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CENTRO UNIVERSITÁRIO JORGE AMADO LARISSA LIMA GOMES SILVA ANÁLISE ACERCA DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO, DA SUA CONTRADIÇÃO E DA DITADURA MILITAR NO BRASIL. Salvador - Bahia 2022 LARISSA LIMA GOMES SILVA ANÁLISE ACERCA DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO, DA SUA CONTRADIÇÃO E DA DITADURA MILITAR NO BRASIL. Trabalho da disciplina de Teoria do Estado e Democracia apresentado ao professor Mateus Costa Pinheiro como requisito parcial para conclusão da referida disciplina no curso de direito do Centro Universitário Jorge Amado. Salvador - Bahia 2022 RESUMO O presente artigo visa conceituar o Estado Democrático de Direito e analisar se o Regime Ditatorial Militar no Brasil pode ser caracterizado como um Estado de Direito (também chamado de Estado Democrático de Direito). A análise dos dados foi feita a partir dos assuntos estudados em aula, dos assuntos abordados durante o Debate preparatório para a AV1, das pesquisas realizadas em grupo para a realização da AV1 e da pesquisa bibliográfica online. Foi possível entender como está caracterizado o Estado de Direito, o porquê ele também ser chamado de Estado Democrático de Direito, e, como se caracteriza sua contradição o Estado de Não-Direito. Por fim, após análises das características da Ditadura Militar no Brasil, chegou- se à conclusão de que a mesma foi um Estado de Não-Direito. Palavras-chave: Estado. Direito. Democracia. Ditadura Militar. 1 INTRODUÇÃO Este texto mostra que o Estado de Direito tem como características: leis justas para todos, garante os direitos humanos fundamentais da população (direitos inerentes à vida, liberdade, igualdade, segurança e propriedade), tem meios para que as pessoas lutem pelos seus direitos que ainda não são garantidos, e tem como regime governamental a Democracia, já que é a forma de governo que permite a maior participação das pessoas nas decisões do governo. Também mostra as características do Estado de Não-Direito, que, em suma, são características contrárias as características do Estado de Direito. Por fim, responde ao questionamento do professor: É possível caracterizar o Regime Militar no Brasil como Estado Democrático de Direito? 2 DESENVOLVIMENTO A constituição federal no seu artigo 1° afirma que o Estado Brasileiro é constituído em um Estado Democrático de Direito. Mas o que significa esse termo? Como conceituar esse sistema institucional? O Brasil sempre foi um Estado Democrático de Direito? A Ditadura Militar no Brasil pode ser considerada um Estado Democrático de Direito? Tais questionamentos foram fundamentais na confecção do preste artigo, uma vez que, nortearam a pesquisa sobre esse assunto tão extenso e cada vez mais discutido. A partir de agora analisaremos o que constitui o Estado de Direito, e sua contradição, o Estado de Não-Direito, e, se a Ditadura Militar deve ser compreendida ou não como um Estado de Direito. 2.1 ESTADO DE NÃO-DIREITO Para entender a complexidade do Estado de Direito é necessário, primeiramente, analisar o que não é Estado de Direito, o chamado Estado de Não-Direito. O Jurista Português J. J. Gomes Canotilho (1999, p. 4) conceituou em uma de suas obras esse Estado contrário ao leis arbitrárias, cruéis e desumanas essas sendo injustas para determinadas pessoas ou grupos sociais. Um exemplo claro desse tipo de leis são as Leis de Nuremberg na Alemanha Nazista que eram completamente cruéis para com os Judeus, eram injustas ao ponto de proibir relacionamento entre Alemães e Judeus, e, não os considerar cidadãos da Alemanha, onde nem mesmo pelo princípio de Jus Solis seria possível que eles obtestem a nacionalidade e os benefícios provenientes dela, indo totalmente contra com os princípios da dignidade da pessoa humana e os direitos inerentes ao mesmo. Canotilho também afirma que no Estado de Não-Direito os governantes fazem da sua força o Direito, onde eles utilizam o Direito para criar leis arbitrárias, e assim justificar as atitudes cruéis e injustas que tem para com a sociedade. É possível citar um exemplo claro dessa atitude na obra de George Orwell1 Napoleão assumiu o posto de governador da sociedade chamada Animalismo, porém ele abusava do poder que tinha para modificar os Mandamentos do Animalismo e, dessa forma, justificar as suas atitudes arbitrárias para com os outros animais, podemos notar isso quando Napoleão decidiu que iria matar alguns animais para oprimir ainda mais os outros, e para poder justificar a sua atitude ele modificou o mandamento escrito que mal matará sem motivo Por último, este modelo de Estado, ainda de acordo com Canotilho, não oferece meios para que a população se defenda das leis e atitudes abusivas por parte dos governantes, deixando-os assim, totalmente à mercê dos atos cruéis e arbitrários, e, um Estado onde a população não tem a possibilidade de buscar justiça quando seus direitos são violados é um Estado impossível de se viver. É importante ressaltar que no passado era defendida a teoria de que o Estado de Não- Direito é um estado em que o Direito não está presente, entretanto, essa teoria não é mais aceita. O próprio Canotilho defende que o Direito está sim presente nesse modelo de Estado, mas ele é injusto. Pseudônimo para Eric Arthur Blair. 2.2 ESTADO DE DIREITO (DEMOCRÁTICO?) Agora que já foi realizada a conceituação do Estado de Não-Direito é possível, partindo do pressuposto que o Estado de Direito tem características totalmente contrárias da forma de Estado dissertada no tópico anterior, conceituar o Estado de Direito. Dessarte, o Estado de Direito possui leis justas para todos, garante os direitos individuais humanos a saber são direitos inerentes à vida, liberdade, igualdade, segurança e propriedade da população (vale salientar que a Constituição Federal de 1988 descreve tais direitos no Título II, artigo 5), além de permitir a participação das pessoas nas decisões que contemplam o Estado como um todo. No ensaio teórico da Iniciação Científica da UNIJUÍ Aline Michele e Carolina Andrade (2016, p. 3) dissertaram sobre o Estado Democrático de Direito e em sua análise expuseram a opinião de Norberto Bobbio acerca do assunto em questão. Ficou claro que para Bobbio o Estado Democrático de Direito é contrário à autocracia, que está caracterizada em um regime que o governante detém do poder absoluto, dessa forma ele defende que o Estado de Direito é um governo do povo e para o povo, que garante todos os direitos básicos inerentes aos direitos humanos, como a igualdade, os direitos políticos, a liberdade e muitos outros, também dá ao povo o poder de ter uma participação ativa no governo dessa sociedade, além de dá-los liberdade de lutar pelos seus direitos para que sejam cada vez mais abrangidos pela sociedade, que, deve ter o Direito em constante mudança. Jorge Miranda também utiliza de suas obras para conceituar o Estado de Direito, onde, de acordo com análise do Professor Mateus Costa Pinheiro (2010), Jorge Miranda em seu conceito destaca a separação de poderes como garantia dos direitos dos cidadãos e ao princípio da legalidade substancial, que deve guiar a atuação dos governantes . Dessa forma, é perceptível que para Estado de Direito ser pleno ele precisa ter como forma de governo a democracia, já que a mesma permite a participação do povo na política. Hans Kelsen (2000, p. 27) defendeu esse conceito já que afirmou que a democracia é o único modelo de governo que tem como base os princípios de liberdade e igualdade, fundamentos de um Estado de Direito, ele escreveu que a partir: Da ideia de que somos idealmente iguais, pode-se deduzir que ninguém deve mandar em ninguém. Mas a experiência ensina que, se quisermos ser realmente todos iguais, deveremos deixar-nos comandar. Por isso a ideologia política não renuncia a unir liberdade com igualdade. A síntese destes dois princípios é justamente a característica da democracia. Por conta de a democracia ser imprescindível neste sistema ele é também nomeado de Estado de Direito Democrático.Note que caso um Estado não tenha a Democracia como forma de governo ele será considerado um Estado de Direito em formação/em transição, atingindo a plenitude deste Estado de Direito ao mudar sua forma de governo para o regime Democrático. 2.3 O REGIME DITATORIAL MILITAR NO BRASIL FOI UM ESTADO DE DIREITO? Os estudos realizados em sala de aula, principalmente o Debate e a preparação para a AV1 foram de suma importância para a formulação da resposta de tal questionamento, uma vez que, tornou possível perceber que para definir se um regime é Estado Democrático de Direito Direito ou Estado de Não-Direito se faz necessário comparar as características de tais estados já descritas acima com as características da forma de governo em questão, desta forma, agora analisaremos as características da Ditadura Militar no Brasil em comparação com as características do Estado de Direito e Estado de Não Direito. Primeiramente, vale frisar que o regime de governo no Brasil nesta época (1964 1985) era a Ditadura e não a Democracia, regime necessário para que um estado seja totalmente Estado de Direito. Os Atos Institucionais instaurados no regime Ditatorial Militar eram cruéis, abusivos, e, serviram para validar e legitimar as violações a outras leis, e até mesmo à própria Constituição que eram cometidas pelo governo. Dessa forma, é perceptível duas características de um Estado de Não-Direito, sendo elas: as leis arbitrárias e fazer da sua força e do poder o Direito. Ao todo foram instaurados 17 Atos Institucionais (AI), sendo os cinco primeiros mais conhecidos, onde o AI-1 e AI-2 modificaram a Constituição, as regras das eleições, passando a permitir que os Militares suspendessem direitos políticos e outros, caso assim desejassem, e, deram plenos poderes para o Poder Executivo permitindo, assim, que ele muitas vezes agisse como Poder Legislativo. O Ato Institucional-3 instituiu as eleições indiretas para o cargo de presidente e vice-presidente no Brasil, tornando mais difícil que a oposição tomasse posse de tais cargos. Já o AI-4 convocou o Congresso e por meio da votação da Constituição de 1967 institucionalizou oficialmente a Ditadura Militar no Brasil. Por fim, o AI-5 interrompeu o Direito a habeas corpus, tornando possível que o Presidente instituísse o Estado de Sítio no Brasil e, dessa forma, fazer mudanças no Brasil sem estar limitado pela Constituição. A Ditadura Militar oprimiu a população ao ponto de eles não serem capazes de se defender da opressão e arbitrariedade. Nesta época era proibida a Liberdade de Expressão, onde por sua vez não poderiam existir manifestações contra o governo, um exemplo claro do que acontecia caso a pessoa se manifestasse foi o caso do cantor Caetano Veloso que teve muitas de suas músicas censuradas, além de ter sido preso e, logo após, exilado, o Jornal El País obteve acesso aos autos do processo instaurado contra Caetano Veloso, onde foi descrito o motivo de sua prisão como tendo sido por entretanto, o próprio jornal apresenta provas que mostram que Caetano Veloso não foi autor das ações descritas no processo. Dessa forma é possível concluir que, a prisão e a perseguição para com Caetano Veloso se deram unicamente por ele deixar claro que era contra ao regime político da época. A imprensa também foi censurada, a Lei da Imprensa de 1967 regulamentava as informações que eram de propagação permitidas pela mídia, tornando assim impossível à imprensa a liberdade de noticiar as arbitrariedades do Governo Ditatorial. Em consonância com a tese das Três Metamorfoses do Espírito de Nietzsche, não podemos ser iguais a um camelo, onde para ele tudo está maravilhoso e fechar os olhos para os problemas, também não dá para ser igual ao leão que ruge e percebe o que está ruim, mas não toma atitude para mudanças, devemos ser iguais à criança, que luta, percebe os problemas e torna a mudança real. Com isso, é por meio da educação que a população, a saber crianças e adolescentes, tomam ciência dos problemas da sociedade, e, também é pela educação que elas são ensinadas sobre como fazer a mudança acontecer, entretanto, durante o regime Ditatorial Militar no Brasil a educação também era censurada, onde, por sua vez, existia um controle das informações que seriam ensinados e da ideologia. A Filosofia e Sociologia, matérias que mais fazem a população questionar o motivo das coisas estarem de determinada forma e desejar mudanças, foram substituídas por matérias que pouco iria ensiná-los a exercitar o pensamento e criar teses para mudanças. Nesta época a educação era censurada ao ponto que é possível dizer que era como se eles vendassem os olhos, tapassem os ouvidos das crianças e adolescentes e os colocassem num cabresto2 para que eles submetessem os seus pensamentos e ações àquilo que o governo desejava. Dessa forma, neste momento do texto é possível chegar à conclusão que a Ditadura Militar não foi um Estado de Direito (também chamado de Estado Democrático de Direito) uma Como uma metáfora o cabresto representa o controle que se tem sobre alguém, representa algo ou alguém que reprime/censura uma pessoa ou um grupo de pessoas vez que suas características leis arbitrarias, opressão, sem liberdade de expressão e imprensa, censura na educação, além do governo fazer da sua força o Direito são 100% características do Estado de Não-Direito. Com isso, dá para afirmar com certeza que a Ditadura Militar no Brasil foi um Estado de Não-Direito. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Dessarte, foi possível analisar as principais características do Estado de Não-Direito e do Estado de Direito. Também foi afirmado que para um país ser totalmente Estado de Direito ele precisa ter como regime a Democracia, dessa forma muitas vezes é mudado o nome que Estado é chamado para Estado Democrático de Direito. Por fim, foi respondido o questionamento proposto na introdução do presente texto, onde se chegou à conclusão de que a Ditadura Militar no Brasil (1964 1985) foi um Estado de Não-Direito. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CANOTILHO, J. J. Gomes. Estado de direito. Lisboa, Gradiva, 1999. KELSEN, Hans. A democracia. Tradução de Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2000. CORRÊA, M. V. G. Atos Institucionais. Info Escola. Disponível em: https://www.infoescola.com/ditadura-militar/atos-institucionais//. Acesso em: 20 jun. 2022. PINHEIRO, Mateus Costa. Estado de Direito. Jus Navigandi. 2010. Disponível em: Estado de Direito - Jus.com.br | Jus Navigandi. Acesso em: 19 jun. 2022. ORWELL, George. A revolução dos bichos: um conto de fadas. Tradução de Heitor Aquino Ferreira. 1ª Ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Sobre Verdade e Mentira no Sentido Extramoral. Hedra. São Paulo: Janeiro, 2007. LEVES, A. M. P.; BARRIQUELLO, C. A. Estado Democrático de Direito: uma reflexão à luz do pleno exercício da cidadania em prol da efetivação dos direitos humanos. Seminário de Iniciação Científica - Ciências Sociais Aplicadas da UNIJUÍ. Edição 2016: Salão do Conhecimento UNIJUÍ. Disponível em: https://www.publicacoeseventos.unijui.edu.br/index.php/salaoconhecimento/article/view/725 2. Acesso em: 19 jun. 2022. A ditadura brasileira contra Caetano Veloso: os arquivos completos da repressão. Jornal El País: 2020. Disponível em: https://brasil.elpais.com/cultura/2020-09-14/a-ditadura- brasileira-contra-caetano-veloso-os-arquivos-completos-da-repressao.html. Acesso em: 20 jun. 2022.