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Função e disfunção do sistema digestivo II Objetivos Compreender os mecanismos fisiopatológicos da diarreia. Conhecer as alterações cadavérica, lesões de pouca importância clínica e anomalias do desenvolvimento que ocorrem no intestino. Conhecer as principais enfermidades que afetam os intestinos. Compreender as obstruções e deslocamentos intestinais. Intestino delgado É o maior componente do trato digestivo. Três porções anatômicas: ◦ Duodeno, ◦ Jejuno e ◦ Íleo. O intestino delgado é o principal local para a digestão e absorção dos produtos da digestão. Ativação das enzimas proteolíticas Absorção de ácidos graxos Intestino grosso É composto pelo: ◦ Ceco, ◦ Colón, ◦ Reto e ◦ Ânus. A principal função do intestino grosso é reabsorver eletrólitos e água e eliminar o alimento não digerido e resíduos. Diarreia É definida como a secreção anormal de fezes liquidas + aumento de volume de fezes + aumento na frequência de defecação. É caracterizada pela presença de excesso de água nas fezes em proporção a material seca fecal. fezes normal contém 75% de água fezes diarreica contém mais de 85% de água. A diarreia no intestino delgado pode ser classificada em: ◦ Secretória: a secreção excede a absorção causada pela secreção excessiva de fluido rico com cloreto ou bicarbonato ou pela inibição da absorção de sódio pela mucosa. (e.g., rotavirus, E. coli, Clostridium spp., etc.). ◦ Mal absortiva (osmótica): retenção de eletrólitos, nutrientes e água atrofia das vilosidades, magnésio, fosfato de sódio, etc. ◦ Efusiva: aumento da permeabilidade da mucosa – lesão vasos hipertensão portal, insuficiência cardíaca direita, hipoalbuminemia etc. Intestino grosso redução na capacidade em absorver soluto e água. Consequências da Diarreia Perda de água desidratação hipovolemia hemoconcentração inadequada perfusão tecidual energia por glicose anaeróbica (lactato) cetoacidose (redução do pH do sangue e dos tecidos) redução na função das enzimas pH dependentes, perda de bicarbonato nas fezes, rins não excretam hidrogênio e não reabsorvem bicarbonato (mal funcionamento renal) Aumento na concentração de hidrogênio intracelular e diminuição na concentração de potássio intracelular falha na contração cardíaca + diminuição na perfusão tecidual choque hipovolêmico. Diarreia Embebição biliar Alterações post-mortem Embebição biliar Lesões de pouco significado clínico Listras tigróides • São um tipo de congestão não específica dos sulcos colônicos, secundárias à diarreia e/ou tenesmo. • As listas longitudinais vermelhas e pálidas são formadas pelas extremidades congestionadas das pregas alternando com a mucosa descongestionadas entre elas. Hemomelasma ilei • Equinos • Lesões hemorrágicas subserosas no íleo e do jejuno, possivelmente resultantes de migrações parasitárias de larvas de Strongyllus spp. • Raramente pode causar cólica e estrangulamento intestinal. Atresia Imperfuração ou oclusão do lúmen intestinal que resulta no desenvolvimento anormal da parede do intestino. Patogênese genérica: lesão mecânica dos vasos sanguíneos do feto numa porção do intestino levando ao mal posicionamento do intestino comprometimento da circulação isquemia. Atresia anal: não desenvolvimento do orifício anal. Defeito congênito mais comum do trato gastrintestinal terminal. Bezerros e suínos (hereditário). Deficiência de vitamina A atresia anal. Essencial para o desenvolvimento do animal diminuição da proliferação celular. Anomalias do desenvolvimento Pode ser de dois tipos: ◦ Simples. ◦ Estrangulada. Simples: há apenas impedimento do trânsito intestinal quanto mais próxima ao estômago, mais grave. acumulo de secreções gástricas, biliar, pancreática; ingesta; gás e intrínseca do intestino sequestro de água e eletrólitos (vômitos) desidratação, hipocloremia, hipocalemia desequilíbrio hidroeletrolítico e morte. Estrangulada: hipóxia por obstrução das veias eferentes e artérias aferentes ou pela baixa pressão do fluxo pela baixa pressão sanguínea perda da integridade da mucosa para de absorver água e eletrólitos, efusão de líquidos e sangue para o lúmen e proliferação bacteriana (gás e toxinas) gangrena intestinal toxemia insuficiência circulatória morte. Obstrução Intestinal Causas: ◦ Obstruções mecânicas, ◦ Obstrução nervosa e ◦ Obstrução vascular. Obstruções mecânicas: provocam o fechamento do lúmen intestinal corpos estranhos, inflamação, neoplasias etc. obstrução simples. Obstrução nervosa: íleo paralítico inibição dos neurônios do plexo mioentérico cirugias abdominais, manuseio, inflamação. inibição da contração da camada circular do músculo liso atonia obstrução simples. Obstrução vascular: tromboembolismo arterial equinos arterite verminótica migração de larvas de Strongylus vulgaris lesão isquêmica atonia obstrução estrangulada. Obstrução Intestinal Obstrução mecânica 45 meias entre o estômago e o intestino (cão dinamarquês). Obstrução Nervosa Íleo paralítico Obstrução Venosa Tromboembolismo – arterite verminótica Hérnia é o deslocamento de partes do organismo pelos orifícios nas paredes fibrosas (fáscias musculares). Pode ser natural ou adquirida. Hérnias são formadas quando o saco herniário (bolsa de peritônio parietal) penetra para fora da cavidade abdominal. Quando o deslocamento do órgão ocorre sem o saco herniário é denominado de Eventração. Tipos ◦ Perineal ◦ Escrotal ◦ Umbilical ◦ Diafragmática Deslocamentos intestinais Hérnia umbilical: Defeito na parede abdominal não é pela ingestão do cordão umbilical pela mãe dos animais. Pode ter origem genética avaliar se deve por esse animal para a reprodução. Deslocamentos intestinais Hérnia diafragmática Genericamente chamado de enterite. Duodeno duodenite. Jejuno jejunite. Íleo ileíte. Ceco tiflite. Cólon colite. Reto proctite. Estômago + intestino gastroenterite. Inflamação Patógenos específicos Parvovirose canina Parvovirus canino família Parvoviridae. DNA [20-25 nm (latim, pequeno)] – não envelopado resistentes no ambiente. Dois tipos: ◦ Parvovírus canino tipo 1 (CPV-1) não muito patogênico gastroenterite, pneumonia e/ou miocardite em filhotes de 1 a 3 semanas de vida. ◦ Parvovírus canino tipo 2 (CPV-2) enterite parvoviral clássica três cepas conhecidas (CPV-2 a, b e c). Etiologia Maioria dos animais da família Canidae é susceptível cães, lobos, coiotes, raposas, etc. Filhotes + susceptíveis (6 semanas a 6 meses) infecção concomitante com helmintos, protozoários e bactérias (Clostridium perfringens, Campylobacter spp. e Salmonella spp.). Altamente contagioso a maioria das infecções resulta do contato com fezes contaminadas no ambiente. Fômites seres humanos, instrumentos veterinários ou de tosa, insetos, roedores, pelos dos cães. Período de incubação: 5 a 12 dias. Sem predileção por sexo, raça ou idade. Rottweilers, Doberman pinschers, Labrador retrievers, American Staffordshire terriers, German shepherds, and Alaskan sled dogs mais susceptíveis. Epidemiologia Epidemiologia Invade e destrói células em divisão progenitores na medula óssea e epitélio da cripta intestinal. SPV-UFRGS: 1996-2004: 324 diagnósticos de doenças virais 70,6% parvovirose canina (229/324) TGI Contaminação por via oro nasal replicação nos tecidos linfoides da orofaringe, linfonodos mesentéricos e no timo viremia infecção das criptas intestinais destruição e colapso do epitélio turnover celular comprometido vilosidades curtas. Medula óssea Contaminação por via oro nasal replicação nos tecidos linfoides da orofaringe,linfonodos mesentéricos e no timo viremia medula óssea infecção de precursores linfoides leucopenia. Eliminação do vírus nas fezes no 4º dia após a infecção e continua eliminando por várias semanas. Patogênese Pode afetar três tecidos principais: TGI, medula óssea e miocárdio. TGI Diarreia, vômitos, sangramento intestinal, anorexia e apatia morte geralmente em 2 dias sepses e/ou CID. Medula óssea leucopenia. Miocárdio Infecção uterina ou em filhotes com menos de 6 semanas dispneia, choro e ânsia de vomito, mas pode não apresentar sinais morte. Sinais Clínicos Patologia Macro: Mucosas pálidas Diminuição da condição corporal Presença de conteúdo fecal na região perianal. Parede intestinal espessada, com fibrina na serosa e no lúmen há desaparecimento da mucosa intestinal com presença de material escuro, as vezes sanguinolento. Micro: Necrose do epitélio das criptas e enterite hemorrágica moderada difusa. Enterotoxemia Enterotoxemia É o termo para descrever doenças causadas por toxinas produzidas no TGI Clostridium perfringens Ovinos e caprinos Clostridium perfringens Tipo D. ◦ Necrose simétrica focal forma da enfermidade em ovinos afeta o SNC. Enterotoxemias causadas pelo Clostridium perfringens Tipo A, B e C não têm sido comprovadas no Brasil. ◦ Suínos na 1ª semana de vida Clostridium perfringens Tipo C. Bovinos (C. perfringens tipo A, B, C e D) bezerros jovens sem confirmação. Habitante TGI dos ruminantes; Conhecida: “Doença do rim polposo”; Ocorre quando há proliferação da bactéria e produção de toxinas no TGI mudança de alimentação; A Bactéria geralmente é destruída nos pré-estômagos e abomaso na presença de Amido/leite no duodeno e a diminuição trânsito intestinal pode proliferar e produzir toxina. Toxina épsilon altera a permeabilidade dos vasos sanguíneos. Ovinos cérebro causando edema perivascular. Caprinos enterite hemorrágica. Etiopatogenia Enterotoxemia por Clostridium perfringes tipo D (1) Baixa atividade proteolítica no intestino de neonatos Presença de inibidores da tripsina no colostro Baixa taxa de secreção pancreática (2) Estabelecimento incompleto da microbiota intestinal normal em neonatos (3) Influências da dieta em animais mais velhos Mudanças abruptas para uma dieta mais rica em grãos. Dieta hipercalórica Hipomotilidade intestinal em consequência da alimentação demasiada Fatores que predispõem ao desenvolvimento de enterotoxemias associadas a Clostridium perfringens Epidemiologia: Cordeiros (3-10 sem); Cordeiros amamentados por ovelhas com boa alimentação e muita produção de leite; Caprinos: diversas idades boa alimentação Morbidade de 10%; Letalidade de 100%. Epidemiologia Enterotoxemia por Clostridium perfringes tipo D Sinais clínicos em ovinos Geralmente uma doença neurológica aguda, subaguda ou crônica. Cegueira, Opistótono, Convulsões, Balidos, Decúbito com movimentos de pedalagem, Espuma pela boca e Diarreia não é um sinal clínico comum da doença em ovinos Enterotoxemia por Clostridium perfringes tipo D Fonte: Prof. Claudio Barros, UFSM Achados de necropsia em ovinos - órgãos Podem estar ausentes em casos agudos ou subagudos Lesões intestinais geralmente ausentes Excesso de liquido nas cavidades pericárdicas e pleural ou abdominal Edema pulmonar Enterotoxemia por Clostridium perfringes tipo D Fonte: Prof. Claudio Barros, UFSM Fonte: Prof. Claudio Barros, UFSM Fonte: Prof. Claudio Barros, UFSM Fonte: Prof. Claudio Barros, UFSM Fonte: Prof. Claudio Barros, UFSM Achados de necropsia em ovinos no SNC Alterações de necropsia patognomônicas no encéfalo → Encefalomalacia focal simétrica Ocorre em casos crônicos Edema perivascular, necrose (malacia), hemorragia, tumefação axonal e astrocítica Localizada + frequentemente no corpo estriado, tálamo, mesencéfalo, pedúnculos cerebelares e substância branca do cerebelo Enterotoxemia por Clostridium perfringes tipo D Distribuição esquemática da lesão no encéfalo de ovelhas: a. Corpo estriado; b. Tálamo. c. Mesencéfalo. d. Pedúnculos cerebelares. e. Substância branca do cerebelo. Fonte: Prof. Claudio Barros, UFSM Achados de necropsia em ovinos - Rim Toxina épsilon liga-se a receptores nos túbulos renais distais degeneração tubular aguda e/ou necrose, edema intersticial e hemorragia. Rim polposo. Autólise pode produzir alteração macroscópica similar cuidado!! Enterotoxemia por Clostridium perfringes tipo D Fonte: Prof. Claudio Barros, UFSM Achados histopatológicos em ovinos Achados no cérebro de ovinos são patognomônicos Edema proteináceo perivascular (microangiopatia) 90% dos casos Evidente poucas horas após o inicio dos sinais clínicos. Enterotoxemia por Clostridium perfringes tipo D Fonte: Prof. Claudio Barros, UFSM Fonte: Prof. Claudio Barros, UFSM Fonte: Prof. Claudio Barros, UFSM Sinais clínicos em Caprinos Geralmente encontrados mortos. Perda de apetite, Dor abdominal (chutes na barriga ou dorso arqueado) e Diarreia profusa e intensa verde escura ou avermelhada. Enterotoxemia por Clostridium perfringes tipo D Achados de necropsia em caprinos Na forma aguda → semelhantes aos achados em ovinos ausentes. Na forma crônica → colite fibrino-hemorrágica (envolvimento ocasional do final do intestino delgado) Na forma subaguda → mistura de achados da aguda e crônica Não ocorre rim polposo ou herniação cerebelar. Enterotoxemia por Clostridium perfringes tipo D Fonte: Prof. Claudio Barros, UFSM Fonte: Prof. Claudio Barros, UFSM Achados histopatológicos em caprinos Lesões no cérebro são menos consistentes Casos subagudos e crônicos → colite fibrinonecrótica com numerosos bacilos gram-positivos intralesionais Enterotoxemia por Clostridium perfringes tipo D Fonte: Prof. Claudio Barros, UFSM Amostras, condições para submissão, e testes para o diagnóstico de enterotoxemia por Clostridium perfringens em ovinos e caprinos Amostra Condição Teste Significado diagnóstico Cérebro Formol a 10% Histopatologia Confirmatórioa Cólon Formol a 10% Histopatologia Fortemente sugestivob Esfregaços da mucosa do intestino delgado Secado ao ar, temperatura ambiente Coloração de Gram Sugestivoc Conteúdo do intestino delgado Refrigerado ou congelado, removido de alça intestinal Detecção de toxina Compatível com toxina (Tipo A) Toxina e , confirmatório (tipo B) Toxina confirmatório (tipo C) Toxina , confirmatório (tipo D) Toxina confirmatório (tipo E) Swab ou conteúdo de intestino delgado Refrigerado Cultura anaeróbica seguido de tipificação por PCR Confirmatóriod Compatívele aEdema proteináceo pervascular e/ou encefalomalacia focal simétrica são confirmatórios para enterotoxemia do tipo D em ovinos e caprinos (essa lesão é infrequentemente vista em caprinos; ausência desses achados não afastam a possibilidade de enterotoxemia em qualquer das duas espécies. bEnterotoxemia do tipo B em caprinos (formas subaguda e crônica) cTodos os tipos de enterotoxemia em ambas espécies se muitos bacilos grandes gram-positivos são observados dConfirmatório para tipos B, C ou D se forem isolados respectivamente B, C ou D em grande número eSugestivo de tipo A, se o tipo A for isolado em grande número