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Percepcao_de_maes_sobre_cuidados_de_saud


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REVISTA DE ODONTOLOGIA DA UNESP
Rev Odontol UNESP. 2018 Nov-Dec; 47(6): 371-375 © 2018 - ISSN 1807-2577
ARTIGO ORIGINAL
Doi: https://doi.org/10.1590/1807-2577.11118
Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative Commons Attribution, que permite uso, 
distribuição e reprodução em qualquer meio, sem restrições desde que o trabalho original seja corretamente citado.
Percepção de mães sobre cuidados de saúde bucal ofertados na 
residência em Neonatologia
Mother’s perception about oral health care accomplished in residence in neonatology
Angélica DINIZa, Fabiana BUCHOLDZ TEIXEIRA ALVESb, Jessica GALVANb, Camila ZANESCOb, 
Danielle BORDINb*, Cristina BERGER FADELb
aHURCG - Hospital Universitário Regional dos Campos Gerais, Ponta Grossa, PR, Brasil
bUEPG - Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, PR, Brasil
Resumo
Introdução: A avaliação materna acerca da oferta de serviços de saúde destinada ao cuidado em saúde de neonatos 
destaca-se como importante referencial de qualidade, no âmbito hospitalar. Objetivo: analisar a percepção de mães 
sobre cuidados de saúde bucal trazidos por profissionais de Odontologia residentes em Neonatologia. Método: Trata-se 
de uma pesquisa descritiva com abordagem qualitativa às mães de neonatos que estiveram internados na Unidade 
de Terapia Intensiva Neonatal do Hospital Universitário Regional dos Campos Gerais. Resultado: Inicialmente, a 
informação da presença do cirurgião-dentista na equipe de cuidados à saúde neonatal foi encarada com surpresa pelas 
participantes, porém somente até que a ações fossem destacadas. Após o esclarecimento, a maioria das entrevistadas 
expressou satisfação, motivação e segurança em relação ao atendimento odontológico e admiração pela oferta deste 
serviço de saúde, em um hospital público. Conclusão: A percepção da participação do cirurgião-dentista na equipe 
de saúde foi avaliada de maneira positiva pelas mães participantes, ao ser evidenciada a atuação deste no âmbito 
hospitalar. O levantamento realizado fortalece a necessidade de continuidade e ampliação das ações de promoção 
e prevenção em saúde, promovendo, desta forma, o incentivo precoce e o empoderamento das mães e familiares de 
neonatos. 
Descritores: Percepção social; serviços de saúde da criança; neonatologia; saúde bucal; atenção terciária à saúde.
Abstract
Introduction: The maternal evaluation about the provision of health services for neonatal health care stands out 
as an important quality reference in the hospital setting. Objetive: to analyze the perception of mothers on oral 
health care brought by dental professionals residing in Neonatology. Method: This is a descriptive research with 
a qualitative approach to the mothers of neonates who were hospitalized in the neonatal intensive care unit of the 
Regional University Hospital of Campos Gerais. Result: Initially the information on the presence of the dental 
surgeon in the neonatal health care team was viewed with surprise by the participants, but only until the actions 
were highlighted. After clarification, most interviewees expressed satisfaction, motivation and safety regarding 
dental care and admiration for the offer of this health service in a public hospital. Conclusion: The perception of the 
participation of the dental surgeon in the health team was evaluated in a positive way by the participating mothers, 
when it was evidenced the performance of this in the hospital scope. The survey strengthens the need for continuity 
and expansion of health promotion and prevention actions, promoting in this way the early encouragement and 
empowerment of mothers and their families. 
Descriptors: Social perception; child health services; neonatology; oral health; tertiary healthcare. 
INTRODUÇÃO
A avaliação da qualidade de serviços no campo da saúde tem 
sido objeto de estudo de diversos pesquisadores e uma necessidade 
constante de instituições públicas ou privadas. No ambiente hospitalar, 
a qualidade do atendimento é frequentemente mensurada pela 
análise de suas estruturas e dos processos e resultados de serviços 
prestados.
Neste contexto, destaca-se recentemente a organização do 
trabalho em hospitais de ensino por meio da inclusão de Residências 
Multiprofissionais em Saúde (RMS), as quais exigem documentação, 
protocolos e rotinas de trabalho comuns e específicas, sob o 
eixo da integralidade na saúde. Cabe destacar que o processo de 
regulamentação desta modalidade de residência em saúde se 
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concretizou quando, em novembro de 2005, foi publicada a Portaria 
Interministerial1 (Ministério da Saúde e Ministério da Educação) 
n.º 2.117, passando, assim, as práticas de trabalho de todas as 
categorias profissionais na área da saúde a estar em consonância 
com as diferentes necessidades em saúde da população.
Foi nesse cenário que se criou, em 2016, o Programa de 
Residência Multiprofissional em Neonatologia, vinculado ao Hospital 
Universitário Regional dos Campos Gerais (HURCG) na cidade 
de Ponta Grossa-PR, com ações voltadas a educação e prevenção 
em saúde, e ao acompanhamento periódico de crianças até os dois 
anos de idade, buscando aproximar a Odontologia à comunidade 
e disseminar a importância do cuidado com a saúde bucal infantil.
Nesse sentido, modernamente, a percepção de usuários vem 
sendo considerada importante ferramenta avaliativa, permitindo a 
gestores subsídios para o monitoramento e a melhora continuada da 
prestação de serviços hospitalares. Apesar de, no Brasil, a presença do 
cirurgião-dentista em ambiente hospitalar ser lei2 desde 2013, como 
integrante de equipes multidisciplinares, sua atuação no período 
neonatal é ainda cercada de mitos e estereótipos tanto por parte de 
mães de neonatos e seus familiares como por profissionais da saúde. 
Dentre as principais ações da Odontologia nesse contexto, destaca-se 
a prevenção de problemas na amamentação, na deglutição e no 
desenvolvimento da fala; a avaliação de dentes natais e neonatais, 
e a capacitação da equipe de saúde para a realização da higiene 
bucal infantil de forma segura.
Ainda, a incorporação do cirurgião-dentista na equipe de 
saúde multiprofissional possibilita uma visão global do paciente 
internado, atendendo ao seu bem-estar, atuando no controle de 
infecções e diminuindo o seu tempo de internação e a quantidade 
de medicamentos utilizados3-5. Ciente de que mães assumem papel 
primordial na promoção e manutenção da saúde bucal infantil, e que 
suas impressões sobre a oferta de serviços de saúde constituem-se 
importante referencial de qualidade no âmbito hospitalar, o presente 
estudo buscou apreender a percepção de mães de neonatos em um 
hospital universitário sobre cuidados de saúde bucal trazidos por 
profissionais de Odontologia residentes em Neonatologia.
MÉTODO
Trata-se de pesquisa descritiva com abordagem qualitativa 
e a amostra foi constituída por mães de neonatos que estiveram 
internados na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) do 
Hospital Universitário Regional dos Campos Gerais (HURCG), na 
cidade de Ponta Grossa-PR, os quais receberam cuidados de saúde 
bucal ofertados por residentes no primeiro ano de atuação da RMS 
em Neonatologia, no período de março de 2017 a julho de 2018.
Para a coleta de dados, realizou-se inicialmente um sorteio de vinte 
mães, as quais foram, via contato telefônico, convidadas a compor 
uma entrevista em grupo focal, realizada na Instituição de Ensino 
Superior vinculada ao referido hospital. Destas, 11  compareceram 
ao local da pesquisa, as quais foram numeradas por ordem de 
chegada para a posterior tabulação dos dados.
A entrevista em grupo focal foi conduzida por pesquisador único, 
com profundo conhecimento sobre o fenômeno investigado e sobre 
coleta de dados qualitativos, e teve duração de aproximadamente 
quarenta minutos, em sessãoúnica, sendo gravada e transcrita na 
íntegra, para posterior análise. Para a apreensão das informações 
de interesse para o estudo, foi utilizado um roteiro composto por 
questões disparadoras amplas, as quais faziam referência à percepção 
das mães investigadas sobre os cuidados de saúde bucal que foram 
ofertados ao seu filho durante a internação hospitalar. No entanto, 
cada participante teve a liberdade de se expressar no momento e 
na forma que julgaram convenientes, assumindo, o pesquisador, 
papel de motivador e moderador do estudo, mantendo o interesse 
dos participantes. Apesar de a presente pesquisa ser eminentemente 
participativa, houve realização de estudo-piloto com mães de 
neonatos internados no referido hospital em período que antecedeu 
a coleta de dados, visando avaliar a compreensão do vocabulário 
que seria utilizado. O instrumento de coleta de dados não sofreu 
modificações após esse estudo. O encerramento da coleta de dados 
se deu conforme o critério de saturação, ou seja, quando a análise 
do material empírico permitiu delinear um cenário abrangente 
do objeto de estudo.
Os dados obtidos foram analisados conforme a técnica de análise 
de conteúdo, na modalidade análise temática transversal, descrita 
por Bardin6. Essa abordagem consiste num conjunto de técnicas 
de análise de comunicações, visando obter, por procedimentos 
sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, 
indicadores que permitam a inferência de conhecimentos relativos 
às condições de produção e recepção das mensagens expressas6.
Para a análise, procedeu-se ao recorte das falas, levando-se 
em consideração a constância dos temas extraídos dos discursos, 
visando encontrar os principais núcleos de sentido, cuja presença 
deu significado ao objetivo proposto7. As falas mais representativas 
de cada categoria foram transcritas ipsis litteris e discutidas à luz 
de literatura pertinente, sendo a autoria das frases identificadas 
pela palavra mãe seguida por números.
O estudo acolheu as normativas da Resolução 466/12 e foi aprovado 
pelo Comitê de Ética em Pesquisa (parecer n.º 2.461.494/2018). 
Todos os sujeitos participantes assinaram o Termo de Consentimento 
Livre e Esclarecido, e tiveram o seu anonimato assegurado.
RESULTADO E DISCUSSÃO
A média etária das mães entrevistadas foi de 25 anos, sendo 
que sete se declararam casadas ou em situação de união estável. 
A  totalidade das investigadas relatou surpresa ao reconhecer ou 
ser informada da presença de um cirurgião-dentista no cenário 
da UTIN. No entanto, a maioria expressou satisfação, motivação 
e segurança em relação ao atendimento odontológico, e admiração 
pela oferta deste serviço de saúde, em um hospital público.
Em decorrência da aplicação da técnica de análise de conteúdo, 
foram identificados quatro núcleos temáticos atrelados aos cuidados 
odontológicos oferecidos aos neonatos: ‘satisfação, motivação e 
segurança em relação ao atendimento’; ‘facilitação do primeiro 
acesso ao cirurgião-dentista’; ‘prevenção e formação de hábito 
precoce’; ‘ampliação do vínculo materno-infantil’.
Quando a gente descobre a gente fica muito satisfeito, eu não 
sabia que tinha dentista no hospital. Porque pelo SUS a gente 
não imaginava que desde pequeno o bebê poderia ter esse 
acompanhamento odontológico, que o SUS proporcionaria 
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isso pra gente. Porquê o particular não tem, né? Tá melhor 
que no particular. (Mãe 7)
Eu me senti motivada, tanto pela facilidade do agendamento, 
de já marcar horário pra vir aqui e daí eu vir aqui trazer o 
meu bebê e vocês já fazem os procedimentos e também eu 
me senti segura…é que assim, o hospital está marcando um 
horário pro seu bebê ser atendido, então o hospital sabe que 
é a hora certa. (Mãe 3)
A inserção do cirurgião-dentista em hospitais no âmbito do 
Sistema Único de Saúde (SUS) é recente, explicando a impressão 
expressa nas respostas das mães investigadas quanto à presença do 
referido profissional na equipe de saúde hospitalar. A incorporação 
da Odontologia na equipe multiprofissional objetiva contemplar a 
atenção integral e humanizada, com espaço para a promoção em 
saúde neste cenário de cuidado8, além de repercutir positivamente na 
condição clínica do paciente, reduzindo complicações relacionadas 
ou decorrentes da condição de saúde bucal, consequente uso de 
antibióticos e taxa de mortalidade5,8,9.
Nas Unidades de Terapia Intensivas Neonatais, a atuação do 
profissional da saúde bucal é primordialmente voltada para momentos 
de orientação a mães e responsáveis sobre prevenção de problemas 
com a sucção infantil durante o processo de amamentação, a sua 
deglutição, o desenvolvimento da fala e a realização da higiene da 
cavidade oral10. No entanto, observa-se também preocupação com 
a relação entre saúde bucal de neonatos e doenças sistêmicas, em 
especial no tocante à utilização de sondas nasogástricas e ventilação 
mecânica, as quais, em virtude da exposição a micro-organismos 
da cavidade oral e orofaringe, podem propiciar o desenvolvimento 
recorrente de infecções9.
Apesar de seu caráter de relevância e urgência, a incorporação 
da Odontologia na equipe de saúde hospitalar enfrenta dificuldades 
e expõe desafios. A atuação no contexto multiprofissional com 
compartilhamento de ações e necessidade de discussões apresenta-se 
como complexa para os envolvidos, além de demandar conhecimento 
do contexto sistêmico do paciente, incomum na rotina prática 
desempenhada por muitos5,8. Contudo, salienta-se que a correta 
adesão da proposta onera benefícios mútuos aos envolvidos, e para 
o contexto geral da saúde8, repercutindo em satisfação e segurança 
para pacientes e familiares, como destacado pelas mães investigadas 
do presente estudo.
Dentre os temas que envolvem a abordagem do cirurgião-dentista, 
responsáveis pelo sentimento de satisfação materna, evidenciou-se 
a prevenção e a formação de hábito precoce em saúde bucal como 
um importante benefício para o bebê, com desdobramentos 
sobre o comportamento futuro da criança, conforme descrito nos 
discursos abaixo.
Eu também tô preferindo bem as informações daqui, a gente 
sabe que o quanto antes a gente limpar a boquinha é melhor... 
porque quando ele tiver crescendo ele vai se incentivar e daí 
pra escovar o dente não vai ser uma briga. Porque assim, eu 
tenho uma filha que eu ganhei no particular, que daí, tipo 
ela não quer saber, tem que agradar no último e pra ele, já 
sendo de começo, vai melhorar né? (Mãe 11)
Eu acho que eles não vão mais sofrer daqui pra frente, porque 
como vocês estão passando a informação, a higiene. Eu não 
sabia que passa a toalhinha na hora do banho na gengiva dele, 
eu achava que quando saísse dente era pra escovar. E se a gente 
cuidar agora, mais pra frente eles não vão sofrer. Nós estamos 
dando hábito pra eles pela informação que recebemos. (Mãe 5)
O conhecimento sobre saúde bucal ainda é escasso para parcela 
significativa da população. De maneira oportunista, gradualmente, 
as informações vêm sendo disseminadas precocemente entre 
gestantes e mães de neonatos, pois se entende que as fases da 
gestação e puerpério se destacam positivamente na aquisição de 
novos conhecimentos, mudanças de hábitos e corresponsabilização 
em saúde9,11. Neste sentido, valendo-se deste imponente período e 
da inestimável relevância das orientações realizadas nesta fase para 
uma saúde bucal adequada nas etapas subsequentes12, a Odontologia 
Neonatal e Pediátrica viabiliza a mães e cuidadores infantis a 
compreensão sobre a importância da realização de cuidados precoces 
em saúde bucal, a importância de executá-los rotineiramente e suas 
repercussões. Por conseguinte, conta-se com a elevação da adesão 
e da motivação dos envolvidos, comportamento este que pode se 
postergar pelas demais fases da vida, onerandobenefícios a saúde 
geral e qualidade de vida da criança11.
Destaca-se também que o atendimento realizado pelo 
cirurgião-dentista em equipe multiprofissional, com ênfase na 
educação e motivação em saúde, são modalidades práticas, fáceis, 
eficientes e de reduzido custo, para serem executadas em serviços 
públicos de saúde, independente do nível de atenção11.
Neste sentido, outra percepção exposta pelas mães faz menção ao 
fato de o atendimento odontológico hospitalar, desde os primeiros 
dias de vida do bebê, trazer a elas algo vantajoso, em especial quanto 
à facilitação do primeiro acesso ao cirurgião-dentista.
Não precisei sair procurar um dentista agora. Eu vejo como 
uma vantagem [...] se fosse pra mim correr atrás de um 
dentista, pagar por mês uma consulta eu não ia conseguir 
agora, eu iria esperar. (Mãe 11).
Eu sinceramente, como eu sabia que tinha que fazer a higiene, 
eu ia fazer em casa e só iria correr atrás de um dentista se 
o problema surgisse. Pela própria acomodação e porque 
financeiramente falando, nem sempre consegue e dentista 
público, se você marcar no postinho ou você tem que levantar 
tipo muito cedo e marcar pra adulto mesmo, ou você tem que 
ir e falar assim olhe eu preciso de um dentista pro meu filho 
que está com dor, e daí eles às vezes marcam lá e às vezes até 
não atende crianças menores de um ano vamos dizer, então 
eu teria que pegar um particular [...]. (Mãe 2).
As ações de cuidado à saúde bucal infantil devem incidir, de 
maneira proeminente, no âmbito da atenção primária à saúde 
e nos domicílios, e serem pautadas em práticas preventivas e 
promotoras de saúde. Entretanto, evidencia-se, hoje, no sistema 
público de saúde brasileiro e em sua rede de serviços, uma carência 
de profissionais que se dedicam a essa parcela da população13. Ainda 
que a assistência em saúde bucal no Brasil atue hoje sobre “linhas do 
cuidado” (da criança, do adolescente, do adulto e do idoso) e tenha 
fluxos de referência e contrarreferência definidos14, a ampliação e a 
qualificação da atenção básica em saúde bucal, através da realização 
de atividades de promoção, prevenção e assistência de baixa 
complexidade, devem assegurar a retaguarda da qualidade de vida 
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de crianças de pequena idade, incidindo sobre a resolutividade dos 
serviços de saúde na grande maioria dos municípios brasileiros. Estas 
dificuldades de acesso aos serviços públicos de saúde bucal infantis 
foram ressaltadas pelas investigadas e podem estar relacionadas à 
busca tardia pelo atendimento odontológico15.
A junção das situações elencadas, acrescidas à necessidade 
de busca por serviços de saúde bucal privados, eleva a incidência 
precoce de problemas odontológicos em nível nacional16. Dados 
evidenciam que aproximadamente 27% das crianças na faixa etária 
de 18 a 36 meses já possuam lesões cariosas16 e, nessa perspectiva, 
acentua-se a necessidade do cuidado por parte de mães e cuidadores 
infantis, além de acompanhamento rotineiro, diagnóstico e tratamento 
precoce, evitando desdobramentos negativos na qualidade de vida 
desses indivíduos11,16.
Destaca-se, porém, que, em se tratando do nível terciário de 
atenção à saúde no Brasil, a saúde bucal tem taxas superiores de ações 
educativo-preventivas quando em comparação a ações curativas9, o 
que sugere os benefícios da atuação do cirurgião-dentista hospitalar 
e do empoderamento precoce de pacientes internados11.
Na sequência, foi relatado que o atendimento odontológico 
ofertado durante a internação no hospital propiciou a ampliação 
do vínculo entre mães e filhos, com ênfase para os momentos em 
que mães realizavam os procedimentos de higienização bucal em 
seus bebês.
Você começa a higiene eles riem, eles mordem, eles querem 
saber o que está acontecendo e eles gostam disso sabe, porque 
a gente tá muito próximo e eles gostam daquele contato olho a 
olho e a gente também. Daí a gente vai fazendo o movimento 
e eles vão rindo e ele vai retribuindo é um momento prazeroso 
pra eles e pra nós também, porque criança gosta de se sentir 
cuidada, né? (Mãe 9).
Além de benefícios em relação à saúde física de neonatos, a 
realização da higiene da cavidade oral e os demais cuidados com 
a saúde bucal possibilitam a criação e o fortalecimento do vínculo 
materno-infantil. O estímulo ao vínculo entre mães e bebês é 
extremamente importante, em especial para mães de neonatos 
internados em UTINs, cujos desdobramentos positivos são 
amplamente evidenciados17. Estudos demonstram que bebês que 
compartilham da presença de suas mães por mais tempo tendem 
a desenvolver com mais frequência sentimentos de segurança18-20.
Proporcionar às mães de neonatos internados em UTI a 
aproximação e a participação nos cuidados com o bebê, além de 
fortalecer laços afetivos e atenuar sentimentos experienciados, 
minimiza impactos negativos acarretados pela necessidade de 
hospitalização e consequente separação abrupta20,21. No entanto, 
incluir mães e familiares em um ambiente altamente tecnológico e 
avançado requer a atuação voltada à capacitação e uma especial atenção 
por parte da equipe multiprofissional, visto que a aproximação e a 
responsabilização devem ocorrer de maneira gradual, progressiva, 
com segurança e suporte para os envolvidos18,20.
Com a proximidade, mães e familiares tendem a participar de 
maneira mais efetiva na evolução do quadro clínico dos neonatos, 
além de compreender os sinais e sintomas apresentados, a necessidade 
dos cuidados prestados e condutas adotadas, gerando um ambiente 
mais favorável, estimulando a comunicação efetiva com a equipe de 
saúde, reduzindo a incidência de situações estressoras e promovendo 
bem-estar ao paciente20.
Enfim, como evidenciado nos resultados do estudo, a Odontologia 
Neonatal tem fundamental importância em ambiente hospitalar. 
No entanto, para que a sua atuação possa ser consolidada e suas 
ações sejam contínuas e interligadas com as demais áreas de 
desempenho infantis, são necessárias capacitações envolvendo 
as diversas categorias profissionais12. Reitera-se que, apesar da 
expressiva contribuição do profissional cirurgião-dentista no 
ambiente hospitalar, sua inserção ainda é ofuscada e dificultosa5,9,11. 
A escassez de momentos preparativos ainda na graduação, a 
deficiência na estrutura e a carência de materiais e de recursos 
para desenvolvimento das ações conduzem ainda para uma baixa 
adesão de profissionais destinados a esta área9.
Limitações do Estudo
Em relação às limitações do estudo, destaca-se que, apesar de 
o método qualitativo ser capaz de aprofundar a complexidade do 
fenômeno analisado, como é o caso da percepção sobre cuidados 
de saúde bucal ofertados na residência em Neonatologia, não há a 
possibilidade de inferência e generalização dos resultados. Ainda, 
por se tratar de uma inserção recente, são escassos os estudos que 
abordem a atuação do cirurgião-dentista dedicado aos cuidados 
neonatais no contexto multiprofissional hospitalar, impossibilitando 
a comparação com dados de pesquisas semelhantes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As percepções das mães de neonatos que passaram por período 
de internação em UTIN sobre a atuação de profissionais de 
Odontologia residentes em Neonatologia denotam um panorama 
positivo sobre o período de permanência hospitalar e posteriormente, 
durante o acompanhamento rotineiro prestado, fato que reforça a 
importância do referido programa de residência. Inicialmente, a 
informação de existência de um cirurgião-dentista na equipe de 
saúde foi relatada como surpresa por muitas mães investigadas e, 
simultaneamente, a atuação deste foi apontada como profícua e 
significativa, o que ficou evidenciado através do parecer favorável, 
demonstrando promissor percurso.
Acredita-se que mães de neonatos com conhecimentos e 
experiências precoces e positivamentesignificantes no campo da 
Odontologia Infantil possam desenvolver e qualificar os cuidados 
de saúde bucal de seus filhos, se antecipando ao desenvolvimento 
de agravos bucais.
Os dados angariados oportunizam conservar, adaptar e 
implementar condutas com foco na qualidade do programa de 
residência e da assistência prestada, e fortalecem a premissa de que 
ações voltadas a promoção e prevenção em saúde são essenciais para 
obtenção de resultados positivos em curto e longo prazo. Da mesma 
forma, é necessário estimular a atuação da equipe multiprofissional 
com inclusão do cirurgião-dentista em instituições hospitalares, 
proporcionando o incentivo precoce e o empoderamento das mães 
e familiares de neonatos, para que possam ser coadjuvantes no 
cuidado integral à saúde.
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CONFLITOS DE INTERESSE
Os autores declaram não haver conflitos de interesse.
*AUTOR PARA CORRESPONDÊNCIA
Danielle Bordin, UEPG – Universidade Estadual de Ponta Grossa, Departamento de Enfermagem e Saúde Pública, Av. Carlos 
Cavalcante, 4748, Bloco M, Campus de Uvaranas, 84030-000 Ponta Grossa - PR, Brasil, e-mail: daniellebordin@hotmail.com
Recebido: Outubro 30, 2018 
Aprovado: Janeiro 17, 2019