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DIRE-MATHEUS - RESE

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MM.º JUÍZO DA 1ª VARA DO JÚRI DA COMARCA DE ARAGUAÍNA-TO.
Mardônio Leite de Sousa já qualificado nestes autos de processo-crime n.º 0014779-65.2020.8.27.2706/TO, que lhe move o Ministério Público, por seu advogado subscritor, não se conformando com a r. decisão que a pronunciou, vem, respeitosamente, interpor 
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO
com fulcro no art. 581, IV, CPP, o que faz com base nos relevantes fundamentos fático-jurídicos que passará a expor.
Requer, pois, seja recebido e processado o presente recurso, com a reforma da decisão impugnada em juízo de retratação, nos termos do art. 589, CPP. Caso este d. Juízo entenda que deva ser mantida a r. decisão, requer, desde logo, seja encaminhado o feito, com as inclusas razões, ao eg. Tribunal de Justiça do Estado de TOCANTINS. 
Termos em que pede deferimento.
ARAGUAÍNA-TO e data.
Advogado
OAB
Autos n.º 0014779-65.2020.8.27.2706/TO
Recorrente: Mardônio Leite de Sousa
Recorrido: Ministério Público
Origem: Araguaína-TO
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA,
COLENDA CÂMARA,
DOUTO PROCURADOR DE JUSTIÇA.
Em que pese o indiscutível saber jurídico do MM.º Juízo a quo, impõe-se a reforma da r. Sentença objurgada que pronunciou o recorrente, pelas relevantes razões fático-jurídicas a seguir expostas. 
I – DO CONHECIMENTO (PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE RECURSAL)
O recurso merece ser conhecido pelos seguintes fundamentos.
I. A. – CABIMENTO
O art. 581, IV, do Código de Processo Penal, estabelece que o recurso cabível das decisões que pronunciam o Réu é o Recurso em Sentido Estrito. Deste modo, haja vista o fato de que o recorrente foi pronunciado pela suposta prática do delito previsto no art. 121, § 2º, II c/c art. 14, II ambos do CP, resulta cristalino o cabimento desta impugnação.
I.B. – TEMPESTIVIDADE
O art. 581, do CPP, fixa o prazo recursal de 02 (dois) dias para interpor o Recurso em Sentido Estrito e de 05 (cinco) dias para arrazoá-lo. A Defesa restou intimada da r. Sentença impugnada em (data), de modo que é o presente RESE tempestivo.
I.C DO PREPARO 
O recorrente recolheu o devido preparo conforme estipula o artigo 511 do CPC (anexo). 
II – SÍNTESE PROCESSUAL
De acordo com a denúncia, em 21 de dezembro de 2019, por volta das 22 horas, na rua 10, quadra 5, lote 19, no setor Parque do Lago, na cidade e comarca de Araguaína, Tocantins, o denunciado, motivado por razão fútil, tentou matar Antônio Leite Tavares utilizando golpes de um facão, não consumando o crime devido a circunstâncias além de sua vontade. 
Segundo a apuração, o denunciado e a vítima estavam bebendo na companhia de Luciene Souza Pinheiro e Edinaldo Cardoso de Moraes, quando uma discussão banal começou. O denunciado foi até seu veículo e retornou armado com um facão, enquanto a vítima também pegou um facão em sua casa. 
Durante o confronto, o denunciado atacou a vítima na cabeça, e esta, em gesto de defesa, colocou o braço direito na frente, resultando em graves lesões, incluindo a amputação da mão direita. O denunciado tentou golpeá-la novamente, mas foi impedido pelo Compadre, que o segurou, levando o denunciado a evadir-se do local. 
Acontece que, contrariamente aos depoimentos utilizados como base para sustentar uma conduta ilícita por parte do acusado, como os depoimentos da vítima, de sua esposa e de seu compadre, que se encontravam devidamente anexados nos autos do inquérito, o depoimento do suposto autor não foi disponibilizado ao Ministério Público nos autos do inquérito. Isso resultou apenas na apresentação dos elementos acusatórios, sem considerar os desdobramentos decorrentes do depoimento do acusado, que deveriam ter sido incluídos antes do oferecimento da denúncia.
Assim, apesar da discordância da defesa em relação às circunstâncias fáticas e jurídicas descritas na denúncia, que serão abordadas oportunamente, é importante ressaltar a ausência do depoimento do acusado e apresentar as razões jurídicas que são consideradas violações do devido processo legal.
A denúncia foi apresentada em 9 de junho de 2020 e recebida em 10 de junho de 2020. Após o recebimento da denúncia e apresentação de defesa prévia sem ser declarada a absolvição sumária, o Ministério Público se manifestou a favor da pronúncia que foi deferida pelo juízo. 
III – DO DIREITO
II. A – DA NULIDADE
Devido à falta de inclusão, independentemente do momento, do depoimento do acusado, não apenas o acusado é prejudicado, mas também a denúncia que se baseia apenas em elementos acusatórios. Além disso, o processo é prejudicado, uma vez que a defesa não possui o depoimento do acusado para reforçar suas teses, as quais são construídas a partir das versões apresentadas pelo próprio acusado. 
Chama-se a atenção do juízo para a peculiaridade do caso, em que uma pessoa é acusada do crime mais grave em nosso ordenamento, mas as circunstâncias básicas empobrecem a possibilidade de produção de provas, uma vez que os dados consistem apenas nos depoimentos das vítimas e de seu compadre. 
Até o momento, o único elemento de prova produzido que poderia colaborar com a versão do acusado, o depoimento, simplesmente não consta no presente processo. É importante ressaltar que, de acordo com o artigo 6º, § 5º, o depoimento prestado pelo acusado em sede de inquérito policial deve ser aplicado em suas posições de defesa. 
Além disso, apesar da tendência na doutrina e jurisprudência de que as irregularidades contidas no inquérito policial não contaminam a ação penal, existem exceções extremamente raras.
Assim, se esses vícios comprometerem todo o inquérito e ele for a única fonte para a instauração da ação, toda a base indiciária que sustenta a ação estará comprometida. Consequentemente, a denúncia apresentada estará faltando com a justa causa necessária, e o juiz deve rejeitá-la com base no inciso III do artigo 395 do Código de Processo Penal, que estipula: "Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (...) III - faltar justa causa para o exercício da ação penal", situação que encaixa-se no presente caso. 
II. B DO MÉRITO
II. B.1 – DA ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA
De acordo com o art 415, IV do CP evidenciando que a legítima defesa (art. 23, II, CP) é uma forma de exclusão de ilicitude.
Art. 415. O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o acusado, quando:
IV – demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime.
Nesse contexto, observando, a partir da descrição fática que, embora o ora acusado estivesse com uma arma branca, a ora vítima também portava uma faca e, igualmente possuía dolo em lesionar o acusado, ou seja, houve uma troca reciproca de ameaças e vias de fato demonstrando que o Acusado estava apenas defendendo-se de agressão que lhe era desferida.
Sobre o tema o seguinte julgado:
EMENTA: Penal e Processual Penal - Recurso especial - Júri - Homicídio - Legítima defesa - Excesso - Quesitação - Precedentes. I - Reconhecida uma situação de excesso na legítima defesa, os srs. jurados devem ser perquiridos acerca da sua natureza. (Precedentes do Pretório Excelso). Negada a forma dolosa e, também, a culposa, o réu está absolvido por força de excesso não punível (excesso por erro de tipo permissivo invencível). II - Recurso conhecido e parcialmente provido para que, afastado o error in procedendo, o egrégio Tribunal a quo aprecie o restante da apelação do parquet.( RECURSO ESPECIAL N.2. 126.449 – AP. Relator: Ministro Felix Fischer. Brasília-DF, 26 de outubro de 1999 (data do julgamento). Publicado no DI de 29.11.1999.). 
 Assim, considerando que a legítima defesa implica na exclusão de atos ilícitos, caracterizando-se pela presença de agressões ilegais, iminentes ou em curso, que podem ser repelidas por meios apropriados e necessários, a descrição dos fatos revela que no inquérito policial o réu confessou a prática do crime. Além disso, foi mencionado que a ação foi motivada pela ameaça da vítima e por atos que visavam sua própria morte, tornando evidente a ocorrência da ação em legítima defesa.
II. B.2 – DA IMPRONÚNCIA
A desclassificação de um crime ocorre quando um juiz toma conhecimento, duranteuma condenação baseada em evidências obtidas nos autos, de outro crime que está fora da competência do júri, conforme estipulado no artigo 74 do Código de Processo Penal.
Considerando isso, ao analisar o que foi exposto na acusação inicial, não há elementos que associem o delito em questão ao réu, uma vez que, apesar do desfecho, o réu não teve a intenção de matar a suposta vítima. Portanto, é justificada a reclassificação do crime para um que não seja doloso contra a vida, como a lesão corporal seguida de morte (Art. 419 do CPP), e a subsequente remessa dos autos ao juízo competente, impronunciando, assim, o réu (art. 414 CPP). 
II.B.3 DO AFASTAMENTO DO MOTIVO FÚTIL
O motivo fútil é caracterizado por ser insignificante, banal, sendo um motivo que geralmente não levaria à prática do crime, evidenciando uma discrepância entre o crime e a motivação. No caso em tela, todavia, não esteve presente tal aumento de pena. Conforme fartamente detalhado nos autos, o ora acusado estava se defendendo de agressões causadas por seu irmão, não enquadrando-se, tal motivo naquele tido como fútil. Assim, em eventual condenação é necessário o afastamento do §2º, II do art. 121, CP. 
III. PEDIDO
Frente ao exposto, requer seja conhecido e provido o presente recurso, para preliminarmente declarar nulo o IP e a ação penal ou, em sede de mérito, absolver sumariamente o Réu com fundamento no art. 415, IV do CPP e, caso assim não entendam Vossas Excelências, para impronunciar o réu (art.414 do CPP), desclassificando o delito para aquele previsto no art 129, §2º do CP, com fundamento no art. 419 do CPP. Por fim, em eventual condenação requer o afastamento do §2º, II do art. 121,CP.
Pede-se o deferimento. 
Local, data. 
Advogado, OAB.

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