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APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA! Prezado (a) estudante, É com grande satisfação que apresento a você a disciplina de Legislação Empresarial e Consumerista. Vamos mergulhar no mundo do Direito Empresarial e Consumerista para desvendar seus principais institutos. Aqui, você encontrará materiais úteis para ampliar seus conhecimentos, revisar conteúdos e algumas avaliações de aprendizagens. O nosso material de estudo foi estruturado para compreender os elementos constitutivos do Direito Empresarial e do Consumidor e a sua aplicabilidade. Para tanto, estudaremos a disciplina em cinco unidades e uma de revisão de conteúdo. A disciplina é composta por 2 (duas) atividades de percurso, avaliação regular, avaliação de 2ª chamada, avaliação de recuperação e exame final. Recomendo que, durante a realização da disciplina, você procure interagir com os textos, fazer anotações, responder a todas as atividades de percurso disponibilizadas no ambiente virtual no seu tempo; respeitando, é claro, o período de realização da disciplina, de acordo com o calendário acadêmico e participando ativamente dos fóruns e atividades. Para finalizar, chamo a sua atenção para a importância de, ao final de cada conteúdo, completar seus estudos com o material complementar disponibilizado e realizar novas pesquisas sobre os assuntos tratados nas unidades temáticas; pois, tais atividades lhe possibilitarão organizar o seu processo educativo e, assim, superar os desafios na construção de conhecimentos. Desejo a você um ótimo estudo. Espero atender às expectativas que sempre são criadas em torno desta disciplina e que você tenha um ótimo aprendizado. Forte abraço! Professora Marizete! UNIDADE I: NOÇÕES DE DIREITO. PESSOA NATURAL E PESSOA JURÍDICA. Prezado (a) aluno (a), nesta primeira unidade temática estudaremos noções gerais de Direito e a sua aplicabilidade, Pessoa Natural e Pessoa Jurídica. Ao final desta unidade temática, você será capaz de: Conhecer os conceitos gerais pertinentes ao Direito, bem como ter uma visão de conjunto e instrumentos básicos da técnica jurídica; Relacionar os conceitos de pessoa natural e pessoa jurídica no direito empresarial e consumidor. É importante destacar que o seu aprendizado dependerá do seu envolvimento e dedicação, quanto maior for o seu comprometimento melhor será o resultado. Para começar, pergunto: já parou para pensar que na linguagem comum e nos compêndios especializados, o vocábulo Direito é empregado em várias acepções? Saber distinguir cada um desses sentidos corresponde a uma exigência não apenas de ordem teórica, mas igualmente prática. (NADER, 2014, p.97). O vocábulo Direito é classificado como termo análogo ou analógico, pelo fato de possuir vários significados que, apesar de se diferenciarem, guardam entre si alguns nexos. Segundo Paulo Nader, empregamos esse termo, ora em sentido objetivo, como norma de organização social, ora do ponto de vista subjetivo, para indicar o poder de agir que a lei garante. Em algumas vezes, o referido termo faz referência à Ciência do Direito e outras, como equivalente à justiça. Ainda no campo das curiosidades e antes de entrar no conteúdo propriamente dito, cabe mais uma pergunta: você já questionou a relação da pessoa natural e jurídica no Direito Empresarial e Consumidor? O Código Civil na sua parte geral trata acerca das pessoas como sujeitos de direito e busca regular a vida em sociedade, bem como as relações que estas compõem. Integram o ordenamento jurídico duas espécies de pessoas: a pessoa natural ou pessoa física, ou seja, o ser humano propriamente dito, e a pessoa jurídica, essa formada por um grupo de pessoas naturais. É importante ressaltar que cada uma dessas pessoas natural e jurídica, possui direitos e deveres estipulados pelo ordenamento jurídico. Para compreender e entender quais são esses direitos e deveres a essas pessoas, é necessário um estudo mais aprofundado. 1. Noções de Direito Disponível em: https://cdn.pixabay.com/photo/2017/02/12/14/00/justice-2060093__340.jpg A noção básica do Direito, presente nesse estudo, visa a fornecer ao aluno uma visão global do Direito, que não pode ser obtida por meio do estudo isolado dos diferentes ramos da árvore jurídica. Vale ressaltar que o estudo do Direito, cujos conceitos são vistos em maior ou menor profundidade em cursos de estudos jurídicos, exigem certa reflexão e maturidade de conhecimentos para a sua melhor compreensão. Os primeiros contatos do estudante que não são de cursos específicos de estudos jurídicos se fazem por meio das noções básicas de Direito, que funciona como um elo entre a cultura geral, obtida no curso médio. Tais noções é de grande relevância para o processo de adaptação cultural do aluno iniciante nos estudos das normas jurídicas. É comum ao estudante sentir-se atônito, com muitas dificuldades, em face dos novos conceitos, terminologia e diante do próprio sistema que desconhece. No entanto, é por meio das noções do Direito que o estudante deverá superar os primeiros desafios para compreender a importância e aplicabilidade do direito para a manutenção da ordem social. É importante deixar claro que o direito é dinâmico como a sociedade, uma vez que no Direito não há dogmas, mas princípios, normas e leis que podem e devem ser alterados de acordo com as necessidades sociais. Outro ponto que deve ser observado é que o Direito ensina a viver e a conviver, ensina a compreender melhor a sociedade e a nós mesmos. O Direito ensina, contudo, a distinguir o justo do injusto; o correto do incorreto (VENOSA, 2019, p.22). Assim, o Direito pode ser definido como o conjunto de normas imperativas que regulam a vida em sociedade, dotadas de coercibilidade quanto à sua observância. É por viverem em sociedade que os seres humanos necessitam de regras e princípios que possibilitem o convívio entre eles, permitindo a sua evolução, a harmonia e a paz nas relações sociais. Nas palavras de Miguel Reale (2002), o “Direito corresponde à exigência essencial e indeclinável de uma convivência ordenada, pois nenhuma sociedade poderia subsistir sem um mínimo de ordem, de direção, de solidariedade". Assim, o direito é visto como "lei e ordem, ou seja, um conjunto de regras obrigatórias que garante a convivência social graças ao estabelecimento de limites à ação de cada um de seus membros. Nesse sentido, os preceitos jurídicos são normas imperativas de comportamento, no sentido de que a sua observância é obrigatória. Não se trata de uma criação abstrata, pois o Direito não sobrevive sobre entidades abstratas. O Direito, em sentido amplo, concretiza-se na sociedade. Logo, as normas jurídicas são dotadas de coercibilidade, que é a possibilidade de se ter a coação, como forma de obrigar a pessoa ao seu cumprimento. Isso ocorre mediante a previsão e a imposição de sanção, aplicada de forma organizada, pela autoridade constituída, ou seja, pelo órgão competente, de modo a garantir o respeito à ordem jurídica. 1.1 O que é Direito? Inicialmente, cumpre deixar claro que a primeira dificuldade para delimitar o conceito de Direito reside na ampla divergência entre os juristas, quanto à sua definição. O senso comum dos juristas faz uma estreita ligação entre Direito e Estado, entendendo que o Direito é "o conjunto de normas” de conduta obrigatória estabelecidas ou autorizadas pelo próprio Estado e garantidas pelo seu poder. Para entendermos o tal fenômeno jurídico, é preciso utilizar-se a princípio do conceito trazido pelo dicionário, que significa “s.m. Reunião das regras e das leis que mantêm ou regulam a vida em sociedade. Jurídico. Ciência que estuda essas normas, leis” (Dicionário Aurélio). A palavra Direito nos remete à noção do que é certo, correto, justo, reto, equânime. Quando mencionamosessa palavra, é importante saber a forma que a empregamos, se é como substantivo, adjetivo ou advérbio. Vale lembrar que o termo Direito é uma palavra plurívoca, isto é, possui vários significados, ainda que ligados e entrelaçados, com sentido análogo. Assim, para a definição do Direito em sentido strito, primeiramente, deve-se ter em mente que esse vocábulo compreende enfoques e significados diversos. Para melhor entendimento do termo, podemos utilizá-lo para significar o justo, ou o conjunto de normas jurídicas, ou a prerrogativa que tem a pessoa de fazer valer determinada posição jurídica. Segundo a doutrina, o Direito pode ser visto sob diversas perspectivas, tais como o direito como justiça, direito como ordenamento jurídico e direito como direito subjetivo. No aspecto objetivo, o conceito de Direito pode ser entendido como a realidade, presente na vida social, que regula as relações entre as pessoas. Por fim, entre os diversos conceitos trazidos pela doutrina, o Direito pode ser definido como o conjunto de normas imperativas que regulam a vida em sociedade, dotadas de coercibilidade quanto à sua observância. 1.2 Finalidade do Direito Para Paulo Nader (2014), “o Direito está em função da vida social. A sua finalidade é a de favorecer o amplo relacionamento entre as pessoas e os grupos sociais, que é uma das bases do progresso da Sociedade”. Assim, o Direito pode ser visto como um manto protetor de organização e de direção dos comportamentos sociais. Nas palavras de Miguel Reale (2002, p. 21), o “Direito, por conseguinte, tutela comportamentos humanos: para que essa garantia seja possível é que existem as regras, as normas de direito como instrumentos de salvaguarda e amparo da convivência social”. É importante ressaltar que o Direito prescreve condutas imperativas e prevê sanções objetivando o seu cumprimento. Logo, o direito é um instrumento de pacificação social, que visa favorecer o amplo relacionamento entre as pessoas e os grupos sociais a fim de manter a ordem e coordenar os interesses individuais e coletivos. 1.3 Acepções da palavra Direito Na linguagem comum e nos compêndios especializados, o vocábulo Direito é empregado em várias acepções. Saber distinguir cada um desses sentidos corresponde a uma exigência não apenas de ordem teórica, mas igualmente prática (NADER, 2014, p.97). Nas palavras do autor, a falta de um vocábulo que distinguisse o Direito total de um Direito isolado, sugeriu a formação de um neologismo, ou seja, propôs a palavra Jurística para designar a Ciência do Direito. Em lato sensu, a Ciência do Direito corresponde ao setor do conhecimento humano que investiga e sistematiza os conhecimentos jurídicos. Em stricto sensu, é a particularização do saber jurídico, que toma por objeto de estudo o teor normativo de um determinado sistema jurídico. Ressalta-se que é no sentido stricto sensu que se fala em Dogmática Jurídica ou Jurisprudência Técnica. Ciência do Direito É comum empregar-se o vocábulo Direito como referência à Ciência do Direito No exemplo de Paulo Nader (2014), “quando se diz que “fulano é aluno de Direito”, este substantivo não expressa, naturalmente, normas de conduta social, mas a ciência que as enlaça como objeto”. Direito Natural É constituído por um conjunto de princípios, e não de regras, de caráter universal, eterno e imutável. Por exemplo: o direito à vida e à liberdade. Em contato com as realidades concretas, esses princípios são desdobrados pelo legislador, mediante normas jurídicas, que devem adaptar-se ao momento histórico. O Direito Natural revela ao legislador os princípios fundamentais de proteção ao homem, que forçosamente deverão ser consagrados pela legislação a fim de que se obtenha um ordenamento jurídico substancialmente justo. É importante destacar que o Direito Natural não é escrito, não é criado pela sociedade, nem é formulado pelo Estado, ou seja, é um Direito espontâneo, que se origina da própria natureza social do homem e que é revelado pela conjugação da experiência e razão. As diversas formas de expressão jurídica, admitidas pelo sistema adotado pelo Estado, configuram o Direito Positivo. Assim, por Direito Positivo devemos entender como o conjunto de normas jurídicas vigentes em determinada sociedade. Outo ponto a ser observado com relação à acepção da palavra direito diz respeito ao Direito Objetivo e ao Direito Subjetivo. Segundo a doutrina, não são duas realidades distintas, mas dois lados de um mesmo objeto, ou seja, entre ambos, não há uma antítese ou oposição. Assim, o Direito vigente pode ser analisado sob dois ângulos diferentes. Direito Positivo É o Direito institucionalizado pelo Estado. É a ordem jurídica obrigatória em determinado lugar e tempo. Não é necessário, à sua caracterização, que seja escrito. Por exemplo: As normas costumeiras, que se manifestam pela oralidade, constituem também Direito Positivo. Direito Objetivo Do ponto de vista objetivo, o Direito é norma de organização social. É o chamado Jus norma agendi. Por exemplo: quando se afirma que o Direito do Trabalho não é formalista, emprega-se o vocábulo Direito em sentido objetivo, como referência às Nesse contexto, o direito objetivo é constituído por um conjunto de regras destinadas a reger um grupo social, cujo respeito é garantido pelo Estado (norma agendi). O direito subjetivo é um direito personalizado, em que a norma, perdendo o seu caráter teórico, projeta-se na relação jurídica concreta, para permitir uma conduta ou estabelecer consequências jurídicas. Para Paulo Nader (2014, p, 98), quando dizemos que “fulano tem direito à indenização”, afirmamos que ele possui direito subjetivo. É a partir do conhecimento do direito objetivo que deduzimos os direitos subjetivos de cada parte dentro de uma relação jurídica. Por fim, no que tange ao emprego do vocábulo no sentido de Justiça, é comum observar-se o emprego da palavra Direito como referência ao que é justo. Assim, ao se falar que “fulano” é homem direito”, pretende-se dizer que ele é justo em suas atitudes. 1.4 Fontes do direito Disponível em: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn%3AANd9GcSx_flIms0BX-qUexrJZ5Wp_pmbZH- ZRHCXZQ&usqp=CAU A expressão fontes do Direito apresenta sentidos diversos. A doutrina jurídica não se apresenta uniforme quanto ao estudo das fontes do Direito. Entre os estudiosos da Ciência Direito Subjetivo Corresponde às possibilidades ou poderes de agir, que a ordem jurídica garante a alguém. do Direito, há uma grande diversidade de opiniões quanto ao presente tema, principalmente em relação ao elenco das fontes. Fontes do Direito provém do latim, fons, fontis, significa o manancial, o início ou o princípio do qual surge o Direito. Em outras palavras, fonte seria a expressão utilizada para designar a origem das normas jurídicas. As Fontes do Direito correspondem às formas de poder, quais sejam: o processo legislativo; a jurisdição; os usos e costumes jurídicos, os quais exprimem o poder social; a fonte negocial, da autonomia da vontade (GARCIA, 2015, p.50). Ressalta-se que as fontes do Direito são divididas em: materiais e formais e que se diferenciam entre si. As fontes materiais do Direito são os motivos éticos, morais, históricos, sociológicos, econômicos, religiosos e políticos que deram origem à norma jurídica. Estas envolvem os fatores reais que condicionaram o aparecimento da norma jurídica, as razões (econômicas, sociais, políticas etc.) que influenciaram a criação da norma de Direito. Já as fontes formais do Direito podem ser entendidas como os modos de manifestação das normas jurídicas. Nessa perspectiva, as fontesformais do Direito são as formas de expressão do Direito, ou seja, os meios de exteriorização das normas jurídicas. Fontes do Direito Fontes Materiais Fontes Formais Fontes estatais Fontes não estatais Englobam as normas legais e jurisprudenciais. Abrangem o costume e os negócios São as instituições ou grupos sociais que possuem capacidade de editar normas. São constituídas por fatores, tais como: o clima, a religião, a economia, a política, os avanços tecnológicos e científicos etc. As fontes formais também podem ser assim classificadas: 1.5 Lei A lei é a forma moderna de produção do Direito Positivo. É ato do Poder Legislativo, que estabelece normas de acordo com os interesses sociais. A sua fonte material é representada pelos próprios fatos e valores que a sociedade oferece. Em sentido amplo, emprega-se o vocábulo lei para indicar o Jus scriptum. É uma referência genérica que atinge à lei propriamente, à medida provisória e ao decreto. A Constituição Federal de 1988, no seu art. 5.º, inciso II, disciplina que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”, o que revela a importância desta no Estado de Direito. A lei resulta do processo legislativo, o qual é composto de fases por meio das quais a lei é produzida. Para ser válida, a lei deve emanar do “poder competente”. O Brasil é uma República Federativa e sua organização político-administrativa compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Desse modo, as leis podem ser: federais, estaduais, distritais e municipais. Frisa-se que, no âmbito da competência legislativa concorrente entre a União, os Estados e o Distrito Federal, a titularidade da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. Fontes Formais Fontes nacionais Fontes internacionais Integram a ordem jurídica nacional do Estado. Referentes aos tratados e convenções .internacionais. A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário. Em Sentido Estrito, a lei é o preceito comum e obrigatório, emanado do Poder Legislativo, no âmbito de sua competência. Normalmente são preceitos de caráter geral, ou seja, voltam-se “a todos os membros da coletividade”. Não há hierarquia entre as leis, mas sim matérias de competência legislativa (a qual pode ser privativa e concorrente) dos entes políticos integrantes da República Federativa do Brasil. Em relação às pessoas a quem se dirigem, as leis podem ser classificadas em gerais (por exemplo, o Código Civil), especiais (Consolidação das Leis do Trabalho) e individuais (lei que conceda pensão a determinada pessoa). As leis não se confundem com a Constituição e com as emendas constitucionais. A Constituição é a norma jurídica superior, sendo o fundamento de validade das demais normas de Direito. Ela é produzida pelo poder constituinte originário. As leis complementares, as leis ordinárias, as leis delegadas e as medidas provisórias são hierarquicamente inferiores, devendo, por isso, ser produzidas de acordo com os procedimentos previstos (processo legislativo), bem como ter o seu conteúdo em consonância com a Constituição, ou seja, para ser válida, a lei deve ser constitucional no aspecto formal e material. QUADRO SINÓTICO MODALIDADE SIGNIFICADO Leis complementares Modalidade legislativa reservada a certas matérias, conforme previsão na Constituição Federal, apresentando quorum diferenciado para a aprovação (art. 69, da CF/1988: “As leis complementares serão aprovadas por maioria absoluta”). Leis ordinárias Decorrentes de projetos de leis aprovados pelo Poder Legislativo, com a sanção do Poder Executivo. Leis delegadas De mesma hierarquia das leis ordinárias, mas com a particularidade de serem elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a delegação ao Congresso Nacional (art. 68 da CF/1988). Medidas provisórias As quais podem ser adotadas pelo Presidente da República, com força de lei, em caso de relevância e urgência, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional (art. 62 da CF/1988). Decretos legislativos Os quais são atos legislativos aprovados pelo Congresso Nacional, sobre matérias de sua exclusiva competência, como resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional (art. 49 da CF/1988). Resoluções Podem ser do Congresso Nacional e do Senado Federal, tratando de matérias próprias. Saiba mais sobre as leis acessando o link abaixo e assistindo aos vídeos. Disponível em: https://youtu.be/lzSzPHrFT3A 1.6 Costumes Enquanto a lei é um processo intelectual que se baseia em fatos e expressa a opinião do Estado; o costume é uma prática gerada espontaneamente pelas forças sociais. Os costumes constituíam forma de expressão do Direito de grande destaque em antigas épocas. No Direito moderno, os costumes foram perdendo força para o Direito legislado, embora ainda se mantenham existentes. Ressalta-se que os costumes apresentam grande importância em certos ramos do Direito, como ocorre no Direito Internacional Público, com destaque para os costumes internacionais. Frisa-se que a formação do costume é lenta e decorre da necessidade social de fórmulas práticas para resolverem problemas. Para que o costume alcance força jurídica, é necessário, em primeiro plano, que esteja previsto no ordenamento jurídico como forma de expressão do Direito. https://youtu.be/lzSzPHrFT3A Uma vez que o costume é incluído no elenco das fontes formais, torna-se indispensável a reunião dos elementos: material e psicológico. Faltando um destes elementos a norma social não apresentará valor jurídico. Segundo a doutrina, os costumes podem ser classificados em três espécies: Nesse sentido, o art. 140, do Código de Processo Civil, prevê que o juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico. Costume secundum legem É aquele que está previsto na lei, a qual reconhece a sua força obrigatória. Por exemplo: na prestação de serviços, regulada pelo Código Civil, não se tendo estipulado, nem chegado a acordo as partes, fixar-se-á por arbitramento a retribuição, segundo o costume do lugar, o tempo de serviço e sua qualidade (art. 596). A retribuição deve ser paga depois de prestado o serviço, se, por convenção, ou costume, não houver de ser adiantada, ou paga em prestações (art. 597). Costume praeter legem Reveste-se de caráter supletivo, podendo ser utilizado quando a lei for omissa. Ou seja, serve para a integração de lacunas. Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. Costume contra legem É aquele que dispõe em sentido contrário ao previsto na lei. Nesse enfoque, não é admissível a aplicação de costume contra legem. Considerando que a norma costumeira é formada ao longo do tempo, discute-se a respeito da necessidade de sua prova por aquele que o alega. Isso significa dizer, que a parte que alega o direito costumeiro, deverá provar o teor e a vigência, se assim o juiz determinar. É importante deixar claro que somente há o ônus de provar o Direito costumeiro se assim o determinar o juiz, caso este conheça a norma jurídica costumeira, fica autorizado a aplicá-la. Quer saber mais sobre costumes? Veja ovídeo AGU- Formas de integração da norma jurídica no link abaixo: Disponível em: https://youtu.be/shVkb_OtzWk 1.7 Jurisprudência A jurisprudência pode ser entendida como o conjunto de decisões uniformes e constantes dos tribunais, proferidas para a solução judicial de conflitos, envolvendo casos semelhantes. É “a forma de revelação do Direito” resultante do exercício da jurisdição, decorrente de uma sucessão harmônica de decisões dos tribunais. A jurisprudência se forma não apenas quando há lacunas na lei ou quando esta apresenta defeitos. Como critério de aplicação do Direito vigente, como interpretadora de normas jurídicas preexistentes, a jurisprudência reúne modelos extraídos da ordem jurídica, de leis suficientes ou lacunosas, claras ou ambíguas, normais ou defeituosas. A jurisprudência pode apresentar-se sob três espécies: secundum legem, praeter legem, contra legem. Secundum legem Limita-se a interpretar determinadas regras definidas na ordem jurídica. As decisões judiciais refletem o verdadeiro sentido das normas vigentes. Praeter legem É a que se desenvolve na falta de regras específicas, quando as leis são omissas. Com base na analogia ou princípios gerais de Direito, os juízes declaram o Direito. Há o entendimento de que a jurisprudência inova matéria jurídica, estabelecendo normas que se diferenciam daquelas estritamente presentes nas leis, ao interpretar e aplicar diferentes preceitos normativos de forma lógica e sistemática. Ressalta-se que o Direito criado pela jurisprudência tem a sua obrigatoriedade restrita ao caso em que é proferida a decisão. Não se pode perder de vista que a jurisprudência exerce o importante papel de atualizar as disposições legais, tornando-as compatíveis com a evolução social. Nesse sentido, a jurisprudência deve ter certa estabilidade de forma a evitar mudanças bruscas, repentinas, injustificadas, para que seja respeitada a segurança jurídica. Outro ponto a ser considerado é que a jurisprudência deve atender à necessidade de coerência. Logo, questões iguais devem ser tratadas e decididas com isonomia substancial, aplicando-se a mesma tese aos casos que envolvam idêntica questão jurídica, como forma de concretização da justiça. Para finalizar, cabe registrar que os tribunais aprovam súmulas, enunciando, de forma resumida, o entendimento já firmado sobre certas matérias, após terem sido objeto de decisões reiteradas no mesmo sentido. As súmulas proporcionam maior estabilidade à jurisprudência, constituindo forma de expressão jurídica. Quer saber mais sobre jurisprudência? Veja o vídeo “AGU explica” no link abaixo: Disponível em: https://youtu.be/rH3IP_1Ld5E Contra legem Forma-se ao arrepio da lei, contra disposições desta. É prática não admitida no plano teórico. Contudo, é aplicada e surge quase sempre em face de leis anacrônicas ou injustas. Ocorre quando os precedentes judiciais contrariam a mens legis, o espírito da lei. 1.8 Pessoa natural e pessoa jurídica O Código Civil disciplina as relações jurídicas privadas que nascem da vida em sociedade e se formam entre pessoas. Significa que tal relação não é entre pessoas e animais ou entre pessoas e coisas. Ou seja, são as relações sociais, de pessoa a pessoa, física ou jurídica, que produzem efeitos no âmbito do Direito. O Código Civil de 2002 (Lei nº 10.406/ 2002) é dividido em duas partes: Parte Geral e Parte Especial. A Parte Geral do Código Civil contém três livros divididos da seguinte forma: O primeiro sobre as pessoas naturais e jurídicas como sujeitos da relação jurídica; O segundo, relativo aos bens, como objeto do direito, em torno dos quais se formam as diversas relações jurídicas; O terceiro, a respeito dos fatos jurídicos, que estimulam o relacionamento humano e permitem criar, modificar ou extinguir direitos. A Parte Especial, por sua vez, divide-se em cinco livros: O primeiro sobre Direito das Obrigações; O segundo sobre Direito de Empresa; O terceiro sobre Direito das Coisas; O quarto sobre Direito de Família; O quinto sobre Direito das Sucessões. Por curiosidade, cabe destacar que nesta unidade só iremos estudar o Livro I da Parte Geral concernente às pessoas, em dois títulos, das pessoas naturais, das pessoas jurídicas. Com relação à parte especial, por sua vez, iremos estudar o segundo livro que trata do Direito de Empresa. 1.8.1 Pessoa natural A nomenclatura “pessoa natural” revela-se, assim, a mais adequada, como reconhece a doutrina em geral, por designar o ser humano tal como ele é, com todos os predicados que integram a sua individualidade. Desta forma, pessoa física ou natural é o ser humano, considerado como sujeito de direitos e obrigações nos termos do artigo 1º, do Código Civil, quando dispõe que: “Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”. Para qualquer pessoa ser assim designada, basta nascer com vida e, desse modo, adquirir personalidade. Cabe mencionar que a pessoa física tem personalidade jurídica, o que não se confunde com a personalidade natural. Esta é individual, composta pelo complexo psíquico e físico da pessoa natural. Ou seja, é a aptidão que todos têm para adquirir direitos e obrigações. Logo, a personalidade natural é variável, de indivíduo para indivíduo, sendo pessoal e individualizada. Ter-se-ão tantas personalidades quantos foram os seres humanos existentes. Entretanto, a personalidade jurídica é igual para todos os seres humanos. Todos a tem na mesma medida. Ressalta-se que a pessoa física também tem capacidade jurídica, que não se confunde com a personalidade jurídica, nem com a capacidade natural. A capacidade jurídica é a medida jurídica das atribuições da personalidade jurídica. Enquanto todo ser humano tem, igualmente, personalidade jurídica (aptidão fundamental para ser sujeito de direitos e obrigações), nem todos têm a mesma capacidade jurídica. Nesse sentido, capacidade jurídica é uma medida limitadora ou delineadora da possibilidade de adquirir direitos e de contrair obrigações. 1.8.2 Personalidade jurídica O conceito de personalidade está umbilicalmente ligado ao de pessoa. Todo aquele que nasce com vida torna-se uma pessoa, ou seja, adquire personalidade. Esta é, portanto, qualidade ou atributo do ser humano (GONÇALVES, 2017, p.95). Personalidade jurídica é a aptidão genérica para titularizar direitos e contrair obrigações. É pressuposto para a inserção e atuação da pessoa na ordem jurídica. Adquirida a personalidade, o ente passa a atuar, na qualidade de sujeito de direito, praticando atos e negócios jurídicos dos mais diferentes matizes. A personalidade é, portanto, o conceito básico da ordem jurídica, que a estende a todos os homens, consagrando-a na legislação civil e nos direitos constitucionais de vida, liberdade e igualdade. Em outras palavras, a personalidade jurídica é qualidade jurídica que se revela como condição preliminar de todos os direitos e deveres. Ressalta-se que nem sempre, porém, foi assim. A título de curiosidade, no direito romano, o escravo era tratado como coisa, ou seja, era desprovido da faculdade de ser titular de direitos e ocupava, na relação jurídica, a situação de objeto, e não de sujeito. Hoje, essa qualidade é reconhecida a todo ser humano, o que de certa forma representa uma conquista da civilização jurídica. Isso permite a ilação de que a personalidade é atributo de toda e qualquer pessoa, seja natural ou jurídica, uma vez que a própria norma civil não faz tal distinção de acepções. O Código Civil, de 2002, reconhece os atributos da personalidade com esse sentido de universalidade ao proclamar, no art. 1º: Frisa-se que o Direito também reconhece a personalidadea certas entidades morais, denominadas pessoas jurídicas, compostas de pessoas físicas ou naturais, que se agrupam, com observância das condições legais, e se associam para atingir os seus objetivos econômicos ou sociais. Art. 1º, do CC - Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. Não há distinção, de qualquer natureza, a toda pessoa, quer dizer, todo ser humano nascido com vida. Para qualquer pessoa ser assim designada, basta nascer com vida e, desse modo, adquirir personalidade. 1.8.3 Aquisição da Personalidade Jurídica Para o Direito, a pessoa natural é o ser humano, enquanto sujeito destinatário de direitos e obrigações. A personalidade jurídica, segundo preceito legal, ocorre a partir do nascimento com vida. O recém-nascido adquire personalidade jurídica, tornando-se sujeito de direito, mesmo que venha a falecer minutos depois. Assim, o início da personalidade jurídica começa com a respiração, sendo irrelevante se posteriormente o nascituro venha a óbito, a entrada de ar nos pulmões é suficiente para a aquisição da personalidade. Com relação ao nascituro, o Código Civil não o considera explicitamente pessoa, coloca a salvo os seus direitos desde a concepção. Vejamos a segunda parte do artigo 2º, do Código Civil, “a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro” (grifo nosso). A lei não lhe concede personalidade, a qual só lhe será conferida se nascer com vida. A proteção de direito do nascituro é, na verdade, “proteção de expectativa, que se tornará direito, se ele nascer vivo”. Três teorias procuram explicar e justificar a situação jurídica do nascituro: Natalista: afirma que a personalidade civil somente se inicia com o nascimento com vida. Personalidade condicional: sustenta que o nascituro é pessoa condicional, pois a aquisição da personalidade acha-se sob a dependência de condição suspensiva, o nascimento com vida, não se tratando propriamente de uma terceira teoria, mas de um desdobramento da teoria natalista, visto que também parte da premissa de que a personalidade tem início com o nascimento com vida. O art. 2º, do Código Civil, dispõe: “A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”. De acordo com o sistema adotado, tem-se o nascimento com vida como o marco inicial da personalidade. Nos termos do artigo 1º, do CC, a pessoa que nasce com vida tem a possibilidade de contrair direitos e deveres na ordem civil. Teoria Natalista: nasceu com vida = respirou = é pessoa = adquiriu personalidade. Concepcionista: admite que se adquire a personalidade antes do nascimento, ou seja, desde a concepção, ressalvado apenas os direitos patrimoniais, decorrentes de herança, legado e doação, que ficam condicionados ao nascimento com vida. No Brasil, a doutrina se manifesta de forma divergente, pois se por um lado estabelece que a personalidade civil tem início com nascimento com vida, o mesmo dispositivo a seguir assegura ao nascituro direitos desde a concepção. Apesar de toda controvérsia doutrinária, o fato é que, nos termos da legislação em vigor, inclusive do Código Civil, o nascituro, embora não seja expressamente considerado pessoa, tem a proteção legal dos seus direitos desde a concepção. DIREITOS DO NASCITURO a) o nascituro é titular de direitos personalíssimos (como o direito à vida, o direito à proteção pré-natal etc.); b) pode receber doação, sem prejuízo do recolhimento do imposto de transmissão inter vivos; c) pode ser beneficiado por legado e herança; d) o Código Penal tipifica o crime de aborto; e) como decorrência da proteção conferida pelos direitos da personalidade, o nascituro tem direito à realização do exame de DNA, para efeito de aferição de paternidade. 1.8.4 Capacidade jurídica e legitimação Todo ser humano tem capacidade de direito, pelo fato de que a personalidade jurídica é atributo inerente à sua condição. Adquirida a personalidade jurídica, toda pessoa passa a ser capaz de direitos e obrigações. A capacidade é a medida da personalidade, pois para uns ela é plena e, para outros, limitada. Nem toda pessoa, porém, possui aptidão para exercer pessoalmente os seus direitos, praticando atos jurídicos, em razão de limitações orgânicas ou psicológicas. É importante esclarecer que a capacidade que todos têm, e adquirem ao nascer com vida, é a capacidade de direito ou de gozo, também denominada capacidade de aquisição de direitos. Essa espécie de capacidade é reconhecida a todo ser humano, sem qualquer distinção. Nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves (2017, p.96): Personalidade e capacidade completam-se: de nada valeria a personalidade sem a capacidade jurídica, que se ajusta assim ao conteúdo da personalidade, na mesma e certa medida em que a utilização do direito integra a ideia de ser alguém titular dele. Com este sentido genérico não há restrições à capacidade, porque todo direito se materializa na efetivação ou está apto a concretizar-se. Para o autor, a privação total de capacidade implicaria a frustração da personalidade, pois se ao homem, como sujeito de direito, fosse negada a capacidade genérica para adquiri- lo, a consequência seria o seu aniquilamento no mundo jurídico. Frisa-se que nem toda pessoa possui aptidão para exercer pessoalmente os seus direitos, praticando atos jurídicos, em razão de limitações orgânicas ou psicológicas. É por faltar alguns requisitos materiais a certas pessoas que a lei, com o intuito de protegê-las, não lhes nega a capacidade de adquirir direitos, mais sim o de se autodeterminarem, ou de exercer pessoal e diretamente, exigindo para tanto, a participação de outra pessoa, que as representa ou assiste. Por exemplo, os recém-nascidos e os amentais sob curatela possuem apenas a capacidade de direito, mas não têm a capacidade de fato ou de exercício, logo precisam ser representados pelos pais e curadores, respectivamente. Mas se puderem atuar pessoalmente, estas possuem, capacidade plena. No entanto, para quem só ostenta a de direito, tem capacidade limitada e necessita de outra pessoa que substitua ou complete a sua vontade. São, por isso, chamados de “incapazes”. Reunidos os dois atributos, fala-se em capacidade civil plena. CAPACIDADE DE FATO + CAPACIDADE DE DIREITO = CAPACIDADE PLENA A Capacidade não se confunde com legitimação. Nem toda pessoa capaz pode estar legitimada para a prática de determinado ato jurídico. A legitimação traduz uma capacidade específica. Por exemplo, o ascendente é genericamente capaz, mas só estará legitimado a vender a um descendente se o seu cônjuge e os demais descendentes expressamente consentirem. A falta de legitimação alcança pessoas impedidas de praticar certos atos jurídicos, sem serem incapazes, como por exemplo, o tutor, proibido de adquirir bens do tutelado; o casado, exceto no regime de separação absoluta de bens, de alienar imóveis sem outorga do outro cônjuge; os tutores ou curadores de dar em comodato os bens confiados à sua guarda sem autorização especial. Leia mais sobre legitimidade nos artigos: 496, 1.749, I e 1.647, do Código Civil, em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm 1.9 Das incapacidades No âmbito das relações civis, são considerados absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos (art. 3.º, do Código Civil). Os absolutamente incapazes não podem exercer por si mesmos quaisquer atos da vida civil, não sendo considerada pelo ordenamento jurídico a sua vontade. Nos termos do artigo 166, I, do Código Civil, “o ato ou negócio jurídico praticado pelo absolutamente incapaz é nulo”. Dessemodo, o absolutamente incapaz deve ser representado para o exercício de direitos e a prática de atos jurídicos, pelos pais, tutor ou curador. Ainda na esfera das relações civis, são incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer (art. 4.º do Código Civil): Art. 4 o São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; IV - os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial. Na incapacidade relativa, permite-se a prática de atos jurídicos, desde que o relativamente incapaz seja assistido por pessoa plenamente capaz (pais, tutor ou curador). É anulável o negócio jurídico por incapacidade relativa do agente, nos termos do art. 171, I, do Código Civil. A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil (art. 5.º, do Código Civil). Art. 5 o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; II - pelo casamento; III - pelo exercício de emprego público efetivo; IV - pela colação de grau em curso de ensino superior. A maioridade civil passou a ser atingida aos dezoito anos a partir do Código Civil de 2002, seguindo uma tendência já firmada em nossa sociedade, no sentido de chamar os jovens à responsabilidade mais cedo, igualando-a, nesse aspecto, à maioridade criminal e trabalhista. Também é possível a antecipação da capacidade plena, em virtude da autorização dos representantes legais do menor ou do juiz, ou pela superveniência de fato a que a lei atribui força para tanto. De acordo com a sua causa ou origem, a emancipação pode ser de três espécies: voluntária, judicial e legal. Tipos de emancipação (art. 5º, do CC) Emancipação voluntária Emancipação judicial Emancipação legal • Vontade dos pais; • Vontade do menor; • Realização conforme sua causa ou origem; • A emancipação pode ser de três espécies: voluntária, judicial e legal; • No cartório de registro público, independe de homologação judicial; • O menor precisa ter 16 anos completos. • O menor possui um tutor; • O menor precisa ter 16 anos completos; • O juiz ouvirá o tutor; e a emancipação é conferida pelo juiz, por sentença. • Casamento; • Exercício de emprego público efetivo; • Colação de grau em ensino superior; • Ou que o menor, com 16 anos completos, tenha economia própria em função de: estabelecimento civil, comercial ou relação de emprego. A emancipação de menor gera alguns direitos para o emancipado. No entanto, a antecipação da capacidade ainda implica em algumas vedações. A emancipação de menor, portanto, implica em responsabilidades, direitos e deveres e deve ser bem pensada, uma vez que é irrevogável. 1.10. Pessoa jurídica Ser humano não é a mesma coisa que pessoa, são ideias bem distintas. Ser humano é um conceito biológico. Já pessoa, para o direito, é o sujeito capaz de titularizar direitos e deveres. Logo, não há uma identidade entre a condição humana e a condição de pessoa. Já houve um tempo em que seres humanos eram considerados coisas como no caso dos escravos. Em oposição a esses fatos, reconhece-se a personalidade jurídica das chamadas pessoas morais ou pessoas jurídicas, que são entes jurídicos não biológicos. Historicamente, os romanos já reconheciam a unidade jurídica dos grupos humanos, a exemplo das corporações de operários, porém, não evoluíram para reconhecer a figura da pessoa jurídica, o que teria ocorrido no Direito Canônico, quando a igreja aceitou a autonomia das ordens religiosas, que não se confundiam com a Igreja, embora estivessem a ela vinculadas, tampouco se confundiam com as pessoas naturais. Para Mamede (2018, p. 38), a pessoa jurídica é um artifício jurídico: um conceito e um instrumento criado para otimizar as relações sociais. Assim, a personalidade jurídica não é condição que se identifica com o ser humano, mas uma qualidade jurídica que vai além, tornando outros entes sujeitos de relações jurídicas. De acordo com o Direito em vigor, pode-se concluir que as pessoas jurídicas são entes dotados de realidade, entendendo-se mais adequado o enfoque reconhecendo tratar- se de uma realidade jurídica. Vale ressaltar, no Direito Brasileiro, que a pessoa jurídica já esteve vinculada à ideia de coletividade, ou seja, coletividade de pessoas, que podem estar organizadas para fins econômicos ou não. Sobre tais coletividades, o Direito fala da personalidade, fazendo com que sejam compreendidas como uma pessoa, como unidade subjetiva. Efetivamente começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo (art. 45 do Código Civil). As pessoas jurídicas, são entidades a que a lei empresta personalidade, isto é, são seres que atuam na vida jurídica, com personalidade diversa da dos indivíduos que os compõem, capazes de serem sujeitos de direito e obrigações na vida civil (GARCIA, 2015, p.38). Por exemplo, se as pessoas João, José e Pedro constituem regularmente a pessoa jurídica Sociedade Exemplo Ltda., cuja existência começa com o registro regular (artigo 45, do Código Civil), nos negócios mantidos pela pessoa jurídica será ela, a sociedade, o sujeito de direitos e deveres, não os seus membros. As pessoas jurídicas podem ser classificadas da seguinte forma: de pessoas jurídicas de direito público e pessoas jurídicas de direito privado. De acordo com o que estabelece o art. 40, do Código Civil, “As pessoas jurídicas são de direito público, interno ou externo, e de direito privado”. As pessoas jurídicas de direito público, como o próprio nome indica, são dotadas de personalidade jurídica de direito público, sendo reguladas por regime de Direito público. As pessoas jurídicas de direito público externo são os Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo Direito Internacional Público, nos termos do art. 42, do Código Civil. Já as pessoas jurídicas de direito público interno de acordo com art. 41, do Código Civil, são: a União, os Estados, o Distrito Federal e os Territórios, os Municípios, as autarquias, inclusive as associações públicas e as demais entidades de caráter público criadas por lei. Frisa-se que as pessoas jurídicas de direito público, a que se tenha dado estrutura de direito privado, regem-se, no que couber, quanto ao seu funcionamento, pelas normas do Código Civil. Nos termos do art. 21, inciso I, da CF/1988, compete à União “manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais”. Entende-se que a União é que representa a República Federativa do Brasil nas relações internacionais. Pessoas jurídicas Direito público pessoas jurídicas de direito público interno pessoas jurídicas de direito público externo A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios são entes públicos que integram a chamada Administração Pública direta. De acordo com o art. 1.º, da Constituição Federal, a República Federativa do Brasil é “formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal”,constituindo-se em Estado Democrático de Direito. Em se tratando dos Territórios Federais, estes “integram a União, e sua criação, transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar” (§ 2.º, do art. 18, da CF). As autarquias e as fundações públicas são entes públicos que integram a Administração Pública indireta. Já às fundações públicas, registre-se o entendimento de que, mesmo sendo instituídas pelo Poder Público, podem apresentar personalidade jurídica de direito privado, devendo-se verificar a previsão constante de seu ato constitutivo. É importante deixar claro que as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa” (§ 6.º, do art. 37, da CF/88). Destaca-se que as empresas públicas e as sociedades de economia mista também integram a Administração Pública indireta. No entanto, cabe à lei estabelecer o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços públicos. Embora os referidos entes integrarem a Administração Pública indireta, eles apresentam personalidade jurídica de direito privado. Superado o tema sobre pessoa jurídica de direito público, passaremos agora a falar sobre as pessoas jurídicas de direito privado disciplinadas pelo art. 44, do Código Civil. • Associações; • Sociedade; • Fundações; • Organizações religiosas; • Partidos políticos; • Empresas individuais de responsabilidade limitada. Pessoas jurídicas Direito privado De acordo com o artigo 53, do Código Civil, as associações são constituídas pela união de pessoas que se organizam para fins não econômicos. Ressalta-se que não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos. Logo, nas associações não existe finalidade lucrativa, pois o seu objeto não tem fins econômicos, mas sim culturais, beneficentes, altruístas, religiosos, esportivos ou morais. Por sua vez, as sociedades são constituídas pela união de pessoas que se organizam para fins econômicos, com escopo de atingir lucro. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados (art.981, do CC). As sociedades podem ser assim classificadas em: sociedades simples e sociedades empresárias, podendo também ser classificas em sociedades personificadas e sociedades não personificadas. Salvo algumas exceções, é considerada “empresária” a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro. São consideradas “simples” as demais sociedades. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa. A sociedade empresária deve constituir-se segundo um dos tipos regulados no Código Civil brasileiro. Já a sociedade simples pode constituir-se de conformidade com um desses tipos, e, não o fazendo, subordina-se às normas que lhe são próprias. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios são entes públicos que integram a chamada Administração Pública direta. De acordo com o art. 1.º, da Constituição Federal, a República Federativa do Brasil é “formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal”, constituindo-se em Estado Democrático de Direito. Nesse sentido, resta esclarecer que a sociedade empresária é aquela que apresenta o elemento empresa, ou seja, realiza atividade econômica, de forma organizada, para a produção ou circulação de bens ou de serviços. Isso significa dizer que, na sociedade empresária, a atividade econômica é realizada com a devida organização de todos fatores de produção, de modo a produzir ou operar a circulação de bens e serviços ao mercado. As fundações, por sua vez, são pessoas jurídicas que se constituem em torno de um patrimônio destinado a um fim. São criadas pelo seu instituidor, o qual faz, por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la. A fundação somente pode se constituir para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência. Já as organizações religiosas são de livre criação, organização, estruturação interna e funcionamento. Veda-se ao poder público negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e necessários ao seu funcionamento. Os partidos políticos previstos no art. 17, da Constituição Federal de 1988, devem ser organizados e funcionar conforme o disposto em lei específica. A Lei 9.096/1995 prevê em seu art. 1.º que o partido político é pessoa jurídica de direito privado e se destina a assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema representativo e a defender os direitos fundamentais definidos na Constituição Federal. Por fim, falaremos agora sobre a empresa individual de responsabilidade limitada que deve ser constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não deve ser inferior a 100 vezes o maior salário mínimo vigente no País. A empresa individual de responsabilidade limitada, permite separar o patrimônio pessoal, de modo a não se confundir com o patrimônio que pertence à pessoa jurídica, para o exercício da atividade empresarial. Frisa-se que a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado se inicia “com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo” (art. 45, do Código Civil). Do mesmo modo, a sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição, no registro próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos. Ato constitutivo Estatuto social Fundação (coletividade de bens) Associações Sociedades Sociedades por ações Sociedades anônimas Sociedades em comandita por ações Sociedades cooperativas Contrato social – só sociedades Sociedade simples comum Sociedade em nome coletivo Sociedade em comandita simples Sociedade limitada Fonte: Mamende (2018, p. 42) A existência das pessoas jurídicas de direito privado termina com a sua dissolução e liquidação. Nos casos de dissolução da pessoa jurídica, ou cassada a autorização para seu funcionamento, ela subsistirá para os fins de liquidação, até que esta se conclua. Frisa-se que a averbação da dissolução da pessoa jurídica deve ser feita no registro em que ela estiver inscrita. Encerrada a liquidação, promover-se-á o cancelamento da inscrição da pessoa jurídica. Essas considerações bastam para a presente análise, na certeza de que iremos aprofundar nos assuntos pertinentes a pessoa jurídica e suas peculiaridades nas Unidades Temáticas II e III dessa disciplina. Leia mais sobre direitos da personalidade e pessoa jurídica, disponível em: (DANIEL QUEIROZ PEREIRA, 2012) https://www.e- publicacoes.uerj.br/index.php/rfduerj/article/download/1536/3048 Acesso em: 10 ago. 2020. Observação: inserir webaula 1. REFERÊNCIAS GAGLIANO, Pablo Stolze. Manual de direito civil: volume único. 3. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. volume 1: parte geral. – 15. ed. – São Paulo: Saraiva, 2017. GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Introdução ao estudo do direito: teoria geral do direito. 3. ed. rev. e atual. – Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: MÉTODO, 2015. MAMEDE,Gladston. Direito societário: sociedades simples e empresárias. 10. ed. rev. e atual. –São Paulo: Atlas, 2018. NADER, Paulo. Introdução ao estudo do direito. 36.a ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2014. REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 27. ed. — São Paulo: Saraiva, 2002. VENOSA, Sílvio de Salvo. Introdução ao estudo do direito.6. ed. – São Paulo: Atlas, 2019. Observação: inserir a atividade de percurso 1 (questionário). https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/rfduerj/article/download/1536/3048 https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/rfduerj/article/download/1536/3048 UNIDADE II: EMPRESA. EMPRESÁRIO (MEI E EIRELI, ME). SOCIEDADES EMPRESÁRIAS E REGISTRO DE EMPRESA. Prezado (a) aluno (a), Nesta segunda unidade temática, estudaremos empresas e empresário (MEI e EIRELI, ME); e sociedades empresárias e Registro de empresa. Ao final desta unidade temática, você será capaz de: Assimilar os princípios que norteiam o Direito Empresarial; Compreender a aplicação das regras de Direito Empresarial; Conhecer o Direito de Empresa, segundo o Novo Código Civil. É importante destacar que o seu aprendizado dependerá do seu envolvimento e dedicação, quanto maior for o seu comprometimento melhor será o resultado. 2. Teoria Geral do Direito Empresarial Disponível em: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn%3AANd9GcS3rze1wBuD31ZKA8oy7GhI3vkmRQF8R2roxQ&usqp=CAU Com o advento do Código Civil de 2002, houve a revogação quase integral do Código Comercial de 1850. Continuam em vigor apenas as normas relativas ao comércio marítimo (arts. 457 a 796). O que ensejou até a mudança de nomenclatura das disciplinas de grande parte dos cursos jurídicos. Frisa-se que este fato levou alguns doutrinadores a afirmarem que o direito comercial havia sido absorvido pelo direito civil, perdendo sua autonomia material. Para Fábio Tokars (2007, p. 15), esta questão merece uma análise mais cuidadosa, especialmente para que se reflita acerca dos princípios regentes do direito empresarial. É importante destacar que, no campo formal, a autonomia decorre da existência de um código próprio, por exemplo do que ocorre com o direito processual civil, com o direito penal, com o direito tributário e com outros ramos do direito. Já no campo material, o ramo do direito será autônomo, ou seja, regido por princípios próprios, com a aplicação das demais áreas da ciência jurídica. Isso significa dizer que a autonomia material é muito mais relevante do que a formal. Cabe destacar que o direito empresarial perdeu sua autonomia formal com a revogação de parte do Código Comercial de 1850. No entanto, a sua regulação é feita por um grande e esparso conjunto de leis, enquanto seus preceitos gerais e a tutela das sociedades contratuais encontram-se regulamentos no Código Civil. Além disso, devem ser referidas como fundamentos normativos no direito empresarial: a Lei de Sociedades Anônimas (Lei n. 6.404/76); a Lei de Propriedade Industrial (Lei n. 9.279/96); a Lei Uniforme de Genebra; sobre títulos de crédito (Decreto n. 57.663/66); a Lei das Duplicatas (Lei n. 5474/1968, a Lei do Cheque (Lei n. 7.357/85); a Lei de Registro Empresarial (Lei n. 8.934/94, regulamentada pelo Decreto n. 1.800/96); a Lei Antitruste (Lei n. 8.884/94); a Lei de Falências (Lei n. 11.101/2005); o Código de 1850 (em relação ao comércio marítimo) e várias outras. O Direito Empresarial é o mesmo que o Direito Comercial, sendo que o Direito Empresarial é mais amplo, pois alcança todo exercício profissional de atividade econômica organizada para produção ou circulação de bens ou de serviços (exceto a atividade intelectual). Já o Direito Comercial alcançava, em sua concepção inicial, apenas os comerciantes que compravam para depois revender e algumas outras atividades. O Direito Comercial é um ramo histórico do Direito, que surgiu pelas necessidades dos comerciantes não respaldadas pelas normas do Direito Civil. 2.1 Objeto do Direito Empresarial O objeto do Direito Empresarial segundo Teixeira (2018, p.51) é, essencialmente, regular as relações entre empresários e dispor sobre as regras das sociedades empresariais. Além de ser um disciplinador da circulação dos bens entre aqueles que os produzem e aqueles que os consomem. Destaca-se que, no Código Comercial de 1850, o objeto do Direito Empresarial era tido a partir da teoria dos atos de comércio. Com a vigência do Código Civil de 2002, o objeto passa a ser mais amplo, abrangendo toda e qualquer atividade econômica (art. 966, do Código Civil). Nesse sentido, é a lei que determina a matéria empresarial, por exemplo, a legislação dos títulos de crédito, da propriedade industrial, entre outras leis empresariais. As principais podem ser encontradas no que as editoras chamam “Código Comercial”. Para Teixeira (2018, p. 48), “o mais adequado seria chamá-las de consolidação das leis comerciais/empresariais, pois não contêm apenas o Código Comercial e, muito pelo contrário, a maior parte é de legislação extravagante”. Por fim, o Direito Empresarial veio evoluindo no tempo e chegou à atualidade como uma alavanca ao desenvolvimento dos negócios, em razão dos instrumentos que coloca à disposição para as operações, visando atender às necessidades dos empresários, com suas normas e diversos tipos de contratos. 2.2 Princípios do Direito Empresarial O direito empresarial é o direito da empresa, ou seja, é o regime jurídico especial de direito privado que disciplina o exercício de atividade econômica organizada. É no direito empresarial que se encontram as regras jurídicas especiais para a disciplina do mercado. Para André Santa Cruz (2018, p. 47), é fundamental que essas regras, em função de sua especialidade, estejam assentadas em uma principiologia própria, que destaque a imprescindibilidade da empresa como instrumento para o desenvolvimento econômico e social das sociedades contemporâneas”. Assim, os princípios do direito empresarial podem ser classificados da seguinte forma: Livre-iniciativa; Livre concorrência; Propriedade privada; Preservação da empresa; Função social da empresa. Princípio da livre-iniciativa: é o princípio fundamental do direito empresarial. Em nosso ordenamento jurídico, constitui princípio constitucional da ordem econômica, conforme previsão expressa do art. 170, da CF/1988: Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios [...] Princípio da liberdade de concorrência: princípio basilar do direito empresarial é a livre concorrência, também prevista expressamente no artigo 170, da CF/1988, como princípio constitucional da ordem econômica: Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre-iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: [...] IV - livre concorrência; [...] Frisa-se que esse também é um princípio que não vem sendo respeitado no Brasil. E quem mais desrespeita a livre concorrência é justamente aquele ente que, em tese, deveria protegê-la, ou seja, o próprio Estado. Princípio da propriedade privada: a propriedade privada também está elencada no art. 170, II, da CF/1988, como princípio constitucional da ordem econômica, formando, junto com a livre-iniciativa e a livre concorrência, a tríade que dá sustentação ao direito empresarial. Garantir e defender a propriedade privada dos meios de produção é pressuposto fundamental do regime capitalista de livre mercado. Ausente a propriedade privada, não há também mercado(CRUZ, 2018, p. 53). Nas palavras de André Santa Cruz (2018), se não houver mercado, não há como precificar os bens e serviços em produção e circulação de forma legítima e eficiente. Assim, não existe outra alternativa senão o planejamento central da economia, situação na qual os preços são arbitrariamente fixados por burocratas, o que fatalmente leva ao colapso econômico e social. Princípio da preservação da empresa: o princípio da preservação da empresa é um dos princípios do direito empresarial que vem sendo amplamente difundido, inspirando alterações legislativas como a Lei 11.101/2005 (Lei de Falência e Recuperação de Empresas), e fundamentando inúmeras decisões judiciais. O princípio da preservação da empresa também tem sido muito usado pelos tribunais pátrios para fundamentar decisões em matéria de dissolução de sociedades, falência, recuperação judicial. Princípio da função social da empresa: este princípio decorre do conceito de função social da empresa que engloba a ideia de que esta não deve visar somente o lucro, mas também preocupar-se com os reflexos que suas atividades ou decisões têm perante a sociedade. A empresa é uma atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Assim, quando se fala em função social da empresa faz-se referência à atividade empresarial em si, que decorre do uso dos chamados bens de produção pelos empresários. Por fim, a empresa não deve, segundo este princípio, apenas atender aos interesses individuais do empresário individual, do titular da EIRELI ou dos sócios da sociedade empresária, mas também aos interesses difusos e coletivos de todos aqueles que são afetados pelo exercício dela. Saiba mais sobre a função social da empresa, acessando o link a abaixo e lendo o artigo disponível em: https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/6915/A- funcao-social-da-empresa-diante-da-constitucionalizacao-do-Direito 2.3 Fontes do Direito Empresarial As Fontes do Direito são as maneiras pelas quais se estabelecem as regras jurídicas. A fonte é de onde nasce o Direito, é a origem das normas jurídicas. Assim, as fontes nutrem o operador do Direito das regras aplicáveis às relações jurídicas. No Direito Empresarial, as fontes podem ser dividas em primárias e secundárias. A Constituição Federal também se inclui entre as fontes primárias. Além disso, respeitadas as normas de ordem pública, tendo em vista que o contrato faz lei entre as partes (pacta sunt servanda), ele também é fonte do direito empresarial, bem como outras obrigações como os títulos de crédito. É importante esclarecer que as fontes são secundárias no sentido de que sua importância é subsidiária, não principal. No entanto, os usos e costumes em outros tempos já foram a principal fonte do direito empresarial. Nesse sentido, o operador do Direito deve primeiramente aplicar as fontes primárias, sendo que quando estas não tiverem respostas plenas ao caso, aí sim, socorrer-se-á das fontes secundárias. Frisa-se que as fontes secundárias só são aplicadas às relações jurídicas quando houver omissão das fontes primárias. Fontes primárias (ou diretas) Leis de franquia, de concessão mercantil, falimentar, de títulos de Crédito. Código Comercial (a parte não revogada de direito marítimo) O Código Civil etc. São as leis em geral, sobretudo as de conteúdo empresarial Fontes secundárias (ou indiretas) Analogia, equidade. Usos e costumes. São formadas pelos princípios gerais do direito 2.4 Conceito de comerciante, empresário e empresa No Brasil, o conceito jurídico de comerciante surgiu com a edição do Código Comercial de 1850. Em seu art. 4ª, considerava comerciante a pessoa que praticava a mercancia. Esta, por sua vez, foi definida no artigo 19 do Regulamento n. 737, de 1851, como a prática profissional de atos de comércio. Da aplicação desta regra, surgiu um rol de atividades que, embora tivessem evidente caráter econômico, não eram consideradas comerciais, pelo simples fato de não constarem da listagem legal. Atividade comercial Atividade não comercial Compra para posterior revenda (comércio em sentido estrito) Compra para transformação e posterior revenda (indústria) Transporte de mercadorias, espetáculos públicos Incorporações imobiliárias Seguros Armação e expedição de navios Atividade bancária Prestação de serviços Extrativismo Atividade agropecuária Mineração Compra e venda de imóveis Transporte de pessoas Daí o porquê de sociedades dedicadas à prestação de serviços, por exemplo, não serem consideradas comerciais, mas Civis (S/C). Fonte: Tokars, 2007, p. 17 Em razão das críticas, a figura do comerciante foi extinta com a edição do Código Civil de 2002, que a substituiu pela do empresário. Esta substituição não se trata de uma simples modernização de nomenclatura. O conceito de empresário é distinto do de comerciante. Comerciante Aquele que praticava profissionalmente atos de comércio. Empresário Foi fixado pelo art. 966, do Código Civil, de 2002. Segundo o qual se considera empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Fonte: Tokars, 2007,p. 19 O conceito de empresário é mais abrangente do que o de comerciante. Isso porque o enquadramento não mais se dá em razão da espécie de atividade desenvolvida, mas sim da forma organizada de exploração de atividade. 2.4.1 Empresário Empresário é aquele que exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços, de acordo com o art. 966, do Código Civil, de 2002. Do conceito de empresário, estabelecido no art. 966, do Código Civil, pode-se extrair as seguintes expressões, que nos indicam os principais elementos indispensáveis à sua caracterização: a) Profissionalmente; b) Atividade econômica; c) Organizada; d) Produção ou circulação de bens ou de serviços. Profissionalmente: só será empresário aquele que exercer determinada atividade econômica de forma profissional, ou seja, que fizer do exercício daquela atividade a sua profissão habitual. Quem exerce determinada atividade econômica de forma esporádica, por exemplo, não será considerado empresário, não sendo abrangido, portanto, pelo regime jurídico empresarial. QUADRO SINÓTICO Comerciante Empresário Art. 4º, do Código Comercial, de 1850; Era quem desenvolvia profissionalmente atos de comércio; não era comerciante quem se dedicasse à prestação de serviços, dentre outras atividades não incluídas nos arts. 19 e 20 do Regulamento n. 737, de 1851. Art. 966, do Código Civil, de 2002; É quem desenvolve atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços. Atividade econômica: significa que empresa é uma atividade exercida com intuito lucrativo. Trata-se de característica intrínseca das relações empresariais a onerosidade. Vale lembrar que não é só à ideia de lucro que a expressão atividade econômica remete. Ela indica também que o empresário, sobretudo em função do intuito lucrativo de sua atividade, é aquele que assume os seus riscos técnicos e econômicos. Organizada: significa que o empresário é aquele que articula os fatores de produção (capital, mão de obra, insumos e tecnologia). Nesse contexto, o exercício de empresa pressupõe, necessariamente, a organização de pessoas e meios para o alcance da finalidade almejada. Circulação de bens ou de serviços: demonstra a abrangência da teoria da empresa, em contraposição à antiga teoria dos atos de comércio, a qual restringia o âmbito de incidência do regime jurídico comercial a determinadas atividades econômicas elencadas na lei.Partindo da teoria da empresa, pode-se dizer que qualquer atividade econômica poderá, em princípio, submeter-se ao regime jurídico empresarial, bastando que seja exercida profissionalmente, de forma organizada e com intuito lucrativo. Logo, a expressão produção ou circulação de bens ou de serviços deixa claro que nenhuma atividade econômica está excluída, a priori, do âmbito de incidência do direito empresarial. Ainda pode-se dizer que o empresário funciona como um intermediário, pois de um lado estão os que oferecem capital e/ou força de trabalho e de outro os que demandam satisfazer suas necessidades. EXERCÍCIO DE ATIVIDADE EMPRESARIAL INDIVIDUAL COLETIVO Empresário individual e Empresa individual de responsabilidade limitada – EIRELI (art. 966 e Lei n. 12.441/2011). Empresa individual constituída sob forma de responsabilidade limitada (art. 1.052, § 1º, alterado pela LLE) Sociedade empresária (art. 983). EXERCÍCIO DE ATIVIDADES NÃO EMPRESARIAIS INDIVIDUAL COLETIVO Profissional autônomo ou exercício individual de atividade não empresarial sob a forma de limitada (art. 1.052, § 1º, alterado pela LLE): atividades intelectuais, científicas, literárias ou artísticas. Faculta-se, ainda, a constituição de empresa individual de responsabilidade limitada à atividade mencionada no art. 980-A, § 5º. Associações – sem fins econômicos (art. 53). Fundações – de fins religiosos, morais, culturais e de assistência (art. 62). Sociedade simples – atividade lucrativa não empresária (arts. 982 e 997 a 1.038). Assim, o conceito de empresário, a princípio, compreende a figura do empresário individual (uma só pessoa física) e da sociedade empresária (pessoa jurídica com dois ou mais sócios), que também pode ser denominada de empresário coletivo. Mais recentemente foi criada a figura da EIRELI (Empresa Individual de Responsabilidade Limitada), a qual, segundo a doutrina, pode ser tida como a terceira espécie de empresário. 2.4.2 Conceito de empresa A empresa se conceitua economicamente como a organização da atividade econômica, isto é, organização do capital e do trabalho destinada à produção ou mediação de bens ou serviços para o mercado. Para Fábio Ulhoa Coelho (2012, p. 20), a empresa é a “atividade econômica organizada de produção ou circulação de bens ou serviços. É entendida como a atividade econômica organizada, não se confundindo nem com o sujeito exercente da atividade, nem com o complexo de bens por meio dos quais se exerce a atividade, que representam outras realidades distintas. No aspecto jurídico, a empresa é tida como atividade econômica organizada de produção e circulação de bens e serviços para o mercado, exercida pelo empresário, em caráter profissional, por meio de um complexo de bens. Assim, a empresa é justamente a atividade econômica organizada, exercida profissionalmente. A empresa envolve a produção ou a circulação de bens ou de serviços (Exceto os de natureza intelectual). Quadro sinótico Empresário X Empresa Empresário Empresa É aquele que exerce profissionalmente Empresa é a atividade econômica atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços (art. 966, do Código Civil). O empresário é o titular da empresa, seu sujeito. Em suma, aquele que a cria e que a dirige correndo os riscos e auferindo os lucros. organizada exercida pelo empresário. Nesse contexto, o Direito Empresarial trata da atividade empresarial exercida pelo empresário, individual ou por meio de sociedade empresarial, por intermédio do estabelecimento empresarial. 2.4.3 Empresário individual De acordo com o artigo 966 do Código Civil, empresário é aquele que exerce profissionalmente atividade econômica organizada, não se referindo apenas à pessoa física que explora atividade econômica, mas também à pessoa jurídica. Nesse sentido, o empresário pode ser um empresário individual (pessoa física que exerce profissionalmente atividade econômica organizada) ou uma sociedade empresária (pessoa jurídica constituída sob a forma de sociedade cujo objeto social é a exploração de uma atividade econômica organizada). A palavra “empresário” é gênero do qual o empresário individual, a sociedade empresária e a empresa individual de responsabilidade limitada são espécies. O empresário individual é aquele que, independentemente do motivo, opta por desenvolver sua atividade econômica isolado, sem a participação de sócios. O empresário individual é a pessoa física titular de uma atividade empresarial que, por sua vez, não se confunde com o sócio da sociedade empresária. É importante esclarecer que quando se está diante de uma sociedade empresária, deve-se atentar para o fato de que seus sócios não são empresários, mas, sim, integrantes do quadro social de uma sociedade empresária. O empresário, nesse caso, é a própria sociedade, ente ao qual o ordenamento jurídico confere personalidade e, consequentemente, capacidade para adquirir direitos e contrair obrigações. Ao empresário individual é assegurado o direito à inscrição, à recuperação de empresas, à autofalência, a requerer a falência de outro empresário sendo credor de título extrajudicial, à utilização dos seus livros como prova em processo judicial, à proteção da sua identificação (nome empresarial). No entanto, o empresário individual não goza da limitação de responsabilidade e da separação patrimonial, princípios inerentes às sociedades empresárias e às EIRELIs. Um ponto a ser observado é que não se considera em separado o patrimônio da empresa e o patrimônio pessoal. Logo, a responsabilidade do empresário individual pelas obrigações firmadas em razão do seu negócio é ilimitada. Ele responde, inclusive, com seu patrimônio pessoal, ainda que sua empresa tenha patrimônio próprio. Cabe ressaltar que o empresário individual pode admitir sócios, neste caso deverá solicitar ao Registro Público das Empresas Mercantis a transformação de sua inscrição como empresário individual para sociedade empresária (CC, art. 968, § 3º). Também poderá solicitar sua transformação para EIRELI – Empresa Individual de Responsabilidade Limitada. Frisa-se que em ambos os casos deverão ser respeitadas as regras firmadas pelo DREI (Departamento de Registro Empresarial e Integração), em especial a Instrução Normativa n. 10, de 5 de dezembro de 2013, que fixa regras para a transformação de registro de empresário individual em sociedade empresária, contratual, ou em empresa individual de responsabilidade limitada e vice-versa. Outra observação a ser feita é acerca do empresário individual casado. Sobre isso, o Código Civil trouxe algumas regras especiais aplicáveis ao empresário casado, regras que se aplicam também ao empresário individual, haja vista que na sociedade empresária quem é o titular da empresa é a própria pessoa jurídica, a qual não pode casar. Vejamos o artigo art. 978, do Código Civil: “O empresário casado pode, sem necessidade de outorga conjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus real ”. Já o art. 979 do Código Civil, por sua vez, determina que, “além de no Registro Civil, serão arquivados e averbados, no Registro Público de Empresas Mercantis, os pactos e declarações antenupciais do empresário, o título de doação, herança, ou legado, de bens clausulados de incomunicabilidade ou inalienabilidade”. 2.4. 4 Sociedade empresária A sociedade empresária, como espécie do gênero empresário, é um contrato, ou seja, acordo de duas ou mais partes para constituir, regular ou extinguir entre elas uma relação jurídica de direito patrimonial. Os sócios podem ser pessoas físicas ou jurídicas. Não existe sociedade que envolva apenas uma pessoa. Uma sociedade pressupõe no mínimo duas partes. As partes
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