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IMIGRANTES: do direito à vida, saúde e educação no brasil, e seus aspectos constitucionais IMMIGRANTS: the right to life, health and education in brazil, and its constitutional aspects Jessica Pereira Honorato Lyra 1 Dra. Ana Carla Sanches Lopes Ferraz2 RESUMO O cenário mundial muda constantemente, e com essas mudanças algo que chama atenção é a migração internacional, pois há um crescimento sob o números de pessoas que entra e sai dos países buscando uma nova perspectiva de vida de melhoria aonde elas buscam Direitos Humanos, Proteção, Igualdade e estabilidade em outros países. O presente artigo busca a compreender a complexidade da migração e os desafios enfrentados por esses imigrantes no Brasil. Quais são os seus direitos e garantias a luz da constituição e da nova lei de migração a qual busca uma sensibilização aos desafios enfrentados, tais como, o racismo. Portanto conclui-se que essa pesquisa busca refletir sobre aqueles que sofrem constantemente sobre os seus direitos, a ausência de proteção no habito internacional ficando à mercê dos seus direitos. Palavras-chaves: Migração internacional, Direitos Humanos, Nova lei de migração. ABSTRACT The world scenario changes constantly, and with these changes something that calls attention is an international migration, because there is a growth under the number of people who enter and leave countries looking for a new perspective of life of improvement where they seek Human Rights, Protection, Equality and stability in other countries. This article seeks to understand the complexity of migration and the challenges faced by these immigrants in Brazil. What are your rights and guarantees in light of the constitution and the new migration law which seeks to raise awareness of the challenges being faced, such as racism. Therefore, it is concluded that this research seeks to reflect on the one who constantly protects his rights, the absence of protection in the international habit, being at the mercy of his rights. Keywords: International migration, Human Rights, New migration law. 1 Graduanda em Direito – Faculdades Integradas de Paranaíba jessicapereirahlyra@gmail.com 2 Orientadora. Drª, curso de Direito, Faculdades Integradas de Paranaíba anaferraz.adv@hotmail.com LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura I - dados sobre os imigrantes no Brasil nos últimos anos ..................................11 Figura II - registros de imigrantes março 2019 e 2020 ..................................................12 Sumário 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 4 2. A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E OS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS DOS IMIGRANTES .......................................................................... 5 3. LEI 13.445/17 – NOVA LEI DE MIGRAÇÃO E O ASPECTO FACILITADOR À REGULARIZAÇÃO DO ESTRANGEIRO.....................................................................7 3.1 Cenário atual dos imigrantes no Brasil.....................................................................10 3.2 Desafios enfrentados pelos imigrantes perante a sociedade....................................12 4. OS IMIGRANTES E O ATUAL ACOLHIMENTO HUMANITÁRIO..................14 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................15 REFERÊNCIAS................................................................................................................16 4 1. INTRODUÇÃO Vários aspectos fazem com que as pessoas tenham a necessidade de deixar seus países de origem. Por vezes os conflitos existentes em países como as guerras civis em muitos casos de cunho religioso são os maiores fatores para que ocorra o processo de imigração, mas também as crises econômicas fazem com que as pessoas acreditem que encontrarão em outros países uma vida digna. Em países Árabes e até nos países Africanos encontramos muita referência dessa existência de guerras, assim como nos países Sul-americanos que estão em constantes crises econômicas. Muitas vezes esses países tentam buscar refúgio no Brasil, por conta de seu aspecto acolhedor e dessa forma, ele tem sido destino recorrente desses povos. O Brasil, de certa forma, já contava com legislação com o objetivo de esclarecer como devia ser tratada a permanência de estrangeiros em solo brasileiro, contudo, o que se via nessa legislação não estava em concordância com os critérios dos Direitos Humanos que devem ser observados por todos os mecanismos jurídicos atuais. Com isso, passou o Brasil a conta com uma nova legislação buscando defender e garantir condições mínimas de vida no país de maneira igualitária aos cidadãos brasileiros. Isso tornou- se realidade com a Nova Lei de Migração. Essa nova lei trouxe por bem diferenciar os direitos concedidos aos imigrantes, emigrantes e também aos refugiados tratando de cuidar especificamente de cada categoria e dando os tratamentos individualizados a eles da maneira que lhes cabiam. Além disso, essa lei possui a característica de inauguração de um olhar ao migrante de maneira mais acolhedora do que tínhamos em caráter legal anteriormente, conferindo nos diversos artigos presentes na lei, os direitos e garantias fundamentais que estão inseridos na Constituição Federal de 1988. O presente artigo visa de forma clara trazer à baila os Direitos e as proteções devotadas ao imigrante em nossa legislação, demonstrar como foram inseridos esses atos constitucionais na nova legislação. Também, estudaremos como essa nova lei cuida de facilitar a regularização dos migrantes em solo brasileiro e como se dá todo o cenário que cuida sobre a condição do migrante no país de maneira geral, sobre seus direitos como trabalho e tratamento. Dessa forma, objetiva-se demonstrar em que passo essa legislação, ao colocar o caráter constitucional em seu texto, traz além da proteção a esses indivíduos cuida de sua integridade 5 e busca dar tratamento digno a essas pessoas que desejam a sensação de pertencimento nesse novo espaço. A metodologia utilizada para compor esse trabalho é de cunho bibliográfico, explorando todo o conhecimento compartilhado por autores renomados da área e também dialogando com o entendimento de colegas de academia com suas observações obtidas por meio de periódicos, artigos, monografias e outros. 2. A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E OS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS DOS IMIGRANTES A Constituição Federal de 1988 é notadamente o documento mais importante no que diz respeito à dignidade humana e a proteção de direitos das pessoas. Ela é, pois, um documento com o caráter de proteção, cujos princípios elencados buscam assegurar que os direitos mais intrínsecos dos cidadãos sejam protegidos. A conquista de Constituição Brasileira atual veio com o espírito de redemocratização, ocorrido ainda no século XX e observado em diversos país, o que foi considerado como a terceira onda de democratização, e por esse motivo, o seu núcleo a ser considerado diz respeito aos direitos fundamentais. Além disso, ela é fruto de um processo muito significativo de lutas frente a omissões, conflitos e negligências de todo os lados no que constava sobre direitos das pessoas humanas, sendo, portanto, a CF um espelho do que foi proposto pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. O grande aspecto de proteção aos direitos sociais advém do longo período no qual o Brasil esteve sob um regime ditador e com reflexos extremamente negativos no que diz respeito a proteções diversas para os cidadãos. Há de se falar também sobre a importância de que a essa nova Constituição tenha trazido no rol de cláusulas pétreas os conhecidos direitos fundamentais,objeto de estudo desse trabalho, fazendo com que esses direitos não pudessem ser retirados do texto constitucional. Mas o que de fato são os direitos fundamentais? Os direitos fundamentais são, em essência, mecanismos que visam coibir situações de abuso de poder, mas não somente isso visto que objetivam assegurar a dignidade das pessoas e como o que se entende por dignidade vive em constantes transformações, os direitos fundamentais irão sempre acompanhar essas transformações. Segundo o ilustre doutrinador, Paulo Bonavides (2008), direitos fundamentais cuidam 6 de direitos que o homem livre possui em face do Estado. Cabível dialogar com outras conceituações sobre o tema, para tal, consideramos demonstrar o que entende Vieira sobre o termo direitos fundamentais. Considera o autor que os direitos fundamentais se traduzem em “denominação comumente empregada por constitucionalistas para designar o conjunto de direitos da pessoa humana expressa ou implicitamente reconhecidos por uma determinada ordem constitucional”. (VIEIRA, 2006. p. 36.) Importante constar, ainda que de maneira breve e direta sem aprofundamento no estudo, que os direitos fundamentais possuem em suma três dimensões: a primeira dimensão cuida dos direitos de liberdade, a segunda dimensão trata de direitos prestacionais do estado como saúde, educação, assistência social, e por fim, a terceira fala de direitos de solidariedade e fraternidade como o meio ambiente equilibrado, autodeterminação dos povos, qualidade de vida e etc. A Constituição recepciona em seu segundo título (Título II), divididos em cinco capítulos específicos os direitos e garantias fundamentais que cuidam de: direitos individuais e coletivos, direitos sociais, direitos de nacionalidade, direitos políticos e direitos relacionados à existência. (BRASIL, 1988). A título de elucidação, como o objetivo dessa parte do artigo é tratar acerca dos direitos e garantias fundamentais conferidos ao imigrante, é importante destacar que, apesar de comumente serem utilizados juntos e até mesmo recepcionados na mesma proposta dentro da Constituição, existe uma diferenciação básica para os termos direitos fundamentais e garantias fundamentais. Logo, os direitos fundamentais se traduzem em tudo o que já foi discorrido acima. São os direitos do homem vigentes dentro da ordem jurídica a serem reconhecidos. Por outro lado, as garantias fundamentais são os mecanismos ou até mesmo os instrumentos assecuratórios para garantir que esses direitos sejam efetivados. Um exemplo de garantia fundamental seria o Habeas Corpus. Para consubstanciar o entendimento, diz Alexandre de Moraes: Diversos doutrinadores diferenciam direitos de garantias fundamentais. A distinção entre direitos e garantias fundamentais, no direito brasileiro, remonta a Rui Barbosa, ao separar as disposições meramente declaratórias, que são as que imprimem existência legal aos direitos reconhecidos, e as disposições assecuratórias, que são as que, em defesa dos direitos, limitam o poder. Aquelas instituem os direitos; estas, as garantias; ocorrendo não raro juntar-se, na mesma disposição constitucional, ou legal, a fixação da garantia com a declaração do direito. (MORAES, 2011, p. 21) 7 Mas de que formas esses direitos e garantias fundamentais podem ser aplicados no que diz respeito ao tratamento dado aos imigrantes no Brasil? Por exemplo, no artigo 5º da Constituição Federal, caput, confere-se o tratamento igualitário a todas as pessoas em território nacional. Com efeito, têm-se o artigo: Art: 5º “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes” Partindo desse princípio o imigrante estrangeiro, portanto, possui os mesmos direitos e deveres do cidadão brasileiro, tendo como finalidade a proteção desses indivíduos. Contudo, há de se considerar que esses direitos e garantias encontram limitações por leis. De maneira geral, considera-se que independente da nacionalidade do indivíduo ele é assegurado e garantido a ele emanações necessárias do princípio da dignidade da pessoa humana. Esses direitos são dirigidos aos estrangeiros enquanto cidadão, em vista da situação que se liga ao País. Ainda tratando sobre os aspectos dos direitos fundamentais, trataremos sobre a maneira como esses direitos fundamentais foram recepcionados pela Nova Lei de Migração, sem adentrar na lei em si, visto que iremos tratar sobre alguns aspectos específicos da lei posteriormente. De maneira bem semelhante ao texto constitucional, o artigo 4º da Lei nº 13.445/2017 trouxe em seu texto que “ao migrante é garantida no território nacional, em condição de igualdade com os nacionais, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...]’’ (BRASIL, 2017) de fato que o direito fundamental foi recepcionado na criação da lei e mantém sobre como deve ocorrer o tratamento ao estrangeiro em caráter de migração. Assim, esses direitos elencados no artigo se traduzem com especificidades para cada um. Por exemplo, ao que se entende por direito à vida, da mesma maneira ao que se entende no texto constitucional ela dispõe desde a integridade física até a questão da qualidade de vida. Ao mesmo passo em que, se traduz a igualdade nos termos de sempre: tratar de maneira desigual os desiguais, na medida de suas desigualdades. 3. LEI 13.445/2017 – NOVA LEI DE MIGRAÇÃO E O ASPECTO FACILITADOR À REGULARIZAÇÃO DO ESTRANGEIRO 8 Na década de 80, foi editado um documento conhecido como Estatuto do Estrangeiro que buscava, naquele tempo, regular como se dava o processo de imigração em solo brasileiro. O Brasil sempre se demonstrou como um país aberto no que diz respeito à migração, conforme dispõe Baraldi (2014, p. 80), “A história das políticas e leis de imigração no Brasil é intrinsecamente ligada à história da cidadania brasileira”. Todavia, os moldes no quais se davam esse assunto acabaram por serem substituídas recentemente. O Estatuto do Estrangeiro, à época, buscava resguardar os interesses nacionais em vista da permanência de estrangeiros no país, de forma que não se pode dizer por bem que tratava-se de um documento visando garantias protecionais a essas pessoas, e sim sobre o interesse nacional como segurança e trabalho dos cidadãos brasileiros em face dos estrangeiros. De certa forma, visto o momento em que ocorreu a aprovação desse estatuto, o estrangeiro no país não era considerado como amigável e mais como uma possível ameaça a esses interesses nacionais citados, de modo que restringia a liberdade dessas pessoas em solo nacional. No que dispõe Oliveira: A migração internacional no Brasil era regulada até então por normas legais implementadas no período do Regime Militar, nas quais o imigrante era visto como uma ameaça à “estabilidade e à coesão social” do país, predominando, portanto, o enfoque da segurança nacional, que deveria manter de fora das nossas fronteiras aqueles que “pretendiam vir causar desordem em nossas plagas”. (OLIVEIRA, 2017, p. 171) Esse cenário veio a mudar com a entrada em vigor da Lei N. 13.445 de 2017, conhecida como a Nova Lei de Migração que, além de recepcionar os mais diversos princípios presentes no texto constitucional, trouxe alguns métodos menos burocráticos para a regularização do estrangeiro no país, como veremos nesse tópico. A Nova Lei de Migração busca então acabar com as questões de xenofobia que implicam a permanência do imigrante estrangeiro no país e visa assegurar a eles tratamentos igualitários aos brasileiros de modo que passa a enxergar a migração como um fenômeno da humanidade. Outra mudança significativa também se deu no termo de tratamentoa esses indivíduos ao passo que se deixou de utilizar o estrangeiro para denominar como migrante, como bem aponta Guerra (2017) isso se dá por conta do tratamento atual observando os direitos humanos e dessa forma faz com que o indivíduo não se sinta mais como um estranho ou forasteiro. Diferentemente do que era colocado em voga no antigo Estatuto, onde o migrante deveria retornar ao seu país de origem até que sua documentação fosse regularizada, com a 9 nova lei de Migração é possível que o migrante continue em território nacional durante esse processo. O artigo 30 da referida lei traz um rol significativo que discorre sobre quais as condições em que pode ser autorizada a residência ao imigrante e ao residente fronteiriço no país: Art. 30. A residência poderá ser autorizada, mediante registro, ao imigrante, ao residente fronteiriço ou ao visitante que se enquadre em uma das seguintes hipóteses: I - a residência tenha como finalidade: a) pesquisa, ensino ou extensão acadêmica; b) tratamento de saúde; c) acolhida humanitária; d) estudo; e) trabalho; f) férias-trabalho; g) prática de atividade religiosa ou serviço voluntário; h) realização de investimento ou de atividade com relevância econômica, social, científica, tecnológica ou cultural; i) reunião familiar; II - a pessoa: a) seja beneficiária de tratado em matéria de residência e livre circulação; b) seja detentora de oferta de trabalho; c) já tenha possuído a nacionalidade brasileira e não deseje ou não reúna os requisitos para readquiri-la; d) (VETADO); e) seja beneficiária de refúgio, de asilo ou de proteção ao apátrida; f) seja menor nacional de outro país ou apátrida, desacompanhado ou abandonado, que se encontre nas fronteiras brasileiras ou em território nacional; g) tenha sido vítima de tráfico de pessoas, de trabalho escravo ou de violação de direito agravada por sua condição migratória; h) esteja em liberdade provisória ou em cumprimento de pena no Brasil; III - outras hipóteses definidas em regulamento. (BRASIL, 2017) Esse registro deve ser feito na Polícia Federal e consta no artigo 19 da lei no que consiste o tal registro. Descreve o artigo: ‘‘Art. 19. O registro consiste na identificação civil por dados biográficos e biométricos, e é obrigatório a todo imigrante detentor de visto temporário ou de autorização de residência.’’ (BRASIL, 2017) Dessa forma: A gestão da entrada de imigrantes no Brasil é, principalmente, de responsabilidade de duas pastas governamentais: o Ministério das Relações Exteriores (MRE) e Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP). O primeiro é responsável pela emissão dos vistos de visita, temporário, diplomático, oficial e cortesia. Já ao Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), por meio da Polícia Federal (DPF), cabe o registro e identificação civil do imigrante [...] (OBMigra, 2019, p. 8) No Caso do imigrante com visto temporário, a solicitação do registro deve ser feita em até 90 dias a partir do ingresso em solo brasileiro e para o imigrante que tenha autorização para 10 residência o prazo é de 30 dias da solicitação do registro, cabendo multa nos dois casos nos termos da lei. É claro que a lei impõe alguns critérios específicos para que esse registro pode ser permitido, por exemplo, não é permitido a permanência no país conforme demonstra o parágrafo primeiro do artigo 19. ‘‘§ 1º Não se concederá a autorização de residência a pessoa condenada criminalmente no Brasil ou no exterior por sentença transitada em julgado, desde que a conduta esteja tipificada na legislação penal brasileira [...]’’ (BRASIL, 2017). Os incisos I, II e III trazem as exceções. Além do caráter mais humanitário, há de se dizer que o processo atualmente para a regularização da permanência do indivíduo no Brasil é menos burocrático visto essa não necessidade de retorno ao seu país de origem durante o processo de regularização. Além disso, a nova lei facilita a inserção dos indivíduos dentro do trabalho formal no território nacional. 3.1 Cenário atual dos imigrantes no Brasil Podemos dizer que nos últimos anos houve significativo aumento populacional de imigrantes no cenário brasileiro. É claro, com a nova lei de Migração, com o passar dos anos, iremos perceber ainda mais mudanças nos números visto o caráter facilitador que a lei trouxe para a regularização desses indivíduos no país. Com base no relatório Word Migration Report (WMR, 2018) datado do ano de 2018, ficou demonstrado o crescimento de 20% da população migrante no país entre 2010 até 2015. Nesse período, o país contava com uma população de cerca de 713 mil estrangeiros com um número significativo de países vizinhos dentro desses números, cerca de 207 mil. (POLITIZE, 2018) Segundo o Ministério da Justiça, entre os anos de 2010 a 2018 houve o registro de cerca de 774,2 imigrantes no país. No ano de 2018 houve registro de três nacionalidades principais: haitianos, venezuelanos e colombianos. É o que também se demonstra na figura abaixo. 11 FIGURA I - DADOS SOBRE OS IMIGRANTES NO BRASIL NOS ÚLTIMOS ANOS FONTE – JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA, GOVERNO FEDERAL3 Outros dados trazidos por Ferreira e Reinholz (2020, n.p) sobre números: O estado do Rio Grande do Sul ficou em segundo lugar em 2018, com 35% de concessão de autorizações de residência a imigrantes, ficando atrás do Distrito Federal e a frente de São Paulo. Já de refugiados, de acordo com o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), o país tem cerca de 58 mil pessoas, de 94 nacionalidades, sendo a maioria de venezuelanos, com 44.984, ou seja, 76,6%, seguido de Senegal e Haiti. Conforme dados apresentados pelo OBMigra (2019) houve aumento de cerca de 13% de concessões de residência no país durante o primeiro trimestre de 2019 com relação ao primeiro trimestre do ano de 2018, além disso, também houve aumento de autorizações femininas. A figura a seguir ilustrada como o mapa do Brasil feito pelo relatório anual da OBMigra, demonstra a relação entre o mês de março de 2019 com março de 2020, sobre o aumento significativo de registros de imigrantes por estado no país. 3 Disponível em: <https://www.justica.gov.br/news/collective-nitf-content-1566502830.29> https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiNTQ4MTU0NGItYzNkMi00M2MwLWFhZWMtMDBiM2I1NWVjMTY5IiwidCI6ImU1YzM3OTgxLTY2NjQtNDEzNC04YTBjLTY1NDNkMmFmODBiZSIsImMiOjh9 https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiNTQ4MTU0NGItYzNkMi00M2MwLWFhZWMtMDBiM2I1NWVjMTY5IiwidCI6ImU1YzM3OTgxLTY2NjQtNDEzNC04YTBjLTY1NDNkMmFmODBiZSIsImMiOjh9 12 FIGURA II - REGISTROS DE IMIGRANTES MARÇO 2019 E 2020 FONTE: OBGMIGRA – RELATÓRIO ANUAL (2020)4 Desse fato, há de se lembrar que levamos em consideração um período de apenas um ano após a promulgação da nova lei de Migração. Como já dito, com o passar dos anos esses números e até mesmo podemos pensar que o perfil de nacionalidade dos imigrantes mudarão bastante. 3.2 Desafios enfrentados pelos imigrantes perante a sociedade Ainda que a sociedade esteja em constante evolução, alguns aspectos costumam ser difíceis para algumas pessoas superarem e demonstrarem apenas o olhar humano perante o outro. Sem dúvidas, um dos maiores desafios dos imigrantes enfrentados nos dias de hoje, não só no cenário brasileiro, mas em grande parte do mundo onde situações parecidas ocorrem é o preconceito com o imigrante e por consequência várias dificuldades impostas para que essas pessoas desenvolvam uma nova vida no novo lugar onde estão inseridos. Não é incomum vermos na mídia notícias de que certos municípios ou até mesmo estados estão enfrentando conflitos com cidadãos brasileiros com imigrantes vindos de países vizinhos ou não. A falta de oportunidade para essas pessoas impera sempre, como nos é mostrado, visto que o mercado de trabalho e a desigualdade social não são fatorestão simples dentro da 4 Disponível em: <https://portaldeimigracao.mj.gov.br/images/relatorios_mensais/2020/OBMigra_Mar%C3%A7o_2020.pdf> 13 sociedade brasileira e até mesmo existe falta de oportunidades para brasileiros que buscam trabalho e formas dignas de sobreviver. Isso acaba ocorrendo como grande empecilho para que o acolhimento a imigrantes no país e inserção deles que muitas vezes recorrem ao país por imaginar que terão melhorias de vida impulsiona o medo nos cidadãos brasileiros de que estes lhes tomem o pouco das oportunidades que encontram em suas vidas. O preconceito não é, contudo, o único obstáculo colocado para o imigrante em seu processo de inserção na sociedade brasileira. Como evidencia Silva (2017, p. 51): Em relação ao processo de inserção dos imigrantes na sociedade brasileira, alguns obstáculos foram verificados, tais como o acolhimento, o domínio da língua e a questão da discriminação racial e xenofobia. Esses fatos em conjuntos ou isolados acabam se tornando em empecilho para os imigrantes não se inserirem na sociedade brasileira ou viverem excluídos do convívio social. Ainda utilizando o autor (SILVA, 2017) sobre o processo de acolhimento, como veremos mais à frente em seção especial para tratar o assunto, por muito tempo foi uma parte muito negligenciada pelo Estado visto que esse sempre buscou trazer alterações que se mostrassem positivas no que tange ao âmbito legal sobre permanência. Todavia, o que se deixou de considerar nesses aspectos foram as questões socioculturais, visto que cada povo possui suas peculiaridades, sua cultura, língua e outros. Dessa forma, o processo de acolhimento sempre foi muito estranho ao brasileiro, que apesar de ser um povo muito receptivo com o outro, é sempre um impacto ter conhecimento de outras culturas e outros costumes, por exemplo. É fato que, o medo do desconhecido faz com que as pessoas se tornem irracionais ao pensar na situação do outro. O sentimento de ameaça, ainda que a sociedade brasileira tenha evoluído muito ao longo dos anos, continua se fazendo presente e se desenvolvendo através de atitudes como essas. É claro que todo país possui suas limitações até mesmo no que diz respeito ao cuidado com seu próprio povo, mas sem dúvidas alguma, o caráter da nova lei de Migração e sua forma de acolher um semelhante que busca nada menos que uma melhoria de vida é um grande avanço que deve continuar em constante atualização, para que isso jamais retroceda. 14 4. OS IMIGRANTES E O ATUAL ACOLHIMENTO HUMANITÁRIO O Brasil, anteriormente ainda à nova Lei de Migração passou por situações em que se viu acolhendo indivíduos de países diferentes por conta de crises naturais. Exemplo disso foi o que aconteceu com o Haiti em 2010 por conta do terremoto que não só vitimou tantas vidas à morte, como também deixou os sobreviventes desabrigados e desamparados. Nessa perspectiva, vários países ajudaram como puderam, e o Brasil na ocasião foi responsável por conceder vistos pelo caráter humanitário necessário naquele período. Mas isso nem sempre foi positivado e sim foi algo ocorrido com o caráter ‘‘ocasional’’. Isso mudou um pouco por conta da nova Lei de Migração. Como já vimos os diversos benefícios trazidos com a implementação dessa lei, que ainda é muito jovem, há de se tratar de uma questão ainda mais delicada por conta dela, o acolhimento humanitário advindo com a lei. A existência do visto humanitário permite que mesmo pessoas que não estejam parte de situação de refúgio, podem entrar no país quando de ameaças de instabilidade ou até mesmo de catástrofes naturais. O parágrafo 3º do artigo 14 consta em quais circunstância pode ser emitido o visto com base na acolhida humanitária, ainda que diversos outros fatores devam ser considerados no caso concreto, visto que o rol não é taxativo. Diz o parágrafo: §3º O visto temporário para acolhida humanitária poderá ser concedido ao apátrida ou ao nacional de qualquer país em situação de grave ou iminente instabilidade institucional, de conflito armado, de calamidade de grande proporção, de desastre ambiental ou de grave violação de direitos humanos ou de direito internacional humanitário, ou em outras hipóteses, na forma de regulamento. Assim como elucida Oliveira (2017), essa acolhida humanitária tem o caráter de proteção ao que se entende por migração forçada, e assim, o visto humanitário torna-se de fato uma alternativa para os migrantes que não estejam, como também dissemos, em situação de refúgio só que também não poderiam retornar ao seu país de origem por conta de riscos. ‘‘Logo, observando o princípio de não devolução, a proteção legal “é um acolhimento concedido pelo Estado baseado na necessidade de proteção internacional fora do quadro da Convenção de 1951” (OLIVEIRA, Camila, 2017, p. 124 apud SALLES et. al, 2019, p. 141). Esse visto, portanto, em caráter temporário pode ser concedido tanto ao apátrida que esteja inserido nessa noção de instabilidade institucional, conflito armado e até mesmo 15 catástrofe ambiental em seu país. Como já dito, o rol não é taxativo, de modo que, o Decreto N. 9.199 de 2017 visa regulamentar algumas questões que ficaram pouco esclarecidas pela lei nesse sentido. De tal forma, o decreto traduz que, a definição dos detalhes da acolhida humanitária constando as condições, os requisitos e etc. depende de ato conjunto a ser elaborado pelo Estado da Justiça e Segurança Pública, das Relações Exteriores e do Trabalho (CHIARETTI, 2018) De tal forma, é com base nessa regulamentação que será possível determinar os termos da acolhida humanitária, que, contudo, não pode de maneira alguma ser contrária ao que dispõe a lei de Migração. Sendo assim, a lei, por mais bem editada que fosse, nesse sentido mostrou-se ligeiramente omissa, precisando que além de um Decreto terminando os métodos para se conceder um visto com o caráter de acolhida humanitária, também uma regulamentação a ser feita por dois órgãos. De todo modo, é perceptível a diferença no tratamento do acolhimento humanitário visto que hoje com o advento da lei já existe em definição normativa a possibilidade de conceder esse visto, o que não víamos anteriormente de maneira aberta e somente quando algo ocorria em países que necessitassem de ajuda, já que por ser respeito aos Direitos Humanos não cabe aos países e nem mesmo ao Brasil resistir em oferecer apoio. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar de ainda existirem alguns problemas com os imigrantes relacionados tanto à xenofobia (que insiste em dar as caras mesmo com uma legislação tão pertinente no assunto tentando impedir esse cenário), os avanços para a proteção integral e a concessão de direitos constitucionais aos que se demonstram como imigrantes no Brasil são inúmeros. O país atualmente, por conta desse cenário, busca dar uma garantia melhor de vida a essas pessoas tanto que buscam abrigo por questões políticas, econômicas e sociais, quanto para a aquelas que julgam esse país como um refúgio e um novo recomeço. É muito complicado dizer que a lei se cumpre em sua totalidade ao que se propõe. Nenhuma lei de fato consegue ter a eficácia pretendida e não somente por conta de seu texto, mas por inúmeros fatores externos que impedem essa realidade. Porém, como vimos o acréscimo de imigrantes após a entrada em vigor da lei, a questão da nacionalidade deles e durante o estudo para a realização desse trabalho, foi possível encontrar diversos dados até mesmo demonstrando o nível de escolaridade dessas pessoas. 16 Acredito que o principal aspecto dela é tratar o indivíduo imigrante, em suas diversas formas como já citamos no decorrer do trabalho, como um indivíduo igual ao cidadão brasileiro e não mais como um ser forasteiro ou estranho. Mesmo que exista relutâncias de outras pessoas, uma demonstração ainda muito fortede preconceito e xenofobia, entendo que os passos para um desenvolvimento de consciência social não acontecem de uma hora para a outra. Os reflexos da lei poderão ser sentidos de maneira clara no decorrer dos anos. Ela demonstrará se existe a necessidade de reformulações (como toda lei), mas possibilitará o entendimento do que vem dando certo com a lei e do que não demonstra bons resultados, para que assim, legisladores possam trabalhar para sempre melhorar os aspectos negativos da lei, proporcionando um desenvolvimento e um tratamento de fato eficaz para as pessoas que necessitam dessa migração. É importante ter um olhar humano para com o outro e não julgar somente por medo do desconhecido, medo da cultura do outro, dos costumes, enfim, medo desse cenário, e sempre acreditar que o que precisa ser feito em questões de mercado de trabalho e igualdade social deve ser um trabalho de responsabilidade governamental e não julgar o semelhante que busca um refúgio e uma melhoria de vida em nosso país entendendo isso como uma ameaça às oportunidades dos brasileiros. Acolher, entender e demonstrar apoio é sempre o melhor. Nem sempre as pessoas deixam seus países por mera vontade, algumas realmente precisam dessa coragem para a mudança de modo a sobreviver e é isso que a nova Lei de Migração tem buscado proporcionar. REFERÊNCIAS BARALDI, Camila Bibiana Freitas. Migrações Internacionais, Direitos Humanos e Cidadania Sul-Americana: o prisma do Brasil e da Integração Sul-americana. Tese (Doutorado em Relações Internacionais) – Universidade de São Paulo. São Paulo: USP, 2014. 151 f. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1990. ______, Lei nº 13.445, de 24 de maio de 2107. Institui a Lei de Migração. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2017/lei-13445-24-maio-2017-784925-veto- 152813-pl.html>. Acesso em: 01 nov. 2020 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. Malheiros Editores, São Paulo, 2008 CAVALCANTI, L. et. al. Acompanhamento de fluxo e empregabilidade dos imigrantes 17 no Brasil: Relatório Mensal do OBMigra Ano 1, Número 5, maio de 2020/ Observatório das Migrações Internacionais; Brasília, DF: OBMigra, 2020 Disponível em: <https://portaldeimigracao.mj.gov.br/images/relatorios_mensais/2020/OBMigra_Mar%C3%A 7o_2020.pdf> Acesso em: 04 nov. 2020 CHIARETTI, Daniel. Impactos da nova Lei de Migração na atividade jurisdicional. Revista da Escola da Magistratura do TRF da 4ª Região, Porto Alegre, RS, ano 5, n. 10, p. 289- 331, 2018. 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