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Análise da Hermenêutica Jurídica

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RESENHA1 
 
Márcio Ricardo Oliveira dos Santos 2 
Gilsimar Cerqueira de Oliveira 3 
 
1- APRESENTAÇÃO 
 
O presente trabalho tem como escopo a análise de três artigos que versam sobre 
aplicabilidade e a importância da hermenêutica jurídica no campo do direito penal. 
O texto “um”, intitulado de “A NOVA HERMENÊUTICA DO DIREITO PENAL 
BRASILEIRO À LUZ DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988”, discorre sobre uma 
abordagem hermenêutica sobre a relação existente entre a constituição e as leis 
infraconstitucionais, mais precisamente o código penal de 1940. A autora, Elissandra 
Barbosa Fernandes Filgueira, baseia-se em grandes doutrinas da matéria penal, 
juntamente com importantes decisões dos tribunais superiores, para fundamentar o 
panorama brasileiro, no que diz respeito a interpretação e aplicação da norma penal, a luz 
da interpretação que é feita em consonância com o código penal. 
 A abordagem feita pelo texto “dois”, A HERMENÊUTICA JURÍDICA COMO 
MEIO DE SUPERAÇÃO DE DIVERGÊNCIASJURISPRUDENCIAIS E A REGRA 
DO ART. 217-A, §5º, DO CÓDIGO PENAL, retrata uma crítica feita a estrutura 
tridimensional do direito idealizada por Miguel Reale, e seu impacto na hermenêutica 
jurídica. Quando é editada uma lei pelo poder legislativo, o mesmo busca tutelar e 
proteger um direito inerente a pessoa humana, atribuindo a esse direito um valor real, com 
base nisso os autores Marco Antônio, Guilhen Mázaro e Ozana Rodrigues Boritza 
abordam uma análise sobre os processos legislativos e judiciários, juntamente com sua 
respectiva relação com a tridimensionalidade do direito atrelada a hermenêutica jurídica 
e sua interpretação. 
 
1 Trabalho solicitado como parte integrante dos requisitos para a aprovação na disciplina de 
Hermenêutica Jurídica. 
2 Discentes do curso de Bacharelado em Direito-N01, da FAT, 2º semestre. 
3 Docente do curso de Direito da FAT e solicitante do presente trabalho. 
 
 O texto “três”, MÉTODOS INTERPRETATIVOS E DIREITO PENAL: AS 
CONSEQUENCIAS DA ESTAGNAÇÃO E DA EVOLUÇÃO HERMENÊUTICA NA 
JURISPRUDÊNCIA NACIONAL, desenvolve um embate entre a aplicação da 
hermenêutica clássica e moderna, apontando divergências jurisprudenciais ocorridas em 
julgamentos realizados, cujas decisões foram ensejadas por diferentes tipos de 
interpretação. O principal objetivo dos autores, DIEGO PREZZ, JOSÉ SEBASTIÃO e 
RENÊ CHIQUETTI, é demonstrar que a interpretação meramente gramatical pode 
influenciar negativamente no enquadramento da norma ao caso concreto, e para justificar 
isso trazem processos semelhantes que tiverem desfechos distintos por passarem por 
processos interpretativos diferentes. 
2- DESENVOLVIMENTO 
 
TEXTO 1: A NOVA HERMENÊUTICA DO DIREITO PENAL BRASILEIRO À LUZ 
DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. 
O texto da autora Elissandra Barbosa, traz uma abordagem referencial sobre a 
interpretação da lei penal, baseada no âmbito de garantias fundamentais elencadas no 
texto constitucional. 
Destacando a época de publicação/aprovação do código penal brasileiro, e 
levando em consideração o ambiente histórico inserido, se faz necessário uma 
interpretação paralela a constituição federal. Visando anular possíveis efeitos que afetem 
direitos garantidos pela constituição federal. 
O sistema normativo brasileiro adota a constituição federal como a carta magna 
de seu ordenamento jurídico. Desta forma, todos os demais códigos e legislações 
infraconstitucionais devem estar de acordo com o regramento constitucional, a fim de 
garantir o comprimento de todo rito por ele estabelecido. Baseado nisso a autora busca 
abordar princípios constitucionais que servem de base para interpretar um código penal, 
visando uma limitação do poder do estado sobre o indivíduo garantindo assim a 
“liberdade” de um estado democrático de direito. Dentre os principais princípios por ela 
citados estão: Insignificância; Alteridade; Intervenção mínima; Proporcionalidade; 
Humanidade; Ofensividade; Garantismo penal. 
 
Todos os princípios citados pela autora buscam garantir que a dignidade da pessoa 
humana seja respeitada acima de tudo, tomando como ferramenta dessa garantia o texto 
constitucional. Segundo a autora o direito penal deve ser visto como uma ferramenta de 
adequação social, devendo obrigatoriamente a acompanhar as dinâmicas sociais. 
Grande exemplo dessa ferramenta é a interpretação dos princípios em casos 
concretos, muitas vezes promovida pelo poder judiciário no momento da aplicação, 
porém resguardado também pelo poder executivo no momento da confecção legislativa. 
Podemos destacar principalmente o princípio da humanidade das penas, onde o 
ordenamento jurídico brasileiro limita o poder punitivo do estado, deixando evidente no 
texto constitucional a aplicação de penas que afetem a dignidade humana de forma 
irreversível. 
Em consonância com o exposto acima, a autora conclui a abordagem deixando 
claro a necessidade de haver sempre essa adequação e coesão entre as normas, visando 
que direito entregues não sejam sacrificados de forma arbitrária pelo estado. A autora 
ainda esclarece possibilidade de uma atualização no código pena brasileiro, com o intuito 
de retifica-lo agora em consonância com o constituição vigente, evitando assim possíveis 
“lacunas” legislativas e garantindo a prevalência dos princípios constitucionais. 
TEXTO 2: A HERMENÊUTICA JURÍDICA COMO MEIO DE SUPERAÇÃO DE 
DIVERGÊNCIAS JURISPRUDENCIAIS E A REGRA DO ART. 217-A, §5º, DO 
CÓDIGO PENAL. 
 No corpo do texto os autores destacam a estrutura tridimensional do direito, 
trazendo a definição de Miguel Reale, para fundamentar as definições defendidas no 
decorrer do texto. 
 O direito pode ser dividido e analisado em três diferentes e harmônicas aspectos, 
dentre elas estão: aspecto normativo, evidenciado como a forma normativa do direito, 
sendo o direito uma expressão de ordem jurídica, materializada em leis, decretos, códigos, 
etc.; aspecto fático, que define o direito como uma construção social, baseada na história 
de uma sociedade; aspecto valorativo, atribuindo ao direito a ideia de justiça social, que 
deve ser cultivada para que a sociedade sinta-se representada em todas as decisões 
 
judiciais que versem sobre direito dos indivíduos, tanto individualmente quanto 
coletivamente. 
 Assim, infere-se que o direito possui valores que devem ser levados em conta 
pelos operadores do direito, uma vez que, o aspecto representativo do direito necessita 
que o mesmo seja aceito pela sociedade e para isso as normas devem alcançar o fim para 
qual foram designadas, sejam para proteção desses valores ou para garantir a titularidade 
dos mesmos. Para evidenciar a importância da discussão, os autores trazem as decisão 
legislativas tomadas a respeito do Art. 217-A, §5º do código penal brasileiro. 
 O referido artigo versa sobre os crimes contra a dignidade sexual de vulnerável, 
mais expressamente diz o código penal em seu artigo 217-A: “Ter conjunção carnal ou 
praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos”. Porém, no momento da 
tipificação do crime, muitos magistrados estavam promovendo a relativização do termo 
“vulnerável”, o que distorcia o fim para qual o tipo penal foi criado, deixando assim uma 
margem para má interpretação, fugindo da tridimensionalidade do direito, uma vez que o 
aspecto valorativo estaria sendo afetado, pela lei não estar incidido para proteção do valor 
para qual foi proposta. 
 Por fim, os autores defendem a alteração feita pela poder legislativo, para a 
manutenção do sentindo inicial do tipo penal, garantindo que o termo “vulnerabilidade” 
não seria relativizado. Com o acréscimo de parágrafo 5 no artigo, foi solucionada as 
divergências jurisprudenciais, garantindo assim a fiel execução da tipicidade descrita no 
artigo 127-A. 
 TEXTO 3: MÉTODOS INTERPRETATIVOS E DIREITO PENAL: AS 
CONSEQUENCIAS DA ESTAGNAÇÃO E DA EVOLUÇÃOHERMENÊUTICA NA 
JURISPRUDÊNCIA NACIONAL. 
 Os métodos interpretativos são utilizados para dar fiel aplicabilidade a lei penal. 
O texto vem destacando a importância que a hermenêutica vem sofrendo ao longo do 
tempo, saindo de um patamar de aplicabilidade literal da lei, para uma aplicação penal 
que leva em consideração aspectos “externos” a legislação. 
 A instauração de um objetivo legislativo que concentre o poder de criminalização, 
foi pensado com o objetivo de retirar das mãos do rei o poder de decisão sobre o que é 
 
considerado um delito. O excesso de interferência do Estado no período monárquico 
serviu de combustível para o fortalecimento de um poder que tivesse a competência de 
aplicar essa legislação, de forma n vinculada a questões políticas. 
 Com isso, a lei passa a ser a fonte primordial do direito, tendo a figura do 
magistrado como responsável por essa aplicação. Nesse cenário, surge a hermenêutica 
jurídica, como ferramenta para garantir a fiel interpretação do texto constitucional, com 
o passar do tempo e a dinâmica mutabilidade social se fez necessário o aprimoramento 
de diferentes técnicas de interpretação, uma vez que a interpretação meramente 
gramatical não estava expressando a eficiência pretendida. 
 De acordo com o texto temos um quadro de tribunais superiores que adotam 
determinado entendimento e são responsáveis pela interpretação legislativa, como por 
exemplo o supremo tribunal federal, responsável por dar fiel interpretação e proteção do 
texto da Constituição Federal de 1988. Todavia, é evidenciado no texto que são vários os 
casos em que diferentes tribunais tem decisões distintas se tratando da mesma matéria 
penal, segundo os autores essas diferentes decisões são fruto também de formas de 
interpretações distintas. 
 Quando o processo de interpretação é feito meramente pelo método gramatical, é 
possível que o magistrado tome uma decisão menos leal a verdadeira realidade do fato. 
Como bem foi colocado no texto o furto famélico é uma espécie de “delito” praticamente 
por pessoas que possuem uma necessidade biológica de satisfazer sua fome. 
Gramaticalmente é possível enquadrar a conduta no tipo penal do furto (Art155, CP), 
porem quando essa interpretação é feita de modo amplo, levando em conta princípios 
constitucionais como o da insignificância, podemos perceber que a decisão do magistrado 
será divergente daquele que decidiu baseado unicamente na literalidade da lei. 
 Segundo os autores, a figura do juiz “boca da lei” não deve ser mais empregada, 
uma vez que o mesmo agora deve atentar-se a critérios e princípios que muitas vezes n 
estão presentes unicamente no código penal. Assim, a aplicação da lei penal deve ter sua 
interpretação feita de forma ampla, objetivando a atender a necessidade de cada caso 
individualmente, observando as particularidades e o respeito aos princípios 
constitucionais e a preocupação com a proteção da dignidade humana. 
 
3- DISCUSSÃO 
O direito é uma peça chave na dinâmica social, uma vez que cabe a este o dever 
de organizar e garantir as diferentes relações sociais existentes. A constituição federal do 
Brasil, tem expresso em seu artigo primeiro, a dignidade da pessoa humana como um dos 
fundamentos da republica, o que também vai ser evidenciado em seu artigo quinto, onde 
o legislador destaca a importância da proteção a direitos fundamentais como a vida, 
liberdade e propriedade. 
A constituição federal de 1988, tomada no ordenamento jurídico brasileiro como 
a carta magna, localizada no topo da hierarquia das lei, pode ser definida como o 
instrumento legal que visa, entregar e garantir o acesso a direitos pelo povo, delimitar o 
território nacional e limitar a ação do Estado, enquanto instrumento punitivo e prestativo 
do poder. Desta forma, coube a constituição federal garantir o cumprimento de 
determinados princípios que visam a proteção dessa segurança constitucional. 
Como exemplo claro de mecanismo repressivo do estado limitado pela 
constituição, temos o direito penal brasileiro, que mesmo com um intuito repressivo, deve 
seguir princípios constitucionais para que o poder não seja exercido de forma totalmente 
arbitrária. A liberdade de locomoção é um caso claro dessa relação existentes entre as 
normas infraconstitucionais e o ordenamento constitucional. 
A liberdade de locomoção é um princípio fundamental, expresso no artigo 5 da 
constituição federal, que garanti a todo brasileiro e estrangeiro residente ou de passagem, 
o direito de ir, vir e ficar em todo território nacional em tempos de paz. Porém, existe uma 
limitação para esse direito, a privação da liberdade por meio de condenação penal é um 
exemplo do poder do estado ao limitar um direito fundamental. 
No entanto, a própria constituição que entrega ao estado o poder de privar alguém 
de sua liberdade, por meio de uma condenação criminal, também estabelece limites para 
esse poder, dentre eles temos as garantias da prisão e a vedação de determinadas penas 
que atentem contra algum bem valor humano irrenunciável. Assim, o direito mostra-se 
como uma ferramenta complexa, que necessita não só de uma interpretação gramatical, 
sendo mais cabível sempre uma interpretação sistemática, que busque abordar os diversos 
aspectos legais, não apenas a aplicação de uma penalidade. 
 
4- CONCLUSÃO 
Diante do exposto em todo trabalho, é possível verificar a importância de uma boa 
interpretação da norma jurídica. Visando agregar valor à norma, para que a mesma possa 
alcançar seus efeitos com a máxima eficácia possível. 
A hermenêutica jurídica representa uma ferramenta fundamental para uma 
interpretação fiel. Uma vez que, os operadores do direito necessitam de um olhar 
dinâmico para a legislação, buscando entende-la como parte de uma esfera normativa 
dinâmica, que tente a acompanhar as metamorfoses da sociedade brasileira. 
 
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
MÁZARO, Marco Antônio Guilhen; BORITZA, Ozana Rodrigues. Page 1 Página 1 de 
11Revista Iuris NovarumCacoal/RO, v. 1, n. 01, jan/jul.2021A HERMENÊUTICA JURÍDICA 
COMO MEIO DE SUPERAÇÃO DE DIVERGÊNCIASJURISPRUDENCIAIS E A REGRA DO 
ART. 217-A, §5º, DO CÓDIGO PENAL. Revista Iuris Novarum, Cacoal/RO, v. 1, p. 1-11, 
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https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:pfkGCIC4n18J:https://period
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FILGUEIRA, Elissandra Barbosa Fernandes. A NOVA HERMENÊUTICA DO DIREITO PENAL 
BRASILEIRO À LUZDA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. A NOVA HERMENÊUTICA 
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SANTOS, DIEGO PREZZI; OLIVEIRA, JOSÉ SEBASTIÃO; RODRIGUES, RENÊ CHIQUETTI. 
MÉTODOS INTERPRETATIVOS E DIREITO PENAL: AS CONSEQUENCIAS DA 
ESTAGNAÇÃO E DA EVOLUÇÃO HERMENÊUTICA NA JURISPRUDÊNCIA 
NACIONAL. MÉTODOS INTERPRETATIVOS E DIREITO PENAL: AS CONSEQUENCIAS 
DA ESTAGNAÇÃO E DA EVOLUÇÃO HERMENÊUTICA NA JURISPRUDÊNCIA 
NACIONAL, [S. l.], p. 260-276, 18 abr. 2022. Disponível em: 
http://revista.unicuritiba.edu.br/index.php/RevJur/article/viewFile/1525/1041. Acesso 
em: 30 nov. 2022.

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