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EDUCAÇÃO AMB


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Em 31 de dezembro de 2019, a comissão municipal de saúde de Wuhan na China declarava a existência de casos de pneumonia de etiologia desconhecida, posteriormente se identificaria que a doença começou a se espalhar a partir de um mercado de frutos do mar e que ela era causada por um novo coronavírus (OMS, 2020; OMS, 2023). No dia 13 de janeiro de 2020 o primeiro caso confirmado fora da China ocorre na Tailandia (OMS, 2020). O primeiro caso no Brasil ocorreu no dia 26 de fevereiro de 2020, um idoso de 61 anos vindo de viagem da Itália, no estado de São Paulo. Após 25 dias deste caso, todas as unidades federativas já haviam tido seu primeiro habitante infectado. O primeiro óbito nacional acabou sendo registrado no dia 17 de março também em São Paulo (CAVALCANTE et al., 2020).
Neste período, anterior ao desenvolvimento da vacina, um dos poucos métodos de combate ao novo vírus era um lockdown de isolamento social, muito devido a sua rápida transmissibilidade e grande mortandade, especialmente para idosos e para pessoas com comorbidades (MORENS e FAUCI, 2020). Com isso em perspectiva, no começo de 2020 o governo chinês declarou emergência e a região de Wuhan entra em lockdown. Já era observado neste começo de pandemia na China uma falta de leitos e recursos devido à sobrecarga de casos e também uma sobrecarga de trabalho para aqueles na linha de frente do combate a COVID-19. (KHAN et al., 2020). Posteriormente no Brasil, seria visto casos semelhantes, como hospitais lotados e sem vaga de UTI para tratar os seus pacientes (COUTINHO, 2020) e mortes em fila devido ao colapso do sistema de saúde nacional com o grande número de casos (MANZANO e SILVA, 2021). 
Além de todo o colapso nos sistemas de saúde, a pandemia trouxe outros problemas sociais. Ela gerou mudanças radicais em termos econômicos. Houve restrições de viagens e de mobilidade que afetaram o transporte de materiais, dificultando empresas de suprir suas demandas produtivas e medo de uma recessão em médio a longo prazo (DELARDAS et al., 2022). Houve casos de funerárias que não davam férias a seus funcionários devido à alta quantidade de mortos, além da falta de materiais para produzir caixões para os funerais (MANZANO e SILVA, 2021). Para aqueles que trabalhavam em pleno exercício de suas profissões, houve mudanças significativas nos procedimentos, meios de acesso e realizações das atividades no dia a dia com relação ao trabalho e ao meio doméstico (GUILLAND et al., 2022). Guilland et al. (2022), mostrou que havia uma associação dessa doença com casos de depressão e ansiedade em trabalhadores durante a pandemia. 
Dentro deste contexto de pandemia, era provavelmente esperado pela grande maioria das pessoas que houvesse um sentido de união e organização para enfrentar esse desafio, sendo que em muitos casos não foi o que ocorreu. No Brasil houve grande disputa e falta de coordenação entre o governo federal e os governos estaduais e, além disso, houve a confrontação entre os ideais do governo federal e do ministério da saúde em diversos momentos (CAPONI et al., 2021), citando Caponi (2020), “a falta de diretrizes comuns, o jogo de informações cruzadas e contraditórias serviram de estímulo para desistir do isolamento e restringiram as possibilidades de controle”. A estratégia do isolamento social requer investimento em educação ciência e tecnologia, além de demandar ações políticas (CAPONI, 2020), e isso demanda certa estabilidade que o governo não tinha. Na administração da pandemia, além da falta de estabilidade política, e talvez crescida por causa dela, outro problema de grande importância foi o negacionismo.
O negacionismo é um discurso que questiona o valor histórico do conhecimento científico, dos argumentos racionais e da experiência adquirida ao longo de anos, que distorce fundamentos teóricos e dados científicos e que defende que todas as opiniões têm o mesmo valor” (MARQUES e RAIMUNDO, 2021). De acordo com Marques e Raimundo (2021), “O âmago da argumentação do negacionismo científico cria um movimento especializado para fortalecer a fake science com argumentos que coloca a população em dúvida sobre as questões apontadas por estes”, explicando isso eles afirmam que “toda vez que a ciência descobre uma verdade que desagrada ou contraria determinados grupos (país, empresa, religião, etc.) esse grupo mobiliza esforços para desacreditar e invalidar a ciência”. 
O discurso negacionista, apesar do nome, não é por necessidade a total negação de um discurso. Pode-se ver um padrão sobre a questão da negação da vacinação, em que se observa além da total contrariedade deste método, há os hesitantes vacinais, que dificultam o processo de campanhas de vacinação, de forma gradativa, ou seja, variando os casos de negação, desde o atraso na aceitação, recusa de algumas vacinas especificas até a completa negação de todas em um calendário vacinal (DUBÉ et al., 2015; JACOBSON et al., 2015; FERNANDES e MONTUORI, 2020). Outra questão que atrai muitos negacionistas é o assunto das mudanças climáticas e do aquecimento global, em que as opiniões também formam uma gradação entre a negação total e outras afirmações (LOIOLA, 2019).
A avaliação de evidências científicas pode acabar sendo enviesada para conclusões desejadas. Apesar disso, a negação de evidências e métodos depende de um motivo com aspecto racional, se não for o caso de ter uma “desculpa” para a negação, mesmo com certas crenças prévias, há uma tendência a crer nas evidências e métodos. Com isso, portanto, o negacionista precisaria de uma aparência de racionalidade para as suas negações (KUNDA, 1990). Isso é visto por Szwako, (2021), que falando sobre o negacionismo na pandemia diz que “não é todo e qualquer discurso científico que é negado, pois o discurso negacionista também se ilustra na ciência”, com isso pode-se entender que o negacionista não nega ou desconhece a realidade, ele faz um recorte daquilo que lhe satisfaz (SZWAKO, 2021).
Na pandemia, houve várias formas de expressão de negacionismos a exemplo do caso da cloroquina e da hidroxicloroquina. A cloroquina é um medicamento que já é utilizado a algum tempo no tratamento e profilaxia de malária e amebíase e a hidroxicloroquina é muito utilizada no tratamento de doenças autoimunes como artrite reumatoide e lúpus (LIU et al., 2020). Houve alguns trabalhos durante a pandemia para saber se essas substâncias poderiam ser efetivas no combate ao coronavírus (PACHECO et al., 2020; CAPONI et al., 2021). Em 31 de março de 2020 a OMS deu suporte para o uso emergencial desses medicamentos definindo que seu uso deveria ser documentado e monitorado (CAPONI et al., 2021). É importante ter a noção de que apesar disso, esses medicamentos podem ser perigosos se as dosagens não forem muito bem controladas (PACHECO et al., 2020).
Nesse período de debate com relação ao uso da cloroquina e da hidroxicloroquina, o ministério da saúde brasileiro definiu o seu uso em casos emergenciais. Porém o então presidente Jair Messias Bolsonaro, que acreditava na efetividade desses medicamentos, apesar da falta de evidências, queria que eles fossem utilizados até em casos leves. O então ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta foi contra essas medidas o que gerou um conflito no governo. O ministro acabou sendo demitido e substituído por Nelson Teich que possuía posição semelhante ao seu antecessor e, por isso, teve fim semelhante a ele. Em junho de 2020 foram publicadas pesquisas que demonstravam a inefetividade dos medicamentos citados, porém o presidente continuou a recomendá-los (CAPONI et al., 2021). O exército brasileiro chegou a produzir 12 vezes mais comprimidos de cloroquina que em anos anteriores e entre setembro de 2020 e janeiro de 2021, 482 mil doses de hidroxicloroquina foram distribuídas para o tratamento de COVID-19 (56).
Dentre as teorias da conspiração, outra que cresceu na pandemia e foi difundida pelo então governo e a sua mídia aliada, era de que o vírus teria sido fabricado em laboratório pelo governo chinês. Porém, a análise genética dele demonstrou quenão seria possível cria-lo em laboratório devido a sua complexidade. Além disso, há uma semelhança com a Síndrome Aguda Respiratória Grave (SARS), a qual o morcego é hospedeiro, indicando que assim como a SARS a COVID-19 era uma zoonose, espalhada pela natureza em desequilíbrio e pela exploração humana para o consumo e comércio, como nos mercados de Wuhan(1). Para (1) essa teoria da conspiração tiraria o foco da percepção do real problema, a degradação ambiental que permitiu tal pandemia acontecer, e dificultaria a resolução dele.
Ainda de acordo com (1), morcegos parecem ser animais especialmente suscetíveis de transmitirem zoonoses devido ao fato de serem mamíferos como nós e terem seus habitats destruídos pela nossa espécie, o que faz com que eles se abriguem em áreas antropizadas. Além disso há grande associação da destruição do meio ambiente com a transmissão de zoonoses (1). Portanto, “a contenção imediata do desmatamento e a revitalização da biodiversidade e das condições ecológicas das áreas degradas é a unica forma de minimizar ou controlar as causas do surgimento de futuras pandemias” (1).
Referencias no TCC PORRA e:
1 LAYRARGUES, Philippe Pomier. Pandemias, colapso climático, antiecologismo: Educação Ambiental entre as emergências de um ecocídio apocalíptico. Revista Brasileira de Educação Ambiental (RevBEA), v. 15, n. 4, p. 1-30, 2020.

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