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Morfologia Vegetal Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms.Paulo Henrique de Mello Revisão Textual: Profa. Esp. Vera Lídia de Sá Cicaroni Desenvolvimento Inicial, Anatomia e Morfologia da Raiz 5 • Desenvolvimento Inicial • Anatomia e morfologia da raiz • Origem e crescimento dos tecidos primários • Efeito do crescimento secundário no corpo da raiz Os Objetivos da unidade são: · Compreender como ocorre o desenvolvimento inicial das plantas. · Compreender a anatomia e a morfologia da raiz. · Identificar as principais estruturas que compõem o crescimento primário e secundário das raízes. Estudante, deixe o passado e viva o presente, absorva o conhecimento de seus mestres, pois, através deles construirá seu futuro - (Luis Alves). Nesta Unidade daremos início aos estudos do desenvolvimento inicial – embriogênese –, anatomia e morfologia da raiz. Adiante estudaremos as estruturas primárias e secundárias do desenvolvimento das plantas. Para que você obtenha uma melhor aprendizagem e memorização do assunto apresentado, leia com atenção o conteúdo desta Unidade e os materiais complementares, como referências bibliográficas e vídeos. Recomendamos a pesquisa de mais fontes que, certamente, contribuirão para sua formação, melhor desempenho e maior aprendizado. Desenvolvimento Inicial, Anatomia e Morfologia da Raiz 6 Unidade: Desenvolvimento Inicial, Anatomia e Morfologia da Raiz Contextualização As plantas possuem um desenvolvimento inicial muito interessante. A partir da formação do embrião originam-se tecidos específicos que definirão o plano corporal da planta. Além disso, neste módulo será introduzida a anatomia e a morfologia da raiz, esse sendo um importante órgão, responsável por inúmeras funções, entre as quais a fixação, o transporte e o armazenamento de substâncias. O conhecimento dessa etapa inicial do desenvolvimento vegetal, bem como a morfologia e a anatomia da raiz serão muito importantes para entender de que forma as plantas se desenvolvem e como essa importante estrutura das plantas se organiza e funciona. Assim, nesta Unidade você aprenderá como se dá o desenvolvimento inicial da planta – embriogênese, germinação –, bem como a organização estrutural das raízes e como essas desenvolvem suas estruturas primárias e secundárias. 7 Desenvolvimento Inicial Neste item abordaremos o desenvolvimento inicial das angiospermas. O material teórico será iniciado com a formação do embrião, processo conhecido por embriogênese – geração do embrião. O processo de embriogênese definirá o plano corporal da planta. Esse padrão é composto por dois tipos de crescimento dos tecidos da planta. O primeiro padrão é o apical- basal, que definirá o crescimento longitudinal ao longo do próprio eixo da planta; e o padrão radial, que se dispõe em cima do eixo central da planta (Figura 1). Ao lado diagrama mostrando o plano do corpo de uma plântula, com: A) Padrão apical-basal, com a região superior mostrando o sistema caulinar e na região inferior o sistema radicular; B) Seção transversal do hipocótilo, mostrando o sistema de tecidos da plântula composto por epiderme, tecido vascular e meristema fundamental. A formação do embrião se inicia com a primeira divisão do zigoto e acontece dentro do saco embrionário do óvulo. Essa primeira divisão é assimétrica e definirá a polaridade do embrião que dará origem ao polo superior ou calazal e polo inferior ou micropilar. A polaridade é determinante no desenvolvimento da planta, sendo considerada um componente-chave. Esse termo é utilizado por analogia ao magneto, que tem um polo positivo e um polo negativo e define que qualquer estrutura – seja uma célula, um órgão ou um animal – possui uma terminação diferente da outra. A polaridade é “o primeiro passo essencial no desenvolvimento de todos os organismos superiores, porque determina o eixo estrutural do corpo, ou seja, o ‘esqueleto’ no qual os apêndices laterais serão dispostos”. A polaridade em algumas angiospermas se inicia na oosfera e no zigoto, no qual as organelas citoplasmáticas se localizam na parte superior, enquanto na parte inferior está localizado um grande vacúolo (Figura 2): Figura 2 – Estágios de desenvolvimento do embrião de Sagittaria. Fonte: biologia.blogger.com.br Figura 1 Fonte: Raven, Evert e Eichhorn (2001) 8 Unidade: Desenvolvimento Inicial, Anatomia e Morfologia da Raiz Logo após a formação do embrião, esse inicia a diferenciação de seus tecidos, uma vez que encontra-se como uma massa de células ainda indiferenciadas. A partir de mudanças na estrutura interna, dá-se o início da formação dos tecidos. Você sabia? Que a protoderme que dará origem à futura epiderme se origina de divisões periclinais, ou seja, divisões paralelas nas células mais externas à superfície? No interior do embrião se iniciam divisões anticlinais que separarão o procâmbio e o meristema fundamental. O meristema fundamental que dará origem ao tecido fundamental circunda o procâmbio que, por sua vez, dará origem aos vasos condutores, xilema e floema. Esses três tecidos, protoderme, meristema fundamental e procâmbio são conhecidos por meristemas primários ou tecidos meristemáticos primários que estão presentes em outras regiões do embrião à medida que a embriogênese avança. Figura 3 – Estágios de desenvolvimento do embrião de bolsa-de-pastor. Fonte: morfoanatomiavegetal.wordpress.com Os embriões passam por estágios de desenvolvimento. Assim, a fase em que ainda não possuem a formação do cotilédone, ou seja, quando ainda apresentam a forma esférica, é conhecida por estágio globular. Ao passo que o desenvolvimento progride, o embrião – nas eudicotiledôneas – gradualmente assume a forma bilobada ou de coração, sendo conhecido por seu estágio cordiforme. Seguindo o desenvolvimento, o(s) cotilédone(s) e o eixo alongam-se e os meristemas primários estendem-se concomitantemente. Durante esse desenvolvimento, o embrião permanece reto, ou curva-se, sendo essa etapa conhecida por estágio torpedo. Abordando um pouco sobre o embrião maduro e a semente, sabemos que ocorre um intenso fluxo de nutrientes da planta parental para os tecidos do óvulo, o que resulta em um acúmulo de grandes quantidades de substratos dentro do endosperma, perisperma ou cotilédones da 9 semente em desenvolvimento. A partir daí a semente começa a perder água para o ambiente externo e o seu envoltório, que possui origem do tegumento, torna-se mais rígido, formando uma “armadura protetora” para os substratos armazenados e para o embrião. Os meristemas apicais do caule e da raiz se localizam nas extremidades opostas do eixo embrionário. Alguns embriões possuem o meristema apical acima dos cotilédones e em outros há o sistema caulinar embrionário denominado epicótilo, que possui uma ou mais folhas jovens e um meristema apical que se localiza acima – epi – dos cotilédones. Esse sistema caulinar é denominado plúmula. O eixo que se assemelha ao caule e se localiza abaixo do cotilédone é denominado hipocótilo. Na região inferior desse hipocótilo surge uma raiz embrionária denominada radícula, isso quando apresenta características de raiz. Quando não é possível diferenciar a radícula do embrião, denomina-se todo o eixo como hipocótilo-radicular. Você sabia? Que alguns embriões de eudicotiledôneas absorvem todo o substrato armazenado no endosperma? Isso permite o desenvolvimento de cotilédones grandes e carnosos, os quais armazenam bastante alimento como, por exemplo, feijão, noz e girassol. Em monocotiledôneas, o único cotilédone funciona como órgão de armazenamento, fotossíntese e ainda exerce a função de absorção. Com isso, os substratos são transferidos do endosperma para as regiões de crescimento do embrião. Em gramíneas, por exemplo, existe uma região denominada escutelo que é um cotilédone grande, com função de absorção do alimento armazenado no endosperma e está ligado ao eixo do embrião que, por sua vez, contém asestruturas de crescimento como radícula e plúmula. Ambas estão protegidas por outras estruturas, denominadas caleorriza e coleóptilo, respectivamente. Vale lembrar que todas as sementes são recobertas por um envoltório seminal com origem no tegumento e que protege o embrião. Abordando um pouco o processo de germinação da semente, sabemos que esse ocorre apenas em condições favoráveis e que dependem de fatores como água, oxigênio e temperatura. Tais fatores são determinantes para a germinação adequada como, por exemplo, no caso da água as plantas absorvem determinadas quantidades para que as reações bioquímicas possam ocorrer dentro da semente e para a adequada germinação do embrião. Com a absorção da água, as células que antes apenas armazenavam substratos energéticos passarão a utilizá-los para que o embrião se desenvolva. Com isso, o desenvolvimento característico de cada indivíduo e espécie tem início, permitindo a evolução da plântula sob determinadas condições, as quais variarão justamente de acordo com cada espécie. A primeira estrutura que emerge do embrião é a radícula, ou raiz embrionária. Essa continua a crescer, dando origem à raiz primária, ou raiz principal que, por sua vez, emitirá ramificações que são chamadas de raízes laterais. Quanto ao tipo de germinação das sementes, podemos Figura 4 – Estruturas de dois tipos de sementes: A) Semente de feijão; B) Semente de milho; e C) Seção histológica de semente de milho. Fonte: agrolink.com.br 10 Unidade: Desenvolvimento Inicial, Anatomia e Morfologia da Raiz classificá-las como epígea ou hipógea, ou seja, o modo como o sistema caulinar emerge da semente pode ser diferente entre as espécies. Quando os cotilédones são elevados para cima do solo são classificados como germinação epígea como, por exemplo, as sementes do feijão. Em contrapartida, quando os cotilédones são empurrados para baixo do solo, o tipo de germinação é hipógeo como, por exemplo, a ervilha. Figura 5 – Estágios da germinação: A) Germinação epígea em semente de feijão; B) Germinação hipógea em semente de milho; C) Comparação das germinações epígea e hipógea, respectivamente entre sementes de feijão e milho. Fonte: apb2006-2007.blogspot.com.br Independentemente de como o sistema caulinar emerge da semente, o meristema dá origem à formação das estruturas da planta como as folhas, nós e internós. A partir daí a planta se estrutura, tornando-se um organismo autotrófico e fazendo fotossíntese. Esse período é o mais crítico da vida da planta, pois ainda é muito vulnerável e susceptível a danos causados por outros organismos, como insetos, fungos e mesmo fatores ambientais, como estresse hídrico ou térmico. Anatomia e morfologia da raiz Conforme dito no item anterior, a primeira estrutura que emerge da semente é a radícula, que permite a fixação da semente ao solo, bem como a absorção de água. A radícula dará origem à raiz e suas principais funções serão a absorção dos nutrientes e água e a fixação da planta no solo. Além dessas funções existem outras, associadas às raízes – armazenamento e condução. Sabemos também que alguns hormônios são produzidos pelos meristemas das raízes e transportados até os órgãos aéreos das plantas. 11 Figura 6 – a) Esquema das estruturas das raízes; b) Raiz pivotante; c) Raiz fasciculada. Fonte: terceiroanobiologia.blogspot.com.br Além das funções supracitadas, as raízes ainda possuem a função de órgão de armazenamento, ou seja, são capazes de armazenar substratos metabólicos em sua estrutura interna. Os compostos absorvidos pelas raízes – água e íons inorgânicos – são transportados pelo xilema até os órgãos aéreos, onde serão fotossintetizados e transportados pelo floema até os tecidos de reserva das raízes, onde serão armazenados, por exemplo, na forma de amido. Alguns casos de raízes que possuem essas funções são beterraba e cenoura. Conforme dito, as raízes ainda atuam na produção de hormônios como citocininas e giberelinas, que são sintetizados nas regiões meristemáticas da raiz, são transportados pelo xilema até as regiões aéreas, onde atuam no crescimento e desenvolvimento, além de produzirem compostos secundários como a nicotina, que também é transportada para as folhas, neste caso, nas plantas de fumo. Abordando agora a morfologia dos sistemas radiculares, podemos dividi-los em dois principais grupos: o primeiro presente nas gimnospermas, magnoliideas e eudicotiledôneas é a raiz pivotante, ou raiz primária, que cresce diretamente para baixo do solo, possuindo ramificações, raízes laterais ou secundárias, denominado sistema axial ou pivotante. Já nas monocotiledôneas podemos observar um segundo tipo de sistema radicular, que é o sistema fasciculado, no qual a raiz primária possui vida curta e é formada por raízes adventícias que partem do caule. Nesse caso não há predominância de uma raiz sobre a outra. Uma diferença entre esses dois sistemas radiculares é a profundidade que ambos atingem no solo. O sistema radicular pivotante alcança maiores profundidades em relação aos fasciculados e esses, por sua vez, apresentam maior superficialidade, tenacidade, além de possuírem melhor adesão ao solo, tornando esse tipo de sistema radicular muito eficaz na prevenção de erosão, pois se “prendem” de maneira mais eficiente ao solo. A característica do sistema radicular com relação à sua extensão – profundidade e distância atingidas – depende de alguns fatores como umidade, temperatura e composição do solo. No entanto, sabemos que as raízes de nutrição, que são as raízes envolvidas na absorção de água 12 Unidade: Desenvolvimento Inicial, Anatomia e Morfologia da Raiz e íons orgânicos – raízes finas – estão dispersas nos primeiros metros dentro do solo, enquanto na maioria das árvores estão dispersas nos primeiros quinze centímetros de solo, pois essa faixa normalmente é a mais rica em nutrientes. A profundidade que a raiz atinge depende da espécie, sendo que em algumas chegam a apenas alguns metros de profundidade, enquanto em outros casos, como o algarobo – um arbusto do deserto –, as raízes costumam atingir 53 metros de profundidade. Em outros casos, como o Tamarix e a acácia, foram encontradas raízes com cerca de trinta metros de profundidade. Em um estudo conduzido com o milho Zea mays foi observada uma profundidade de 1,5 metro e a raiz se espalhou por uma distância de um metro ao redor da planta. Figura 7 – Raiz pivotante – acácia, Tamarix e algarobo – e raiz fasciculada – milho. Com o crescimento da planta, torna-se necessário um equilíbrio entre a sua superfície total disponível para a fotossíntese – superfície fotossintetizante – e a sua superfície que absorve a água e os íons inorgânicos. Em plantas jovens, geralmente a superfície responsável pela absorção de água e dos íons inorgânicos é bem maior que a superfície fotossintetizadora. No entanto, essa relação entre as porções fotossintética e absortiva – raízes – vai se alterando com a sua idade. Utilizando a parte prática como exemplo, é por isso que os jardineiros podam – cortam – as mudas antes de transplantá-las, uma vez que o equilíbrio entre essas duas partes da planta é importante. Origem e crescimento dos tecidos primários As raízes apresentam crescimento contínuo e somente param de crescer caso algum dos parâmetros físico-químicos do solo não estejam adequados como, por exemplo, se a temperatura ou a umidade estiverem em condições adversas. As plantas crescem sempre pelos caminhos que apresentam menor resistência, tais como locais que abrigavam outras raízes que já morreram. 13 A ponta das raízes – ápice – é revestida por uma espécie de proteção que se assemelha a uma “luva”, essa que é chamada coifa e é composta por células parenquimáticas vivas que, como já dito, reveste e protege as raízes, facilitando a penetração dessas no solo. Além disso, as células da coifa produzem uma substância viscosa ou mucilaginosa que lubrifica a raiz, tornando ainda mais fácila sua passagem pelo solo. Figura 8 – Esquema das regiões das raízes e esquema com os tecidos primários das raízes. Uma característica estrutural importante do ápice da raiz é a disposição – ou arranjo – das células em fileiras longitudinais que formarão o meristema apical. Existem dois tipos principais de organização do meristema apical: o primeiro, a coifa, o floema e o xilema do cilindro vascular e o córtex surgem de um grupo comum de células com origem no meristema apical; no outro, a epiderme tem origem comum com a coifa e o córtex. Abordando um pouco sobre o crescimento das raízes, sabemos que a distância, em relação ao meristema apical, onde está o local em que ocorrem as divisões celulares varia de espécie para espécie e também depende da idade da raiz. Ao conjunto do meristema apical combinado com a porção da raiz chamamos de região de divisão celular. Após essa está a região de alongamento, que não costuma ser muito diferenciada e possui poucos milímetros de comprimento. O crescimento se dá principalmente pelo alongamento das células dessa região, resultando no crescimento longitudinal da raiz. Vale lembrar que esse crescimento é somente para baixo, dado que acima dessa região não há crescimento da raiz, tornando, assim, apenas uma região pequena e que é constantemente empurrada através do solo. A próxima região após a de alongamento é a de maturação, na qual as células dos tecidos primários finalizam seu desenvolvimento. Nessa região também ocorre o crescimento de pelos radiculares que também podem dar o nome de zona pilífera. Vale lembrar que as regiões não apresentam uma delimitação precisa, de modo que podem ocorrer crescimentos e diferenciações de tecidos na região de diferenciação celular, ao passo que outras se desenvolvem na região de crescimento. Por exemplo, temos os primeiros elementos do floema e do xilema, os quais são formados e diferenciados na região de crescimento e que são destruídos durante o aumento da raiz. Os primeiros elementos do floema formados se diferenciam próximos do ápice da raiz em relação ao crescimento dos primeiros elementos traqueais, o que nos mostra a necessidade do transporte de substâncias nos tubos crivados para o desenvolvimento da raiz. 14 Unidade: Desenvolvimento Inicial, Anatomia e Morfologia da Raiz Além disso, temos a protoderme, procâmbio e meristema fundamental que, respectivamente, são meristemas primários e que se diferenciarão em epiderme, tecidos vasculares e córtex. Figura 9 – Esquema das regiões das raízes e seus tecidos. Estrutura primária Os sistemas que compõem a estrutura primária da raiz são facilmente distinguíveis tanto transversal, quanto longitudinalmente. São de três tipos: a epiderme – sistema epidérmico –, o córtex – sistema fundamental – e os tecidos vasculares – sistema vascular. Figura 10 – Esquema histológico dos tecidos da raiz. 15 Epiderme A epiderme das raízes jovens tem como principal função a absorção de água e sais minerais, possuem também um grande auxílio dos pelos radiculares, os quais são extensões tubulares das células epidérmicas e aumentam bastante a superfície de absorção da raiz. Esses pelos estão em sua maior parte localizados na região de maturação e sua “produção” ocorre logo depois da região de alongamento, assim como sua substituição se dá na extremidade superior da região da zona pilífera. Córtex O córtex pode ser dividido em duas partes principais: a primeira mais interna, que possui um arranjo compacto e não possui muitos espaços de ar é chamada de endoderme. Uma característica bem marcante dessas células é a presença de estrias de Caspary, que se localizam em suas paredes anticlinais – paredes perpendiculares à superfície da raiz. Essa estrutura é uma porção de parede primária que se assemelha a uma fita e que é impregnada com suberina, podendo às vezes ser lignificada. Essas estrias são responsáveis pelo controle de entrada e saída de água no cilindro vascular. Sabendo que a membrana plasmática das células da endoderme está firmemente ligada às estrias de Caspary e que essas são impermeáveis à água e íons, todas as substâncias que entram e saem do cilindro vascular devem passar pelo protoplasto das células da endoderme. Essas substâncias atravessam a membrana plasmática, ou passam através dos plasmodesmos que conectam os protoplastos das células dessa região. Nas raízes das monocotiledôneas a endoderme apresenta um espessamento em U e, nesse caso, para que a água possa atravessar a endoderme há células de passagens que não apresentam o espessamento em U e permitem que a água possa atingir o xilema. Figura 11 – Esquema de corte transversal da raiz e esquema evidenciando algumas estruturas internas da raiz. Sabemos que em algumas raízes podemos encontrar uma estratificação da camada mais externa do córtex, formando a exoderme. Espaços intracelulares são proeminentes no córtex da raiz, com a finalidade de facilitar a entrada de água e nutrientes nessa e ocorre o contrário na endoderme, a qual desviará o fluxo dos solutos através do apoplasto – espaços intercelulares e paredes celulares – para o simplasto – dentro das membranas celulares. 16 Unidade: Desenvolvimento Inicial, Anatomia e Morfologia da Raiz Cilindro vascular O cilindro vascular da raiz é formado por um ou mais tecidos vasculares e uma ou mais camadas de células, conhecido por periciclo que circunda todo o tecido vascular. Esse desempenha vários papéis importantes e um dos quais é o surgimento das raízes laterais. Em plantas que apresentam crescimento secundário, o periciclo contribui com o câmbio vascular oposto ao protoxilema e geralmente dá origem ao primeiro câmbio da casca. O centro do cilindro vascular da maioria das raízes é ocupado por um núcleo sólido de xilema primário e de onde partem projeções que se estendem em direção ao periciclo. Localizados entre essas projeções de xilema estão os cordões de floema primário. O número de projeções que partem do xilema primário varia entre as espécies de plantas e podem ser classificados. Quando partem somente duas projeções, a raiz é denominada diárquea; se partem três projeções, a raiz é triárquea; se partem quatro projeções, a raiz é tetrárquea; se partem mais de quatro projeções, a raiz é poliárquea. Os elementos do xilema que se diferenciarão na raiz estão localizados próximos ao periciclo e as extremidades das projeções do xilema são comumente chamadas de polos de protoxilema. O metaxilema ocupa a porção interna das projeções, de modo que o centro do cilindro vascular amadurecerá após o protoxilema. Figura 12 – Esquema do crescimento dos tecidos da raiz e corte transversal dessa. 17 Efeito do crescimento secundário no corpo da raiz O crescimento secundário em raízes e caules consiste na formação dos tecidos vasculares secundários – xilema e floema secundários – a partir do câmbio vascular e periderme. Essas estruturas estão em sua maior parte presentes nas dicotiledôneas, uma vez que as monocotiledôneas apresentam somente o crescimento primário. Com isso, as raízes que apresentarão o crescimento secundário iniciarão o crescimento do câmbio vascular a partir do procâmbio, no qual permanecem as meristemáticas que se situam entre o xilema e floema primários em locais próximos às regiões de crescimento da raiz. Isso permitirá que a raiz emita uma ou mais regiões de atividades cambiais, dependendo do número de cordões de floema. Após esse processo, as células do periciclo opostas aos polos de protoxilema também se dividem, e as células internas irmãs resultantes daquelas divisões contribuirão na formação do câmbio, que então contornará toda a região central de xilema. Figura 13 – Esquema de corte transversal da raiz, evidenciando as principais estruturas internas. Após a formação do câmbio vascular, a raiz começa a produzir xilema secundário para o interior e no decorrer desse processo, os cordões de floema primário são deslocados de suas posições entre as projeções de xilemaprimário. Após seguidas as divisões tanto do lado de fora, quanto do lado de dentro, xilema e floema secundários são adicionados à raiz. 18 Unidade: Desenvolvimento Inicial, Anatomia e Morfologia da Raiz Figura 14 – Esquema de crescimento secundário da raiz. Com relação à formação da periderme, essa comumente segue o início da produção de xilema e floema secundários, originando-se através da divisão das células do periciclo. As células irmãs externas – derivadas externas – do periciclo em divisões juntam-se para formar um cilindro completo de câmbio da casca, o qual produzirá súber para o lado externo e feloderme para o lado interno. Conjuntamente, esses três tecidos – súber, câmbio da casca e feloderme – formarão a periderme. Por sua vez, essa periderme - ou súber – substituirá a epiderme como revestimento de proteção nessa região da raiz. Além disso, a periderme das raízes ainda podem se diferenciar em lenticelas, que consistem em áreas esponjosas para permitir trocas de gases entre a raiz e a atmosfera do solo. Após a completa formação das raízes lenhosas, partindo do exterior para o interior da raiz temos as seguintes estruturas finais: epiderme e córtex, periderme, periciclo, floema primário – fibras e células enrugadas de paredes delicadas –, floema secundário, câmbio vascular, xilema secundário e xilema primário. Raízes laterais Na maioria das plantas com sementes as raízes laterais se originam do periciclo. Podem ser aéreas, que nada mais são do que raízes adventícias. Algumas funcionam como sustentação de raízes – tais quais as de milho – e ainda são capazes de absorver água e sais minerais. Outras raízes podem ser do tipo escora, como as produzidas pela figueira – Ficus bengalensis – e algumas palmeiras. Certas raízes podem ainda ser do tipo adesivo, caso da planta Hera – Hereda helix. Como sabido, plantas necessitam de solos adequados para a sobrevivência e isso inclui solos que possuam a drenagem adequada, uma vez que as raízes necessitam de oxigênio para a respiração. Com isso, algumas plantas que vivem em ambientes pantanosos possuem certos tipos de raízes que crescem para fora da água a fim de realizarem trocas gasosas, além de se fixarem muito bem ao solo, como, por exemplo, a Avicenia nítida, que é característica de manguezais. Essa planta possui extensões com geotropismo negativo – chamadas pneumatóforos –, que crescem para cima, saindo do solo e fornecendo uma aeração adequada à planta – raízes respiratórias. 19 Figura 15 – Avicenia nítida em região de manguezal com pneumatóforos. Fonte: resumos2anogalois.blogspot.com.br Outro exemplo de raiz que possui característica muito peculiar é a epífita, planta que cresce sobre outras plantas, mas sem parasitá-las. Nas orquídeas com raízes aéreas, por exemplo, aparece uma epiderme multisseriada, o velame. Esse consiste de várias camadas de células mortas, com paredes espessadas. Em períodos de seca, as células do velame enchem-se de ar, mas quando a umidade aumenta, voltam a se encher de água, armazenando-a nos numerosos poros existentes na parede. Em certas espécies aéreas, a epiderme da raiz ainda pode ser o único órgão fotossintetizante na planta. Tais raízes apresentam outra característica muito interessante: como sabemos, algumas raízes funcionam como órgãos de armazenamento e, em certas plantas, as raízes são especializadas para essa função. Daí que tais raízes tornam-se carnosas devido à grande quantidade de parênquima de reserva, onde se encontra imerso o tecido vascular. Como exemplo dessa especialização, temos a batata-doce. 20 Unidade: Desenvolvimento Inicial, Anatomia e Morfologia da Raiz Material Complementar Vídeos: AMRITA UNIVERSITY. Plant tissues - class 9 tutorial. 8 out. 2014. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=xWUuDM1g4Rg PLANT tissues location & function. 24 dez. 2013. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=5jenb3XIM9g PLANT Transport: xylem and phloem transpiration. 5 mar. 2014.Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=xGCnuXxbZGk TRANSPORTATION in plants class X CBSE/NBSE. 26 jun. 2013. Disponível em: https://youtu.be/JFb-CWlz7kE Livros: AMABIS, José Mariano; MARTHO, Gilberto Rodrigues. Biologia das células. 2 ed. São Paulo: Moderna, 2004. FERRI, Mário Guimarães. Botânica: morfologia externa das plantas (organografia). 15. ed. São Paulo: Nobel, 1987. https://youtu.be/xWUuDM1g4Rg https://www.youtube.com/watch?v=5jenb3XIM9g https://youtu.be/xGCnuXxbZGk https://youtu.be/JFb-CWlz7kE 21 Referências AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Biologia das células. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2004. FERRI, M. G. Botânica: morfologia externa das plantas (organografia). 15. ed. São Paulo: Nobel, 1987. RAVEN, H. P.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Biology of plants. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. 22 Unidade: Desenvolvimento Inicial, Anatomia e Morfologia da Raiz Anotações