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LLPT_TopicosdeLiteraturaPortuguesa_impresso-12


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Na tragédia clássica, o Destino tem papel central, pois determina o fim 
dos personagens independente de suas vontades e de seus esforços em 
impedir tal sina — esforços que fatalmente só os conduzem ainda com mais 
firmeza para a sua destruição (um bom exemplo seria Édipo rei, de Sófocles). 
No caso de Castro, o Destino é encarnado pelas razões de Estado, suficientes 
para condenar alguém inocente e obliterar a consciência dos juízes.
A bela Inês questiona o rei Afonso IV, no papel de juiz, sobre seu crime:
CASTRO: Ouve minha razão, minha inocência. / 
Culpa é, senhor, guardar amor constante / A quem mo 
tem? se por amor me matas, / Que farás ao inimigo? 
amei teu filho, / Não o matei. Amor amor merece; / 
Estas são minhas culpas: estas queres / Com morte 
castigar? Em que a mereço? (Ato IV, cena I.) [...]
CASTRO [ainda se dirigindo ao rei]: Dou tua 
consciência em minha prova. / Se os olhos de teu filho 
se enganaram / Com o que viram em mim, que culpa 
tenho? / Paguei-lhe aquele amor com outro amor, / 
Fraqueza costumada em todo estado. / Se contra Deus 
pequei, contra ti não. (Ib.)
A infeliz mulher ainda acrescenta que a injustiça não seria apenas contra 
ela, mas atingiria também o filho do rei, que ama Inês, e seus netos, que 
cresceriam órfãos. O rei juiz nesse momento cede às súplicas e se retira de 
cena convencido da injustiça que seria a morte de Inês. Mas na cena 
seguinte, a sós com dois conselheiros, é confrontado com as razões de 
Estado:
PACHECO: ... não te esqueças / Da tenção tão 
fundada, que te trouxe. 
REI: Não pôde o meu espírito consentir / Em crueza 
tamanha. 
PACHECO: Mor crueza. / Fazes agora ao Reino: agora 
fazes / [...] A que vieste? / A pôr em mor perigo teu 
estado? [...] 
REI: Não vejo culpa, que mereça pena. 
PACHECO: Inda hoje a viste, quem ta esconde agora? 
REI: Mais quero perdoar, que ser injusto. 
COELHO: Injusto é quem perdoa a pena justa. 
REI: Peque antes nesse extremo, que em crueza. 
COELHO: Não se consente o Rei pecar em nada. 
REI: Sou homem. 
COELHO: Porém Rei. 
REI: O Rei perdoa. 
PACHECO: Nem sempre perdoar é piedade. 
REI: Eu vejo üa inocente, mãe de uns filhos / De meu 
filho, que mato juntamente. 
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