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QUADRAGÉSIMO EXAME DA ORDEM UNIFICADO. DIREITO CIVIL QUESTÃO 38 Joaquim estava jantando com sua família em um restaurante, quando percebeu que sua filha tinha iniciado um quadro alérgico, apresentando dificuldades respiratórias, que a colocavam em grave risco de morte. Em frente ao restaurante, havia uma clínica médica, onde buscaram atendimento. O médico de plantão, aproveitando-se da situação de urgência, exigiu pagamento antecipado de valor exorbitante – muito acima do cobrado regularmente por ele ou pelo mercado para esse tipo de atendimento. Joaquim, em desespero, anuiu com o pagamento desproporcional. Entretanto, depois do susto, consultou você, como advogado(a). Após inteirar-se do caso, você afirmou ao seu cliente que o negócio jurídico celebrado entre ele e o médico padecia de um defeito. Assinale a opção que o indica. A) Dolo, com prazo decadencial de seis meses. B) Lesão, com prazo decadencial de dois anos. C) Estado de perigo, com prazo decadencial de quatro anos. D) Estado de necessidade, sem prazo decadencial. LETRA “C” CORRETA. FUNDAMENTO: ART. 156 DA LEI Nº 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002 (INSTITUI O CÓDIGO CIVIL). Vejamos: “Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias”. De acordo com o artigo 156 do Código Civil, o estado de perigo é reconhecido como uma das modalidades de defeito no negócio jurídico. Esta condição se configura quando uma pessoa assume uma obrigação excessivamente onerosa, acima do padrão, com o objetivo de proteger a si mesma ou a um membro de sua família de um dano ou prejuízo grave, que é do conhecimento da outra parte envolvida na transação. Se a pessoa vítima dessa situação de perigo não pertencer à família do declarante, o juiz decidirá sobre o caso considerando todas as circunstâncias envolvidas. Essa é uma medida necessária para garantir a justiça na resolução do problema. Segue julgado que trata do tema: APELAÇÃO CÍVEL - COBRANÇA -SERVIÇOS MÉDICO-HOSPITALARES - CONTRATAÇÃO - ESTADO DE PERIGO - CONFIGURAÇÃO - NULIDADE DA COBRANÇA - SENTENÇA CONFIRMADA. "Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa" ( CC, art. 156). O estado de perigo é tratado pelo CC como defeito do negócio jurídico, que leva sua anulação, tendo como pressupostos: (i) a necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família; (ii) o dolo de aproveitamento da outra parte grave dano conhecido pela outra parte; (iii) assunção de obrigação excessivamente onerosa; (IV) se a pessoa a ser salva não pertencer à família do declarante, o juiz decidirá segundo circunstâncias do caso concreto (STJ, REsp 918.392/RN .). Configurado o estado de perigo, é nulo o contrato e, por consequência, a cobrança. Recurso não provido. (TJ- MG - AC: 10528150000404001 MG, Relator: Manoel dos Reis Morais, Data de Julgamento: 11/12/2018, Data de Publicação: 25/01/2019) Ou seja, com base no julgado acima, podemos afirmar que: 1. O estado de perigo é considerado um defeito do negócio jurídico pelo Código Civil. 2. Esse defeito pode levar à anulação do negócio jurídico. 3. Os pressupostos para a configuração do estado de perigo são: i. A necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família. ii. O dolo de aproveitamento da outra parte, que deve conhecer o grave dano enfrentado pela parte em estado de perigo. iii. A assunção de obrigação excessivamente onerosa. iv. Se a pessoa a ser salva não pertencer à família do declarante, o juiz decidirá conforme as circunstâncias do caso concreto.
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