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A REVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO Neldriane Cristina da Silva1 Marsiel Pacifico2 RESUMO A educação é um tema em constante debate, seja nos bancos acadêmicos como também nas propostas de governo e de políticas públicas no cenário brasileiro. Mas, pensar em Educação, como um todo, demanda reflexões até mesmo mais complexas do que tão simplesmente desenvolver um projeto de ensino escolar. As raízes do ensino e sua perpetuação defendem interesses de diferentes classes e logo interesses conflitantes. O presente trabalho tem por objetivo tratar sobre a noção do que a revolução da Educação, levando principalmente em perspectiva o que ensina sobre o tema de maneira tão rica, o filosofo e professor Paulo Freire analisando preferencialmente sua contribuição no texto Pedagogia do Oprimido. Assim, busca-se com o trabalho, compreender os desdobramentos da educação e por qual motivo é necessário falar em uma revolução na educação e qual a intenção desse conceito no contexto do ensino. A pesquisa é de caráter bibliográfico, servindo como referencial teórico o livro citado, mas também toda a bagagem do que se estuda no campo da educação e leituras prévias sobre o autor bem como palestras sobre o assunto. Palavras-chave: Educação. Pedagogia. Aprendizagem. SUMMARY Education is a topic in constant debate, whether in academic banks as well as in government proposals and public policies in the Brazilian scenario. But thinking about Education as a whole demands even more complex reflections than simply developing a school teaching project. The roots of teaching and its perpetuation defend interests of different classes and therefore conflicting interests. The present work aims to deal with the notion of what the Education revolution is, taking mainly into perspective what it teaches on the subject in such a rich way, the philosopher and professor Paulo Freire preferentially analyzing his contribution in the text Pedagogy of the Oppressed. Thus, the work seeks to understand the unfolding of education and why it is necessary to speak of a revolution in education and what is the intention of this concept in the context of teaching. The research is bibliographical, serving as a theoretical reference the book cited, but also all the baggage of what is studied in the field of education and previous readings about the author as well as lectures on the subject. Keywords: Education. Pedagogy. Learning. INTRODUÇÃO A Educação é, seguramente, uma das principais fontes de poder na 1 Discente email: neldriane@gmail.com 2 Docente email: marsiel.pacifico@uems.br sociedade brasileira. Esse poder pode ser visto por dois diferentes ângulos: do oprimido, que pode passar a se conhecer e ganhar conhecimento para mudar sua realidade e a do seu próximo, e do opressor, que pode utilizar o boicote à educação como forma de manutenção sua enquanto classe dominante. Essas discussões, porém, são vistas nos últimos anos da maneira que são e por grande influencia de pensadores e acadêmicos como o nobre Professor Paulo Freire. Antes disso, contudo, entender o processo educativo e dialogar sobre ele como uma forma de emancipação, era tão somente uma realidade utópica. Desde o começo, a educação e a escola, espaço principal onde se disseminava a educação, foi tomada por um caráter e poder dominante desde os tempos do Brasil colonial. Nesse sentido, ao observar o desenvolvimento da escola e da educação é possível encontrar hoje um grande paradoxo no qual a educação se insere. Se por um lado, entende-se que a educação tem por objetivo principal educar a todos, por outro, é preciso entender e aceitar as diferenças e diversidades culturais, sociais e individuais daqueles que estão passivos do ensino. Esse é o verdadeiro passo para a revolução da educação. O trabalho a seguir se divide em dois momentos principais. Primeiro, busca- se falar um pouco a respeito da educação no Brasil e seu desenvolvimento. Como foram caminhando os passos para uma educação estatal para que então seja feita a segunda parte do trabalho que é justamente indagar o motivo pelo qual é necessário pensar em uma educação revolucionária e qual o papel do filosofo Paulo Freire nessa perspectiva. HISTÓRICO BREVE DA EDUCAÇÃO NO BRASIL Não é segredo que, desde o período da colonização no Brasil e quando se passou a formalizar a educação por meio de escolas e professores especializados, o ensino foi destinado às classes sociais consideradas como dominantes. Isso não é um retrato apenas do país, mas é um retrato que reflete diretamente o desenho das sociedades colonizadas no mundo. Mas, no início, a educação estava voltada para o que se chama de transmissão de cultura básica, visto que era feita pelos padres à época. Não exercia, tampouco, mudanças estruturais na questão social e econômica do país. O Estado assumindo o papel de educador já no Brasil Império, ainda reafirmava o caráter de um ensino elitista cujas classes sociais mais elevadas eram as únicas a terem acesso a educação de fato. A grande ruptura nas estruturas sociais vem a partir do fim do Império e instituição da República. O Estado passa a ser não só o detentor da educação, mas também o grande vigia da moral, da conduta das pessoas, e isso reflete nas escolas e no que passou a ser ensinado. Entra-se no período de disciplinarização dos saberes, em que tudo é regulado dentro dos muros da escola. Aqui entra-se no que antes não era problema. Antes, os índices de analfabetismo não preocupavam o Estado. Agora, porém, apesar de existir um interesse por esse processo de alfabetização, existe a clara urgência de pelo menos a alfabetização das pessoas. O período da revolução industrial marca a educação como um todo, em um amplo palanque para a formação voltada para o trabalho. Essa foi a grande perspectiva disseminada para a educação durante muitos anos: o aprender para o trabalho. O modelo tecnicista operado durante o período da Ditadura Militar e reflexo direto do período da revolução industrial ecoa ainda nos dias atuais dentro das escolas. O ato de ensinar a mera reprodução, o sistema que prioriza as notas dos alunos em detrimento do pensamento crítico. O que se viu a partir do Golpe ocorrido em 1964 foi uma ampla reforma de base no sentido de que a obra de Paulo Freire foi considerada como subversiva e logo proibida. Aqui, a esquerda ousou sonhar que era possível mudar o mundo e a realidade em que a educação ia se construindo a longos passos. O ideal da educação passou a ser voltado para o mercado de trabalho e assim o sendo, ignora os três pilares centrais que determina a Constituição Federal como valor principal da educação: desenvolver a pessoa, prepara-la ao exercício da cidadania e qualifica-la para o trabalho. O que se vê a partir desse ponto como falado, ecoa nos modelos atuais da educação. O movimento Escola Sem Partido, a própria reforma do Ensino Médio, levantam bandeiras reacionárias, tentam destruir a memória do Paulo Freire e sua contribuição para a educação, além de tentar introduzir ideias imaginários como a ideologia de gênero, o assombramento quanto ao comunismo, a invisibilidade de matérias que desenvolvem o pensamento crítico como a filosofia e a sociologia, tentam afirmar que a escola é um lugar de ensino e não doutrinação. A ignorância tende a tolher as ideias de uma educação libertadora, sem amarras que possibilita o aluno a alçar voos no campo do pensamento e conhecimento. Mas ao ignorar a tríplice função da educação e determinar tão somente o ensino voltado para o trabalho, formam-se técnicos, mas não pensadores, pessoas conscientes de seu papel na sociedade. É nesse ponto que se deve pensar na revolução na educação. Uma educação que não só quebre com padrões e metodologias, mas que também imprima novas filosofias do ensino, do pensar. REVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO O que se pretendefalar aqui são reflexões quanto ao que o ilustríssimo filósofo Paulo Freire indagou ao longo de suas obras como Pedagogia do Oprimido, A importância do ato de ler e outras leituras sobre o autor, visto que sua contribuição nesse sentido é vista dentro da Pedagogia e para as ciências educacionais como um forte referencial e modelo ideal de aplicação nas escolas. Por isso, reflete-se o que se passa a seguir. Quando se pensa em Educação, o barulho que fala mais alto no pensamento é o que já era ensinado por Freire: Educação enquanto ato de conhecimento é também um ato político. E por ser um ato político, incomoda aqueles que possuem o poder de decisão sobre a vida dos outros. A educação tem o condão de incomodar o ideário fascista porque a educação transforma. E não somente falando rasamente como uma opinião meramente recitada. A educação transforma, ela tem o poder de mudar porque ela possibilita tomar o conhecimento em mãos e com o conhecimento em mãos é possível direcionar todos os passos de uma pessoa. Não interessa então a essa construção de uma educação apartada da realidade que se obtenha uma educação revolucionária porque quanto mais informação a pessoa possui, mais possibilidades de mudar e criar para si e para o outro passa a existir, logo, se pode mudar toda a estrutura também do coletivo. E é assim que devemos pensar em uma educação que não existe fora das sociedades humanas. E quando se fala em sociedades humanas e a possibilidade de educar para revolucionar, no entanto, é possível se deparar com suas possibilidades principais: a primeira seria retratada em uma educação como reprodução de valores, especialmente conservadora. Como muito tempo a educação vista e já relatado aqui: a educação e as escolas desempenhando um papel regulador de condutas sociais, de estreitar a liberdade do ser, reproduzir o que é permitido. Outra possibilidade, contudo, é transformar a educação em uma possibilidade de mediadora para transformar a realidade. Quando o método de Paulo Freire entrou em cena, no que chamamos de revolução da educação, trouxe uma metodologia que o Brasil até os dias atuais não conseguiu compreender em sua totalidade e muito menos colocar em prática. Freire acredita que a educação eficaz faz o uso do próprio espaço do indivíduo. É a educação dentro da própria casa, no convívio com o coletivo, fazendo o uso do que se toca, do que se vê. É essa realidade que faz abrir as portas que levam primeiramente ao pensamento e assim para o conhecimento. Indo na contramão da educação formal, a educação freiriana tinha por fim alfabetizar a população brasileira que tinha menos condição de acessar uma educação nas escolas. Respeitando a diversidade brasileira com diferentes etnias, e cultura, compreende que a educação se atrela principalmente com a cultura. Quando falamos dessa cultura com a educação, entendemos que a cultura nasce com o brasileiro. Desde o berço, o ato de entregar uma chupeta porque foi ensinado que assim a criança fica mais calma, é um costume cultural passado de geração em geração. As primeiras palavras ditas por uma criança são repetições do que ela ouve seus pais falarem e assim essas reproduções da cultura anda lado a lado com a realidade da educação. O que se vê, o que se toca. Mas a partir daí, o letramento advindo da cultura deixa de ser um espaço de reproduções. Contudo, Freire já buscou introduzir que é necessário apartar tal ideia de espontaneidade advinda pela realidade cultural. Apesar de haver essa imersão em determinada cultura e conjunto de práticas, quando se está vivendo muito imerso a elas, não é possível introduzir reflexões quanto a razões de ser e agir. A condição hereditária de determinado contexto cultural, é reproduzido automaticamente, mas não pode ser o único norte do indivíduo. Mas, elas servem, contudo ao que se chama de Círculo de Cultura que oferece subsídios para que se fortaleça e cresça o que é palpável para o estudo, mas que forneça constante evolução cultural através da reflexão crítica. (FREIRE, 1981) Nesse sentido, o próprio ato de alfabetização começa a ser o aprender a ler a palavra escrita que se aprende na cultura, e desenvolva, no ser, a própria questão da consciência. Porque o pensamento permite que seja possível alcançar a ciência e alcançando essa ciência é possível mudar tudo. A educação revolucionária na descrição de Freire incomoda porque ela permite que as pessoas, portanto, tomem consciência de suas realidades. Essas realidades podem ser demonstradas por questões de exploração e subjugação de classes dominantes. Isso é perigoso porque tendo consciência da realidade, a própria pessoa tem o poder em mãos de muda-la. Mas tal processo de conscientização não fica esgotado quando as pessoas se entendem no campo da realidade. Para que o processo de conscientização de fato seja válido e crível é necessário a atuação ativa dos agentes para mudar a realidade na qual se encontram. Ela pode, a partir daí, organizar e reorganizar a vida de uma nova perspectiva ou estrutura, e mudar a realidade. Aqui também é colocado em ótica o papel do educador, pedagogo, mas também do educando. Como Freire fala na educação existe o foco nas figuras do professor e no aluno. É claro que o professor, em tese, detentor do conhecimento, tem o papel fundamental no processo educativo, porém seu papel bem como o papel do aluno deve ser regido por uma relação ampla de dialogo em que a história de cada um desses agentes seja considerada. Ao educador, pensar e agir devem se seguir como caminhos iguais. De acordo com ele é a existência da ação e reflexão, o desenvolvimento desse dialogo do que se vive e do que se aprende, na práxis, não existe oposição entre teoria e prática. A atividade do homem na busca pelo saber ou conhecimento, essas duas atividades são vinculadas. O ensino deve se situar na realidade prática do indivíduo, visto que, de acordo com o autor, a práxis é resultante do histórico-social da pessoa, mas que não se esgota nessa realidade já que está constante transformação. (FREIRE, 2013) Retomando a questão da realidade, o processo pedagógico leva em consideração a realidade de cada um. O professor possui suas bagagens e conhecimento e o aluno suas vivências cotidianas em que uma não se sobrepõe a outra. O pensamento passa, a partir daí, a nascer na realidade de cada um. Há de se falar também na autonomia dessas duas figuras. Com autonomia, mas com dialogo, há a condição de aprender a próprias palavras, compreender que o mundo educativo vai além de um campo de simples reprodução. O educando passa a ser sujeito de sua própria história educativa. Muito comum observar na política educacional atualmente um ensino pautado na repetição e não conscientização do que se aprende. As escolas estão preparadas para distribuir o conhecimento segmentado dos conteúdos, que nem sempre permitem ao aluno pensar criticamente sobre o que se aprende. O processo de reprodução ocorre porque os alunos absorvem o que é indicado a eles enquanto conteúdo, estudam o que se passa, não criticam o que aprendem e assim se preparam para exames e provas para dar segmento no ensino superior, na pós-graduação. É um ensino que não transforma. Tal modelo já é debatido por Freire no que ele descreve como educação bancária. É onde o existe um modelo de estudante que é treinado para ir bem em nas provas, mas que, se destina a uma classe que já coloca esse aluno em uma posição confortável. Ele anda de mãos dadas com o sistema e apesar de que essa formação educacional possa ser útil a ele, ele já está inserido no sistema. Em contraponto a esse modelo de educação bancária ou tradicional, Freire (201) propõe o que chama de problematizadora, como já evidenciado aqui no decorrer desse trabalho. A essência humana dos alunos deve ser colocada em pauta para problematizaressa compreensão do que é a realidade de cada um. É sociabilidade fundada na práxis. O ato de educar revolucionário então não possui uma destinação somente ao aluno do sistema ou ao aluno fora dele: é para todos. É a chamada educação libertadora e transformadora. Mais do que uma metodologia, Freire buscou uma filosofia de ensino. Mais serve para inspirar novos sistemas de ensino e metodologias do que de fato colocar em prática diretamente nas escolas. Entramos também em um debate nesse sentido das figuras utilizadas por Freire que são o sectário e o radical. Se pensarmos por um lado de uma educação pautada no que está pronto, no que está no sistema, falamos na figura do sectário. O sectário é um agente que possui uma visão pronta do mundo, possui todas as respostas, mas que, no entanto, não dialoga com a realidade. E a pedagogia precisa mudar a realidade e é por isso que não dialogar com ela não faz sentido, não invoca sua real finalidade. O radical, por outro lado, trabalha com o dialogo e com a divergência. Por dialogo, no entanto, não se contenta com um diálogo que não agrega, que é passível. O dialogo serve para confrontar de fatos ideias e fazer surgir novos pensamentos a partir dele. O radical jamais se coloca no papel do oprimido, no debate estéril. Ele deve trazer novas perspectivas. É por isso que falamos que o ensino ou a filosofia revolucionária de Paulo Freire indica que não é um processo pronto. Ela também permite e possibilita a abertura para se pensar diferente. Quando falamos ainda sobre a revolução da educação, o próprio filósofo em seu texto: A importância do ato de ler coloca a seguinte afirmativa “Estudar é um dever revolucionário!” (FREIRE, 1989, p. 33). A revolução é invocada aqui para demonstrar um movimento natural do que se entende por revolução: ela só ocorre quando o que se propõe de maneira inicial é identificada no ponto final. Se trata de um movimento circular no que diz respeito de fato que a revolução da educação ganha a expressão de mudanças sociais aplicadas ao caráter político. A revolução está na reconstrução do que se propõe, na modificação, no embate e debate e nem sempre o que se propôs inicialmente chega da maneira pontual no fim, mas pode e deve chegar de maneira melhorada. Mas tal ato revolucionário, contudo, não ocorre partindo tão somente do oprimido. É aqui que se retoma mais uma vez o caráter freiriano em que não existe um só lado na discussão, na pedagogia e na revolução. “Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão” (FREIRE, 2013, p. 71). A tentativa por introduzir também os já conhecidos revolucionários e não tirar deles suas características principais. Contudo, a práxis de Freire é se colocar como oposição ao dominador. É o que se lê em: ‘‘A práxis revolucionária somente pode opor-se à práxis das elites dominadoras. E é natural que assim seja, pois são quefazeres antagônicos.’’ (FREIRE, 2013, p. 169) Mas a Pedagogia do Oprimido de Freire tenta desconstruir essa ordem social injusta e opressora e assim, sua contribuição se fundamenta na práxis social, no que se vive diariamente. Buscar essa transformação é buscar uma transformação crítica, sobretudo, das massas. A mudança da realidade e da consciência para que o sujeito se veja em sua individualidade e realidade. O homem refletir sobre o mundo para poder muda-lo. (FREIRE, 2013) Nesse sentido sua proposta trata-se de uma autentica práxis educativa. A transformação da mentalidade coletiva ou de massas, mas principalmente do oprimido possibilita a construção de uma visão mais crítica do que o cerca. Retira do homem esse caráter abstrato, isolado das relações e construções sociais. É o que retomamos a respeito do homem ser, sobretudo, introduzido como parte do estudo ou a realidade do aluno introduzida e induzida na reflexão do que se aprende. Isso é colocar em perspectiva as consciências e considerações sobre o mundo como um todo. “reflexão que se propõe, por ser autêntica, não é sobre este homem abstração, nem sobre este mundo sem homens, mas sobre os homens em suas relações com o mundo. Relações em que consciência e mundo se dão simultaneamente” (Freire, 2013, p. 98). Retomando sempre os conceitos de diálogo, o que se entender por uma revolução autentica aplicada no método freiriano, é fruto de uma relação existida na base do diálogo, da solidariedade entre os companheiros oprimidos para com os revolucionários. O protagonismo do oprimido nessa ótica é um meio de reafirmar seu ideário como o grande transformador da realidade. Porque, se pensamos naqueles que já estão dentro do sistema, tampouco eles podem mudar sua realidade ao redor, mas eles podem, contudo, atuar como revolucionários e ajudar nessa construção. Mas o pensar sempre no povo faz com que esse oprimido tenha a compreensão de sua realidade e necessidade de mudar as estruturas para que ele também não venha a se tornar um opressor. A base do diálogo de Freire se opera em cinco vertentes que são a base propriamente dita do revolucionário. Humildade porquê de acordo com ele não existe saber absoluto naquele que dialoga de fato (novamente lembrando o radical), a fé sobretudo nas pessoas, esperança que é a base da luta da libertação conjunta do homem, pensamento crítico que é o primeiro passo para a mudança. Por fim, e talvez o mais importante: amor. Revolução sem amor se endurece. O amor também, se pensarmos por uma forma até mesmo superficial é o que deve dar base para uma aplicação da educação. Na figura do professor o amor por ensinar, pelo contemplar o aluno com o que se aprendeu antes dele. Pelo lado do aluno, o amor por aprender, descobrir, pensar diferente e melhor do que antes. ‘‘[...] Se nada ficar destas páginas, algo, pelo menos, esperamos que permaneça: nossa confiança no povo. Nossa fé nos homens e na criação de um mundo em que seja menos difícil amar’’ (FREIRE, 2013, p. 253). O amor é, sobretudo, revolucionário. Dessa forma, a fé colocada nas pessoas, por Freire é o ato mais representativo na filosofia freiriana. Apesar de estarmos inseridos em um sistema capitalista que separa, é perverso e ambicioso, o autor não deixe de acreditar que os ideais das pessoas levem a essa constante busca pela revolução. Freire acreditava que os homens sempre vão buscar sua essência, a sua vocação e que essa busca sempre pode refletir principalmente no conhecimento e reconhecimento de sua história e humanização. Isso faz com que seja possível acreditar em um modelo de revolução que reflita primeiro no ser humano e depois, principalmente, seja disseminado para os meios educativos. De tal maneira, é possível acreditar inclusive que, depositar fé e esperança nos indivíduos é também um ato revolucionário se observada com profundida a filosofia internalizada por Freire. CONSIDERAÇÕES FINAIS É muito complexo tratar sobre as infinitas possibilidades da Educação no Brasil. Primeiro, contudo, é quebrar com um padrão que se repete por anos e anos que é o fato de colocar a educação como um instrumento de reprodução e aprovação em massa. A educação real, liberta. Explora o individuo e sua individualidade. Complementa os passos educativos com o que é tangível para a pessoa. Se eu não vejo, se eu não toco, eu não entendo e eu não reproduzo em sua riqueza real. O ato de aprender para reproduzir serve para esse sistema que está mais preocupado com a educação e o status que ela possibilita. Alçar um curso de nível superior em uma universidade de prestigio, tradicional porque seu acesso é elitista, é visto com bons olhos. Mas se eu afasto o ser humano justamente desse lado humano, que compreende a realidade do indivíduo eu terei um profissional vazio. O real revolucionário da educação se entende então nessa dialética. Como trazer o que é palpável ao estudante para o campo deaprendizado. É nesse sentido que aprendemos com Paulo Freire sobre a necessidade das questões do diálogo, da autonomia, da memória, visto que a memória nos puxa para não repetir o passo, nos sustenta para que pensemos no futuro e sem duvidas a utopia que instiga a ir em frente. O método freiriano, que mais do que um método é uma filosofia de todo o sistema educativo, é criticado principalmente nos dias atuais com a onda crescente do fascismo no que importa não colocar o individuo para pensar. É preciso haver a ruptura desde a base. É contudo, um trabalho difícil de ser rompido. A educação está nas mãos principalmente daqueles que detém o poder, e não é interessante a eles uma educação revolucionaria. O patrão não quer deixar de ser patrão, o opressor não quer deixar de ser opressor. A dívida da educação brasileira reflete aos tempos mais antigos da colonização, mas quando julgamos e subjugamos, marginalizamos, e expulsamos pensadores que querem fazer diferente como o fizerem com Paulo Freire, demonstramos que o Brasil não quer essa realidade de mudanças. O fascismo, os discursos segregatícios e discriminatórios perpetuam que não existe uma realidade de dialogar com o diferente. E aqui, retoma-se a ideia do radical que, apesar de o ser, entende que não há dialogo na opressão. Não é possível construir pontes que não agreguem, pontes que estão fadadas a colocar em seu meio um obstáculo opressor. Assim, não há educação que se discuta. A filosofia de Freire, contudo, desconhece o ruim do ser humano porque ela importa na esperança, e o fascista, o opressor, o capitalista, desconhece a esperança. A educação problematizadora de Freire é, portanto, um grande passo na mudança estrutural do que se entende por educação geral. Conceituar e instaurar o individuo e sua realidade no próprio espaço da educação é uma inovação necessária para os dias atuais. REFERÊNCIAS FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Autores Associados: Cortez, 1989. FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 54. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013.