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Clínica e Cirúrgica I Síndrome Nefrótica ❖ O néfron (presente em ambas as regiões) é a unidade funcional do rim, sendo constituído do glomérulo (responsável pela filtração dos constituintes do sangue – íons, glicose) , túbulo contorcido proximal (responsável pela reabsorção de 70% do filtrado glomerular), alça de Henle, túbulo contorcido distal e ducto coletor. ❖ Síndrome nefrótica, por sua vez, é caracterizada por uma proteinúria maciça ou maior que 3g/24h (na criança > 50 mg/Kg/dia), hipoalbuminemia, edema e hiperlipidemia. FISIOPATOLOGIA DA SÍNDROME NEFRÓTICA ❖ A ocorrência de proteinúria e consequente hipoalbuminemia, induz a redução da pressão oncótica. Com isso, há perda de líquido para o 3º espaço (retenção de líquido) e consequente ativação do SRAA (devido a hipovolemia), formando um edema osmótico (teoria de Underfilling). Concomitantemente, há uma retenção primária de sódio, induzindo a hipovolemia e ativando o SRAA, formando um edema pressórico (teoria do Overfilling). ❖ Dessa forma, pela deficiência proteica, o paciente pode apresentar anemia microcítica (pela perca de transferrina), redução de hormônios tireoidianos (perca da globulina ligante de tiroxina), trombose (pela perca de antitrombina e inibidores da coagulação), opsonização deficiente bacteriana e aumento de infecções. TRATAMENTO GERAL ❖ Medidas gerais: dieta hipossódica, normoproteica (para não piorar a lesão glomerular) e hipolipídica, administração de albumina (em algumas situações), uso de diuréticos (cautela – pois não pode perder mais que 500 mg por dia, pois pode causar LRA) e vacinação. Não há indicação de anticoagulantes profiláticos. ❖ Medidas específicas: tratamento da causa base para glomerulopatias secundárias, e uso de imunossupressores e corticoides para glomerulopatias primárias. Creatinina elevada e hipertensão são fatores de mau prognóstico. PRINCIPAIS GLOMERULOPATIAS CURSANTES COM SÍNDROME NEFRÓTICA GLOMERULONEFRITE DE LESÃO MÍNIMA ❖ Doença que acomete crianças e adolescentes, principalmente o sexo masculino. Seu quadro clínico é de síndrome nefrótica pura, em que 10% apresenta HAS e hematúria microscópica (“nefrótica-nefrítica”). Há perda seletiva de albumina e pode estar associada a linfoma Hodgkin, HIV e sífilis. ❖ É uma doença de boa resposta a corticoides (prednisona), porém está associada a recidivas, em que não se faz biópsia renal em crianças com síndrome nefrótica inicialmente. FISIOPATOLOGIA ❖ Ocorre depleção de poliânion glomerular (cargas negativas), diminuindo a carga negativa do glomérulo e induzindo ao dano, gerando albuminúria. TRATAMENTO ❖ Usa-se prednisona por 2 a 4 meses em dose máxima e após, programa-se a retirada progressiva. Deve-se usar anti-helmíntico (para evitar estrongiloidíase disseminada). ❖ Biópsia renal: deve ser feita em crianças se não houver resposta ao tratamento e no adulto sempre que não souber a causa da proteinúria. GLOMERULOSCLEROSE SEGMENTAR E FOCAL (GESF) ❖ Doença que acomete adultos jovens, principalmente do sexo masculino e negros. Ocorre mutações das proteínas estruturais do podócito (podocina e alfa actina 4), logo sua causa é primária (95% dos casos). O diagnóstico deve ser feito com biópsia renal. ❖ É uma doença assintomática em 60% na etiologia primária, por isso deve haver investigação de rotina com ureia e creatinina. Em geral, se não tratada, progride para DRC. Os sinais de mau prognóstico envolvem hipertensão, hematúria e fibrose intersticial a biópsia. Na PVHIV, denomina-se GESF colapsante. TRATAMENTO ❖ Não sofre remissão espontânea. Usa-se IECA/BRA, corticoide 1 mg/Kg/dia por 2 meses, imunossupressores (ciclosporina ou ciclofosfamida). A eficácia do tratamento é de 60%, reduzindo se houver pior prognóstico (proteinúria maciça, creatinina elevada, raça negra e fibrose). ❖ Esse tratamento pode causar síndrome de Cushing, infecções e nefrotoxicidade. GLOMERULOPATIA MEMBRANOSA ❖ É a segunda doença que mais causa síndrome nefrótica em adultos, associada a presença do antígeno HLA classe II DR3 (70%) e autoanticorpo anti PlaR2 (descoberta recente). Ocorre ativação do complemento com formação do complexo imune de ataque epitelial, sendo mais comuns em homens brancos acima dos 50 anos, em que 80% dos casos apresenta-se com proteinúria nefrótica. ❖ Pode haver hematúria microscópica e HAS, sendo que a trombose venosa renal é a principal complicação. Pacientes acima de 60 anos deve-se pesquisar causas sistêmicas ou neoplásicas e, se neoplásicas, deve-se tratar o câncer. ❖ Pode haver remissão espontânea em até 1/3 dos pacientes. TRATAMENTO ❖ Em pacientes de baixo risco (risco de tratar é elevado), opta-se por medidas inespecíficas como retirada do IECA, controle da PA, obesidade e vícios. ❖ Para formas graves, usa-se corticoides e imunossupressores. Usa-se o esquema de Ponticelli nesses contextos (pulsos bimestrais de corticoide EV, seguido de corticoide oral 0,5 mg/Kg/dia alternando com ciclofosfamida). O prognóstico piora em caso de idade avençada, sexo masculino, presença de HAS e persistência de proteinúria.