o instituto defendeu o alinhamento diplomático do
Brasil com os EUA.
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Parabéns! A alternativa B está correta.
No IHGB, a produção historiográfica não atendia aos critérios
metodológicos e impessoais que então regiam as universidades, e
sim às necessidades da sociabilidade de corte.
A
Nas universidades, a produção historiografia é
regida pelos valores aristocráticos do Antigo
Regime, enquanto no IHGB os valores modernos e
científicos já eram vigentes.
B
Nas universidades, a produção historiografia é
regida por valores modernos e científicos, enquanto
no IHGB os valores aristocráticos ainda eram
vigentes.
C
Tanto no IHGB quanto nas universidades, eram
vigentes os valores aristocráticos, o que fazia com
que as práticas de recrutamento fossem reguladas
pelos vínculos de sociabilidade típicos de uma
sociedade de Antigo Regime.
D
Tanto no IHGB como nas universidades, eram
vigentes os valores científicos, o que fazia com que
as práticas de recrutamento fossem reguladas pelo
critério da competência técnica.
E
No IHGB e nas universidades, observava-se a
combinação dos dois valores, com o recrutamento
sendo feito tanto com base no critério da
competência técnica como no da sociabilidade
aristocrática.
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2 - As primeiras escolhas político-
historiográ�cas do IHGB
Ao �nal deste módulo, você será capaz de interpretar os textos
produzidos nos primeiros anos de atuação do IHGB para a
compreensão das primeiras escolhas do instituto.
Aquecendo
Vamos começar com uma reflexão? Faça a atividade discursiva a seguir.
Atividade discursiva
Os letrados que se empenharam nos trabalhos empreendidos pelo IHGB
eram orientados tanto por valores modernos como por valores antigos.
Discuta essa afirmação.
Digite sua resposta aqui
Chave de resposta

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Você tem de saber que os letrados associados ao IHGB tomavam
a pesquisa nas fontes como premissa indispensável para a
produção do conhecimento histórico. Eles também afirmavam a
história como “mestra da vida”, evocando, assim, a máxima
ciceroneana.
Agora que estamos devidamente provocados, vamos pensar sobre o
momento e as escolhas.
Não se compadecia, já com o gênio
brasileiro, sempre zeloso da glória
da pátria, deixar por mais tempo em
esquecimento os factos notáveis da
sua história, acontecidos em
diversos pontos do Império, sem
dúvida ainda não bem designados.
Eis o motivo, senhores, porque dois
membros do conselho da Sociedade
Auxiliadora da Indústria Nacional, e
também sócios do Instituto
Histórico de Paris, participando dos
generosos sentimentos dos nossos
literatos, se animaram a propor a
fundação de um Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, que, sob os
auspícios de tão útil quanto
responsável sociedade curasse de
reunir e organizar os elementos para
a história e geografia do Brasil,
espalhados por suas províncias, e
por isso mesmo difíceis de se colher
por qualquer patriota que tentasse
escrever exatamente tão desejada
história.
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(BARBOSA, 2010, p. 21-22)
Com essas palavras, Januário da Cunha Barbosa iniciou seu discurso na
cerimônia de inauguração do IHGB. O primeiro secretário-geral do
instituto considerava a escrita da “história geral do Brasil” não apenas
um empreendimento intelectual como se ela fosse uma questão
meramente científica. Tratava-se, antes de qualquer coisa, de ato
patriótico em defesa da nacionalidade brasileira.
A tarefa tornava-se ainda mais urgente devido a “erros e inexatidões”
que marcariam os esforços anteriores de escrita da história nacional.
Até então, segundo Barbosa, os brasileiros não teriam dado a devida
atenção para o ato de historicizar o Brasil; por isso, fazia-se necessária a
coordenação institucional desses trabalhos.
As escolhas
Chama atenção também no discurso de Barbosa a necessidade de
reunir os “elementos para a história do Brasil” que estariam “dispersos”
pelo território nacional. Fica claro como o centralismo monárquico não
se resumia ao aspecto administrativo, com a concentração dos
aparelhos de poder do Estado nacional no Rio de Janeiro, mas também
ao aspecto historiográfico, com a reunião na corte das condições
objetivas para a escrita da história nacional.
Mas qual seria a mais importante função dessa história que deveria ser
escrita nos quadros do IHGB?
O próprio Januário da Cunha Barbosa diz algo a esse respeito.
Basta atendermos ao que diz Cícero
sobre a história, para conheceremos
logo as vantagens que se devem
esperar de um instituto que dela
particularmente se ocupe, e
composto de homens os mais
conspícuos por suas letras e por
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suas virtudes. – A historia (escreve
aquele filósofo romano) he a
testemunha dos tempos, a luz da
verdade e a escola da vida. – Por
esta judiciosa doutrina bem
facilmente se conhece quão
profícua deve ser a nossa
associação, encarregada, como em
outras nações, de eternizar pela
história os factos memoráveis da
pátria, salvando-os da voragem dos
tempos, e desembaraçando-os das
expressas nuvens que não poucas
vezes lhes aglomeram a
parcialidade, o espírito de partidos, e
até mesmo a ignorância.
(BARBOSA, 2010, p. 22)
O secretário-geral do instituto evoca a autoridade do orador romano
Cícero, um dos principais nomes dasletras ocidentais, formulador do
mais importante topos da cultura historiográfica pré-moderna: aquele
que define a história como “mestra da vida”, sugerindo que os estudos
históricos possuem utilidade prática no presente. Estudar história seria
fundamental, porque ofereceria aos contemporâneos exemplos
virtuosos a serem imitados.
Para Barbosa, qual seria a função do IHGB?
A função do IHGB seria coordenar institucionalmente a produção
dessa história “útil”, sendo capaz de apresentar aos brasileiros o
inventário de grandiosos feitos da pátria a fim de criar a tão
necessária homogeneidade em tempos nos quais o país estava
atravessado por conflitos armados. Os primeiros que deveriam
ser formados nessa “história pragmática” seriam as elites do
país, especialmente aquelas que estavam conflagradas em
armas contra a monarquia centralizada no Rio de Janeiro.
Resposta 
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Já sabemos que, em seus primeiros anos de existência, o IHGB projetou
para o futuro a produção da “história geral da civilização brasileira” por
considerar que as condições ainda não eram favoráveis, especialmente
no que se referia à devida organização e à disponibilização das fontes.
Isso não significa, porém, que o instituto tenha deixado de delinear as
diretrizes que deveriam orientar essa operação historiográfica.
Para isso, o IHGB lançou um edital de concurso em 1841 com o objetivo
de escolher um projeto de escrita para a história do Brasil. Houve dois
candidatos:
Karl von Martius
Um botânico alemão,
que apresentou o
projeto Como se deve
escrever a história do
Brasil. Ele se sagrou
vencedor.
Henrique Julio de
Wallenstein
Um aristocrata paulista,
que apresentou o
projeto Memória sobre o
melhor plano de se
escrever a história
antiga e moderna do
Brasil. Foi derrotado.
É importante analisar os dois textos e o parecer final do concurso para
entender melhor os valores que orientavam o IHGB nos seus primeiros
anos de existência. O tom prescritivo marca o texto de Martius.
Qualquer que se encarregar de
escrever a história do Brasil, país
que tanto promete, jamais deverá
perder de vista quais os elementos
que aí concorrerão para o
desenvolvimento do homem. São
porém estes elementos de natureza
muito diversa, tendo para a
formação do homem convergido de
um modo particular três raças, a
saber: a de cor de cobre ou
americana, a branca ou caucasiana,

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e enfim a preta ou ethiopica. Do
encontro, da mescla, das relações
mútuas e mudanças dessas três
raças, formou-se a atual população,
cuja história por isso mesmo tem
um cunho muito particular.
(MARTIUS, 2010, p. 63-64)
O autor formulou o que julgava ser o princípio filosófico elementar e
intrínseco à história do Brasil: a vocação para a mistura harmônica entre
as raças que constituem a nação, brancos, negros e indígenas. Os
termos usados pelo autor para definir a dinâmica dessa “mescla” são
bem sintomáticos dos interesses políticos que pautavam o IHGB.
“Encontro” e “relações mútuas” são palavras
que sugeriam que a formação do Brasil teria
se dado de modo pací�co, isto é, sem
violências.
O projeto
O interesse de Karl von Martius, como já sabemos, era pintar o quadro
de um passado em comum capaz de pacificar o país por meio da
invenção de uma identidade nacional homogênea. A “mescla”,
entretanto, pressupunha a existência de uma hierarquia entre as raças
constitutivas da nacionalidade brasileira.
Ao tratar disso, Martius utilizou a metáfora do rio e de seus afluentes. A
raça “branca ou caucasiana” seria o “caudaloso rio”; as raças
“ameríndias” e “ethiopicas” (indígena e negra, respectivamente), os
confluentes a desaguar no tronco principal do rio. A defesa da
miscigenação significava o projeto de embranquecer o país sob a tutela
da herança branca e europeia, sendo capaz, assim, de diluir os efeitos
deletérios das “raças inferiores”.
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O autor discutiu cada uma dessas três raças, propondo como elas
deveriam ser tratadas por aqueles que se dedicassem à escrita da
história brasileira. Os portugueses são mobilizados como a matriz da
história nacional, pois, nas palavras de Martius, o historiador do Brasil
teria de “mostrar como aí se estabeleceram e desenvolveram as
ciências e as artes como o reflexo da vida europeia” (MARTIUS, 2010, p.
78).
Como já vimos na seção anterior, a partir da análise desenvolvida por
Manoel Salgado, verifica-se que o IHGB não pretendia estabelecer uma
ruptura simbólica e cultura com Portugal. Muito pelo contrário: o
interesse do instituto era reivindicar para o Brasil a condição de herdeiro
do empreendimento colonial português nos trópicos. Por conta disso, o
tom usado para definir o colonizador era o mais apologético possível.
Com essa observação quero indicar
que o período de descoberta e
colonização primitiva do Brasil não
pode ser compreendido senão em
seu nexo com as façanhas
marítimas, comerciais e guerreiras
dos portugueses, que de modo
algum pode ser considerado como
fato isolado na história desse povo
ativo, e que sua importância e
relações com o resto da Europa está
na mesma linha com as empresas
dos portugueses.
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(MARTIUS, 2010, p. 74)
Na origem do Brasil, estariam a grandeza portuguesa e o
empreendimento da antiga metrópole na expansão marítima e
comercial. Na prescrição que Martius elabora para o “futuro historiador
pragmático do Brasil”, tal metrópole se via representada como portadora
de um espírito aventureiro e desbravador que deveria inspirar a
nacionalidade brasileira. Para o indígena, chamado por ele de
“autóctone”, o autor também reservava um lugar grandioso na
genealogia da pátria.
Que povos eram aqueles que os
portugueses acharam na terra de
Santa Cruz, quando estes
aproveitaram e estenderam a
descoberta de Cabral? D’onde
vieram eles? Quais as causas que
os reduziram a esta dissolução
moral e civil, que neles não
reconhecemos senão ruinas de
povos? A resposta a esta e outras
muitas perguntas semelhantes deve
indubitavelmente preceder ao
desenvolvimento de relações
posteriores. Só depois de haver
estabelecido um juízo certo sobre a
natureza primitiva dos autóctones
brasileiros, poder-se-á continua a
mostrar, como se formou o seu
estado moral e físico por suas
relações com os emigrantes; em
que estes influíram por leis e
comércio, e comunicação, sobre os
índios; e qual a parte que toca aos
boçais filhos da terra no
desenvolvimento das relações
sociais dos portugueses emigrados.
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(MARTIUS, 2010, p. 67, grifos do autor)
Mirando o caso dos impérios indígenas pré-colombianos (maia, asteca e
inca), Martius projetava para o passado a exigência de uma sociedade
complexa e desenvolvida – segundo os padrões europeus de
desenvolvimento associados à centralização político-administrativa e à
existência de grandes cidades – no território que viria a ser o Brasil.
Apesar de reconhecer a inexistência de vestígios arqueológicos que
sugerissem essa realidade, o autor insistia que “as circunstâncias,
porém, de não se terem achado ainda semelhantes construções no
Brasil certamente não basta para duvidar que também nesse país
reinara em tempos muito remotos uma civilização superior” (MARTIUS,
2010, p. 71).
Veja a seguir a opinião de Martius sobre a relevância dos indígenas e
africanos para a história:
Os indígenas
A formulaçãodessa teoria tem um certo tom quixotesco, deixando claro
como também era importante justificar a grandeza do Brasil a partir de
uma ancestralidade indígena considerada grandiosa. Por conta disso, o
perfil de comunidades nativas com organização tribal não atendia a tal
desejo, o que fez com que o autor as considerasse como povos
decaídos no momento da chegada dos portugueses.
Os africanos
Sobre os africanos (os “ethiopes”, nas palavras de Martius), podemos
perceber o grande constrangimento do projeto. O autor dedicou pouco
espaço ao grupo e, diferentemente do que fez em relação aos
portugueses e aos indígenas, não pressupôs uma contribuição positiva
dos negros para a formação da nacionalidade brasileira.
Segundo, Martius (2010):
Não há dúvida [de] que o Brasil teria
tido um desenvolvimento muito
diferente sem a introdução dos
escravos negros. Se para o melhor
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ou para o pior, este problema se
resolverá para o historiador, depois
de ter tido ocasião de ponderar
todas as influências que tiveram os
escravos africanos no
desenvolvimento civil, moral e
político da presente população.
(MARTIUS, 2010, p. 80)
Com certo tom conformista, o autor reconhecia que a importância dos
escravos negros para o desenvolvimento do Brasil era inegável, mas
deixou claro que o mérito dessa participação deveria ser definido pelos
“futuros historiadores” do país. A escravidão era o grande dilema para
aqueles que tentavam construir o Brasil como herdeiro da civilização
europeia na América.
Dica
O incômodo se dava não exatamente pela preocupação com o bem-
estar das pessoas escravizadas, e sim com a impossibilidade de se
combinar o regime escravocrata com os ideais de civilização e
modernidade que se tornavam predominantes na Europa.
O projeto de Henrique Wallenstein é muito menos complexo que o de
Martius.
Limitando-se a duas páginas de texto, Wallenstein propôs que a história
do Brasil deveria ser escrita à luz das recomendações de Tito Lívio:
dividida em décadas, nas quais o historiador narraria os eventos mais
relevantes de cada período.
O parecer final do concurso revelou como a proposta de Wallenstein não
atendida aos interesses anunciados pelo IHGB desde sua fundação:
produzir uma “história filosófica” do Brasil capaz de formular a imagem
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da nação homogênea em sua pluralidade e reivindicar a herança cultural
portuguesa.
Parece à comissão que o autor
desta memória (Henrique
Wallenstein) não compreendeu bem
o pensamento do vosso programa,
porquanto às vistas desse instituto,
não se podiam contentar com a
simples distribuição das matérias, e
isto por um método puramente
fictício ou artificial, que poderá ser
cômodo para o historiador, mas de
modo algum apto a produzir uma
história no gênero filosófico, como
se deve exigir atualmente.
(INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO
BRASILEIRO, 1847, p. 279)
Fica claro no documento de 1847 como a proposta de Martius era
adequada aos propósitos historiográficos e políticos do instituto. Os
contornos gerais da tal “história filosófica” proposta pelo botânico
alemão e referendadas pelo IHGB seriam colocados em prática na
História geral do Brasil, escrita por Francisco Adolfo de Varnhagen e
publicada no final da década de 1850.
Saiba mais
O texto de História geral do Brasil ficaria conhecido como a principal
obra produzida nos quadros do IHGB, assim como seu autor, Francisco
Adolfo de Varnhagen, entraria para a memória nacional como o
“principal historiador da pátria”. Varnhagen, aliás, é o tema de estudo da
próxima seção.

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Atividade discursiva
Ao analisar os textos de fundação do IHGB, percebemos com o
centralismo também fazia parte da agenda político-institucional do
instituto. Desenvolva essa afirmação.
Digite sua resposta aqui
Chave de resposta
Você tem de saber que, fazendo parte da estrutura institucional do
Estado nacional, o IHGB pressupunha a centralização das
condições necessárias para a escrita da história nacional no Rio
de Janeiro, então uma corte imperial. Isso ia ao encontro da
centralização administrativa do poder do Estado, também sediado
no Rio de Janeiro.
As bases do pensamento
O professor Rodrigo Perez recupera neste vídeo um pouco do que
discutimos até aqui.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
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Questão 1
No discurso de inauguração do IHGB, Januário da Cunha Barbosa
definiu uma função prática para o conhecimento histórico. Assinale
a alternativa que melhor define essa função.
Parabéns! A alternativa D está correta.
O IHGB foi criado em um momento de intensa instabilidade político-
institucional do país no qual frações das elites estavam se
A
Para Januário da Cunha Barbosa, a função do
conhecimento histórico era convencer os brasileiros
de que a República se tratava da melhor forma de
governo.
B
Para Januário da Cunha Barbosa, a função do
conhecimento histórico era convencer os brasileiros
de que a abolição da escravidão era a medida mais
urgente a ser feita para reparar a situação dos
negros escravizados.
C
Para Januário da Cunha Barbosa, a função do
conhecimento histórico era educar a massa
populacional no sentido da inclusão de setores
subalternizados.
D
Para Januário da Cunha Barbosa, a função do
conhecimento histórico era educar as elites no
conhecimento de um passado em comum a fim de
garantir sua fidelidade à monarquia centralizada no
Rio de Janeiro.
E
Para Januário da Cunha Barbosa, a função do
conhecimento histórico era educar as elites no
conhecimento das rebeliões populares
protagonizadas por negros e indígenas para garantir
os direitos sociais desses grupos.
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rebelando contra o centro do poder monárquico. Com isso, o ensino
de história era visto como uma forma de educar essas elites em
uma gramática da nacionalidade.
Questão 2
Em seu projeto para a escrita da história do Brasil, o botânico Karl
von Martius estabeleceu a premissa filosófica que deveria ser
seguida pelos futuros historiadores do Brasil. Qual alternativa a
seguir define essa premissa filosófica da melhor maneira?
Parabéns! A alternativa C está correta.
A
Para Martius, os futuros historiadores do Brasil
deveriam adotar como premissa filosófica a
vocação do país para a organização político-
institucional republicana.
B
Para Martius, os futuros historiadores do Brasil
deveriam adotar como premissa filosófica a
vocação do país para a democracia social, com a
abolição imediata da escravidão e a reparação dos
crimes cometidos contra a população africana.
C
Para Martius, os futuros historiadores do Brasil
deveriam adotar como premissa filosófica a
vocação do país para a mescla pacífica entre as
raças que constituem a nacionalidade brasileira.
D
Para Martius, os futuros historiadores do Brasil
deveriam adotar como premissa filosófica a guerra
racial que marcou a formação do país.
E
Para Martius, os futuros historiadores do Brasil
deveriam adotar como premissa filosófica a
vocação do país para a organização político-
institucional comunista.
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Segundo Martius, o Brasil era um caso único no mundo de
combinação racial pacífica. Para o autor, isso deveria ser a
premissa para qualquer exercício de escrita da história do país.
3 - A trajetória político-intelectual de Visconde
de Porto Seguro
Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar a trajetória do
Visconde de Porto Seguro, o mais emblemático entre os historiadores
vinculados ao IHGB.
A criação do cânone
nacional
Francisco Adolfo de Varnhagen nasceu no interior de São Paulo em
1816. Militar e diplomata, ele viveu e participou ativamente do processo
de fundação do Estado Nacional brasileiro.
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Francisco Adolfo de Varnhagen.
Varnhagen defendeu como poucos a monarquia brasileira, fazendo jus
ao papel de “historiador monarquista”, sendo, para Martius, o mais
adequado para escrever a “história geral do Brasil”.
A trajetória dele no IHGB (no qual foi denominado sócio em 1840)
demonstra como os critérios especificamente intelectuais e técnicos
não estiveram completamente ausentes do funcionamento do instituto.
O historiador foi laureado pelo IHGB em diversas ocasiões, sendo
condecorado com medalhas de honra ao mérito. Varnhagen chegou a
ser agraciado com um título de nobreza em 1874, ocasião na qual foi
nomeado “Visconde de Porto Seguro”.
Varnhagen dedicou a vida à causa da consolidação do Estado nacional
brasileiro, sobretudo no que se refere à organização de arquivos
estratégicos para conflitos envolvendo a delimitação das fronteiras do
Estado-nação.
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Um homem de Estado e um
homem dos arquivos
Francisco Adolfo de Varnhagen foi um dos mais importantes diplomatas
em atuação no Brasil ao longo do século XIX. Além disso, passou por
outras tantas cidades na Espanha e em Portugal em missão
diplomática.
Atenção!
É importante destacar que a visita aos arquivos não era algo que
Varnhagen fazia apenas em momentos de ócio. Sua atuação como
servidor público era centrada nessas práticas de pesquisa, o que mostra
como a coleta e a organização de tais arquivos eram consideradas
estratégicas para o Estado nacional brasileiro.
O historiador era um leitor atento dos textos do historiador alemão
Leopold Ranke, responsável por definir as regras básicas do método
histórico. Não seria exagero defender, portanto, que foi Varnhagen quem
introduziu no debate historiográfico brasileiro os princípios do método
histórico científico.
Método histórico
Tal método era baseado na seguinte ideia: o que conferia caráter científico
ao estudo da história era justamente a pesquisa nos arquivo.
Vanhargem
Em 1847, Francisco Adolfo de Varnhagen publicou na revista do IHGB
um trabalho que lhe rendeu uma medalha conferida pelo instituto, a
qual, segundo Temístocles Cezar, foi demandada pelo próprio
Varnhagen. Tratava-se da monografia O Caramuru perante a história,
texto no qual o diplomata analisava a atuação de Diogo Alvares, que,
desde o século XVIII, era um personagem recorrentemente evocado nas
narrativas históricas sobre a colonização portuguesa na América.
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A monografia começa com uma introdução sobre os “contos
maravilhosos” de que “quase todas as nações oferecem exemplos”.
Classificando tais contos como próprios dos “primeiros tempos da
história” de uma civilização, o autor aponta uma época em que “os
povos [...] não tinham de si muito a dizer”, afirmando haver nesse tipo de
narrativa “quase sempre um fundo verdadeiro” (VARNHAGEN, 1848, p.
129).
À medida, porém, que tais contos eram divulgados às novas gerações,
seu “fundo verdadeiro” desfigurava-se no “caos” e na “Babel de línguas
díspares”, o que ocorria por efeito principalmente da poesia e da
imaginação, ambas ao gosto sobretudo das mulheres, o “sexo que
recolhe mais íntimas essas sensações e que depois no-las transmite
com o leite” (VARNHAGEN, 1848, p. 130).
Por conta exatamente de seu aspecto cada vez mais fantasioso, as
histórias deteriam o enorme poder de emocionar (“tocar os corações”) e
de “ferir a imaginação”. Como podemos perceber, Varnhagen afirmava a
necessidade de se abordar os documentos relativos ao Caramuru fora
das “emoções” que seriam típicas dos povos que “desconhecem a
devida crítica histórica” (VARNHAGEN, 1848, p. 130).
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O historiador entendia “crítica histórica” como o devido tratamento das
fontes com rigor de análise nos quadros de uma pesquisa
racionalmente conduzida. Nas palavras do próprio autor:
É esta convicção em que estamos
de que nenhum mal pode já a crítica
desapaixonada produzir para
arrefecer o entusiasmo pela nossa
epopeia brasileira e o muito desejo
de tratar um assunto em que o
instituto mostrou empenho [...] que
nos dá força para entrar nele; o que
faremos expondo primeiro o que de
documentos autênticos constar,
deixando à natural e singela
expressão deles e à luz da crítica
guiar o resto. [...] Desembaracemo-
nos pois de quaisquer prejuízos que
nos tenham deixado as leituras de
nossos historiadores a tal respeito
[...] e ponhamos também de parte,
ainda com mais razão, as imagens e
invenções do poema, e vamos
desprevenidos perscrutar
documentos.
(VARNHAGEN, 1848, p. 132)
O propósito da monografia escrita por Varnhagen, portanto, era
disponibilizar documentos devidamente organizados para o exercício da
análise e da “perscrutação” de todos aqueles que fizessem jus ao ofício
do historiador, ou seja, que se interessassem pelo estudo do passado
brasileiro. Com isso, o autor acreditava ser possível desmitificar as
“tradições”, retirando delas aquilo que fosse de fato “útil” para o país.
Em 1851, Varnhagen publicou Florilégio da poesia brasileira, texto
iniciado com uma introdução intitulada “Ensaio histórico sobre as letras
no Brasil”, a qual, para muitos estudiosos, é um tratado de fundação da
historiografia literária brasileira.
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Nesse trabalho, o historiador estabelece aquilo que deveria ser
considerado como as “letras nacionais”. A ideia a estruturar tal reflexão
é a de que algumas manifestações letradas, desde os primeiros tempos
da colonização, poderiam (e deveriam) ser consideradas representantes
da “nacionalidade”.
Não são claros os critérios adotados pelo autor para definir o que
distinguia as manifestações seminais das “letras nacionais” daquilo que
não deveria ser considerado como parte da “literatura brasileira”.
Contudo, chama a atenção como o cânone estabelecido por Varnhagen
foi capaz de influenciar outras taxonomias do tipo e como o autor
reivindica a herança literária portuguesa, o que, como sabemos, era
compatível com a orientação político-ideológica do IHGB.
No começo de 1851, Varnhagen voltou ao Brasil, atendendo à
convocação de Paulino José Soares de Sousa, então chefe de governo.
O diplomata foi chamado na condição de especialista em história e
geografia, já que o país via diversos litígios fronteiriços, sobretudo com
as repúblicas hispano-americanas com as Guianas europeias.
O historiador deixou Madri carregando quase 1.000 páginas copiadas a
mão de variados arquivos europeus. Durante o período em que esteve
na corte imperial, ele participou ativamente das reuniões do IHGB, sendo
eleito primeiro-secretário do instituto em maio de 1851.
No cargo, Varnhagen organizou a biblioteca, os arquivos e o museu do
instituto, além de ter catalogado, em ordem alfabética,a revista do
IHGB. Sua administração coincidiu com a reforma dos estatutos no
sentido de que ambas “profissionalizaram” o instituto, valorizando mais
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a produção especializada dos sócios do que seus vínculos sociais e
políticos.
No final de 1851, Varnhagen retornou a Madri, cidade onde
permaneceria até 1858, ano em que foi transferido para ser ministro-
residente (o que hoje chamamos de embaixador) no Paraguai.
Começava assim sua trajetória pelos arquivos latino-americanos.
A construção de um
monumento historiográ�co
Entre 1854 e 1857, Francisco Adolfo de Varnhagen publicou na revista
do IHGB aquela que se tornaria sua principal obra e um dos
monumentos da historiografia brasileira: a História Geral do Brasil. No
texto, o autor mobiliza vários dos valores definidos como prioritários
pelo IHGB desde a fundação do instituto e que inspiraram o projeto de
Martius.
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A recepção da obra dentro do IHGB foi variada, tendo sido alvo de
críticas e objeto de elogios. Ao que parece, os elogios pesaram mais, a
ponto de Varnhagen ter sido laureado, em 1859, com a mais alta
comenda do instituto: a elevação, como já apontamos, à categoria de
sócio honorário “em reconhecimento de sua ilustração e dos valiosos
serviços prestados ao instituto” (GUIMARÃES, 1988, p. 5).
Ao longo do tempo, a obra de Varnhagen foi recebida de diferentes
formas, indo desde sua conversão em cânone durante muitos anos e
reproduzida no ensino escolar de História até as críticas que
denunciavam o teor elitista de sua perspectiva historiográfica. O que
nem mesmo os mais incisivos detratores negam é o monumental
trabalho de arquivo feito pelo historiador.
História Geral do Brasil reúne documentos até então desconhecidos e
identifica suas localizações, abrindo caminho para historiadores
interessados na colonização portuguesa na América. O próprio
Varnhagen demonstrava ter perfeita consciência da grandiosidade de
seu trabalho de arquivo.
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Pelo brilho e ornato do estilo não
levamos, pois, a menor pretensão de
campear. Irão os períodos muitas
vezes como foram de primeiro jato
concebidos, em presença dos
documentos estudados [...] todos
sabem como é difícil, ainda aos
mais exercitados, o desapegar-se
dos travos e ressaibos que por
algum tempo deixam no gosto das
fontes de que se bebe. A linguagem,
porém, procuramos sempre que
saísse puritana e de boa lei.
(VARNHARGEN, 1975, p. 152)
Ao definir o próprio estilo como “puritano e de boa lei”, Varnhagen
sugere que a função do seu texto era basicamente deixar as fontes
falarem. Há aqui a convicção epistemológica de que as fontes guardam,
em si, o sentido histórico, sendo o trabalho do historiador elaborar um
tipo de curadoria, organizando e expondo esses materiais.
Isso não quer dizer, contudo, que o Visconde de Porto Seguro não
reservasse nenhum lugar ao que poderíamos chamar de autoria
historiográfica. Mesmo que partisse da premissa de que o protagonismo
da narrativa historiográfica cabia aos documentos, Varnhagen também
dedicava alguma importância à perspectiva autoral, entendida como
jeito de contar a história de determinada maneira.
Longe de nos limitarmos à narração
dos sucessos políticos, ou a
estéreis biografias dos mandões,
cujas listas ordenadas aliás
julgamos da maior importância para
a cronologia, procuramos ocupar-
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nos principalmente dos fatos mais
em relação com o verdadeiro
desenvolvimento e civilização do
país: comprazendo-se até de não
deixar em esquecimento os
modestos obreiros que prestaram
algum serviço nas letras ou na
indústria.
(VARNHARGEN, 1987, p. 20)
Fica claro como Varnhagen desejava se afastar da crônica factual. O
interesse do historiador não era tão somente narrar a atuação política
ou as “estéreis biografias” das elites, e sim contar a história da
constrição de uma “civilização no Brasil”.
Crônica factual
Gênero que, durante séculos, foi dominante na historiografia ocidental,
tendo inclusive inspirado o projeto derrotado de Wallenstein no concurso
promovido pelo IHGB.
Reside aqui o tópico fundamental do IHGB, aquele que
definia o Brasil como um caso único de construção de
uma civilização nos trópicos e herdeiro da colonização
portuguesa.
Nesse elogio, o autor se distanciava de um dos elementos presentes no
projeto de Martius. Se o botânico tratou a natureza brasileira na chave
do elogio edênico, Varnhagen preferiu pintar a imagem da natureza
tropical como hostil e desafiadora à sobrevivência humana.
Apesar de tanta vida e variedade de
matas virgens, apresentam elas
aspectos sombrios, ante a qual o
homem se contrista, sentindo que o
coração se lhe aperta, como no mio
dos mares, ante a imensidão do
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oceano. Tais matas, em que apenas
penetra o sol, parecem oferecer
mais natural guarida aos tigres e
aos animais trepadores do que aos
homens, o qual só chega a habitá-
las satisfatoriamente depois de abrir
nelas extensas clareiras, em que
posso cultivar [...] Ainda assim, o
braço do homem, com auxílio do
machado, mal pode vencer os
obstáculos que de contínuo
encontra na energia selvagem da
vegetação.
(VARNHARGEN apud WHELING, 1999, p. 159)
A imagem da natureza hostil, perigosa e violenta servia bem ao
propósito da apologia da ação colonial portuguesa, confirmando a ideia
já veiculada por Martius de que Portugal era uma nação empreendedora
e corajosa, como teria demonstrado na expansão marítima e comercial.
Em carta enviada ao imperador D. Pedro II em julho de 1857, Varnhagen
deixava claro o lugar que a nação europeia ocupava na sua retórica da
nacionalidade.
Em geral, busquei inspirações de
patriotismo sem ser no ódio a
portugueses ou à estrangeira
Europa, que nos beneficia com
ilustração; tratei de pôr um dique a
tanta reclamação e servilismo à
democracia; procurei ir
disciplinando produtivamente certas
ideias soltas de nacionalidade.
(VARNHARGEN apud CEZAR, 2018, p. 207)
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Varnhagen endossou algumas das teses formuladas pelos fundadores
do IHGB; outras, porém, nem tanto. A definição do Brasil como
experiência única de miscigenação, por exemplo, ganhou uma dimensão
empírica no texto varnhageniano, que definiu a Batalha dos Guararapes
(1688) como o momento de fundação da história da nacionalidade
brasileira justamente pela união das “três raças” com o objetivo de
expulsar o “invasor” holandês.
A ideia de que a miscigenação deveria ser estimulada
pelo Estado no sentido do branqueamento da
população também aproxima o historiador das
primeiras escolhas do IHGB.
A crítica aos regionalismos e a defesa do poder unitário, centralizado no
Rio de Janeiro, também foram endossadas pelo Visconde de Porto
Seguro.
Já em relação aos índios, Varnhagen abandonava a expectativa inicial
de encontrar monumentos que comprovassem a existência de “grandes
civilizações” nativas para adotar uma postura hobbesiana que denuncia
a selvageria indígena, o que não o impediu de elogiar os índios,
especialmente com os signos da “brandura” e da “mansidão”, frutos da
educação jesuítica.
O autor também criticou a ordem religiosa por suas “ambições políticas
e econômicas”, o que é coerente com o lugar que o Estado ocupa emsua reflexão histórica.
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A Primeira Missa no Brasil, de Vítor Meireles, 1860.
Fato é que, mesmo com alguns afastamentos, o texto de Varnhagen
está muito próximo do projeto de Martius e dos valores que orientaram
a fundação do IHGB. Por isso, é perfeitamente possível dizer que, mais
do que qualquer outro, o historiador encarnou a imagem do “historiador
monarquista”, que, para Martius, seria o único legitimo para escrever a
história do Brasil.
As relações entre o IHGB e a monarquia eram mesmo orgânicas, o que
fez com que o instituto fosse profundamente afetado com a
Proclamação da República em 1889. É disso que trataremos no próximo
módulo.
Atividade discursiva
Apesar de, em vários aspectos, ter dado seguimento às propostas de
Marius, a História geral do Brasil, escrita por Varnhagen, também se
afastou do projeto do botânico alemão. Reflita e discorra sobre isso.
Digite sua resposta aqui
Chave de resposta
Você precisa mostrar em sua resposta que Francisco Adolfo de
Varnhagen, diferentemente de Karl von Martius, pintou a natureza
brasileira como hostil, o que daria ainda mais motivos para elogiar
a colonização brasileira. A questão indígena também foi tratada de
modo distinto por Varnhagen. Enquanto Martius defendia a ideia
de que os índios brasileiros eram descendentes de um grande
império nativo, o historiador tratava os indígenas na chave da
brandura e da mansidão.

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Vanhargem e o cânone
Neste vídeo, o professor Rodrigo Perez recupera as principais ideias
discutidas até aqui.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Não seria exagero afirmar que Francisco Adolfo de Varnhagen
introduziu no debate intelectual brasileiro as regras do método
histórico científico. Aponte a alternativa que melhor complementa
essa afirmação.
A
Varnhagen introduziu no Brasil o método histórico
científico, pois defendeu que o estudo da história
deveria ser centrado na análise de fontes orais por
meio da metodologia de análise de testemunhos.
B
Varnhagen introduziu no Brasil o método histórico
científico, uma vez que defendeu que o estudo da
história deveria ser regulado institucionalmente pela
Igreja Católica.
C
Varnhagen introduziu no Brasil o método histórico
científico, já que defendeu que o estudo da história
deveria ser baseado na análise de documentos
escritos.
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Parabéns! A alternativa C está correta.
Leitor de Ranke, Varnhagen se inspirou nas discussões
metodológicas desenvolvidas pelo historiador alemão para
defender a organização de arquivos que pudessem fundamentar o
estudo da história.
Questão 2
A biografia de Varnhagen foi marcada pelas suas relações com o
Estado nacional brasileiro. Qual das alternativas abaixo tem a
melhor definição sobre tal afirmação?
D
Varnhagen introduziu no Brasil o método histórico
científico, porque defendeu que o estudo da história
deveria ser restrito aos temas religiosos.
E
Varnhagen introduziu no Brasil o método histórico
científico, pois defendeu que o estudo da história
deveria ser restrito às rebeliões protagonizadas por
pessoas escravizadas e indígenas.
A
Varnhagen se notabilizou como emissário do
Estado brasileiro junto a vizinhos da América Latina
com o objetivo de consolidar acordos econômicos.
B
Varnhagen se notabilizou como Senador do Império,
sendo o responsável por importantes atos
legislativos, como as leis abolicionistas.
C
Varnhagen se notabilizou como presidente da
província de São Paulo, tendo tido destacada
atuação na industrialização da região.
D
Varnhagen foi uma das mais importantes lideranças
militares do Império brasileiro, tendo tido destacada
atuação na Guerra do Paraguai.
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Parabéns! A alternativa E está correta.
Varnhagen foi um importante diplomata que pesquisou arquivos de
interesse para a história do Brasil em diversos países do mundo.
4 - Os impactos da Proclamação da República
no IHGB
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os impactos da
Proclamação da República no IHGB.
E para onde ir?
A essa altura, já sabemos bem como eram umbilicais os vínculos entre
o IHGB e o Estado monárquico, o que torna um tanto óbvia a afirmação
de que a mudança no sistema político provocada pela Proclamação da
República impactou diretamente no instituto. A República, afinal, não
veio do nada, e já era consenso no país que a monarquia não
sobreviveria à morte do imperador.
E
Varnhagen foi um diplomata que tomou como
principal serviço a organização de documentos
históricos considerados estratégicos pelo Estado
nacional brasileiro.
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O Partido Republicano foi fundado no início da década de 1870.
Influente, ele tinha em seus quadros lideranças importantes entre as
oligarquias, como Quintino Bocaiúva, e uma capacidade de mobilização
popular, como era o caso de Silva Jardim.
A própria fundação do Partido Republicano indica que, entre os mais
poderosos homens do país, havia aqueles que defendiam a mudança do
regime político. A monarquia, assim, não era mais um consenso entre a
elite política.
Os anos 1870 e 1880 foram marcados pelo constante enfraquecimento
da monarquia. O imperador era cada vez mais satirizado, sendo
representado na imprensa como um homem senil, de hábitos
pitorescos, numa alegoria do que seria o caráter anacrônico do próprio
regime.
Caricatura de D. Pedro II “O juramento de todos os Principes - A garantia de todos os Povos” de
1876.
A crise com o Exército foi a pá de cal, e a República veio a reboque de
um golpe militar. E o IHGB? Como ficou?
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Os olhares dos sócios do
IHGB para a República
Em 16 de dezembro de 1889, Joaquim Norberto, então presidente do
IHGB, abriu a primeira sessão do instituto após a Proclamação da
República. O discurso de Norberto indica qual foi a primeira recepção da
mudança do regime dentro do IHGB.
Senhores! Imperioso dever do meu
cargo me força a anunciar-vos que
jamais nessa cadeira se assentará
aquele que durante quarenta anos
desempenhou verdadeiramente o
título de protetor de nossa
associação [...]. Das atas das
sessões de nossos trabalhos e das
nossas sessões magnas,
celebradas na sua casa com todo
esplendor e solenidade, consta, e
constará sempre, o que foi o
imperador D. Pedro II para com o
Instituto Histórico, que lhe retribui
numerosos favores com a maior
gratidão, por considerá-lo como seu
primeiro aluno e por tê-lo sempre
como seu desvelado protetor.
(SILVA, 1889, p. 534)
Como podemos perceber, o sentimento que modulou a forma
predominante por meio da qual o IHGB experimentou a Proclamação da
República foi o da ausência, entendida, nesse contexto, como saudade.
A gratidão, afinal, não era direcionada exatamente para a monarquia
como um modo de organizar o Estado, e sim ao imperador D. Pedro II,
entusiasta e protetor do funcionamento do IHGB.
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Comentário
A presença do monarca nas reuniões do instituto era constante, o que
rendeu algumas críticas daqueles que acreditavam que o governante
deveria dedicar seu tempo a questões consideradas mais urgentes.
Como demonstra o historiador Francisco Gouveia, até mesmo quando o
IHGB já tinha normalizado suas relações com o governo republicano, a
cadeira do imperador permanecia vazia.
Em 1894, Prudente Morais, então presidente da República, compareceu
ao instituto e não se sentou na referida cadeira. É nesse sentido que
podemos dizer que a primeira recepção da Proclamação da República
pelo IHGB foi marcada pelo signo da ausência.
Ausência nem tanto da monarquia, e sim do monarca, reconhecido
como um protetor das letras. O respeito pela imagem de D. Pedro II
indica que, na reaproximação do IHGB com a vida do governo ao longo
dos governos civis republicanos, o Império era respeitado como um
passado nacional. Por ele, letrados e conselheiros se aproximavam da
República.
Via de regra, portanto, os sócios do IHGB não se envolveram em
nenhuma movimentação política que questionasse a existência no novo
regime. A obediência, contudo, não significou um desprezo pela
memória da monarquia.
Por um lado...
O comprometimento do instituto com os estudos históricos foi o que
garantiu a conciliação entre as duas coisas. Transformada em passado
a ser homenageado, a monarquia não era representada como
possibilidade política no tempo presente, não sendo, dessa forma, uma
ameaça para a República.
Por outro lado...
A recepção na chave da ausência não foi a única forma por meio da qual
os sócios do instituto receberam a República. Houve também quem
tratasse o novo regime com bastante entusiasmo, levando-nos a
problematizar a ideia de que, em fins do século XIX, o instituto ainda
continuasse a ser homogeneamente monarquista.
Os tempos eram outros, e o IHGB não era uma ilha dentro do país. Era
de se esperar que o desgaste social e político da monarquia chegasse
também aos membros do instituto, sendo capaz até mesmo de levar
alguns deles à adesão ao movimento republicano.
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Para esses sócios, o 15 de novembro foi representado como um
acontecimento previsto e irresistível, como se fosse o desfecho
imperativo da história. É o que demonstra Francisco Gouveia:
A revista do instituto de 1890 já
trazia, em uma biografia (SILVEIRA,
1890), a imagem de um passado
para a proclamação por meio de
seus “dignos precursores”, no caso
Libero Badaró e Tiradentes,
personagem que passava por ampla
disputa até mesmo antes da
República (SIMAS, 1994). Se
Joaquim Norberto não estava
sozinho em seu constrangimento
frente à República, Argemiro Silveira
foi um dos sócios que reconheceu
prontamente que a República teve
“precursores”.
(SOUSA, 2015, p. 214-215)
Joaquim Norberto e Argemiro da Silveira representam diferentes formas
de recepção do evento “Proclamação da República” dentro do IHGB:
Joaquim Norberto
Presidente do instituto,
Norberto colaborou na
formulação dessa
perspectiva
hegemônica que
obedecia ao novo
regime sem abnegar do
respeito ao passado
monárquico, marcado
pelo simbolismo da
cadeira vazia onde o
Argemiro da
Silveira
Já Argemiro da Silveira
identificou prontamente
a importância do
instituto em continuar
atuando como órgão de
Estado. Para isso, era
necessário seguir na
sua vocação de
produzir, por meio de

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imperador costumava
se sentar.
imagens do passado, a
simbologia do poder.
Desse modo, mostrava-se fundamental produzir uma escrita da história
que reinventasse parte dos símbolos nacionais, criando outras
mitologias, como aquelas vinculadas aos “heróis republicanos”, dos
quais Tiradentes, aliás, é o exemplo mais paradigmático.
Modalidade de escrita da
história para nova situação
política
Desde os primeiros momentos da República, o IHGB se tornou palco de
disputas entre diferentes formas de usar o passado na nacional na
conjuntura do nascimento e da consolidação do regime republicano. A
maioria dos sócios trouxe outros elementos para a “memória nacional”,
como aqueles associados a uma nova forma de tratar as rebeliões
republicanas do período regencial.
No entanto, os valores que orientavam a operação ainda eram os
mesmos a pautar o instituto desde sua fundação. A perspectiva
“filosófica” da história do Brasil continuava ser a que definia o país como
uma “civilização nos trópicos”, como uma nação estável e próspera,
contrastando com a instabilidade institucional crônica dos vizinhos
hispano-americanos, que se viam constantemente abalados por golpes
e pronunciamentos militares.
Comentário
O desafio passou a ser este: combinar tal identidade com a nova
realidade política. A República, afinal, havia sido instituída por um
pronunciamento militar.
Os dois primeiros governos republicanos eram militares, sendo o de
Floriano Peixoto, que governou entre 1891 e 1894, uma ditadura no
sentido literal do termo. Os anos iniciais da República foram marcados
por conflitos civis.
As constantes agitações provocadas pelos alunos da Escola Militar da
Praia Vermelha, pela Revolução Federalista no sul do país e,
principalmente, pela Guerra de Canudos, na Bahia.
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A contingência desses conflitos colocava os sócios do IHGB diante do
desafio de adaptar a memória politicamente desejada à realidade
presente e nem tão desejada assim.
A Guerra de Canudos, por exemplo, era um tema constante nas reuniões
do instituto.
Guerra de Canudos.
A grande questão consistia em explicar as causas do conflito. A culpa
seria da “instabilidade republicana”? Tratando do assunto em 1900,
período no qual a situação do país estava relativamente pacificada, o
sócio Aristides Milton disse que:
A mesma tendência revolucionária
que, desde 1822 até 1848,
trouxeram [sic] pendente da sorte
das armas o futuro do Império e,
predominando ora aqui, ora acolá,
celebrizara esse quarto de século
por uma agitação constante e lutas
fratricidas de pungitiva lembrança,
havia ressurgido na plenitude de sua
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funesta energia para perturbar o
regime, que, em 1889, tinha sido
inaugurado.
(MILTON, 1900, p. 5)
Milton se destacava por ser um defensor da República nos quadros do
IHGB. É interessante notar como ele tentava reconciliar a memória da
monarquia com a realidade republicana.
Os dois regimes, a seu tempo, teriam sido importantes para consolidar a
“civilização brasileira”, tendo inclusive enfrentado os mesmos percalços.
Não é à toa que vemos o autor usar o termo “lutas fratricidas” para
definir a Guerra de Canudos, a mesma terminologia utilizada por
Januário da Cunha Barbosa e Martius nos textos de fundação do IHGB
para referir-se às rebeliões regenciais.
Tanto a monarquia como a República tiveram de lidar com “sentimentos
dos partidos” e “interesses particulares” que colocavam em risco a
unidade da pátria. A culpa pela instabilidade, portanto, não seria da
República, e sim do retorno dessa “tendência revolucionária”.
Caberia ao instituto fazer sob a égide da República o
mesmo que tinha feito nos anos de fundação da
monarquia: colaborar para a pacificação do país por
meio da escrita da história nacional.
Em reunião realizada no início de 1890, ainda no calor do golpe militar
republicano, José Alexandre de Teixeira Melo fez o seguinte discurso:
Senhores. - Achamo-nos em um
campo neutro, em que não entra a
política com as suas tergiversações
e sutilezas. Lá fora esbravejade
noite e de dia o ruído dos interesses
desencontrados e antagonistas; [...]
o patriotismo, que é santo e nobre,
encarado por prismas diversos. Aqui
o silêncio de que medito; a paz e a
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serenidade de ânimo do que se
afadiga por honrar o renome
nacional, zelando o renome de seus
filhos ilustres e arquivando os fatos
memoráveis da história pátria.
(MELLO, 1890, p. 561)
Não caberia ao instituto, em suma, tomar parte nos conflitos políticos. A
neutralidade era a postura que o IHGB deveria assumir como órgão de
Estado, sendo um espaço de pacificação e serenidade, duas condições
consideradas indispensáveis para “arquivar os fatos memoráveis da
história pátria”.
Ainda que essa posição mais contida tenha sido a dominante, também
houve sócios que defendiam a República de forma explícita, atacando a
monarquia. O caso mais emblemático foi o de Tristão de Alencar, que
se dedicou a narrar um passado para a República.
Sabemos que os ânimos aferrados a
ideias monárquicas inculcam a
crença de que a República de 15 de
novembro de 1889 foi um ato de
surpresa para o espírito público, e
de violência para a maioria da
nação. Semelhante opinião, porém,
só poderia originar-se de falsa
apreciação dos fatos da nossa
história, ou da ignorância deles, no
propósito de desacreditar a causa
democrática recentemente
triunfante. [...] Basta, porém, ligeiro
exame retrospectivo dos
acontecimentos da nossa história
para reconhecer nessa revolução a
consagração formal das aspirações
nacionais, sempre reveladas e
proclamadas desde os tempos
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coloniais. Éramos colônias e cedo
começamos a lutar pela
independência da pátria e pela
República.
(ARARIPE, 1897, p. 399)
Na historicidade republicana produzida por Araripe, o 15 de novembro
não era tratado como um “acidente da história” nem como um
pronunciamento militar. Segundo o autor (que ocupou cargos no
governo republicano), tratava-se da reconciliação do Brasil com sua
“vocação americana”.
No Brasil, a monarquia era criticada, sendo chamada de “planta exótica”
ou “regime de privilégios”, o que fez com que não raro Araripe tenha sido
confrontado por seus colegas nas reuniões de instituto. Tais conflitos e
disputas demonstram como a Proclamação da República abriu outro
horizonte para o instituto histórico fundado pela monarquia.
Atividade discursiva
É possível dizer que o evento “Proclamação da República” foi recebido
dentro do IHGB de diferentes formas, ainda que uma delas tenha sido
dominante. Escreva sobre isso.
Digite sua resposta aqui
Chave de resposta
Sua resposta precisa indicar que a recepção hegemônica da
Proclamação da República dentro do IHGB se deu na perspectiva
da ausência e da saudade, ambas simbolizadas pela cadeira vazia
onde o imperador costumava se sentar. No entanto, houve

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também uma recepção entusiasmada, que tratou a República
como um fato consumado e legitimado por uma série de
processos históricos que remetiam ao século XVIII e à figura de
Tiradentes.
A República e o IHGB
O professor Rodrigo Perez finaliza sua análise sobre os principais
pontos vistos neste estudo.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
A Proclamação da República no Brasil, em 15 de novembro de 1889,
impôs desafios institucionais ao IHGB. Qual das alternativas abaixo
justifica essa afirmação?
A
Como a Proclamação da República aboliu a
escravidão e realizou a reforma agrária, ela
contrariou os interesses dos sócios do IHGB, quase
todos proprietários de terras e escravos.
B
Como a Proclamação da República fragmentou o
território nacional, isso contrariou os interesses do
IHGB, que defendia a unidade territorial.
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Parabéns! A alternativa D está correta.
Desde a sua fundação, o IHGB era um órgão do Estado monárquico.
Por isso, a Proclamação da República obviamente comprometeu
esse alinhamento do ideológico do instituto.
Questão 2
Assinale a alternativa que define da melhor forma o primeiro
impacto da Proclamação da República entre os sócios do IHGB.
C Como a Proclamação da República aboliu o
capitalismo e instituiu o comunismo no Brasil, ela
contrariou os interesses dos sócios do IHGB, quase
todos membros da alta burguesia brasileira.
D
Como a Proclamação da República aboliu a
monarquia, isso criou constrangimentos para o
IHGB, que, desde a sua fundação, tinha vínculos
umbilicais com o regime derrubado em novembro
de 1889.
E
Como a Proclamação da República instituiu as
universidades no Brasil, isso contrariou os
interesses do IHGB, que era um grêmio letrado com
socialização de Antigo Regime.
A
O primeiro impacto da Proclamação da República
no IHGB foi marcado pela proposta da restauração
monárquica, já que os membros do instituto se
engajaram na lutar armada restauradora.
B
O primeiro impacto da Proclamação da República no
IHGB foi marcado pelo signo da ausência, não
exatamente da monarquia, e sim do imperador,
reconhecido como protetor das letras.
C
O primeiro impacto da Proclamação da República
no IHGB foi marcado pela defesa da instituição de
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Parabéns! A alternativa B está correta.
O signo da ausência marcou a primeira recepção do IHGB em
relação à Proclamação da República. Ausência não diretamente da
monarquia, e sim do monarca.
Considerações �nais
Neste conteúdo, nos dedicamos a estudar a história do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), uma das mais importantes
associações da história intelectual brasileira. Vinculado
institucionalmente à monarquia durante grande parte do século XIX, o
IHGB funcionou como um órgão de Estado. Seus trabalhos, nesse
sentido, tinham dimensão de missão oficial.
No momento em que sequer seria possível falar em “Brasil” tal como
hoje entendemos o termo, o IHGB mostrou-se estratégico, o que revela
como as suas duas áreas de interesse eram fundamentais para a
consolidar a existência do Estado nacional como aparelho de poder
soberano. No estudo da história, buscava-se desenhar um passado
único capaz de legitimar a nação como uma comunidade única e
indivisa, algo muito importante em meio às revoltas regenciais. Já no
estudo da geografia, o interesse era delimitar as fronteiras, isto é, o
território sob a jurisdição do Estado-nação.
uma República popular comprometida com a causa
da reforma agrária.
D
O primeiro impacto da Proclamação da República
no IHGB foi marcado pela defesa do alinhamento
com a Argentina, então a mais importante República
do mundo.
E
O primeiro impacto da Proclamação da República no
IHGB foi marcado pela defesa da retomada dos
vínculos coloniais com Portugal.
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Vimos também que o tempo passou e que o próprio IHGB foi se
transformando à luz das mudanças na sociedade e na política brasileira.
Afinal, quando a monarquia caiu, já havia no instituto vozes dispostas a
acolher a República, desenvolvendo uma historicidade adequada àquela
nova situação política.
Permanecia, contudo, a tentativa de continuar sendo um órgão

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