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Evolução e Impacto da Black Friday


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A Black Friday surge, nos Estados Unidos, como uma ação promocional na quarta sexta-feira do mês de novembro, que seguiria o tradicional feriado do “Thanksgiving”, que traduzido fica como dia de ação de graças (4; 5). Essa sexta-feira não é um feriado nos Estados Unidos, porém, é um período que já está arraigado na cultura do país, sendo tradicionalmente uma grande atração aos consumidores para unidades físicas de lojas justamente devido a junção do período do feriado os preços baixos (5). 
A origem do termo pode estar associada a expressões utilizados em alguns locais para se referir ao grande tráfego de pessoas que parariam a cidade ou ainda ao crescente consumo no período do feríado que faria com que certas lojas saíssem do vermelho para o preto (do negativo para o positivo) (3). A importância cultural da Black Friday é tanta que se torna um processo ritualístico observado na característica dos americanos irem nas lojas com a família e passar o período do feriado em busca de compras com bons preços. Esse dia se torna um momento de celebração das tradições, do Natal (o grande feriado seguinte), do materialismo e das relações e conexões pessoais (5). 
Esse dia de promoções após o Dia de Ação de Graças seria exportado ao mundo todo, acabando por chegar no Brasil em 2010. Em poucos anos a Black Friday gerava lucros recordes e expectativas superadas, confirmando a adesão da população e fazendo com que o dia se tornasse extremamente relevante na elaboração do orçamento anual de vendas de várias lojas (3). O desconto é utilizado pelos varejistas como forma de atrair clientes para a marca, fazendo com que haja uma percepção positiva do consumidor (3) e a crescente força da data demonstra que, pelo menos no começo, ela era vista como algo positivo.
Com o passar dos anos, a Black Friday vem perdendo seus predicados mais tradicionais e vem se transformando, perdendo o valor que já teve. Antes era um período associado a diversão, a uma aventura na busca do consumo barato, ligado intrinsecamente a ida presencial as lojas. A popularização das compras online é um dos fatores que afetaria o caráter mais tradicional da Black Friday, ela também se tornaria muito associada a agressividade dos consumidores competindo por produtos em promoção. Outro fator a ser citado é a extensão do tempo, o que antes era um dia, se torna um tempo mais extenso e, com isso, perde-se um certo valor, na percepção dos consumidores, da importância do desconto. Além disso tudo, a pandemia da COVID-19 e as políticas públicas necessárias a seu combate, causaram uma aceleração em um processo que já era tendência, o de transferência das compras presenciais para as em meios digitais (5).
Em terras brasileiras, esse evento foi ganhando ares polêmicos sendo ironicamente chamado de “Black Fraude” devido as propagandas enganosas (2). Em (2), foi observado que o evento estava associado a emoções negativas do consumidor, especialmente relacionados a fraude e falta de dinheiro, ganhando no nosso país caráter diferente em comparação a versão americana, sendo percebido com maior desconfiança (3). Dentre as questões que atrapalham a confiança do brasileiro, podemos citar o fato de muitas vezes as lojas ou os anúncios serem falsos, preços abusivos, desrespeito com o prazo de entrega e o problema mais conhecido que é o de promoções falsas, o chamado “metade do dobro”, em que há um aumento dos preços antes do evento para que a promoção seja algo como o preço original (4). No fim, tudo feito em mente a ter um lucro maior.
Na perspectiva do consumidor, para evitar os problemas associados a Black Friday, é importante procurar a reputação do estabelecimento e se há reclamações sobre ele e pode-se pesquisar os preços antes do evento para evitar fraudes nos descontos (4). Além disso, o código de defesa do consumidor é uma arma a ser utilizada para se proteger. Ele garante em seu artigo 6º, por exemplo, que as informações relacionadas aos produtos devem ser adequadas e claras com relação as suas características e, também, a proteção contra publicidade enganosa e abusiva (7).
Há, portanto, vários fatores que causam desconfiança na população, com relação a Black Friday. A percepção negativa do evento pode deixar o consumidor mais observador com relação a fraudes, se tornando menos afetado pelas propagandas, ao mesmo tempo, pode ser que a percepção seja tão negativa que afasta o possível cliente (2). O empreendedor, se quer reter ou conquistar clientes, deve ter uma boa relação com eles. Como já citado, pode-se observar características ritualísticas no evento, relacionadas a cultura materialista, as relações pessoais, o Natal e as tradições. 
Aristóteles, em ética a nicômaco, fala que toda ação é feita em busca de um bem e que todos os bens intermediários tenderiam a um bem supremo e que se encerra em si mesmo. Nessa perspectiva a riqueza seria um bem intermediário, um meio em busca de um fim, sendo o fim último a felicidade, ou seja, aquilo que se busca por si mesmo. Além disso, o filósofo cita que homens bons são amigos de homens bons com o fim da própria bondade e pela própria natureza e que os maus são amigos com fins próprios, para saciar seus vícios. O homem bom é aquele que busca o fim último, não apenas para si, mas também para os outros. A riqueza sendo um bem intermediário, não deveria ser vista como um fim e sua busca à custa dos outros se mostra um vício (8 ou 9). Vê-se, através da ética em Aristóteles, portanto, que os métodos utilizados durante a Black Friday são antiéticos.
Com isso, o empreendedor pode-se utilizar de meios mais éticos para criar um ambiente de mercado que seja mais centrado no consumidor, criando uma ligação entre ambos (5). Pode-se oferecer em filas cupons e promoções para os clientes que estão esperando, podem ser feitos jogos e atrações, especialmente focados em grupos de clientes, podem ser oferecidos brindes e tudo isso pode se tornar como uma tradição local em que os clientes acabam por sempre retornar, além disso, pode ser feita a associação com o Natal suas tradições (5), tendo em mente que esse é o próximo grande feriado e que os presentes já poderiam ser comprados “agora”. 
Naturalmente as boas relações com os consumidores, geraria uma nova confiança no mercado. Muito provavelmente, uma loja pode servir de exemplo para o resto, fazendo com que haja uma mudança geral. As marcas, cujos preços são afetados pelos métodos escusos dos varejistas, se beneficiariam também, pois aumentariam as vendas. A desconfiança do mercado, muito provavelmente, atinge tanto as marcas quanto as lojas. Uma boa Black Friday poderia ser algo importante para essas marcas atrair novos clientes, ao invés de afastá-los.
1 PETERS, Cara; THOMAS, Jane. Black Friday: Has the game changed?. Journal of Global Fashion Marketing, v. 13, n. 4, p. 344-359, 2022.
2 TUYANI ARAÚJO SOARES, Sarah; MODESTO, João Gabriel. Persuasão e emoções: fraudes ao consumidor na Black Friday Brasil. Ciencias Psicológicas, v. 16, n. 2, 2022.
3 GUERRA, Alberto Alexandre Carreras; NIELSEN, Flávia Angeli Ghisi. Capítulo 3-Black Friday como ferramenta de promoção de vendas: um estudo de multicaso no varejo brasileiro. Varejo Competitivo, v. 20, p. 47-67, 2016.
4 SANTOS, Thayanny Teixeira. Práticas abusivas e publicidades enganosas na Black Friday no contexto do direito do consumidor brasileiro. RFDC, p. 63 - 85, 2020.
5 BELL, Gina Castle et al. Investigating the celebration of Black Friday as a communication ritual. Journal of Creative Communications, v. 9, n. 3, p. 235-251, 2014.
7 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/codigo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90
8 ética a nicômaco
9 NODARI, Paulo César. A ética aristotélica. Síntese: Revista de Filosofia, v. 24, n. 78, 1997.

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