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Parnasianismo: Estética Literária


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Parnasianismo
Na segunda metade do século XIX, em uma sociedade transformada pelas da ciência e pela revolução das máquinas, a razão toma o lugar dos sentimentos na produção literária. Na poesia, o impacto dessa mudança é profundo. Depois de se inspirarem por décadas nas emoções, os poetas passam a privilegiar a perfeição da forma. Essa tendência deu origem a uma nova estética, o Parnasianismo que você vai conhecer neste capítulo
Origens
O parnasianismo foi um movimento literário que surgiu na França no final do século XIX, tendo como principal bandeira a oposição ao realismo e ao naturalismo, movimentos que ocorriam nesse contexto. No Brasil, esse movimento opunha-se principalmente ao romantismo, já que, apesar dos ideais românticos terem dado lugar ao realismo e ao naturalismo na prosa, ainda eram fortes suas características na poesia. Assim, os poetas parnasianos incorporaram em suas produções poéticas traços que se opunham diretamente à poesia romântica. 
O Parnasianismo: a "disciplina do bom gosto”
Anteriormente acompanhamos as transformações no contexto social e econômico e na produção literária da segunda metade do século XIX. Os romances realistas e naturalistas e a poesia parnasiana são manifestações literárias dessa mudança. Na poesia, a transformação será mais radical.
Ela foi, durante décadas, o espaço privilegiado para a expressão das emoções humanas. Em nome da expressão de sentimentos e dos estados de alma, os românticos haviam abandonado os rigores formais na composição dos poemas. Este será o primeiro aspecto a ser atacado pela reação antirromântica. 
O Parnasianismo: a "disciplina do bom gosto”
Em 1866, alguns poetas franceses, como Théophile Gautier e Leconte de Lisle, publicam uma antologia de poemas intitulada O Parnaso contemporâneo, em que defendem a necessidade de tratar os temas poéticos de modo mais objetivo, pondo fim às “lamúrias” românticas.
O título da obra faz referência a uma montanha da Grécia - o Parnaso -, que seria a morada do deus Apolo e das musas inspiradoras dos artistas. Com essa escolha, os poetas franceses procuravam resgatar a visão de arte como sinônimo de beleza formal alcançada por meio do trabalho cuidadoso e detalhista. Nascia, assim, o Parnasianismo. Para Gautier, a arte não existe para a humanidade, para a sociedade ou para a moral, mas para si mesma. A finalidade da arte seria, portanto, a própria arte.
O projeto literário do Parnasianismo
O objetivo declarado dos poetas parnasianos era um só: devolver a beleza formal à poesia, eliminando o que consideravam os excessos sentimentalistas românticos que comprometeriam a qualidade artística dos poemas. Na base desse projeto estava a crença de que a função essencial da arte era produzir o belo. O lema adotado pelos parnasianos - a arte pela arte - traduz essa crença.
O modelo parnasiano
Os parnasianos adotam alguns princípios que orientam a seleção de temas e os modelos literários a serem seguidos.
Opção por uma poesia descritiva: uso de imagens que apresentem de modo mais imparcial fenômenos naturais, fatos históricos.
Preocupação com a técnica: o metro, o ritmo, a rima, todos os elementos devem ser harmonizados de modo a contribuir para a perfeição formal.
Tentativa de manter uma postura impassível diante do objeto do poema, para não cometer o excesso sentimentalista dos românticos.
Resgate de temas da antiguidade clássica (referências à mitologia e a personagens históricas).
Defesa da "arte pela arte": a poesia deveria ser composta como um fim em si mesma.
Busca da palavra exata que, muitas vezes, beirava o preciosismo.
Parnasianismo no Brasil
No Brasil, o movimento parnasiano teve mais destaque do que na Europa. A publicação considerada o estopim do parnasianismo nacional foi "Fanfarras", de Teófilo Dias, em 1889.
O Parnasianismo Brasileiro não seguiu à risca todas as características encontradas no Parnasianismo francês. A subjetividade e o nacionalismo - aspectos que eram abolidos pela estética parnasiana francesa - estavam presentes (em certa dose) nos poemas dos autores brasileiros.
Os principais precursores do parnasianismo no Brasil foram os poetas Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia, grupo que ficou conhecido como a "Tríada Brasileira do Parnasianismo".
O Parnasianismo se prolongou até 1922, com a chegada da Semana de Arte Moderna de São Paulo.
Tríade parnasiana: autores do Parnasianismo
A tríade parnasiana é a forma como ficou conhecido o grupo de três poetas parnasianos brasileiros de maior destaque: Alberto Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac.
O Parnasianismo é uma escola literária poética contemporânea ao Realismo e ao Naturalismo que se caracterizou pela idealização da "arte pela arte".
Vaso chinês, de Alberto de Oliveira
Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.
Fino artista chinês, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.
Mas, talvez por contraste à desventura,
Quem o sabe?… de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura;
Que arte em pintá-la! a gente acaso vendo-a,
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.
Análise do poema
Tipo de verso: decassílabo rimado
Número e tipo de estrofes: 4 estrofes: 2 quadras e 2 tercetos (soneto)
Número de versos: 14 versos
O poema Vaso chinês é um soneto construído em decassílabos rimados, portanto, é um poema que se vale de metrificação e de rima.
Ser um soneto significa que o poema se enquadra em uma forma fixa, ou seja, que possui um número padrão de versos e estrofes: no caso do soneto, 4 estrofes, sendo 2 quadras e 2 tercetos, totalizando 14 versos.
O Parnasianismo em Vaso chinês
Rigor estético: nos poemas parnasianos há presença de métrica e rima regulares.
Preciosismo: focaliza-se o detalhe; cada objeto deve singularizar-se.
Autonomia e culto à perfeição: a arte vale por si mesma, a produção artística não deve ser útil, mas pura e erudita, preocupada com o belo e alheia aos problemas da realidade.
Afastamento da linguagem oral e da realidade: em forma, a poesia parnasiana afasta-se da linguagem coloquial; em temática, afasta-se do cotidiano, dando preferência a temas abstratos ou, ao menos, descolados da vida prática.
Vocabulário rebuscado e complexo: é comum a utilização de palavras raras, assim como de inversões sintáticas e construções de compreensão difícil.
Olavo Bilac, 
o poeta das estrelas 
Estrela maior do parnasianismo brasileiro, a popularidade de Bilac está associada à capacidade de trabalhar as palavras e criar versos inesquecíveis. Tornou-se um mestre na arte de escrever sonetos, influenciado por Bocage e Camões. Abraçou o culto à forma como uma devoção, que traduziu em versos no conhecido poema "Profissão de fé", publicado no livro Poesias. Em inúmeros sonetos, Bilac seguiu esses princípios, moldando os versos, criando inversões sintáticas, escolhendo a rima precisa como um ourives escolhe uma pedra preciosa para finalizar sua joia. Outros poemas, porém, revelam um lirismo mais sentimental, que fez com que os leitores decorassem os versos que escrevia. O exemplo mais célebre desse lirismo é o soneto XIII da "Via Láctea".
Ouvir Estrelas
Ora (direis) ouvir estrelas! Certo,
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite,
enquanto a Via-Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas. “
BILAC, Olavo. Poesias. Organização e prefácio de Ivan Teixeira. São Paulo: Martins Fontes, 1996. p. 53.
Nessepoema, Bilac mostra por que não devemos confundir Parnasianismo com impassibilidade ou objetividade total. Suas composições perfeitas ensinam a conciliar a manifestação de sentimentos a uma forma poética bem cuidada.
Colocando-se entre o Parnasianismo mais rigoroso e um Romantismo erotizado, Bilac tornou-se um mestre. Como poeta, soube aproveitar o que essa estética tinha de inovador no trabalho com a forma, sem abrir mão da sensibilidade para identificar as imagens e os temas que respondiam aos anseios de um público até então habituado aos exageros sentimentalistas românticos. Por esse motivo, muitos de seus versos são lembrados até hoje.
Invejo o ourives quando escrevo:
 Imito o amor
Com Ele, em ouro, o alto-relevo
 Faz de uma flor.
 
Imito-o. E, pois nem de Carrara
 A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
 O ônix prefiro.
 
Por isso, corre, por servir-me,
 Sobre o papel
A pena, como em prata firme
 Corre o cinzel.
 
Corre; desenha, enfeita a imagem,
 A ideia veste:
Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem
 Azul-celeste.
 
Torce, aprimora, alteia, lima
 A frase; e enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
 Como um rubim.
 
Quero que a estrofe cristalina,
 Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
 Sem um defeito:
 
E que o lavor do verso, acaso,
 Por tão sutil,
Possa o lavor lembrar de um vaso
 De Becerril.
 
E horas sem conta passo, mudo,
 O olhar atento,
A trabalhar, longe de tudo
 O pensamento.
 
Porque o escrever – tanta perícia,
 Tanta requer,
Que ofício tal... nem há notícia
 De outro qualquer.
 
Assim procedo. Minha pena
 Segue esta norma,
Por te servir, Deusa serena,
 Serena Forma!
 Olavo Bilac. Profissão de fé. In: Poesia. Rio de Janeiro: Agir, p. 39-40.
PROFISSÃO DE FÉ
Olavo Bilac
Entendendo o poema
01 – O tema do poema é:
a) a exaltação do lavor poético.
b) a valorização da profissão do ourives.
c) a inveja despertada por algumas profissões.
d) a vocação para trabalhos artísticos.
Entendendo o poema
02 – A linguagem utilizada no poema é:
simples 
apurada 
informal 
subjetiva.
Entendendo o poema
03 – O eu lírico inveja o ourives devido:
a) a forma como ele trabalha.
b) ao material com o qual ele trabalha.
c) ao valor do produto que ele produz.
d) a beleza das peças criadas por ele.
Entendendo o poema
04 – O sentimento de inveja que o ourives desperta no eu lírico o motiva a:
a) difamá-lo em seus versos.
b) seguir-lhe o exemplo.
c) ignorá-lo em seus versos.
d) elogiá-lo no poema.
Entendendo o poema
05 – Revela a perfeição formal buscada pelo poeta os versos
a) “Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem
 Azul-celeste.”
b) “Que ofício tal... nem há notícia
 De outro qualquer.”
c) “Do ourives, saia da oficina
 Sem um defeito:”
d) “A pena, como em prata firme
 Corre o cinzel."
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