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NUTRIÇÃO MATERNO INFANTIL NUTRIÇÃO MATERNO INFANTILORGANIZADORES ALINE ROCHA RODRIGUES; LAÍS ANGÉLICA DE PAULA SIMINO ORGANIZADORES ALINE ROCHA RODRIGUES; LAÍS ANGÉLICA DE PAULA SIMINO Nutrição m aterno infantil GRUPO SER EDUCACIONAL O livro Nutrição materno infantil é direcionado para estudantes de cursos de nutrição. Após a leitura da obra, o leitor vai aprender sobre a �siologia e as reper- cussões nutricionais diabetes e hipertensão gestacionais; conhecer os motivos pelos quais o aleitamento materno é superior a outros métodos de nutrição infantil e como estimular o aleitamento; saber as de�nições e terminologias mais utilizadas na área da saúde materno-infantil; aprofun- dar os conhecimentos sobre os aspectos relacionados aos ajustes �siológi- cos e riscos para a saúde da mulher durante o período gestacional; apreender informações importantes sobre a dieta de gestantes na promoção de uma gestação saudável, com in�uência na saúde da mãe e do bebê; descobrir os métodos para realizar a avaliação de consumo alimen- tar, tanto de maneira qualitativa quanto de maneira quantitativa. E não é só isso. Tem muito mais. O livro tem muito conteúdo relevante. Aproveite. Agora é com você! Bons estudos! gente criando futuro I SBN 9786555580259 9 786555 580259 > C M Y CM MY CY CMY K NUTRIÇÃO MATERNO INFANTIL Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, do Grupo Ser Educacional. Diretor de EAD: Enzo Moreira Gerente de design instrucional: Paulo Kazuo Kato Coordenadora de projetos EAD: Manuela Martins Alves Gomes Coordenadora educacional: Pamela Marques Equipe de apoio educacional: Caroline Guglielmi, Danise Grimm, Jaqueline Morais, Laís Pessoa Designers gráficos: Kamilla Moreira, Mário Gomes, Sérgio Ramos,Tiago da Rocha Ilustradores: Anderson Eloy, Luiz Meneghel, Vinícius Manzi Rodrigues, Aline Rocha. Nutrição materno infantil / Aline Rocha Rodrigues; Laís Angélica de Paula Simino: Cengage – 2020. Bibliografia. ISBN 9786555580259 1. Nutrição Grupo Ser Educacional Rua Treze de Maio, 254 - Santo Amaro CEP: 50100-160, Recife - PE PABX: (81) 3413-4611 E-mail: sereducacional@sereducacional.com “É através da educação que a igualdade de oportunidades surge, e, com isso, há um maior desenvolvimento econômico e social para a nação. Há alguns anos, o Brasil vive um período de mudanças, e, assim, a educação também passa por tais transformações. A demanda por mão de obra qualificada, o aumento da competitividade e a produtividade fizeram com que o Ensino Superior ganhasse força e fosse tratado como prioridade para o Brasil. O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego – Pronatec, tem como objetivo atender a essa demanda e ajudar o País a qualificar seus cidadãos em suas formações, contribuindo para o desenvolvimento da economia, da crescente globalização, além de garantir o exercício da democracia com a ampliação da escolaridade. Dessa forma, as instituições do Grupo Ser Educacional buscam ampliar as competências básicas da educação de seus estudantes, além de oferecer- lhes uma sólida formação técnica, sempre pensando nas ações dos alunos no contexto da sociedade.” Janguiê Diniz PALAVRA DO GRUPO SER EDUCACIONAL Autoria Aline Rocha Rodrigues Nutricionista, Especialista em Nutrição com ênfase em Alimentação Escolar, Mestranda em Desenvolvimento Territorial Sustentável, pela Universidade Federal do Paraná. Formada há mais de 15 anos, com a carreira focada em políticas públicas de alimentação e nutrição, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar. Membro dos conselhos de Alimentação Escolar e Segurança Alimentar e Nutricional de Curitiba, sendo coordenadora da Câmara de Acesso aos Alimentos. Laís Angélica de Paula Simino Graduada em Nutrição pela Universidade Paulista, especialização em Bioquímica, Fisiologia, Treinamento e Nutrição Desportiva pela UNICAMP, mestre e doutora em Ciências da Nutrição e do Esporte e Metabolismo pela UNICAMP. Atua nas áreas de Pesquisa e Nutrição Clínica. SUMÁRIO Prefácio .................................................................................................................................................8 UNIDADE 1 - Nutrição e desfechos materno-fetais .........................................................................9 Introdução.............................................................................................................................................10 1. Saúde materno-infantil ..................................................................................................................... 11 2. Aspectos relacionados à gestação .................................................................................................... 13 3. Nutrição e desfechos gestacionais .................................................................................................... 18 4. Programação metabólica .................................................................................................................. 20 5. Avaliação e recomendações nutricionais na gestação ......................................................................26 PARA RESUMIR ..............................................................................................................................31 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................32 UNIDADE 2 - Nutrição na gestação ................................................................................................35 Introdução.............................................................................................................................................36 1. Guia alimentar para a gestação ........................................................................................................ 37 2. Necessidades nutricionais da gestante e situações incomuns ..........................................................44 3. Como avaliar o consumo alimentar de gestantes: avaliação quantitativa e qualitativa ....................48 4. Metodologia de atenção nutricional em pré-natal de baixo risco: como se faz uma consulta de nutricionista dirigida a gestantes? .........................................................51 5. Como organizar as intervenções nutricionais dentro de um pré-natal de baixo risco, com ênfase no papel do nutricionista ................................................................................................... 54 PARA RESUMIR ..............................................................................................................................57 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................58 UNIDADE 3 - Situações patológicas na gestação e nutrição materno-infantil pós-natal ..................61 Introdução.............................................................................................................................................62 1. Situações patológicas na gestação ................................................................................................... 63 2. Aleitamento materno ........................................................................................................................ 68 3. Nutrição materna pós-natal .............................................................................................................. 74 4. Nutrição do lactente ......................................................................................................................... 78 5. Desvios do estado nutricional do lactente........................................................................................ 86 PARA RESUMIR ..............................................................................................................................89 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................90 UNIDADE 4 - Nutrição na infância ..................................................................................................91 Introdução.............................................................................................................................................92 1. Metodologia da atenção nutricional dirigida a lactentes, pré-escolares e crianças .........................93 2. Identificação e manejo de desvios do estado nutricional e aconselhamento nutricional durante a fase de alimentação complementar e desmame ..................................................................100 3. Características da idade pré-escolar, necessidades nutricionais na idade pré-escolar, avaliação nutricional e guia alimentar para idade pré-escolar .............................................................102 4. Estudos de situações especiais, envolvendo crianças e cuidado nutricional ....................................107 5. Políticas de saúde e alimentação brasileiras focadas no grupo materno-infantil e cálculo e interpretação de inquérito alimentar aplicado à avaliação de gestantes e crianças .............109 PARA RESUMIR ..............................................................................................................................114 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................115 Este livro, Nutrição materno infantil, informa o leitor, além de conceitos básicos da área, conteúdo específico sobre nutrição e desfechos materno-fetais, nutrição na gestação, situações patológicas na gestação e nutrição materno-infantil pós-natal, e nutrição na infância. Entre muitos assuntos, a primeira unidade, Nutrição e desfechos materno-fetais, explica as características do período gestacional, incluindo as principais definições e as terminologias mais utilizadas na área da saúde materno-infantil; os aspectos relacionados aos ajustes fisiológicos e riscos para a saúde da mulher durante a gestação; a relação entre a nutrição e os desfechos gestacionais, e mais. A segunda, Nutrição na gestação, aborda as principais funções da nutrição no período de gestação. O texto é fundamentado nas guias que auxiliam as escolhas alimentares da gestante, as bases para uma dieta saudável e avaliações de consumo alimentar baseados tanto em quantidade de alimentos ingeridos quanto na qualidade destes alimentos. A terceira unidade, Situações patológicas na gestação e nutrição materno-infantil pós-natal, trata da fisiologia das situações patológicas mais comuns na gestação; a importância do aleitamento materno exclusivo e como estimular o aleitamento; características da avaliação do estado nutricional e das recomendações para a mulher no período pós-natal. E para finalizar o conteúdo da obra, a quarta unidade, Nutrição na infância, explana os assuntos relacionados a nutrição de crianças, desde o nascimento até o final da primeira infância. Serão abordados temas relacionados a: amamentação, atenção nutricional nos períodos de lactente, pré-escolar e crianças menores de 2 anos. Será explicado como identificar e manejar os desvios nutricionais, bem como as relações da nutrição com o desmame e alimentação adequada e saudável. Esta é apenas uma pequena amostra do que o leitor aprenderá após a leitura do livro. Desejamos que o leitor tenha uma carreira de sucesso, com muito prestígio. Aos leitores, sorte em seus estudos! PREFÁCIO UNIDADE 1 Nutrição e desfechos materno-fetais Olá, Você está na unidade Nutrição e desfechos materno-fetais. Conheça aqui as características do período gestacional, incluindo as principais definições e as terminologias mais utilizadas na área da saúde materno-infantil; os aspectos relacionados aos ajustes fisiológicos e riscos para a saúde da mulher durante a gestação; a relação entre a nutrição e os desfechos gestacionais; o conceito de programação metabólica; e os motivos da importância da Nutrição nos primeiros mil dias de vida. Conheça ainda as particularidades da avaliação e das recomendações nutricionais para a gestante. Bons estudos! Introdução 11 1. SAÚDE MATERNO-INFANTIL A fisiologia da gestação, popularmente conhecida como gravidez, começa a se manifestar a partir do momento em que um óvulo feminino é fecundado pelo espermatozoide masculino e, subsequentemente, inicia-se o desenvolvimento intrauterino do feto, até sua expulsão, ou seja, o momento do nascimento. Primeiramente, antes de nos aprofundarmos nos conhecimentos acerca dos aspectos nutricionais, é importante abordarmos algumas definições e terminologias mais utilizadas na área da saúde materno-infantil. 1.1 Caracterização do grupo materno-infantil São incluídos no grupo chamado de materno-infantil aqueles indivíduos que apresentam necessidades nutricionais elevadas, devido à fase de rápido crescimento e desenvolvimento em que se encontram. As faixas etárias ou momentos fisiológicos compreendidos no grupo materno-infantil são: • mulheres em idade reprodutiva (dos 10 aos 49 anos); • gestantes; • nutrizes ou lactantes (mulheres em período de amamentação); • lactentes (crianças de 0 a 12 meses); • pré-escolares (crianças de 1 a 7 anos); • escolares (crianças de 7 a 10 anos); • adolescentes (dos 11 aos 20 anos). Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 12 1.2 Terminologia em saúde materno-infantil Os termos mais utilizados na área da saúde materno-infantil e os respectivos conceitos estão explicados na tabela abaixo. Figura 1 - Terminologia utilizada em saúde materno-infantil Fonte: Adaptado de Accioly et al. (2009) #ParaCegoVer: A imagem mostra uma tabela dividida em duas colunas, na primeira (termo), está uma lista de termos relacionado à área materno-infantil; na segunda (conceito), estão as explicações acerca do significado de cada termo. 13 2. ASPECTOS RELACIONADOS À GESTAÇÃO A gestação normal é acompanhada de mudanças anatômicas, fisiológicas e psicológicas da mulher, que criam um ambiente favorável para o desenvolvimento saudável do feto. Esse conjunto de mudanças é essencial para regular o metabolismo materno e promover o crescimento fetal, além de preparar a mãe tanto para o momento do parto, como para a lactação. É importante que o nutricionista entenda os ajustes ocorridos no corpo da mulher durante a gestação, para que possa auxiliar na assistência nutricional pré e pós-natal com segurança. 2.1 Ajustes fisiológicos, nutricionais e metabólicos da gestação O período gestacional normal é constituído por 40 semanas, mas os aspectos fisiológicos, nutricionais e metabólicos são, no geral, diferentes em cada fase da gestação. No primeiro trimestre, acontecem grandes mudanças biológicas, devido à intensa divisão celular que ocorre nesse período. Já o segundo e terceiro trimestres caracterizam uma fase em que o meio externo exerce grande influência na condição nutricional do feto e, dessa forma, o ganho de peso e a ingestão adequada de nutrientes, bem como o fator emocional e o estilo de vida, serão fatores determinantes para o crescimento e desenvolvimento saudável do feto. Figura 2 - Diferenciação celular (tipo e velocidade de crescimento e peso médio do feto) de acordo com o período gestacional. Fonte: Adaptado de Vitolo (2015) #ParaCegoVer: A imagem mostra uma tabela dividida em 4 colunas e 3 linhas. As colunas são Idade gestacional, Tipo de crescimento, Velocidade e Peso médio do feto; e as linhas são 1º trimestre (12 semanas); 2º trimestre (de 13 a 27 semanas); e 3º trimestre (a partir de 28 semanas). 14 Uma das ferramentas importantes parao profissional que faz o acompanhamento da gestante é a curva de ganho de peso fetal. Com os dados obtidos pela ecografia solicitada pelo médico, o nutricionista pode avaliar se o peso estimado do feto se encontra no percentil adequado (entre P10 e P90). Valores próximos ou abaixo do percentil P10 indicam retardo do crescimento intrauterino, enquanto valores acima do percentil P90 podem sugerir alteração glicêmica ou diabetes gestacional. Figura 3 - Crescimento fetal Fonte: BUMPA, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra um gráfico de crescimento que tem as medidas de peso do bebê em gramas na vertical esquerda, os meses lunares da gestação na horizontal, e o comprimento em milímetros na vertical direita. No meio do gráfico, é possível ver uma linha vermelha e uma azul (indicando curvas de crescimento). Abaixo dessas linhas, dentro do gráficos, está o desenho de três fetos em sequência, passando a ideia de desenvolvimento fetal ao longo dos meses. Os principais hormônios com função essencial durante o período gestacional são: • estrógeno tem como principal ação o aumento da elasticidade da parede do útero e do canal cervical. Como consequências, esse hormônio reduz as proteínas séricas, afeta as funções da tireoide, interfere no metabolismo do ácido fólico; • progesterona tem como principal ação promover o relaxamento da musculatura lisa uterina. Atua também no intestino, diminuindo sua motilidade e possibilitando, assim, um maior tempo para absorção dos nutrientes. Por outro lado, pode levar à constipação intestinal. Além disso, favorece o aumento de gordura corporal, aumenta a excreção de sódio e afeta o metabolismo do ácido fólico; • HCG: tem papel fundamental no início da gestação, enquanto a placenta ainda não é capaz de 15 produzir os hormônios estrógeno e progesterona em quantidade ideal para promover a evolução da gravidez. Pode ser detectado no sangue a partir de 8 dias após a fecundação e, na urina, após 15 dias, sendo utilizado como fator de detecção da gestação; • insulina: no início da gestação, a resposta à insulina, frente ao estímulo com glicose, costuma ser normal, porém, com o avanço do período gestacional, mais insulina é necessária para promover a captação da mesma quantidade de glicose. Por isso, a gestação é considerada um estado hiperinsulinêmico, ou seja, por menor sensibilidade à insulina que, em partes, pode ser explicada pela ação antagonista dos hormônios progesterona, cortisol, prolactina e hormônio lactogênio placentário; • hormônio lactogênio placentário: tem ação antagônica à insulina, favorecendo o aumento da glicose circulante. Sua ação é semelhante à do hormônio do crescimento, pois leva à deposição de proteínas nos tecidos. Além disso, apresenta função anabólica e lipolítica e acredita-se que esteja envolvido com o início do processo da produção do leite materno; • tiroxina: tem ação regulatória nas reações oxidativas que envolvem a produção de energia e, além disso, participa de mecanismos homeostáticos que envolvem a progesterona e o estrógeno. De forma geral, as principais alterações fisiológicas, nutricionais e metabólicas decorrentes do período gestacional estão resumidas no quadro abaixo. 16 Figura 4 - Alterações fisiológicas, nutricionais e metabólicas observadas durante o período gestacional Fonte: ACCIOLY et al. , 2009 (Adaptado). #ParaCegoVer: A imagem mostra um quadro dividido nos fatores de risco que podem afetar a gestação e, abaixo de cada um deles, há uma lista de respectivas especificações e exemplos. Os fatores de risco listados são: idade materna nos extremos da vida reprodutiva; situação conjugal insegura; atividade profissional; baixa escolaridade materna; condições de saneamento ambiental desfavoráveis; estado nutricional antropométrico materno; uso de álcool ou drogas (lícitas ou ilícitas); histórico reprodutivo anterior desfavorável; doença obstétrica na gravidez atual; intercorrIencias clínicas. A imagem mostra um quadro que tem uma primeira linha denominada Alterações gestacionais. Abaixo dessa linha, o quadro se divide em 3 partes: alterações fisiológicas, alterações nutricionais e alterações metabólicas. Abaixo de cada subtítulo desses, está uma lista das alterações que a eles pertecem. 2.2 Fatores de risco associados à gestação Existem diversas condições que podem interferir na evolução normal da gravidez. Entre as condições mais frequentes associadas à intercorrências gestacionais, estão: idade, paridade, parâmetros antropométricos, tabagismo, uso de álcool e condições de saúde como anemia, desnutrição, obesidade, hipertensão arterial e diabetes mellitus, mas existe uma extensa lista de fatores que, embora menos frequentes, também podem ser considerados como fatores de risco associados à gestação. FIQUE DE OLHO A placenta - responsável pela produção de alguns hormônios essenciais na gestação e pelo transporte de oxigênio e nutrientes da mãe para o feto - é um órgão de alta complexidade metabólica. Para saber mais sobre ela, leia o capítulo 8 (Aspectos Fisiológicos e Nutricionais na Gestação), p. 80 de Vitolo (2015). 17 Figura 5 - Fatores de risco associados a resultados obstétricos indesejáveis Fonte: Adaptado de Accioly et al. (2009) 18 #ParaCegoVer: A imagem mostra um quadro dividido nos fatores de risco que podem afetar a gestação e, abaixo de cada um deles, há uma lista de respectivas especificações e exemplos. Os fatores de risco listados são: idade materna nos extremos da vida reprodutiva; situação conjugal insegura; atividade profissional; baixa escolaridade materna; condições de saneamento ambiental desfavoráveis; estado nutricional antropométrico materno; uso de álcool ou drogas (lícitas ou ilícitas); histórico reprodutivo anterior desfavorável; doença obstétrica na gravidez atual; intercorrIencias clínicas. Quanto maior o número destes fatores presentes, pior o quadro e, dependendo da gravidade e quantidade de fatores, a gestação pode ser classificada como baixo, médio ou alto risco. 3. NUTRIÇÃO E DESFECHOS GESTACIONAIS O consumo dietético e o estado nutricional são fatores que estão diretamente relacionados a desfechos gestacionais, seja em um momento mais precoce, com relação ao sucesso reprodutivo, ou durante o período gestacional em si, se relacionando com o desenvolvimento de condições adversas que levam a riscos obstétricos ou, ainda, por intervenções nutricionais que auxiliam na prevenção dessas condições ou no alívio de situações indesejadas. 3.1 Fatores de risco e proteção ao sucesso reprodutivo relacionados à nutrição A nutrição exerce papel importante na síntese de DNA e, por isso, sua influência pode impactar no desenvolvimento tanto de espermatozóides, como de oócitos. Assim, já que o estilo de vida e a nutrição são fatores que podem ser modificáveis de acordo com a necessidade, deve- se atentar para uma alimentação adequada para garantir o sucesso reprodutivo. A infertilidade é definida como a inabilidade de um casal sexualmente ativo, que não faz uso de métodos contraceptivos, de estabelecer a gravidez dentro do período de um ano. Estima- se que 90% dos casais sexualmente ativos que não utilizam métodos contraceptivos consigam engravidar nesse período. As causas que levam à infertilidade podem ser diversas, mas acredita- se que a nutrição exerça papel importante. Muitos nutrientes, de forma isolada, podem afetar positivamente ou negativamente a fertilidade humana. Em relação à fertilidade masculina, a ingestão de vitaminas C e E foi associada positivamente com o número, concentração e/ou motilidade dos espermatozoides, enquanto o FIQUE DE OLHO Para compreender melhor os aspectos envolvidos com os principais fatores de risco associados à gestação, leia o capítulo 9 (Fatores de Risco na Gestação), p. 83 de Vitolo (2015). 19 consumo de soja e alimentos fonte de isoflavonas foram relacionados de forma inversa com a concentração de espermatozoides. Com relação à fertilidade feminina,estima-se que o consumo de gorduras trans esteja relacionado com um risco muito aumentado de desenvolvimento de infertilidade ovulatória, assim como o consumo excessivo de alimentos com alto índice glicêmico. Por outro lado, suplementação de ferro, uso de multivitamínicos e consumo de laticínios integrais (sem redução do teor de gordura) foram associados a menor risco de infertilidade ovulatória. Contudo, como recomendações gerais, deve-se priorizar a nutrição adequada, tanto para homens como, principalmente, para mulheres que desejam engravidar, garantindo o suprimento das necessidades de macro e micronutrientes. Além disso, o fator mais decisivo para o sucesso reprodutivo, relacionado ao estilo de vida, tanto para homens como para mulheres, é a composição corporal. O sobrepeso e a obesidade podem levar a modulações hormonais significativas que diminuem ou até ocasionam a perda da fertilidade. Em contrapartida, estudos demonstraram que a perda de peso, promovida por intervenção dietética, pode melhorar o perfil hormonal e a fertilidade feminina. Assim, o papel do nutricionista é adequar a alimentação de forma individual, garantindo o aporte nutricional adequado e utilizar estratégias de redução de gordura corporal, quando necessário, para auxiliar no sucesso reprodutivo. 3.2 Consumo dietético e condições metabólicas da mulher, relacionados a condições adversas e melhora de desconfortos na gestação Algumas condições adversas frequentemente observadas em gestantes, como baixo peso, obesidade, anemias carenciais, diabetes gestacional e hipertensão/pré-eclâmpsia, estão estreitamente relacionadas ao estado nutricional e ao consumo dietético. O baixo peso materno, ou a gestante que se desnutre durante o período gestacional, em função de ganho de peso insuficiente, devem receber atenção especial. É comum que exista inapetência e anemias carenciais nesse grupo, e o papel do nutricionista é estimular o aumento do aporte energético ou de nutrientes específicos, quando identificada a necessidade. O sobrepeso ou obesidade durante a gestação são fatores de risco para o desenvolvimento de outras complicações, como diabetes gestacional, hipertensão, pré-eclâmpsia e eclampsia e, nesses casos, o nutricionista deve se atentar ao ganho de peso excessivo durante a gestação, sem deixar que faltem nutrientes para o desenvolvimento saudável do feto. Com relação a alguns desconfortos que podem ser minimizados por orientação nutricional durante a gestação, os mais comuns são náuseas/vômito, pica, pirose e constipação intestinal. 20 Náuseas e vômitos são situações frequentes, principalmente no primeiro trimestre. Para amenizar o desconforto, recomenda-se: o fracionamento das refeições (refeições menores e mais frequentes, até 8 vezes ao dia; consumo de alimentos com baixo teor de gordura e abrandados, como purês; o consumo de gengibre ou preparações que contenham esse alimento; e a suplementação de vitamina B6 (25mg, 3 vezes ao dia) podem ser úteis. A pica, condição em que a mulher sente desejo e ingere substâncias não alimentares (terra, sabão, tijolo, cinza de cigarro, etc), tem etiologia desconhecida, mas pode estar relacionada a mecanismos de tentar aliviar sintomas como náuseas e vômitos, ou à deficiência de ferro, que deve ser investigada. A pirose, sintoma de queimação ou azia, ocorre, geralmente, após as refeições. Indica-se, nesses casos, o fracionamento das refeições e o estímulo a alimentação mais lenta e com mais mastigações. É importante ressaltar que o consumo de frutas cítricas não está relacionado à piora de pirose, e sua restrição pode levar ao comprometimento da ingestão de vitaminas sem necessidade. A constipação intestinal é frequente em gestante, devido a mudanças hormonais, principalmente. Recomenda-se, como prevenção ou para melhora da condição, o aumento da ingestão de água, inclusão de variedades de verduras (cruas ou cozidas), consumo de alimentos fonte de fibras, frutas secas (ameixa, damasco, figos) e caminhadas regulares. 4. PROGRAMAÇÃO METABÓLICA Nos dias atuais, são bem aceitas as teorias que propõe que grande parte dos distúrbios metabólicos e das doenças desenvolvidas nos adultos têm origem no período fetal. Esse fenômeno é conhecido na literatura de diversas formas: origens do desenvolvimento da saúde e da doença (do inglês, Developmental Origins of Health and Disease – DOHaD), hipótese de Barker e imprinting metabólico, ou programação metabólica. 4.1 O conceito de programação metabólica Por definição, programação metabólica se refere ao “processo em que estímulos ou condições FIQUE DE OLHO Para conhecer mais sobre estratégias de intervenção nutricional relacionadas a situações adversas durante a gestação, leia os capítulos 13 (Situações Comuns Durante a Gestação e Práticas Alimentares) e 14 (Estratégias de Intervenção Nutricional), p.108 e 114, de Vitolo (2015). 21 adversas em um período crítico de desenvolvimento resultam em alterações permanentes nas respostas fisiológicas e metabólicas dos filhos” (SULLIVAN; GROVE, 2010, p.1). A programação metabólica se refere ao conceito de que muitas das DCNT (doenças crônicas não transmissíveis), tais como diabetes, obesidade e doenças cardiovasculares, por exemplo, têm início durante períodos críticos do desenvolvimento, como o período intrauterino ou pós-natal precoce. Um dos primeiros indícios históricos da existência da programação metabólica foram os estudos epidemiológicos que analisaram os dados de adultos que nasceram durante a Segunda Guerra Mundial, entre os anos de 1944 e 1945, em um período que ficou conhecido como “Inverno da Fome” na Holanda. Durante esse período, parte da Holanda foi ocupada por tropas nazistas, que impediram a chegada de alimentos pelas ferrovias. Além disso, foi um período de inverno muito rigoroso, o que impediu a produção local de alimentos e fez com que a população passasse por uma severa restrição alimentar. Através de arquivos médicos das mulheres que estavam grávidas durante esse período e de seus filhos, pesquisadores identificaram que a subnutrição materna, durante o período gestacional, levou os filhos a nascerem com baixo peso, mas, já na idade adulta, apresentaram grande propensão ao desenvolvimento de obesidade, intolerância à glicose e doenças cardiovasculares. Alguns anos depois, o conceito de programação metabólica foi popularizado por um pesquisador chamado David Barker, que conduziu pesquisas por meio das quais conseguiu correlacionar as mortes neonatais relacionadas ao baixo peso ao nascer com a nutrição insatisfatória das mães durante o período de gestação. Barker demonstrou que crianças nascidas com baixo peso tinham risco de desenvolver hipertensão quando adultas, enquanto as crianças que nasciam com peso normal e eram amamentadas até 1 ano de vida apresentavam risco muito menor de morte por doenças cardiovasculares e infarto. Essas observações o levaram a considerar que as doenças manifestadas no adulto poderiam ser programadas durante o desenvolvimento fetal, e sua publicação em uma revista científica, no ano de 1990, ganhou tamanha notoriedade que o tema ficou conhecido, a partir de então, como “A Hipótese de Barker”. A partir de então, o ambiente intrauterino e o pós-natal precoce passaram a ser estudados como uma fase importante que pode impactar no desenvolvimento de diversos tipos de doença na vida adulta. 4.2 A importância dos primeiros 1000 dias Sabe-se que diferentes estímulos, durante o período intrauterino e pós-natal precoce, podem estar relacionados à programação metabólica: exposição a doenças e toxinas, microbioma, estado psicológico, estresse físico e mental, exercícios físicos, entre outros fatores. Mas, dentre os fatores envolvidos com esse fenômeno, a nutrição materna e os fatores relacionados à nutrição, como a composição dietética e corporal e parâmetros metabólicos, estão entre os tópicos mais 22 explorados acerca desse tema. Existem, hoje, campanhas de conscientizaçãosobre a importância dos primeiros 1000 dias, que compreendem o período de gestação e os dois primeiros anos de vida da criança. Figura 6 - Primeiros 1000 dias Fonte: Elaborado pela autora, 2020 #ParaCegoVer: A imagem mostra quatro círculos. Um deles está acima dos outros e, dentro dele, está escrito “os primeiros 1000 dias”. Deste círculo saem três linhas que levam aos outros três círculos, que estão um ao lado do outro. Um deles diz “Gestação (270 dias)”, o segundo diz “1º ano (365 dias)” e o terceiro círculo, por fim, diz “2º ano (365 dias)”. Os “primeiros 1000 dias” constituem a fase mais intensa para o desenvolvimento de um indivíduo, tanto em relação a questões físicas e metabólicas, como em relação ao fator mental e emocional. Nesse período, acontece o maior estirão de crescimento, o desenvolvimento neurológico é intenso (com 2 anos de vida, o cérebro da criança já apresenta 80% do tamanho do cérebro de um adulto e, além disso, é 2 vezes mais ativo) e imunológico. Essa fase também está relacionada a formação de bons hábitos alimentares, que aumentarão as chances da criança de se tornar um adulto com hábitos mais saudáveis. Durante essa fase, conhecida como uma “janela de oportunidades”, é imprescindível que haja uma atenção integral: acesso à saúde, estímulos para aprendizagem, segurança e proteção, cuidados responsivos e acesso à nutrição adequada, para garantir, assim, maior qualidade de vida a longo prazo e minimizar as chances de dificuldades de aprendizado, desenvolvimento de doenças crônicas de longo prazo e maior probabilidade de mortalidade por essas doenças, o que reduz o tempo e a qualidade de vida dessa pessoa. 23 Assim, a nutrição adequada durante o período gestacional não visa apenas a promover a saúde e bem-estar da mãe, mas também está associada à prevenção de doenças no filho, principalmente as DCNT. As condições ou fatores maternos relacionados aos aspectos nutricionais que mais estão envolvidos com o desenvolvimento de DCNT nos filhos são a restrição energética ou proteica, obesidade/supernutrição, diabetes gestacional, baixo peso ao nascer ou macrossomia fetal e modificações epigenéticas. Figura 7 - Fatores envolvidos com a “programação metabólica” para o desenvolvimento de doenças na vida adulta Fonte: Elaborado pela autora, 2020 #ParaCegoVer: A imagem mostra seis círculos conectados por linhas uns aos outros. Dentro de cada um deles está um fator de risco: obesidade, epigenética, macrossomia fetal, baixo peso ao nascer, diabetes gestacional e restrição energética e proteica. A restrição energética e proteica durante a gestação foi um dos primeiros fatores nutricionais relacionados à programação metabólica, conforme citado na seção anterior, através das descobertas de David Barker, acerca do impacto da restrição alimentar severa de mulheres holandesas durante a Segunda Guerra Mundial, sobre o baixo peso ao nascer e sobre a maior propensão ao desenvolvimento de obesidade, intolerância à glicose e doenças cardiovasculares na vida adulta. Diversos estudos subsequentes, realizados em modelos experimentais, principalmente, identificaram que a baixa oferta energética ou de proteínas durante a gestação está relacionada ao prejuízo de diversas funções nos filhos: alterações no desenvolvimento do pâncreas e, consequentemente, menor resposta secretória da insulina e desenvolvimento de diabetes; má-formação hipotalâmica, impactando no controle da fome e do gasto energético e levando a maiores chances de desenvolvimento de obesidade; prejuízos na formação e funções metabólicas 24 de tecidos como o fígado, tecido adiposo e musculatura esquelética; aumento da pressão arterial; prejuízos no desenvolvimento psicomotor e cognitivo; dislipidemias; alterações renais e cardiorrespiratórias, entre outros. Curiosamente, a obesidade/supernutrição e o diabetes gestacional podem levar à desfechos fetais muito semelhantes aos observados em casos de restrição energética ou proteica durante a gestação. A supernutrição, a obesidade e a hiperglicemia da mãe durante a gravidez são condições que podem estar relacionadas tanto com a macrossomia fetal, quanto com o baixo peso ao nascer. Muitas pesquisas demonstraram que ambas as condições (baixo peso ou peso excessivo ao nascer) estão positivamente correlacionadas com maior risco de desenvolvimento de doenças metabólicas na vida adulta. Figura 8 - Risco de desenvolvimento de doenças metabólicas em função do peso ao nascer Fonte: Elaborado pela autora, 2020 #ParaCegoVer: A imagem mostra um gráfico de curva. No eixo vertical, está o risco de doenças metabólicas; no eixo horizontal, está o peso ao nascer, estando o baixo peso à esquerda, o peso normal no centro, e o peso excessivo á direita. A curva que se forma tem formato de U, mostrando que o risco aumenta à medida que o peso ao nascer se distancia do normal, tanto para mais, quanto para menos. É de conhecimento popular o fato de que o peso excessivo ao nascer pode estar relacionado ao desenvolvimento de obesidade e suas comorbidades na vida adulta. Um corte realizada nos EUA demonstrou que adolescentes nascidos com 1kg a mais em relação ao peso considerado normal apresentam 50% a mais de chances de serem obesos. O excesso de nutrientes, principalmente a glicose, circulantes na mulher obesa ou diabética durante a gestação levam a maior produção de insulina pelo feto e, se persistente, essa condição pode levar a resistência a insulina e desenvolvimento de síndrome metabólica. O baixo peso ao nascer, por outro lado, é um fator que, geralmente, leva as pessoas à associação apenas com baixo peso ou desnutrição da mãe, e com menor risco de desenvolvimento de obesidade ao longo da vida, o que as pesquisas já demonstraram ser uma inverdade. 25 Existem muitas evidências de que o baixo peso ao nascer está intimamente relacionado com a maior deposição de gordura. Isso pode ter explicação pela chamada teoria do fenótipo poupador, que propõe que o desenvolvimento fetal em um ambiente intrauterino malnutrido, seja ele caracterizado pelo excesso, insuficiência ou desbalanço de nutrientes, faz com que o indivíduo apresente baixo peso no momento do nascimento mas seja programado para poupar energia, levando a um rápido crescimento pós-natal, recuperação do peso e favorecimento da obesidade e DCNT. Ao contrário do que se supõe, grande parte dessas alterações transmitidas de mãe para o filho não estão relacionadas à predisposição genética. Apenas 5 a 10% dos casos de obesidade e doenças metabólicas estão associadas com a genética, e acredita-se que a origem dessas doenças seja o resultado de interações complexas entre a genética e os fatores ambientais que cercam o indivíduo, por meio de mecanismos epigenéticos. O termo epigenética foi primeiramente utilizado e descrito pelo pesquisador Conrad Waddington, na década de 40. A epigenética era definida como as interações dos genes com seu ambiente que leva o fenótipo a se manifestar. Hoje, sabe-se que fatores como a exposição a toxinas, drogas recreativas e medicamentos, os disruptores endócrinos (como o bisfenol A, presente em plásticos), a prática de exercícios físicos, as condições metabólicas e, principalmente, a composição da dieta estão diretamente relacionados com as mudanças no epigenoma do indivíduo. As alterações no epigenoma acontecem por meio de mecanismos como metilação do DNA, modificações das histonas e a expressão de RNAs não codificantes, e muitas pesquisas demonstraram que a nutrição materna inadequada afeta diretamente diversos desses mecanismos, impactando na saúde dos filhos ainda no ambiente intrauterino, até a vida adulta. Dessa forma, o acompanhamento nutricional adequado durante a gestação é de extrema importância tanto para a saúde materna quanto para a prevenção de doenças de origem metabólica nos filhos. 26 5. AVALIAÇÃO E RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS NA GESTAÇÃO O estado nutricional materno está relacionado à gestação saudável ou ao desenvolvimentode complicações obstétricas, como diabetes gestacional, anemia e distúrbio hipertensivo da gravidez, além de impactar diretamente na saúde do filho, conforme discutido na seção anterior. A avaliação nutricional da gestante inclui a investigação de parâmetros antropométricos, bem como avaliação alimentar, bioquímica e clínica. 5.1 Avaliação nutricional da gestante A avaliação por meio da antropometria é o método mais acessível, rápido e não invasivo para se avaliar o estado nutricional da gestante. Primeiramente, calcula-se o IMC (Índice de Massa Corporal) pré-gestacional referido. De preferência, deve-se utilizar dados de 2 meses antes da gestação, mas, caso não seja possível, calcula-se o IMC a partir de medição realizada até a 13ª semana gestacional. Para o cálculo da semana gestacional referida pela gestante, devemos arredondar, caso necessário, da seguinte forma: 1, 2, 3 dias, considera-se o número de semanas completas, e 4, 5, 6 dias, considera-se a semana seguinte. Por exemplo: gestante com 12 semanas e 2 dias: considera-se 12 semanas; gestante com 12 semanas e 4 dias: considera-se 13 semanas. De posse da semana gestacional correta e do IMC, é possível utilizar o quadro de classificação de IMC para gestantes e a curva de IMC para avaliação do estado nutricional. No quadro de classificação do IMC, deve-se identificar, na primeira coluna, a semana gestacional calculada e, nas colunas seguintes, identificar em qual faixa está situado o IMC da gestante. 27 Figura 9 - Classificação de IMC para gestantes de acordo com a semana gestacional Fonte: Brasil (2017) #ParaCegoVer: A imagem mostra uma tabela dividida em 5 colunas: a primeira refere-se à semana gestacional (6 a 42); a segunda traz os valores de referência de IMC para Baixo peso; a terceira traz os valores de referência de IMC para Peso adequado; a quarta traz os valores de referência de IMC para Sobrepeso; e a quinta traz os valores de referência de IMC para Obesidade. 28 É importante destacar que, nesta tabela, o ponto de corte inferior para consideração de eutrofia é de 19,8, pois ainda não havia sido atualizado para o valor considerado atualmente (de 18,5). De acordo com o estado nutricional pré-natal, estimado pelo quadro de classificação de IMC para gestantes e pela curva de IMC para avaliação do estado nutricional, estima-se o ganho de peso adequado durante a gestação e o ganho de peso semanal adequado no 2º e 3º trimestres. Figura 10 - Ganho de peso recomendado durante a gestação Fonte: Institute of Medicine (2009) #ParaCegoVer: A imagem mostra uma tabela dividida em quatro colunas: estado nutricional antes da gestação; IMC; ganho de peso durante a gestação (Kg); ganho de peso por semana no 2º e 3º trimestre (Kg). Abaixo da primeira coluna, estão as linhas: baixo peso (BP); peso adequado (A); sobrepeso (S); obesidade (O); abaixo das outras colunas, estão os valores de referência para cada uma dessas classificações. Nas consultas subsequentes, a avaliação do IMC deve ser realizada para o acompanhamento da curva de ganho de peso adequado, de acordo com o estado nutricional pré-gestacional. A aplicação de inquéritos alimentares permite investigar os hábitos alimentares da gestante que possam prejudicar a sua saúde e a do feto. Os inquéritos mais utilizados para essa população são: alimentação diária habitual, recordatório de 24 horas, inquérito de frequência alimentar e inquérito por registro. Os parâmetros bioquímicos normais diferem entre mulheres adultas não-gestantes e gestantes, já que a gestação promove modificações fisiológicas naturalmente. Na grande maioria das vezes, existe acompanhamento médico durante a gestação, e o médico fica responsável pela solicitação dos exames necessários, mas o nutricionista deve avaliar os resultados antes de planejar a orientação dietética. 29 5.2 Recomendações nutricionais na gestação Na gestação, existe um aumento das recomendações diárias da maioria dos nutrientes, devido aos ajustes fisiológicos desta fase. A partir da avaliação nutricional, o nutricionista deve adequar as recomendações, a fim de garantir o aporte adequado de nutrientes para a manutenção da saúde da gestante e desenvolvimento saudável do feto. Para o cálculo das necessidades energéticas, existem 2 métodos que são mais frequentemente utilizados: • Recomendação baseada na RDA – 1989 Para utilização desse método, calcula-se o GET, considerando-se o peso pré-gestacional e, a FIQUE DE OLHO Para conhecer mais métodos de estimativa de valor energético recomendado para gestantes, como o valor recomendado baseado da curva de IMC e o valor recomendado baseado nas DRIs, leia o capítulo 12 (Recomendações Nutricionais para Gestantes), p. 99 de Vitolo (2015). FIQUE DE OLHO Para conhecer mais sobre os inquéritos alimentares mais utilizados com as gestantes, as aplicações, vantagens e desvantagens de cada um, leia o capítulo 11 (Avaliação Nutricional da Gestante), p. 95 de Vitolo (2015). 30 partir do segundo trimestre, acrescenta-se 300kcal/dia. GET = Taxa de metabolismo basal (TMB) x Fator atividade física (FA) GET a partir do segundo trimestre gestacional = GET (pré-gestacional) + 300kcal • Recomendação baseada no cálculo simplificado do valor energético Para utilização desse método, multiplica-se o valor energético recomendado para mulheres adultas (36kcal/kg) pelo peso ideal pré-gestacional. O peso ideal pré-gestacional é determinado por regra de três, de acordo com o IMC. Em seguida, o peso ideal é multiplicado por 36kcal (no caso de mulheres adultas), ou seja: VET (valor energético total) = peso ideal x 36 A partir do segundo trimestre, adiciona-se 300kcal/dia ao VET. Em relação aos macronutrientes, recomenda-se, para gestantes: • proteínas: deve-se haver aumento da ingestão proteica durante a gestação, em razão do crescimento fetal, da expansão acelerada do volume sanguíneo e do aumento dos anexos fetais. Recomenda-se 60g/dia de proteínas para gestantes, sendo que 50%, pelo menos, devem ser de proteínas de alto valor biológico; • lipídios: a ingestão de lipídios vai depender do requerimento de energia para o ganho de peso adequado, que se baseia em um percentual de 20% a 35% em relação ao valor energético total. Dentro do valor total de lipídios, 13g devem ser provenientes de ácidos graxos ω-6, e 1,4 g de ácido graxo ω-3; • carboidratos: para mulheres gestantes, recomenda-se de 45 a 65% das calorias totais provenientes de carboidratos, ou 175 g/dia. FIQUE DE OLHO Para consultar a tabela de recomendações nutricionais de micronutrientes para gestante e conhecer mais sobre a importância de cada micronutriente para o período gestacional, leia as referências a seguir: Accioly et al. (2009, p. 151) e Vitolo (2015, p.100). 31 Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • conhecer as definições e terminologias mais utilizadas na área da saúde materno- infantil; • aprofundar os conhecimentos sobre os aspectos relacionados aos ajustes fisiológicos e riscos para a saúde da mulher, durante o período gestacional; • compreender a relação entre a nutrição e os eventos ocorridos durante a gestação, como os fatores de risco e proteção ao sucesso reprodutivo e as condições metabólicas pré-gestacionais e o consumo de macro e micronutrientes relacionadas aos desfechos gestacionais; • familiarizar-se com o conceito de programação metabólica e os motivos pelos quais a nutrição adequada é essencial nos primeiros mil dias de vida; • aprender sobre as particularidades da avaliação e das recomendações nutricionais para a gestante. PARA RESUMIR ACCIOLY, E. et al. Nutrição em obstetrícia e pediatria. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009. BLACK, M. M. et al. Advancing Early Childhood Development: from Science to Scale 1. Early childhood development coming of age: science through the life course. The Lancet, v. 389, ed. 10064, p. 77-90, 2016. Disponível em: sciencedirect.com/science/article/pii/ S0140673616313897?via%3Dihub. Acesso em:5 fev. 2020. BRASIL. Secretaria de Atenção à Saúde. Ministério da Saúde. Saúde da Criança: Alei- tamento materno e Alimentação Complementar. Cadernos de Atenção Básica, 2015. Disponível em: bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_aleitamento_mater- no_cab23.pdf. Acesso em: 30 jan. 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. IMC para gestantes. 2017. Disponível em: http://www. saude.gov.br/artigos/804-imc/40512-imc-para-gestantes. Acesso em: 30 jan. 2020. FERNANDES, B. S. et al. Cartilha de Orientação Nutricional Infantil. Departamento de Pe- diatria - UFMG, 2013. Disponível em: http://ftp.medicina.ufmg.br/observaped/cartilhas/ Cartilha_Orientacao_Nutricional_12_03_13.pdf. Acesso em: 30 jan. 2020. 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Nos aprofundaremos em guias alimentares que auxiliam nas escolhas alimentares da gestante, nas bases para uma dieta saudável e em avaliações de consumo alimentar fundamentadas tanto em quantidade de alimentos ingeridos, quanto na qualidade destes alimentos.Entenderemos ainda como funcionam as metodologias aplicadas ao atendimento nutricional de gestantes de baixo risco, na fase pré-natal, e as possíveis intervenções do nutricionista junto a estas pacientes, garantindo assim nutrição adequada tanto para a gestante como para o bebê. Bons estudos! Introdução 37 1. GUIA ALIMENTAR PARA A GESTAÇÃO A nutrição é importante em todas as fases da vida, mas cada uma delas traz questões específicas que podem garantir mais saúde ao indivíduo (MAHAN, 2013). Para compreender melhor as necessidades alimentares durante a gestação, faremos uma incursão em guias alimentares e na literatura específica sobre gestação, buscando conhecer as diretrizes de uma alimentação saudável que podem ser aplicadas a gestantes. Para iniciar, analisaremos a função dos guias alimentares, sua composição em termos de conteúdo e qual a melhor maneira de trabalhar as informações ali contidas juntos aos pacientes. Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 1.1 Função dos guias alimentares Os guias alimentares são considerados instrumentos de apoio nas ações de educação alimentar e nutricional, praticadas por profissionais de saúde (BRASIL, 2014), dentre eles o nutricionista. Através destes documentos, preferencialmente elaborados por órgãos públicos como o Ministério da Saúde, são dadas as diretrizes, ou seja, os fundamentos para a obtenção de uma alimentação saudável. A principal função de um guia alimentar é orientar o consumo, portanto, ele traz consigo uma série de informações que serão úteis aos comensais em suas escolhas alimentares cotidianas. Um dos compromissos dos guias alimentares é o de refletir a realidade vivida pela população a que se destina, sendo assim, terá como base os alimentos mais consumidos por aquela população em questões de cultura alimentar, além disso levará em conta em sua formulação a linguagem popular, bem como as formas de consumo que são comuns entre as pessoas às quais é destinado (BRASIL, 2014). Outra questão importante sobre os guias alimentares é que as informações ali contidas contribuam para a saúde da população, sejam claras em relação ao seu conteúdo e que possam ser facilmente executadas, sendo incorporadas de maneira possível 38 no dia a dia do público alvo. Considerar outras questões que vão além do ato de comer, como o plantio, comercialização, preparo, custos, por exemplo, também é uma preocupação que deve estar presente na formulação destes documentos. Deste modo, percebemos a importância de que as informações contidas em um guia alimentar possam auxiliar os pacientes na promoção da saúde, sejam acessíveis e que tenham como foco principal a população a que se destinam, e quando necessário sejam adaptadas às necessidades de situações específicas, como é o caso das gestantes. 1.2 Guias alimentares na gestação No caso das gestantes, o guia alimentar deve levar em consideração as alterações pelas quais o corpo passa durante este período. As orientações nutricionais neste período devem ser baseadas tanto no Guia Alimentar para a população brasileira, quanto em outros documentos norteadores do Ministério da Saúde. Eles podem ser elaborados junto ao setor responsável pelo atendimento de saúde destas pacientes, com orientações individualizadas que visem a favorecer a alimentação saudável na gestação, mas também podem ser trabalhadas em grupos de gestantes nas unidades básicas de saúde. O Guia Alimentar para população brasileira (BRASIL, 2014), por exemplo, traz informações gerais sobre alimentação e nutrição que auxiliam na busca por uma alimentação saudável, neste sentido, pode ser seguido por gestantes saudáveis. Já o Guia da Rede Cegonha (BRASIL, 2013b; 2013d) traz informações focadas em gestantes especificamente, sendo estes materiais complementares. Figura 1 - Alimentação na Gestação Fonte: SERGE GORENKO, Shutterstock, 2020 #ParaCegoVer: A imagem mostra um quadro dividido em 2 colunas (Passos e Orientações). A coluna Passos contém os números de 1 a 10 (um em cada linha), e a coluna Orientações contém as orientações referentes a cada um dos dez passos. 39 1.3 Aplicabilidade dos guias junto aos pacientes Agora vamos conhecer outros orientadores de consumo alimentar e nos aprofundar nos já citados. Conhecidos como Guias Alimentares, estes documentos podem ser utilizados nas recomendações nutricionais para gestantes, mesmo guias que não são destinados exclusivamente para esta população. Um exemplo de guia, publicado em 2013, é o Manual Instrutivo das ações de alimentação e nutrição na Rede Cegonha (BRASIL, 2013b),ele é destinado à população de gestantes atendidas na rede pública de saúde. Ele traz informações sobre a Vigilância Nutricional, programa de acompanhamento do estado nutricional do Ministério da Saúde, estratégias de apoio a amamentação, suplementações de ferro e vitamina A, outros programas auxiliares que podem contribuir para a saúde da gestante, além de material de consulta e referências pertinentes. Este informativo, destinado a profissionais de saúde, pode auxiliar entre outros, aos nutricionistas na atenção primária. Um dos principais intuitos desta padronização no atendimento é a diminuição da mortalidade materno-infantil, através da promoção de saúde. A recomendação do Ministério da Saúde é que o atendimento seja realizado por equipe multiprofissional, na qual poderão fazer parte médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, agentes de saúde, nutricionistas, psicólogos e assistentes sociais. As fases do atendimento são: • pré-natal; • parto e nascimento; • puerpério (período pós-parto); e • atenção à saúde da criança. As ações propostas no material estão baseadas nas diretrizes do atendimento primário em saúde do SUS (Sistema Único de Saúde) e na PNAN (Política Nacional de Alimentação e Nutrição), além e recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde). O público alvo são as gestantes, mulheres no puerpério e crianças até 2 anos. As orientações vão de acordo com as bases da SAN (Segurança Alimentar e Nutricional) e o Marco de Educação Alimentar e Nutricional (BRASIL, 2012b), prevendo uma alimentação saudável e adequada, que promova uma gravidez saudável, estímulo à amamentação/ aleitamento materno e saúde da criança, através de um desenvolvimento e crescimento adequados. Já o Guia Alimentar para população brasileira (BRASIL, 2014) traz o enfoque de uma alimentação saudável para a população em geral, exceto as crianças menores de 2 anos, que têm um guia específico. Nele são dadas diretrizes para uma alimentação adequada, e gestantes sem agravos de saúde, podem segui-lo sem restrições. Neste sentido, o acompanhamento de um profissional de saúde poderá ajustar as recomendações contidas nesse Guia para as gestantes. Um dos orientadores do Guia, que também segue as recomendações da OMS, é conhecido 40 como 10 PASSOS PARA UMA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL (BRASIL, 2013a). E as recomendações de alimentação e nutrição da gestante devem levar em consideração este documento. Figura 2 - 10 Passos para uma alimentação saudável Fonte: Brasil (2014) #ParaCegoVer: A imagem mostra um quadro dividido em 2 colunas (Passos e Orientações). A coluna Passos contém os números de 1 a 10 (um em cada linha), e a coluna Orientações contém as orientações referentes a cada um dos dez passos. Estas dicas de alimentação podem ser aplicadas para gestantes saudáveis, pois se aplicam a toda a população brasileira e, como vimos, suas orientações são simples e de fácil compreensão, base para uma informação acessível. Estas orientações não dispensam a avaliação individualizada das gestantes na atenção primária, seja por nutricionista ou outro profissional de saúde capacitado. FIQUE DE OLHO Cabe ao nutricionista conhecer o Guia Alimentar para população brasileira. Este documento oficial poderá facilitar o atendimento de gestantes e a elaboração de planos alimentares para manutenção da saúde. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/ publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf> 41 1.4 Alimentos, porções, preparações e refeições recomendados Em estados de gravidez sem complicações de saúde, a alimentação materna segue os mesmos padrões da alimentação habitual da mulher. Questões como bom aporte de ferro, vitamina A e ácido fólico devem ser observadas e acompanhadas pela equipe de saúde, seguindo as diretrizes do Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a; BRASIL, 2013c). A nutrição neste período deve suprir as necessidades calóricas e de nutrientes para satisfazer tanto as demandas da mãe quanto do bebê. Segundo Mahan et al. (2013) a suplementação para garantia de uma condição nutricional adequada, inclusive em períodos pré-gestacionais, em algumas políticas públicas de suplementação tem como foco a gestação. Porém estudos comprovam que são mais bem sucedidas suplementações de multinutrientes do que apenas alguns poucos nutrientes. Sendo que a suplementação necessita de avaliação do estado nutricional, seguindo a ordem de quanto mais desnutrida for a gestante, maior será a necessidade de suplementação. Outra questão inerente à gestação é evitar desconfortos comuns à condição, como dificuldade no esvaziamento gástrico, náuseas, azia, quedas de pressão e desmaios, e neste sentido a alimentação pode contribuir positivamente. As recomendações de hidratação seguem as mesmas da população em geral, com uma média de 2 litros de água por dia, sempre nos intervalos das refeições. Ainda se preconiza refeições fracionadas, que mantenham a paciente alimentada e satisfeita, facilitem a digestão, diminuam as náuseas e possam garantir uma nutrição adequada. Uma boa avaliação nutricional da gestante poderá garantir que sejam supridas todas as necessidades para uma gravidez adequada Figura 3 - Porções e quantidades de alimentos Fonte: WAVEBREAKMEDIA, Shutterstock, 2020 #ParaCegoVer: A imagem mostra pequenas porções de amêndoas, feijões, ervilhas, brócolis, morangos, rodelas de laranja, framboesa, nozes, milho, castanhas, amendoim, farinhas, uvas. 1.5 Dez passos para alimentação saudável na gestação Foi criado um informativo para gestantes, baseado no programa Rede Cegonha, pelo Ministério da Saúde, com o título: “Alimentação Saudável para Gestantes – Siga os 10 passos”. Em 42 resumo, este orientador traz as seguintes informações (BRASIL, 2013a): realize três refeições e dois lanches saudáveis – evitando ficar mais de 3h sem comer e ingerindo líquidos nos intervalos das refeições (ao menos 2 litros), evitando bebidas açucaradas. Pular refeições não é adequado, pois se alimentando corretamente seu estômago não ficará vazio por muito tempo, evitando algumas sensações típicas da gravidez como náuseas, vômitos, fraquezas e desmaios. Esta ação também promove outros benefícios como controle do ganho de peso, da azia e de consumo de alimentos em grandes quantidades; inclua cereais, de preferência integrais, sendo seis porções destes alimentos, fonte de energia, fibras, vitaminas e minerais. Dando preferência à forma natural dos alimentos, ou seja, sem grandes processamentos. Distribua essas fontes de carboidratos durante todas as refeições. E, caso seja uma adolescente grávida, sua quantidade de consumo deverá ser aumentada, já que, além do crescimento do bebê, você deverá garantir seu próprio crescimento nesta fase; consuma três porções de legumes e verduras e três porções de frutas, no mínimo, durantes as refeições. Você poderá distribuir entre as grandes refeições e os lanches. Um prato colorido é um prato saudável, fornece fibras, vitaminas e minerais, além de contribuir com quantidades significativas de água em alguns casos. Observar as condições de higiene e lavagem destes alimentos garante uma qualidade ainda maior de consumo; coma o prato típico brasileiro de arroz e feijão, ao menos uma vez ao dia. Esta combinação garante boas doses de carboidratos complexos, fibras e proteínas, além de vitaminas e minerais. Uma parte de feijão para duas partes de arroz é a combinação perfeita, mas cuidado com o preparo destes alimentos. Evite a inclusão de muito sal, gordura ou outros componentes como carnes gordas e linguiças que possam interferir na qualidade desta combinação; consuma uma porção de carne ou ovos e três porções de leite e derivados. O leite e seus derivados são uma boa fonte de cálcio, fundamental na gestação. E as carnes de proteínas, que é outro nutriente bastante importante neste período. Cuidado ao escolher as carnes, leite e derivados, pois muitos podem ter altos índices de gorduras e sódio. Cálcio e Ferro sãonutrientes que competem entre si na absorção, procure evitar consumir fontes destes dois nutrientes nas mesmas refeições. Por exemplo: se seu almoço tiver carne, prefira leite ou iogurte numa próxima refeição, como o lanche da tarde. Achocolatados e café também interferem na absorção de cálcio, por isso devem ser evitados. No caso de uma alimentação sem carne, vegetariana ou vegana, consulte um nutricionista ou profissional de saúde para maiores informações; consuma pouca gordura, sendo uma porção diária de óleos vegetais, azeite, manteiga. Prefira aqueles que, em sua rotulagem se apresentam sem gorduras trans. Evite alimentos gordurosos, principalmente aqueles que passaram por industrialização, com adição de grandes porções de gorduras e sódio. Buscar informações sobre os alimentos nos rótulos é sempre uma boa maneira 43 de escolher os alimentos mais saudáveis. Lembrando que alimentos gordurosos tendem a aumentar e sensação de náuseas; evite alimentos industrializados, como refrigerantes, sucos artificiais, biscoitos recheados e guloseimas. Estes alimentos aumentam os riscos de obesidade, doenças associadas e ainda fornecem uma grande quantidade de calorias e poucos nutrientes, além do excesso de açúcar ser apontado como um fator de favorecimento das cáries dentárias. Em caso de diabetes gestacional ou gestantes que já apresentem diabetes, deve ser consultado um profissional para o manejo do uso de adoçantes artificiais; diminua o consumo de sal. Ele pode estar presente em diversos alimentos, sendo fácil ultrapassar as recomendações diárias de consumo. Retirar o saleiro da mesa e evitar a adição de sal após o alimento pronto são aneiras de reduzir o consumo. Alimentos industrializados também podem apresentar grandes teores de sódio, sendo a redução do consumo destes uma boa opção. Complicações na gestação relacionadas ao aumento da pressão arterial são comuns, e a redução do sódio pode ser um fator protetor. O sal pode se apresentar em rótulos como sal, sódio e cloreto de sódio; consuma alimentos fonte de ferro, eles evitam a anemia, mantendo a gravidez saudável. A anemia na gestação está relacionada a casos de morte tanto materna, quanto fetal, baixo peso ao nascer e partos prematuros, devendo ser prevenida. Alimentos fonte de ferro são carnes, vísceras, feijões e alguns grãos, folhas verde-escuras e castanhas. O consumo de alimentos fontes de vitamina C favorece a absorção e biodisponibilidade do ferro, sendo favorável o consumo destes nutrientes combinados em uma mesma refeição. Por exemplo: temperar uma salada de folhas verdes com limão é uma boa dica. O ferro de origem animal é melhor absorvido do que o de origem vegetal, por isso, em dietas com restrição de proteínas de origem animal, deve- se procurar um profissional de saúde que possa orientar o consumo e suplementação de ferro. Lembrando que, de acordo com as políticas de saúde vigentes, gestantes entre 20 semanas até 3 meses pós-parto receberão suplementação de ferro, via postos de saúde, bem como suplementação de ácido fólico; mantenha seu ganho de peso dentro do recomendado. O acompanhamento pré-natal tanto por profissionais de saúde, quanto por nutricionista pode auxiliar na manutenção do ganho de peso adequado na gestação. Os ganhos podem variar entre 18kg a 5kg entre gestantes baixo peso, eutrófica, com sobrepeso ou obesidade, durante toda a gestação, e deve ser distribuído durante todo o período. As dicas de alimentação deste guia e outras recomendações de profissionais de saúde podem ajudar as pacientes a atingir este objetivo. Os riscos de diabetes gestacional, hipertensão, entre outros estados de saúde não desejáveis podem ser prevenidos através de uma alimentação saudável, atividade física e acompanhamento de saúde. Pudemos perceber que as dicas do orientador alimentar para a gestação trazem informações 44 simples e do cotidiano da alimentação das gestantes brasileiras, com foco nos principais nutrientes e na hidratação, com a intenção de prevenir doenças, através de uma alimentação adequada. Para aprimorar as orientações que serão ministradas às gestantes, podemos fazer um cruzamento de informações entre este guia, que foi lançado em 2013, e o Guia Alimentar de 2014, atualizando assim as dicas que serão repassadas às pacientes. 2. NECESSIDADES NUTRICIONAIS DA GESTANTE E SITUAÇÕES INCOMUNS Segundo Acioly et al. (2009), há fortes correlações entre o estado nutricional das gestantes e o resultado da gestação, com reflexos inclusive no bebê. Sendo assim, é importante saber quais as necessidades nutricionais da gestante e fornecer informações e orientações precisas para este público, em seu acompanhamento pré-natal, independente do momento em que este atendimento se inicia (BRASIL, 2012a). Lembrando que, quanto mais cedo ocorrer o início do atendimento, melhores os resultados na saúde da gestante. As deficiências de nutrientes como ferro, ácido fólico e vitamina A podem causar deformidades no feto, prejudicar sua formação e desenvolvimento (VITOLO, 2008). O baixo peso da gestante no inicio da gestação, baixo ganho de peso, bem como sobrepeso e obesidade também são fatores que influenciam na saúde, tanto da gestante, quanto do bebê (ACIOLY et al., 2009). Podendo influenciar inclusive em nascimentos de pré-maturos (KRAUSE, 2013). Situações alimentares não comuns podem ocorrer na gestação, conhecida como Pica, caso em que as gestantes relatam a necessidade de ingerir substancias não alimentícias, como gomas de passar roupa, tijolos, cimento ou cal, por exemplo (VITOLO, 2008). Esta condição também é conhecida como Malácia ou Alotriofagia, e pode ocorrer fora da gestação, sendo mais comum FIQUE DE OLHO Conhecer os documentos norteadores para o atendimento nutricional é uma boa ferramenta na atenção primária. Um bom conhecimento de todos os documentos disponíveis permite ao profissional um sucesso maior na adaptação dos conteúdos diversos ao planejamento alimentar de seu paciente. Para pacientes gestantes, é importante consultar sempre o guia da Rede Cegonha para informações sobre atendimento específico para esse público. este documentos está disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/ publicacoes/manual_alimentacao_nutricao_rede_cegonha.pdf>. 45 durante a gravidez. Pode ser oriunda da falta de nutrientes ou ainda de foro psicológico, sendo necessário o acompanhamento de médicos, nutricionistas e psicólogos ou psiquiatras. Ela não deve ser confundida com a vontade de comer ou desejo de determinado alimentos que ocorre na gestação, bastante relatado em senso comum. Este processo se dá pela alteração de hormônios que ocorrem na gestação, que afetam a sensação de apetite e saciedade, bem como podem aumentar o olfato, gustação e causar sensações de aversão a alguns alimentos e vontade incontrolável de outros. As relações com a alimentação se alteram de gestante para gestante, necessitando, tanto paciente, quanto profissionais de saúde estarem atentos às rotinas de alimentação. Devemos ainda acompanhar o ganho de peso das gestantes, como ponto fundamental do atendimento relacionado a nutrição, sendo orientado pelo Ministério da Saúde um ganho recomendado de: (i) as gestantes que iniciaram a gravidez com baixo peso ganhem entre 12,5kg e 18kg; (ii) as que iniciaram a gravidez com peso normal ganhem entre 11,5kg e 16kg; (iii) as que iniciaram a gravidez com sobrepeso ganhem entre 7kg e 11,5kg; e (iv) as que iniciaram a gravidez com obesidade ganhem entre 5kg e 9kg durante todo o período gestacional (BRASIL, 2012a, p. 88). 2.1 A dieta saudável na gestação Ao contrário do que diz o senso comum, uma gestante não deve comer por dois. As necessidades nutricionais não se alteram em grandes proporções, sendo recomendado atenção especial à quantidade de calorias, ferro, vitamina A e B12 e ácido fólico, nutrientes essenciais nesta fase. Proteínas, Cálcio e outros micronutrientes também são importantes durante este período, mas não sofrem alteraçãotão drásticas e não geram distúrbios de saúde comuns na gestação. Como visto anteriormente, seguir as recomendações do Guia Alimentar do Ministério da Saúde (BRASIL, 2014) também pode contribuir para uma alimentação adequada e saudável na gestação. Fracionar as refeições, evitando consumir grandes quantidades de alimentos numa mesma refeição, não deitar logo após a alimentação e observar a hidratação, preferencialmente nos intervalos das refeições, são dicas importantes para o manejo alimentar das gestantes. Segundo Mahan et al. (2013, p. 732), seis passos podem resumir os cuidados nutricionais na gestação: 1. ingestão de energia que atenda às necessidades nutricionais e permita um ganho de peso de aproximadamente 0,4 kg por semana; durante as últimas 30 semanas de gestação; 2. ingestão de proteínas que atenda às necessidades nutricionais, um adicional de aproximadamente 25 g/dia; adicional de 25 g/dia/feto, se houver mais de um; 20% de ingestão de energia a partir das proteínas; 46 3. ingestão de sal iodado que não exceda nem seja menor que 2-3 g/dia; 4. ingestão de minerais e vitaminas que atendam às ingestões diárias recomendadas (suplementação de ácido fólico e, possivelmente, de ferro necessária); 5. álcool omitido; 6. omitir toxinas e substâncias não nutritivas dos alimentos, da água e do ambiente o máximo possível. Em seguida, veremos quais são as recomendações nutricionais para suprir as necessidades das gestantes, de acordo com a faixa etária. Conhecer estas recomendações trará grandes benefícios ao nutricionista na prescrição dietética, elaboração de orientações e planos alimentares e no acompanhamento do estado nutricional no período da gestação. Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 2.2 Recomendações nutricionais Cabe ao nutricionista conhecer quais são as recomendações dos principais nutrientes que influenciam o metabolismo humano, fator importante tanto na prescrição dietética quanto na elaboração de planos alimentares, ou ainda nas orientações nutricionais para grupos ou indivíduos na atenção básica. Vamos conhecer as recomendações nutricionais, baseadas no Institute of Medicine (USA), na forma IDR (Ingestão Dietética de Referência) para gestantes. 47 Figura 4 - Recomendações Nutricionais de macro e micronutrientes para gestantes Fonte: Adaptado de Acioly et al. (2009) e Mahan et al. (2013) #ParaCegoVer: A imagem mostra um quadro onde é possível ler IDR para Gestantes no topo. abaixo disso, o quadro se divide em duas colunas: Nutriente e Recomendação. Abaixo da coluna nutriente, as linhas expressam os principais macro e micro nutrientes relevantes para a gestação e, abaixo da coluna recomendação, estão as linhas com suas respectivas quantidades. Em relação aos micronutrientes, cabe ressaltar que Ferro, vitamina B12 e ácido fólico representam papel fundamental no desenvolvimento de anemia ferropriva, sendo primordiais em avaliação e, se necessário, suplementação para uma gravidez saudável. Quanto a macronutrientes, o aumento da TMB (Taxa Metabólica Basal) de gestantes ocorre, de acordo com o informado na tabela acima, para suprir as necessidades energética fetais, para seu crescimento, desenvolvimento e gasto calórico, esta mudança tem seu auge a partir do 3º mês de gestação. 48 Ainda segundo Acioly et al. (2009), são medidas de prevenção da anemia ferropriva durante a gestação: · ingestão de carnes em pelo menos 2 refeições diárias; consumo de frutas com grandes aportes de vitamina C, como caju, abacaxi, laranja, maracujá e goiaba; estímulo ao consumo de feijões e outras leguminosas; presença de vegetais verde-escuros e alimentos fortificados com ferro; · devem ser desestimulados hábitos como o consumo de produtos lácteos (leite e derivados) junto às grandes refeições; presença de aveia e cereais integrais em almoço ou jantar; consumo de refrigerantes, mate, chás que contenham cafeína e café junto a refeições de maior volume (almoço e jantar). 2.3 Adesão a uma dieta saudável na gestação A adesão a um programa alimentar saudável durante a gestação tem se demonstrado, através de diversos estudos de saúde materna e fetal, como um diferencial na qualidade de vida tanto de gestantes, quanto de seus bebês. Deficiências nutricionais estão relacionadas a más-formações, baixo peso ao nascer, aumento na pressão arterial e eclampsia, diabetes gestacional, anemia ferropriva, parto prematuro, entre outras complicações (VITOLO, 2008). Acompanhamento e elaboração de um plano alimentar que possa garantir uma alimentação adequada e saudável durante a gestação fazem parte do atendimento nutricional na saúde primária, ou seja, durante o período pré-natal. A seguir, veremos estratégias de ação para realizar avaliação antropométrica, o consumo de alimentos e a elaboração de um plano alimentar na gestação que seja possível de ser cumprido pelas pacientes em questão. Lembrando que este processo pode ocorrer tanto na rede pública de atendimento, através dos postos de saúde e programas de saúde da mulher, gestante e família, quanto pode ocorrer dentro da rede privada de atendimento, em hospitais, clinicas e consultórios. Bem como poderá acontecer em atendimento individual ou em grupo. Os principais passos para elaboração de um atendimento global passam por recepção humanizada das pacientes, processo de escuta das necessidades e anseios, avaliação antropométrica, avaliação bioquímica, avaliação dietética, diagnóstico e elaboração do plano de ação nutricional. 3. COMO AVALIAR O CONSUMO ALIMENTAR DE GESTANTES: AVALIAÇÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA Os métodos mais utilizados na avaliação do consumo alimentar de pacientes, tanto gestantes quanto não gestantes, em populações saudáveis e enfermas são: recordatório de 24 horas e frequência de consumo. Estes dois métodos podem ser utilizados de maneira isolada ou ainda em combinação, e realizam uma avaliação tanto quantitativa, quanto qualitativa do consumo de alimentos de um indivíduo. 49 O esclarecimento, ao paciente, de como funcionam estes questionários, preenchimento de um piloto simulado durante a consulta como exemplificação e a retirada de todas as dúvidas relacionadas ao preenchimento poderão trazer informações mais acertadas em relação ao consumo de alimentos, sendo que a partir destas informações será traçada a estratégia de atendimento nutricional destas pacientes. 3.1 Avaliação nutricional A partir destes questionários de consumo será possível verificar quais são as ingestões de alimentos relacionadas a calorias, nutrientes e grupos alimentares. Com o resultado desta avaliação dos questionários, é possível avaliar, juntamente com os exames bioquímicos, se existem excessos no consumo de alguns nutrientes e falta de outros, sendo possível traçar o plano alimentar desta paciente, de acordo com a avaliação antropométrica, que nos trará informações como peso, altura e pregas cutâneas, e, em alguns casos, bioimpedância (avaliação das taxas de gordura corporal), sendo então calculadas as necessidades nutricionais diárias de cada paciente, dentre elas o valor calórico diário, por exemplo, seguido pelo ganho de peso estimado na gestação durante as 40 semanas. Para ajustes de plano alimentar, prescrição dietética e acompanhamento do estado nutricional da gestante, importa saber qual o valor de calorias diário que deverá ser consumido. O cálculo de VET e GE (gasto energético) das gestantes pode ser obtido através das seguintes fórmulas: VET = GE + ADICIONAL ENERGÉTICO GESTACIONAL GE = TMB x fa* *Fator atividade física Figura 5 - Fator atividade física Fonte: Revista O2 (2006) #ParaCegoVer: a imagem traz uma tabela do fator de atividade física de homens e mulheres para atividades físicas leves, moderadas e intensas. 50 3.2 Avaliação quantitativa Esta avaliação tem como objetivo verificar as quantidades de alimentos, tanto em termos de nutrientes, quanto de grupos alimentares consumidas por um paciente. Conforme mencionamos no
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