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METODOLOGIA CIENTÍFICA Página 1 de 94 METODOLOGIA CIENTÍFICA1 GISELE BISCHOFF GELLACIC2 Apresentação Caros alunos, bem-vindos à disciplina de Metodologia científica da Faculdade Souza. Esta disciplina é importantíssima, pois seus fundamentos servirão de base para toda sua vida acadêmica. Além disso, os conceitos aqui apresentados também auxiliam em sua atuação profissional como pedagogo. A base da Metodologia científica é desenvolver a análise crítica e reflexiva acerca do mundo, bem como fornece as ferramentas para o desenvolvimento da pesquisa e do trabalho acadêmico. Trata-se, então, de um conteúdo organizado para facilitar a pesquisa e a produção de trabalhos conforme as normas científicas. Assim, pense nessa disciplina como algo complementar às demais, afinal, os instrumentos aqui aprendidos auxiliarão na produção de todas as atividades de sua formação. O conteúdo de Metodologia científica pode, então, servir de apoio para consultas e esclarecimentos quanto às normas científicas, desenvolvimento de trabalhos e pesquisas. Esta apostila foi dividida em cinco unidades, visando uma aprendizagem autônoma, com conteúdo cuidadosamente selecionados para facilitar o estudo à distância. Mas lembre-se de que você não está sozinho, podendo sempre contar com o auxílio do professor-tutor. Bons estudos! Muito sucesso nesta disciplina e em todo curso! 1 Este material trata-se da compilação de alguns textos que versam sobre a METODOLOGIA CIENTÍFICA. A organizadora deste material selecionou os trabalhos e salientou alguns recortes para enriquecer a temática desta apostila. Assim, os créditos autorais dos estudos selecionados estão devidamente referenciados nas figuras ilustrativas e nas referências bibliográficas. 2 Pós-doutora em Educação pela UNICAMP. Doutora em História Social pela PUC-SP. Professora do ensino básico e superior. Página 2 de 94 Sumário Unidade 1 - Ciência e conhecimento científico 1.1 - O que é ciência 1.2 - Tipos de conhecimento 1.3 - A origem dos tipos de conhecimento Unidade 2 - Leitura, documentação e estudo no Ensino Superior 2.1 - Participação nas aulas 2.2 - Aproveitamento da leitura 2.3 - Registros e documentação 2.4 - Mapa conceitual Unidade 3 - Normatização dos trabalhos acadêmicos - parte I 3.1 - ABNT 3.2 - Métodos de pesquisa 3.3 - Modalidades de pesquisa Unidade 4 - Normatização dos trabalhos acadêmicos - parte II 4.1 - Técnicas de pesquisa 4.2 - Estudo de caso (ou métodos monográficos) Unidade 5 - Modalidades dos trabalhos científicos-acadêmicos 5.1 - Tipos de documentos científicos 5.2 - Projeto de pesquisa 5.3 - Trabalho de conclusão de curso (TCC) Unidade 6 - Formatação dos trabalhos acadêmicos 6.1 - Normas gerais para a formatação dos trabalhos científicos 6.2 - Citações 6.3 - Referências bibliográficas Conclusão Referências bibliográficas Página 3 de 94 Unidade 1 - Ciência e conhecimento científico Metodologia Científica é a disciplina que "estuda os caminhos do saber", entendendo que "método" representa caminho, "logia" significa estudo e "ciência", saber e conhecimento. O objetivo desta primeira unidade é analisar o conhecimento científico, como um instrumento que ajuda a compreender a explicar os fenômenos que ocorrem à nossa volta. Todo o conhecimento acumulado até hoje é resultado das experiências científicas. À medida que se descobrem as respostas para as indagações que inquietavam o passado, novos questionamentos vão surgindo e novas experiências vão ocorrendo. Exemplo disso, são os mais variados tipos de remédios que existem no mercado e a cura doenças, que no início do século XX eram fatais. Se pensarmos no desenvolvimento da tecnologia, confirmaremos ainda mais na evolução do conhecimento e na necessidade da cientificidade. Mas, nem todos os tipos de conhecimento pertencem à ciência, como o conhecimento do senso comum entre outros. É importante saber identificá-los e reconhecê-los. 1.1 - O que é a ciência Desde a sua origem, o ser humano interage com a natureza e os objetos ao seu alcance, observando as relações sociais e culturais no meio em que vive. Através dessa observação e da sua interação com as pessoas e os objetos, que o homem adquire conhecimento. O conhecimento pode ser adquirido de diversas formas: sensação, percepção, imaginação, memória, linguagem, raciocínio e intuição. Assim, o ato de conhecer significa adquirir um conceito novo sobre um fenômeno, fato ou situação, o qual pode nascer da experiência acumulada em nosso dia-a-dia. A ciência é uma forma de conhecimento desenvolvida pelo ser humano. A palavra ciência vem do latim scientia, que significa ‘conhecimento’, e da palavra scire, que significa ‘conhecer’ ou ‘saber’. Segundo Marconi e Lakatos (2008, p. 22), a ciência “é um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz de ser submetido à verificação”. Isso significa que se um dado fenômeno, objeto ou fato é analisado de forma sistemática, com instrumentos e técnicas Página 4 de 94 conhecidas e aprovadas, então, tal objeto passa a ter os requisitos necessários para ser avaliado cientificamente. A ciência pode ser considerada como um modo de compreender a análise do mundo empírico, envolvendo um conjunto de procedimentos, através do uso da consciência crítica. Dessa forma, a ciência é uma forma de entender e compreender os fenômenos que ocorrem, por meio de métodos pré-estabelecidos. Quando faz referência à ciência, Oliveira (2002, p. 47) afirma que: Trata-se do estudo, com critérios metodológicos, das relações existentes entre causa e efeito de um fenômeno qualquer no qual o estudioso se propõe a demonstrar a verdade dos fatos e suas aplicações práticas. É uma forma de conhecimento sistemático, dos fenômenos da natureza, dos fenômenos sociais, dos fenômenos biológicos, matemáticos, físicos e químicos, para se chegar a um conjunto de conclusões verdadeiras, lógicas, exatas, demonstráveis por meio da pesquisa e dos testes. Isso significa que o conhecimento científico deriva de estudos a partir de critérios metodológicos, de forma objetiva, racional, sistemática, verificável e falível. A falibilidade da ciência é considerada, uma vez que as pesquisas sempre são atualizadas de forma progressiva, ou seja, o que foi considerado ciência em outrora, pode ser reavaliado pelos cientistas do futuro. Para compreender melhor a ciência, utilizamos as características determinadas por Vianetto (2011): I. Objetividade: descrição da realidade investigada independentemente dos desejos do pesquisador,de forma clara e precisa; II. Racionalidade: a razão é utilizada durante todo o processo de pesquisa, desde o esboço do estudo, a coleta dos dados, até sua análise; III. Sistematicidade: é o saber ordenado de forma lógica, construído através de sistema de ideias e teorias, portanto, não há espaço para conhecimentos desconexos; Página 5 de 94 IV. Generalidade: o conhecimento gerado deve ser analisado sob a possibilidade de ser ou não aplicado a outros contextos, explicados fenômenos em diferentes situações; V. Verificabilidade: quando as hipóteses são examinadas através da observação e da experimentação para serem comprovadas ou refutadas; VI. Falibilidade: o conhecimento não é algo definitivo, absoluto ou final, podendo ser negado ou confirmado; VII. Conhecimento aproximadamente exato: porque novas proposições podem reformular uma teoria já existente. Assim, é importante notar que um conhecimento tão pragmático e racional como a ciência, difere-se do conhecimento do dia-a-dia, este chamado de senso comum. O senso comum é uma forma de conhecimento que se desenvolve a partir do cotidiano, da necessidade e da experiência.É uma forma de conhecimento que permanece no nível das crenças vividas, segundo uma interpretação previamente estabelecida e adotada por um grupo de indivíduos. Ao contrário do conhecimento científico, o senso comum leva a pensar de forma assistemática, sensitiva e subjetiva, sem atribuir o rigor e a utilização do método científico. É importante saber que ambos conhecimentos são válidos, porém, suas abordagens são muito diferentes. E ainda, que em algumas situações, o conhecimento do senso comum pode desenvolver o conhecimento científico, pois ditos populares podem gerar questões que, às vezes, levam à pesquisa e à investigação científica. Um exemplo interessante desse caso, são os tratamentos médicos. Afinal, muitos remédios que foram utilizados pelas avós e por populações indígenas, e que por isso, vinham de uma sabedoria popular considerada vulgar e do senso comum, foram submetidos a critérios científicos, e então, passaram a ter uma comprovação científica. Antes disso, não era válida a comprovação do senso comum, mesmo que já tivesse curado diversas doenças, porque não havia passado pelo crivo do método científico. Página 6 de 94 Através desse exemplo, pode-se associar à vida acadêmica. Pois na realização de um trabalho de estudos, com a investigação de um problema, é necessário aplicar os métodos científicos para chegar a um resultado comprovado, saindo dos “achismos” ou da superficialidade. Esta é a importância da utilização dos métodos científicos na vida acadêmica. E para compreender com mais profundidade o conhecimento científico, é necessário diferenciá-lo dos demais tipos. 1.2 - Tipos de conhecimento O conhecimento ou o ato de conhecer, existe como forma de solucionar problemas específicos e/ou comuns à vida. Segundo Tartuce (2006, p. 5): O conhecimento é um processo dinâmico e inacabado, serve como referencial para a pesquisa tanto qualitativa como quantitativa das relações sociais, como forma de busca de conhecimentos próprios das ciências exatas e experimentais. Portanto, o conhecimento e o saber são essenciais e existenciais no homem, ocorre entre todos os povos, independentemente de raça, crença, porquanto no homem o desejo de saber é inato. As diversificações na busca do saber e do conhecimento, segundo caracteres e potenciais humanos, originaram contingentes teóricos e práticos diferentes a serem destacados em níveis e espécies. O homem, em seu ato de conhecer, conhece a realidade vivencial, porque se os fenômenos agem sobre os seus sentidos, ele também pode agir sobre os fatos, adquirindo uma experiência pluridimensional do universo. De acordo com o movimento que orienta e organiza a atividade humana, conhecer, agir, aprender e outros conhecimentos, se dão em níveis diferenciados de apreensão da realidade, embora estejam inter-relacionados. O conhecimento orienta o desenvolvimento humano, implicando em ações e formas de organização. Como foi dito, a ciência é uma forma de conhecimento, bem como o senso comum. Porém, existem outros tipos de conhecimento, que implicam de outras maneiras o ser humano e sua forma de apreender a realidade. É importante saber distingui-los, e ainda, compreender que não existe um mais importante do que o outro, ocupando lugares diferentes na vida de cada um. São eles: ● Senso comum: também chamado de conhecimento empírico, vulgar ou popular. É aquele que se origina através da convivência familiar e social, se desenvolve por meio de ações não planejadas. As informações obtidas são impregnadas pela percepção do indivíduo, ou seja, não é sistemática e pode Página 7 de 94 ter bases fora da racionalidade e da crítica, baseando-se em antigas tradições e crenças populares. Muitas vezes, é um conhecimento aprendido pela observação, a partir da experiência do outro e passado de geração em geração. ● Filosófico: é aquele resultante da capacidade humana de raciocinar e refletir sobre fatos e fenômenos, gerando conceitos subjetivos, os quais buscam dar sentido à vida e ao universo, ultrapassando os limites formais da ciência. Baseia-se em hipóteses não verificáveis e nem observáveis. Ou seja, é um conhecimento que utiliza da razão, porém não utiliza a experiência para sua comprovação. Utiliza-se, também, a dedução e a coerência lógica para suas conclusões. A principal tarefa da filosofia é a reflexão acerca do mundo. ● Teológico: é aquele resultante das crenças religiosas. Portanto, não se tem como confirmar ou negar esse tipo de conhecimento, afinal ele é um ato de fé. Esse tipo de conhecimento não é verificável, pois não utiliza nenhuma coerência lógica ou racional. Esse conhecimento está intimamente relacionado a crença em um Deus, seja este Jesus Cristo, Oxalá, Buda, Maomé, ou qualquer outra entidade compreendida como ser supremo. ● Científico: é aquele proveniente da racionalidade, da objetividade e da sistematização. Portanto, é verificável e explicativo, utilizando métodos previamente estabelecidos e testados, que apontam a verdade dos fatos experimentados e sua aplicação prática. Este é o conhecimento que trabalhamos no Ensino Superior, por isso a necessidade de uma disciplina como essa, para se aprender os métodos que a ciência exige. Oliveira (2003) contribui sobre o assunto, sintetizando os tipos de conhecimento, conforme o quadro abaixo: Página 8 de 94 Vulgar Científico Filosófico Religioso/Teológi co valorativo reflexivo falível assistemático verificável inexato real contingente falível sistemático verificável exato valorativo racional infalível sistemático não-verificável exato valorativo inspiracional infalível sistemático não-verificável exato Após conhecer os tipos de conhecimento, iremos abordar um pouco da história de cada um deles, suas relações e, principalmente, o surgimento da ciência. 1.3 - A origem dos tipos de conhecimento O senso comum, associado ao conhecimento filosófico e à questão teológica, orientou as preocupações do homem com o universo. Desde a Pré-história3, os seres humanos utilizaram a experiência e a observação para o desenvolvimento de conhecimentos. Assim, a primeira forma de troca de aprendizagens foi através do senso comum, do conhecimento popular. Quando a humanidade em sua fase pré- histórica, antes da escrita ou de formas mais complexas de transmissão de saberes, desenvolveu a primeira forma de transmissão de saberes com o conhecimento empírico, através da observação do outro. A partir da Antiguidade4 e suas grandes civilizações, vemos o aprimoramento dos conhecimentos filosóficos e teológicos. O primeiro deles foi o teológico, com o surgimento das primeiras religiões, fortemente atreladas aos sistemas políticos, como é o caso dos faraós no Egito antigo, que eram vistos como um rei e como um deus. 3 Período da história da humanidade datado entre, aproximadamente, 2,5 milhões de anos até 4 mil a.C. É o período caracterizado pelo desenvolvimento da caça e da coleta, para a agricultura e domesticação de animais, do nomadismo para a sedentarização, da invenção do fogo e da arte rupestre. 4 A Idade Antiga ou Antiguidade foi o período histórico datado classicamente entre 4 mil a.C. com a invenção da escrita, até o ano de 476 com a queda do Império Romano. Este período foi marcado pelas primeiras grandes civilizações da humanidade como a Mesopotâmia, o Egito antigo e a Grécia antiga. Página 9 de 94 Nessa época, ainda se desenvolveu as primeiras histórias mitológicas, que consistem em narrativas que contavam a história do universo, da natureza e da humanidade, segundo a vontade dos deuses. Tais mitos serviam como fonte de conhecimento para esses povos, que acreditavam através da fé e das crenças nas histórias e nas explicações a partir dos mitos e da palavra dos sacerdotes. A preocupação em descobrire explicar a natureza vem desde os mais remotos tempos da humanidade, que colocava o homem à mercê das forças da natureza e da morte, enquanto que o conhecimento mítico atribuía um caráter sobrenatural. Já o conhecimento religioso explicava os fenômenos da natureza e o caráter transcendental da morte como se fossem revelações da divindade. O conhecimento filosófico para captar a essência imutável do real, partiu para a investigação racional da forma e das leis da natureza. (SILVA, 2017, p. 110) O conhecimento filosófico veio posteriormente ao teológico quando, por volta de 500 a.C., alguns pensadores gregos começaram a buscar através de suas próprias capacidades de raciocínio e de lógica, explicações sobre as grandes questões da humanidade como “de onde viemos?” e “para que serve o mundo?”. Esses pensadores foram chamados de filósofos, que significa “o amigo da sabedoria”. Vale notar que o surgimento da filosofia não excluiu o conhecimento teológico, na verdade, tais saberes se associam de formas complementares pois apesar de buscarem a mesma coisa (no caso, o conhecimento) utilizam caminhos diferentes para tal. Com o conhecimento científico foi a mesma coisa, pois quando este surgiu, não excluiu a existência dos demais. Vamos agora ver quando este tipo de conhecimento surgiu. Foi somente por volta do século XIV que se iniciou uma linha de pensamento que propunha encontrar o conhecimento embasado na lógica, com melhores garantias, e na procura do real aliada ao raciocínio. Nicolau Copérnico viveu na Polônia entre 1473 e 1543, e foi um destaque na sua geração nos estudos da matemática e da astronomia. Ele desenvolveu a teoria Heliocêntrica no início do século XVI, defendendo que o Sol era o centro do Sistema Solar, e não a Terra, como se pensava anteriormente. A este evento damos o nome de "Revolução Copérnica”, um dos principais marcos no desenvolvimento da ciência. A partir de então, outros pesquisadores surgiram, contribuindo ainda mais para o desenvolvimento da ciência como se conhece hoje, este evento ficou conhecido como Renascimento científico. Página 10 de 94 Podemos citar Galileu Galilei (1564-1642), Giordano Bruno (1548-1600) e Johannes Kepler (1571-1630), como grandes contribuidores para os estudos da astronomia e da física, inclusive no desenvolvimento de aparelhos de observação como o telescópio. O pioneiro a tratar do assunto, no âmbito do conhecimento científico, foi Galileu Galilei, primeiro teórico do método experimental. As ciências, para Galileu, não têm, como principal foco de preocupações, a qualidade, mas as relações quantitativas. Seu método pode ser descrito como indução experimental, chegando-se a uma lei geral através da observação de certo número de casos particulares. Os principais passos de seu método podem ser assim expostos: observação dos fenômenos; análise dos elementos constitutivos desses fenômenos, com a finalidade de estabelecer relações quantitativas entre eles; indução de certo número de hipóteses; verificação das hipóteses aventadas por intermédio de experiências; generalização do resultado das experiências para casos similares; confirmação das hipóteses, obtendo-se, a partir delas, leis gerais. (LAKATOS e MARCONI, 1991, p. 42) Um dos contemporâneos de Galileu foi Francis Bacon (1561-1626), que partiu da suposição de que o conhecimento científico é a única forma de chegar à verdade dos fatos, e para isso devemos seguir as etapas: experimentação; formulação de hipóteses; repetição; testagem das hipóteses, formulação de generalizações e leis (SILVA, 2017). A partir de Bacon, inicia-se o aprimoramento do método científico, porém, foi com o filósofo e matemático francês René Descartes (1596-1650), que a ciência teria sua consagração com a elaboração do que conhecemos como método científico. Em 1637, Descartes publica o livro “Discurso sobre o Método”, obra em que fornece os meios para se alcançar um método dedutivo, ou seja, o autor elabora um modelo ou um sistema racional para se chegar ao conhecimento. Descartes propõe quatro regras: (1) a evidência: para não acolher jamais como verdadeira uma coisa que não se reconheça evidentemente como tal; (2) a análise: que consiste em dividir cada uma das dificuldades em tantas partes quantas necessárias para melhor resolvê-las; (3) a síntese: entendida como o processo que leva à reconstituição do todo, previamente decomposto pela análise, consistindo em conduzir ordenadamente os pensamentos; (4) a enumeração: que consiste em realizar sempre enumerações Página 11 de 94 tão cuidadosas e revisões tão gerais que se possa ter certeza de nada haver omitido. (LAKATOS e MARCONI, 1991) A importância de Descartes na estruturação do método científico é indiscutível e, mesmo após todos esses anos e o surgimento de outras ideias que foram sendo adaptadas ao seu método, nota-se que a base ainda remonta à ele. Nos dias atuais, a definição de método científico ou a teoria da investigação que alcança seus objetivos de forma científica, são aquelas que cumprem as seguintes etapas: (SILVA, 2017) – Descobrimento do problema: ou uma lacuna num conjunto de acontecimentos. Se o problema não estiver enunciado com clareza, passa-se à etapa seguinte; se estiver, passa-se à subsequente; – Colocação precisa do problema: ou ainda, a recolocação de um velho problema à luz de novos conhecimentos (empíricos ou teóricos, substantivos e metodológicos); – Procura de conhecimentos ou instrumentos relevantes ao problema: o exame do que já é conhecido para tentar resolver o problema; – Tentativa de solução do problema com auxílio dos meios identificados: se a tentativa resultar como sendo inútil, passa-se para a etapa seguinte, em caso contrário, à subsequente; – Invenção de novas ideias: hipóteses, teorias ou técnicas ou produção de novos dados empíricos que prometam resolver o problema; – Obtenção de uma solução: exata ou aproximada do problema, com o auxílio do instrumental conceitual ou empírico disponível; – Investigação das consequências da solução obtida: em se tratando de uma teoria, é a busca de prognósticos que possam ser feitos com seu auxílio. Em se tratando de Página 12 de 94 novos dados, é o exame das consequências que possam ter para as teorias relevantes; – Prova ou comprovação da solução: confronto da solução com a totalidade das teorias e da informação empírica pertinente. Se o resultado é satisfatório, a pesquisa é dada como concluída, até novo aviso. Do contrário, passa-se para a etapa seguinte; – Correção das hipóteses, teorias, procedimentos ou dados empregados na obtenção da solução incorreta: esse é, naturalmente, o começo de um novo ciclo de investigação. Dessa forma, para ser considerado ciência, o objeto deve ser colocado à prova das regras supracitadas. O método científico parte da observação organizada de fatos, da realização de experiências, das deduções lógicas e da comprovação científica dos resultados obtidos. Para muitos autores, o método científico é a lógica aplicada à ciência. Existem diversos métodos, e cabe ao pesquisador, dependendo da natureza de seu objeto, bem como da natureza de sua pesquisa, selecionar o método de abordagem que entender mais adequado para a sua investigação científica. Conheceremos mais desses métodos nas próximas unidades. Unidade 2 - Leitura, documentação e o estudo no Ensino Superior O objetivo desta unidade é estruturar os estudos e todas suas modalidades no Ensino Superior. O estudo é importante, pois é com ele que adquirimos conhecimentos, cultura, e traçamos objetivos na vida. Através dos estudos convivemos com pessoas diferentes, e educação diferente das quais estamos habituados. Sair da zona de conforto nos auxilia a vermos por outras lentes o mundo e a nós mesmos. No Ensino Superior, essa experiência se amplia exponencialmente,e é preciso adquirir técnicas de estudo, de leitura e documentação das informações de maneira eficaz para o bom aproveitamento. Esta unidade é dedicada ao aprimoramento dessas técnicas. Página 13 de 94 2.1 - Participação nas aulas Assistir aulas, apesar de usarmos a mesma palavra “assistir” tanto para aulas, quanto para TV e cinema, o comportamento em cada uma dessas situações é bastante diferenciado. Enquanto assistir TV e cinema pode ser um comportamento passivo, que independe de uma interação efetiva das partes envolvidas, por isso, “assistir” aulas seria melhor expresso pelo termo “participar” das aulas. Pois esta é uma situação de interação entre professor, aluno e um conjunto de dados, informações e conhecimentos, ou seja, a aula é um processo coletivo. Dessa forma, ninguém assiste ou dá aula, todos participam da aula. Participar da aula implica em: I. Disposição para essa situação específica de interação; II. Preparo anterior e posterior dos assuntos tratados; III. Contextualização do conteúdo da disciplina para a realidade do aluno. Em síntese, o envolvimento integral de estudantes e professores em torno da situação de ensino-aprendizagem é necessário para o bom rendimento das disciplinas. Importante lembrar de que o curso à distância exige ainda mais dos alunos, de sua capacidade de organização e comprometimento frente aos desafios acadêmicos. 2.2 - Aproveitamento da leitura Tanto a leitura, quanto a escrita são práticas imprescindíveis para o desenvolvimento da cognição humana. Ambas proporcionam o desenvolvimento do intelecto e da imaginação, além de promoverem a aquisição de conhecimentos. Quando lemos ocorrem diversas ligações no cérebro que nos permitem desenvolver o raciocínio. Além disso, com essa atividade aguçamos nosso senso crítico por meio da capacidade de interpretação, que é uma das chaves essenciais da leitura. Afinal, não basta ler ou decodificar os códigos linguísticos, faz-se necessário compreender essa leitura. Com a leitura exercitamos nosso cérebro, ampliamos nosso vocabulário e desenvolvemos uma maior habilidade na escrita. Segundo o escritor brasileiro Página 14 de 94 Monteiro Lobato: "Um país se faz com homens e livros". Ou seja, a leitura é tão importante não apenas para o indivíduo, mas para a evolução de toda uma sociedade através de seu conhecimento e senso crítico e educação. Durante o curso de Graduação somos convidados o tempo todo a nos aventurar em uma série de leituras, e por isso, precisamos reservar um tempo para tal, pois o ato de ler constitui-se numa atitude fundamental para a formação superior. O sucesso nos estudos e, consequentemente, na vida profissional, depende da capacidade do aluno de ir em frente. Afinal, como foi falado na unidade anterior, o conhecimento científico se dá em ambientes muito específicos, como na Faculdade. Portanto, as leituras propostas ao longo do curso darão as ferramentas fundamentais para o desenvolvimento formal na área de Pedagogia. Para despertar o gosto pela leitura e oportunizá-lo a fazer melhor proveito dela, deve-se estar atento a alguns fatores, como fazer uma leitura de reconhecimento: olhar a capa e contracapa, o autor, as orelhas, o sumário (neste, observe os títulos e subtítulos), as referências indicadas pelo autor (para ter uma noção mais precisa sobre as bases em que o autor se apoiou), a introdução e o prefácio dos livros, para depois ler. Esses elementos já podem dar uma ideia geral sobre o tema, e você poderá identificar a temática, e ainda, se será útil para o objetivo que pretende alcançar no seu estudo. Quando fizer uma leitura acadêmica, anote os pontos principais em fichas de leitura e/ou grife o texto, marque as referências e suas páginas. Essas marcações são muito importantes pois se não tiver à mão a referência do material utilizado, não poderá utilizar daquele conteúdo num eventual texto que for produzir. Nos livros, os dados como ano de publicação e a editora estão contemplados, em uma ficha catalográfica, na segunda ou terceira folha. Já nas revistas, tais dados estão na capa ou na última página após a bibliografia. É importante anotar esses dados pois, na produção de um texto próprio, terá que referenciar todos os livros e artigos analisados e que serviram de auxílio para o desenvolvimento de suas ideias. É preciso levar em consideração três regras básicas para facilitar a aprendizagem: Página 15 de 94 • Atenção: capacidade de concentração em um só objeto, sabendo que, a atenção não pode se manter fixa por longos períodos, sem perder sua eficácia, por isso um período de atenção requer outro de descanso. Para prender a atenção, é ideal criar o máximo de interesse pelo assunto estudado; • Memória: memorizar é reter ou compreender o que é mais significativo de um conteúdo, ao invés de ter decorado, o que só permite repetição. A memorização é possível a partir da observação dos seguintes pontos: repetição, atenção, emoção, interesse e relacionamento dos fatos com outros conteúdos, já retidos na memória; • Associação de ideias: capacidade que possibilita ao indivíduo relacionar e evocar fatos e idéias. É fácil observar quantos assuntos vêm à tona, por fatos e idéias relacionadas com experiências anteriores dos interlocutores, na troca de palavras em uma conversa. Para melhor aprendizagem, podemos usar dessa técnica, para associar o conteúdo. Para ter o melhor aproveitamento da leitura, deve-se reservar um tempo diário para ler, selecionar o material e ter um local apropriado. Segundo Cervo e Bervian (2002), as etapas para se realizar uma boa leitura são: • Pré-leitura: é a leitura de reconhecimento que examina a folha de rosto, os índices, a bibliografia, as citações ao pé da página, o prefácio, a introdução e a conclusão. Tratando-se de livro, a dica é percorrer o capítulo introdutório e o final; no caso de leitura de um capítulo, ler o primeiro parágrafo. Quando for um artigo de revista ou jornal, geralmente, a ideia está contida no título do artigo e subtítulos, que se apresentarem. Lembre-se que os primeiros parágrafos, em geral, tratam dos dados mais importantes; • Leitura seletiva: selecionar é eliminar o dispensável para nos fixarmos no que realmente nos interessa; para tanto, é necessário definir critérios, ou seja, os objetivos do trabalho, pois somente os dados que forneçam algum conteúdo sobre o problema da pesquisa que possam trazer uma resposta é que devem ser selecionados; Página 16 de 94 • Leitura crítica ou reflexiva: supõe a capacidade de escolher as ideias principais e de diferenciá-las entre si das secundárias. Dessa forma, diante da problemática de uma pesquisa, o estudante precisa fazer uma reflexão por meio da análise, comparação, diferenciação, síntese e do julgamento, levantando similaridades ou não, para formar sua ideia sobre o assunto. Nessa fase, também, deve-se ter uma visão global do assunto, passando para a análise das partes e chegando à síntese; • Leitura interpretativa: nessa fase, o pesquisador procura saber o que realmente o autor afirmar e que informações transmite para a solução dos problemas formulados na pesquisa. Chegando a essa etapa, é o momento de procedermos à integração dos dados descobertos durante a leitura na redação do trabalho de pesquisa. Algumas dicas finais para uma boa leitura: lembre-se de sempre procurar em um dicionário as palavras desconhecidas que, eventualmente, aparecerem no texto. Essa prática irá auxiliar no aproveitamento máximo do texto trabalhado. E ainda, esteja atento ao ano em que foi escrito o texto, dependendo da época, algumas ideias podem ser ultrapassadas e até inadequadas. 2.3 - Registros e documentação Para obter resultados eficazes nos estudos, além de muita leitura, é necessário compreensão e assimilação dos conteúdos. Umrecurso que poderá lhe auxiliar nesse processo é a prática dos registros e da documentação. Isto é, na organização das informações adquiridas através das leituras. Como já foi dito, a ciência tem um método bem definido e, portanto, o registro e a documentação de textos acadêmicos também têm formatos pré-estabelecidos. Vamos estudar, a seguir, seus principais formatos de organização e registro de informação, a fim de facilitar os estudos. São duas as formas de documentação: • Documentação geral: é a conservação de materiais por temas. Os materiais geralmente conservados são textos, apostilas, artigos de jornais e outros. Lembrando que, nos dias atuais, essa documentação pode ser organizada em seu computador Página 17 de 94 através de uma pasta em locais como Documentos, Google Drive ou em alguma nuvem (ferramenta virtual para o armazenamento de informações). • Documentação bibliográfica: é a organização dos materiais lidos. As formas de organização e armazenamento podem variar, como, por exemplo, a organização por intermédio de citações, resumos, comentários, entre outros. Além deste tipo de documentação armazenar o texto em si, registra também as informações da obra, tornando-a uma referência para os estudos. O fichamento é um dos principais procedimentos utilizados na organização de dados da pesquisa de documentos. E pode ser utilizado na hora de fazer a documentação bibliográfica. Sua finalidade é arquivar as principais informações das leituras feitas e auxiliar na identificação da obra. Essas fichas de resumo consistem em um valioso recurso de estudo e pesquisa, por isso, é importante utilizar critérios formais e científicos. Inclusive, pode-se seguir as chamadas normas ABNT que serão trabalhadas na próxima unidade desta apostila. Resumindo, fazendo um bom fichamento, o aluno terá as anotações necessárias, no momento em que precisar escrever sobre determinado assunto. Antigamente, eram utilizadas fichas de papel para esse tipo de registro. Hoje em dia, usamos também os recursos de programas de computador como o Word ou o Excel. A escolha entre o papel ou o computador deverá ser inteiramente do aluno, através do que se sente mais confortável. Temos quatro tipos fundamentais de fichamento, são eles: ● Fichamento de citação: consiste na reunião das frases mais importantes citadas em um texto. Por isso devem ser transcritas entre aspas. É preciso ter especial atenção para que as citações façam sentido, pois existem dois tipos de citações: - citações diretas, com texto na íntegra; Página 18 de 94 - citações com omissões de palavras, isto é, supressões de texto que não interessam no contexto, indicadas com três pontos entre colchetes [...] ou parênteses (...).; ● Fichamento textual ou de resumo: neste tipo são inseridas as ideias principais, mas com as suas próprias palavras, embora também possam ser usadas citações. As ideias devem estar organizadas de acordo com a ordem em que aparecem no texto. Você deve expressar sua opinião e, inclusive, fazer os seus próprios esquemas. Esse tipo de fichamento também é chamado de fichamento de leitura ou de conteúdo. ● Fichamento bibliográfico: nesta modalidade as ideias selecionadas, e que expressam opinião pessoal, são inseridas por temas com a devida indicação da sua localização no texto. Ou seja, é uma espécie de comentário ou resenha que dê ideia do que se trata a obra. Pode ser feita por capítulos ou em geral sobre a obra inteira. ● Fichamento temático: é uma mistura do fichamento textual e de citação. Ou seja, nesta modalidade reúnem-se os elementos mais importantes da obra (como conceitos, fatos, ideias e informações), juntamente com trechos transcritos da própria obra. Lembrando que as citações sempre devem vir entre aspas e com a referência à página retirada. A estrutura mínima sugerida para um fichamento é composta de: 1- Cabeçalho: iniciar com a elaboração do cabeçalho, que pode ser dividido em apenas dois campos: o primeiro deve ser o título geral e o segundo, o título específico. 2- Referência: deve contemplar a autoria (com sobrenomes em caixa alta e, se forem mais de um autor, em ordem alfabética), o título da obra (em negrito ou sublinhado), local de publicação, editora e ano de publicação. Se necessário, acrescentar também Página 19 de 94 a paginação. A formatação correta e os tipos de referências serão abordados na unidade 5 desta apostila. 3- Corpo ou texto da ficha: onde o conteúdo é desenvolvido, por meio de resumo ou citação. O corpo ou texto da ficha pode mudar, dependendo do tipo de fichamento. Acompanhe, abaixo, alguns exemplos de fichamentos. Página 20 de 94 Página 21 de 94 2.4 - Mapa conceitual Mapa conceitual consiste em uma estrutura gráfica que auxilia na organização de ideias, conceitos e informações de modo esquematizado. É uma ferramenta de estudo e aprendizagem, onde o conteúdo é classificado e hierarquizado de modo a auxiliar na compreensão do indivíduo que o analisa. A idealização do mapa conceitual, como um método de organização de conteúdos, surgiu na década de 1970, nos Estados Unidos, através do professor David Ausubel5. A construção de um mapa conceitual começa a partir de um conceito principal que é escrito no interior de um retângulo. Os conceitos podem ser objetos, ideias, sentimentos ou fatos existentes no mundo, e que são compostos por duas partes: um rótulo e um conteúdo. A elaboração é livre, e duas pessoas diferentes certamente construíram mapas diferentes expondo os conceitos presentes em sua mente. A 5 David Ausubel (1918 – 2008), filho de família judia e pobre, imigrantes da Europa Central, cresceu insatisfeito com a educação que recebera. Formado em Psiquiatria, dedicou-se à Psicologia Educacional, foi Professor Emérito da Universidade de Columbia e teve muitas dificuldades em desenvolver sua teoria da Aprendizagem Significativa, devido ao grande prestígio do Behaviorismo na Educação naquela época. Página 22 de 94 quantidade de conceitos define o campo conceitual e quanto maior a quantidade de conceitos, mais rico é o mapa conceitual e pode-se dizer que tem um maior domínio conceitual. Um mapa conceitual é constituído por conceitos e relações. As relações são importantes para unir conceitos e subconceitos. Elas são representadas por meio de setas. Uma seta sai de um conceito principal, é interrompida por uma palavra de ligação que estabelece a relação e a seguir a seta prossegue até que a cabeça da seta toque seu subconceito. Há mapas conceituais que não consideram as relações, e colocam direto conceitos unidos por meio de setas a outros conceitos. E atenção: a falta das relações entre os conceitos pode dificultar o entendimento. As setas, contendo relações, são partes importantes de um mapa conceitual, uma vez que elas fornecem um significado ou sentido que unem conceitos ou seus subconceitos. Torna-se interessante mencionar que a medida que um mapa conceitual cresce, na quantidade de conceitos, pode-se tornar inviável desenhá-lo numa única folha e pode ser preciso o uso de ligantes e a continuação do desenvolvimento em outras folhas. Observa-se também que os mapas podem ser desenvolvidos com a Página 23 de 94 ajuda de recursos computacionais e um deles é por meio do software CMapTools, ou mesmo por aplicativos como o Canva. Para fazer a elaboração de um mapa conceitual é necessário seguir três etapas: 1- Dominar o tema: que o seu idealizador já tenha adquirido o conhecimento sobre o respectivo assunto a ser organizado. 2. Definir a estrutura: a segunda etapa na confecção de um mapa conceitual é a escolha da estruturação que este terá. Os três tipos de estrutura são: - Hierárquico: Este tipo de mapa conceitual é útil quando a pessoa deseja ter uma melhor visualizaçãosobre a ordem cronológica de um processo ou ideia, assim como classificar os diferentes graus de importância. Entre as linhas que ligam os diferentes termos, o idealizador deste tipo de mapa conceitual pode explicar, resumidamente, qual a relação que conecta ambos. - “Teia de aranha”: Este tipo de mapa conceitual é útil para visualizar a ramificação de ideias ou assuntos que são muito amplos. Deste modo é Página 24 de 94 possível identificar os sub-temas presentes em cada tópico e “dissecá- los” em diversas camadas. - Fluxograma: Neste tipo de mapa conceitual, é possível identificar as diversas opções lógicas para a resolução de um determinado processo. Assim, o indivíduo consegue ter uma visão geral sobre todas as alternativas e as suas prováveis consequências, traçando o melhor modo de chegar à solução / conclusão. 3. Montar o mapa conceitual Página 25 de 94 Para a montagem do mapa conceitual, é necessário partir do conceito central que irá organizar o mapa. Relacionar as ideias a partir do conceito que se quer explicar, seguindo a forma escolhida para a estrutura. Os mapas conceituais podem ser utilizados em várias situações, uma vez que ela ajuda a organizar os conceitos e suas relações na mente da pessoa que a desenvolve ou que a utiliza. Suas principais aplicações na vida acadêmica são: ● Apresentação de trabalho: uma pessoa que vai fazer uma apresentação de um trabalho em um congresso, ou de um trabalho de conclusão de curso, ou um seminário, pode construir um mapa conceitual sobre sua apresentação e, desta forma, pode estudar a apresentação nesta ferramenta. ● Estudo de matéria escolar: quando uma matéria nova é apresentada ao aluno, após a aula, ele pode construir individualmente ou coletivamente um mapa conceitual que pode ajudar a entender a disciplina. ● Avaliação: um professor pode utilizar a elaboração de mapas conceituais durante uma prova, como forma de saber os conceitos presentes na mente do aluno e desta forma, pode estabelecer, por exemplo, uma quantidade mínima de conceitos a serem explicitados pelo aluno na avaliação. ● Leitura de um livro: ao ler um livro, muitas vezes as pessoas sentem-se perdidas e em especial se terão que utilizar o livro em alguma avaliação escolar. Torna-se interessante que o leitor construa um mapa conceitual e esse não precisa ser feito isoladamente, mas preferencialmente, com a ajuda de alguém que já leu o livro e já passou pela avaliação e que se disponha a ajudar, de modo a se concentrar em conceitos e relações que podem ser pedidos numa avaliação. ● Leitura de artigos científicos: quando um leitor se defronta com um assunto novo, muitas vezes a leitura pode ser dificultada e a assimilação dos conceitos Página 26 de 94 presentes nem sempre é fácil. Se o leitor começa colocando como conceito principal o título do artigo, a seguir, as relações do tipo, quem escreveu e coloca com subconceito o nome do autor ou dos autores. A seguir vêm os outros conceitos como é o caso de quais são as palavras-chave, quais são as partes do artigo, o que se fala em cada parte, quais são os autores referenciados no artigo e sobre o que fala cada autor. ● Elaboração de projetos: quando um projeto precisa ser construído, um mapa conceitual pode ser feito em conjunto com sua equipe, tornando-se mais fácil a compreensão do que precisa ser feito, como deve ser feito, quais as partes, pessoas e atividades que são necessárias. Desta forma, o projeto fica mais claro e com mais condições de ser realizado e implementado com sucesso. Unidade 3 - Normatização dos trabalhos acadêmicos - parte I Normas são regras para serem respeitadas dentro de um âmbito ou limite que pode ser uma família, empresa, organização, universidade, ou algum segmento da sociedade. Desta forma há normas locais, regionais, nacionais e até internacionais. Uma norma representa a forma mais simples, econômica, racional e acordada por todos ou pelos segmentos interessados de modo a ser útil a todos. A palavra “normatização”, criada por meio do senso comum, está relacionada a estabelecer normas. A ciência, possuidora de um método rigoroso, possui agências reguladoras nacionais e internacionais que elaboram as normas, tanto dos métodos aceitos para a pesquisa, quanto para os métodos permitidos para a apresentação do resultado da pesquisa. Nesta unidade iremos compreender quais são as agências reguladoras e os tipos de métodos e de pesquisa reconhecidos por tais. 3.1 - ABNT ABNT é a sigla da Associação Brasileira de Normas Técnicas, um órgão fundado em 1940 cuja função é administrar a normalização técnica no Brasil, em diversos setores. A entidade é membro fundador da Organização Internacional de http://www.abnt.org.br/ https://www.iso.org/home.html Página 27 de 94 Normalização (ISO), entidade que agrega todos os órgãos de normas técnicas do mundo. Uma norma técnica é um documento publicado por um órgão credenciado e reconhecido pela ISO (no caso do Brasil, a ABNT) que determina regras, padrões, medidas, diretrizes ou procedimentos para um produto, serviço, documento ou material. No Brasil, a obediência a uma norma técnica é opcional (em alguns países é obrigatória), mas o não cumprimento implica em dificuldades de implementação de um serviço ou a recusa do documento por parte do destinatário, por estar “fora dos padrões técnicos”. As normas para os trabalhos acadêmicos, toda sua formatação e regras são estipuladas pela ABNT. E no Ensino Superior, utilizamos tais regras sempre que queremos pesquisar, redigir ou apresentar algum trabalho. Afinal a utilização de tais regras é o que transforma um pesquisa qualquer em um documento científico. Como curiosidade, é importante saber que o órgão rege milhares de normas técnicas que atingem diversos outros setores além do acadêmico. Por exemplo, o grupo de normas ABNT NBR ISO 9000 determina regras para a gestão da qualidade em diversos setores, do industrial ao alimentício. Um produto ou serviço que tenha essa certificação passou por diversos testes, tendo sua eficácia e qualidade comprovados por ISO e ABNT e obtendo determinadas vantagens no seu mercado. 3.2 - Métodos de pesquisa Método é o caminho para se realizar alguma coisa e quando se tem o caminho, torna-se mais fácil realizar viagens sabendo onde se está, aonde se quer chegar e como fazê-lo. O método de pesquisa refere-se à forma como aborda-se o objeto de estudo, e em como escolher procedimentos sistemáticos para obter a explicação dos fenômenos. Segundo Gil (1999, p. 30) “a escolha de um método vai depender da característica do objeto de pesquisa; dos recursos materiais disponíveis; do nível de abrangência do estudo; e do interesse do pesquisador”. Pesquisar algo de nosso interesse é sempre um trunfo para o desenvolvimento da pesquisa. Os principais métodos de pesquisa utilizados são: https://www.iso.org/home.html https://tecnoblog.net/236041/guia-normas-abnt-trabalho-academico-tcc/ Página 28 de 94 ● Método Dedutivo: é um método racionalista, pois considera que a razão é a única forma de alcançar o conhecimento verdadeiro, sendo o mais utilizado dos cinco métodos existentes. Utiliza o silogismo, ou seja, de duas premissas se conclui uma terceira. Como mostra o exemplo: Todo homem é mortal (premissa maior). Pedro é homem (premissa menor). Logo, Pedro é mortal (conclusão). ● Método Indutivo: é o método em que o pesquisador, a partir de uma amostra da população, chega a conclusões aplicáveis a toda população. Ou seja, o conhecimento é baseado na experiência, sendo que as generalizações são resultantes da observação de casos reais e concretos elaborados a partir de casos individuais. Por exemplo, esse é o método utilizado quando o IBOPE ouve cinco mil consumidores e projeta qual será o comportamentode cem milhões de pessoas. ● Método Hipotético-dedutivo: esse método consiste na construção baseada em hipóteses, ou seja, caso uma parte ou a totalidade das hipóteses sejam comprovadas como falsas, o restante também o será. Para isso é necessário que as hipóteses sejam submetidas ao máximo possível de testes, críticas, comparações e ao confronto com os fatos. Assim, verifica-se quais as hipóteses serão refutadas e, consequentemente, quais permaneceram como válidas. Segundo Gil (1994,p.28) "[...] enquanto o método dedutivo procura confirmar a hipótese, o hipotético-dedutivo procura evidências empíricas para derrubá-las”. Assim, a abordagem do método hipotético-dedutivo é a verdade, eliminando tudo que é falso. ● Método dialético: esse método é utilizado quando se faz uma investigação através da contraposição de elementos conflitantes, buscando compreender o papel desses elementos no fenômeno observado. Dessa forma, o pesquisador deve confrontar qualquer conceito tomado como verdadeiro, buscando novas Página 29 de 94 conclusões. Portanto, o método dialético não analisa um fenômeno estático, pelo contrário, busca contextualizar o objeto ou fenômeno de acordo com uma dinâmica histórica, cultural e social (contexto social). ● Método fenomenológico: esse método consiste na descrição direta do fenômeno ou da experiência tal como ela ocorre. Busca-se fazer a descrição mais fidedigna possível do fato, não pressupondo nada. Assim, o pesquisador, ao explorar o dado, não se deixa influenciar por crenças, costumes e nem faz juízo de valor sobre o mesmo, buscando realizar uma descrição pura da realidade´. ● Método histórico: através desse método ocorre o estudo dos fatos ocorridos no passado, os quais permitem realizar vários tipos de análises como, por exemplo, a identificação ou explicação de como algum fato influencia no presente, ou buscando identificar e explicar sua origem. ● Método comparativo: esse método tem por objetivo estudar os indivíduos, classes e grupos sociais, em relação aos fatos e fenômenos sociais que ocorrem, ou ocorreram no ambiente onde estão inseridos. O objetivo é estabelecer leis e correlações entre eles, estabelecendo suas semelhanças e diferenças. Para tanto, o pesquisador deve definir o número de grupos com os quais irá trabalhar as variáveis que serão adotadas. ● Método estatístico: esse método apoia-se na teoria estatística da probabilidade, sendo bastante utilizado, pois, permite ao pesquisador transformar uma quantidade grande de fatos e dados em um número menor, estabelecendo relações e correlações entre eles. Assim, esse método é utilizado quando o fato ou fenômeno analisado apresenta um grande número de ocorrências e complexidade, necessitando quantificá-lo para que possa analisá-lo. 3.3 - Modalidades de pesquisa Página 30 de 94 As modalidades da pesquisa referem-se à forma como deve-se proceder na execução da pesquisa, ou seja, como realizá-la. São vários os tipos de pesquisa, e abaixo, serão listados os principais: ● Quanto à natureza pura (Básica): tem por objetivo a produção de novos conhecimentos, os quais envolvem verdades e interesses universal sem, no entanto, ter inicialmente uma aplicação prática para os resultados previstos. ● Quanto à natureza aplicada: tem por objetivo a busca de novos conhecimentos, os quais envolvem interesses locais. Ao contrário da pesquisa pura, a aplicada busca a produção de conhecimento que tenha aplicação prática para resolver problemas ou situações reais e específicas. ● Quanto à forma de abordagem: existem dois tipos de pesquisa em relação à abordagem: o quantitativo e o qualitativo, os quais estão relacionados ao modo como o pesquisador irá determinar o método para levantar dados e obter informações, ou seja, para chegar às causas do problema. - Pesquisa quantitativa: nesta modalidade, são utilizadas técnicas estatísticas para transformar dados em números e, posteriormente, em informações, analisando-as para tirar as devidas conclusões. Para desenvolver uma pesquisa baseada nesse método é necessário ter variáveis bem definidas e utilizar cálculos estatísticos. Além disso, nela não há o envolvimento direto do pesquisador, pois ele apenas observa a situação e anota dados, não havendo interação com o objeto da pesquisa. Esse método utiliza a estatística como base, portanto, requer o uso de recursos como porcentagem, média, moda, mediana, variância, desvio, padrão, coeficiente de correlação, entre outros. Um dos instrumentos de levantamento de dados mais utilizados nesse tipo de pesquisa é o questionário. Página 31 de 94 - Pesquisa qualitativa: esta modalidade é baseada em uma pesquisa descritiva, onde entrevistados dão sua opinião sobre um fato ou uma realidade, ou seja, são exploradas as particularidades e os traços subjetivos (significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes) do objeto pesquisado. Nessa pesquisa ocorrem classificações e análises dissertativas sobre certas situações ou fatos. - Pesquisa quali-quanti: esta modalidade é uma mescla entre a qualitativa e a quantitativa. É recomendado iniciar pela fase qualitativa, a fim de coletar informações em fontes confiáveis e compreender o fenômeno estudado. Na sequência vem a parte quantitativa do estudo, que geralmente requer a aplicação de questionário e análise dos dados coletados. ● Pesquisa em relação a um objetivo geral: antes de realizar uma pesquisa como essa, deve-se definir o(s) objetivo(s). Após essa primeira etapa, é estabelecido os procedimentos metodológicos seguintes, ou seja, partindo do problema a ser pesquisado, essa classificação permite determinar quais os procedimentos que serão empregados na investigação científica. São eles (Gil, 2006): - Pesquisa exploratória: utilizada quando um problema é pouco conhecido e suas hipóteses não estão ainda claras, o que necessita de um maior envolvimento do pesquisador como objeto da pesquisa (tema), tendo por finalidade buscar informações sobre ele e, assim, poder delineá-lo melhor e torná-lo mais claro. Normalmente, é utilizado um estudo de casos embasado por pesquisa bibliográfica, entrevistas e análise de exemplos. - Pesquisa descritiva: tem por finalidade descrever as características de um objeto ou fenômeno ou de uma experiência. Para isso, o pesquisador descreve, classifica e a observa. A coleta de dados sobre o objeto é feita através de técnicas padronizadas, como o questionário Página 32 de 94 ou a observação sistemática. Esta modalidade de pesquisa tem por finalidade observar, analisar e registrar um dado fenômeno sem que o pesquisador se envolva, de alguma forma, na mesma. Portanto, é proibido a ele emitir opinião, interferir na pesquisa, omitir ou alterar dados, entre outras atitudes que possam virar alterar a situação. - Pesquisa explicativa ou analítica: utilizada para descobrir o modo as causas do fenômeno, ou seja, o que leva o fenômeno a ocorrer e quais são as suas causas. O método utilizado nesta pesquisa vai depender do campo onde está se realizando a pesquisa. Devido às suas características,a pesquisa explicativa é bastante presente durante a realização de pesquisas experimentais, pois durante o experimento com variáveis, busca-se saber o porquê do resultado. ● Pesquisa de procedimentos técnicos para coleta de dados: a partir da escolha do objeto de pesquisa, segue-se para a fase seguinte que é a de planejar como vamos desenvolver a pesquisa, ou seja, a fase escolher os procedimentos técnicos e/ou metodológicos adotados para dar prosseguimento à pesquisa. Segundo Gil (2006), existem dois grupos de delineamentos, são eles: - Pesquisa bibliográfica: tem por objetivo conhecer as diferentes contribuições científicas disponíveis sobre o tema pesquisado. Envolve leitura,análise e interpretação de livros, jornais e revistas acadêmicas, periódicos, manuscritos e sites científicos. Isso significa que qualquer informação publicada (impressa ou eletrônica) é passível de se tornar uma fonte de consulta. O primeiro passo a ser dado nesse tipo de pesquisa é selecionar, do material recolhido, o que tem importância real para o tema a ser desenvolvido, o que chamamos de triagem. Após, deve-se fazer a leitura sistemática do material selecionado, realizando anotações e fichamentos, os quais irão formar o banco de dados utilizado na fundamentação teórica do estudo. A pesquisa bibliográfica é utilizada para todos os outros tipos de pesquisa, dando suporte a elas Página 33 de 94 e auxiliando na determinação do problema, objetivos, na construção de hipóteses, na fundamentação da justificativa da escolha do tema e na elaboração do relatório final. Dessa forma, podemos perceber que não existe pesquisa sem que bibliográfica esteja envolvida, portanto, ela deve se tornar rotina entre os pesquisadores e estudantes. - Pesquisa documental: esta modalidade é bastante parecida com a bibliográfica, sendo que a diferença entre elas reside na natureza da fonte. A fonte da pesquisa documental são documentos conservados em arquivos de órgãos públicos e privados, sindicatos, igrejas, instituições e em acervos particulares, tais como fotografias, filmes, diários, memorandos, atas de reunião, boletins, cartas pessoais, relatórios, entre outros documentos. Na pesquisa documental, a fonte pode já ter sido ou não utilizada em pesquisas anteriores. Caso já tenha sido analisada, normalmente, a pesquisa tem objetivo diferenciado entre outras interpretações. - Pesquisa empírica ou experimental: o objetivo desta modalidade é testar hipóteses que dizem respeito a relações de causa e efeito, podendo ser realizada em qualquer ambiente. Esse tipo de pesquisa envolve hipóteses que podem ser confirmadas ou não, em um processo de tentativa e erro. Para que se possa realizar esse tipo de pesquisa é necessário selecionar variáveis dependentes, estabelecer grupos de controle e a manipulação de variáveis independentes, tudo sobre o rigor de técnicas estatísticas e por amostragem, buscando verificar se o resultado obtido em um dado número manipulação de variáveis pode ser generalizado. - Pesquisa de levantamento: utiliza-se um questionário para, de forma direta, levantar informações das pessoas acerca do problema estudado. Quando o levantamento envolve toda a população (universo) é chamado de censitário, podendo ser feito com apenas uma parte da Página 34 de 94 população (amostragem). Após o levantamento dos dados, estes são transformados em números e analisados através de métodos estatísticos, os quais gerarão informações que permitirão chegar a conclusões que serão generalizadas para toda a população. - Pesquisa de campo: esta modalidade está relacionada à observação de um fato ou fenômeno, coletando dados sobre o mesmo da forma mais fiel possível e sem alterar nada do observado. Após a observação inicial, passa-se à análise e à interpretação desses dados com base em uma fundamentação teórica (pesquisa bibliográfica) consistente, com o intuito de compreender e explicar o problema pesquisado. Nesse tipo de pesquisa, dependendo do tema, é necessário determinar técnicas de coleta de dados mais apropriadas à natureza do tema, definindo também técnicas para registro e análise, podendo ser utilizada a abordagem predominantemente qualitativa ou quantitativa. - Pesquisa-ação: esta modalidade implica em uma pesquisa feita por mais de um participante. Isso porque os pesquisadores devem agir em conjunto para resolver um problema comum ou uma situação real (coletiva), portanto devem trabalhar de forma cooperativa ou participativa. A pesquisa-ação é uma metodologia apropriada para o trabalho em equipe, em que o objeto de estudo é analisado por todos os participantes da equipe, favorecendo as discussões na geração de conhecimentos sobre a realidade vivenciada. - Pesquisa ex-post-facto (a partir do fato passado): nesta modalidade de pesquisa o fato já ocorreu, ou seja, está no passado, o que impossibilita pesquisador de ter qualquer tipo de controle ou de manipulação dos mesmos. Portanto, seu objetivo é levantar e testar hipóteses, mas que devem ser comprovadas pelos fatos do passado. Página 35 de 94 - Pesquisa laboratorial: este tipo de pesquisa ocorre em situações controladas, utilizando-se de instrumentos específicos e precisos. São realizadas em um ambiente adequado, previamente estabelecido e conforme o estudo a ser feito. Esse tipo de pesquisa é comumente confundido com a pesquisa experimental. Mesmo que a maioria das pesquisas laboratoriais seja experimental, o que a diferencia deste fato dela ocorrer em situações controladas, com a escolha dos instrumentos a serem utilizados (específicos e precisos). Assim, eles possuem um ambiente totalmente apropriado a essa pesquisa máximo de controle possível para evitar que haja qualquer tipo de contaminação do ambiente das pessoas. Unidade 4 - Normatização dos trabalhos acadêmicos - parte II O objetivo central desta unidade é continuar o aprofundamento acerca da normatização do trabalho acadêmico. Agora, serão avaliadas as formas de pesquisa científicas, que podem e devem ser usadas para embasar as análises. 4.1 - Técnicas de pesquisa Após verificar os principais tipos e modalidades da pesquisa científica, é importante analisar as técnicas por trás de cada uma delas. Ou seja, os procedimentos gerais que auxiliam no desenvolvimento da pesquisa. Como afirma Gil (2006), para a realização da pesquisa, é necessário o emprego de técnicas de pesquisa. As técnicas são procedimentos que operacionalizam os métodos. Para todo método de pesquisa, correspondem uma ou mais técnicas. Estas estão relacionadas, principalmente, com a coleta de dados, isto é, a parte prática da pesquisa. A coleta de dados envolve a determinação da população a ser pesquisada, a elaboração dos instrumentos de coleta e a programação da coleta. Os instrumentos de coleta de dados mais utilizados são: Página 36 de 94 ● Observação: geralmente utilizada como uma parte importante no desenvolvimento da pesquisa, é organizada para registrar as informações obtidas durante a sua execução. A vantagem de usar a técnica é que os fatos são percebidos diretamente, sem qualquer intermediação. A desvantagem é que a presença do pesquisador pode alterar as atividades normais executadas pelas pessoas que estão sendo observadas. A observação pode ser simples, participante e pode ser aplicada em um período de tempo. ● Entrevista: A entrevista é uma técnica que utiliza perguntas ao entrevistado como forma de aquisição de informações específicas. Na entrevista se faz a coleta de dados, diagnóstico e orientação. As vantagens da entrevista são: possibilita a obtenção de dados referentes aos mais diversos aspectos envolvidos na pesquisa; obtenção de dados acerca do comportamento; os dados coletados podem ser classificados; o entrevistado não necessita saber ler e escrever; oferece a possibilidade de esclarecimentos; permite observar algumas expressões durante a sua execução, através de gestos e voz do entrevistado. Entre as limitações, podemos citar: a falta de motivação do entrevistado; a falta de compreensão do significado das perguntas; fornecimento de respostas falsas; incapacidade do entrevistado para responder a entrevista; influências das opiniões pessoais do entrevistador. Segundo Gil (2006, p. 118), os tipos de entrevistas são: 1) Entrevista informal: expressão livre do entrevistado sobre o assunto pesquisado. 2) Entrevista focalizada: enfoca tema específico e procura manter o entrevistado no assunto. 3) Entrevista porpautas: tem certo grau de estruturação, guiando-se por uma relação de pontos. Página 37 de 94 4) Entrevista estruturada: relação fixa de perguntas, possibilitando tratamento quantitativo dos dados. ● Questionário: Um questionário deve ser composto por questões bem apresentadas, as quais serão enviadas aos entrevistados na forma impressa ou virtual. Importante é construir esse questionário com o auxílio de um orientador, ou basear-se em algum modelo já validado. Como vantagens, na utilização do questionário, podemos citar a possibilidade de alcançarmos um grande número de participantes e desta forma podemos garantir o anonimato das respostas e sem a influência de opiniões de quem está fazendo a entrevista. Algumas limitações no uso do questionário são a exclusão daqueles que não sabem ler e escrever; os entrevistados não possuem auxílio quando não entendem alguma pergunta; não garantem um retorno; geralmente o número de perguntas não é expressivo. Na elaboração do questionário as perguntas podem ser abertas ou fechadas. ● Teste: Testar é fazer uma prova, envolve sentido de medida (precisão). É necessário realizar uma comparação com base em critérios definidos. Tem como requisitos: 1) Medir a validação de um conteúdo; 2) Qualidade de medir com exatidão; 3) Padronizar a aplicação, a análise e a interpretação dos resultados; 4) Estabelecer normas para avaliar e interpretar os resultados do teste. ● Documento: é a busca por documentos como: arquivos, registros estatísticos, diários, biografias, jornais, revistas, entre outros, que possam ajudar na pesquisa. Documentos podem ser registros estatísticos: IBGE, Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, Organizações Voluntárias, Institutos de Pesquisa e Órgãos Públicos. Podemos utilizar também os documentos pessoais, como: cartas, diários, memórias, Página 38 de 94 autobiografias. Também são exemplos de documentos, os registros em comunicação, como: jornais, revistas, programas de rádio e televisão, panfletos, boletins e outros. 4.2 - Estudo de caso (ou método monográfico) Esse método estuda casos específicos ou que envolvem pequenos grupos, buscando entender como determinados fatos ocorrem. Tem por princípio que o estudo de um caso em profundidade pode ser representativo de vários outros de todos os casos semelhantes. O objeto de estudo podem ser os indivíduos, as comunidades, as instituições, entre outros. O estudo de caso inicia-se com uma metodologia qualitativa, que se expande para investigações quantitativas e, como já se mencionou anteriormente, os estudos quantitativos e os qualitativos podem ser complementares de modo a fornecer um melhor entendimento sobre um fenômeno em estudo. Um caso, para ser chamado de "caso", tem que ter alguma particularidade que o diferencie, tem que ser especial. Em geral, faz-se o estudo de um caso, e não de vários casos. O caso tem que ser descrito e analisado do modo mais detalhado e completo possível. Nos estudos de caso clássicos, o pesquisador não está envolvido diretamente no caso, porém este fato depende do fenômeno que está sendo analisado uma vez que o pesquisador possa analisar o indivíduo ou grupo envolvido. Para realizar um estudo de caso, torna-se importante inicialmente verificar se existe o caso, isto é, se há algum fenômeno relevante, que apresente interesse para algum grupo ou para a sociedade. É preciso então identificar, que características e/ou importância tornam o estudo um caso. Essa identificação inclui a definição de um problema a ser estudado. Este problema ou questão fundamental dará origem ao objetivo do trabalho. Um objetivo é um alvo a ser perseguido ao longo da realização do trabalho. Qual é o objetivo do estudo de caso em foco? Com o objetivo definido, pode-se buscar subsídios bibliográficos: encontrar estudos semelhantes ou mesmo diferentes, mas centrados na temática em estudo e que possam complementar o saber necessário para a realização do estudo de caso. Em seguida, é preciso realizar um planejamento prévio do que será feito, como, Página 39 de 94 quando e o responsável para cada ação. Isso pode ser feito por meio de um cronograma de atividades. Torna-se interessante planejar que técnica será utilizada, qual questionário, quais perguntas serão feitas etc. A partir dessa definição pode-se seguir para as etapas nas quais se realizará o levantamento de dados. Nos levantamentos de dados, o início ocorre por meio de observação dos fenômenos. O passo seguinte ocorre através da aplicação dos questionários e/ou por meio da realização de entrevistas que podem ser gravadas e com posterior transcrição (escrevendo o que foi levantando oralmente), por meio de questões abertas (de resposta livre). Estas podem ser analisadas por meio de outras técnicas, como é o caso da análise do conteúdo e/ou análise do discurso. Enquanto a análise do conteúdo pode ser realizada de modo qualitativo e quantitativo; a análise do discurso pega os sentidos das enunciações de modo qualitativo, e, por meio de questões fechadas múltipla escolha e uma alternativa como é o caso das questões previamente formuladas. Verifica-se que a metodologia do estudo de caso para ser implementada pode fazer uso de técnicas de levantamento de dados, dos questionários e entrevistas e também técnicas de análise que podem envolver técnicas estatísticas para o caso de dados numéricos e, técnicas de análise do discurso e/ou análise do conteúdo para os estudos qualitativos. Além disso, é importante fazer a descrição e a análise do caso de modo mais detalhado possível. A análise pode ser realizada em relação a outros estudos de caso e nos autores citados na bibliografia. Quanto mais detalhado for o estudo do caso, mais aprofundado seus resultados. Afinal, o conjunto de técnicas forma um estudo complexo, o que mais pode ser útil à sociedade e à ciência em si. Unidade 5 - Modalidades dos trabalhos científico-acadêmicos A principal razão que leva o pesquisador a escrever é a necessidade de expressar os resultados de pesquisas, reflexões e estudos que realizou, em determinado período, por solicitação dos professores ou espontaneamente, por isso Página 40 de 94 deve pensar em comunicar de forma clara, precisa e objetiva. Segundo Lakatos e Marconi (2003, P. 234), os trabalhos científicos: [...] devem ser elaborados de acordo com as normas preestabelecidas e com os fins a que se destinam. Serem inéditos ou originais e contribuírem não só para ampliação de conhecimentos ou compreensão de certos problemas, mas também servirem de modelo ou oferecer subsídio para outros trabalhos. A presente unidade tem como objetivo diferenciar as características quanto à estrutura, ao conteúdo ou à forma de apresentação inerentes de cada tipo de trabalho científico-acadêmico. Dessa forma, serão apresentadas as características dos principais tipos de trabalhos científicos acadêmicos e seus pré-requisitos. 5.1 - Tipos de documentos científicos Considera-se como documentos científicos, uma gama enorme de documentos que incluem: monografias, trabalhos de conclusão de curso, relatórios, teses, dissertações, artigos científicos, resumos, resenhas, livros, capítulos de livros, projetos e muitos outros. A escrita dos documentos científicos deve ser, o mais possível: clara, precisa, evitando-se o uso de muitos adjetivos e procurando focar no tema e/ou objetivo do estudo. Abaixo, são descritos os principais tipos de trabalhos científicos. ● Monografia Monografias são documentos escritos por meio mecânico ou eletrônico, e que se concentram em um único tema, por isso são monografias. Elas podem ser escritas por vários autores (ou autor e co-autores) e são utilizadas principalmente como uma das atividades finais de um curso do Ensino Superior. Na elaboraçãode uma monografia é importante a existência de um orientador para que o estudante possa discutir seu tema e recortes do tema, de modo a torná-lo mais específico e administrável. Uma monografia é uma sucessão de argumentos que vão se encadeando de forma lógica (e não um conjunto de frases desconexas). Os Página 41 de 94 argumentos devem ser abordados gradativamente, de modo a fazer sentido e se chegar ao último que é a conclusão do trabalho. Por meio das monografias que são realizadas de modo autônomo pelo estudante, pode-se atualizar, organizar e sintetizar o saber sobre o assunto em foco, de modo que o estudante adquira o domínio sobre o tema, os autores principais sobre o assunto e suas falas, bem como o trabalho prático, seus resultados e discussões em relação aos autores considerados no trabalho. ● Tese A tese é um tipo de monografia escrita por um autor, com temas e conteúdos originais, e com um nível de aprofundamento elevado e abrindo novos caminhos para o saber. Normalmente, as Teses são cobradas para a finalização de cursos de doutoramento. Os doutorados, normalmente, têm duração de quatro anos. Eles constam de um momento inicial no qual os estudantes cursam disciplinas que vão fornecer subsídios para a elaboração de suas teses e outro momento posterior no qual vão trabalhar, prioritariamente, com seus orientadores realizando pesquisas e escrevendo suas monografias. A escrita das teses no Brasil, ocorre seguindo as normas ABNT mencionadas anteriormente. As teses devem ser apresentadas e defendidas diante de uma banca, composta por pelo menos 5 membros que são professores doutores, sendo que um deles é o presidente da banca e é o orientador do candidato a obter o título de doutor. Alguns dos membros devem ser externos, de outras instituições, mas todos devem ser especializados na área da defesa. Na defesa da tese, após a apresentação realizada pelo candidato, há o momento da arguição no qual os membros da banca fazem questionamentos para verificar se o candidato tem o saber e a explicação em relação às dúvidas apresentadas. Após a arguição por todos os membros da banca, há a nota final dos membros e a informação se o candidato está aprovado ou não. ● Dissertação A dissertação, normalmente, é menos aprofundada em relação à tese, pode tratar de temas mais comuns, mas com conteúdo original, e é utilizada normalmente Página 42 de 94 em cursos de mestrado. Nas dissertações os estudantes mestrandos podem abordar temas já desenvolvidos anteriormente e prosseguir na pesquisa sobre o saber, buscando novos elementos e ópticas que enriqueçam o conhecimento sobre o tema. Os mestrados, normalmente, possuem duração menor que os doutorados em termos de duração, variando de um a três anos. No momento inicial do mestrado, o aluno cursa as disciplinas necessárias para que possa desenvolver o tema e seu recorte na linha de pesquisa que escolher. No segundo momento, o aluno desenvolverá o trabalho de sua pesquisa em conjunto com seu orientador. Como resultado, o aluno tem que escrever a monografia que é a dissertação. Esta deverá ser apresentada e defendida diante de uma banca examinadora, composta por no mínimo três professores doutores, da área de estudos em foco. Ao ser aprovado, o aluno recebe o título de mestre na área específica do saber que estudou e poderá prosseguir seus estudos em cursos de doutorado. ● Artigos científicos Os artigos científicos são documentos que apresentam textos atuais sobre experiências realizadas, relatos de casos, revisões de literatura etc. Eles são menores que as monografias e, em geral, têm de 10 a 20 páginas. Artigos são semelhantes às monografias, uma vez que são também sucessões de argumentos, mas de modo mais simplificado e contendo somente as informações necessárias ao bom entendimento, mas de modo menos volumoso e adaptado às normas que são exigidas em cada revista ou periódico científico para que possam ser publicadas. A apresentação de artigos pode ocorrer em eventos como é o caso de Congressos, Seminários, Encontros científicos ou semelhantes. Nestes eventos, muitas vezes há a publicação na íntegra do artigo em volumes dos anais do evento. No entanto, a forma mais comum de publicação de artigos é por meio de periódicos ou revistas científicas. As revistas, normalmente, têm períodos de submissão que são as épocas nas quais a revista aceita artigos. Geralmente, para uma revista aceitar um artigo ele tem que atender uma série de quesitos, entre os quais: o conteúdo do texto deve ser coerente com a área e o tema da revista. Página 43 de 94 Os artigos científicos permitem que os leitores se atualizem e construam o conhecimento de modo autônomo e informal. As revistas científicas colaboram com a educação informal, e essa, contribui para que a educação formal alcance sucessos maiores uma vez que podem fornecer informações e subsídios para as pessoas que estão estudando no ensino formal, em alguma determinada área do saber. Para a pesquisa científica, este tema é de grande importância, pois os artigos apresentam todo o desenvolvimento de uma pesquisa e os resultados alcançados. ● Resumo O resumo é a condensação do texto, tendo o cuidado de manter a intenção do autor. Não cabem, no resumo, comentários ou avaliações do material que está sendo condensado. Resumir não é reproduzir frases do texto original, fazendo uma colagem de pedaços do texto; devemos exprimir, com as próprias palavras, as idéias do texto. Para isso, é necessário compreender, antecipadamente, o conteúdo de todo o material, assim, não é possível resumir à medida que vamos lendo pela primeira vez. Deve-se proceder a primeira leitura de reconhecimento do texto. Na segunda leitura, por meio de anotações, apontando ideias importantes e buscando no dicionário o sentido de palavras mais complexas. Existem três tipos de resumo: 1- Resumo informativo: neste tipo apresentam-se as ideias principais contidas no texto original, redigindo de forma clara e objetiva, e respeitando o ponto de vista do autor. Normalmente, a cada parágrafo sintetiza-se uma ideia principal do texto. 2- Resumo crítico: como a própria denominação estabelece, esse tipo de resumo, além de cumprir os passos do informativo, acrescenta a manifestação da opinião, ou implica perante o assunto estudado, por parte do autor do resumo. Desse modo, sempre, após o resumo, acrescentam-se opiniões e apreciações pessoais. 3- Resumo acadêmico científico: segundo a ABNT, a extensão desta modalidade de texto deve conter cerca de 250 palavras. O resumo é constituído de Página 44 de 94 uma sequência de frases concisas e objetivas, contendo palavras-chave do texto original, e deve ser feito em apenas um parágrafo. De maneira geral, a produção de um resumo deve destacar: I. A primeira frase deve ser significativa, expondo a ideia principal, isto é, identificando o objetivo do autor quando escreveu o texto; II. A articulação das ideias deve seguir a lógica dada às ideias pelo autor, incluir todas as divisões importantes, dando igual proporção a cada uma delas e sempre observando o tema principal do documento; III. As conclusões do autor do texto devem ser objeto do resumo; IV. Dar preferência ao uso da terceira pessoa do singular e o verbo na voz ativa (como: descreve, aborda, estuda etc.); V. Evitar a repetição de frases inteiras do original; VI. Respeitar a ordem em que as idéias ou fatos são apresentados; VII. Não deve apresentar juízo valorativo ou crítico; VIII. Deve ser compreensível por si mesmo, dispensando a consulta ao original; IX. Evitar o uso de parágrafos ou frases longas, citações e descrições ou explicações detalhadas, expressões como: o “autor trata”, no “texto do autor” o “artigo trata” e similares, figuras, tabelas, gráficos, fórmulas, equações
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