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Soldadinho-do-Araripe: Ecologia e Habitat

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Aves, Soldadinho-do-Araripe, Antilophia bokermanni, Caatinga
1. Ecologia e habitat da espécie (3 parágrafos)
O soldadinho-do-araripe é um Passeriforme, classificado na Família Pipridae e na subfamília Ilicurinae. O gênero Antilophia do qual a espécie faz parte, abrange os maiores representantes da subfamília. Seu canto é proferido pelo macho, formado de sete notas, com as três primeiras em frequências descendentes. O canto remete a outro nome local, atribuído ao macho: língua-de-tamanduá. Este pássaro habita florestas úmidas atravessadas por riachos que nascem nas encostas da Chapada do Araripe, onde seus ninhos são encontrados com mais facilidade. Todavia, há evidências de sua reprodução em lugares sem água corrente, situados em grotas que avançam desde as encostas até o planalto da chapada. A fêmea é a única responsável por construir o ninho e incubar dois ovos, adequando a época de postura para que a eclosão coincida com o período de maior frutificação das plantas que consomem. O ninho tem o formato de cesto, construído sobre uma forquilha, a cerca de um metro de altura, o que aparenta ser mais comum, podendo ocupar posições mais elevadas. Cada ovo demora até três semanas desde a postura à eclosão, sendo depositados com um a dois dias de intervalo no ninho, de onde os filhotes levam mais três semanas até saírem, seguidos pela mãe. Durante a estação reprodutiva, o macho canta repetidamente e realiza perseguições aos seus rivais, jovens ou adultos, incluindo voos circulares. Habita locais úmidos com presença de florestas consideradas como Mata Atlântica, no entanto, estes ambientes são como os oásis no deserto, uma vez que se encontram encravados no semiárido bioma Caatinga.
O soldadinho-do-araripe é um pássaro com cerca de 15 centímetros de comprimento e 20 gramas de massa, apresentando um dimorfismo sexual acentuado, pois a fêmea é de cor verde-oliva enquanto o macho é branco, com a cauda e as penas de voo das asas negras, além de um manto carmim que se estende do meio do dorso até um imponente topete sobre o bico, um adorno praticamente ausente na fêmea.
Os jovens de ambos os sexos têm o mesmo aspecto da fêmea, mas à medida que os machos se tornam adultos, penas carmins surgem na cabeça aumentando progressivamente sua densidade, até que no final deste processo, as penas de voo negras substituem as juvenis e a plumagem branca termina por suprimir totalmente a verde-oliva.
Os topetes aumentam de comprimento em função do desenvolvimento dos machos, podendo ultrapassar a ponta do bico em até quatro milímetros, e ocasionalmente alguma fêmea apresenta penas carmins isoladas no dorso. Os machos apresentam as penas de voo um pouco maiores do que as das fêmeas, sendo também ligeiramente mais compridos do que elas, que por sua vez, são um pouco mais pesadas do que eles. A coloração da íris é grená, como as pernas, exceto pelas plantas dos pés amareladas. São territorialistas, eles não andam em bando e protegem sua companheira e filhotes dentro da faixa de terra conquistada. A dieta do soldadinho-do-araripe é baseada principalmente no consumo de pequenos frutos, como ocorre com os outros representantes de sua família, contudo, também ingere artrópodes, e para isso adota estratégias de captura específicas inclusive para insetos em voo. Estas especializações vão além da ingestão furtiva, sugerindo uma importância nutricional ainda não dimensionada, que pode ajudar a atravessar os períodos com pouca oferta de frutos.
2. Distribuição geográfica (1 parágrafo e inserir um mapa - pode ser do livro vermelho, PortalBio ou outro portal).
Registrado apenas nos municípios cearenses de Missão Velha, Barbalha e Crato, onde ocupa área menor que 40 km2, sendo restrita às áreas mais úmidas das encostas, na região que se denomina Cariri cearense, nos municípios de Crato, Barbalha e Missão Velha. O soldadinho-do-araripe é a única ave endêmica (exclusiva) do Ceará (obs. pess. Weber Girão e Ciro Albano), sendo considerada uma das cinco espécies da fauna cearense mais ameaçadas de extinção global na lista oficial brasileira de 2003 (MMA/Ibama), onde é classificada como “Criticamente Em Perigo”. Em 2000, a população de soldadinhos era estimada em menos de 50 indivíduos, sendo que somente três machos e uma fêmea foram encontrados até essa data. Em 2003 as estimativas foram mais otimistas e a estimativa subiu para 250 indivíduos. Em 2004, essa estimativa foi mantida.
Distribuição do soldadinho-de-araripe
Fonte: Sistema de Informações sobre a biodiversidade brasileira.
3. Categorias de riscos de extinção e ano de avaliação (explicar com um parágrafo as justificativas para cada critério, correspondente às ameaças).
Se classifica como CR (Criticamente em Perigo) e com ano de avaliação em 2012. Seus critérios são B1ab(i,ii,iii,v)+ 2ab(i,ii,iii,v).
B1ab(i,ii,iii,v): B1 – Extensão de Ocorrência (EOO) estimada e/ou < 100 km2. (a) População severamente fragmentada ou em poucas localizações = 1. (b) declínio continuado em pelo menos um dos itens: (i) Extensão de ocorrência; (ii) área de ocupação; (iii) área, extensão e/ou qualidade do habitat. (v) número de indivíduos maduros.
B2ab(i,ii,iii,v): B2 – Área de Ocupação (AOO) estimada < 10 km2. . (a) População severamente fragmentada ou em poucas localizações = 1. . (b) declínio continuado em pelo menos um dos itens: (i) Extensão de ocorrência; (ii) área de ocupação; (iii) área, extensão e/ou qualidade do habitat. (v) número de indivíduos maduros.
4. Ações propostas (destacar as principais ações propostas no PAN, 4 parágrafos): averbadas. 
A. Políticas Públicas e Legislação
Proteger integralmente os remanescentes do Domínio Mata Atlântica que compõem a Mata Úmida ao longo da encosta nordeste da Chapada do Araripe, nos municípios de Crato, Barbalha e Missão Velha, conforme os diversos dispositivos legais que versam sobre a conservação deste ambiente e de sua biota associada. 
 Proteger integralmente as nascentes e a vegetação ciliar das nascentes e cursos d’água (Áreas de Preservação Permanente), naturais ou não, ao longo das encostas da Chapada do Araripe, especialmente na área de grande concentração e densidade de nascentes na encosta nordeste da chapada. Assegurar que não ocorra a implantação de quaisquer empreendimentos ou edificações nas Áreas de Preservação Permanente das encostas da Chapada do Araripe. 
 Interromper o licenciamento dos Planos de Manejo Florestais da Chapada do Araripe e áreas do entorno, até que se obtenham os subsídios necessários para avaliar os impactos destes Planos sobre a regeneração da vegetação e sobre a redução na capacidade de infiltração de água para o aquífero responsável pela formação das fontes que abastecem a área crítica para conservação do soldadinho-do-araripe. Exigir o cumprimento da Lei nº 4.771/65 (Código Florestal), por meio da averbação das áreas de Reserva Legal e proteção das Áreas de Preservação Permanente (APP's) como condicionante para a obtenção de quaisquer financiamentos públicos, assim como autorizações e licenciamentos. Elaborar um Plano Integrado de Gerenciamento das micro-bacias que compõem a Bacia do Rio Salgado, incluindo um Plano de Manejo e Zoneamento que considere a encosta nordeste da Chapada do Araripe como Zona de Preservação de Mananciais.
B. Unidades de Conservação
Criar uma Unidade de Conservação de Proteção Integral – englobando o hábitat atual do soldadinho-do-araripe e a região de maior concentração de mananciais na encosta nordeste da Chapada do Araripe – incluindo áreas de recuperação de hábitat e uma Zona de Amortecimento de, pelo menos, 500 m ao longo do limite inferior da unidade de conservação, e de 1 km sobre o topo do platô da chapada, ao longo de sua margem nordeste.
 Elaborar e implementar os instrumentos de gestão da Área de Proteção Ambiental da Chapada do Araripe, especialmente o Plano de Manejo e Zoneamento (incluindo o estabelecimento de Zona de Proteção Integral nas Matas Úmidas de encosta e Zona de Amortecimento ao redor desta), e prevendo a sua gestão integrada com a Flonae a Unidade de Conservação de Proteção Integral.
Revisar e implementar o Plano de Manejo da Flona Araripe, incluindo Zoneamento que preveja a Zona de Amortecimento ao longo da quebra do platô da Chapada do Araripe, assim como a gestão integrada (mosaico) com a APA e a Unidade de Conservação de Proteção Integral.
C. Recuperação do hábitat 
Elaborar e implementar um programa de recuperação de recursos hídricos, incluindo a desobstrução de nascentes e cursos d’água na encosta nordeste da Chapada do Araripe, recuperando a dinâmica hídrica natural. Elaborar e implementar um programa de recuperação de ambientes degradados ao longo da distribuição atual do soldadinho-do-araripe, incluindo a produção e replantio de mudas nativas, a recomposição das matas de galeria e de matas de encosta. 
Elaborar e implementar um programa de recuperação de ambientes degradados ao longo da distribuição atual do soldadinho-do-araripe, incluindo a produção e replantio de mudas nativas, a recomposição das matas de galeria e de matas de encosta.
D. Pesquisa 
 Realizar um mapeamento e levantamento fundiário detalhado nas áreas de encosta dos municípios de Crato, Barbalha e Missão Velha, incluindo análise dos títulos de propriedade, localização das Reservas Legais, Áreas de Preservação Permanente, nascentes e olhos d’água, usos do solo e cobertura vegetal remanescente, como apoio à criação e pré-zoneamento da unidade de conservação de proteção integral.
5. Referências (Livro Vermelho e PAN)
Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção: Volume I / -- 1. ed. -- Brasília, DF: ICMBio/MMA, 2018.
Plano de ação nacional para a conservação do soldadinho-do-araripe / Weber Andrade de Girão e Silva, Karina Vieiralves Linhares; Organizadores: Weber Andrade de Girão e Silva, Karina Vieiralves Linhares, Alberto Alves Campos. - Brasília: Instituto Chico Mendes de Conservação Biodiversidade, ICMBio, 2011.
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