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Salmonela: Importância e Características

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Salmonela
Introdução- A Salmonella spp. é um gênero de bactérias com grande importância na saúde pública mundial. Destaca-se por desenvolver um quadro de infecção gastrointestinal (enterocolite) no homem e animais, pode ser apresentada através da febre tifóide e febre entérica pelas respectivas espécies de Salmonella, Salmonella enterica sorotipo Typhi e Paratyphi. Em aves, já foi descrita como tifo aviário. Encontrado naturalmente no trato intestinal dos animais e seres humanos, pode ser encontrada em diversos tipos de superfícies como também no ar e água. É a causa da salmonelose, uma das mais importantes DTA's.
Etiologia- Família Enterobacteriaceae - Salmonela spp. Se apresentam na forma de bastonetes, com características de anaeróbicos facultativo, não-encapsulado e com mobilidade atribuída a flagelos peritriquios na maioria das espécies. Catalase positiva, não fermentadoras de lactose e sacarose com a possibilidade de fermentação de glicose. Outras características metabólicas é a descarxilação dos aminoácidos lisina e ornitina, redução do nitrato a nitrito e utilização do citrato.
Os principais sorotipos responsáveis por causar enfermidades nos animais domésticos e seres humanos vão ser da S. enterica subespécie enterica sorotipo Thyphimurium e Enteritidis. Também dentro da S. enterica subespécie enterica sorotipo Dublin acometendo mais bovinos, Abortu-equi em equinos, Abortus-ovis em ovinos, Cholherasuis em súideos, Galinnarum e Pullorum em aves.
Existem diversos meios para o cultivo das bactérias do gênero Salmonella, tendo como base para o cultivo a produção de gás sulfídrico e incapacidade das salmonellas em fermentar a lactose. Ágar EMB, Mac Conkey, Ágar SS, Ágar XLD, Ágar Verde Brilhante, Ágar Sulfito de Bismuto.
Fatores de virulência- Adesinas: Expressão de fimbrias que vai mediar a aderência da bactéria na mucosa do epitélio gastrointestinal. Cápsula: Presença da cápsula Vi que protege a membrana externa das interações efetivas com complexos de ataque. Parede Celular: LPS de membrana externa sendo um componente lipídico tóxico e por ser uma extensão da cadeia lateral da unidade do antígeno. -Flagelos: Presença de flagelos peritricosos altamente imunogênicos, S.enterica sorotipo Pullorum e sorotipo Gallinarum são microrganismos imóveis. SPI, sistemas de secreção tipo III e proteínas efetoras: SPI - 1 e SPI-2. Enterotoxina: Enterotoxina Stn. Sideróforo: Enterobactina sintetizada a partir da salmoquelina. Plasmídeo de virulência: Bactérias do gênero Salmonella apresentam plasmídeos de vários tamanhos e alguns associados a virulência dos microrganismo.
Sensível ao acetilhidroperóxido (presente nos produtos para limpeza de alimentos), detergentes ácidos ou alcalinos. Não se replicam a temperatura de refrigeração porém são extremamente resistentes ao congelamento. Sensível ao calor superior a 70°C. Capacidade de persistir em biofilmes. Processos de salmoura e defumação tem efeito limitado nas salmonelas.
Epidemiologia- Zoonose mais difundida pelo mundo. Acomete muitas espécies de animais domésticos, selvagens e o homem. Mais incidente e relevante agente etiológico de enteroinfecções. Infecções assintomáticas são prevalentes em aves, suínos, répteis e anfíbios. Alguns sorotipos são espécie-específicos, enquanto outros acometem ampla gama de hospedeiros. Esp-esp: S. dublin (bovino), S. typhisuis (suínos) e S. pullorum (aves). S. typhimurium, S. anatum, S. newpoint - ampla gama de hospedeiros, inclusive roedores e aves (importante papel na disseminação). Todas as espécies podem ser suscetíveis à salmonelose sob determinadas condições, sendo que a doença ocorre com maior frequência em alguns animais do que em outros. Principal fator epidemiológico: estado do portador. Imunossupressão: surtos clínicos (animais recém-nascidos, estressados, vacas parturientes, equinos submetidos à cirurgia, suínos com doenças virais sistêmicas). Alteração da flora intestinal (estresse e ATB= uso de antibióticos).
Disseminação incontrolável dos microrganismos: períodos longos de excreção, na doença subclínica e na fase de convalescença. Ainda que programas de erradicação de Salmonella praticamente eliminem a doença em animais domésticos e humanos, como ocorre em alguns países como a Suécia, os reservatórios permanecem em animais silvestres. Humanos: suscetíveis a todos os sorotipos de Salmonella. A febre tifoide (S. typhi) é limitada a humanos. Aves domésticas e derivados (ovo) são a principal fonte de contaminação. Desenvolvimento da doença depende: dose de microrganismo, do sorotipo e da resistência do indivíduo infectado à colonização pela bactéria. - S. typhimurium: mais comum - causa gastrite. S. choleraesuis (suínos) e S. dublin (leite) - alto poder de invasão e maior potencial para causar sepse. S. typhimurium DT104,é uma cepa mais virulenta para animais e humanos. Taxa de mortalidade: 3% (outros sorotipos: 0,1%). Resistência a antimicrobianos (ampicilina, cloranfenicol, estreptomicina, sulfonamidas e tetraciclinas).
-RESERVATÓRIO Sistema gastrintestinal de animais de sangue quente e de sangue frio. Solo, vegetação, água e alimentos oriundos de animais contaminados (osso, carne e farinha de peixe), em especial aqueles que contêm derivados de leite, carne ou ovos, bem como as fezes de indivíduos infectados.
TRANSMISSÃO 1.Ingestão (via oral-fecal) Fezes, água contaminada, instalações sujas e consumo de alimento contaminados, São carreados de forma assintomática no intestino ou na vesícula biliar de muitos animais e são continua ou intermitentemente eliminados nas fezes. 2. Vetores (contaminam água e alimentos), 3. Via umbilical (desinfecção mal feita), 4. Vertical em aves (contaminação da membrana vitelina, albúmen e possivelmente gema dos ovo), 5. In útero em mamíferos.
Patogenia- Entrada da bactéria no organismo por via oral; - sobrevive no estômago; - se adere às células M no intestino (adesinas); - injectiossomos SPI-1 ativam proteína Rho-GTPase; - alteração na síntese do citoesqueleto, com afrouxamento das junções intercelulares e alteração na superfície apical do enterócito membrana ondulada; - internalização da bactéria; multiplicação; exocitose com liberação das bactérias e lise do enterócito; liberação de interleucinas; influxo de células do Sistema Imune (neutrófilos, macrófagos e linfócitos T); diarreia osmótica por liberação de íons cloro e água (Rho-GTPase); diarreia com pus por exocitose de neutrófilos; bactéria consegue escapar da fagocitose (SPI-2) produção de citocinas inflamatórias, alguns sorotipos provocam septicemia.
Sinais Clínicos- Os sinais clínicos de animais com salmonelose dependem da idade e estado imunológico do hospedeiro, assim como da virulência do sorotipo e de fatores estressantes. Podem ser observados sinais sob o aspecto de ação local da infecção, afetando o trato gastrointestinal e também sob ação sistêmica. Esses sinais serão diferentes de acordo com a espécie afetada. 
BOVINOS, SUÍNOS E EQUÍDEOS - Quadros entéricos Frequentemente caracterizada por presença de febre inicial, diarréia fétida de cor amarelada - podendo apresentar sangue - levando o animal a um quadro de desidratação e depressão. Em quadros agravados, o animal pode chegar a uma desidratação severa, e se não tratado adequadamente, pode evoluir a um quadro de choque, que sem intervenção efetiva pode levar o animal a óbito.
Febre- diarréia - desidratação - depressão- choque - morte
*nos suínos septicemia. 
BOVINOS, SUÍNOS E EQUÍDEOS - Quadros sistêmicos Alguns sinais são semelhantes aos do quadro entérico, como febre, anorexia e depressão do animal - no entanto, pode ocasionalmente apresentar diarréia ou alterações das fezes, além de aborto. Animais mais jovens podem apresentar infecções localizadas, como pneumonia, uveite ou até mesmo artrite reativa - principalmente em bezerros e potros. Se não tratado adequadamente, o quadro pode evoluir a choque e levar o animal a óbito.
AVES Na PULOROSE (Salmonella pullorum) os animais apresentam perda de apetite, sonolência, asas caídas, penas arrepiadas,febre alta, diarréia de coloração predominantemente branca, sendo um quadro de alta mortalidade entre animais jovens. No TIFO AVIÁRIO (Salmonella gallinarum) há um quadro de anorexia, a diarréia de coloração esverdeada e aderida as penas e a cloaca, o animal fica prostrado, apresentando fraqueza e queda na postura. AVES Na SALMONELOSE "PARATIFOIDE" a manifestação septicêmica leva a uma grande taxa de perda nas primeiras duas semanas de vida. Em aves jovens, os sinais predominantes são apatia, penas arrepiadas, asas caídas, amontoamento e diarréia. Já nas aves adultas, os sinais englobam inapetência, diarréia e queda na produtividade de ovos. Em alguns casos, pode ocorrer cegueira e claudicação.
Achados de necropsia- BOVINOS: → Salmonella enterica subsp. enterica sorovar Thyphimurium e Salmonella enterica subesp. enterica sorovar Dublin são os sorovares que mais afetam os bovinos. → Intestino delgado com espessamento de parede e deposição de material fibrinoso no lúmen. → Fígado aumentado com áreas pálidas/alaranjadas multifocais, podendo apresentar distensão e edemaciação da vesícula biliar. → Aumento de volume de linfonodos mesentéricos. → Podem ocorrer, em alguns casos, úlceras botonosas na mucosa intestinal. 
HISTOLOGIA: → Intestino delgado com necrose e ulceração de mucosa, apresentando infiltrado inflamatório, células imunológicas e deposição de fibrina. → Fígado com áreas de necrose, deposição de fibrina e infiltrado inflamatório. → Septos e espaços alveolares apresentando infiltrado de macrófagos, linfócitos e células plasmáticas. → Através da marcação imunológica, podem.os observar as bactérias na borda da mucosa intestinal e livres no lúmen (e), além de poderem também ser observadas no citoplasma de macrófagos (f).
Suínos: → Enterite fibrinohemorrágica, na qual o intestino se encontra flácido e com diversas manchas brancas. No caso em questão na imagem (a), também evidenciou-se o odor de tanque séptico, característico de casos não tratados da doença. → Além do intestino, muitos outros órgãos podem apresentar achados macroscópicos, como esse caso de infecção aguda por Salmonella cholerasuis em (b), onde é possível observar múltiplas hemorragias petequiais difusas pelos pulmões e no rim. → É muito comum observar a formação de fibrina em casos de Salmonelose, como observa-se em (c) a formação de um "tampão" de fibrina dilatando a bexiga.
Equinos: → Lesões macroscópicas de intestino grosso são extremamente comuns. Pode-se observar serosas difusamente hiperêmicas e avermelhadas, podendo ainda se estender à mucosa com coloração vermelho-escura como se observa na alça dorsal do cólon maior de um equino em (a). → Em alguns casos, ainda é possível observar a presença de uma pseudomembrana amarela-acastanhada de fibrina aderida à mucosa hiperêmica do instesino, como é o caso do jejuno de um equino em (b). → Outra lesão característica são as úlceras botonosas, apresentando- se como mútiplas úlceras amareladas circunscritas, evidenciadas no cólon do equino em (c).
Javali: → Enterite fibrinonecrótica em javali. Exsudato fibrinoso e necrótico amarelado, com formato tubular intestinal.
Cão: → Enterite fibrinonecrótica em necropsia de cão filhote. Conteúdo sanguinolento e segmento escuro do intestino, com odor de fossa séptica
Marmota: → O lúmen está dilatado e túrgido devido ao conteúdo do fluido e fibrina vista na superfície interna da mucosa. Quando aberto, um odor distinto de tanque séptico geralmente pode ser notado.
Diagnóstico- Devido a grande variedade de enfermidades com sinais clínicos semelhantes, o diagnóstico clínico sozinho não é viável para o quadro de salmonelose. Desse modo, o isolamento ou identificação do agente etiológico é o melhor caminho para obter-se um diagnóstico definitivo e determinar o sorotipo envolvido. O Diagnóstico Anatomopatológico irá verificar as alterações no TGI e é muito utilizado como parte dos programas de controle de salmonelose nos criatórios avícolas brasileiros e nas unidades de abate. É muito importante no Serviço de Inspeção.
Anatomopatológico- Bovinos: Mucosa hiperêmica e dematosa, com lesões erosivas, recoberta por exsudato fibrinossupurativo. AVES: Pode-se observar aumento e congestão de fígado, rins e baço. Pode apresentar pontos brancos em diferentes ógãos, liquido sinovial alterado, não absorção do saco vitelino, com conteúdo caseoso; exsudato na câmara anterior do olho.
O diagnóstico laboratorial é imprescindível para os casos de salmonelose e pode ser feito para todas as espécies animais afetadas. SOROLÓGICO Utilizado principalmente para aves, é feito com o objetivo de monitorar as diferentes etapas do Núcleo de Criação Avícola para verificar se há a Salmonela circulante:Identificação indireta de Anticorpos neutralizantes para a Salmonela →Aglutinação Rápida em Placa a Aglutinação Lenta em Tubos (ALT) como Prova confirmatória BACTERIOLÓGICO: Coleta de mostras de fezes, que devem ser depositadas em meio nutriente para cultura como ágar verde brilhante ou outro meio nutriente e seletivo como ágar xilose-lisina desoxicolato (ágar XLD). Quando depositada em meio que contém ferro, como no ágar XLD, as colônias formadas apresentam o centro enegrecido. Outro meio muito utilizado é o ágar Salmonella Shigella (ágar SS), no qual também ocorre a produção de gás sulfídrico fazendo com que as colônias fiquem enegrecidas.
OUTROS EXAMES PCR das fezes Teste imuno histo-químico (IHQ) - utilizando anticorpos anti Salmonella sp. pode ser usado quando o isolamento bacteriano não é viável. Hemograma - leucopenia/leucocitose 
Tratamento- Uso de antimicrobianos na Salmonelose clinica é controverso1°) Antimicrobianos podem induzir o estado de portador no animal 2°) Criação de estirpes resistentes a fármacos, não só de um animal, mas de todos os outros posteriormente contaminados. Assim, o uso de antimicrobianos depende do antibiograma. Caso o antibiograma não seja possível, e o suíno esteja com Salmonelose septicêmica, pode-se: - Trimetoprima-sulfadoxina - Com a combinação de clortetraciclina e sulfametazina em massa no suprimento de água (75 mg de cada por litro de água). Quando tem muitos suínos acometidos , a medicação em massa por meio da alimentação ou da água normalmente é praticada. O tratamento oral de suínos é reconhecido como satisfatório. E para os suínos enfermos que não comem? Fármacos que dissolvem e sejam palatáveis, são extremamente necessários.
BOVINOS E BEZERROS: Tratamento oral é satisfatório Antimicrobiano (antibiograma sempre que possível):Trimetoprima-sulfonamida 20 mg da combinação/kgIV/IM a cada 12 a 24 h Antibióticos: Amoxicilina: 10 mg/kg, IM, a cada 12 h Amoxicilina-clavulanato: 12 mg da combinação/kg, IM, a cada 12 h Ampicilina: 10 mg/kg VO/IM, a cada 12 h Enrofloxacino*: 2,5 a 5,5 mg/kg SC/IM, a cada 24 h Ceftiofur*: 1,1 a 2,2 mg/kg PC, a cada 24 h SC/IM por 3 dias 
EQUINOS E BOVINOS: Uso de fluidoterapia, Anti-inflamatórios não esteroidais (AINE): - Flunixino meglumina: 2,2 mg/kg IV em dose única - Meloxicam: 0,5 mg/kg SC/IV em dose única
Equinos e potros- Antimicrobianos indicados em casos de bacteriemia e sepse Cuidado no uso do antimicrobiano Tetraciclina -> diarréia em equinos adultos Escolha do antibiótico. Gentamicina a 3 mg/kg, combinado a ampicilina 20 mg/kg - Trimetoprima-sulfonamida IV, 2 vezes/dia, combinada a uma dose de 30 mg/kg de ceftiofur a 2 a 4 miligramas por quilo de peso, 2 vezes/dia. - Sulfadiazina, sulfadoxina e sulfametoxazol são as melhores para se combinar com trimetoprima para a salmonelose em equinos. - Ampicilina: 20 mg/kg IV/IM, a cada 8 a 12 h - Amoxicilina triidratada: 20 mg/kg, IM, a cada 12 h
Potros- São tratados por via oral ou sistêmica com antimicrobianos Tratamentos em intervalos de pelo menos 6 horas, acompanhado de fluidoterapia de suporte. Antimicrobianos recomendados: Gentamicina - Ampicilina - Combinações de sulfonamidas e clorafenicol
Aves- O tratamento não elimina os portadores, embora controle a taxa de mortalidade. São indicados como terapêutica: Avoparcina, Lincomicina, Furazolidona, EstreptomicinaGentamicin. "Coquetel" de flora normal -> reduzir a quantidade de salmonelas excretadas por aves portadoras (eliminação competitiva).
Profilaxia- Boas práticas de produção em todas as etapas da cadeia: Higiene do ambiente, Manejo correto, Adoção de um plano de biosseguridade, Controle de pragas, Monitoramento microbiológico, Capacitação dos funcionários, Ingestão do colostro (no caso de bovinos e suínos). Boas práticas de produção em todas as etapas da cadeia: Manter alimentos cárneos em refrigeração contínua, Cozinhar bem os alimentos de origem animal, Lavagem correta de verduras e legumes, Higienização das mãos e dos objetos em contato com os alimentos e de animais vivos.
Controle- • Monitoramento das medidas de prevenção • Identificação, isolamento e tratamento dos animais doentes • Realização de exame microbiológico, identificação do sorotipo e adoção das medidas específicas • Verificação das condições sanitárias do ambiente de produção e fiscalização sanitária em comércios.
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