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Tema 7 - Toxicologia Social


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05/03/24, 20:49 Toxicologia Social
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02946/index.html# 1/85
Toxicologia Social
Prof. Pedro Leite Azevedo
Descrição
Introdução à Toxicologia Social, com destaque para o processo de
desenvolvimento de tolerância, dependência e síndrome de abstinência,
sistema de recompensa, potencial de reforço, drogas de abuso
psicoestimulantes e depressoras do sistema nervoso central.
Propósito
É essencial que todo profissional de saúde reconheça os princípios
básicos da toxicologia social e dependência química, uma vez que estão
frequentemente associados ao uso das drogas de abuso. A
dependência química de tabaco e álcool, por exemplo, pode estar
associada a inúmeros efeitos nocivos, e assim, o maior entendimento
sobre as suas principais propriedades pode garantir um cuidado mais
seguro e eficaz para cada indivíduo.
Objetivos
Módulo 1
Conceitos da dependência
química
Descrever os principais conceitos da dependência química.
Módulo 2
Principais drogas de abuso
05/03/24, 20:49 Toxicologia Social
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02946/index.html# 2/85
Reconhecer as propriedades toxicológicas das principais drogas de
abuso.
Módulo 3
Opioides e suas propriedades
toxicológicas
Identificar as principais propriedades toxicológicas dos opioides.
Módulo 4
Tabaco e suas propriedades
toxicológicas
Identificar as principais propriedades toxicológicas do tabaco.
05/03/24, 20:49 Toxicologia Social
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02946/index.html# 3/85
1 - Conceitos da dependência química
Ao �nal deste módulo, você será capaz de descrever os principais
conceitos da dependência química.
A área da toxicologia que estuda os efeitos nocivos decorrentes do
uso não médico e não terapêutico de fármacos ou drogas,
causando danos não somente ao indivíduo, mas também à
sociedade, é denominada Toxicologia Social.
Além da possibilidade do desenvolvimento da dependência, o uso
dessas substâncias pode acarretar graves problemas de saúde.
Muitos fármacos descritos neste material são comumente
prescritos na prática clínica, no entanto, o termo de uso não médico
faz referência àquele fármaco utilizado de maneira ou em período
diferente da orientada na prescrição, ou para um indivíduo cujo
fármaco não havia sido prescrito inicialmente.
No primeiro módulo, revisaremos vários conceitos relacionados à
dependência química, bem como discutiremos os mecanismos
moleculares da dependência, a síndrome de abstinência, o sistema
de recompensa, potencial de reforço de uma substância e o
fenômeno de tolerância. No segundo módulo, abordaremos os
aspectos toxicológicos das principais drogas de abuso que causam
dependência. Nos terceiro e quarto módulos, analisaremos as
principais características dos opioides e do tabaco,
respectivamente, sob o panorama da Toxicologia Social.
De cada droga serão abordados, de forma resumida, o histórico e a
epidemiologia do uso no Brasil e no mundo, a sua toxicocinética, a
toxicodinâmica, os efeitos tóxicos agudos e crônicos, a síndrome
de abstinência, bem como o tratamento da dependência, quando
disponível.
Introdução
05/03/24, 20:49 Toxicologia Social
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02946/index.html# 4/85
Conceitos de dependência,
síndrome de abstinência e
tipos de tolerância
A dependência química está entre os problemas mais sérios a serem
enfrentados pela sociedade atual. Antes de iniciarmos a discussão
sobre os aspectos toxicológicos relacionados à dependência química,
precisamos relembrar alguns conceitos básicos, como, por exemplo, a
diferença entre droga e fármaco:

Fármaco
Por definição, fármaco é
uma substância de
estrutura química
definida, com
propriedade endógena
farmacológica.

Droga
Atualmente, refere-se,
em geral, geralmente às
substâncias de uso
abusivo ou produtos
capazes de causar
dependência.
Curiosidade
O termo droga já foi utilizado para denominar toda matéria-prima de
origem vegetal, mineral ou animal que contém um ou mais fármacos.

05/03/24, 20:49 Toxicologia Social
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Em relação à palavra dependência, se você buscar em um dicionário ou
em um site seu significado, encontrará definições um pouco diferentes
umas das outras. Mas todas levarão a um mesmo entendimento: um
dependente é alguém que não consegue se desvincular de um hábito.
Podemos entender a dependência como uma subordinação ou sujeição
de um indivíduo a uma outra pessoa, uma situação ou um hábito.
Atualmente, no âmbito das ciências da saúde, a dependência tem sido
definida como uma síndrome comportamental, caracterizada pela perda
de controle, ou compulsão, sobre o consumo de uma droga, mesmo
com intensos prejuízos individuais e sociais. Popularmente é
denominada como “vício”.
Em muitas situações, o dependente perde a capacidade voluntária de
controlar o consumo, e sua prioridade se resume a obter e usar a droga.
A seguir, citaremos algumas consequências que um quadro de
dependência pode gerar.
É característico o isolamento da família, de amigos, do ambiente de
trabalho, além da perda do medo de contrair doenças
infectocontagiosas.
Perde-se também o medo de desenvolver outras doenças pelo uso da
droga. Pode ter início alguns comportamentos criminosos para financiar
o hábito.
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Quando o acesso à droga é negado, há a ocorrência de um estado
emocional negativo, por exemplo, disforia e irritabilidade, e, como
consequência, a droga é consumida de forma contínua para evitar tais
sintomas.
Disforia
Estado caracterizado por ansiedade, depressão e inquietude.
A dependência está associada a alterações em sistemas neuronais
específicos, que serão abordadas neste módulo, e é considerada uma
doença crônica, incurável e sujeita à recaída.
Em conjunto, as substâncias capazes de induzir dependência podem ser
denominadas como drogas de abuso, que serão abordadas no decorrer
deste estudo.
O termo narcótico também é frequentemente utilizado por leigos de
forma errônea para descrever uma variedade de drogas capazes de levar
ao abuso ou vício. No entanto, esse termo foi originalmente relacionado
com os opioides, já que eles induzem sonolência (narcose).
Os avanços na neurociência permitiram compreender os mecanismos
celulares e moleculares envolvidos no desenvolvimento da dependência.
Foi evidenciado que:
 Primeiro
Com o uso crônico das drogas de abuso, o cérebro
e outros tecidos adaptam-se, mobilizando
progressivamente processos fisiológicos opostos
às alterações causadas por elas, de forma a
contrabalancear o seu efeito.
 Segundo
De modo geral, essas alterações tendem a
compensar o efeito da droga e produzem um
estado fisiológico aparentemente normal, processo
denominado Tolerância.
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Existem vários tipos de tolerância descritos na literatura. Dentro desse
universo, podemos listar:
No momento em que a droga é retirada de forma abrupta do organismo
do dependente ou há uma redução brusca da dose, os processos
fisiológicos induzidos pela tolerância já não são mais equilibrados por
ela, o que pode culminar em uma hiperexcitabilidade, quadro
denominado síndrome de abstinência. Nessa síndrome, o paciente pode
apresentar sonolência, tremores, irritabilidade, alucinações e
convulsões, que podem variar dependendo das mudanças adaptativas
induzidas pela droga.
Atenção
É preciso muita cautela na utilização de determinados fármacos, como,
por exemplo, os opioides, pois até pacientes que o consomem por
indicação médica apropriada e na dose correta, podem apresentar
tolerância ou síndrome de abstinência quando a administração deles é
interrompida abruptamente. É necessário destacar que a tolerância e a
síndrome de abstinênciapodem ocorrer como uma consequência
natural da exposição ao fármaco e não implicam necessariamente em
dependência, ou seja, a busca compulsiva para o consumo do fármaco.
De forma contrária, estudos também mostram que é possível ser
dependente sem haver síndrome de abstinência. Por exemplo, um
indivíduo pode ser dependente de cocaína ou etanol mesmo sem
experimentar sintomas de abstinência entre cada episódio de uso. Já o
uso médico contínuo da morfina ou de benzodiazepínicos pode induzir
 Terceiro
Após a tolerância, há uma necessidade de aumento
da dose para alcançar a mesma intensidade de
efeito desejado, pois há uma diminuição marcante
dos efeitos quando a dose é mantida.
Tolerância inata ou natural 
Tolerância farmacodinâmica 
Taquifilaxia 
Tolerância metabólica ou farmacocinética 
Sensibilização ou tolerância reversa 
Tolerância cruzada 
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sintomas de abstinência na interrupção do uso, porém, esses indivíduos
não são considerados dependentes, pois atravessam as reações de
abstinência sem manifestar um comportamento compulsivo de
consumo.
Classi�cação do indivíduo
como dependente
De acordo com a 5ª versão do Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais (DSM-V), de 2014, para um indivíduo ser
diagnosticado como dependente, ele deve apresentar três ou mais
critérios estabelecidos pelo manual, ocorrendo a qualquer momento no
período de 12 meses. A dependência pode ser dividida em leve,
moderada ou grave. Os critérios estabelecidos por esse manual são
semelhantes aos descritos na Classificação internacional de doenças
(CID-10), publicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Entre os critérios, destacamos alguns no quadro a seguir:
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-
V)
1 Evidência de tolerância.
2
Estado de abstinência ou
consumo do fármaco/droga
para alívio dos sintomas de
abstinência.
3
Uso frequente de
quantidades maiores ou por
períodos mais prolongados
do que o pretendido.
4
Desejo persistente ou
dificuldades para controlar o
comportamento de
consumo.
5
Aumento do tempo
necessário para obter,
consumir ou recuperar-se do
seu efeito.
6
Abandono ou redução
progressiva de prazeres ou
atividades sociais
ocupacionais e recreativas
devido ao uso.
7 Persistência no uso, mesmo
em clara evidência de
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Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-
V)
problemas físicos ou
psicológicos causados ou
agravados pelo uso.
Elaborado por Thaiane Andrade.
Fatores de risco da
dependência
A dependência é uma doença complexa, e sua prevenção e seu
tratamento requerem uma compreensão dos fatores biológicos, sociais,
psicológicos e ambientais que predispõem os indivíduos à dependência.
Por exemplo, sabe-se que a dependência possui um componente
genético significativo, em que, aproximadamente, 40 a 60% da
vulnerabilidade à dependência podem ser atribuídos a fatores genéticos.
Dica
Ao final deste material, sugerimos a leitura complementar de duas
revisões recentes que discutem as últimas evidências publicadas na
literatura em relação à genética e o desenvolvimento da dependência.
Indivíduos com traços de personalidade em “busca de novidade” e
“busca de sensação impulsiva” estão dispostos a correr riscos físicos,
sociais, legais e financeiros por causa dessas experiências, sendo mais
propensos à dependência.
Estudos mostram que as neuroadaptações à nicotina e aos
canabinoides foram identificadas de forma diferente nos adolescentes,
quando comparadas àquelas que ocorrem na fase adulta, evidenciando
que os adolescentes também são mais propensos a se tornarem
dependentes. Indivíduos que sofrem de transtornos como depressão,
ansiedade e esquizofrenia têm maior probabilidade à exposição às
drogas de abuso e, assim, a desenvolverem dependência.
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Entre os fatores ambientais, a disponibilidade da droga
de abuso é a mais evidente, pois quanto maior a
disponibilidade, maior o grau de dependência da
população.
Sistema de recompensa
O que também caracteriza as drogas de abuso é o fato de elas
induzirem uma recompensa ou reforço positivo para o usuário, seja por
produzirem sensações de prazer, aliviarem tensões ou alterarem o
humor e a percepção. Por causa da recompensa, o uso dessas
substâncias pode funcionar como reforçadores, ou seja, motivar por si
mesmo um comportamento de autoadministração e facilitar a
instalação da dependência. Para entender melhor, vejamos um exemplo.
Exemplo
Todas as drogas que produzem dependência são autoadministradas por
animais de experimentação. Esse comportamento de
autoadministração em animais pode ser avaliado, por exemplo, a partir
da implantação de um cateter intravenoso conectado a uma bomba de
infusão que contém a droga de abuso em solução. Em seguida, quando
o animal de experimentação pressiona a alavanca disponível,
imediatamente é fornecida uma dose da droga, induzindo seus efeitos.
Quanto maior a capacidade de reforço positivo da droga, maior a
probabilidade de ela ser autoadministrada e induzir dependência.
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Para compreender de que modo ocorre o sistema de recompensa, você
precisa ter em mente que:
• O sistema de recompensa é iniciado pela ativação de zonas de
recompensa também denominada via dopaminérgica
mesolímbica.
• Por meio da estimulação elétrica, as recompensas convergem
para um circuito comum no sistema límbico cerebral.
• Esse sistema origina-se na área tegmental ventral (ATV), uma
pequena estrutura na extremidade do tronco encefálico, que se
projeta para o núcleo accumbens (NAc), para a amígdala, para o
hipocampo e para o córtex pré-frontal.
Conforme podemos observar na imagem a seguir:
Sistema dopaminérgico mesolímbico no cérebro.
Com a ajuda da imagem podemos perceber que:
 As projeções dopaminérgicas se originam na área
tegmentar ventral (ATV) e têm como alvo o nucleus
accumbens (NAc), o córtex pré-frontal, a amígdala e
o hipocampo. Em seu conjunto, esses múltiplos
estímulos (ilustrados na imagem) modificam a
sinalização na via dopaminérgica mesolímbica e
modulam a percepção de prazer.
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Os mecanismos de ação destas e de outras drogas de abuso, no
sistema de recompensa, estão ilustrados na imagem seguinte e serão
abordados nos próximos módulos.
 Esse sistema é um componente-chave para o efeito
de recompensa das drogas de abuso, por
aumentarem a liberação de grandes quantidades de
Dopamina (DA) no NAc e no córtex pré-frontal.
Esses estímulos elétricos no sistema mesolímbico
dopaminérgico também ocorrem fisiologicamente
associados às sensações de prazer e recompensa
naturais.
 A liberação de DA pode ocorrer de diferentes
formas, a depender da droga utilizada. Elas podem
ativar diretamente o sistema ou exacerbar a
transmissão dopaminérgica, impedindo a
recaptação de DA no NAc. Por exemplo, os
estimulantes aumentam diretamente a transmissão
dopaminérgica no NAc. A cocaína inibe a
recaptação de DA, o que prolonga os seus efeitos. A
anfetamina, além de inibir a recaptura de DA,
também aumenta a sua liberação no terminal
sináptico.
 As drogas também podem impedir uma inibição,
que culmina no estímulo do circuito, como os
opioides, que inibem os neurônios GABAérgicos na
ATV, que, por sua vez, desinibem os neurônios
dopaminérgicos na ATV, e assim, aumentam
indiretamente a liberação de DA no NAc.
 Em adição, os opiáceos também estimulam
diretamente os receptores opioides expressos pelo
NAc, produzindo recompensade uma maneira
independente de DA. A nicotina parece ativar
diretamente os receptores colinérgicos nicotínicos
na ATV, causando a liberação de DA e,
indiretamente, via estimulação de seus receptores
nas terminações glutamatérgicas, que inervam as
células de DA.
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Ações das drogas de abuso sobre o sistema dopaminérgico mesolímbico.
Veja na imagem que:
Nicotina
A nicotina interage com
receptores colinérgicos
nicotínicos, aumentando a
liberação de dopamina no NAc.
Cocaína
A cocaína inibe a recaptação de
DA pelo transportador de DA
(DAT), aumentando, assim, os
í i i á ti d DA
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Potencial de reforço
As drogas de abuso variam em sua capacidade de produzir os efeitos
gratificantes, relacionados ao prazer ou à recompensa. Aquelas que
produzem esses efeitos de maneira mais rápida e intensa são maiores
reforçadores, pois estimulam uma autoadministração repetida. Quanto
maior a capacidade de reforço de uma droga, maior a probabilidade de
ela ser autoadministrada e induzir dependência.
Nesse sentido, a cocaína e a heroína têm um potencial
mais alto de gerar dependência do que as outras, como
a metadona e o fenobarbital, pois estas demoram mais
tempo para produzir efeitos centrais.
níveis sinápticos de DA que
podem atuar no NAc.
Anfetamina
A anfetamina facilita a liberação
de vesículas contendo DA e,
possivelmente, aumenta o
transporte reverso desta através
do DAT.
Canabinoides e
opioides
Os canabinoides e os opioides
diminuem a liberação de GABA
dos interneurônios inibitórios
locais na ATV, resultando em
desinibição da atividade
neuronal dopaminérgica e
aumento da neurotransmissão
dopaminérgica, podendo atuar
também no NAc.
Álcool e outros
Álcool e outros depressores do
SNC atuam sobre os receptores
NMDA (NMDA-R) para reduzir a
neurotransmissão
glutamatérgica no NAc.
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A via de administração também exerce um efeito importante sobre o
potencial de reforço. Um fármaco administrado por via intravenosa ou
por inalação acaba por resultar em uma absorção da droga mais rápida,
atinge o SNC com mais rapidez e intensidade, e apresenta alto risco da
indução à dependência, quando comparado ao fármaco administrado
por via oral, conforme constataremos com a ajuda das imagens a
seguir. No entanto, a elevação da concentração plasmática mais rápida
também está associada a maiores chances de intoxicação.
Gráfico: Contratação plasmatica de cocaína.
Extraído de Golan, Tashjian, Armstrong, 2018. Figura 18-6, p. 296.
Gráfico: Contratação plasmatica de cocaína.
Extraído de Golan, Tashjian, Armstrong, 2018. Figura 18-6, p. 296.
Observe nas imagens que a cocaína intravenosa (IV) e a base livre da
cocaína fumada estão associadas ao alcance muito rápido de
concentrações plasmáticas máximas da droga (imagem A) e a altos
níveis de intoxicação (imagem B). Em contrapartida, as vias de
administração oral e nasal associam-se à elevação mais lenta da
concentração plasmática da droga (imagem A) e a níveis mais baixos de
intoxicação (imagem B). Devido à elevação muito rápida da
concentração plasmática da droga e de níveis muito altos de
intoxicação, o risco da indução da dependência é mais alto com uso
intravenoso ou fumado da cocaína do que com seu uso nasal ou oral.
Saiba mais
Cocaína, heroína, morfina e nicotina são os fármacos com maior
potencial de reforço, seguidos por anfetamina, etanol, solventes e
barbitúricos. Os benzodiazepínicos fornecem uma resposta moderada e
os canabinoides apresentam um potencial de reforço fraco.
Além disso, há o reforço negativo, em que, na ausência da droga, o
indivíduo sente sintomas negativos (abstinência), e assim, ele busca
consumi-la para acabar com os sintomas. Esse reforço negativo
também pode estar associado ao desenvolvimento da dependência,
uma vez que a droga é consumida de maneira contínua, como meio de
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evitar as consequências aversivas da abstinência. Assim, os reforços
positivo e negativo associados fornecem evidências para explicar o
início e a manutenção do comportamento compulsivo da dependência.
Mecanismos moleculares da
dependência
Conforme já discutimos, as características da dependência, como perda
de controle e compulsão, desenvolvem-se de forma gradual e
progressiva durante o uso de exposições contínuas a uma droga de
abuso, e podem persistir por meses ou anos após a descontinuação do
seu uso. Mas quais seriam os mecanismos moleculares capazes de
explicar esses comportamentos a longo prazo?
Acredita-se que a dependência possa ser considerada um resultado de
uma neuroadaptação induzida pela droga, por meio da alteração na
expressão gênica, uma vez que esses genes são codificados a
proteínas, e essas proteínas sintetizadas afetam a função dos neurônios
que se manifestam em alterações no comportamento do indivíduo.
Destacamos as alterações na expressão dos fatores de transcrição
CREB e DeltaFosB (ou ΔFosB), capazes de regular inúmeros genes
neurais e estarem associadas à dependência.
Critérios diagnósticos para a
dependência química
Neste vídeo, o especialista Pedro Azevedo se baseará nas
determinações do DSM-V para apresentar e explicar os critérios
diagnósticos para a dependência química.
CREB 
DeltaFosB (ou ΔFosB) 

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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
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Questão 1
A respeito da definição da dependência química, assinale a
alternativa correta:
Parabéns! A alternativa A está correta.
%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EA%20depend%C3%AAncia%20qu%C3%ADmica%20%C3%A9%20uma%20doen%C3%A7a%20cr%
estar%20e%20de%20prazer%2C%20aliviando%20sensa%C3%A7%C3%B5es%20desconfort%C3%A1veis%20com
Questão 2
A tolerância é utilizada como um dos critérios diagnósticos para a
dependência de droga. O conceito correto de tolerância é
A
Síndrome comportamental caracterizada pela
compulsão sobre o consumo de uma droga, mesmo
com intensos prejuízos individuais e sociais.
B
Ausência de efeito, determinada geneticamente e
observada na primeira vez em que a droga é
administrada, mesmo em altas concentrações.
C
Caracterizada pelo aumento da resposta em
decorrência da administração de pequenas
quantidades da droga ou após a sua administração
repetida.
D
Sintomas mentais e físicos que ocorrem após a
interrupção ou diminuição no consumo de uma
substância que causa dependência.
E
Síndrome comportamental caracterizada pelo pleno
controle sobre o consumo de uma droga, mesmo com
intensos prejuízos individuais e sociais.
A
necessidade de diminuição da dose para alcançar a
mesma intensidade de efeito desejado, pois há uma
diminuição marcante dos efeitos quando a dose é
mantida.
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Parabéns! A alternativa C está correta.
%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EO%20processo%20de%20toler%C3%A2ncia%20est%C3%A1%20relacionado%20com%20a%20ne
2 - Principais drogas de abuso
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer as propriedades
toxicológicas das principais drogas de abuso.
Principais drogas de abusos
B
necessidade de aumento da dose para alcançar a
mesma intensidade de efeito desejado, pois há um
aumento marcante dos efeitos quando a dose é
mantida.
C
necessidadede quantidades maiores da substância
para que haja o efeito desejado, pois há acentuada
redução do efeito com uso contínuo da mesma
quantidade de substância.
D
aumento do tempo necessário para recuperação de
seus efeitos, ou, ainda, acentuado aumento do efeito
com uso contínuo da droga.
E
abandono de atividades sociais em virtude do uso da
substância, ou necessidade de quantidades muito
maiores da substância para que haja intoxicação ou o
efeito desejado.
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As drogas de abuso são classificadas em diferentes grupos, de acordo
com sua ação no Sistema Nervoso Central (SNC). Utilizadas para alterar
o humor e a percepção, produzir efeitos prazerosos como euforia, atuam
no sistema de recompensa descrito anteriormente e são capazes de
induzir dependência química. Entre elas, destacamos:
• Estimulantes do SNC
• Depressores do SNC
• Canabinoides
• Alucinógenos
• Opioides
Neste momento, abordaremos as características toxicológicas das
principais drogas de abuso, com exceção dos opioides e do tabaco, que
serão abordados futuramente.
Estimulantes do SNC ou
psicoestimulantes
Cocaína
Estrutura química da cocaína.
A cocaína, ou éster do ácido benzoico, é um dos alcaloides isolados das
folhas da Erythroxylon, e desde 1884 tem sido utilizada como anestésico
local. Atualmente, devido ao alto potencial de desenvolver dependência,
o seu uso abusivo representa um grande problema de saúde pública em
todo o mundo.
Após a maceração, as folhas da Erythroxylon são convertidas em pasta
de coca, e a partir da sua purificação, é obtido o cloridrato de cocaína
(pó cristalino), sal hidrossolúvel empregado na autoadministração oral,
intranasal e intravenosa.
Quando aquecido em solução alcalina, é transformada no crack, forma
de base livre, que se apresenta como cristais irregulares em forma de
“pedras”, nome pelo qual é vulgarmente chamado. Vale ressaltar que a
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purificação da pasta de coca é clandestina e irregular, e, muitas vezes,
são utilizados compostos tóxicos e adulterantes, como amônia, éter,
querosene, anestésicos locais e outros estimulantes, cujas associações
podem significar interações importantes.
Erythroxylon Coca.
Pó cristalino
Crack
Saiba mais
A cocaína fumada é absorvida rapidamente pelos alvéolos pulmonares e
alcança imediatamente o cérebro, produzindo os efeitos prazerosos de
forma imediata (8 segundos). O consumo da cocaína por essa via tem
aumentado devido à conveniência e facilidade no seu uso, sem a
necessidade de agulhas e seringas, e à velocidade da entrega de doses
adicionais da droga. Por apresentar caráter lipofílico, é capaz de
atravessar a barreira hematoencefálica e acumular no SNC. A sua
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eliminação é predominantemente controlada pela sua
biotransformação, que é muito extensa.
No SNC, a cocaína bloqueia a recaptação de dopamina, norepinefrina e
serotonina por meio de seus respectivos transportadores, conforme
podemos acompanhar na imagem.
O aumento das concentrações de dopamina no NAc foi implicado nos
efeitos de recompensa, o aumento da neurotransmissão no locus
ceruleus mantém o estado de alerta e a capacidade de respostas a
estímulos inesperados. Também apresenta efeito simpaticomimético,
que induz aumento da pressão arterial, à taquicardia e, com frequência,
a arritmias ventriculares, culminando em uma cardiotoxicidade.
Mecanismo de ação da cocaína.
Há ainda outros efeitos constatados após o uso de cocaína:
Em geral, os usuários perdem o apetite, são hiperativos e dormem
pouco. A exposição à cocaína aumenta o risco de hemorragia
intracraniana, acidente vascular encefálico isquêmico, infarto do
miocárdio, convulsões, além de outras complicações psiquiátricas, e
respiratórias.
O consumo da cocaína durante a gestação está associado ao retardo do
desenvolvimento fetal, más-formações congênitas, cardiomiopatias,
distúrbios de comportamento e microcefalia.
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Além de ser encontrada no leite materno, já foi observado o seu
acúmulo no fígado, e acredita-se que por difusão passiva para o folículo
piloso, ela seja incorporada no cabelo. A superdosagem de cocaína
pode resultar em hipertermia, coma e morte.
A tolerância aos efeitos comportamentais da cocaína
parece ocorrer em usuários crônicos, após consumo
de altas doses, e consiste na diminuição dos efeitos
eufóricos e fisiológicos.
Além disso, em alguns usuários, há o desenvolvimento de taquifilaxia, e
da tolerância reversa. Os indivíduos podem se tornar dependentes após
algumas exposições à cocaína, considerada uma das substâncias com
maior potencial de abuso, devido à sua capacidade de produzir reforço
positivo. Os efeitos mais frequentes da síndrome de abstinência são
irritabilidade, perda do desejo sexual, tremores, bradicardia, sonolência e
fadiga, além de disforia e anedonia (incapacidade de sentir prazer), que
se opõem à euforia expressa imediatamente após a administração da
droga.
Anfetamina
Estrutura química da Anfetamina.
As anfetaminas e seus derivados como a metanfetamina e o 3,4-
metilenodioximetanfetamina (MDMA) são drogas de abuso
frequentemente encontradas no Brasil.
São muito difundidas entre os caminhoneiros que fazem uso dos
chamados “rebites” para enfrentar a jornada exaustiva, e combater a
fadiga e melhorar o estado de alerta.
Metanfetamina.
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Estrutura química da Metanfetamina.
3,4-metilenodioximetanfetamina (MDMA).
Estrutura química da MDMA.
Atualmente, em sua grande maioria, são produzidas em laboratórios
clandestinos, sem controle de qualidade, o que dificulta a sua
identificação química exata com o risco de haver presença de
contaminantes, solventes e subprodutos originados durante a sua
síntese.
Veja de que modo ocorre sua produção, as formas de utilização mais
frequentes e de que maneira a droga é expelida:
Produção
A metanfetamina é preparada a partir da solução saturada e alcalinizada
de cloridrato de metanfetamina que, depois de aquecida e resfriada,
forma cristais denominados ice drops, que são fumados, de forma
semelhante ao crack. Também é popularmente conhecida como cristal,
chalk, speed, meth e glass.
Vias de administração
Podem ser utilizadas por via oral (rapidamente absorvida pelo TGI),
injeção intravenosa e por aspiração nasal, na forma de sal. Após serem
distribuídos no organismo e sofrerem metabolismo hepático, os
derivados anfetamínicos, somados a 30% da anfetamina inalterada, são
excretados.
Eliminação
Sua excreção ocorre através da urina. Por ser uma base fraca, a droga é
excretada mais rapidamente em uma urina com pH ácido. Durante a
intoxicação aguda, a acidificação da urina com a administração de
cloreto de amônio pode ser realizada para aumentar a velocidade de
eliminação da droga.
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Cristal
As anfetaminas apresentam efeitos e mecanismos de ação muito
semelhantes à cocaína, potencializando indiretamente a
neurotransmissão dopaminérgica, adrenérgica e serotoninérgica, como
podemos observar na imagem:
Mecanismo de ação das Anfetaminas.
Sua ação estimulante do SNC é acentuada e mais persistente que a da
cocaína, o que a torna atrativa como droga de abuso e
consequentemente, induz dependência. Aumenta o estado de vigília e
reduz o sono, ao mesmo tempo em que os efeitos sobre o sistema
dopaminérgico medeiam a euforia, e podem causar movimentos
anormais (comportamento estereotipado) e precipitar episódios
psicóticossemelhantes aos da esquizofrenia.
Os mecanismos envolvidos nas propriedades de reforço e no
desenvolvimento da dependência parecem estar associados com a
liberação de dopamina no núcleo accumbens. O quadro de abstinência,
provoca sintomas como fadiga, fissura intensa, cefaleia, ansiedade,
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agitação, pesadelo, anedonia, humor depressivo, letargia e hiperfagia.
No entanto, os sintomas também podem ser relativos ao modo de
utilização, como podemos acompanhar no exemplo.
Fissura
Comportamento relacionado ao forte desejo de usar a droga.
Exemplo
Quadros mais intensos como paranoia e prejuízo cognitivo, por exemplo,
são observados em indivíduos que a utilizam por via injetável. De forma
preocupante, as anfetaminas são neurotóxicas e, do mesmo modo que a
cocaína, podem induzir efeitos tóxicos no coração, inclusive morte de
células do músculo cardíaco, além de induzir quadros graves de
hipertermia, como pelo uso de altas doses do MDMA.
No Brasil, o MDMA, principal composto do ecstasy, é sintetizado e
comercializado ilegalmente, sobretudo na forma de comprimidos ou pó.
O seu consumo é quase exclusivo pela via oral. Designada como “club
drugs”, por sua popularidade em danceterias, em aumentar a
comunicabilidade e empatia, apresenta o mecanismo comum aos
derivados anfetamínicos, mas é um potente estimulante da liberação de
serotonina (5-HT). Euforia, sudorese, sede, hipertermia e as alucinações
visuais são efeitos comuns da utilização do MDMA.
Alguns derivados anfetamínicos estão aprovados para o tratamento do
transtorno de déficit de atenção-hiperatividade (TDAH), e no tratamento
da obesidade devido ao seu efeito anorexígeno. No entanto, diversos
indivíduos saudáveis utilizam esses fármacos com a finalidade de
melhorar o desempenho cognitivo, prática conhecida como “doping
intelectual”. Além disso, devido às propriedades estimulantes da
atividade motora, as anfetaminas são muito utilizadas por atletas de
forma ilegal para melhorar o desempenho físico.
Ecstasy
Club drugs
Drogas de abuso sintéticas, produzidas por síntese química a partir de
substâncias precursoras, encontradas ou não na natureza.
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Depressores do SNC
Benzodiazepínicos
Os benzodiazepínicos são fármacos prescritos, como ansiolíticos,
anticonvulsivantes, relaxantes musculares e hipnóticos, usados no
tratamento de transtornos de ansiedade e insônia. O uso abusivo deles é
frequente e, em geral, associado a outras drogas, como álcool, opioides,
barbitúricos e cocaína. Historicamente, o seu uso abusivo está
relacionado com a prática de violência sexual, como o conhecido golpe
“Boa Noite, Cinderela”, com o intuito de dificultar o controle físico e
emocional da vítima. Outros efeitos induzidos pelos benzodiazepínicos
são a redução da ansiedade e agressão, a sedação e indução do sono e
a redução da tensão muscular.
Entre eles, destacamos o Diazepam, Lorazepam, Clonazepam,
Alprazolam, Midazolam e outros, que apresentam uma estrutura química
semelhante, com pequenas variações. Repare as diferenças:
Hipnóticos
Fármacos capazes de induzir o sono.
Diazepan
Lorazepam
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Clonazepam
Alprazolam
Midazolam
Os benzodiazepínicos são bem absorvidos pelo TGI, mas também
podem ser administrados pela via intramuscular e intravenosa. Sofrem
boa distribuição pelos tecidos, são capazes de atingir o cérebro e são
biotransformados pelas enzimas hepáticas, cujos produtos podem
ainda apresentar atividade. Os produtos do metabolismo são
preferencialmente eliminados pela via renal, e em menor concentração,
nas fezes.
Os benzodiazepínicos potencializam a ação inibitória
do neurotransmissor Ácido Gama Aminobutírico
(GABA), com aumento da frequência de abertura do
canal de cloreto, que resulta na hiperpolarização da
membrana e na inibição da excitação celular.
De forma geral, induz à desinibição dos neurônios dopaminérgicos. Os
efeitos de recompensa dos benzodiazepínicos são mediados por
receptores GABA, expressos nos neurônios da ATV. A tolerância
(principalmente aos efeitos sedativos) é muito comum após o seu uso
crônico, e o diagnóstico de dependência com frequência é omitido.
Saiba mais
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Pacientes tratados em longo prazo, com o uso de doses maiores do que
as terapêuticas, correm maior risco de desenvolvimento da
dependência, além de os idosos serem mais vulneráveis. A redução
súbita ou a interrupção da medicação pode causar sintomas de
abstinência, que consistem em irritabilidade, disforia, ansiedade,
agitação, insônia, vertigem, hiperreflexia, e até mesmo convulsões,
sintomas que desaparecem no decorrer de uma a duas semanas. A
orientação é que pacientes dependentes dos benzodiazepínicos
realizem uma redução gradativa da dose.
Em casos de superdosagem ou intoxicação, capazes de induzir
depressão respiratória e cardiovascular, pode-se utilizar no tratamento
clínico o Flumazenil, antagonista específico dos receptores
benzodiazepínicos, bloqueando os seus efeitos.
Barbitúricos
Os barbitúricos, que antecederam os benzodiazepínicos como os
hipnóticos de uso abusivo mais comum, são, hoje em dia, raramente
prescritos devido aos problemas de superdose, à sua estreita janela
terapêutica e ao seu potencial de abuso. Atualmente, o Pentobarbital e o
Tiopental são utilizados pela via IV em uso restrito aos hospitais como
anestésicos e hipnóticos, além do fenobarbital, utilizado como
anticonvulsivante oral.
Pentobarbital
Estrutura química do Pentobarbital.
Tiopental
Estrutura química do Tiopental.
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São bem distribuídos no SNC, capazes de alcançar a barreira
placentária, e o leite materno. Biotransformados principalmente no
fígado, sob ação enzimática do sistema do citocromo P450, e de forma
interessante, atuam como indutores enzimáticos, e podem ser
responsáveis pelo desenvolvimento da tolerância metabólica. A sua
eliminação ocorre principalmente pela via renal, e podem acumular em
idosos.
Ainda sobre os barbitúricos, é possível destacar que:
Barreira placentária
Estudos associam a efeitos teratogênicos, depressão respiratória, sedação,
defeitos de coagulação e outros efeitos no neonato.
Sistema do citocromo P450
Atenção aos outros fármacos e substâncias metabolizados por esse
sistema, há a possibilidade de interações.
 Os efeitos sedativos e a sensação de tranquilidade
e relaxamento, e ocasionalmente euforia,
contribuem para as ações reforçadoras e o
potencial de uso abusivo, e constituem os
principais motivos para a sua autoadministração.
São frequentemente utilizados na tentativa de
suicídio.
 As ações depressoras dos barbitúricos sobre o SNC
são mais disseminadas que as dos
benzodiazepínicos, embora ambos potencializem a
ação de GABA. O seu uso contínuo, em curtos
intervalos de tempo, acarreta tolerância.
 A dependência de barbitúricos está associada a
uma síndrome de abstinência mais grave e
potencialmente perigosa, seguida de ansiedade,
alucinações, delírios e convulsões.
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Álcool
O álcool é uma das substâncias mais consumidas no mundo, e embora
apenas uma minoria se torne dependente, o abuso constitui um
problema de saúde pública grave, devido aos custos sociais, como
acidentes de trânsito e às numerosas doenças associadas ao
alcoolismo, reconhecida como uma doença psiquiátrica pela
Associação Psiquiátrica Americana.
O metabolismo do etanol.
ADH: Álcool desidrogenase; ALDH: Aldeído desidrogenase. A alta incidência dos efeitos tóxicos estão
relacionados com a dose, e incluem depressão
cardiorrespiratória, hipocalcemia, disfunção
hepática e renal.
 Não existe antídoto disponível para os barbitúricos,
somente terapias de suporte, descontaminação do
TGI e esquemas para aumento da sua eliminação.
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O etanol está disponível em inúmeras bebidas alcoólicas em diferentes
concentrações.
Trata-se de uma substância de baixo peso molecular,
hidrossolúvel,rapidamente absorvida pelo TGI, que é seguida da sua
distribuição aos tecidos. Sua concentração plasmática máxima é
atingida em até 90 minutos após a ingestão. É capaz de atravessar a
barreira hematoencefálica e atingir o SNC. Praticamente todo o etanol
ingerido é metabolizado hepaticamente por meio da oxidação,
envolvendo as enzimas álcool desidrogenase e acetaldeído
desidrogenase, convertendo-o para acetaldeído e acetato, conforme
apresenta a imagem.
Atenção
Já foram descritos na literatura polimorfismos na aldeído
desidrogenase, ou seja, variação na expressão gênica entre indivíduos,
que podem culminar em variações nas taxas de biotransformação. A
deficiência dessa enzima está associada ao acúmulo progressivo de
acetaldeído, e assim, o indivíduo apresenta os sintomas adversos após
a ingestão do álcool.
O álcool não oxidado é excretado pelos rins e pulmões, sendo uma
pequena fração encontrada em secreções como suor e saliva. No ar
expirado, a concentração de etanol equivale a 0,05% daquela presente
no sangue, relação que é muito utilizada pelos etilômetros ou
bafômetros no Brasil.
Inicialmente, tem ativação noradrenérgica causando efeitos
estimulantes centrais. Com a exposição contínua, ele potencializa os
Receptores inibitórios (GABA). O álcool também pode atuar em outros
neurotransmissores, como serotonina, dopamina, acetilcolina, opioide e
glutamato. Por fim, há a indução da sedação, diminuição da ansiedade,
fala lenta, Ataxia, prejuízo da capacidade de julgamento e desinibição do
comportamento.
Pode produzir amnésia da memória de curta duração, e à medida que os
níveis plasmáticos aumentam, os efeitos sedativos são acentuados e,
quando os níveis de álcool estão muito altos, o indivíduo pode entrar em
coma, comumente chamado de “coma alcoólico”, e ir a óbito. O uso
crônico do etanol pode provocar várias complicações, como doença
hepática, hematológica, neuronais, gastrointestinal e cardiovascular,
como pode ser observado na imagem seguinte:
Receptores inibitórios (GABA)
Mesmo receptor dos benzodiazepínicos. Atenção ao uso associado, pois há
um alto risco de sedação.
Ataxia
Equilíbrio ou coordenação motora prejudicados.
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Os efeitos do uso abusivo e contínuo do etanol.
O etanol atravessa facilmente a barreira placentária e pode causar a
síndrome alcoólica fetal. Essa condição pode causar danos cerebrais e
retardos no crescimento, que não podem ser revertidos.
O álcool é capaz de fluidificar as membranas, dissolvendo o
componente lipídico e diminui a viscosidade, mas, com o tempo, a
membrana celular torna-se rígida e menos sensível ao efeito
fluidificante, alterações que estariam associadas ao desenvolvimento da
tolerância. Já a tolerância inata ao álcool é amplamente variável entre
os indivíduos. Na ausência do álcool, o desarranjo da membrana pode
contribuir para o aparecimento dos sintomas de abstinência, que pode
consistir em tremor (principalmente das mãos), náuseas, vômitos,
sudorese excessiva, agitação e ansiedade.
Veja algumas reações causadas pela suspensão do consumo de álcool:
 Período de 12 a 24 horas
Em alguns indivíduos, a síndrome de abstinência é
acompanhada de alucinações visuais, táteis e
auditivas.
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O tratamento da abstinência de etanol é de suporte e baseia-se no uso
de benzodiazepínicos, além das abordagens psicossociais. O
Dissulfiram tem sido útil no tratamento da dependência, ao bloquear a
aldeído-desidrogenase e resultar no acúmulo do acetaldeído, que
provoca náusea e uma reação de ruborização desagradável quando o
indivíduo ingere álcool. Saber que essa reação desagradável irá ocorrer,
pode ajudar o dependente a resistir ao desejo incontrolável de voltar a
consumir o álcool. A Naltrexona, antagonista dos receptores opioides,
representa uma alternativa que também pode ser utilizada, pois bloqueia
as propriedades de ativação endorfínica do álcool.
Efeitos tóxicos decorrente
da interação do álcool com
outras substâncias
O especialista Pedro Azevedo apresentará estudos de caso para
sintetizar as substâncias que levam a efeitos tóxicos por interação com
álcool, descrevendo seus efeitos.
Inalantes
 Período de 24 a 48 horas
Convulsões generalizadas podem manifestar-se
durante esse período.
 Período de 48 a 72 horas
O indivíduo pode apresentar delírio por abstinência
de álcool (delirium tremens), que está associado à
alta da mortalidade, e é caracterizado por
alucinações, desorientação e evidências de
instabilidade autônoma.

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Os inalantes são compostos orgânicos voláteis inalados
intencionalmente pelos seus efeitos psicoativos, como euforia, aumento
da sensação de bem-estar, alívio do estresse e outros. Representado
pelos solventes orgânicos como colas, tíner, tintas, esmaltes,
propelentes contidos em aerossóis e fluidos de isqueiro, gasolina,
tolueno, éter etílico, clorofórmio, lança-perfume (cloreto de etila), óxido
nitroso, cheirinho da loló (mistura de éter etílico, etanol e clorofórmio),
gás de buzina e outros.
Mostrou-se como o terceiro grupo de droga de abuso mais consumida
no Brasil, atrás somente do álcool e tabaco, principalmente entre a
população mais jovem e crianças carentes, uma vez que são
encontradas com facilidade, estão presentes em uma variedade de
produtos domésticos e serem produtos comerciais relativamente
baratos.
Os vapores das substâncias podem ser inalados pelo nariz ou pela boca,
a partir de um recipiente aberto, de um pedaço de tecido molhado na
substância volátil, ou da inspiração e expiração de dentro de um saco de
papel ou de plástico cheio de vapores. Em algumas situações, a
concentração de vapor é alta o suficiente para produzir inconsciência,
delírios e sedação, assim como alucinações visuais e auditivas.
Os mecanismos de ação dos inalantes ainda não estão totalmente
estabelecidos. Acredita-se que os solventes orgânicos aumentem a
função dos receptores GABA. A tolerância pode ocorrer, mas é difícil de
ser estimada, e a dependência manifesta-se pela compulsão em inalar
essas substâncias. Os sintomas da abstinência incluem:
• Inquietação
• Insônia
• Cefaleia
• Náusea
• Vômitos e outros
O uso prolongado dos inalantes afeta órgãos como
cérebro, coração, pulmão, fígado, rins e medula óssea,
e pode causar sufocação, arritmias cardíacas e morte
súbita.
Curiosidade
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Solventes como o hexano e o tolueno têm sido associados a danos
neuronais, os nitratos são capazes de produzir hipertensão e
metemoglobinemia, os hidrocarbonetos aromáticos podem induzir
lesões na substância branca no SNC, hepatomegalia e cirrose. Os
inalantes são capazes de atravessar a placenta e podem afetar o
desenvolvimento fetal, aumentar o risco de aborto espontâneo e de
malformações.
Canabinoides
A Cannabis, popularmente conhecida como a planta da maconha, refere-
se a várias drogas derivad1s da planta Cannabis sativa, que tem sido
cultivada há séculos por suas supostas propriedades psicoativas e
medicinais. Seus efeitos medicinais estão associadosao Canabidiol
(CBD), que apresenta propriedades antieméticas que atenuam os efeitos
colaterais dos quimioterápicos antineoplásicos, efeitos relaxantes
musculares, alívio da dor crônica, anticonvulsivantes e na redução da
pressão intraocular elevada.
Estrutura química do -tetra-hidrocanabinol ( -THC).
Em 2013, foi considerada a droga de uso ilícito mais consumida no
mundo. A fumaça exalada da queima da erva contém várias substâncias
químicas, incluindo 61 canabinoides diferentes identificados até agora.
Entre eles, o alcaloide -tetra-hidrocanabinol ( -THC), poderosa
substância psicoativa, responsável pela maioria dos efeitos
característicos da maconha fumada por meio de cigarros conhecidos
como “fininho” ou “baseado”
Δ9 Δ9
Δ9 Δ9
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Saiba como ocorre sua absorção, de que maneira ocorre a distribuição
da droga no organismo e de que modo ela é excretada:
Absorção
A absorção pulmonar do -THC é muito rápida, atinge níveis
plasmáticos máximos entre 3 e 10 minutos. Quando administrada por
via oral, apresenta absorção lenta e irregular, com início dos efeitos mais
demorado e com maior variabilidade de respostas, reflexo do extenso
metabolismo hepático de primeira passagem.
Distribuição
Após absorvido, é rapidamente distribuído para os tecidos altamente
vascularizados, e em seguida, há uma redistribuição, principalmente ao
tecido adiposo. É capaz de cruzar a barreira placentária e ser secretado
no leite materno.
Excreção
O -THC sofre biotransformação, principalmente pelo sistema do
citocromo P450, envolvendo a síntese de mais de 20 compostos
identificados na urina (o TCH-COOH eliminado na urina pode ser
utilizado como biomarcador de exposição à Cannabis) e nas fezes (por
sofrer recirculação êntero-hepática, apresenta lenta eliminação).
THC-COOH
Ácido 11-nor-delta9-tetrahidrocanabinol-9-carboxilico.
Agonista parcial do receptor canabinoide tipo 1 (CB1) acoplado à
proteína G, o -THC provoca ativação dos neurônios dopaminérgicos,
principalmente por meio da inibição dos neurônios GABA na ATV. Os
efeitos imediatos do -THC consistem em euforia e relaxamento,
diminuição da ansiedade e sedação. Os usuários também relatam
sensações de:
• Bem-estar
• Aumento do desejo sexual
• Aumento da autoconfiança
• Grandiosidade
• Aumento da sociabilidade
• Percepção alterada da passagem do tempo
• Aumento da percepção de sensações
Há relatos de perda da memória recente, déficits cognitivos e perda da
discriminação de tempo e de espaço. Além de alguns efeitos físicos
como taquicardia, variação na pressão sanguínea, hiperemia das
conjuntivas , hipossalivação, boca seca, e aumento do apetite.
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Δ9
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Hiperemia das conjuntivas
Olhos vermelhos.
Em doses mais altas também podem ocorrer reações
desagradáveis, como pânico, alucinações e, até
mesmo, psicose aguda.
A tolerância para efeitos da maconha pode desenvolver-se após
exposição crônica, por meio da diminuição da expressão do receptor
, como decréscimo da locomoção, catalepsia, antinocicepção,
hipotermia . A exposição crônica à maconha leva à dependência, que é
revelada por uma síndrome de abstinência discreta e de curta duração,
que consiste em disforia, inquietação, irritabilidade, agitação discreta,
insônia, tremores, náuseas e cãibras.
Catalepsia
Incapacidade para mover os membros, a cabeça ou até falar.
Antinocicepção
Redução na capacidade de perceber a dor.
Hipotermia
Queda significativa e potencialmente perigosa na temperatura do corpo.
Psicodélicos (alucinógenos)
Os psicodélicos são um grupo de substâncias com efeitos
alucinógenos, privando o indivíduo de razão, entendimento e da
realidade (despersonalização). Seus efeitos são de distorção do
funcionamento cerebral, deixando percepções alteradas, como visões
deformadas e distorção de cor e de forma. São também denominados
como psicomiméticos, pois suas manifestações são semelhantes à
psicose. Também produzem sintomas somáticos (tontura, náuseas,
parestesias e visão turva). Inicialmente, foram isolados de plantas, e os
principais representantes são:
Alucinógenos
Por definição, alucinação é um conjunto de percepções visuais, auditivas,
olfativas, gustativas e táteis, elaboradas pela mente e projetadas sobre os
sentidos, como se a sensação tivesse sido provocada por um fato
existente.
Despersonalização
Sensação persistente de observar a si mesmo de fora do corpo ou ter a
sensação de que seus arredores não são reais.
CB1
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A mescalina
A psilocibina
O LSD
O LSD (dietilamina do ácido lisérgico) é um alcaloide derivado do
esporão do centeio (ergot). Apresenta estrutura química semelhante a 5-
HT, e acredita-se que atue como agonista serotoninérgico. Sobre sua
utilização, sabe-se que:
( ê l )
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Atualmente, esses alucinógenos são comercializados ilegalmente, com
natureza química distinta, grande quantidade de impurezas e a possível
contaminação com produtos secundários. Os alucinógenos:
Não induzem
dependência, pois são
incapazes de estimular
a liberação de
dopamina no sistema
dopaminérgico
mesolímbico.
Entretanto, o indivíduo
pode iniciar um
consumo frequente
como forma de fugir da
realidade, e a sua
exposição repetitiva
leva ao rápido
desenvolvimento de
tolerância.
Vale ressaltar que muitos usuários utilizam as drogas de abuso
discutidas, de forma associada ou sequencial, prática perigosa, pois
Quando consumido por via
sublingual, utilizando um pedaço
de papel de filtro impregnado
com o LSD, os seus efeitos
aparecem normalmente entre 35
e 45 minutos, durando
aproximadamente de 6 a 12
horas.
Durante esse período, ocorrem
oscilações entre alucinações e
os sentidos normais, e os
indivíduos têm a sua capacidade
prejudicada para fazer qualquer
julgamento racional e entender
perigos comuns, de modo que
passam a correr risco de
acidentes e dano pessoal.
No estágio final, são verificados
efeitos de tensão e de fadiga,
que podem durar vários dias.
Além disso, o consumo do LSD
em grávidas pode provocar
fortes contrações do útero e
induzir o aborto.

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pode estar associada a inúmeras interações e geração de substâncias
mais tóxicas.
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
As drogas de abuso depressoras da atividade do Sistema Nervoso
Central (SNC) são substâncias capazes de produzir sonolência,
depressão respiratória e até coma. Assinale a alternativa em que
todas as substâncias são depressoras do SNC.
Parabéns! A alternativa A está correta.
%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EO%20%C3%A1lcool%2C%20os%20benzodiazep%C3%ADnicos%20e%20os%20barbit%C3%BArico
Questão 2
Drogas estimulantes do sistema nervoso central (SNC) são
substâncias que aumentam a atividade do cérebro e geralmente
inibem as sensações de fome, cansaço e sono, podendo produzir
estados de excitação e aumento da ansiedade. Assinale a
alternativa em que todas as substâncias se classificam como
drogas estimulantes do SNC.
A Barbitúricos; álcool etílico; benzodiazepínicos.
B
Etanol; MDMA (3,4-Metilenodioximetanfetamina);
maconha.
C
MDMA (3,4-Metilenodioximetanfetamina); maconha;
barbitúricos.
D Álcool etílico; cocaína; benzodiazepínicos.
E
Anfetamina; LSD (Dietilamina do Ácido Lisérgico);
barbitúricos.
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Parabéns! A alternativa C está correta.
%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EA%20anfetamina%2C%20o%20MDMA%20e%20a%20coca%C3%ADna%20s%C3%A3o%20drogas
3 - Opioides e suas propriedades toxicológicas
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car as principais
propriedades toxicológicas dos opioides.
Características gerais dos
opioides
A
MDMA (3,4-Metilenodioximetanfetamina); cocaína;
benzodiazepínicos.
B Heroína; cocaína; barbitúricos.
C
Anfetamina; MDMA (3,4-Metilenodioximetanfetamina);
cocaína.
D
Cocaína; LSD (Dietilamina do Ácido Lisérgico);
barbitúricos.
E
LSD (Dietilamina do Ácido Lisérgico); etanol;
anfetamina.
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Neste módulo, abordaremos os principais aspectos relacionados à
toxicologia dos opioides. Inicialmente, precisamos diferenciar os
opiáceos dos opioides. Os opiáceos são alcaloides naturais contidos no
ópio (Extrato do suco da papoula Papaver somniferum), que incluem a
morfina e a codeína, e alguns derivados semissintéticos, como a
heroína.
O termo opioide é mais amplo e se refere a qualquer substância
relacionada ao ópio, natural ou sintética, que produza efeitos
semelhantes ao da morfina, como a metadona e o propoxifeno.
Entenda como os opiodes podem ser administrados, de que forma
ocorre sua utilização e quais os possíveis efeitos:
Administração
Os opioides podem ser administrados por via oral, parenteral ou
intratecal.
Utilização
Sua utilização ocorre de forma terapêutica como analgésico,
antidiarreico, antiespasmódico e antitussígeno.
Efeitos
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Os efeitos euforizantes que apresentam e popularizaram a sua
utilização, principalmente como goma de mascar, solução ou até
mesmo fumado em cachimbos especiais.
Comentário
Nas últimas décadas, foi observado um aumento da sua utilização não
controlada e de indivíduos dependentes a essas substâncias, associado
à maior incidência de mortes e internações em diversos países,
incluindo o Brasil.
O desenvolvimento da dependência desses compostos pode estar
associado ao uso deles em pacientes em tratamento da dor, mas que
continuam a usá-los mesmo após a cura da dor que motivou a
prescrição, convencendo o médico de que ainda necessitam da
medicação, ou mais frequentemente, quando há a influência de amigos
ou por usuários ilegais, principalmente relacionada à administração
intravenosa da heroína.
Efeitos dos opioides
associados aos seus
receptores
Já está estabelecido que os opioides exógenos produzem seus efeitos
por meio das interações com os receptores opioides endógenos, de
forma semelhante à ligação das endorfinas e encefalinas.
As três principais classes de receptores opioides descritos são: (mi), 
(kappa) e (delta), embora o cérebro possa conter tipos adicionais
como o . Todos esses receptores são metabotrópicos, acoplados
à proteína G inibitória e, portanto, abrem os canais de potássio
(causando hiperpolarização) e inibem a abertura dos canais de cálcio e
a liberação do neurotransmissor. Além disso, eles inibem a Adenilil
ciclase e ativam a via das MAP quinases (EKR). Esses receptores
apresentam distribuição anatomicamente heterogênea no SNC,
responsáveis por dar origem a diferentes efeitos e respostas.
Veja a seguir a contribuição de cada uma das principais classes de
receptores opioides:
µ (mi)
Os receptores são responsáveis pela maioria dos efeitos
analgésicos, e pelos principais efeitos adversos, como a indução
da depressão respiratória, euforia, sedação e dependência. A
depressão respiratória, associada à diminuição da sensibilidade
do centro respiratório, à pressão parcial arterial e à inibição
da geração do ritmo respiratório, é a causa mais comum de óbito
na intoxicação por opioides. Além disso, eles reduzem o
componente afetivo da dor, provavelmente relacionado ao
µ κ
δ
ORL1
μ
CO2
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sistema límbico, envolvido na sensação de contentamento e bem-
estar.
κ (kappa)
Os receptores também contribuem para a analgesia, e podem
causar sedação, disforia e alucinações.
δ (delta)
A ativação dos receptores resulta em analgesia, mas também
podem ser pró-convulsivantes.
Vale ressaltar que os opioides podem variar em relação à sua eficácia
nos diferentes tipos de receptor, e atuar como agonistas puros, parciais,
ou antagonistas (bloqueiam os efeitos dos opioides). A metadona, por
exemplo, apresenta alta afinidade pelos receptores , mas afinidade
mais baixa pelos receptores e .
De forma interessante, alguns opioides, como a codeína, deprimem o
reflexo da tosse em doses subanalgésicas, porém, causam constipação
como efeito adverso. Náuseas e vômitos ocorrem em até 40% dos
pacientes em uso da morfina, por atuarem na zona quimiorreceptora do
gatilho, embora esses efeitos sejam transitórios e desapareçam com o
uso repetido.
A contrição pupilar (pupilas puntiformes) é induzida por estímulos no
nervo oculomotor mediada pelos receptores e , característica
importante do diagnóstico da intoxicação por opioides.
κ
δ
μ
δ κ
μ κ
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Pupila puntiforme característica associada ao uso de morfina.
Zona quimiorreceptora do gatilho
Região do bulbo em que muitos tipos de estímulos químicos podem iniciar
vômitos.
Tolerância aos opioides
O desenvolvimento da tolerância está associado ao uso prolongado dos
opioides, e doses cada vez maiores são necessárias para manter a
intensidade de efeitos, como euforia e bem-estar. No entanto, a
tolerância é seletiva, efeitos como miose e constipação se alteram
pouco durante o uso prolongado, enquanto outros apresentam elevada
tolerância, como efeitos analgésicos, euforizantes, e depressores
respiratórios.
Miose
Constrição pupilar.
Exemplo
Usuários dependentes que administram doses elevadas de opioides, e já
se encontram em tolerância, podem apresentar uma ausência ou
reduzida depressão respiratória, mas acentuada constipação e
constrição pupilar.
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Constipação
Os opioides aumentam o tônus e reduzem a motilidade em muitas partes
do sistema gastrointestinal, resultando em constipação, que pode ser grave
e problemática para o paciente.
A tolerância é resultado da dessensibilização dos receptores opioides μ,
e em parte devido a outras alterações adaptativas em nível celular e
sináptico. Por atuarem no mesmo receptor, os opioides apresentam
como característica a tolerância cruzada, ou seja, indivíduos tolerantes à
morfina são também tolerantes à heroína, metadona e a outros. Na
clínica, a rotatividade entre os opioides é frequente para superar a perda
da eficácia, por exemplo, em casos de pacientes em cuidados paliativos,
com dor grave causada por câncer.
Dependência dos opioides
O grupo dos opioides provoca forte dependência caracterizada por
desejo, compulsão ou necessidade incontrolável de continuar
administrando o fármaco e obtê-lo, sejam quais forem os meios. A
morfina, por exemplo, apresenta a capacidade de produzir uma intensa
sensação de bem-estar e tranquilidade, efeito procurado pelos usuários,
que relatam uma sensação de prazer intenso comparável a um
orgasmo, porém, localizado no abdômen.
No entanto, a dependência é rara em pacientes que recebem opioides
para controlar a dor sob acompanhamento médico. Uma intensa
neuroadaptação é induzida pelos opioides em poucos meses, e a
interrupção do seu uso está associada à síndrome de abstinência.
Acredita-se que:
 Primeiro
Essa neuroadaptação possa estar associada a
outros eventos moleculares. Entre eles, a alteração
nafosforilação dos receptores opioides,
modificando sua habilidade em interagir com seus
ligantes ou com a proteína G, que pode culminar em
uma diminuição da sensibilidade funcional dos
receptores e ser responsável por causar a
tolerância.
 Segundo
A menor excitabilidade dos neurônios do locus
coeruleus (LC) induzida pelos opioides pode
contribuir para o desenvolvimento da dependência
e da síndrome de abstinência.
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Esses e outros aspectos podem ser observados na imagem a seguir:
Mecanismo dos opioides na via de recompensa encefálica na ATV e no NAc
Acredita-se que a atuação dos opioides nessas regiões esteja associada
ao desenvolvimento da sua dependência, uma vez que essas regiões
são essenciais para a indução do reforço positivo e associadas a
propriedades reforçadoras do abuso de drogas.
Vale ressaltar que alguns analgésicos opioides, como a
Codeína, Pentazocina e Tramadol, têm muito menos
probabilidade de causar dependência.
Síndrome de abstinência
dos opioides
 Terceiro
Os opioides também inibem os neurônios GABA na
ATV, que expressam receptores opioides μ que, por
sua vez, desinibem os neurônios dopaminérgicos
na ATV, e assim, aumentam indiretamente a
liberação de DA no NAc.
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A síndrome de abstinência dos opioides está relacionada com os sinais
e sintomas característicos, que incluem lacrimejamento, rinorreia,
bocejos excessivos, transpiração e desejo intenso de consumir a droga.
Outros efeitos podem surgir após as 24 horas de abstinência da morfina,
como, por exemplo:
• Irritação
• Inquietude
• Midríase (dilatação da pupila)
• Anorexia (perda de peso)
• Tremor (fibrilações musculares)
• Arrepio (piloereção)
Casos graves estão associados à insônia, ao espasmo intestinal, à
diarreia, elevação da pressão arterial e da frequência cardíaca.
Atenção
A síndrome pode variar entre 5 e 10 dias, e, em alguns casos, o paciente
pode ir a óbito em decorrência de distúrbios cardíacos e/ou intestinais.
Após esse período, todos os efeitos começam a diminuir de intensidade,
mas a irritabilidade e a agressividade persistem por muitas semanas. Os
sinais e sintomas são muito menos intensos se a retirada do opioide for
gradual.
Como já conhecemos as características toxicológicas gerais do grupo
dos opioides, vamos agora resumir as propriedades específicas dos
principais opioides.
Mor�na
Estrutura química da morfina.
Considerada o protótipo dos opiáceos, é o principal constituinte do ópio.
Tem sido utilizada na prática clínica no combate à dor visceral e à dor
intensa. Sua estrutura foi determinada em 1902, e, desde então, muitos
compostos semissintéticos e inteiramente sintéticos foram
desenvolvidos, compostos que serão abordados ao longo deste módulo.
Protótipo
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Protótipo é o termo usado para se referir ao que foi criado pela primeira vez,
servindo de modelo ou molde para futuras produções.
Conheça detalhadamente as vias de administração da morfina e suas
características farmacocinéticas:
Administração e absorção
Pode ser administrada de forma parenteral, por meio de injeções
intramusculares (I.M.) e subcutâneas, seguidas de rápida absorção. A
absorção por via oral é lenta e variável, utilizada para tratar dor crônica.
Distribuição
Após absorvida, é rapidamente distribuída aos tecidos e órgãos, mas
devido à barreira hematoencefálica, a sua concentração no cérebro é
reduzida.
Metabolismo e eliminação
Após esse processo, sofre metabolismo hepático e o principal
conjugado 3-glicuronídeo, bem como a morfina livre, é principalmente
eliminado pela urina, além das fezes e pelo ar expirado.
De forma interessante, outro conjugado formado na
biotransformação, a morfina-6-glicuronídeo é um
potente agonista do receptor μ, produzindo efeito
analgésico 13 a 200 vezes mais potente que a morfina.
A administração de altas doses da morfina, intencionalmente ou de
forma acidental em farmacodependentes, ou por tentativas de suicídio,
está associada a quadros de intoxicação aguda e à presença da tríade
de sintomas: pupilas puntiformes, depressão respiratória e coma. Além
disso, pode causar a constipação e, por estimular a liberação
histamínica pelos mastócitos, causar broncoconstrição e hipotensão,
reação de urticária, e aumento do hormônio antidiurético (ADH).
Por fim, se não tratados com a Naloxona (discutida adiante) esses
pacientes podem evoluir para insuficiência respiratória e irem a óbito.
Em longo prazo, o seu uso está associado a irregularidades no ciclo
menstrual, decréscimo do apetite sexual e diminuição da fertilidade,
frequência respiratória abaixo do normal, além dos fenômenos de
tolerância e dependência. Ela também parece exercer um efeito
imunossupressor, levando ao aumento da suscetibilidade às infecções,
embora ainda não esteja claro o exato mecanismo.
É capaz de atravessar a barreira placentária, e devido à baixa
capacidade de conjugação dos recém-nascidos, apresentam maior
duração de ação e pode causar depressão respiratória, miose e
síndrome de abstinência, quadro que pode ser letal. Assim, o uso da
morfina não é recomendado no período neonatal, nem como analgésico
durante o parto. Discutiremos no vídeo outras repercussões do uso dos
opioides na gravidez e no recém-nascido.
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Repercussões do uso de
opioides na gravidez e no
recém-nascido
Conforme mencionado, o especialista Pedro Azevedo destacará os
riscos e consequências do uso de opioides na gravidez e no recém-
nascido, a partir de alguns estudos de caso.
Codeína (3-metoximor�na)
Apresenta aproximadamente 10% da potência analgésica da morfina, e
é utilizada, absorvida e eliminada da seguinte maneira:
Estrutura química da codeína.
Utilizada
Como droga analgésica, no tratamento de dor leve, e como
antitussígena.
Absorvida
É bem absorvida pela via oral.
Eliminada
Os produtos do metabolismo podem ser eliminados na urina, bile e nas
fezes.
Diferentemente da morfina, causa pouca ou nenhuma euforia, mas
quando combinada com outras drogas, como a Glutetimida (sedativo
hipnótico), resulta em euforia comparável ao efeito da heroína.

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Em quadros de intoxicações por codeína, os sintomas são semelhantes
à típica tríade de sintomas observada com a morfina, uma vez que a
codeína se converte em morfina por meio do metabolismo, além de
poder resultar em ataxia, discurso incompreensível e nistagmo. A
codeína possui menor propensão em causar dependência, frente aos
demais analgésicos opioides, mas isso não a exclui do risco.
Codeína
Estrutura química da codeína.
Ataxia
Como vimos, é o equilíbrio ou a coordenação motora prejudicados.
Nistagmo
Movimento involuntário dos olhos que pode fazer o olho mover-se
rapidamente de um lado para outro, para cima e para baixo, ou em um
círculo, podendo borrar ligeiramente a visão.
Tramadol
Estrutura química do tramadol.
Análogo sintético da codeína, agonista fraco nos receptores opioides μ.
Pode ser administrado por via oral, intravenosa (I.V.) e I.M., e é útil no
tratamento da dor leve à moderada. Também pode ser uma opção na
obstetrícia, uma vez que causa menos depressão respiratória neonatal.
Os efeitos colaterais comuns incluem:
• Náusea
• Vômitos
• Tontura
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• Boca seca
• Sedação
• Dor de cabeça
• Convulsões
Têm sido relatados casos de abuso e dependência associados ao seu
uso.
Heroína
A heroína, também denominada por diamorfinaou 3,6-diacetilmorfina,
foi introduzida em 1898 como um medicamento, com o intuito de que a
forma diacetilada da morfina continuasse efetiva contra a tosse, mas
com a ausência dos seus efeitos colaterais. Na prática, isso não
ocorreu, mas acabou tornando-se uma das drogas de escolha dos
usuários dependentes, e talvez seja a droga mais perigosa devido à sua
capacidade de provocar dependência, que pode ocorrer em poucos dias
de uso.
Estrutura química da heroína.
Apresenta alta lipossolubilidade, e é bem absorvida pela via nasal, retal,
pulmonar e pelas mucosas, sendo rapidamente distribuída, alcançando
o SNC. Os dependentes de heroína a utilizam pela via I.V. para obter o
efeito da droga de forma mais rápida e intensa, alcançando as
concentrações referentes ao período de “onda”, conforme apresenta a
imagem seguinte:
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Farmacocinética e farmacodinâmica da heroína e metadona.
Note que:
A concentração
plasmática da heroína
aumenta rapidamente
após a administração
I.V., provocando uma
“onda”; todavia, também
declina rapidamente,
causando sintomas de
abstinência.
Por outro lado, a
concentração
plasmática da
metadona, permanece
na faixa assintomática
por um período de mais
de 24 horas, de modo
que o paciente não
sente a “onda”, nem os
sintomas de
abstinência.
Comentário
Mais recentemente tem sido descrita uma mudança gradual na
preferência para a via intranasal e inalatória, ou seja, fumada. É vendida
como pó branco ou marrom, ou como substância negra pegajosa,
conhecida nas ruas como “heroína alcatrão negro”.
A heroína inalada oferece vantagens pela rápida liberação da droga
(aproximadamente 11 segundos), além de evitar frequentes superdoses
como nas injeções I.V., evitar as sequelas pelo uso de agulhas, e por
atualmente estar disponível com maior grau de pureza. Desse modo, o
processo de fumar resulta em efeito reforçador imediato que pode durar
vários minutos. Possui meia-vida plasmática curta, de aproximadamente
3 minutos. Seu metabolismo se inicia com a geração da 6-
monoacetilmorfina (meia-vida de 5 minutos), que é biotransformada em
morfina (meia-vida de 18 minutos), e sofre eliminação, principalmente
renal.
Nas intoxicações por superdose, o edema pulmonar é a complicação
mais frequente, resultado da depressão respiratória e quadro de hipóxia,
que em alguns casos pode levar ao óbito. A heroína ultrapassa a
placenta e os bebês podem nascer dependentes, e poucas horas após o
parto apresentar sintomas como vômito, diarreia, convulsão e espasmo
muscular.
Fentanil

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Estrutura química do fentanil.
Apresenta efeito analgésico semelhante à morfina e de outros opioides,
mas é 200 vezes mais potente que a morfina com ação mais curta. No
entanto, desde 1979, o Fentanil e seus derivados, como o alfa-
metilfentanil e o 3-metilfentanil, têm sido sintetizados em laboratórios
clandestinos e vendidos de forma ilícita nas ruas como substitutos da
heroína.
A inalação abusiva de fentanil está associada com
grande número de vítimas fatais e, desse modo, é
considerada uma droga muito perigosa para ser
autoadministrada.
Vejamos de que modo ocorre sua administração e excreção, e quais os
efeitos mais comuns:
Administração
Ele também pode ser administrado pela via IV, com efeito quase
imediato com curta duração.
Excreção
Sua excreção ocorre parcialmente pela urina e pela bile.
Efeito
Como outros opioides, provoca depressão respiratória, bradicardia,
hipotensão, hipotermia e convulsões.
A tolerância e a dependência parecem similares às
apresentadas por outros opioides.
Pentazocina
Apresenta potencial sedativo e analgésico de três a quatro vezes menor
que a morfina, utilizada no controle de dores agudas ou crônicas. Seu
uso repetido pode causar tolerância e dependência.
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Estrutura química da pentazocina.
A seguir, acompanhe os detalhe de sua administração, absorção,
eliminação e principais efeitos:
Administração
É administrada preferencialmente por via I.V., uma vez que é fracamente
absorvida pelo TGI.
Distribuição
Atravessa as barreiras placentárias e hematoencefálica, sendo que a
concentração cerebral excede a plasmática.
Excreção
Embora a maior parte do fármaco seja eliminado em 12 horas, os seus
produtos do metabolismo podem ser detectados na urina por vários
dias.
Efeito
Além de provocar depressão respiratória, em altas doses pode produzir
depressão, disforia, confusão mental, pesadelos e alucinações.
Propoxifeno
Estrutura química do proproxifeno.
Apresenta estrutura e propriedades farmacológicas relacionadas à
metadona (discutida adiante) com efeito analgésico. Foi a principal
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droga de abuso e causa de morte na Inglaterra no final da década de
1960, e atualmente é responsável por mais de 5% dos casos de suicídio.
Embora lenta, a sua absorção por via oral é completa, sofre rápida
biotransformação a norpropoxifeno, e é distribuído em órgãos como
fígado, pulmão, rins e cérebro, eliminado pela via renal. Altas doses
estão associadas a euforia, alucinações e delírio, seguidos de náusea,
vômito, fala enrolada e coma. As principais causas de morte nas
superdosagens são a parada cardíaca, respiratória e convulsões.
Além desses, podemos citar resumidamente mais alguns opioides e
suas propriedades especificas:
Oxicodona
A oxicodona é utilizada no tratamento da dor aguda e crônica e
encontra-se amplamente disponível em preparação oral de
liberação lenta, mas, infelizmente, ela se tornou popular entre os
dependentes em opioides, já que contém grandes quantidades da
substância. Popularmente é denominada de “heroína caipira”.
Estrutura química da oxicodona.
Nalbu�na
A nalbufina é indicada para produzir analgesia, e pode ser
utilizada na obstetrícia durante o trabalho de parto. Pode ser
administrada por via oral ou I.M. e é biotransformada no fígado.
Produz poucos efeitos colaterais em doses terapêuticas, mas a
sua administração prolongada pode causar dependência com
intensidade semelhante à pentazocina. Em doses elevadas
podem ocorrer efeitos colaterais psicomiméticos como disforia,
pensamentos descontrolados e distorções de imagem.
Estrutura da nalbufina.
Petidina
A petidina ou meperidina, agonista do receptor μ, produz efeitos
semelhantes, mas com menor duração do que a morfina. É
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utilizada como pré-anestésico, em obstetrícia e no alívio da dor
moderada a severa. Produz manifestações típicas de outros
opioides, podendo desencadear euforia e agitação, pode induzir
excitações no SNC, como tremores e convulsões e é capaz de
causar dependência. Apresenta ação antimuscarínica adicional,
que pode causar boca seca e embaçamento visual. Se
administrada I.V. pode induzir a taquicardia. Embora seja
eliminada lentamente no recém-nascido, pode ser necessário o
uso da Naloxona para reverter a depressão respiratória neonatal.
Estrutura química da petidina.
Dextrometorfano
O dextrometorfano não apresenta efeito analgésico, mas é
indicado para tratamento sintomático da tosse seca irritativa (não
produtiva) por apresentar efeito antitussígeno. Em doses muito
altas pode produzir miose, depressão respiratória e depressão do
SNC. O seu abuso tem aumentado entre estudantes, por causa da
sua fácil disponibilidade. Entre seus efeitos incluem: alucinações
visuais, hiperexcitabilidade, fala arrastada ou enrolada, pressão
arterial elevada e outros.
Estrutura química da dextrometorfano.
Seguidamente veremos a buprenorfina, a metadona e a naloxona:
Buprenor�na

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