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E-Book - Apostila 
ANÁLISE DO DISCURSO 
E-Book - Apostila 
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E-Book - Apostila 
INTRODUÇÃO À ANÁLISE DE DISCURSO 
Inicie sua Jornada 
Neste estudo você terá contato com a Análise de Discurso (doravante AD), seus principais 
conceitos e noções, seus princípios teóricos e metodológicos, e o modo como, no Brasil, 
essa teoria ganhou algumas especificidades, diferenciando-se da AD francesa. 
Nosso objetivo é que você possa, a partir das questões aqui discutidas, ter uma visão 
geral dessa disciplina que atualmente compõem os estudos dos mais variados campos de 
investigação e pesquisa. Esperamos, ainda, que as reflexões aqui levantadas possam 
auxiliá-lo em seu percurso acadêmico e profissional, uma vez que a perspectiva 
discursiva permite um trabalho singular com a língua e o discurso, o que permite aos 
sujeitos estabelecer uma relação menos ingênua com as questões da linguagem em geral. 
A AD é uma disciplina que tem como gesto fundador os estudos realizados na França, no 
final da década de 1960, pelo filósofo Michel Pêcheux e um variado grupo de professores e 
pesquisadores que, reunidos em torno desse autor, realizaram diferentes pesquisas, 
investigações e análises para pensar aquilo que Maldidier (2003, p.15) chamou de 
“aventura teórica”. 
2-140
E-Book - Apostila 
Embora por questões práticas falaremos neste encontro sempre em uma teoria 
pecheuxtiana, gostaríamos de chamar a atenção para o fato de que as noções e 
procedimentos da AD foram se delineando a partir de uma elaboração teórica coletiva. De 
acordo com Maldidier (2003, p.16), Michel Pêcheux “amava o trabalho comum. Ele 
escreveu bastante com amigos, com colaboradores.” Nesse sentido é importante destacar 
que a teoria do discurso nasce pela força do trabalho da figura de Michel Pêcheux, mas 
não se reduz ao seu pensamento, sendo, assim, a expressão de uma discussão teórica 
que, na França de 1960, estava fortemente marcada por variados interesses de 
pesquisadores que dialogavam com esse autor. 
Desse trabalho conjunto em uma aventura do discurso, surgem reflexões sobre a relação 
dos sujeitos com a língua e também com outros campos de saberes que nos auxiliarão a 
refletir sobre suas noções fundamentais, a partir de 5 aulas: na aula 1, estudaremos sua 
origem na França e no Brasil; na 2 a língua e o discurso; na 3 sobre as condições de 
produção (doravante CP), formações imaginárias e sujeito discursiva; na 4 sobre 
formação ideológica (doravante FI) e formação discursiva (FD) e, para finalizar, na aula 5, 
apresentaremos os conceitos de interdiscurso, intradiscurso e memória discursiva. 
Desejamos a você, um ótimo estudo e muitas reflexões produtivas. 
Desenvolva seu Potencial 
A AD E SEUS FUNDADORES: CONTEXTO HISTÓRICO 
3-140
E-Book - Apostila 
Michel Pêcheux, líder do grupo de fundadores da AD, inicia a escrita de suas reflexões 
com dois textos assinados com um pseudônimo: Thomas Herbert. O primeiro deles, 
“Réflexions sur la situation théorique des sciences sociales, spécialement de la 
psychologie sociale” [Reflexões sobre a situação teórica das ciências sociais, 
especialmente da psicologia social], foi publicado em 1966 em “Cahiers pour 
Analyse"[Cadernos para análise], revista do círculo de epistemologia École Normale 
Supérieure em Paris [Escola Normal Superior de Paris]. O segundo texto, publicado na 
mesma revista, em uma edição de 1968, intitulava-se “Remarques pour une théorie 
générale des idéologies” [Anotações para uma teoria geral das ideologias].Em 1969, é 
publicado o primeiro livro do autor, intitulado “L'Analyse automatique du discours” 
[Análise automática do discurso], doravante AAD69, e, aparentemente, segundo Henry 
(2010) não havia nada em seu livro que remetia às questões que o autor trazia nos dois 
primeiros artigos publicados. Vemos, portanto, que os primeiros textos de Michel Pêcheux 
possuem um teor crítico, que colocava questões para a psicologia e às ciências sociais, ao 
mesmo tempo em que, em seu livro, ocupou-se do desenvolvimento de um método 
específico de análise: o método automático. Mas o que seria, então, a AAD69? Segundo 
Henry (2010, p.17) Pêcheux embora fosse um filósofo de formação era alguém apaixonado 
pelas máquinas, pelas ferramentas, pelos instrumentos e pelas técnicas. “E ele não é um 
filósofo qualquer, mas sim um filósofo convencido de que a prática tradicional da filosofia, 
em particular no que tange às ciências, está desprovida de sentido ou é, no mínimo, um 
fracasso.” (HENRY, 2010, p.17). 
4-140
E-Book - Apostila 
Nesse contexto, com sua análise automática do discurso o autor buscou construir um 
instrumento que permitia pensar sobre a utilização empírica dos instrumentos, porque 
alguns tipos de utilização eram dominantes e não outros. Ou seja, com sua análise 
automática do discurso ele não apenas produziu reflexões importantes para sua posterior 
teoria do discurso, como também fez uma forte crítica ao modo como as ciências sociais 
de sua época se servia dos instrumentos e, consequentemente, uma forte crítica às 
ciências sociais em si mesmas. Era, não apenas o estabelecimento de uma teoria, de um 
instrumento, mas um modo de pensar a ciência na sua relação com o político (Henry, 
2010).Da obra AAD69 achamos importante destacar aspectos que serão importantes para 
um definição de discurso, adotada pelos analistas em geral, como por exemplo: Discurso, 
Condições de Produção, Sujeito, Formações Imaginárias, estão fortemente presentes 
nesse primeiro livro do autor e serão abordadas mais detalhadamente no decorrer desta 
unidade. O que é importante destacarmos nesse tópico é o fato de que as reflexões de 
Pêcheux sobre o discurso nascem dessa preocupação do autor com uma crítica aos 
procedimentos teóricos e analíticos das áreas de atuação às quais ele pertencia e, 
simultaneamente, de sua tentativa de formalização de uma teoria do discurso através de 
procedimentos automáticos.Vale destacar que naquele período a análise de conteúdo era 
predominante nas ciências sociais e que Pêcheux demonstrava uma profunda 
preocupação com os rumos que as análises de textos vinham tomando. Desse modo, a 
AAD69 visava “obter resultados empíricos, de maneira a propor uma alternativa teórica e 
metodológica à análise de conteúdo” (GADET; LEON; MALDIDIER; PLON, 2010, p. 55). Esse 
questionamento é, portanto, um modo de colocar questões ao campo da linguística e ao 
modo como ela se constituiu como uma ciência e como um estudo centrado no 
funcionamento da língua deixa questões não respondidas ao estudo dos textos, que não 
podia até então se constituir como um objeto científico, uma vez que o objeto da 
linguística é exclusivamente a língua.A inclinação pela qual a linguística constituiu sua 
cientificidade deixou descoberto questões sobre o texto, a partir de uma análise 
meramente conteudista, a partir de questões como: a) “O que quer dizer este texto?”; b) 
“Que significação contém este texto?” e c)"Em que o sentido deste texto difere daquele 
de tal outro texto?"(PÉCHEUX, 2010, p. 61). 
Nesse contexto, será de fundamental importância a mudança de perspectiva que o autor 
propõe deslocando aquilo que seria uma análise do texto por ele mesmo, sobretudo uma 
análise do texto como um produto acabado, e uma análise que viria a pensar o texto em 
seu processo de produção discursivo, chamando a atenção, então, para as 
“circunstâncias” dos discursos, que o autor chamará de Condições de Produção e que na 
teoria linguística da época era representada pelas noções de contexto ou situação 
(PÊCHEUX, 2010, p. 73). Foi nesse panorama que o texto passa a ser interpretado a partir 
da seguinte pergunta: “Como esse texto significa?”.Foi nesse panorama francês que 
ocorreu o gesto fundador da AD e é importante ressaltar ainda que essa disciplina assim 
constituída se institucionalizouna França de forma mais ou menos marginal, designando- 
se como uma disciplina de entremeio (relação que a AD estabelece com outras 
disciplinas, pois é a partir dessa relação que ela se constitui), ou seja, a AD fazia sua 
crítica às disciplinas já institucionalizadas (como já dito anteriormente), a partir de três 
campos de estudos: a linguística, o marxismo e a psicanálise. Trata-se de uma disciplina 
de entremeio porque 
5-140
E-Book - Apostila 
“[...] não acumula conhecimento meramente, pois discute 
seus pressupostos continuamente. [...]. [....]. Levando a 
sua crítica até o limite de mostrar que o recorte de 
constituição dessas disciplinas que constituem essa 
separação necessária e se constituem nela é o recorte 
que nega a existência desse outro objeto, o discurso, e 
que coloca como base a noção de materialidade, seja 
linguística seja histórica, fazendo aparecer uma outra 
noção de ideologia, possível de explicitação a partir da 
noção mesma de discurso e que não separa linguagem e 
sociedade na história. (ORLANDI, 2007, p. 23-25). 
q J 
Nesse sentido, surgem no interior da teoria discursiva uma forma singular de pensar a 
relação entre a língua, o sujeito, a história, produzindo um deslocamento que, segundo 
Orlandi (2007, p.23) "resulta sobretudo do trabalho produzido sobre a noção de ideologia”. 
Michel Pêcheux irá explorar melhor todas as suas reflexões sobre língua, discurso e 
ideologia em um segundo livro, esse mais conhecido e mais estudado no Brasil, intitulado 
“Les Vérités de la Palice”, traduzido para o português sob o título “Semântica e discurso: 
uma crítica à afirmação do óbvio”. 
No decorrer das reflexões aqui realizadas você terá oportunidade de acompanhar um 
pouco mais sobre o modo como a AD trabalha com todas essas noções. Agora que você já 
teve uma noção bem inicial das primeiras reflexões e trabalhos sobre a AD na França, 
vejamos de que modo a teoria é abordada no campo brasileiro. Segundo destaca Orlandi 
(2009) em nota na introdução à edição brasileira da obra Semântica e Discurso a Análise 
de Discurso no Brasil hoje se desenvolve sob diferentes perspectivas e autores que se 
diferenciam entre si. 
Se, nos anos de 1960, ano de surgimento de uma teoria discursiva na França, as 
referências teóricas que influenciaram a disciplina “giravam em torno do estruturalismo 
filosófico, da questão da ideologia e da leitura dos discursos” políticos (ORLANDI, 2012, 
p.14), tendo sobretudo como conjuntura política a crise das esquerdas, no Brasil a entrada 
da AD se dá sob outras bases. 
6-140
E-Book - Apostila 
No Brasil a entrada da perspectiva discursiva pecheuxtiana se dará no contexto dos anos 
70, cujo o cenário principal é a ditadura militar e é nesse contexto que a pesquisadora Eni 
Orlandi, em volta com as questões políticas e acadêmicos de um período ditatorial, entra 
em contato com a obra de Michel Pêcheux e, a partir da relação que estabelece com ela, 
abre um campo de estudos para pensar o discurso na academia brasileira, a partir de 
aulas e publicações nas quais apresenta noções e conceitos dessa disciplina. Segundo a 
pesquisadora, naquele período os linguistas brasileiros “não aceitam que uma forma de 
conhecimento materialista sobre a linguagem, que ignora o positivismo, se forme 
contraditoriamente no seu interior” (ORLANDI, 2012, p. 22). Vemos assim que a entrada da 
AD pecheuxtiana no Brasil, nos anos 70, não ocorreu sem resistências, anos 70, pois a 
pesquisadora e professora Eni Orlandi insiste, mesmo no contexto de uma ditadura que 
não dava trégua e por isso era preciso ensinar AD, pois nas suas palavras. Nas palavras da 
autora “Era preciso acenar que o sentido podia/pode ser outro” e que “[...] sujeito e 
sentido se constituem ao mesmo tempo” (ORLANDI, 2012, p. 17). 
Certamente , ao longo dos anos essa teoria se disseminou, produziu deslocamentos e a 
própria denominação Análise de Discurso so0freu seus deslocamentos e, no Brasil, se 
desenvolve na relação com outros autores que não Michel Pêcheux, como o filósofo 
Michel Foucault, Patrick Charaudeau, Dominique Maingueneau e outros que se alinham a 
uma perspectiva de discurso mais próxima do pensador Mikhail Bakhtin. 
Hoje, podemos afirmar que a AD no Brasil considera a Linguística nas suas análises, mas 
também a História, a Filosofia, a Sociologia e a Psicanálise e diferentes arquivos de 
análises que perpassam do verbal ao não verbal, do discurso político, ao dos sem-terra, 
grevistas, religiosos, jurídicos científico e cotidiano. 
O) 
SAIBA MAIS 
Para saber mais sobre os textos iniciais de Michel Pêcheux sugerimos que você 
leia o texto “Os fundamentos teóricos da “análise automática do discurso” de 
Michel Pêcheux, escrito por seu colega de pesquisa Paul Henry, no livro intitulado 
“Por uma análise automática do discurso”, organizado por Françoise Gadet e Tony 
Hak, outros dois membros do grupo que se reunia em torno do autor. Essa obra 
reúne alguns trechos do livro de Michel Pêcheux e alguns artigos de 
pesquisadores de seu grupo, que se dedicam a explicar e a demonstrar análises 
realizadas a partir do instrumento de análise automática elaborado por Pêcheux. 
Fonte: as autoras. 
INDICAÇÃO DE FILME 
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E-Book - Apostila 
A. + 
NÓS QUE AQUI ESTAMOS, 
“POR VOS ESPERAMOS 
** Um filme de Marcelo Mosagão. 
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E-Book - Apostila 
Nós que aqui estamos, por vós esperamos. 
Ano: 1999 
Sinopse: Um filme brasileiro, cujo título foi inspirado em uma placa instalada na 
frente de um cemitério, produzido pelo gênero documentário que, sob a direção 
de Marcelo Masagão, resume os principais acontecimentos ocorridos no mundo 
durante o século XX, abordando de forma ficcional, criativa e também fatos reais 
- retratos, filmes e outros registros audiovisuais, apresentam a biografia de 
personagens importantes e também homens e mulheres que, escondidos, nunca 
fizeram parte da história documentada, mas fi zeram história, para refletirmos não 
só esse século de grandes acontecimentos - duas grandes guerras, quebra da 
bolsa em 1929, Freud e o inconsciente, Einstein e sua física, Saussure e sua teoria 
da língua, Marx e a divisão de classes, a viagem para a lua, etc - mas também nos 
direciona a uma reflexão entre a linha tênue que separa a vida da morte. Um 
longa-metragem de encher os olhos e que vale a pena assistir. 
Comentário: Um filme interessante para fazer uma análise de discurso, aplicando 
não só os conceitos fundantes, mas também os desdobramentos da teoria, nos 
últimos anos. 
A J 
PRESSUPOSTOS TEÓRICOS: LÍNGUA E DISCURSO 
Iniciamos nosso percurso apresentando as principais questões que fundamentam as 
reflexões iniciais da teoria da AD, bem como, alguns teóricos franceses que contribuíram 
para a sua ancoragem na sociedade francesa de meados do século XX, sem deixar de 
mencionar também, os desdobramentos da teoria em solo brasileiro. Entretanto, é preciso 
avançar pelos conceitos teóricos específicos para que você comece a compreender tanto 
a metalinguagem, quanto a aplicabilidade da mesma em gestos de análises. 
Tomando o direcionamento de apresentação e definição dos conceitos que participam da 
sua fundação e ainda continuam nas pesquisas atuais, não poderia fugir de duas 
ferramentas básicas para a AD: a língua e o discurso. Por se tratar de termos que fazem 
parte de diferentes campos de saberes, para desenvolvê-los, retomamos autores que 
trabalham com a teoria e lidam diariamente com os mesmos, à luz da AD. 
Pêcheux (2009) reflete e ressignifica a concepção saussuriana de língua, enquanto noção 
de sistema que se opõe à fala. Saussure, ao desconsiderar a função da língua e considerar 
seu funcionamento, no desenvolvimento da teoria, deixou uma porta aberta para que ela 
fosse pensada de forma multifacetada. Assim, a língua é uma base em funcionamento, 
onde os processos discursivos (produção de efeitos de sentido) são construídos pelo 
animal humano socialque fala/escreve como se houvesse somente uma língua, mas ao 
considerá-la no entremeio de outro campos científicos - a história, por exemplo, percebe- 
se que ela é “[...] [...] o lugar material onde se realizam estes efeitos de sentido” (PÉCHEUX 
& FUCHS, 1997, p. 172). 
9-140
E-Book - Apostila 
Nesse sentido, a língua, apesar de ser uma só para o materialista, idealista ou 
revolucionário vai funcionar conforme a posição daquele que vai colocá-la em 
funcionamento e isso, justifica a nossa afirmativa, pautado em Pêcheux (2009) que tais 
personagens não possuem o mesmo discurso. Por isso, a língua é fluída, ou seja, ela está 
sempre em movimento, vai além das suas regras e não se deixa imobilizar (ORLANDI, 
2009). A língua não tem limites e muito menos se apresenta como um sistema perfeito e 
unidade fechada nela mesma e, por conta disso, ela está sempre sujeita a falhas e sempre 
afetada pela incompletude e pela exterioridade. Para a AD, a língua é opaca. 
A língua é a condição de possibilidade do discurso. Isto significa que este é diferente da 
língua, embora se utilize das suas leis internas para se concretizar e, nesse sentido, 
conforme salienta Orlandi (2001), etimologicamente, remete à ideia de curso, movimento, 
palavra em movimento nos (e pelos) sujeitos. É justamente desse aspecto que a AD vai se 
ocupar, enquanto proposta epistemológica que Pêcheux (1969) articula com as Ciências 
Sociais (História, Sociologia e Filosofia), a Linguística, a teoria do Discurso e a Psicanálise. 
Portanto, não devemos pensar o discurso enquanto mera transmissão de informações, 
mas como a produção de um efeito de sentidos entre os locutores, conforme salienta 
Pêcheux (1997) ou seja, como algo que se produz na relação entre os sujeitos e está para 
além de uma análise simplista da língua, vindo a ser definido como 
“[...] um processo social cuja especificidade está no tipo 
de materialidade dessa base, a materialidade linguística, 
já que a língua constitui o “lugar material" em que se 
realizam os efeitos de sentido. Daí que a forma da 
interpretação - leia-se: da relação dos sujeitos com os 
sentidos - é historicamente modalizada pela formação 
social em que se dá, e ideologicamente constituída 
(ORLANDI, 1996, p. 146-147). 
q J 
O que se depreende das afirmativas aqui elencadas é que o discurso é o objeto teórico, 
conceitual e operacional da AD, mas que para ser efetivado enquanto prática analítica 
dos pesquisadores, precisa estar atrelada a outros componentes como, por exemplo, a 
própria língua e está social e à história. E assim por diante, pois não é possível pensá-lo 
isolado. 
10 - 140
E-Book - Apostila 
EU INDICO 
Em tempos de eleição para a reitoria de uma universidade, há uma faixa encorajando 
estudantes e servidores a votarem. Um leitor afetado pelo conteúdo vai pensar: “o 
que essa faixa (texto) quer dizer?”. Um leitor com noções sobre o discurso, sabendo 
que a língua é opaca e está afetada pela exterioridade, vai analisar: “como esse 
discurso significa"? e pelas condições de produção do modo como a campanha está 
ocorrendo, ele vai refletir sobre a possibilidade de coação e ameaça, no processo 
eleitoral. Um efeito de “voto de cabresto”. 
Fonte: Orlandi (2001a). Adaptado pelas autoras. 
CONCEITOS FUNDAMENTAIS: CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DOS 
DISCURSOS, FORMAÇÕES IMAGINÁRIAS E SUJEITO DISCURSIVO 
E no mar do discurso é preciso avançar por outros conceitos para que sejamos capazes 
de compreender essa teoria e seus riscos dada às especificidades do modo 
pluridimensional em que ela foi pensada por seus fundadores. Por isso, se faz necessário 
compreendermos os conceitos básicos que compõem o rol da teoria da AD, pois esta, 
apesar das ressignificações que vão sendo reformuladas para atender às necessidades de 
análise de cada pesquisador, sempre há um retorno às questões fundantes da mesma e a 
partir dessa compreensão estabelece seu gesto de leitura e de análise. Vamos avançar e 
refletir sobre dois conceitos essenciais para iniciar um projeto pautado por esta teoria: as 
condições de produção do discurso (doravante CP), as formações imaginárias e o sujeito 
discursivo. 
Antes, porém, é preciso não esquecer de sempre lembrar que estamos lidando com uma 
teoria que produz sentidos (veja: produz) e eles não são fixos, mas oscila no (im)possível 
da língua e na posição daquele enuncia. Por isso, retomamos Pêcheux (1997) para sairmos 
da empiricismo que o termo CP nos leva a pensar como algo idêntico à situação, pois 
embora não se possa negar suas aproximações de similaridades conceituais, o autor se 
apropria do esquema informacional (modelo comunicativo) de Roman Jakobson - 
emissor, receptor, referente, canal, código e mensagem. Esta é pensada por Pêcheux, não 
mais como uma simples mensagem, ou seja, uma transmissão de informação de um 
emissor A, para um receptor B, mas como um discurso, ou seja, um “' efeito de sentidos' 
entre entre os pontos A e B” (PÊCHEUX, 1997, p. 82). 
11-140
E-Book - Apostila 
Dentro da teoria da AD, o que isso significa? Significa que as CP de um discurso (a 
produção de um efeito) incluem o contexto social, histórico e ideológico, ou seja, não é 
possível analisar somente as circunstâncias (a situação propriamente dita) de enunciação 
entre dois (ou mais) locutores físicos e em um contexto imediato permeado pelo aqui e o 
agora, mas como lugares que estão representados no processo discurso e denomina-se 
como formações imaginárias, ou seja, “[...] o lugar que A e B se atribuem cada um a sie ao 
outro, a imagem que eles fazem de seu próprio lugar e do lugar do outro” (PÉCHEUX, 1997, 
p. 82). Ademais, a CP constituem tais discursos, a partir de mecanismos de antecipação 
que coloca o locutor no lugar do outro, para ouvir suas próprias palavras, pois 
" 
Esse mecanismo regula a argumentação, de tal forma que 
o sujeito dirá de um modo, ou de outro, segundo o efeito 
que pensa produzir em seu ouvinte. Este espectro varia 
amplamente desde a previsão de um interlocutor que é 
seu cúmplice até aquele que, no outro extremo, ele prevê 
como adversário absoluto (ORLANDI, 2001 a, p 39). 
Nu J 
Resumidamente: 
As condições de produção implicam o que é material (a 
língua sujeita a equívoco e a historicidade), o que é 
institucional (a formação social, em sua ordem) e o 
mecanismo imaginário. Esse mecanismo produz imagens 
dos sujeitos, assim como do objeto do discurso, dentro de 
uma conjuntura sócio-histórica. Temos assim a imagem 
da posição sujeito locutor (quem sou eu para lhe falar 
assim?), mas também da posição do sujeito interlocutor 
(quem é ele para me falar assim, ou para que eu lhe fale 
assim?), e também a do objeto do discurso (do que estou 
lhe falando, do que ele me fala?) (ORLANDI, 2001 a. p. 40). 
q J 
12 - 140
E-Book - Apostila 
De acordo com a autora, todo esse mecanismo também vem permeado por relações de 
força constitutiva da própria estruturação da sociedade que demarcam nossos lugares no 
discurso, pois o discurso do lugar do professor e do aluno, do juiz e do réu produz efeitos 
de sentidos, hierarquicamente, com valores diferentes, ou seja, não necessariamente, 
mas, na maioria da vezes, os discursos do professor e do juiz valem mais do que o do 
aluno e do réu. 
Tais conceituações fazem parte das formações imaginárias e, reforçando, ela se 
caracteriza como algo que não trata de pessoas físicas em situações empíricas, mas que 
funcionam no discurso como se fosse projeções o qual subsidia os analistas do discurso a 
deslocar do lugar ocupados por pessoas físicas para a posição, ou seja, posição ocupadas 
por sujeitos discursivos. 
Falar sobre o sujeito do discurso também requer um deslocamento da concepção de 
indivíduo de carne e osso e dono do seu dizer. pois conforme os preceitos de Pêcheux 
(2009), para a AD, o indivíduo é interpelado em sujeito pela ideologia que com sua força 
material e sua capacidade de produzirevidências se torna a condição para constituir o 
indivíduo em sujeito. Portanto, é nesta relação que entre sujeito e ideologia que os 
sentidos vão sendo produzidos, metaforicamente, como um aceite involuntário de um 
recrutamento obrigatório. Sobre esta questão o autor nos diz que a ideologia “[...] 
'recruta' sujeitos entre os indivíduos e que ela os recruta a todos” (PÉCHEUX, 2009, p. 
144), como se fossem voluntários forçados, ou seja, como indivíduos que “[...] recebem 
como evidente o sentido do que ouvem e dizem, lêem ou escrevem [...] (PÉCHEUX, 2009, 
p. 144). 
N 
É nesse jogo discursivo que a ideologia atua e “[...] 
fornece as evidências pelas quais “todo mundo sabe' o 
que é um soldado, um operário, um patrão, uma fábrica, 
uma greve, etc. evidências que fazem com que uma 
palavra ou um enunciado 'queiram dizer o que realmente 
dizem" e que mascaram, assim, sob a “transparência da 
linguagem [...] (PÉCHEUX, 2009.p. 146). 
PENSANDO JUNTOS 
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E-Book - Apostila 
Pêcheux nos provoca ao desenvolver a teoria do sujeito do discurso, como um 
indivíduo interpelado. Você concorda que essa interpelação é sempre passiva? Será 
que em algum momento esse sujeito resiste? Pense sobre isso, a partir da situação 
política e econômica do Brasil e os movimentos atuais da classe trabalhadora, contra 
a reforma da previdência. 
Fonte: as autoras. 
CONCEITOS FUNDAMENTAIS: FORMAÇÃO IDEOLÓGICA E FORMAÇÃO 
DISCURSIVA 
Na aula anterior, foram apresentadas as reflexões sobre as CP, formações imaginárias e o 
sujeito discursivo enquanto componentes básicos pertencentes ao arcabouço dos 
conceitos fundamentais e tradicionais da AD. Cabe salientar que, embora os mesmos 
estejam sendo apresentados em tópicos segmentados e os analistas tendem a 
desenvolver suas análises, a partir de gestos que priorizam alguns desses componentes, 
embora todos são considerados no momento do desenvolvimento analítico, porque estão 
imbricados um no outro. Nessa articulação, acrescentamos, nesse momento, a Formação 
Ideológica (FI) e a Formação Discursiva (FD) para compor o quadro teórico da disciplina. 
Para iniciar, retomamos o assujeitamento do indivíduo para lembrar que é pela ideologia 
que ele é colocado na posição de um “sempre-já-sujeito” (PÉCHEUX, 2009, p. 140), pois 
essa posição ocorre por meio da interpelação da ideologia que, em outras palavras 
a 
“[...] consiste em fazer com que cada indivíduo (sem que 
ele tome consciência disso, mas, ao contrário, tenha a 
impressão de que é senhor de sua própria vontade) seja 
levado a ocupar seu lugar em um dos grupos ou classes 
de uma determinada formação social (BRANDÃO, 2004, p. 
47). 
q J 
14 - 140
E-Book - Apostila 
No entanto, para ocupar tais lugares determinados, sem ter consciência de que é 
constantemente interpelado a fazer isso naturalmente, é preciso que haja a reprodução 
dessa naturalização, garantida pelas instituições públicas, privadas, do terceiro setor 
(filantrópicas/ONGS) e quarto setor (organizações sem fins lucrativos e que tem por 
objetivo gerar impacto positivo). 
Momento que é preciso pensar por meio de Althusser (2008) para dizer que tais 
instituições são subdivididas em: 
Aparelhos Ideológicos de Estado (AIEs) 
Escola, igreja, associação de bairro, partido político, sindicatos, disseminadores de 
informações, etc). 
Aparelho Repressor do Estado (ARE) 
Forças armadas, polícias e prisões. 
A junção dos AIEs e do ARE garantem a reprodução das relações de produção, 
respectivamente, pela ideologia e pela repressão (não são estanques. Há ideologia no ARE 
e repressão sutil nos AlEs). Pêcheux (2009), a partir da releitura dessas concepções 
althusserianas, estabelece o todo complexo das formações ideológicas, a partir da 
seguinte tese sobre o sentido: 
“[...] o sentido de uma palavra, de uma expressão, de uma 
proposição etc., não existe “em si mesmo” (isto é, em sua 
sua relação transparente com a literalidade do 
significante), mas, ao contrário, é determinado pelas 
posições ideológicas que estão em jogo no processo 
sócio-histórico no qual as palavras, expressões e 
proposições são produzidas, isto é, reproduzidas 
(PÉCHEUX, 2009, p. 146). 
15 - 140
E-Book - Apostila 
E o autor, nas suas elucubrações, reafirma a sua teoria, resumindo a mesma tese, 
repetindo que "[...] as palavras, expressões, proposições etc., mudam de sentido segundo 
as posições sustentadas por aqueles que as empregam” (PÉCHEUX, 2009, p. 146). Ou seja, 
tais posições, que são ocupadas pelos sujeitos que, ao serem conduzidos sem se darem 
conta, produzem sentido em referência às Fls. A base de compreensão da FI está em 
Pêcheux & Fuchs (1997), especificamente, quando afirmam que as relações de classes se 
caracterizam pelo afrontamento de posições no interior dos AIEs, que colocam em jogo, 
as práticas associadas aos lugares ocupados nas referidas posições que não 
caracterizam o jeito de ser de cada indivíduo. É a ideologia se materializando na 
explicação que chega à tese de que os indivíduos, interpelados em sujeitos, se organizam 
em formações que mantêm entre si tipos de relações de antagonismo, aliança ou 
dominação. 
É a partir desse momento, que os autores definem a FI como “[...] um conjunto complexo 
de atitudes e de representações que não são nem 'individuais' nem 'universais' mas se 
relacionam mais ou menos diretamente a posições de classes em conflito umas com as 
outras” (PÉCHEUX & FUCHS, 1997, p. 166). Momento em que se faz necessário afirmar que 
tais Fls comportam, como um de seus componentes, uma (ou várias) formações 
discursivas (FD) que se define como “[...] aquilo que, numa formação ideológica dada, isto 
é, a partir de uma posição dada numa conjuntura dada, determinada pelo estado de luta 
classes, determina o que pode e deve ser dito (articulado sob a forma de uma arenga, de 
um sermão, de um panfleto, de uma exposição, de um programa, etc) (PÉCHEUX, 2009, p. 
147). 
Voltemos com o intuito de afirmar que a FD intervêm na FI, ou seja, elas estão intricadas 
e, nesse caso, as palavras, expressões e proposições recebem o sentido da FD que se 
deriva das CP do discurso e que representa, na e pela linguagem, as Fls correspondentes. 
Por meio de Pêcheux (1997) é preciso mencionar, dentro de tais conceitos que são os 
centros das reflexões da AD, que a teoria discursiva não permaneceu estanque (e ainda 
continua em movimento mantendo o legado de Pêcheux de que é preciso ousar se 
revoltar) e, em se tratando de FD, não poderia deixar de salientar que ela não é um espaço 
estrutural fechado e homogêneo (e isso justifica as FDs no plural), ou seja, ela é invadida 
por elementos que vêm de outras FDs, fornecendo-lhes evidências discursivas pelo pré- 
construído, ou seja, “[...] “aquilo que todo mundo sabe” [...]" (PÉCHEUX, 2009, p. 158) e não 
questiona por ser universal e evidente em um contexto situacional. Em outras palavra é a 
matéria prima do sujeito que enuncia por meio de uma FD dominante e é nesse espaço 
que corresponde a "[...] 'um sempre-já-aí' da interpelação ideológica que fornece-impõe a 
'realidade' e seu 'sentido' sob a forma de universalidade (o 'mundo das coisas)” 
(PÉCHEUX, 2009, p. 151) que entraremos no campo de interdiscurso. 
E) atenção 
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E-Book - Apostila 
A teoria da AD funciona por meio de um objeto de análise. Observe os 
enunciados: 
1) Sem-terras invadem fazenda usada em suposto esquema em Ribeirão. 
(jornal de grande circulação). 
2) Sem-terras ocupam área em Santa Catarina. (site do MST). 
Análise: Superficialmente os dois enunciados tratam da ação do MST. Porém 
os efeitos de sentidos produzidos são diferentes em “invadir” e “ocupar”. Nas 
CP do enunciado “invadem”, o sujeito, inconscientemente, é interpelado a 
ocupar uma posição que não se identifica com a FD (o que pode e deve ser 
dito) sobre o MST e produz um efeito que negativiza o movimento como 
invasores que atacam a propriedade privada.No segundo enunciado, o 
sujeito, por estar afetado pela FD do MST, pois escreve para o site e, 
portanto, pode e deve apoiá-lo, enuncia “ocupar”, produzindo um efeito de 
aceitação e defesa da ação do movimento, diante de áreas improdutivas, 
justificando a ação de ocupar (e não invadir). 
Fonte: Fernandes (2005), adaptado pelas autoras. 
INDICAÇÃO NA WEB 
Apresentação: para que você possa ampliar seus conhecimentos sobre a AD, 
sugerimos a Enciclopédia Audiovisual de AD. produzida pelo Laboratório Arquivos 
do Sujeito (LAS), sob a coordenação da Prof” Dr" Bethania Mariani, anexo à 
Universidade Federal Fluminense (UFF). 
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E-Book - Apostila 
AULA 5: CONCEITOS FUNDAMENTAIS: INTERDISCURSO, 
INTRADISCURSO E MEMÓRIA DISCURSIVA 
Na reflexão desenvolvida sobre Fis e FDs, aprendemos que nas CP de um discurso e a 
partir da posição ocupada pelo sujeito que enuncia, a(s) FD(s) determinam o que esse 
sujeito pode e deve dizer e que ela apresenta em seu interior diferentes discursos. Fato 
que nos leva a pensar que toda FD “[...] circunscreve a zona do dizível legítimo definindo o 
conjunto dos enunciados possíveis de serem atualizados em uma dada enunciação a 
partir de um lugar determinado” (BRANDÃO, 2004, p. 93). É nessas possibilidades de 
entrelaçamento de diferentes discursos produzidos em torno de uma temática que entra 
o interdiscurso que, para a AD, significa a “presença de diferentes discursos, oriundos de 
diferentes lugares sociais, entrelaçados no interior de uma formação discursiva” 
(FERNANDES, 2005, p.61). 
Esses outros discursos que vão permeando o dizer do sujeito em uma posição dada, 
segundo Orlandi (2001 a) sinaliza que não somos donos do que estamos enunciando, ou 
seja, ele não é uma propriedade particular e sempre é retomado por meio de já-ditos em 
outro lugar e que vão sendo ressignificados nas CP e na FD que vai autorizar esse sujeito 
a dizer uma coisa (e não outra). Tais reflexões sobre o interdiscurso foram bebidas na 
fonte teórica de Michel Pêcheux, especificamente quando ele afirma que 
“f..] o próprio de toda formação discursiva é dissimular, 
na transparência do sentido que nela se forma, a 
objetividade material contraditória do interdiscurso, que 
determina essa formação discursiva como tal, 
objetividade material essa que reside no fato de que “algo 
fala” [.] sempre “antes em outro lugar e 
independentemente”, isto é sob a dominação do 
complexo das formações ideológicas (PÉCHEUX, 2009, p. 
149). 
NU J 
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E-Book - Apostila 
Retomando Orlandi (2001 b), o interdiscurso está dentro do plano de constituição dos 
sentidos e se caracteriza como irrepresentável, mas capaz de calçar o que pode e deve 
ser dito por um sujeito determinado pelo social e pela história, pois é pelo/no 
interdiscurso que o sujeito é afetado pelo mundo e seus discursos, por meio de um plano 
de formulação dos sentidos, ou seja, pelo fio de um discurso interior apresentado pelo 
sujeito que, nesse caso, denomina-se intradiscurso. Dessa forma 
“[...] pode-se bem dizer que o intradiscurso, enquanto “fio 
do discurso” do sujeito, é a rigor, um efeito do 
interdiscurso sobre si mesmo, uma “interioridade” 
inteiramente determinada como tal “do exterior”. [...] 
diremos que a forma-sujeito (pela qual o “sujeito do 
discurso” se identifica com a formação discursiva que o 
constitui) tende a absorver-esquecer o interdiscurso no 
intradiscurso. 
[...] (PÉCHEUX, 2009, p. 154). 
A J 
O sujeito, dentro dos limites da FD que o domina, o que equivale a dizer que há sentidos 
que jamais poderão ser produzidos, se utiliza de uma rede de discursos disponíveis 
(interdiscurso sobre um determinado tema e o atualiza (intradiscurso) na sua formulação. 
Resumindo: o interdiscurso é a apropriação de discursos já-ditos sobre um determinado 
assunto e que se ressignificam como intradiscurso em sequências discursivas enunciados 
pelo sujeito, em uma FD determinada. Nesse ponto, nos valemos de Indursky (2011) para 
tratarmos da noção de repetibilidade como ponto de observação de que os discursos pré- 
existem ao discurso do sujeito que enuncia (intradiscurso) que. sob o efeito do 
esquecimento dessa pré-existência, pensa ser a origem do que está sendo dito, mas, 
como afirma Brandão (2004), ele está simplesmente retomando, redefinindo, 
reatualizando, transformando, ou mesmo, esquecendo, rompendo e denegando um já- 
dito. 
É nesse jogo discursivo em que a repetibilidade se efetiva que podemos trazer para a 
discussão, mais um conceito denominado como memória discursiva. Diante da 
complexidade da teoria discursiva, nos adiantamos, por meio de Pêcheux (1999) que não 
estamos tratando de uma memória individual e psicologista (lembrar ou recordar de 
alguém, por exemplo), mas de uma memória social que, na produção discursiva faz 
circular formulações alhures. 
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E-Book - Apostila 
Dessa forma, a memória discursiva se configura “[...] face a um texto que surge como 
acontecimento a ler” sob uma ação de restabelecimento de “implícitos”, “remissões”, 
“elementos citados e relatados”, etc .E o autor diante dessa reflexão, lança um 
questionamento sobre onde localizar tais implícitos, uma vez que eles “estão presentes 
por sua ausência”, na leitura de uma sequência (PÉCHEUX, 1999, p. 52). 
É nesse processo, onde ocorrem diferentes funcionamentos discursivos de retomada/ 
repetição/regularização e efeitos de paráfrase que podem tanto manter o mesmo, como 
desmoroná-lo. A memória discursiva, diante de um acontecimento novo, se configura “[...] 
sob o 'mesmo” da materialidade da palavra abre-se então o jogo da metáfora, como outra 
possibilidade de articulação discursiva... Uma espécie de repetição vertical, em que 
própria memória esburaca-se, perfura-se antes de desdobrar- se em paráfrase” 
(PÊCHEUX, 1999, p. 53). O autor, apresenta a memória discursiva a partir da concepção de 
que ela não é plena e muito menos homogênea, como um espaço que se desdobra e se 
desloca, ou seja, não há memória sem exterior. 
QUADRO RESUMO 
Embora pareçam sinônimos, o interdiscurso e a memória discursiva são conceitos que 
se diferenciam. O interdiscurso significa tudo o que já foi dito sobre um determinado 
assunto, comportando todos os sentidos reunidos (Ex: tudo o que já foi dito sobre o 
tema “tortura”, durante o regime político militar brasileiro). A memória discursiva é a 
existência histórica de enunciados inscritos no interior de uma FD que produzem 
somente os sentidos autorizados ou esquecidos pela posição ocupada pelo sujeito 
(Ex: quem vai discursivizar sobre a “tortura” é um general que fez parte do exército 
ou um cidadão que se opôs ao regime, foi preso e torturado). O que eles estão 
autorizados a dizer e a não dizer? 
Fonte: Indursky (2011). Adaptado pelas autoras. 
APROFUNDANDO 
Abordaremos a respeito das condições de produção dos discursos: língua, formações 
imaginárias e interdiscurso. Pêcheux (1997, p. 83) elabora um esquema para explicar as 
formações imaginárias, a partir do modelo comunicativo de Roman Jakobson gue tem 
como propósito a transmissão de uma mensagem. 
20 - 140
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No entanto, Pêcheux propõe substituir a mensagem pelo discurso, afirmando não se 
tratar da transmissão de informação entre A e B mas, da produção de efeitos de sentidos 
entre Ae B. 
Observe o esquema apresentado no quadro: 
Figura 1 - Quadro das Formações Imaginárias 
Pa 
Expressão que des- Questão implícita suja «res- | 
igna as formações | Significação da expressão posta» subentende a formação 
imaginárias imaginária correspondente. 
Imagem do lugar de A parao | «Quem sou eu para lhe falar 
x ( la (A) sujeito colocado em À assim?» 
la (Bj Imagem do lugar de A parao | «Quem é ele para que eu lhe 
sujeito colocado em B fale assim» 
Imagem do lugar de B parao | «Quem sou eu para que ele me 
& ( lb (B) sujeito colocado em B fale assim?» 
Ib (A) Imagem do lugar de A parao | «Quem é ele paraque ele me 
sujeito colocado em B fale assim» 
A ( la (Rj «Ponto de vista» de A sobre R | «De que lhe falo assim» 
a ( Io (R) «Ponto de vista» de Bsobre R | «De que ele me fala assim» 
Fonte: Pêcheux (1997, p. 82) 
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E-Book - Apostila 
O discurso, a partir do quadro de formações imaginárias, produz condições para o emissor 
antecipar as representações que faz dos receptores de seu discurso pelo mecanismo de 
antecipação, pois é por meio dele que se compreende quais são as formações imaginárias 
que estão em jogo, em um determinado texto e também qual é a relação estabelecidas 
com discursos anteriores, ou seja, com o interdiscurso.Os sentidos produzidos em um 
texto só poderão ser compreendidos quando desloca da análise do seu conteúdo e da 
visão de língua homogênea e transparente, pois essa, para a AD, é heterogênea e um 
mesmo conteúdo pode produzir diferentes efeitos de sentidos, conforme suas CP, ou 
seja, usamos a língua para produzir sentidos.No que concerne a textualidades 
contemporâneas como hashtags, por exemplo, percebemos que elas se constituem de 
diferentes materialidades, pois são textos híbridos que ocorrem a partir do imbricamento 
de diferentes materialidades significantes como imagens, escrita e sons. Outro fator que 
determina as CP das textualidades contemporâneas é o fato de serem digitais ou 
circularem na internet (em rede). 
Ao analisar a hashtags iilstoÉMachismo que circulou no Twitter e no Facebook, durante o 
processo de impeachment da Presidenta Dilma Rousseff, consideramos que ela funcionou 
como resposta aos discursos machistas muitas vezes naturalizados em capas.Um 
exemplo foi da revista semanal brasileira IstoÉ, cuja edição de 2 de abril de 2016, trazia 
em sua capa, uma imagem “enfurecida” de Dilma com o seguinte título: “As explosões 
nervosas da presidente” e, no seu interior, a matéria referente à capa era intitulada “Uma 
presidente fora de si”. Ao observar as CP imediatas da produção/circulação da hashtag 
ttlstoÉMachismo, observamos que a mesma foi produzida no mesmo dia do lançamento 
da revista, como forma de reação contrária à publicação que orienta para um sentido de 
que a Presidenta estaria perdendo o controle, na dimensão psicológica mesmo, diante da 
instalação de um processo de impeachment contra ela. 
Pensando as relações imaginárias pelas CP sócio-histórica e ideológicas: a imagem que A 
(IstoÉ) faz de B (leitor) é a imagem que a revista atribui a seus leitores e qual a imagem 
ela considera que seus leitores atribuem ao referente, no caso, Dilma Rousseff e, nesse 
caso, por se tratar de um veículo de imprensa, destinado a “informar”, o foco recai no 
referente, sendo importante compreender os lugares de A e B na sua relação com o 
processo de antecipação.Portanto, no jogo de formações imaginárias o elemento 
dominante não recai sobre o emissor ou o receptor, mas sim sobre o referente, ou seja, A 
antecipa a imagem que B faz de R decidindo “de que lhe fala assim”. Desse modo, À opera 
com uma antecipação da imagem de B e da imagem que B faz de R, o que lhe permite 
falar assim de R (no caso de Dilma Rousseff).A relação com o interdiscurso está no fato de 
o discurso da psicologia, psiquiatria, atravessar o discurso jornalístico, pois no nível da 
formulação o sujeito escolhe operar com o discurso médico com vistas a produzir uma 
análise das condições psicológicas de Dilma, usando um discurso de autoridade, por meio 
de uma evidência produzida no texto, ou seja, de que “todo mundo sabe que Dilma 
Rousseff está descontrolada”. 
É na hashtag *lstoÉMachismo e nas CP de textos digitais em rede que se operam com o 
excesso da sua circulação, atingindo não só os supostos leitores da revista IstoÉ, mas 
também uma gama heterogênea de sujeitos que vão produzir outras relações imaginárias, 
de modo que a imagem construída para Dilma Roussef, sofrerá deslizamentos de sentidos 
e dará, ao mesmo tempo, uma imagem da revista materializada na hashtag 
fiIstoÉMachismo. 
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E-Book - Apostila 
PÊCHEUX, Michel; FUCHS, Catherine. A propósito da análise automática do discurso: 
atualização e perspectivas In: GADET, Françoise; HAK, Tony (Orgs.). Por uma análise 
automática do discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. Tradução de Bethânia 
S. Mariani et tal. 3. ed., Campinas: Editora da Unicamp, 1997, p. 159-250. 
Novos Desafios 
Faremos agora um retorno pelo percurso que desenvolvemos com o objetivo de situar 
você e também motivá-lo a um mergulho um pouco mais profundo sobre este campo de 
saber que tem como objetivo refletir sobre os acontecimentos sociais, por meio do 
discurso. Afinal, como o grande mestre Michel Pêcheux deixou no seu legado teórico, as 
mesmas palavras e expressões podem ter o mesmo (ou outros) sentido(s), haja vista tudo 
vai depender da posição-sujeito daquele que enuncia. Sendo assim, precisamos investir 
em uma relação menos ingênua com a língua e seus desdobramentos/funcionamentos 
nas nossas relações sociais para compreendermos além que está exposto e por vieses já 
cristalizados que induzem a interpretar de uma forma única, geralmente com o intuito 
manter as coisas devidamente encaixadas.Por isso, reiteramos a importância do acesso à 
teoria da AD para que sejamos capazes de sair do mesmo, mediante outros gestos de 
escuta e leitura, amparados por dispositivos teóricos específicos. Por isso, na aula 1, 
apresentamos a você a base de fundação da teoria no turbulento contexto francês da 
década de 60 e seus principais teóricos, especialmente, o inquieto filósofo e apaixonado 
por máquinas e questões da língua Michel Pêcheux. Inquietude que atingiu também 
pesquisadores brasileiros que se interessaram pela AD, como a linguista Eni Orlandi e 
tantos outros não mediram esforços para deixarem suas marcas, apesar de um regime 
que calava a voz daqueles que ousavam se manifestar. 
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E-Book - Apostila 
E assim prosseguimos, estabelecendo recortes para atender aos limites de páginas pré- 
determinadas, tal como fizemos na aula 2, ao abordar como a língua é teorizada na AD, ou 
seja, com a qualidade (e não defeito) de não ser transparente, pois é na sua opacidade 
que o (des)limite é ultrapassado, em dobraduras que a fazem funcionar produzindo 
sentidos entre os locutores e para sermos analistas competentes é preciso ousar pelas 
trilhas teóricas da AD e refl etir, assim como ocorreu na aula 3, sobre conceitos fundantes 
como as CP, para entender que os fatos ocorrem sempre mediados por questões histórica 
e sociais (e não sem motivo) que nos obriga a compreender, atrelados ao lugares (não 
físicos) compreendido pelas Fls que o indivíduo (sempre, mas não sem resistência) 
interpelado em sujeito do seu discurso deve ocupar, ao enunciar palavras sempre fi liado 
a um conjunto de FDs que, projetada pela FI dadas, vão determinar o que ele pode e deve 
dizer, conforme estudamos na aula 4.Mas o discurso vai além do que enunciamos aqui e 
agora, por meio de uma posição-sujeito subordinada às CP e FDs, pois dentro desse 
quadro básico fundante que alicerça a teoria do discurso, há também o interdiscurso, 
conforme vimos na aula 5, que signifi ca um conjunto de dizeres já ditos anteriormente, 
sobre um determinado tema como, por exemplo, violência e suas causas e 
consequências. Diante desse tema, coloca-se tudo o que já foi dito na pauta, mas é o 
sujeito que vai elencar, no intradiscurso (na sua formulação), conforme a sua posição e a 
FD que o domina o que vai ser por ele repetido ou mesmo esquecido e é nessa 
repetibilidade que a memória discursiva atua e se confi rma na fato de que todo dizer já 
foi dito. 
VAMOS PRATICAR? 
Chegou o momento de testar o conhecimento adquirido até aqui! Para isso, por favor, 
participe da autoatividade que preparamos especialmente para você. São apenas 4 
questões 
4. A Análise de Discurso (AD) é uma 
disciplina que se originou a partir de 
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uma relaçãoconsiderada como de 
entremeio e tem o discurso como seu 
objeto de análise. Sobre os aspectos 
fundantes da AD, assinale a alternativa 
correta. 
a) A A D é uma disciplina que se originou no contexto social e 
histórico francês da década de 60, do século passado, a partir de 
um grupo de pesquisadores entre os quais, apresentamos Michel 
Pêcheux. 
Resposta Correta: 
Muito bem! Está bem atento aos estudos! 
b) A obra denominada Análise Automática do Discurso, de 1969 
(AAD/69) de Michel Pêcheux, tinha como propósito implementar 
análises de texto, a partir de uma metodologia conteúdista. 
Resposta Incorreta: 
Continue tentando! 
c) Diante de um texto, perguntas como: “que quer dizer este 
texto?"“que significação contém este texto?” e “em que o sentido 
deste texto difere daquele outro texto?” são elementares para se 
fazer uma análise discursiva. 
Resposta Incorreta: 
Continue tentando! 
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d) Afirmar que a AD é uma disciplina de entremeio significa que ela 
O se estabelece a partir de uma relação crítica com outras disciplinas, 
entre as quais, as mais importantes são: matemática, gastronomia 
e oceanografia. 
Resposta Incorreta: 
Continue tentando! 
e) A À D também é estudada no Brasil e a entrada da teoria no país 
(e) ocorreu no início da década de 70, em plena ditadura militar, por 
meio da promulgação do Ato Institucional 5 (Al-5) do General Costa 
e Silva. 
Resposta Incorreta: 
Continue tentando! 
2. À AD é uma disciplina que se 
configura por meio de pressupostos 
teóricos e fundantes específicos e é 
por deles que o analista desenvolve 
seu gesto de análise ao se utilizar de 
uma metalinguagem específica da 
teoria discursiva. Leia as assertivas e 
assinale a alternativa correta que se 
26 - 140
E-Book - Apostila 
refere tanto aos pressupostos 
teóricos, quanto aos conceitos 
fundantes. 
i Michel Pêcheux elege a língua como um componente 
essencial da teoria discursiva, concebendo-a como 
uma base de funcionamento que vai além dela 
mesma, por ser afetada pela incompletude e 
exterioridade. 
il As CP, por ser um conceito fundamental para a AD, 
vai além da mera situação/circunstância 
propriamente dita a partir, da inclusão de aspectos 
sociais, históricos e ideológicos no processo de 
análise. 
iii Pensar sobre as formações imaginárias significa 
ultrapassar os lugares físicos ocupados por locutores 
para chegar a lugares discursivos ocupados pelo 
mesmo indivíduo que ora é professor, ora é pai ou, até 
mesmo, aluno. 
iv. Um analista de discurso somente desenvolve 
pesquisas a partir de um indivíduo consciente e dono 
do seu dizer, ou seja, pessoas com deficiência mental 
são desconsideradas da teoria discursiva. 
(a) a) As assertivas |, Il, Ill e IV estão corretas. 
Resposta Incorreta: 
Continue tentando! 
Q b) As assertivas |, Il e Ill estão corretas. 
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Resposta Correta: 
Muito bem! Está bem atento aos estudos! 
c) As assertivas Il, Ille IV estão corretas. 
Resposta Incorreta: 
Continue tentando! 
d) As assertivas | e Il estão corretas. 
Resposta Incorreta: 
Continue tentando! 
e) As assertivas Ill e IV estão corretas. 
Resposta Incorreta: 
Continue tentando! 
3. Pêcheux (2009, p. 147) ao afirmar 
que a Formação discursiva (FD) é “[...] 
aquilo que numa formação ideológica 
28 - 140
E-Book - Apostila 
dada, isto é, a partir de uma posição 
dada numa conjuntura dada, 
determinada pelo estado de luta de 
classes, determina o que pode e deve 
ser dito (articulado sob a forma de uma 
arenga, de um sermão, de um panfleto, 
de uma exposição, de um programa 
etc”, apresenta uma das ferramentas 
de análise que compõem os conceitos 
fundamentais da AD. Sobre a FD e seus 
efeitos em uma análise, leia as 
assertivas, observe se é verdadeira ou 
falsa e assinale a alternativa correta. 
i Já que a FD determina o que pode e deve dizer. 
podemos afirmar que um indivíduo, em uma posição- 
sujeito de religioso e afetado pela FD religiosa que 
defende a vida em qualquer circunstância, não pode 
defender o aborto diante dos fiéis adeptos de sua 
religião. 
il Já que a FD determina o que pode e deve dizer, 
podemos afirmar que um indivíduo, em uma posição- 
sujeito de professor e afetado pela responsabilidade 
de ensinar todo o conteúdo do currículo pode 
incentivar os alunos a faltarem às aulas e não 
estudarem para prova. 
iii A firmar que uma Fl comporta uma ou várias FD(s), 
compreende-se que o sujeito ao discursivizar sobre 
um tema vai produzindo efeitos de sentidos que não 
se pautam somente uma FD, pois ela é invadida por 
outros discursos que justificam sua heterogeneidade. 
iv. Quando um membro do MST diz que vai invadir uma 
área de terra com plantação de soja, por ela ser 
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extensa e pertencente a um único dono, é cabível 
uma análise que se justifica no fato de que o sujeito 
está posicionado e afetado por uma FD favorável ao 
movimento. 
(a) a) As assertivas | e Il são verdadeiras e as Ille IV são falsas. 
Resposta Incorreta: 
Continue tentando! 
Q b) As assertivas |, Il são falsas e as Ille IV são verdadeiras. 
Resposta Incorreta: 
Continue tentando! 
OQ c) As assertivas | e Ill são verdadeiras e as Ile IV são falsas. 
Resposta Correta: 
Muito bem! Está bem atento aos estudos! 
OQ d) As assertivas | e IV são falsas e as Ile Ill são verdadeiras. 
Resposta Incorreta: 
Continue tentando! 
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5) e) As assertivas |, Ile Ill são falsas e a IV é verdadeira. 
Resposta Incorreta: 
Continue tentando! 
4. O analista de discurso ao 
desenvolver uma análise amparada 
pelo conceito fundamental da memória 
discursiva, precisa antes estabelecer 
diferenças conceituais e de efeito 
prático entre interdiscurso e memória. 
Sobre os dois conceitos apresentados, 
bem como, suas diferenças e 
similaridade, leia as assertivas, 
complete as lacunas e assinale a 
alternativa correta. 
i 0/a ln pode ser considerado/a 
como um mecanismo de análise da AD que significa 
um conjunto de enunciados possíveis (já-ditos) que 
podem ser atualizado/as. 
ii D izer que algo sempre fala em outro lugar e 
independentemente é uma característica do/da 
-000-—-—nnn———— que se confi gura para a AD 
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como algo irrepresentável. 
lil 2. no processo de análise 
significa retomar, ressignificar ou mesmo esquecer e 
apagar dizeres já-ditos no interior de uma FD que vai 
determinar a posição-sujeito. 
iv. Um a das características da memória discursiva é que 
elanãoé 
(a) a) Interdiscurso, interdiscursiva, memória discursiva, heterogênea. 
Resposta Incorreta: 
Continue tentando! 
[b) b) Memória discursiva, interdiscursiva, memória discursiva, 
homogênea. 
Resposta Incorreta: 
Continue tentando! 
[C) c) Interdiscurso, memória discursiva, memória discursiva, 
homogênea. 
Resposta Incorreta: 
Continue tentando! 
OQ d) Interdiscurso, interdiscursiva, memória discursiva, homogênea. 
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Resposta Correta: 
Muito bem! Está bem atento aos estudos! 
(e) €) Interdiscurso, memória discursiva, memória discursiva, 
heterogênea. 
Resposta Incorreta: 
Continue tentando! 
REFERÊNCIAS 
ALTHUSSER, Louis. Sobre a reprodução. Tradução Guilherme João de Freitas Teixeira. 2. 
ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. 
BRANDÃO, Helena Hathsue Nagamine. Introdução à análise do discurso. 2º ed. rev. 
Campinas, Editora da Unicamp, 2004. 
FERNANDES, Claudemar Alves. Análise do Discurso: refil exões introdutórias. Goiânia: 
trilhas urbanas, 2005. 
GADET, Françoise; LÉON, Jacqueline; MALDIDIER, Denise; PLON, Michel. Apresentação da 
conjuntura em linguística, em psicanálise e em informática aplicada ao estudo do texto na 
França, em 1969. In: GADET, Françoise; HAK, Tony (Orgs.). Por uma análise automática 
do discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. Tradução de Bethânia S. Mariani 
et tal. 3. ed., Campinas:Editora da Unicamp, 2010, p. 39-58 
HENRY, Paul. Os fundamentos teóricos da “análise automática do discurso” de Michel 
Pêcheux (1969). In: GADET, Françoise; HAK, Tony (Orgs.). Por uma análise automática do 
discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. Tradução de Bethânia S. Mariani et 
tal. 3. ed.. Campinas: Editora da Unicamp, 2010, p. 11-38 
INDURSKY, Freda. A memória na cena do discurso. In: INDURSKY, Freda; MITTMANN, 
Solange; FERREIRA, Maria Cristina Leandro (Orgs.). Memória e história na/da análise do 
discurso. Campinas, SP: Mercado das Letras, 2011, p. 67-89. 
ADRIANO. Juliana. Sem Terra ocupam área em Santa Catarina. 
Disponível em: <http:/www.mst.org.br/2017/05/21/sem-terra-ocupam-area-em-santa-c 
atarina.html.> Acesso em 26 maio 2017. 
MALDIDIER, Denise. A inquietação do discurso: ler Michel Pêcheux hoje. Tradução de Eni 
Puccinelli Orlandi. Campinas, SP: Pontes, 20083. 
33-140
E-Book - Apostila 
ORLANDI, Eni P. Interpretação: autoria, leitura e efeitos do trabalho simbólica Petrópolis, 
RJ: Vozes, 1996. 
ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise de Discurso: princípios & procedimentos. Campinas, SP: 
Pontes, 2001a. 
ORLANDI, Eni Puccinelli. Discurso e texto: formação e circulação de sentidos. Campinas: 
Pontes, 2001b. 
ORLANDI, Eni Puccinelli. Interpretação, autoria, leitura e efeitos do trabalho 
simbólico. 5. ed.. Campinas, SP: Pontes, 2007. 
ORLANDI, Eni Puccinelli. Nota à edição brasileira, uma questão de coragem: a coragem da 
questão. In: PÉCHEUX, Michel. Semântica e discurso: uma crítica à afi rmação do óbvio. 
Tradução de Eni Pulcinelli Orlandi... et tal. 4º. Ed. Campinas: Editora da Unicamp, 2009, p. 
7-8. 
ORLANDI, Eni Puccinelli. Língua brasileira e outras histórias: discurso sobra a língua e o 
ensino no Brasil. Campinas, SP: Editora RG, 2009. 
ORLANDI, Eni Puccinelli. Discurso em análise: sujeito, sentido e ideologia. Campinas, SP: 
Pontes, 2012. 
PÊCHEUX, Michel; FUCHS, Catherine. A propósito da análise automática do discurso: 
atualização e perspectivas In: GADET, Françoise; HAK, Tony (Orgs.). Por uma análise 
automática do discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. Tradução de 
Bethânia S. Mariani et tal. 3. ed., Campinas: Editora da Unicamp, 1997, p. 159-250. 
PÊCHEUX, Michel. Análise automática do discurso (AAD-69). In: GADET, Françoise; HAK, 
Tony (Orgs.). Por uma análise automática do discurso: uma introdução à obra de Michel 
Pêcheux. Tradução de Bethânia S. Mariani et tal. 3. ed., Campinas: Editora da Unicamp, 
1997, p. 159-250. 
PÊCHEUX, Michel. Papel da memória. ACHARD, Pierre et tal. Papel da memória. Traduzido 
por José Horta Nunes. Campinas, SP: Pontes, 1999, p. 49-57. 
PÊCHEUKX, Michel. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Tradução de 
Eni Pulcinelli Orlandi... et tal. 4º. Ed. Campinas: Editora da Unicamp, 2009. 
PÊCHEUKX, Michel. Análise automática do discurso (AAD-69). In: GADET, Françoise; HAK, 
Tony (Orgs.). Por uma análise automática do discurso: uma introdução à obra de Michel 
Pêcheux. Tradução de Bethânia S. Mariani et tal. 3. ed., Campinas: Editora da Unicamp, 
2010, p. 59-158. 
TOLEDO, Marcelo. Sem-terra invadem fazenda usada em suposto esquema em 
Ribeirão. 
Disponível em: < http:/www1.folha.uol.com.br/poder/2017/02/1861690-sem-terra-invad 
em-fazenda-usada-em-esquema-de-corrupcao-em-ribeirao.shtml>. Acesso em 26 maio 
2017. 
DISCURSO E TEXTO 
34 - 140
E-Book - Apostila 
Inicie sua Jornada 
Olá, prezado(a) aluno(a), 
Neste estudo, iremos tratar de uma questão que permeia a nossa vida em sociedade, ou 
seja, o discurso e o texto enquanto componentes da teoria da linguística denominada AD 
que, por meio de teóricos da área, darão subsídios para você iniciar um percurso científico 
pelos estudos do texto para além do senso comum e, por isso, precisamos desvendar os 
mistérios que serão estudados em quatro aulas. 
A primeira aula - texto e discurso - irá situar você sobre como o texto é teorizado sob 
uma concepção teórica que coloca em xeque o tradicional tripé que sustenta a produção 
textual por meio de um começo, um meio e um fim. Para tanto, utilizaremos dos conceitos 
básicos e elementares da AD que dão sustentação teórica para se pensar o texto como 
discurso. 
Na segunda aula - produção textual - desenvolvemos uma reflexão sobre o modo como o 
texto é produzido por um indivíduo que ao ocupar a posição sujeito-autor, somente 
produzirá um texto mediado pelas CP em que o mesmo deverá ser produzido, conforme a 
FD que determina o que ele pode e deve escrever. 
Na terceira aula - texto e textualização -, à luz da AD, voltaremos a refletir sobre o texto 
enquanto um componente que une os discursos sobre um determinado tema e a 
textualização que é o processo de unificação de um conjunto de discursos a ser 
“costurado” pelo sujeito-autor. 
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E-Book - Apostila 
Na quarta aula - a ordem do discurso e a organização textual - iremos discutir com você 
sobre os dizeres que são autorizados a serem ditos ou escritos ou mesmo interditados por 
um sujeito-autor que, conforme sua posição e a FD a que está filiado, será determinado a 
enunciar ou silenciar os discursos dispersos que serão “unificados” pelo efeito de 
organização. 
Convidamos você aluno(a), a iniciar a leitura desta aula e esperamos que ela seja bastante 
proveitosa e que atinja o objetivo proposto, bem como, seja capaz de instigar e provocar 
você a aceitar o desafio de continuar refletindo sobre e por meio dessa corrente teórica 
denominada AD. 
Sucesso e bons estudos! 
Desenvolva seu Potencial 
Na unidade |, você teve acesso aos conceitos teóricos básicos que norteiam as pesquisas 
da AD de linha francesa e, diante das infinitas possibilidades que os acontecimentos 
sociais nos oferecem como ferramentas de análise, esta aula se dedica à compreensão 
reflexiva do texto, pois este, nesta concepção teórica e por intermédio de Orlandi (1996) 
deve ser pensado como algo multidimensional que, na sua materialidade, não se define 
como uma superfície plana e uma espécie de chapa linear. 
Mas antes, é preciso retomar Pêcheux (1997), especificamente sua afirmação de que os 
estudos anteriores ao desenvolvimento da ciência lingúística, cuja origem é marcada com 
o Curso de Lingúística Geral, de Ferdinand de Saussure, estudavam a língua por meio de 
textos e gramáticas. Atualmente, não há muitas diferenças, quanto aos instrumentos de 
estudos, a não ser no modo como são norteadas as perguntas de análise, pois se 
pensarmos a língua pela análise de conteúdo, as perguntas a serem feitas são: 
a. De que fala este texto”; 
b. Quais são as idéias principais contidas neste texto”: 
c. Este texto está em conformidade com as normas da língua na qual ele se 
apresenta?; 
Ou 
a. Oqueo autor quis dizer?. 
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E-Book - Apostila 
Tais perguntas são um ponto de crítica do autor para iniciar uma reflexão sobre o texto, a 
partir da teoria discursiva, pois o que tínhamos sobre os estudos da língua era um meio a 
serviço de um fim, a saber, a compreensão do texto. No entanto, foi por meio das 
reflexões de Saussure que a língua passa a ser pensada como sistema, deixa de ser 
compreendida como portadora da função de exprimir sentido para ser o objeto o qual a 
ciência pode descrever ofuncionamento (metáfora do jogo de xadrez). As 
consequências desse deslocamento é de suma importância para os estudos linguísticos, 
na conjuntura histórica e social do início do século XX, mas deixou a descoberto algumas 
questões relevantes que não passaram despercebidas por Pêcheux. 
Nesta perspectiva teórica, o texto é um bólido de sentidos que parte em inúmeras 
direções, em múltiplos planos significantes, sendo, pois a partir dessa concepção que 
começamos a ressignificar nosso conhecimento prévio sobre o texto. Dessa forma, pensar 
em originalidade diante de qualquer texto, em suas múltiplas formas (imagético, sonoro, 
verbal, etc) é mera ficção, pois ele é peça resultantedo compromisso das diferentes 
posições sujeitos e FDs que, no dizer do autor, não pode tomar qualquer direção, pois há 
um regime de necessidade a ser obedecida, vindo da exterioridade. Esta se compreende 
pelo fato de que todo discurso remete a um outro discurso e os sentidos são sempre 
referidos a outros sentidos (conforme estudamos na unidade |, sobre o primado do 
interdiscurso e memória discursiva). 
Exterioridade que em Pêcheux (2009) reside no fato de que algo sempre fala antes, em 
outro lugar e independentemente, colocando em xeque a originalidade e singularidade da 
produção textual, bem como, apresentando-o como um mosaico (ou rede) de discursos 
que se imbricam sob a determinação de um escritor-autor. 
Esta concepção ressignifica (ou mesmo anula) o que temos já dado como pressuposto em 
relação ao texto, pois 
“[...] do ponto de vista de sua apresentação empírica, é 
um objeto com começo, meio e fim, mas que, se o 
considerarmos como discurso, reinstala-se 
imediatamente sua incompletude. [...] o texto, visto na 
perspectiva do discurso, não é uma unidade fechada - 
embora como unidade de análise. ele possa ser 
considerado uma unidade inteira - pois ele tem relação 
com outros textos (existentes, possíveis ou imaginários), 
com suas condições de produção (os sujeitos e a 
situação), com o que chamamos sua exterioridade 
constitutiva (o interdiscurso: a memória do dizer 
(ORLANDI, 2007, p. 54). 
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Essa concepção que marca o texto como heterogeneidade (e não como homogeneidade) 
é interpretada pela autora como atravessado por várias FDs e necessitam ser 
compreendidos pelo leitor (mesmo sem ter essa noção de forma explícita) no que se 
refere ao seu funcionamento, bem como, o modo como os sentidos são produzidos. Nessa 
perspectiva, não se interessa pela organização do texto, mas o que ele se organiza, na 
sua heterogeneidade constitutiva, pela natureza da sua materialidade - imagem, grafia, 
som - e das linguagens - oral, escrita, científica, literária, descritiva, etc -, nas diferentes 
posições dos sujeitos (aqui, um sujeito-autor). 
É por essas premissas que, no processo de produção textual, não produz somente um 
discurso, mas vários, por meio das diversas FDs que compõem o texto como uma unidade 
que permite ao analista, o acesso ao discurso, por meio das trilhas (ou pistas) que o 
materializa na sua estruturação. Em outras palavras 
O texto [.] é a unidade de análise afetada pelas 
condições de produção. [...] é o lugar da relação com a 
representação física da linguagem: onde ela é som, letra, 
espaço, dimensão direcionada, tamanho. É o material 
bruto (ORLANDI, 2007, p. 60). 
QUADRO RESUMO 
Paula, uma aluna sabida, fez a seguinte pergunta ao professor Joel: - Paula: que 
autor é esse que a Análise de Discurso teoriza ? - Professor Joel: autor é uma das 
posições assumidas pelo sujeito no discurso, afetada pela exterioridade, ou seja, 
pelas condições sociais, históricas e ideológicas e pelas exigências de coerência, 
não-contradição e responsabilidade. O autor assume a função social de organizar e 
assinar uma determinada produção escrita, dando-lhe aparência de unicidade. 
Fonte: Ferreira, 2001. Adaptado pelas autoras. 
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O texto é o material bruto a ser lapidado pelo analista que não o considera ponto de 
partida e, muito menos, como ponto de chegada, pois quando se pensa o texto pela via da 
AD, não há como detectar sua origem, seu fim e sua unidade definitiva. Essa concepção 
lógica do texto que o dimensiona e o regula é desconsiderada pela teoria da AD que o 
ressignifica enquanto lugar que a língua funciona sem apego às questões sobre sua 
originalidade e unidade definitiva. Como diz a autora, em uma ordem prática 
N 
“[...] não é sobre o texto que falará o analista, mas sobre o 
discurso. Uma vez atingido o processo discursivo que é o 
que faz o texto significar, o texto ou os textos particulares 
analisados desaparecem como referências específicas 
para dar lugar à compreensão de todo um processo 
discursivo do qual eles - e outros que nem mesmo 
conhecemos - são parte (ORLANDI, 2007, p. 61) 
Nu J 
Nesse sentido, a AD direciona o analista a refletir sobre o texto, enquanto algo queproduz 
sentidos a partir de uma exterioridade que se inscreve refletido nele mesmo, ou seja, é o 
próprio texto que produz as pistas discursivas constitutivas na sua materialidade, 
diferentemente da tarefa de análise conteudista que se situa a análise a partir de “[...] 
algo lá fora” (idem, p. 55). Por isso a pergunta que norteia o analista do discurso em seu 
trabalho é “como esse texto se significa?”. 
Questionamento que refletirá a historicidade do texto em sua materialidade que, no dizer 
de Orlandi (2001) é o acontecimento do texto como discurso, ou seja, o trabalho dos 
sentido nele, ou seja, filiação teórica da AD, o texto não é definido pela sua extensão, pois 
tanto pode ter uma única letra ou mesmo várias palavras, enunciados, páginas, etc, pois 
segundo a autora a vogal “O” escrita em uma porta e a vogal “A” escrita em outra porta, 
em um estabelecimento público como um bar. uma salão de eventos, etc apresenta uma 
unidade de sentido para a situação específica, vindo a significar 
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“f.] em nossa memória, o fato de que em nossa 
sociedade, em nossa história, a distinção 
masculino/feminino é significativa e é praticada 
socialmente até para distinguir lugares próprios (e 
impróprios...) Por isso esse “O” tem seu sentido: tem sua 
historicidade, resulta em um trabalho de interpretação 
(ORLANDI, 20014, p. 69). 
NU J 
A afirmação da autora é um indício de que a AD atua em regiões menos visíveis e menos 
óbvias do texto, mas relevantes para aqueles que refletem sobre a sociedade e suas 
nuances, por meio dos vestígios deixados na composição textual, enquanto unidade de 
análise que vai além do dado linguístico com suas marcas e organização. Tais concepções 
nos remete à compreensão de que olhar o texto como discurso, significa que ele não se 
fecha e que está relacionado com as FDs e estas com a ideologia, valendo a orientação da 
autora de que a AD “[...] não está interessada no texto em si como objeto final de sua 
explicação, mas como unidade que lhe permite ter acesso ao discurso” (idem, p. 72). Esse 
é o percurso que o analista deve percorrer, buscando as CP dos sons, das letras, dos 
espaços, das dimensões do texto e buscar compreender como os sentidos são 
produzidos. 
O) 
SAIBA MAIS 
Agora que você já sabe que o texto é um conjunto de discursos que se juntam 
pelas mãos de um sujeito-autor, vale a pena ler um pouco mais para saber como 
se configura a produção textual, por meio da teoria discursiva e alguns modelos 
de análises. Sugerimos a leitura da obra “Cidade dos Sentidos”, da prof” Eni 
Puccinelli Orlandi, publicado em 2004, pela Editora Pontes. Trata-se de uma obra 
importante, pois ela considera várias materialidades como texto: poesia, música, 
narrativa, pichação, grafite, entrevista, tatuagem, a (des)organização urbana, 
etc. 
Fonte: elaborado pelas autoras. 
N J 
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PRODUÇÃO TEXTUAL 
Iniciamos nossa reflexão pensando nas diversas condições de produção em que um texto 
pode ser produzido: publicidade, campanha política, agradar ou ofender alguém, rir ou 
chorar por meio de uma poesia, atender aos requisitos da instituição escolar, a tatuagem, 
o grafite, o canto, a dança, etc. Enfim, independente da situação, estamos sempre 
produzindo texto e é por conta disso que iremos traçar um percurso de compreensão 
sobre os mecanismos da sua produção, a partir de reflexões concebidas pela AD. Já que o 
texto pode ser metaforicamente compreendido como um mosaico de pequenas peças 
(neste caso, palavras, sons, imagens, gestos) que se juntam, vão produzindo sentidos e 
estão em constante movimento, precisamos retomar alguns conceitos da AD,apresentados na unidade |, e aplicá-los na construção de um texto. 
Estamos pensando no texto enquanto materialidade discursiva produzida por um 
indivíduo interpelado em sujeito pela ideologia (PÉCHEUX. 2009) que. diante das 
condições de produção e a posição autor ocupada por ele, produz “seu” texto nos 
(des)limites das FDs, ultrapassando fronteiras delimitadas, dentro do quadro fixo que 
compõe as regras já postas para se produzi-lo. Concepção que significa o deslocamento 
de um pré-construído cristalizados nas aulas tradicionais de produção textual de que 
todos sabem o que é um texto pelo fato de o mesmo fazer parte da nossa vida cotidiana e 
acadêmica. 
Por isso, ao pensar sobre o processo de produção textual por este viés teórico temos que 
refletir sobre esse sujeito discursivo designado como um sempre já sujeito que se tenta 
ocultar na evidência do dever a ser cumprido, diante do empreendimento de produção 
textual, pois, nessa concepção, o indivíduo não é o senhor da sua morada (neste caso: 
não é o senhor do seu texto), mas aquele que ocupa posições de reprodutor de vários 
discursos que vão sendo costurados, ou mesmo amarrados em pequenos nós, 
metaforicamente comparado a uma rede, na tentativa de formar um todo e cumprir com o 
objetivo proposto (ensinar, convencer, criticar, elogiar, etc). 
Como afirma Gallo (1995), embora se pense o texto limitado a um começo, meio e fim, o 
sentido depende de quem escreve (posição sujeito-autor) e de quem lê (posição sujeito- 
leitor). justificando a premissa de que jamais se pode considerar um texto como de 
direção e efeito único (sentidos previsíveis). Há uma mão dupla, um vai-e-vem 
ininterruptos que, na maioria da vezes, a escola esquece de trabalhar (qual o efeito desse 
esquecimento?), pois as aulas de produção textual estão baseadas na premissa 
conteudista direcionadas pela pergunta “o que o autor quis dizer” e na tentativa de 
expressar ideias e pensamentos deste autor, sem o posicionamento crítico daquele que 
lê. Devemos ir além disso, pois como afirma Lagazzi (2006, p. 85) essa concepção de 
produção textual dos anos 60 e 70 do século XX já não satisfaz aqueles que, afetado, 
pelos movimentos da conjuntura social, começa a pensar o texto “[...] como um espaço de 
possibilidades relacionais” e a escrita “[...] como um processo envolvendo a sociedade”. 
Então, se faz necessário rever conceitos, pois a língua, na concepção teórica discursiva, 
vai além de um sistema que a concebe por ela mesma e nela mesma, ou seja, ela é opaca 
e, na sua incompletude e equivocidade, sempre escapa de efeitos postos e cristalizados. 
Na visão da autora, este aspecto é fundamental para pensarmos esse sujeito que escreve, 
ao ser interpelado como autor, pois é na sua relação com a língua colocada em 
funcionamento no momento da produção textual que a AD 
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N 
“[..] recusa a relação direta e natural entre forma e 
conteúdo, recusa a oposição entre denotação e 
conotação. [...]. Essa abordagem da língua não vai 
privilegiar a informação ou o conteúdo, e nem vai 
considerar que o que se quer dizer já está estabelecido 
antes de ser formulado (LAGAZZI, 2006, p. 88). 
J 
Esse gesto de se conceber a produção textual que começa a vigorar a partir da década de 
60, do século passado, denomina-se como abordagem materialista do texto, justamente 
porque se compreende a língua a partir da materialidade que vai se configurando no 
momento da sua produção. É nesse ponto que retomamos a concepção foucaultiana para 
pensarmos a escrita enquanto uma regularidade que “[...] está sempre a ser 
experimentada nos seus limites, estando ao mesmo tempo sempre em vias de ser 
transgredida e invertida; a escrita desdobra-se como um jogo que vai infalivelmente para 
além das suas regras, desse modo as extravasando” (FOUCAULT, 1977, p. 35). 
A possibilidade que a AD consegue subsidiar por meio de suas reflexões teóricas, abre um 
campo para tecermos críticas sobre a produção textual na escola que mantém o campo 
fértil para a colheita do sentido único, direcionado pelo professores assujeitados 
ideologicamente pelo imaginário escolar que mantém um caminho baseado na direção 
unívoca, de mão única. É preciso ressignificar essa condição produzida no chão da escola 
por meio de uma reflexão teórica e prática que passe longe do senso comum. 
Indursky (2006), ao questionar se o texto pode ser simplesmente definido como uma 
soma de frases, abre possibilidades para pensarmos pelo viés teórico da AD que nos 
possibilita ultrapassar tais limites pelas noções de sujeito, autor, CP, ideologia, sentido, 
FD e os demais componentes fundantes da AD. Em posse de tais conceitos podemos ir 
além da frase, pois segundo ela 
a língua não se constitui de palavras ou de frases 
independentes, maos em discurso contínuo, seja ele um 
enunciado constituído de apenas uma palavra, ou uma 
obra de dez volumes, um monólogo ou uma discussão 
política (HARRIS, 1963, apud INDURSKY, 2006, p. 67). 
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Segundo a autora, é nesse ponto que ocorre um deslocamento da concepção saussuriana 
de língua enquanto componente enclausurado em um sistema, pois percebe-se que os 
aspectos sociais, históricos e culturais passam a fazer parte do texto que, ao considerar 
suas condições de produção, se transforma em discurso, ultrapassando seus elementos 
internos, mobilizando sua exterioridade e seus sujeitos- autores afetados pelo 
inconsciente e historicamente identificados às FDs. Sobre isso cabe ressaltar que há 
dizeres que regem a escrita desse sujeito que, na posição de autor, é considerado 
descentrado e 
" 
age sob a ilusão de estar na origem de seu dizer, mas que 
de fato, precisa imergir no interdiscurso para poder dizer, 
pois aí reside o repetível, a memória discursiva que lhe 
permite dizer. Ou seja: para o sujeito da análise do 
discurso, imergir no interdiscurso é a condição necessária 
para poder dizer, para poder produzir um texto. Esta é a 
natureza da exterioridade e do que se chama de 
condições de produção (INDURSKY, 2006, p. 69). 
A J 
A ideia lançada pela autora reafirma que a produção de um texto está atravessada por 
outros discursos dispersos nele, mobilizando posições-sujeitos e suas vozes anônimas 
que determinam a tessitura do texto que, para a AD, só pode ser pensado como um 
espaço discursivo heterogêneo sob um efeito de sentido que está simbolicamente 
fechado pelo trabalho discursivo do autor que apaga sua dispersão na ilusão de um efeito 
origem. 
PENSANDO JUNTOS 
Você encontrou duas folhas no lixo e nelas estão escritas as letras “H” e “M”. Em um 
barzinho e em meio a boa conversa, você procura um banheiro e se depara com duas 
portas: em uma está escrito a letra “H” e na outra, “M”. Em qual situação, as letras "H” 
e “M” são textos? 
Fonte: elaborado pelas autoras. 
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TEXTO E TEXTUALIZAÇÃO 
Até o momento, foi apresentado a você uma reflexão sobre o texto à luz da teoria 
discursiva e isso significa que assumimos uma posição diante da interpelação contratual 
da produção de um material que tem como objetivo refletir sobre a teoria linguística da 
AD, diante das outras concepções teóricas que foram deixadas de lado: linguística 
textual, teoria da enunciação, semiótica, etc. Sabemos que há uma infinidade de 
temáticas que tem como mote a língua e o texto, pois ambos são importantes 
ferramentas de reflexão, haja vista sua presença diária na vida dos sujeitos sociais e isso 
justifica a importância em estar sempre sendo o motivo de questionamentos críticos, por 
meio de outros campos de saberes. 
Pensando o texto como um conglomerado de discursos que o sujeito-autor unifica em 
limites estabelecidos pela ilusão do tripé começo, meio e fim representado graficamente 
pelo ponto final, é nessas condições que tratamos também da textualização enquanto 
ferramenta de produção textual que trabalha com a língua considerada

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