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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS ARAPIRACA UNIDADE EDUCACIONAL PALMEIRA DOS ÍNDIOS CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL RENATA DOS SANTOS COSTA A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E O ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL DA CRIANÇA E ADOLESCENTE NO BRASIL Palmeira dos Índios 2022 RENATA DOS SANTOS COSTA A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E O ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL DA CRIANÇA E ADOLESCENTE NO BRASIL Trabalho de Conclusão apresentado ao curso de Serviço Social da Universidade Federal de Alagoas/Unidade Educacional Palmeira dos Índios, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social. Orientadora: Martha Daniella Tenório de Oliveira Palmeira dos Índios 2022 Universidade Federal de Alagoas – UFAL Campus Arapiraca Unidade Educacional Palmeira dos Índios Biblioteca Setorial Palmeira dos Índios - BSPI Bibliotecária responsável: Kassandra Kallyna Nunes de Souza CRB - 4 / 1844 C837p Costa, Renata dos Santos A política de assistência social e o acolhimento institucional da criança e adolescente no Brasil / Renata dos Santos Costa. – Palmeira dos Índios, 2022. 62 f. Orientador: Prof. Dra. Martha Daniella Tenório de Oliveira. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Serviço Social) - Universidade Federal de Alagoas, Campus Arapiraca, Unidade Educacional Palmeira dos Índios, Palmeira dos Índios, 2022. Disponível em: Universidade Digital (UD) – UFAL (Campus Arapiraca). Referências: f. 60-62. 1. Serviço social. 2. Assistência social. 3. Assistência à menores. 4. Políticas públicas. 5. Direitos sociais. I. Oliveira, Martha Daniella Tenório de. II. Título. CDU 364 Renata dos Santos Costa A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E O ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL DA CRIANÇA E ADOLESCENTE NO BRASIL Trabalho de Conclusão apresentado ao curso de Serviço Social da Universidade Federal de Alagoas/Unidade Educacional Palmeira dos Índios, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social e aprovado no dia 28 de março de 2022. Orientador: Profa. Dra. Martha Daniella Tenório de Oliveira 1º Examinador: Profa. Ma. Adielma Lima do Nascimento 2º Examinador: Profa. Ma. Karina Lima Duarte Neves Rocha RESUMO O presente trabalho tem como finalidade analisar a Política de Proteção Integral à Criança e ao Adolescente em situação de vulnerabilidade social, tendo à intervenção do Serviço Social a política de direitos sociais, sendo regulamentada pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), e pela Política Nacional da Assistência Social (PNAS) e pelo Sistema Único da Assistência Social (SUAS), dando ênfase aos objetivos e metas, e também aos programas e serviços sócio assistencial que compõem esta política em acolhimento e proteção essas crianças e adolescentes. O objetivo deste trabalho busca analisar e descrever a política de assistência social no acolhimento institucional de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. O estudo se orientou por meio de pesquisa bibliográfica, sendo inicialmente pesquisado o histórico das políticas sociais no Brasil e seu enfrentamento diante o impacto das questões sociais na vida das crianças e adolescentes, tendo como referencial os acontecimentos e arcabouços legais diante os direitos e deveres aos mesmos. Em seguida, enfatiza-se sobre as políticas públicas de acolhimento e as legislações e políticas de atendimento que se apresentam à infância brasileira. Por fim, ressalva a importância do Serviço Social na política de assistência e acolhimento as crianças em situação de risco na sociedade. Palavras-Chaves: Acolhimento; criança e adolescente; direitos e deveres; política de proteção integral; serviço social. ABSTRACT The present work aims to analyze the Policy of Comprehensive Protection of Children and Adolescents in a situation of social vulnerability, with the intervention of the Social Service having the policy of social rights, being regulated by the Organic Law of Social Assistance (LOAS), and by the National Social Assistance (PNAS) and the Single Social Assistance System (SUAS), emphasizing the objectives and goals, as well as the social assistance programs and services that make up this policy in welcoming and protecting these children and adolescents. The objective of this work is to analyze and describe the social assistance policy in the institutional care of children and adolescents in situations of social vulnerability. The study was guided by bibliographic research, initially researching the history of social policies in Brazil and their confrontation in the face of the impact of social issues in the lives of children and adolescents, having as a reference the events and legal frameworks regarding the rights and duties of the same. Then, emphasis is placed on the public policies of reception and the legislation and care policies that are presented to Brazilian children. Finally, it emphasizes the importance of Social Service in the policy of assistance and reception of children at risk in society. Keywords: Reception; child and teenager; rights and duties; comprehensive protection policy; social service. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 07 2 HISTÓRICO DAS POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES: O ENFRENTAMENTO DAS REFRAÇÕES DA “QUESTÃO SOCIAL” DO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA 09 2.1 A produção capitalista e os impactos das refrações da “questão social” na vida das crianças e adolescentes na sociedade 14 2.2 Cidadania para infantes e adolescentes: acontecimentos e arcabouços legais confirmadores de direitos e deveres 18 2.3 Políticas públicas brasileiras e o acolhimento de crianças e adolescentes 31 3 ACOLHIMENTO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES PELA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL BRASILEIRA E A ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL 44 3.1 A Forte Presença da Política de Assistência Social no Acolhimento de Crianças e Adolescentes 44 3.1.1 A Atuação do Assistente Social nos Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes 52 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 56 REFERÊNCIAS 57 07 1 INTRODUÇÃO No âmbito da assistência social no que concerne ao acolhimento de crianças e adolescentes em vulnerabilidade social visiona o serviço do acolhimento institucional, o que prevê a Política de Assistência Social, configurando à proteção da criança e do adolescente em situações de risco. O acolhimento destas busca preservar a vida e reinseri-los ao convívio familiar, dando suporte ao atendimento digno, seus direitos, condições para o desenvolvimento pleno em sociedade e a proteção em situação de risco social e pessoal, efetivando um trabalho de acolhimento institucional. O acolhimento institucional em sua essência é necessário em situações em que há a fragilização na condição da criança e do adolescente em situação de vulnerabilidade social e que vivenciam um processo de rompimento de realidade para inserção em um contexto de vida familiar e social, o acolhimento intensifica a garantia do direito à convivência familiar e comunitária e o fortalecimento de vínculos familiares. O objetivo geral desse trabalho busca analisar e descrever a política de assistência social no acolhimentoinstitucional de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Contudo, os objetivos específicos busca identificar a importância de todo o trabalho envolvendo o acolhimento institucional ofertado às mesmas; descrever a importância das políticas públicas direcionadas às crianças e adolescentes; e, contextualizar a importância dos direitos que visem à melhoria na qualidade de vida das crianças e adolescentes. O profissional de Serviço Social nesse contexto deve apresentar condutas embasadas e atentas ao desenvolvimento integral de crianças e adolescentes considerando a possibilidade de desenvolver no sentido de garantir a operacionalização das políticas públicas, o atendimento de qualidade aos seus usuários, acolhendo-os, orientando-os, educando-os, informando-os dos seus direitos e envolvendo-os nas decisões a serem tomadas frente a minimização dos riscos e entraves. O serviço social trabalha ações em conjunto com toda a equipe técnica que integra o acolhimento institucional, a fim de minimizar os efeitos do acolhimento institucional no que se refere ao acolhimento dessas crianças e adolescentes para seu processo de ressocialização família e social. 08 A instituição de acolhimento entrelaça um trabalho voltado ao direito à convivência familiar e comunitária das crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, onde estes enfrentam sérios problemas sociais, vindos de famílias carentes, em situação de plena pobreza, alguns familiares com dependências químicas, levando essas crianças e adolescentes a serem vítimas da situação vivenciada, e que levam a necessidade do Conselho Tutelar local intervir juntamente com o juiz da criança e do adolescente a colocar estes em abrigos institucionais, privando-os questão vulnerável, pondo-os aos direitos preconizados pelo ECA. Para produção e delineamento desta pesquisa, foi necessário recorrer ao estudo bibliográfico acerca das modificações no âmbito da assistência social no que concerne ao acolhimento de crianças e adolescentes em vulnerabilidade social. A metodologia usada neste trabalho será baseada na pesquisa de material de apoio e de referências bibliográficas disponíveis acerca do assunto a ser tratado, abordando o presente tema em artigos, livros, revistas, e pesquisas levando com considerações dispostas na política integral em proteção à criança e ao adolescente em situação de risco social. O trabalho de conclusão de curso está dividido em cinco seções, onde serão abordados na primeira a introdução. A segunda seção o histórico das políticas sociais no Brasil para crianças e adolescentes e seu enfrentamento diante as questões sociais, abordando o arcabouço das leis confirmadas perante os direitos e deveres aos mesmos, ressaltando ainda sobre as políticas públicas brasileiras e o acolhimento de crianças e adolescentes em situação vulnerável. Na terceira seção contextualiza- se sobre o acolhimento de crianças e adolescentes pela política de assistência social brasileira e a atuação do serviço social neste enfrentamento e intervenção. Na quarta seção fizemos as considerações finais da nossa pesquisa. E por fim, na quinta seção as referências de nossa pesquisa. Este estudo é primordial para um melhor entendimento do que será sucessivamente investigado, a fim de que o investigador esteja teoricamente fundamentado acerca da temática, uma vez que é neste período que ele vai estabelecer os objetivos do estudo, as hipóteses, qual é o procedimento mais apropriado para a coleta de informações, tamanho da amostra e como as informações serão organizadas e estudadas. 09 2 HISTÓRICO DAS POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES: O ENFRENTAMENTO DAS REFRAÇÕES DA “QUESTÃO SOCIAL” DO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA A presente seção tratará o contexto histórico das políticas sociais públicas, situando, sobretudo, a assistência social dispensada às crianças e adolescentes frente à “questão social” vivenciada, ou seja, mediante a desigualdade social cometida pelo modo de produção capitalista, ou melhor, situaremos políticas sociais brasileiras que surgiram para melhor atender as necessidades das crianças e adolescentes, porém, veremos que inicialmente são pautadas na perspectiva de regulação e controle frente às refrações da “questão social” na sociedade capitalista. As políticas sociais a partir do século XVII reverenciam a preocupação e um novo olhar sobre a infância, período em que ocorrem transformações nas funções da família e em sua reorganização, as mudanças nos laços familiares e as imprudências diante os cuidados com seus filhos (MENDONÇA, 2002). Sabe-se que as políticas sociais emergem como forma de reverenciar a luta diante das refrações das “questões sociais”, tais políticas surgem em decorrência também do processo produtivo, visto que o capitalismo apesar de exceder expressa ainda a exclusão das pessoas, a divisão de classes sociais, e dos serviços necessários à sua própria reprodução (CUNHA; CUNHA, 2003). A partir de 1927 se inicia o processo de intervenção ao atendimento a infância, que passam por várias etapas de conquistas e avanços. As intensificações das manifestações das “questões sociais” se acirram após a crise econômica de 1929, em que visionou o desenvolvimento do capitalismo e as novas relações entre capital e trabalho, assim como, os poderes políticos diante as relações sociais, posto a desigualdade e inclusão marginal de grande parcela da população e individualismo. Parte daí, entendermos que a política social surge como estratégia de intervenção e regulação do Estado frente à “questão social” e as classes nobres. De acordo com Alvim & Rizinni (2006), a construção histórica da questão da assistência a jovem e crianças brasileiros (as) pobres passou por alguns momentos que merecem destaques. A Promulgação do Código de Menores de 1927, pois esta configurou este campo de intervenção; a consolidação da organização da assistência social fragmentada entre o atendimento aos menores e outras iniciativas de proteção social para o atendimento da criança, na área do trabalho, na normalização de ações 10 preventivas de saúde e assistência social. Destaca-se também, a obrigatoriedade do ensino fundamental no período entre 1930 e 1943. Onde a Constituição de 1937, levou o olhar e a atenção no âmbito da proteção à infância, colocando a assistência nos casos de carência do menor a encargo do Estado. Em 1942 surge o Serviço de Assistência ao Menor (SAM), destinado a intervenção ao menor de idade que cometesse infrações penais, ao menor carente abandonado, reintegrando-os a ação de educação básica e acolhimento em entidades onde o Estado Novo oferecia assistência como a Legião Brasileira de Assistência (LBA), Fundação Darcy Vargas, Casa do Pequeno Jornaleiro, Casa do Pequeno Lavrador, Casa do Pequeno Trabalhador e Casa das Meninas. Conta-se também, com a vigência da Política de Bem-Estar do Menor (PNBEM); Entre 1964 e 1988, com a criação da Fundação do Bem-Estar do Menor (FUNABEM). Segundo Teixeira (1999), na Constituição Federal de 1967, outra grande conquista para a efetivação de políticas públicas eficazes foi a implantação do ensino obrigatório e gratuito às crianças de 7 a 14 anos de idade nos estabelecimentos oficiais de ensino, uma forma de reintegrá-los e privá-los da marginalização e perigo social. No ano de 1983, surge o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), FUNABEM e Secretaria de Ação Social do Ministério de Previdência e Assistência Social, as quais implantaram políticas de atendimento a Meninos de Rua, revigorando um projeto em assistência as crianças de rua, (CURY; SILVA; MENDES, 2002). E ainda temos mais recentemente, a formulação e a implantação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), nos anos 1990, que consolidou novas formas de trabalhar com os jovens, já experimentadasna sociedade por diferentes Organizações Não Governamentais (ONGs), especialmente na área educacional e de formação para o trabalho. Destarte, no século XX é introduzida nas políticas sociais uma perspectiva baseada em novas condutas, assim, ganham relevância e notoriedade por sua proposição ancoradas em novas práticas que passam a serem estabelecidos por médicos, policiais, educadores, juízes, agentes e assistentes sociais, pela crescente necessidade de intervenções, propiciando o movimento da sociedade em direção a redemocratização e reorganização da sociedade civil em direitos sociais constituintes (CUNHA; CUNHA, 2003). 11 Desta forma, as políticas sociais públicas promovem uma atenção no campo da infância e da adolescência tendo por sustentação a ideia de direitos de proteção e de acolhimento. Essa perspectiva se trabalhada no decorrer deste estudo. Para o autor Mendonça (2002), nos finais do século XX, a política de assistência social permite se reordenar para a intervenção pública, estabelecendo novos parâmetros no campo da assistência pública em prol à proteção social dos direitos da infância, em atenção específica aos processos sociais de desenvolvimento humano. Cabe dizer que, a política de assistência social no campo dos infantes e adolescentes teve seus desafios e conquistas ao longo do passar dos anos, em que foi se reordenando a luta pelos direitos sociais da infância, e que tais direitos contemplassem políticas inerentes a este processo construtivo de intervenção. Dessa forma, sanciona a Constituição de 1988, um grande marco para a vida familiar, ou seja, englobou atenção e assistência à família, dando ênfase ao princípio da família nuclear, onde todos têm seu espaço, direitos e deveres, prevalecendo a igualdade. Neste conceito, a Constituição prevê que na ordem familiar, a criança e ao adolescente ocupam uma posição especial em seus direitos fundamentais como à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária, à segurança e assistência (MACHADO, 2006). A Constituição Federal de 1988 abarcou a criança e ao adolescente como sujeitos de direitos e garantias, o que preconiza o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) por meio da Lei n.º 8.069 de 13 de julho de 1990, onde a política social intensifica no ECA os direitos e deveres a favor das crianças e adolescentes na sociedade e em seu meio vivencial, sendo sujeitos em pleno desenvolvimento, ou seja, que estão em idade de formação e necessitam da proteção integral e prioritária de seus direitos por parte da família, da sociedade e do Estado (FROTA, 2002). No ano de 1990, temos a conquista do Estatuto da Criança e do (ECA) que entra em vigor, onde traz a ideia do cumprimento de direitos e deveres, pautados no ordenamento jurídico e através de políticas públicas com a prioridade absoluta no que tange aos direitos das crianças e adolescentes brasileiras, responsabilizando à família, a sociedade e o Estado aos cuidados e proteção absoluta com estes cidadãos. 12 Por outro lado, temos a reforma social brasileira nos anos de 1990, passa a reorientar os programas e ações sociais em que incorporam as políticas públicas de proteção integral e universal com equidade, no campo da infância e da adolescência, O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi um grande marco para a consolidação da política de atendimento aos direitos e deveres da infância, pois nele visa à proteção da criança com vistas ao seu desenvolvimento integral e conclama a família, o Estado e a sociedade a proverem condições adequadas ao desenvolvimento de todas as crianças e adolescentes, sem qualquer tipo de distinção ou discriminação. No ano de 1991, o Estatuto entra em vigor com aptidão, consolidando o ordenamento jurídico, implementando políticas públicas voltadas para crianças adolescentes em seus direitos e a terem prioridade absoluta, responsabilizando a família, a sociedade e o Estado aos cuidados e proteção absoluta a eles. O ECA foi criado para a proteção integral de todas as crianças e adolescentes, assegurando- lhes a condição de pessoas em desenvolvimento e que gozam de direitos e deveres (DIMENTEIN, 2002). Muitas mudanças foram ocorridas para a implementação de políticas públicas em atendimento a criança e ao adolescente em seus direitos e deveres, porém ainda necessita de um amplo e radical reordenamento institucional e efetiva melhoria das formas de atenção direta a estes sujeitos, onde possa contemplados avanços contidos no ECA e que sejam de fato efetivados os direitos fundamentais em que o Estado e família devem cumprir, oferecendo assistência integral, pública, gratuita e universal a infância (DIMENTEIN, 2002). As políticas sociais são bastante pertinentes e bastante eficazes àqueles que as instituíram. A ausência de assistência social, bem como de saúde, alimentação, moradia, lazer, emprego e outros, em que converge a fome, o desemprego e as enfermidades são justificados por erros individuais ou à falta de assistência por falta do governo, uma vez que com as políticas sociais o sistema se apresenta como participativo e preocupado com toda a coletividade, cabendo pôr em prática essa política (WENDT et al., 2017). A política social reflete os interesses da classe mais abastarda, porém, não pode deixar de atender as necessidades eminentes da população empobrecida e su- 13 balternizada, uma vez que estão relacionadas aos fatores competitivos e capitalistas, e todos os interesses da sociedade giram em torno do dinheiro. É imprescindível que os ambientes políticos já existentes tais como associações, conselhos e sindicatos, entre outros ambientes de participação que devem ser espaços de participação social e, a fim de que através destes sejam possíveis alcançar determinar transformações consideráveis em ambas as classes, isto é, transformações que venham beneficiar todas as categorias / classes sociais. A gestão das políticas sociais na atuação de compreender como um conjunto de transformações administrativas que tem como propósito direcionar planejamentos, ações ou metas que podem objetivar e alcançar sucesso e resultados positivos frente ao interesse político, podendo beneficiar a todos, sendo importante salientar a importância de se identificar as necessidades e operacionalização das políticas públicas direcionadas às crianças e adolescentes, envolvendo um estudo e análise dos direitos estabelecidos e melhoria da qualidade de vida. Desta forma, entende-se que as políticas sociais são atividades governamentais criadas em conjunto, através de programas que oportunizem a proteção de direitos e circunstâncias dignas de vida aos indivíduos, de maneira justa e unânime (SOUZA et al., 2015). A política social brasileira vem se manifestando como uma política substancial para a coletividade, uma vez que se manifesta em proteção às exigências dos inúmeros movimentos sociais e sindicais. A política social procede sobre as imprescindibilidades básicas dos indivíduos descontentes com o modo de produção capitalista. Ela se introduz no âmbito capitalista, buscando localizar uma compatibilidade entre o labor e o capital (FONSECA, 2017). Por seguinte, vê-se como se associa a produção capitalista frente os impactos da “questão social” como um todo, os quais afetam a vida das crianças e adolescentes no âmbito social e que se tem nelas o ajuste das políticas públicas em prol de mudanças diante a sociedade capitalista. 14 2.1 A produção capitalista e os impactos das refrações da “questão social” na vida das crianças e adolescentes na sociedade Os problemas associados à sociedade capitalista e suas “questões sociais” diluem conflitos em que afeta as más condições de vida da cidadania e dificuldades no acesso às políticas públicas,e dessa forma atinge a vida do núcleo familiar, entre estes pais, crianças e adolescentes. Há o outro lado da sociedade, a classe da burguesia, em que estes possuem o acesso de políticas que lhes condicionam melhores condições de vida frente a classe trabalhista, os nobres da sociedade. Desde a época da Revolução Industrial, a questão social passou a ser vista pelos impactos que o mesmo foi causando na vida do núcleo familiar, a classe trabalhista, com a consequente ampliação da exploração do labor infantil. Em decorrência da introdução das máquinas nas vultosas indústrias para a conquista de mais-valia, o labor infanto-juvenil passou a ser empregado em grande escala, sem ser considerado qualquer distinção no que concerne ao desempenho do labor ou à periodização diária da jornada. A partir da década de 1930, período do governo Vargas, o Estado passa a considerar a Questão Social como um problema político (“caso de polícia”), porém diversos aspectos são reprimidos pela polícia. Nesse momento foi criado um sistema de proteção social básico, com criação da legislação trabalhista, Institutos de Aposentadorias e Pensões e a Consolidação das Leis Trabalhistas, havendo uma “introdução” do chamado Estado de Bem-Estar Social, com fundamento no modelo da Europa Ocidental, em resposta à “Questão Social” (FAÇÃNHA, 2018). Conforme visto, desde a década 1930 a sociedade vem se projetando a uma capitalização em que o vale nela residir é o que produzir, ou seja, as classes sociais inseridas ao sistema capitalista de produção traz impactos a classe dos oprimidos e excluídos de seus direitos sociais, de modo que, o núcleo família e dentre eles, as crianças, já desempenhavam alguns serviços trabalhistas, antes mesmo da evolução do modo de produção capitalista, estas se qualificavam por atividades domésticas auxiliares aos dos genitores, distintamente do grau de exploração observado nas fábricas que introduziam adolescentes e crianças para exercerem atividades exaustivas e em circunstâncias desumanas. 15 Além do esgotamento mental e físico, era flagrante a inexistência de investimento em infraestrutura urbana, a desconsideração pelas circunstâncias de vida do trabalhador, consideráveis graus de fome, enfermidades, mortalidade adulta e infantil e morbidade (ACIOLI et al., 2018). No capitalismo moderno, a lógica do desgaste humano, sobretudo com adolescentes e crianças, permanece a mesma, e as consequências tanto mentais quanto físicas expandiram-se, em decorrência ao desenvolvimento da crise estrutural do capital, ao término da década de 1970, período em que o capital se converteu em mais violento na procura pela mais-valia (SAVI et al., 2016). Esse novo período do capitalismo funde-se com as transformações culturais, sociais, políticas e econômicas, diante de uma nova conjuntura transcrita pela globalização do capital situado na perspectiva institucional e política que consentiu a elevação, sob a égide dos Estados Unidos da América, de um modo de desempenho específico do capitalismo, hegemonicamente rentista e financeiro, localizado no crescimento direto do período do imperialismo (SOUZA et al., 2015). O capitalismo excedente emergiu perante o surgimento da globalização, ocorrendo a industrialização na sociedade, fator este que difundiu a divisão de classes sociais e as transformações culturais, sociais, políticas e econômicas, havendo o crescimento financeiro e econômico, e por consequente a emergência de políticas interventivas ao processo de direitos sociais aos menos favorecidos mediante o impacto da “questão social”. A questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo o seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir seus direitos sociais (IAMAMOTO; CARVALHO, 1983, p.77). Diante dessa perspectiva conjuntural mencionada acima, a sociedade economicamente ativa nacional se localiza diante da inconstância do emprego e descoberta do aparato do Estado, em que prepondera a tutela de formas insuficientes de emprego, sem quaisquer proteções sociais, e do emprego em período parcial, também constantemente sem proteções, o que determina ao operário a procurar o seu sustento, conjuntamente em diversas atividades. Não obstante a esse procedi- 16 mento, tem-se a expressividade aguda do labor informal e a introdução infanto-juvenil no serviço laboral (FONSECA, 2017). O labor infanto-juvenil na atualidade é introduzido nos inúmeros setores de produção como mão de obra barata, desobrigada das leis trabalhistas e de controle por parte dos órgãos institucionais estatais. Embora as leis que foram inseridas no que concerne à vedação de adolescentes e crianças menores de dezesseis anos de idade, ressalvada na circunstância de aprendiz a partir dos quatorze anos, em circunstância de labor, o capitalismo permanece se apoderando dessa força precoce de labor para sua ininterrupta junção de capital (MIRANDA, 2017). Na verdade, se têm a introdução precoce dos infantes e adolescente em atividades trabalhistas. O resultando dessa exploração precoce se clarifica nos finais de seus turnos, ou melhor, em que resultados são perversos para o desenvolvimento mental e físico de adolescentes e crianças, lembrando que, desde a época da Revolução Industrial, segundo Wendt (2017) são subjugadas a modos precários de labor, com extensas jornadas e serviços exaustivos, bem como expostos, diversas vezes, a circunstâncias desumanas e insalubres. Concordamos, Barretta (2010) quando diz que esses fatores do capitalismo excedente, levou a causa das refrações dos impactos da “questão social” na sociedade com avanço do capitalismo no mundo, e desde então a exploração e o empobrecimento da classe trabalhadora vêm se mostrando cada vez mais uma base consolidada das manifestações da “questão social”. A partir da percepção de classe social, o movimento operário revolucionário protagonizou, desde então, ações nos países industrializados para redução da pobreza na ordem burguesa. A ‘questão social’ está elementarmente determinada pelo traço próprio e peculiar da contradição capital/trabalho – a exploração. A exploração, todavia, apenas remete à determinação molecular da ‘questão social’; na sua integralidade, longe de qualquer uni causalidade, ela implica a intercorrência mediada de componentes históricos, políticos, culturais etc. (PAULO NETTO, 2001, p. 45-46). Para Paulo Netto (2001) a apropriação desigual da produção advinda do trabalho da classe proletária trouxe consequências das mais diversas para os trabalhadores, revelando objetivamente a ‘questão social' e suas expressões, através da miserabilidade, do analfabetismo, da favelização, do desemprego ou emprego 17 precário e informal, da mendicância, da fome, das populações de rua, da violência, da criminalidade, do uso de drogas, do trabalho infantil, da exploração sexual, entre outros. Portanto, a “Questão Social” no Brasil surge no período onde se iniciou a de industrialização e implantação do modo de produção capitalista e consequentemente, o surgimento da classe operária. Segundo Singer (1996), durante o período de 1930 a 1980 ocorreu no Brasil uma fase de expansão econômica a partir de três eixos: estrutura agrária embasada na grande propriedade, a fraqueza dos trabalhadores e das organizações representativas e a cultura clientelista das políticas sociais implantadas no Brasil, impedindo as reformas necessárias de distribuição de terras e de tributos e as reformas sociais. Ainda assim, o Brasil ficou conhecido no meio acadêmico e internacional como sendo o país das desigualdades. O Brasil até hoje apresenta diferenças quenão se resumem apenas em questões socioeconômicas ou de renda, outros elementos como status social e reconhecimento legal revelam outra face da exclusão social. Distantes da aquisição de renda, do prestígio social ou de direitos legais estão os excluídos, “[...] aqueles que obtém menos recursos, porque outros obtém demais” (SINGER, 1996, p. 75). Neste contexto histórico que enfatiza a “Questão Social” no Brasil, objetiva-se o intuito de buscar os direitos sociais da cidadania, buscando sua diversidade de poder interagir buscando sua melhoria nas condições de vida e bem estar, buscando acabar com as desigualdades sociais e pôr em pauta a estabilidade de participação dos mesmos em tudo que se relacione a sociedade, pois nela vive a população. Todos os acontecimentos causados pela sede do capitalismo, causando a desigualdade social, e para mitigar essa situação se cria o arcabouço legal dos direitos e deveres da cidadania, em especial para infância e adolescência, com o advento histórico das conquistas legais. 18 2.2 Cidadania para infantes e adolescentes: acontecimentos e arcabouços legais confirmadores de direitos e deveres A história de evolução brasileira relacionada à discussão que concerne à cidadania, direitos civis e políticos não é um tema fácil, porém de extrema importância. Podemos definir os direitos civis como proteção e os privilégios de poder pessoal dados aos cidadãos por lei, direitos que são estabelecidos pelo Estado aos seus cidadãos. Direitos civis incluem situações reconhecidas juridicamente sem os quais o homem é incapaz de alcançar sua própria realização e desenvolvimento, constituindo o resultado da luta dos homens por um direito ideal, justo e humano. Ao passo que as civilizações emergiam e formalizavam de constituições escritas, alguns dos direitos civis mais importantes foram passados aos cidadãos. Mas tarde, quando esses direitos se descobriram inadequados, movimentos de direitos civis surgiram como veículo de exigência de proteção igualitária para todos os cidadãos e defesa de novas leis para restringir o efeito de descriminação presente. Enfrentando, há uma diferença de natureza tanto entre os direitos civis e os direitos sociais, por um lado, e os direitos políticos, por outro. Como é evidente, nenhum desses direitos foram obtidos sem lutas sociais nem é usufruído, na prática de forma idêntica por todos os membros de uma mesma sociedade. A cidadania é a expressão do conjunto de direitos e deveres que uma pessoa possui dentro de uma determinada sociedade. Ser cidadão é respeitar e participar das decisões da sociedade para melhorar sua vida e de outras pessoas. Cada pessoa, cada cidadão, e um ser único e, portanto, diferente de todos os outros, sua individualidade é formada pelas características herdadas no nascimento ou adquiridos no convívio social no qual um indivíduo vai agrupar-se como outros os quais tiver maior afinidade. Este conceito de grupo de pessoas com objetivos comuns é bastante antigo e com o passar do tempo, crescimento de grupos, sofisticação e modernização das relações humanas, as sociedades acabaram organizando e padronizando normas de conduta o que se chama de bem comum, e destas relações nasceram os conceitos de direitos e deveres para assegurar que o bem comum seja atingido. 19 Na sociedade o homem tem direito a proteção, ao crescimento, a ser reconhecido e ser tratado como dignidade, a ter justiça e oportunidades iguais, sem preconceitos ou discriminação. Em compensação, em nome do bem comum, deve cumprir com os deveres de reconhecer o direito das demais pessoas e acatar as normas impostas pela coletividade, sem as quais a própria sociedade pertence, não seria possível. O principal da ideia de cidadania que se consolidou a partir das revoluções do século XVIII, foi a chamada idade contemporânea, onde surgiu um novo tipo de Estado para substituir as monarquias absolutistas, os Estados de Direito onde, diante da constituição todos têm direitos iguais perante lei. A forma com que as pessoas se relacionam umas com as outras é a base da sociedade moderna, pois não só a qualidade dos relacionamentos, bem como a capacidade individual de mantê-los, são fatores determinantes de posicionamento social e de qualidade de vida. O exercício da cidadania é usufruído dessas liberdades e direito prometido ou garantido, devendo-se sempre reivindicar o cumprimento do que é justo e útil, para todos os indivíduos implicando respeitar os limites. É preciso que nos lembremos de sempre de um fato: a democracia não é um Estado, é um processo; não constitui um estágio, mas um processo. O processo pelo qual a soberania popular vai controlando e aumentando os direitos e os deveres são prolongados, implicando avanço muito grande dentro da sociedade (AZEVEDO, 1998, p.12). Neste contexto, colocar as crianças e adolescentes como sujeitos de direitos e deveres, é afirmar a existência de uma cidadania especial para estes, buscando estabelecer um contraponto à noção de que a criança e adolescente são indivíduos ao núcleo de intervenção. Para estes sujeitos de direitos, significa as mudanças, concepções e princípios norteadores de práticas que procuram mudar a realidade. Contudo, dizer que a criança e adolescente são sujeitos de direitos, e, portanto, cidadãos, além de afirmar seu novo estatuto jurídico, sua nova identidade, busca contrapor a uma situação que pretende superar na qual a criança e adolescentes eram tratados como objetos de tutela seja da parte família, de sociedade ou do próprio Estado. É desta forma que a cidadania da criança e do adolescente não são o futuro como se propaga, ao contrário é o presente (AZEVEDO, 1998). 20 Comungamos com o pensamento acima e reforçamos ainda, é o presente, é o imediato, a criança e adolescente têm prioridade absoluta, em razão da condição de serem pessoas em desenvolvimento pleno. Isso implica que a família, a sociedade e o Estado estão obrigados a efetivar os direitos e esta parcela da população. Alguns divisores de águas ocorreram nesse processo para chegarmos ao que hoje chamamos de política de atendimento à criança e ao adolescente, quais sejam: 1- Convenção sobre os Direitos da Criança de 1948; 2- Constituição Federal (10/1988); 3- Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) (1990). Sobre a Convenção dos Direitos da Criança tem como meta incentivar os países membros implementarem o desenvolvimento pleno e harmônico da personalidade de suas crianças, favorecendo o seu crescimento em ambiente familiar, em clima de felicidade, amor e compreensão, preparando-as plenamente para viverem uma vida individual em sociedade e serem educadas no espírito das ideias proclamadas na Carta das Nações Unidas, em espírito de paz, dignidade, tolerância, liberdade, igualdade e solidariedade. Foi inspirada nas normas internacionais que a antecederam e com a finalidade de particularizá-las em razão do sujeito de direito que tem como alvo a criança, bem como desenvolvê-las a partir da criança de mecanismo de aplicabilidade e fiscalização desses princípios e normas. A necessidade de proporcionar proteção especial a criança foi enunciada anteriormente na Declaração de Genebra sobre os Direitos da Criança, de 1924, e na Declaração sobre os Direitos da Criança, adotada pela assembleia Geral das Nações Unidas, 20 de novembro de 1959, e reconhecida na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, no pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, de 1966 (art. 23 e 24), no Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, também de 1966 (art. 10), bem nos estatutos e instrumentos relevantes das agências especializadas e organizações internacionais que se dedicam ao bem estar da criança. 21 Consagrando o princípio do reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana ede seus direitos inalienáveis, de igualdade e liberdade, proclamados na Carta das nações Unidas, de 1945, bem como, com o escopo de proteger a infância e promover à assistência especial a criança, nos termos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 10 de dezembro de 1948, objetivando sua formação plena como cidadão consequente e responsável, foi redigida a Convenção sobre os Direitos da Criança, adotado pela Resolução n. L 44 (XLIV) da assembleia Geral das Nações Unidas, em 20 de novembro de 1989, e ratificada pelo Brasil em 24 de setembro de 1990. Conforme dispõe o seu preâmbulo, a Convenção dos Direitos da Criança, em razão do conteúdo da Declaração sobre os Direitos da Criança, de 20 de novembro de 1959, foi concebida tendo em vista a necessidade de garantir à proteção e cuidados especiais a criança, incluído proteção jurídica apropriada, antes e depois do nascimento, em virtude de sua condição de hipossuficiente, em recorrência de sua imaturidade física e metal, e levando em consideração que em todos os países do mundo existem criança vivendo em condições extremamente adversas e necessitando de proteção especial. Por fim, ressalta o preâmbulo da Convenção, a importância da cooperação internacional para a melhoria das condições de vida das crianças em todos os países, em particular nos países em desenvolvimento, onde se concentra um grande número de crianças social e economicamente marginalizadas. A Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu que as crianças devem crescer junto de suas famílias, em um ambiente de felicidade, amor e compreensão para que tenham um desenvolvimento harmonioso de sua personalidade. E para que sejam preparadas para uma vida independente na sociedade, devem ser educadas com espírito de paz, dignidade, tolerância, liberdade, igualdade e solidariedade. A convenção sobre os Direitos da Criança levou em conta que em todos os países do mundo existem crianças vivendo em condições muito difíceis e que elas necessitam de atenção. Para ajudá-las é preciso respeitar suas tradições e valores culturais sem fazer distinção de sexo, posição econômica, deficiências físicas, nascimento ou qualquer outra condição da criança ou de seus pais. 22 A linguagem dos direitos tem indubitavelmente uma grande função prática que é emprestar uma força particular às reivindicações dos movimentos que demandam para si e para os outros a satisfação de novos carecimentos materiais e morais; mas ela se torna enganadora se obscurecer ou ocultar a diferença entre direito reivindicado e o direito reconhecido e protegido (BRUSCHINI, 2003, p. 07). A convenção considera como criança todos os menores de 18 anos, salvo se, nos termos da lei que lhe for aplicável, atingir a maioridade mais cedo e a eles reconheceu os seguintes direitos. No tocante a Constituição Federal de 1988, marcou o direito brasileiro com um indelével avanço no campo da normatização de direitos e garantias fundamentais, resultado de importante processo de democratização do Estado e do Direito. A moderna concepção do constitucionalismo nacional ensejou não só a ratificação de tratados e convenções internacionais de proteção dos Diretos Humanos, como a inclusão em seu texto constitucional, de forma irrevogável, de princípios consagrados nos referidos instrumentos internacionais, dando-lhe força de norma de aplicabilidade imediata. A Constituição da República Federativa do Brasil 1988, tem como um de seus fundamentos o princípio da Dignidade da pessoa Humana, que é concretizado por vários direitos fundamentais. A Carta Política consignou também que a efetividade dos direitos fundamentais de criança e adolescentes teriam absoluta prioridade sobre o direito de outras pessoas humanas, o que pode acarretar conflitos entre os dois princípios. O desafio de interpretá-los no contexto brasileiro atual, onde perdura extrema desigualdade sócia econômica, pode ser vencido pela aplicação de teoria da solução de conflitos sob o enfoque das teorias dos Direitos Fundamentais. O art. 1º Constituição da República de 1988 (CR) apresenta como um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito Brasileiro o princípio da Dignidade de pessoa Humana. Para se garantir a efetividade deste fundamento, texto constitucional elenca vários direitos fundamentais, dentre eles, os direitos sociais, expressos no art. 6º, quais sejam: educação, saúde, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção a maternidade e a infância, além de assistência aos desamparos. O artigo 227 da Constituição Federal do Brasil diz na sua integra: 23 É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar a criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, a saúde, a educação, ao lazer, a profissionalização, a cultura, a dignidade, ao respeito, a liberdade e a convivência família e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL,1988, p. 27). A inserção desse dispositivo na constituição cidadã se deu em razão de um gigantesco, continuo e já antigo movimento universal em favor dos direitos da criança e do adolescente, do que derivam os importantes documentos Internacionais já tratados. Falar da ruptura do assistencialismo à assistência social temos um grande marco, que é Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA/1990). O ECA - Lei nº 8.069 promulgada em13 de julho de 1990, que regulamentou e assegurou os direitos estabelecidos na Constituição Federal de 1988, especificamente no Capítulo VII no que tange aos direitos da criança e do adolescente. Os princípios norteadores para a elaboração do ECA foram a compreensão da criança e do adolescente como pessoas em condições de desenvolvimento e sujeitos de direitos fundamentais com absoluta prioridade de proteção pelo Estado, pela família e pela sociedade em geral. A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), reconhece a criança e ao adolescente como sujeitos de direitos. O ECA explicita que crianças e adolescentes são seres em desenvolvimento e, nesse sentido, são seres "por vir", não são iguais aos adultos desenvolvidos e devem ter consideradas essas condições. O Estatuto da Criança e do Adolescente foi criado com o objetivo de superar e desvincular o caráter assistencialista das políticas e leis de proteção destinadas às crianças e adolescentes, uma vez que anteriormente ao ECA as crianças e adolescentes eram vistas como um problema social e não como consequências de um Estado opressor. O ECA apresentou propostas direcionadas à cidadania e com finalidade emancipatória das crianças, adolescentes e de todos os atores e segmentos ligados a eles, como escola, comunidade e família (MARTINS, 2004). Para o autor acima citado, ele expressa alguns posicionamentos relacionados ao fato de que há críticas tanto aos direitos que são garantidos pelo ECA como aos que não conseguem ser efetivados diante do caráter assistencialista ainda conservado nas intervenções. 24 Yamamoto e Oliveira (2010) corroboram ao afirmar que a maioria das ações e programas, em particular da política de assistência social, têm um caráter emergencial, descontínuo e compensatório. O Estatuto da Criança e do Adolescente introduziu mudanças significativas em relação à legislação anterior, o chamado Código de Menores, que fora instituído em 1979. Crianças e adolescentes passam então a ser considerados cidadãos, com direitos pessoais e sociais garantidos, desafiando os governos municipais a implementarem políticas públicas, especialmente dirigidas a esse segmento. No Brasil, definitivamente substituiu-se o termo “menor” por “criança e adolescente”, por menor traz a idéia de uma pessoa sem direitos. Esta palavra foi banida do vocabulário de quem defende os direitos da infância, para nãorelembrar o direito penal do menor e toda a carga discriminatória negativa, por quase sempre se referir as crianças e adolescentes autores de atos infracionais. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) apresenta uma limitação do alcance da garantia de absoluta prioridade. Em seu art. 4º, parágrafo único, diz que tal garantia compreende a primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; a precedência do atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; a preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas e a destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude. O ECA cuida, ainda, da prevenção da ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da Criança e do Adolescente, responsabilizando os pais, responsáveis, a sociedade e ate o poder público por fatos que coloquem em risco tais direitos. Pela primeira vez na história brasileira, a questão da criança e do adolescente é abordada como prioridade absoluta e a sua proteção passa a ser dever da família, da sociedade e do Estado (VERONESE, 2006 p. 43). O Estatuto da Criança e do Adolescente, que regulamentou o artigo 227 da Constituição Federal de 1988, ao contrario da legislação antecedente, procurou garantir os direitos fundamentais aos seus tutelados sem qualquer discriminação de origem ou condição social. Assim, foram elaboradas normas referentes aos direitos à vida, à saúde, à liberdade, ao respeito, à dignidade, à educação, à alimentação, ao esporte, ao lazer, à identidade e ao convívio familiar e à proteção ao trabalho. 25 É importante destacar os direitos que o ECA reforça, tais são eles: Direito à Vida - Toda criança tem direito a vida e deve ter sua sobrevivência e o desenvolvimento assegurados pelo Estado. Deverá ser protegida contra toda forma de discriminação ou castigo por causa da condição, das atividades, opiniões oi crianças de seus pais ou familiares (MARTINS, 2004). De acordo com Maciel (2013), tem direito a um nível de vida adequado ao seu desenvolvimento físico, mental, espiritual, moral e social. O Estado deverá ajudar os pais e outras pessoas responsáveis por ela a tornar efetivo esse direito e, quando necessário, proporcionar assistência material e programas de apoio, especialmente no que diz respeito à nutrição, ao vestuário e a habitação. O Estado tomará medidas para assegurar o pagamento da pensão alimentícia por parte dos pais ou de outras pessoas financeiramente responsáveis pela criança, quer residam nos países ou no exterior. Direito à Saúde - As crianças têm direito a gozar do melhor padrão possível dos serviços destinados ao tratamento das doenças e a recuperação da saúde. Os países adotarão medidas para: a mortalidade infantil; assegurar a prestação de assistência medica e cuidados sanitários necessários a todas as crianças; combater as doenças e a desnutrição com o fornecimento de alimentos nutritivos e água potável; assegurar que os pais e as crianças conheçam os princípios básicos de saúde e nutrição, as vantagens da amamentação, da higiene e do saneamento ambiental, das medidas de prevenção de acidentes, e que recebam apoio para a aplicação desses conhecimentos (MARTINS, 2004). Criança que tenha sido internada em um estabelecimento pelas autoridades competentes para fins de atendimento, proteção ou tratamento de saúde física ou mental tem direito a um exame periódico de avaliação do tratamento ao qual está sendo submetida e de todos os demais aspectos relativos à sua internação. Todas as crianças têm direito de usufruir da previdência e do seguro social. Os benefícios devem ser concedidos levando-se em consideração os recursos e a situação da criança e das pessoas responsáveis pelo seu sustento. Direito à Alimentação - O art. 227 da constituição Federal inclui, logo após o direito à vida e a saúde, o direito à alimentação no rol dos direitos fundamentais de crianças e adolescentes (MARTINS, 2004). 26 É um direito especial de crianças e adolescentes positivado, levando em consideração a maior vulnerabilidade por estarem em peculiar condição de pessoa em desenvolvimento. Este direito tem estreita ligação com o direito à vida e direito ao não trabalho. Assim, a positivação deste direito criou para o Estado o dever de assegurar alimentação a todas as crianças e adolescentes que não tenham acesso a ela por meio dos pais ou responsáveis e, ainda, faz nascer o direito individual de exigir esta prestação. Conforme determina o art. 1.696 do Código Civil de 2002, ‘’o direito a prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns na falta de outros’’ (MARTINS, 2004, p. 15)., assim na falta dos genitores poderá a criança e ao adolescente pleitear os alimentos dos outros parentes, respeitando a ordem de sucesso. Define o art. 2º da Lei de Alimentos, nº 5.478/68, que o credor, ao postular pela concessão dos alimentos, exporá suas necessidades e provará apenas o parentesco ou a obrigação de alimentar o devedor. Direito à Educação - A criança tem direito à educação e, a fim de que possa exercer em igualdade de condições esse direito, o Estado deverá: tomar o ensino primário obrigatório e gratuito para todos; estimular o desenvolvimento do ensino secundário, inclusive o profissionalizante, tomando-o disponível e acessível a todas as crianças pela gratuidade ou concessão de assistência financeira; tornar o ensino superior acessível a todos, assim como a informação e a orientação educacional e profissional; estimular a frequência regular às escolas e a redução do índice de evasão escolar. Os pais têm obrigações comuns em relação à educação e o desenvolvimento da criança (MARTINS, 2004). Os países deverão contribuir para a eliminação da ignorância e do analfabetismo no mundo e facilitar o acesso aos conhecimentos científicos e técnicos e aos métodos modernos de ensino. As disciplinas escolares deverão: ser ministradas de maneira compatível com a dignidade humana e desenvolver a personalidade, as aptidões e a capacidade mental e física; imbuir o respeito aos direitos humanos, às liberdades fundamentais, aos pais, à identidade cultural própria, ao idioma, aos valores nacionais do país onde reside a criança, aos do seu eventual país de origem, e aos das civilizações diferentes da sua; preparar a criança para assumir uma vida responsável em uma sociedade livre, com espírito de compreensão, paz, tolerância, igualdade de sexos e amizade entre todos os povos, 27 grupos étnicos, nacionais e religiosos, e pessoas de origem indígena; imbuir o respeito ao meio ambiente. Direito à Identidade e ao Convívio Familiar - Toda criança será registrada imediatamente após seu nascimento e terá direito, desde o momento em que nasce, a um nome, uma nacionalidade e, na medida do possível, a conhecer seus pais e a ser cuidada por eles. O Estado deverá zelar para que a criança não seja separada dos pais contra a vontade deles, exceto quando, sujeita à revisão judicial, as autoridades competentes determinam, em conformidade com a lei e os procedimentos legais cabíveis, que tal separação é necessária ao interesse maior da criança. Tal determinação pode ser necessária em casos específicos, por exemplo, se a criança sofre maus tratos ou descuido por parte dos pais, ou quando estes vivem separados e uma decisão deve ser tomada a respeito do local da residência da criança (MARTINS, 2004). O Estado respeitará o direito da criança separada de um ou de ambos os pais de manter regularmente relações pessoais e contato com ambos, a menos que isso seja contrario ao interesse dela. Toda solicitação apresentada por uma criança, ou por seus pais, para ingressar ou sair de um país, visando reunir-se com a família, deverá ser atendida de forma positiva,humanitária e rápida. Quando os pais residirem em países diferentes, ela terá o direito de manter, periodicamente, relações pessoais e contato direto com ambos, exceto em circunstâncias especiais. Os países adotarão medidas para lutar contra a transferência e retenção ilegal de crianças no exterior. As crianças privadas temporária ou permanentemente de sua família terão direito à proteção e à assistência especial do Estado, o que pode incluir a sua colocação em lares e adoção ou, se necessário, em instituições adequadas de proteção a criança. Ao serem consideradas as soluções, deve-se dar especial atenção à origem étnica, religiosa, cultural e lingüística da criança, bem como a continuidade de sua educação. Nos casos de adoção os Estados atentarão para o interesse maior da criança. Direito ao Lazer - A criança tem direito ao descanso e ao lazer, ao divertimento e ás atividades recreativas próprias da idade, bem como á livre participação na vida cultural e artística (MARTINS, 2004). Direito à Proteção - O direito à Proteção Integra criada pela Convenção Internacional dos Direitos da Criança deve reger o atendimento a criança e ao 28 adolescente, requerendo um conjunto articulado de ações por parte do Estado e da Sociedade que vão desde a concepção de Políticas Sociais até a realização de Programas locais de atendimento implementados por entidades governamentais ou não governamentais. Tendo em vista que crianças e adolescentes são sujeitos de direitos no Brasil de hoje e que não estão eles, por si sós, capacitados para exigir que se concretizem tais direitos, os problemas relativos à criança e ao adolescente devem ser priorizados pelo governo e pela a sociedade (MARTINS, 2004). É relevante atentar para os casos de violência, negligência, abuso e exploração, visto que os países adotarão medidas legislativas, administrativas, sociais e educacionais apropriadas para proteger a criança contra todas as formas de violência física ou mental, abuso ou tratamento negligente, maus-tratos ou exploração, inclusive abuso sexual, enquanto a criança estiver sob a custódia dos pais, do representante legal ou de qualquer outra pessoa responsável por ela. O Estado compromete-se a proteger a criança contra todas as formas de exploração e abuso sexual e impedir o seu seqüestro, venda ou tráfico. Também adotará medidas para sua recuperação física e psicológica e a reintegração social de crianças vítimas de qualquer forma abandono, exploração, abuso, tortura, tratamentos ou penas cruéis, desumanos e degradantes, ou conflitos armados. Conflito armado – Em casos de conflito armado os países devem assegurar que menores de 15 anos de idade não participem diretamente de hostilidades. Caso recrutem pessoas que tenha completado 15 anos, mas que tenham menos de 18 anos deverá procurar da prioridade para os de mais idade. Durante os conflitos armados, os países devem proteger e cuidar das crianças afetadas (MARTINS, 2004). Trabalho infantil – A criança tem o direito de estar protegida contra a exploração econômica e o desempenho de qualquer trabalho que possa ser perigoso ou interferir em sua educação, ou que seja nocivo para sua saúde ou seu desenvolvimento físico, mental, espiritual, moral ou social (MARTINS, 2004). Uso de drogas – O Estado adotará medidas para proteger a criança contra o uso de drogas e substâncias psicotrópicas e impedir que elas sejam utilizadas na produção e no trafico ilícito dessas substâncias (MARTINS, 2004). Prisões de penas arbitrárias – O Estado zelará para que: nenhuma criança seja submetida à tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes; os menores de 18 anos não sejam condenados a pena de morte ou a 29 prisão perpetua; nenhuma criança seja privada de sua liberdade de forma ilegal ou arbitraria; a detenção, a reclusão ou a prisão de uma criança sejam efetuadas em conformidade com a lei e apenas como último recurso, e durante o mais breve período de tempo; toda criança privada da liberdade seja tratada cm humanidade, respeito e dignidade; quando privada de sua liberdade, fique separada dos adultos, tenha direito de manter contato com sua família por meio de correspondência ou de visitas, e rápido acesso à assistência jurídica e a qualquer outra assistência adequada (MARTINS, 2004). Toda criança acusada, ou declara culpada, de infringir as leis penais tem o direito de ser tratado de modo a estimular seu sentido de dignidade e valor, e fortalecer lhe o respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais de terceiros, levando em consideração a sua idade e a importância de estimular sua reintegração e seu desempenho construtivo na sociedade. Toda criança acusada de infração penal deve gozar das seguintes garantias: ser considerada inocente enquanto não for comprovada sua culpabilidade conforme a lei; ser informada sem demora e diretamente, ou por intermédio de seus pais ou representantes legais, das acusações que pesam contra ela, e dispor de assistência jurídica para a preparação e a apresentação de usa defesa; ter a causa decidida sem demora por autoridade ou órgão judicial competente, independente e imparcial, em audiência justa conforme a lei e com assistência jurídica; não ser obrigada a testemunhar ou declarar-se culpada, e poder interrogar as testemunhas de acusações, bem como obter a participação e o interrogatório de testemunhas em sua defesa, em igualdade de condições; se for decidido que infringiu as leis penais, ter essa decisão submetida à revisão por autoridade ou órgão judicial superior competente, independente e imparcial, de acordo com a lei; ter plenamente respeitada sua vida privada durante todas as fases do processo. Os países deverão criar leis, procedimentos, autoridades e instituições específicas para as crianças de quem se aleguem ter infringido as leis penais ou que sejam acusadas ou declaradas culpadas de tê-las infringido, e em particular: estabelecendo de uma idade mínima antes da qual se presumirá que a criança não tem capacidade para infringir as leis penais; a adoção, sempre que conveniente e desejável, de medidas para tratar dessas crianças sem recorrer a procedimentos judiciais, contando que sejam respeitados plenamente os direitos humanos e as garantias legais. 30 Diversas medidas, tais como ordens de guarda, orientação e supervisão, aconselhamento, liberdade vigiada, colocação em lares de adoção, programas de educação e formação profissional, bem como alternativas à internação em instituições, deverão estar disponíveis para garantir que as crianças sejam tratadas de modo apropriado ao seu bem-estar e de forma proporcional às circunstâncias e ao tipo de delito. Fica evidenciado o princípio da igualdade de todas as crianças e adolescentes, estes compreendidos como todos os seres humanos que contam entre zero e dezoito anos, ou seja, não há categorias distintas de crianças e adolescentes, apesar de estarem em situações sociais, econômicas e culturais diferenciadas. A gama de direitos elencados basicamente no art. 227 da Constituição Federal, os quais constituem direitos fundamentais, de extrema relevância, não só pelo seu conteúdo como pela sua titularidade, devem, obrigatoriamente, ser garantidos pelo Estatuto, e uma forma de tornar concreta essa garantia deu-se, justamente, por meio do Estatuto da Criança e do Adolescente, o qual tem o nobre e a difícil tarefa de materializar o preceito constitucional (MALTA, 2002 p. 24). Deste modo, o surgimento da legislação que tratasse crianças e adolescente como sujeitos de direitos era imprescindível, evitando que os preceitos constitucionais fossem reduzidos a meras intenções. Sendo crianças e adolescentes titulares de direitos próprios e especiais, em razão de sua condição específica de pessoas em desenvolvimento, tornou-se necessária a existência de uma proteção especializada,diferenciada e integral. Pela nova ordem estabelecida, criança e adolescente são sujeitos de direitos e não simplesmente objetos de intervenção no mundo adulto, portadores não só de uma proteção jurídica comum que é reconhecida para todas as pessoas, mas detém ainda uma “supra proteção ou proteção complementar de seus direitos”. Sem dúvida, o ECA foi um avanço no trato das crianças e adolescentes brasileiros em comparação ao Código de 1979, mas a sua construção e implantação não se deve somente às lutas sociais em defesa dos direitos da Criança e do Adolescente, mas também aos interesses hegemônicos nacionais e internacionais em decorrência do processo de substituição do paradigma do Welfare State para o do neoliberalismo. 31 2.3 Políticas Públicas brasileiras e o acolhimento de crianças e adolescentes Com o avanço das transformações corridas no cenário nacional e internacional tornando-se a política pública, é um dever do Estado o atendimento da criança e do adolescente sendo um direito de cidadania. Abordaremos então de maneira breve e leve o tratamento dispensado pelas políticas públicas brasileiras na proteção da criança e do adolescente, em especial o papel fundamental dos Conselhos Tutelares, Ministério Público e Núcleo Familiar. Inicialmente, recorreremos um pouco da história para melhor compreensão do leitor. Ponderando acerca da concretização dos direitos dos adolescentes e das crianças estabelecidos no Estatuto da Criança e do Adolescente, se faz imprescindível analisar o trabalho realizado nas atividades das políticas públicas de acordo com o preceituado nesta normativa. No cumprimento acerca do estabelecimento das políticas sociais brasileiras na esfera da juventude e da infância, evidencia-se o antigo Código de Menores, e a atividade de auxílio ao menor de atribuições punitiva e assistencialista, manifestando uma controvérsia no tocante às finalidades de tutela aos adolescentes e às crianças (FREITAS, 2016). Todavia, com a legitimação do Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990, e as transformações advindas no núcleo da estruturação das políticas sociais a partir da Magna Carta Brasileira de 1988, um novo panorama inicia a delinear-se na perspectiva de introduzir na agenda das políticas públicas sociais as garantias de adolescentes e crianças como sujeitos de direitos (SANTOS, 2021). A fim de que as garantias estabelecidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e demais legislações sejam concretizadas na atividade da tutela da juventude e da infância, é necessário que o conjunto de políticas sociais reservadas à introdução de adolescentes e crianças estejam em integral exercício e suas atividades sejam pensadas e planejadas na perspectiva de assegurar a vivência do ingresso aos direitos. As políticas públicas estão estruturadas em esferas centrais como a geração de renda, trabalho, assistência social, educação e saúde, com suas organizações funcionais e regras próprias. Na atualidade, pode-se observar distintas atividades em 32 distintas políticas públicas que concretizam os direitos de adolescentes e crianças estabelecidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (SANTOS, 2021). No campo das políticas públicas é possível observar que na medida em que a concepção de infância foi evoluindo a legislação foi se adaptando a essa nova visão até se chegar à perspectiva atual de possuidores de direitos e deveres. De acordo com BRASIL (2002, p. 23), surgiram em diversos países europeus e americanos, em fins do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, as primeiras legislações e instituições específicas destinadas à infância e adolescência. Essas leis e instituições foram baseadas na “doutrina da situação irregular” que tinha como eixo a idéia de controle social dos “menores” infratores e daqueles considerados abandonados moral ou materialmente por seus familiares. Como vimos no início deste estudo, em 1927 surge o Código de Menores, destinado aos menores de 18 anos, em “situação irregular”, os delinqüentes e aos abandonados moral ou materialmente, sendo que nesta última categoria incluíam-se aqueles encontrados eventualmente sem habitação certa, com enfermidade, ausência ou prisão dos pais ou guardiães, assim como os que tinham pai, mãe ou guardião que praticassem atos contrários à moral e aos bons costumes (BRASIL, 2002). Já no código de 1979, o qual se baseava na doutrina da situação irregular, não havia a distinção entre crianças e adolescentes que também não eram considerados sujeitos de direitos, não havendo menção sobre os deveres do Estado e da sociedade, nem as penalidades previstas para pessoas que cometessem atos de violência contra crianças e adolescentes. O Código de Menores de 1979 e a Política Nacional de Bem Estar do Menor PNBEM foram revogados a partir da entrada em vigor da nova Constituição Federal, em 1988 e do estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em outubro de 1990. Inaugurou-se desse modo, ao menos formalmente, o Estado de direito para a infância e adolescência no Brasil, com a indicação clara da relação entre direitos e deveres. Entende que por volta de 1980 o Brasil começou a mobilizar-se para que a criança e o adolescente fossem envolvidos por uma rede de proteção, que culminou com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que inovou ao trazer medidas de proteção e as medidas sócioeducativas. O Estatuto de 1990 voltado para os infantes e adolescentes está embasado na doutrina da proteção integral ( que será aprofundada mais adiante), afirmada pela Convenção das Nações Unidas sobre os 33 Direitos da Criança, e transformada em lei no Brasil. No livro II do ECA intitulado Parte Especial, observa-se, na análise dos artigos, uma preocupação nítida, em romper com a doutrina da situação irregular e estabelecer uma política de atendimento, para crianças e adolescentes em circunstâncias especialmente difíceis, calcada na afirmação de direitos e não na suspensão dos mesmos. O Estatuto traz medidas que são utilizadas quando os direitos da criança e do adolescente estão ameaçados ou violados por ação ou omissão da sociedade, do Estado, dos pais ou em razão da conduta das próprias crianças e adolescentes (FALEIROS, 2000 p. 52). Assim, o ECA define como diretriz fundamental da política de atendimento da criança e do adolescente a criação dos Conselhos Municipal, Estadual Nacional dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes. Este Conselho é o órgão responsável pela adaptação das regras gerais previstas no Estatuto à realidade de cada município. Cada Estado possui o seu Conselho Estadual, que gerencia as questões referentes à sua área de atuação. Em âmbito nacional existe o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente – CONANDA que elabora as normas da Política Nacional de Atendimento dos Direitos da Criança e do Adolescente, fiscalizando as ações de execução e diretrizes estabelecidas no ECA, buscando integrar e articular as ações entre os Conselhos Estaduais e Municipais. No âmbito municipal, o Conselho Tutelar é o órgão responsável pelo atendimento aos casos de violação dos direitos da criança e do adolescente (BRASIL, 2002). O Ministério Público, por sua vez, atua como órgão defensor e promotor dos direitos da criança e do adolescente, agindo em todos os processos judiciais onde houver interesse de crianças e adolescentes. Quanto ao Juizado este se encarrega das medidas ao adolescente infrator e da aplicação de penalidades administrativas nos casos de infrações contra a norma de proteção à criança e ao adolescente (FROTA, 2002). A partir da Constituição de 1988 e do Estatuto da Criança e do Adolescente, as crianças brasileiras, sem distinção de raça, classe social, ou qualquer forma de discriminação, passaram de “objetos” a sujeitos de direito, em condição de pessoas em desenvolvimento, e a quem se devem assegurarprioridade absoluta na formulação de políticas públicas e destinação de recursos nas dotações 34 orçamentárias das diversas instâncias político-administrativas do País. Cabe salientar que, no sentido de concretizar os direitos e contribuir para a efetivação da cidadania, torna-se indispensável à implantação de políticas públicas, programas, atividades, ações do cotidiano que atendam crianças e adolescentes nas demandas próprias do seu desenvolvimento, atingindo de igual forma as suas famílias. É necessário um comprometimento efetivo com a criança e adolescente, para que seja fortalecida a nova ordem recomendada pela Doutrina da Proteção Integral, com vistas à promoção da sua dignidade humana e o pleno exercício da cidadania. Em seu Capítulo I, o Estatuto da Criança e do Adolescente preceitua acerca do direito à saúde e à vida de adolescentes e crianças, garantias estas que se concretizam nas atividades da política de saúde a partir do SUS - Sistema Único de Saúde, as atividades direcionadas aos adolescentes e às crianças são: pré-natal, saúde da criança, aleitamento materno, atendimento médico-hospitalar, campanhas de vacinação direcionadas às crianças, e na saúde psicológica ao tratamento nos CAPS infantil. Ademais, vale evidenciar que a saúde é reputada uma garantia fundamental, considerando que é o Poder Público que possui a responsabilidade de estabelecer e desenvolver políticas públicas nesta esfera, objetivando que esta garantia seja assegurada para todos, dentre eles está o público infanto-juvenil (MARTINS, 2020). A instituição ou conservação de programas de atenção a adolescentes e crianças tem sido cada vez mais incentivado pelas finalidades das políticas públicas, na perspectiva de assegurar na vivência as garantias disciplinadas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Cabe ressaltar que muito é necessário desenvolver na perspectiva de tutelar a infância. Todavia, não se pode negar os progressos que já sucederam com a legitimação do próprio Estatuto e da introdução de atividades que atribuem transparência a este meio pelas políticas públicas (MARQUES, 2019). Às políticas públicas na área da saúde identificou-se que há uma inclusão lenta da temática da violência na agenda da saúde, como menciona MINAYO (2006, p. 16). De acordo com a autora a violência por si só não constitui um problema de saúde pública, mas torna-se, na medida em que afeta a saúde coletiva e individual das pessoas e demanda políticas e práticas voltadas para o seu enfrentamento. 35 Nesse sentido, notável que há uma política específica para situações de violência intitulada “Política Nacional de Redução de Morbimortalidade por acidentes e Violências”. Faz referência ainda ao ambiente doméstico como o principal local de agravo a situações de violência contra a criança. Nesse sentido, é evidenciada nesses documentos a necessidade de articulação entre os diferentes setores sociais no enfrentamento dessa problemática. No âmbito da Educação, em nível nacional, o Ministério da Educação dispõe do Projeto Escola que Protege, que é voltado para a defesa dos direitos das crianças e adolescentes, buscando enfrentar e prevenir situações de violência no contexto escolar. No que concerne à política de educação, ressaltam-se as atividades que asseguram à garantia da construção escolar, como responsabilidade do Poder Público, da sociedade como um todo, da coletividade e da família, as atividades desempenhadas pela Política Nacional de Educação Infantil objetivando o atendimento de crianças de 0 a 6 anos, como também a Política Nacional de Ensino Fundamental para crianças a partir dos 6 anos. Ademais, evidencia-se que a garantia à educação é apresentada como um direito fundamental, os termos do Capítulo IV do Estatuto da Criança e do Adolescente (SILVA et al., 2020). No que concerne a política de assistência Social, cria-se o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) segue um modelo de gestão descentralizado e participativo, refere-se à regulação e organização de serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais, de caráter continuado ou eventual, executados e providos por pessoas jurídicas de direito público sob critério universal e lógico de ação em rede hierarquizada e em articulação com iniciativas da sociedade civil, em todo o território nacional. Também, o SUAS define e organiza os elementos à execução da política pública de assistência social, por meio de organização das ações, com a definição de níveis de complexidade do sistema: Proteção Social Básica (PSB) e Proteção Social Especial (PSE) (BRASIL, 2009). O Ministério de Desenvolvimento Social (2009a) explica que os Serviços de Proteção Social Especial (PSE) destinam-se ao atendimento a indivíduos e famílias em situação de violação de direitos ou contingência que necessitem de cuidados especializados, acompanhamento e orientação de forma continuada. Tais serviços 36 são organizados em Serviços Continuados de Média Complexidade e Serviços Continuados de Alta Complexidade. Os Serviços de Média Complexidade oferecem atendimento a indivíduos e famílias em situação de contingência ou de risco pessoal e social e em situação, decorrentes de processo de envelhecimento ou presença de deficiência, cuja convivência familiar não foi rompida. Dentre os programas estão o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), responsável pela oferta de atenções especializadas de apoio, orientação e acompanhamento a indivíduos e famílias com um ou mais de seus membros em situação de ameaça ou violação de direitos. Já os Serviços de Alta Complexidade oferecem atendimento às famílias e aos indivíduos que se encontram em situação de abandono, ameaça ou violação de direitos, necessitando de acolhimento provisório, fora de seu núcleo familiar de origem, funcionando como moradia transitória até que seja viabilizado o retorno à família de origem, o encaminhamento para família substituta – quando for o caso, ou o alcance da autonomia. No SUAS - Sistema Único de Assistência Social, ressalta-se as atividades do PAIF, que possui como finalidade a de precaver circunstâncias de risco e também de consolidar os vínculos comunitários e familiares, considerando que o público preferencial é aquele grupo que vive em circunstância de vulnerabilidade social, dentre eles estão o adolescente e a criança. Outrossim, por intermédio do PAIF se concretizam o direito ao lazer, ao esporte e à cultura, à liberdade, ao respeito à dignidade e sobretudo a convivência comunitária e família. Ainda na esfera da política de assistência, ressaltam-se as atividades da proteção social especial pelo PAEFI, família acolhedora e instituições de longa permanência que objetivam assegurar a proteção e a integralidade de adolescentes e crianças que vivem em circunstâncias de negligência e violência (EPIFANIO et al., 2017). O desenvolvimento da infante se inicia no núcleo familiar, que possui a obrigação moral e legal de ensiná-los a maneira correta de agir, a consciência da necessidade de respeitar o próximo, obedecer às leis, evitar conflitos, aceitar as perdas, conquistar objetivos, e viver em sociedade. Por outro lado, tendo em vista que grande parte das características afetivas e de personalidade que a criança carregará para a vida adulta é construída na infância, a violência domestica praticada contra a mesma pode causar danos físicos e emocionais, tornando a incapaz, desajustada, agressiva e inadequada para a vida em grupo. 37 A família é o grupo de origem de todos os outros, de todas as instituições. Por isso, a família é o grupo primário o que equivale a dizer que ela está presente, mesmo que de maneira indireta, em toas as instituições e segmentos da sociedade que terão seu funcionamento condicionado por aqueles valores vindos da origem, da família. Isso