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Planejamento Energético Energia e Sociedade Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. Pedro Henrique Cacique Braga Revisão Técnica: Prof.ª Dr.ª Vivian Fiori Revisão Textual: Prof.ª Me. Selma Aparecida Cesarin 5 Nesta Unidade, vamos estudar as relações entre Energia e Sociedade; abordaremos os tópicos necessários para a compreensão do planejamento energético e traçaremos o perfil do consumo energético nos setores residencial, comercial, industrial, de transportes, rural e de serviços públicos. Não se esqueça de acessar o ambiente virtual para participar dos fóruns de discussão e realizar as atividades propostas. Não hesite em contatar o seu tutor sempre que necessário. · Serão discutidas as relações entre energia e crescimento econômico, observando os recursos e a demanda energética. · Por fim, trabalharemos com a caracterização do perfil de consumo energético nos setores residencial, comercial, industrial, de transportes, rural e de serviços públicos. Energia e Sociedade · Introdução · Planeamento de Sistemas Elétricos · Políticas Energéticas · Energia e Crescimento Econômico · Perfil de Consumo Energético · Conclusões 6 Unidade: Energia e Sociedade Contextualização A produção e distribuição de energia são uma grande tarefa de uma nação. Garantir que a sua população tenha o necessário para o consumo diário e ainda que as fontes de recursos naturais permaneçam em estados utilizáveis requer planejamento bem específico e detalhado. Uma política energética nacional que garanta o fornecimento nacional, a inserção do país no mercado internacional e ainda contenha práticas de redução da emissão de poluentes deve ser estabelecida. Todo governo possui os seus órgãos de regulamentação para criação e cumprimento das leis estabelecidas pela política nacional. Para criar tal política, é preciso levar em consideração alguns tópicos como: quantidade de recursos presente no território nacional, distribuição das reservas e demanda por região, classe e setor. Além de garantir o bom uso dos recursos, é preciso investir em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias de conversão do insumo primário em energia. Para Pensar Para esta Unidade, convido você a refletir sobre as políticas energéticas atuais, determinadas na Lei 9478, de 6 de agosto de 1997, que pode ser consultada em: <https://bityl.co/C2ec>. 7 Introdução O domínio sobre os recursos naturais para a geração de Energia foi uma conquista marcante na história da Humanidade. Ao ser analisada a trajetória do ser humano, percebe-se que sua evolução em sociedade sempre foi acompanhada pelo avanço da tecnologia. Seja na produção do fogo, na construção de ferramentas, fabricação de bens duráveis ou nas telecomunicações, entre outras grandes inovações. A corrida incessante pela otimização de tarefas simples ou complexas é seguida de perto pela busca por novas tecnologias capazes de realizar em segundos o que antes era feito em horas, dias ou mesmo semanas. A capacidade humana de realizar suas tarefas passa a ser dependente de novas formas de energia. “Energia é aquilo que permite uma mudança na configuração de um sistema, em oposição a uma força que resiste à esta mudança” (VIANA et al., 2012, p.14). A definição proposta por Maxwell, em 1872, permanece válida na atualidade e serve como base para os estudos aqui apresentados. Observe que quando tratada como algo que permite uma mudança na configuração de um sistema, a Energia pode ser entendida como algo que não pode ser criado, mas transformado. “A energia se apresenta de diversas formas, que podem ser convertidas entre si. É importante observar ainda que apenas nos processos de conversão se identifica a existência de energia” (VIANA et al., 2012, p.15). Com base em tais afirmativas, seguem-se os estudos na tecnologia associada à conversão de energia e sua utilização em sociedade. Planeamento de Sistemas Elétricos O Setor Elétrico brasileiro está em constante evolução. Baseado na geração, transmissão e consumo de energia elétrica, este setor deve ser constantemente avaliado e submetido a políticas e regras que garantam seu melhor funcionamento. A fim de garantir a estabilidade, é necessário equilibrar oferta e demanda de energia nacional. Isso não é feito apenas aumentando a oferta desenfreadamente, seguindo o aumento da demanda. Se assim fosse, as reservas de recursos naturais não suportariam o grande consumo de um país com proporções continentais. É preciso uma tecnologia capaz de utilizar a menor quantidade dos recursos visando à maior produção e menor emissão de poluentes. O planejamento energético do país requer o estudo da demanda e das possibilidades diversas de produção de energia. Sendo assim, foram instituídas entidades para a realização destes planos. 8 Unidade: Energia e Sociedade No Brasil, o Ministério de Minas e Energia (MME) foi criado para auxiliar o exercício do Poder Executivo, criando normas, acompanhando e avaliando programas federais e implantando políticas para o setor energético. Alguns órgãos relacionados ao MME são: • ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica – tem a finalidade de regular e fiscalizar a produção, transmissão e comercialização de energia elétrica, de acordo com as políticas e diretrizes do governo nacional; • ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – é o órgão regulador das atividades das indústrias de petróleo, gás natural e biocombustíveis. Responsável pela execução das políticas nacionais para o setor; • DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral – sua principal atribuição é planejar e fornecer o fomento da exploração mineral e dos recursos geológicos do território nacional; • ONS – Operador Nacional do Sistema Elétrico – é uma entidade sem fins lucrativos com finalidade de gerenciar e controlar as instalações de geração e transmissão de energia elétrica em todo o país. O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) deve propor ao Presidente da República políticas nacionais e medidas para o setor. Já as Secretarias de Planejamento e Desenvolvimento Energético, de Energia Elétrica, de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Renováveis e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) devem prestar serviços na área de estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor energético. O trabalho em conjunto destas entidades garante o planejamento e a execução de políticas nacionais para o melhor atendimento à população. Figura 1. Paradigma de produção e consumo de energia. 9 A Figura 1 relata um paradigma que deve ser observado no planejamento energético: a relação entre demanda, consumo e manutenção dos recursos naturais minimizando a poluição do Planeta. A demanda por energia cresce proporcionalmente ao crescimento da população mundial. A energia é a base para a realização de tarefas simples e diárias individuais e também para a produção de bens duráveis e não duráveis, consumidos pela população. Conforme dito anteriormente, a geração da energia é baseada nos recursos naturais do Planeta. Seu uso desenfreado causaria um esgotamento das fontes de insumos primários para produção. Como consequência da extração dos recursos e dos processos de geração de energia, surgem problemas ambientais relacionados à poluição, como chuva ácida, efeito estufa e muitos outros. É necessário que o planejamento energético garanta o equilíbrio entre estes três pontos, para que a população tenha sua demanda suprida e, ao mesmo tempo, sejam preservadas as fontes naturais para as gerações futuras. Figura 2. Recursos naturais renováveis e não-renováveis. Recursos Renováveis Água Ar Biomassa Vento Minerais não-energéticos (Fósforo, Cálcio, etc) Minerais energéticos (Combustíveis fósseis, Urânio) Não-Renováveis Os recursos naturais podem ser classificados em renováveis e não renováveis. Os primeiros, como o próprio nome diz, são aqueles que se renovam após sua utilização, comoágua, ar, biomassa e vento, por exemplo. A biomassa pode ser derivada da cana-de-açúcar, do milho, da lenha, do bagaço de cana, dos resíduos sólidos, da mamona etc. No Brasil, por exemplo, há o etanol oriundo da transformação da cana-de-açúcar em álcool como também o os biocombustíveis vindos de mamona, soja e outras oleaginosas. Todos estes são de biomassa. De forma análoga, os não-renováveis são aqueles que, uma vez consumidos, tornam-se inutilizáveis. Neste grupo, encontram-se os minerais não-energéticos, como Fósforo e Cálcio, por exemplo, e os minerais energéticos, como os combustíveis fósseis e o urânio. 10 Unidade: Energia e Sociedade Os combustíveis fósseis são o petróleo e derivados, o carvão mineral, o xisto betuminoso, o gás natural. Para que a utilização seja ótima, é preciso estabelecer uma proporção adequada para cada tipo de recurso, sem que estes se esgotem. Políticas Energéticas O conjunto de normas e políticas, estabelecidas pelos órgãos responsáveis de um país são conhecidas como Políticas Energéticas. No Brasil, o MME estabeleceu, em agosto de 1997, a Lei nº 9.478, art. 1º, que contém toda a política nacional. Figura 3. Política Energética Nacional. A Figura 3 apresenta os principais tópicos da Política Energética Nacional brasileira. O principal motivador da lei é garantir o interesse nacional por meio de três pilares: o Mercado Internacional, o consumidor e o meio ambiente. Toda a política foi escrita a fim de garantir o equilíbrio dos três pontos principais. Explore Veja a Lei nº 9.478, de 1997, art. 1º, na íntegra em: <https://bit.ly/3F57Xx8>. Pensando no Mercado Internacional, a política visa a garantir a livre concorrência das concessionárias de energia, de forma a atrair investimentos internacionais. A pesquisa e o desenvolvimento são fomentados para que novas tecnologias sejam desenvolvidas para melhorar a qualidade do serviço e colocar o Brasil entre os grandes nomes no mercado. 11 O consumidor tem grande foco na lei, pois o fornecimento de energia deve ser garantido a ele por diferentes meios. No Brasil, foi estabelecido que as fontes principais de geração para fornecimento direto ao consumidor são: petróleo, gás natural, biocombustível e também fontes alternativas. Por fim, a lei pretende estabelecer ações para preservação do meio ambiente, estimulando a pesquisa em tecnologias para conservação da energia e redução da emissão de gases poluentes. Energia e Crescimento Econômico O crescimento econômico de uma nação envolve muitos fatores, como saúde, educação, comércio exterior, geração, venda e consumo de energia, entre muitos outros. Todos eles possuem indicadores sociais e numéricos capazes de sintetizar o crescimento por área. Uma das organizações sob coordenação do MME é a Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE), que publica todo ano um documento chamado Anuário Estatístico de Energia Elétrica. Explore Acesse <http://www.epe.gov.br> para conhecer todos os dados da empresa e do planejamento energético nacional A observação dos dados presentes no anuário nos permite verificar o perfil da geração e do consumo de energia de diversas formas, separadas por setores, regiões geográficas, classes de consumo, entre outros. Além de verificar o que aconteceu durante o ano que passou, é possível determinar os planos energéticos para o próximo período e tomar decisões para mudanças de cursos, caso seja necessário, ou ainda a intensificação do curso existente, caso o ocorrido esteja conforme o planejado. Vamos analisar alguns dados do Anuário de Energia Elétrica de 2014 (com referência ao ano de 2013). Uma primeira análise a ser feita é sobre a capacidade instalada de geração elétrica no panorama mundial. Observe a Tabela 1. Tabela 1. Capacidade instalada de geração elétrica por Região do Mundo. 2007 2008 2009 2010 2011 ∆% (2011/2010) Part. % (2011) Mundo 4,362.5 4,529.5 4,727.7 4,964.5 5,204.7 4.8 100.0 Ásia & Oceania 1,502.7 1,606.5 1,720.8 1,855.3 2,013.8 8.5 38.7 12 Unidade: Energia e Sociedade América do Norte 1,156.6 1,173.5 1,198.3 1,216.1 1,230.8 1.2 23.6 Europa 845.0 868.5 895.7 940.6 978.5 4.0 18.8 Eurásia 347.7 346.9 348.3 353.5 357.3 1.1 6.9 América do Sul e Central 231.6 238.6 248.4 259.2 269.9 4.1 5.2 Oriente Médio 161.6 173.5 187.7 206.6 218.5 5.8 4.2 África 117.2 122.0 128.5 133.2 135.8 1.9 2.6 Antártida 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 60.0 0.0 Fonte: EPE. Perceba que o dado mais importante para a nossa análise, neste momento, é a coluna Δ%, que indica a variação em porcentagem da capacidade de cada região. Observe que, no mundo inteiro, tivemos uma variação de quase 5% em crescimento da capacidade de geração elétrica. A região com maior crescimento percentual foi a que compreende Ásia e Oceania, seguida pelo Oriente Médio e América do Sul e Central. Esta análise nos permite dizer que a nossa região teve aumento significativo da produção em relação ao crescimento mundial. Em relação à participação no mercado mundial, América do Sul e Central ocupam a quinta posição, com 5.2% no ano de 2011. Uma vez que é conhecida a participação da região no âmbito mundial, pode-se traçar o perfil de geração do país em suas regiões e estados da federação. Observe a tabela 2 para comparações. Tabela 2. Capacidade instalada por região e unidade da federação (MW). 2013 Part. % (2013) Brasil 126,743 100.0 Norte 16,869 13.3 Rondônia 2,165 12.8 Acre 189 1.1 Amazonas 2,475 14.7 Roraima 99 0.6 Pará 9,136 54.2 13 Amapá 361 2.1 Tocantins 2,444 14.5 Nordeste 22,137 17.5 Maranhão 2,366 10.7 Piauí 199 0.9 Ceará 2,607 11.8 Rio Grande do Norte 930 4.2 Paraíba 641 2.9 Pernambuco 2,655 12.0 Alagoas 4,028 18.2 Sergipe 1,703 7.7 Bahia 7,006 31.6 Sudeste 42,204 33.3 São Paulo 18,149 43.0 Minas Gerais 14,254 33.8 Espírito Santo 1,558 3.7 Rio de Janeiro 8,243 19.5 Sul 29,610 23.4 Paraná 17,230 58.2 Santa Catarina 5,377 18.2 Rio Grande do Sul 7,003 23.7 Centro-Oeste 15,923 12.6 Mato Grosso do Sul 5,412 34.0 Mato Grosso 2,728 17.1 Goiás 7,736 48.6 Distrito Federal 47.0 0.3 14 Unidade: Energia e Sociedade Ao observar a participação das cinco regiões do país, percebe-se a distribuição apresentada no Gráfico 1. Pode-se dizer que, juntas, as regiões Sul e Sudeste produzem mais da metade de toda a energia elétrica do país. Gráfico 1. Capacidade instalada por região do Brasil. Fonte: EPE. Além de verificar a produção por região, ao desenvolver um perfil energético do país, precisa- se averiguar a geração por fonte. Observe o Gráfico 2, criado com os dados fornecidos pelo Anuário de 2014. Gráfico 2. Geração Elétrica por fonte no Brasil (GWh) - 2014. Fonte: EPE. 15 Observando verifica-se que a energia hidráulica é a predominante no Brasil quanto tratamos de energia elétrica. Notas I) Inclui autoprodução; II) Derivados de petróleo: óleo diesel e óleo combustível; III) Biomassa: lenha, bagaço de cana e lixívia; IV) Outras: recuperações, gás de coqueria e outros secundários. Observando o gráfico 2, nota-se que o Brasil possui a maior capacidade de geração de energia elétrica por fontes hidráulicas. São quase 70% de toda a capacidade nacional. Em seguida, tem-se a geração por gás natural e biomassa (lenha, bagaço de cana e lixívia). Graças ao bom potencial hidráulico brasileiro, podemos gerar nossa energia de forma mais limpa, reduzindo os riscos ambientais. É interessante perceber que ainda assim são utilizadas outras fontes para suprir regiões com bacias hidrográficas com rios com baixo potencial hidráulico, o suficiente para criação de usinas hidrelétricas e ainda para possíveis falhas do sistema, causadas por grandes secas, por exemplo. Uma vez observada a geração, deve-se analisar também o consumo, para determinar se uma região é auto-sustentável ou se é preciso que a distribuição de outra região se estenda para ela. Por conta disso, criou-se no Brasil o SIN- Sistema Interligado Nacionale boa parte das regiões brasileiras está interligada, de modo que se falta energia em uma região a outra pode produzir para o sistema e assim não falta energia. A Tabela 3 apresenta o consumo nacional por região. Tabela 3. Consumo por região geográfica (GWh). 2009 2010 2011 2012 2013 ∆% (2013/2012) Part. % (2013) Brasil 384,306 415,683 433,034 448,171 463,335 3.4 100.0 Norte 24,083 26,237 27,777 29,115 30,196 3.7 6.5 Nordeste 65,244 71,197 71,914 75,610 79,907 5.7 17.2 Sudeste 204,555 222,005 230,668 235,237 240,084 2.1 51.8 Sul 65,528 69,934 74,470 77,491 80,392 3.7 17.4 Centro- Oeste 24,896 26,310 28,205 30,718 32,756 6.6 7.1 Fonte: EPE 16 Unidade: Energia e Sociedade A fim de entender melhor os dados apresentados nas tabelas 2 e 3, criamos um gráfico que apresenta os dados de geração e consumo das regiões brasileiras. Observe o Gráfico 3 para a comparação dos dados. Gráfico 3. Comparação da geração e do consumo de energia por região do Brasil. Com a análise do gráfico, pode-se observar que a geração esteve acima do consumo em quase todas as regiões, com exceção da região Sudeste, que teve um consumo maior do que a própria geração, e da Região Nordeste, que teve praticamente o mesmo consumo que a capacidade gerada. Contudo, a geração total ainda foi superior à demanda nacional. Este excedente pode ser vendido a países vizinhos, por exemplo, o que acontece com frequência por intermédio da Usina Binacional de ITAIPU. Esta usina hidrelétrica pertence ao Brasil e ao Paraguai. Parte da energia gerada por um pode ser destinada ao outro em caso de excesso ou necessidade. Na maior parte do tempo o Brasil importa do Paraguai. Até então, foram analisados apenas dados de geração e consumo. Mas como isso afeta o bolso do consumidor? Vejamos a evolução da tarifa cobrada pela energia no país. Observe a tabela 4. Tabela 4. Tarifa média por região (R$/MWh). 2009 2010 2011 2012 2013 ∆% (2013/2012) Part. % (2013) Média Brasil 259.55 264.58 278.47 292.85 254.17 -13.2% -2.1% 17 Norte 287.95 261.68 294.96 321.17 276.68 -13.9% -3.9% Nordeste 255.87 262.96 278.79 297.09 250.26 -15.8% -2.2% Sudeste 269.87 273.70 281.90 294.78 259.76 -11.9% -3.7% Sul 233.74 248.50 266.68 277.23 235.15 -15.2% 0.6% Centro- Oeste 248.84 253.89 274.37 290.41 257.81 -11.2% 3.6% Fonte: EPE. Comparando os dados das tabelas anteriores, percebe-se que mesmo que algumas regiões tenham um crescimento na geração e consumo de energia, a tarifa não segue uma proporção igualitária. Observe que a região que teve a maior queda na tarifa foi também a que apresentou menor consumo e uma das de menor geração: a região Norte. Em compensação, a região Sudeste, maior produtora e consumidora teve a segunda maior queda de tarifa. Ou seja, não é possível determinar a tarifa apenas pelos fatores oferta e demanda. Deve-se levar em consideração ainda todos os gastos com fornecimento, proporção dos sistemas alternativos e outros fatores para o cálculo da tarifa regional. Perfil de Consumo Energético Outra análise relevante é feita a fim de traçar o perfil de consumo energético por classe, isto é, residencial, comercial, industrial etc. Tabela 5. Consumo por classe (GWh). 2009 2010 2011 2012 2013 ∆% (2013/2012) Part. % (2013) Brasil 384,306 415,683 433,034 448,171 463,335 3.4 100.0 Residencial 100,776 107,215 111,971 117,646 124,896 6.2 27.0 Industrial 161,799 179,478 183,576 183,475 184,609 0.6 39.8 18 Unidade: Energia e Sociedade Comercial 65,255 69,170 73,482 79,226 83,695 5.6 18.1 Rural 17,304 18,906 21,027 22,952 23,797 3.7 5.1 Poder público 12,176 12,817 13,222 14,077 14,608 3.8 3.2 Iluminação pública 11,782 12,051 12,478 12,916 13,512 4.6 2.9 Serviço público 12,898 13,589 13,983 14,525 14,847 2.2 3.2 Próprio 2,319 2,456 3,295 3,354 3,372 0.5 0.7 Fonte: EPE. A Tabela 5 nos permite dizer que ao longo dos últimos cinco anos a classe que obteve maior variação no consumo foi a Residencial. Observe que em 2009 ela consumia cerca de 101GWh enquanto que em 2013 o consumo chega a 125 GWh, uma variação de 6,2%. Apesar dos valores da classe Industrial serem sempre muito elevados, sua variação foi relativamente pouca, com o valor de 0,6%. O setor comercial teve também um grande crescimento de 5,6%, o que deixa o terceiro lugar para a iluminação pública, com 4,6%. Gráfico 4. Consumo livre por classe em 2013 (GWh). Fonte: EPE. O Gráfico 4 apresenta, então, a distribuição do consumo por classes, em 2013. É fácil perceber a grande participação das classes industrial e residencial no consumo total. De um total 19 de 463,335GWh consumidos no país, juntos consumiram 309,505, equivalentes a quase 67%. A tarifa também deve ser diferenciada para cada classe. Observe a Tabela 6, que apresenta os valores por setor. Tabela 6. Tarifas médias por classes de consumo (R$/MWh). 2009 2010 2011 2012 2013 ∆% (2013/2012) Part. % (2013) Residencial 293.33 300.56 315.64 333.44 285.00 -14.5% -2.8% Industrial 228.35 231.89 245.54 257.34 222.88 -13.4% -2.4% Comercial 279.79 284.82 295.16 307.52 269.29 -12.4% -3.8% Rural 188.87 198.29 211.62 219.83 193.89 -11.8% 2.7% Poder Público 299.82 300.22 315.87 329.72 286.09 -13.2% -4.6% Iluminação Pública 163.65 166.39 174.64 182.54 161.27 -11.7% -1.5% Serviço Público 202.96 198.69 209.39 219.20 192.91 -12.0% -5.0% Consumo Próprio 294.37 284.42 309.73 322.51 282.76 -12.3% -3.9% Fonte: EPE Observa-se pela Tabela 6 que a maior tarifa em 2013 foi para o Poder Público, enquanto a menor foi para a Iluminação Pública, com uma diferença entre elas de R$124,82 para cada MWh. Se fizermos as contas de consumo pela tarifa, observaremos que a classe Industrial, maior consumidora, gastou pouco mais de 41 bilhões de reais, enquanto a classe residencial gastou cerca de 35 bilhões. Conclusões Apresentamos nesta Unidade as principais análises sobre o perfil consumidor nacional, as políticas energéticas e tarifas dos últimos anos. O planejamento energético nacional, normalmente pensado para 3 a 5 anos, deve levar todos estes fatores em consideração. 20 Unidade: Energia e Sociedade É importante que estes dados estejam sempre atualizados; por isso, faz-se necessária a existência dos órgãos de pesquisa e manutenção dos dados, como a Empresa de Pesquisa Energética, por exemplo. Garantir que a energia chegue ao consumidor final com o menor custo possível, requer um planejamento detalhado de como ela deve ser gerada e transmitida, distribuindo a carga entre as diferentes usinas instaladas no país. Esta pode não ser uma tarefa fácil, em vista das muitas variáveis, mas, certamente, se bem feita, garantirá a menor tarifa possível e a maior qualidade do serviço prestado. Para Pensar Com base na análise dos dados que foram apresentados sobre os setores e classes com maior consumo, as regiões que mais produzem energia elétrica e as tarifas pagas por ela, você consegue pensar em uma estratégia para a melhoria do sistema? Essa melhoria pode ser desde a redução das tarifas até o melhor fornecimento de energia em âmbito nacional. 21 Material Complementar AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Atlas de energia elétrica do Brasil. 3 ed. Brasília: Ministério de Minas e Energia, 2008. Disponível em: https://goo.gl/K1gbNc AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS. Anuário estatístico brasileiro do petróleo, gás natural e biocombustíveis. Ministério de Minas e Energia, 2015. Disponível em: https://bityl.co/C2es MINISTÉRIO DE MINAS DE ENERGIA (MME). Resenha energética brasileira. Brasília: MME, 2014. Disponível em: https://bityl.co/C2eu PEREIRA, Vicente de Britto. Transportes: História, crises e caminhos. São Paulo: Civilização Brasileira, 2014 (e-book). “Planejamento Integrado de Recursos Energéticos”, Gilberto de Martino Jannuzzi, Ed. Autores Associados, 1ª ed. Sugere-se a leitura do primeiro capítulo do livro Planejamento Integrado de Recursos Energéticos, de Gilbertode Martino Jannuzzi, que aborda questões sobre o que deve conter um documento de planejamento. 22 Unidade: Energia e Sociedade Referências ANEEL – Agência Nacional De Energia Elétrica (BRASIL). Atlas de energia Elétrica do Brasil/Agência Nacional de Energia Elétrica. Brasília: Aneel, 2008. EPE – Empresa de Pesquisa Energética. Anuário Estatístico de Energia Elétrica. Rio de Janeiro: EPE, 2014. VIANA, A. N. C.; et al. Eficiência Energética: Fundamentos e Aplicações. Campinas: UNIFEI, 2012.