Prévia do material em texto
Filosofia da Educação O empirismo na filosofia da educação Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • investigar as implicações do empirismo na compreensão do processo de ensino e aprendizagem; • analisar como a teoria empirista influencia a metodologia de ensino e avaliação na educação; • verificar a relevância do empirismo na formação de valores e atitudes nos alunos. Disponível em: https://www.cpt.com.br/dicas-cursos-cpt/a-aprendizagem-sob-a-otica-do- empirismo. Acesso em: 4 de fev. 2023. Prezados(as) alunos(as). Nesta aula, nosso objetivo será discutir a respeito da filosofia da educação, a partir da ótica empirista. O empirismo é uma corrente filosófica que sustenta que todo conhecimento advém da experiência sensorial e que a razão não é capaz de produzir conhecimento independente da percepção. Na educação, isso significa que o ensino deve ser baseado em experiências concretas e na observação dos fenômenos, e não apenas na memorização de teorias abstratas. Espero que vocês gostem da aula e que ela contribua para a sua formação. Bons estudos! 5º Aula 23 1 - Principais ideias e história da filosofia empirista 2 - Uma perspectiva prática sobre o empirismo 1 - Principais ideias e história da filosofia empirista Enquanto corrente filosófica, o empirismo tem sustentado a ideia de que todo conhecimento é baseado em experiências sensoriais e observação empírica. Assim, na filosofia da educação, ele se apresenta como uma abordagem que ressalta a importância da experiência prática e da observação como os grandes fundamentos da aprendizagem. Além disso, é geralmente associado ao empirismo lógico, uma subárea do empirismo que defende que todo conhecimento verdadeiro deve ser capaz de ser confirmado por meio de experiências sensoriais e observações, ao mesmo tempo em que enfatiza a importância da lógica e da razão na construção do conhecimento. Na filosofia da educação, o empirismo foi frequentemente usado como uma base para a teoria do aprendizado por condicionamento, a qual sustenta que o comportamento é modificado em função da repetição de experiências agradáveis ou desagradáveis. Vale lembrar que, apesar de ser uma abordagem muitas vezes usada em programas de adestramento de animais, também é aplicada ao ensino de habilidades humanas como, por exemplo, leitura e escrita. Quando analisamos seu viés histórico, notamos que o empirismo se constitui como uma corrente filosófica que remonta ao século XVII, tendo como alguns de seus principais pensadores nomes importantes da filosofia como, por exemplo, John Locke e David Hume. No caso de Locke, considerado um dos fundadores do empirismo moderno, especialmente em sua obra “Ensaio sobre o entendimento humano”, veremos uma defesa da ideia de que todo conhecimento deve ser baseado em experiências sensoriais e observações empíricas, ou seja, a própria essência do empirismo. Locke acreditava que as ideias são formadas, basicamente, pela combinação de sensações simples. Na literatura de David Hume, outro importante filósofo empirista, além de defender a importância das experiências sensoriais e da observação, ele argumenta que as causas são inferidas a partir de padrões observados em eventos porque não podem ser conhecidas de forma direta. Outros nomes importantes da filosofia empirista são George Berkeley e John Stuart Mill. No caso de Berkeley, defende-se a ideia de que as coisas só existem na medida em que são percebidas, afinal, não há existência independente de um observador. Logo, todo conhecimento é baseado numa percepção sensorial. Em Mill, vemos uma defesa clara do utilitarismo flertando com o empirismo. Ele sustenta as ações são morais se tendem a maximizar a felicidade geral e, portanto, justificam-se pelos seus fins. Embora de modo ainda introdutório, pode-se notar que se trata de uma abordagem valiosa para a filosofia da Seções de estudo educação, afinal de contas, ela enfatiza a importância da experiência prática e da observação no aprendizado, algo que é inquestionável nos ambientes escolares. No entanto, é importante mencionar que outros fatores, especialmente a reflexão e a teoria, também desempenham um papel importante no processo de aprendizado. Quando voltamos nossas atenções para suas principais ideias, notamos que no empirismo, toda forma de conhecimento é baseada em experiências sensoriais e observações empíricas, defendendo que a razão sozinha não é suficiente para produzir conhecimento verdadeiro. Nesse sentido, todo aprendizado deve ser o resultado de uma associação de ideias, ou seja, resulta da criação de ajuntamentos entre diferentes noções baseadas em experiências sensoriais e observações. No entanto, um ponto que se destaca no interior do empirismo no campo da filosofia da educação é, justamente, o aprendizado por condicionamento. Como vimos anteriormente, trata-se de uma perspectiva que defende a modificação de comportamentos pela repetição. Assim, cria-se em torno da experiência prática uma grande ênfase, pois se considera que a experiência direta é a melhor maneira de adquirir conhecimento e habilidades. Ao mesmo tempo, destaca-se a observação ativa e sistemática como elemento fundamental para a construção do conhecimento. O empirismo teve grande influência no desenvolvimento da ciência moderna, uma vez que valoriza a observação e a experimentação como formas de obtenção de conhecimento. Além disso, o empirismo contribuiu para a crítica à metafísica e à filosofia escolástica, abrindo espaço para o desenvolvimento de novas correntes filosóficas. Ao longo da história, o empirismo foi sendo aperfeiçoado e seus conceitos foram se desenvolvendo, de tal forma que hoje é possível distinguir várias vertentes dentro dessa corrente, como o positivismo lógico, o behaviorismo e o pragmatismo. No século XX, o empirismo foi duramente criticado por correntes filosóficas como o existencialismo e a fenomenologia, que argumentavam que a experiência sensorial não é suficiente para se compreender a realidade. Contudo, mesmo com as críticas, o empirismo continua sendo uma corrente de grande importância e influência na filosofia e nas ciências. Ao longo do tempo, o empirismo foi evoluindo e se adaptando às novas descobertas e teorias, o que permitiu a sua sobrevivência como corrente filosófica. Por exemplo, o surgimento da psicologia científica no século XIX, exigiu uma adaptação do empirismo para incluir a subjetividade e a introspecção como fontes de conhecimento. Atualmente, o empirismo ainda é relevante e influente, especialmente nas ciências naturais, como a biologia, a física e a química, nas quais a observação e a experimentação são fundamentais para a obtenção de conhecimento. Além disso, o empirismo também é uma importante referência para o estudo da percepção, da memória e da aprendizagem. 2 - Uma perspectiva prática sobre o empirismo Quando falamos da perspectiva empirista aplicada à educação, nos colocamos diante de uma abordagem 24Filosofia da Educação pedagógica baseada na experiência prática e na observação, algo que é amplamente utilizado na sala de aula. Conforme já discutimos, nessa perspectiva, todo conhecimento é adquirido através da observação e experimentação, e não apenas pela teoria ou filosofia. Assim, a perspectiva empirista enfatiza que a aprendizagem é mais eficaz quando os alunos têm a oportunidade de experimentar e explorar o mundo ao seu redor. Os professores que empregam a perspectiva empirista na sala de aula, geralmente conduzem atividades práticas e experimentos para ajudar os alunos a compreender conceitos. Por exemplo, em vez de apenas falar sobre a fotossíntese, pensando aqui em uma aula de biologia, o professor pode levar os alunos para o laboratório para realizar experimentos que mostrem como as plantas transformam a luz em energia. Isso ajuda os alunos a compreenderem o conceito de forma mais concreta e significativa. Alémdisso, nessa perspectiva, existe um incentivo para que os alunos desenvolvam a curiosidade e desejo de aprender por conta própria. Os professores dessa abordagem tendem a motivar os alunos e fornecer-lhes oportunidades para explorar e investigar o mundo ao seu redor. Normalmente, eles oferecem perguntas e problemas para os alunos investigarem, além de criar situações em que os alunos possam aplicar o que aprenderam em contextos reais. É importante perceber que o processo de ensino e aprendizagem na perspectiva empirista é geralmente muito mais ativo e participativo do que em outras abordagens pedagógicas. Assim, como os alunos são encorajados a participar ativamente da investigação e da solução de problemas, a noção de aula expositiva perde sua função, afinal, problematizando questões e buscando resolvê-las de modo prático, os alunos se tornam mais envolvidos e interessados no assunto. Outra vantagem dessa perspectiva, quando pensada de modo prático, consiste na ideia de que ela fornece aos alunos a oportunidade de desenvolver habilidades práticas e técnicas. Continuando no exemplo anterior da aula de biologia, um professor pode fornecer aos alunos a oportunidade de usar microscópios e outros equipamentos para realizar experimentos, criando condições educacionais para que os alunos desenvolvam habilidades práticas que podem ser aplicadas em contextos futuros, como em carreiras científicas ou tecnológicas. Além disso, é importante perceber que o enfoque na experimentação e observação ajuda os alunos a desenvolver habilidades de pensamento crítico e resolução de problemas, algo que é relevante e até esperado em muitos aspectos da vida profissional e pessoal. A perspectiva empirista também valoriza a individualidade e a diversidade dos alunos. Os professores que seguem essa abordagem acreditam que cada aluno é único e tem sua própria forma de aprender. Portanto, eles fornecem aos alunos a oportunidade de explorar e experimentar de acordo com seus interesses e estilos de aprendizagem individuais. Isso ajuda a aumentar a motivação e o envolvimento dos alunos e também pode levar a uma compreensão mais profunda e significativa dos conceitos. Ao mesmo tempo e tendo em vista que o empirismo é uma corrente filosófica que destaca a importância da experiência sensorial como fonte principal de conhecimento, a cooperação e a colaboração entre os alunos são consideradas fundamentais para o processo de construção do conhecimento. Isso porque o empirismo acredita que todo conhecimento é construído coletivamente, a partir da troca de ideias e da reflexão conjunta. Isso se torna importante porque permite que cada um compartilhe suas experiências e perspectivas, ampliando, assim, o conhecimento coletivo. Outro ponto importante a se destacar é que o trabalho conjunto entre os alunos cria um ambiente para que se desenvolvam habilidades sociais, como a escuta ativa, o diálogo construtivo e a resolução de conflitos. Tudo isso é, como bem sabemos, fundamental para a formação de indivíduos críticos, reflexivos e capazes de enfrentar desafios em equipe. Outra vantagem que experiências educacionais empiristas têm revelado é que a colaboração entre os alunos promove criatividade e inovação. Ao compartilharem ideias e pensamentos, os alunos têm a oportunidade de desenvolver soluções criativas e inovadoras para os problemas apresentados. Isso é fundamental para a formação de indivíduos capazes de enfrentar desafios de forma autônoma e criativa. Nesse aspecto, a reflexão conjunta permite que os alunos identifiquem pontos fracos em suas próprias ideias e possam corrigi-los com a ajuda dos colegas, aprendendo, assim, a respeitar as opiniões e perspectivas diferentes, desenvolvendo habilidades de tolerância e respeito à diversidade, fundamentais para a convivência em sociedade. Além disso, a colaboração entre os alunos também é importante para o desenvolvimento da autonomia e da autoconfiança. Por outro lado, há uma série de críticas sérias à perspectiva empirista. Vejamos, por exemplo, o breve texto a seguir, o qual apresenta uma das críticas mais correntes em relação a essas propostas pedagógicas. A aprendizagem sob a ótica do empirismo No empirismo, o conhecimento “entra” e se instala no indivíduo, o que leva à conclusão de que o sujeito tem pouco ou nenhum mérito, sendo, portanto, passivo nesse processo. No empirismo, a aprendizagem ocorre com o conhecimento sendo absorvido pelo ser humano por meio de seus órgãos dos sentidos, visão, audição, tato, paladar e olfato. Vem de fora da pessoa, entra e se instala, independente da vontade dela. Essa forma de enxergar o conhecimento supõe o aprendizado como resultado de uma vivência. O conhecimento “entra” e se instala no indivíduo, o que leva a conclusão de que o sujeito tem pouco ou nenhum mérito, sendo, portanto, passivo nesse processo, afirma Per Christian Braathen, doutor em Educação pela University of Wisconsin - Madison. Professor por vários anos da Universidade Federal de Viçosa. Atualmente, Diretor Acadêmico da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde - UNIVIÇOSA - MG. Sob essa forma de encarar o conhecimento, os seres humanos aprendem à base do estímulo-resposta, do reflexo condicionado, por meio da experiência e da vivência que, por si só, vão causar a aprendizagem. Essa visão, entretanto, simplifica demais o entendimento do processo de aprendizagem, diante da complexidade do comportamento humano. Ver conteúdo completo em: https://www.cpt.com.br/dicas-cursos-cpt/ a-aprendizagem-sob-a-otica-do-empirismo. Acesso em: 4 de fev. 2023. As propostas pedagógicas inspiradas na corrente empirista são frequentemente criticadas por acadêmicos por razões diversas. Em primeiro lugar, alguns argumentam que o enfoque exclusivo na experiência sensorial minimiza o 25 papel da imaginação e da criatividade na educação, algo que limitaria a capacidade de exploração das ideias e formulação de conceitos abstratos, algo considerado crucial para o desenvolvimento intelectual. Em segundo lugar, as críticas alegam que essas abordagens são insuficientes para fornecer uma compreensão profunda dos assuntos, afinal, a ênfase sempre está colocada na obtenção de informações imediatas, muitas vezes superficiais porque originárias dos sentidos, enquanto se poderia incentivar o aluno a pensar criticamente e desenvolver suas habilidades de resolução. Nessa mesma linha de raciocínio, alguns estudiosos indicam que as abordagens empiristas são insuficientes para fornecer uma compreensão completa e equilibrada dos assuntos, pois tendem a favorecer uma perspectiva reducionista e determinista da realidade, além do que, por estarem muito focadas em resultados quantitativos, levando a uma ênfase excessiva em métricas como testes e avaliações padronizadas. Outro ponto importante é que as propostas empiristas são frequentemente criticadas por não levar em conta a natureza social da aprendizagem. Isso significa dizer que elas são tendenciosas a ignorar a interação e a colaboração entre os alunos, o que é visto como fundamental para o desenvolvimento da compreensão e da habilidade de trabalhar em equipe. Esse argumento, no entanto, é facilmente questionável em razão de que existem diversas atividades coletivas no ambiente escolar. Por outro lado, entretanto, uma crítica contumaz é que as abordagens empiristas são, muito frequentemente, baseadas num modelo de ensino passivo, onde o professor ainda é visto como um provedor de informações. Com a facilidade de acesso à informação, o papel do professor também foi ressignificado, passando a ser muito mais um gestor de informação do que, propriamente, um sacrário do conhecimento. Por fim, é importante destacar que as críticas às propostas pedagógicas inspiradas na corrente empirista não negam completamente sua importância e validade, mas sim apontam para suas limitações e a necessidade de uma abordagem mais equilibrada e completa na educação.Deve-se considerar que as diferentes perspectivas teóricas e filosóficas podem complementar-se e enriquecer mutuamente a educação, promovendo um processo de aprendizagem mais amplo e significativo. Chegamos ao final da nossa aula. Nela, nosso objetivo foi debater a filosofia da educação sob a perspectiva do empirismo, este que é uma vertente filosófica que afirma que todo o conhecimento provém da experiência sensorial e que a razão não é apta a produzir conhecimento alheio à percepção. Espero que tenham gostado da aula e que ela tenha contribuído para a formação intelectual de vocês. Retomando a aula 1 – Principais ideias e história da filosofia empirista Como vimos na primeira parte da nossa aula, os empiristas constituem uma corrente filosófica que defende a ideia de que todo conhecimento é adquirido através da experiência sensorial. Na filosofia da educação, os principais empiristas foram John Locke, George Berkeley e David Hume. Eles acreditavam que a educação deve ser baseada em experiências concretas e sensoriais, em vez de teorias abstratas. Além disso, eles argumentavam que o conhecimento é construído a partir das impressões sensoriais e das associações entre elas. Na prática, isso significa que o ensino deve ser centrado no aluno, levando em conta suas vivências e necessidades individuais. Em resumo, a história do pensamento empirista é marcada por uma busca constante pela verdade através da experiência sensorial e pelo desenvolvimento de conceitos e teorias ao longo do tempo. É uma corrente filosófica que tem grande importância para a compreensão do mundo e da realidade, e cujos conceitos continuam a ser estudados e aplicados nas mais diversas áreas do conhecimento. 2 - Uma perspectiva prática sobre o empirismo Na segunda parte da nossa aula, vimos que o empirismo destaca a importância da cooperação e da colaboração entre os alunos para o processo de construção do conhecimento. Ao trabalharem juntos, os alunos têm a oportunidade de ampliar suas experiências, perspectivas e conhecimentos, bem como de desenvolver habilidades sociais, criativas e pessoais. Portanto, a colaboração entre os alunos é fundamental para a formação de indivíduos críticos, reflexivos e preparados para enfrentar desafios em sociedade. Em resumo, a perspectiva empirista é amplamente utilizada na sala de aula devido à sua ênfase na experiência prática e observação, no processo ativo e participativo de ensino e aprendizagem, e na valorização da individualidade e diversidade dos alunos. A aplicação dessa abordagem pedagógica pode levar a uma compreensão mais profunda e significativa dos conceitos, bem como ao desenvolvimento de habilidades práticas e técnicas. LOCKE, John. Pensamientos sobre La Educación. Madri: Akal, 1986. OLIVEIRA, Sérgio Wagner de. A educação de crianças na visão empirista de John Locke. Revista Ethos, Lavras – MG, v. 1, p. 80 – 91, jan./jun. 2003. Vale a pena ler Vale a pena Minhas anotações