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- ÍNDICE - ÚLCERA DE PRESSÃO INTRODUÇÃO, FISIOPATOLOGIA E CLASSIFICAÇÃO PREVENÇÃO MANEJO DAS ÚLCERAS ÚLCERA DE PRESSÃO Com o advento das unidades de terapia intensiva, a morbimortalidade hospitalar mudou drasticamente. Pacientes gravíssimos, que normalmente evoluíam para óbito nas enfermarias, hoje recebem tratamento e possuem chances muito maiores de sobrevivência. O custo do novo suporte obtido foi o aumento da duração das internações e o início da era das grandes complicações nosocomiais. Emergiram junto às UTI entidades como as pneumonias associadas à ventilação mecânica, bacteremias secundárias aos cateteres profundos, infecções por bactérias super-resistentes, entre outras. Dentre essa nova gama de complicações, as úlceras de pressão também tiveram seu perfil epidemiológico modificado, passando a figurar entre as principais complicações em terapia intensiva. Nos últimos anos, esse tema vem sendo também cada vez mais explorado nos concursos de residência médica, inclusive nas provas práticas. Por isso mesmo, aproveitamos este boletim operatório para falar um pouco mais do tema. Além do tradicional enfoque nos aspectos cirúrgicos que vocês já conhecem, vamos passar um pouco pelos cuidados clínicos com as úlceras de pressão. Com isso, cercaremos ainda mais as questões que possam aparecer. Boa leitura! INTRODUÇÃO, FISIOPATOLOGIA E CLASSIFICAÇÃO A definição clássica de úlcera de pressão é a de uma lesão tecidual sobre uma proeminência óssea devido à pressão sobrejacente ou ao somatório da pressão com forças de cisalhamento. Em outras palavras, podemos dizer que úlcera de pressão é uma lesão de partes moles (pele, subcutâneo, fáscia e músculo) provocadas pela isquemia tecidual secundária à compressão óssea permanente. Colocando em termos práticos... Você já deve estar lendo essa apostila por algumas horas. Quantas vezes você já mudou de posição até agora? Várias! Isso porque, seja sentado ou deitado, seus ossos, sujeitos à ação da gravidade, pressionam as partes moles do seu corpo contra superfície de apoio. Essa força supera a pressão capilar de perfusão (32 mmHg), isquemiando o tecido. A isquemia tecidual é mais proeminente nas terminações nervosas, provocando dormência e uma sensação de desconforto. Assim, voluntária ou involuntariamente, você acaba mudando de posição, aliviando a isquemia ao mudar o sítio de apoio. Agora imagine os casos em que a pessoa não consegue mudar de posição, seja porque a sua percepção da dor esteja alterada (ex.: secção medular completa) ou por impossibilidade física (paciente com nível de consciência rebaixado, restrito ao leito). Nessas situações não há alívio da isquemia... A pressão constante das proeminências ósseas por sobre as partes moles provocará a necrose tecidual, causando as úlceras de pressão. Ok! Mas eu conhecia essas le sões como úlceras de decúbito... São exatamente a mesma doença. O termo "úlceras de decúbito" vem caindo em desuso porque nem sempre o paciente precisa estar deitado para que haja sua formação. É o caso, por exemplo, dos pacientes cadeirantes portadores de lesão medular, que com frequência são vítimas de úlceras isquiais. Qual a localização mais comum das úlceras? Cerca de 96% de todas as úlceras de pressão se localizam abaixo da cicatriz umbilical e até 75% das mesmas acometem a cintura pélvica. As principais são as úlceras isquiais, sacrais e trocantéricas. Como classificar? Para um melhor manejo das úlceras de pressão, costuma-se classificá-las de acordo com a profundidade do acometimento. Estágio I: eritema que não embranquece na pele intacta; ulceração cutânea iminente. Estágio II: perda cutânea de espessura parcial envolvendo a epiderme e/ou derme; a úlcera é superficial e se apresenta clinicamente como uma abrasão, bolha ou cratera superficial. Estágio III: perda cutânea de espessura total envolvendo dano ou necrose do tecido subcutâneo que pode se aprofundar, mas não chegando até fáscia muscular subjacente; a úlcera se apresenta clinicamente como uma cratera profunda com ou sem dano ao tecido adjacente. Estágio IV: perda cutânea de espessura total com destruição extensa, necrose tecidual ou dano muscular, osso ou estruturas de suporte. VIDEO_01_CPMED_EXTENSIVO_APOSTILA_15 Apesar de essa classificação nos permitir uma abordagem mais pragmática, devemos tomar muito cuidado, pois trata-se de uma escala baseada na ectoscopia. Frequentemente ela subestima a profundidade real da lesão. Isso ocorre porque é comum haver isquemia e necrose do músculo e do subcutâneo sem que haja lesão na pele, já que esses tecidos estão sujeitos a uma pressão muito maior, sobretudo o tecido muscular. Assim, quando notamos o que parece ser uma simples lesão em estágio I, podemos estar de frente para uma lesão muito mais grave, apenas enxergando a "ponta do iceberg". FIGURA 1. PREVENÇÃO A melhor forma de combater as úlceras de pressão é sua prevenção. Como na maior parte das vezes nos deparamos com pacientes com alteração permanente da sensibilidade ou da motricidade, uma vez instalada, a úlcera é de difícil tratamento e possui taxas de recorrência absurdas. Assim, evitar a sua ocorrência deve ser sempre o objetivo principal. Com esse fim, destacamos aqui algumas das principais medidas a serem adotadas: FIGURA 2. TREINAMENTO DA EQUIPE E IDENTIFICA ÇÃO DO RISCO O treinamento de médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem para busca ativa dos casos é uma peça importante na prevenção das úlceras de pressão. Pode parecer óbvio para aqueles que estão acostumados a trabalhar nas unidades de terapia intensiva, mas nem sempre as úlceras são lembradas como possível complicação por profissionais destreinados. A busca ativa de pacientes com alta probabilidade de adquirir essa complicação deve ser realizada. Existem vários escores de risco com essa finalidade, sendo que não há "o melhor" ou o mais utilizado. O relevante é que a atenção seja redobrada para os pacientes com os seguintes fatores de risco: mobilidade restrita, acometimento da sensibilidade ou do nível de consciência, problemas de perfusão, incontinência fecal ou urinária, desnutrição, idade avançada, forças de cisalhamento ou fricção de locais sujeitos a formação de úlceras. REDISTRIBUIÇÃO DA PRESSÃO É fundamental que a pressão provocada pelas proeminências ósseas seja aliviada e redistribuída. Com essa finalidade o paciente deve ter sua posição modificada, no mínimo, a cada duas horas. Algumas posições são empregadas com ajuda de travesseiros especiais e possuem uma eficácia elevada para prevenção das úlceras, como o decúbito dorsal obliquo à 30º. Outras devem ser evitadas, como o decúbito lateral a 90º. Nem precisamos comentar que é necessária uma equipe de enfermagem comprometida e bem treinada para que o rodízio de posições seja bem realizado. Outra forma de redistribuir a pressão adequadamente é o uso de colchões/suportes especiais. Existe uma miríade de sistemas para uso, que variam do simples colchão caixa de ovo para sistemas mais modernos à base de água, ar, gel, espuma e mesmo cerâmica circulante. CONTROLE DOS FATO RES DE RISCO MODIFI CÁVEIS FIGURA 3. COLCHÃO DE AR. FIGURA 4. COLCHÃO "CAIXA DE OVO". Como grande parte dos fatores de risco não são passíveis de alteração (ex.: perda da sensibilidade ou da motricidade), devemos agir incisivamente naqueles que são. Bons exemplos seriam a otimização do estado nutricional, cuidados com a pele e controle higiênico das incontinências fecal e urinária. MANEJO DAS ÚLCERAS Uma vez instalada, a úlcera de pressão é de difícil cicatrização. É necessário entender que além dos fatores de risco desencadeadores, o paciente comumente possui muitas outras comorbidades, sendo a úlcera "mais um problema" a ser adicionado na lista. É comum observamos o negligenciamento desse tipo de lesão na enfermaria, principalmente nos estágios iniciais, já que outros problemas são considerados mais importantes. Seja sincero: quantas vezes você deixou de examinar uma úlcera somente pelo "nojo" da lesão, ou mesmo esqueceu-sede procurar por possíveis novas lesões? Por que examinar uma úlcera quando é, na realidade, o menor dos problemas do paciente? Devido a essa série de preconceitos arraigados na nossa formação, o manejo dessa entidade é extremamente complicado. Dessa forma, para que o tratamento realmente seja eficaz é necessário, antes de tudo, comprometimento total da equipe de saúde. A atenção diária e a técnica minuciosa dos cuidados locais e gerais são fundamentais para sua cicatrização. A abordagem é composta das seguintes medidas: desbridamento, pesquisa de infecção, cuidados locais, cuidados gerais e cirurgia. DESBRIDAMENTO E PESQUISA DA INFECÇÃO O primeiro passo a ser tomado na abordagem de uma úlcera de pressão é o desbridamento do tecido necrótico. Esse procedimento pode ser realizado na beira do leito, e, em grande parte das situações, pode ser realizado sem anestesia local. Consiste na retirada do tecido necrótico que impede a granulação e reepitelização do fundo da úlcera, evitando a cicatrização. O desbridamento não é um procedimento Oestérile, já que a maioria das úlceras apresenta intensa colonização bacteriana. Geralmente, ele é realizado das seguintes maneiras: → Cirúrgico: aqui são utilizados bisturi e tesouras para remoção do tecido desvitalizado. É a forma mais rápida e mais precisa de desbridamento e deve ser indicado sempre que houver suspeita de celulite ou sepse devido à possibilidade de complicações catastróficas. É o procedimento de escolha para úlceras com necroses extensas e espessas. Deve ser evitado somente nos casos em que há chance de lesão de estruturas como osso, tendões e articulações. Um bom exemplo a ser citado é a úlcera em calcâneo, devido à proximidade com o osso. → Mecânico: é a retirada manual do tecido necrótico. É realizado, na maior parte das vezes, através da aplicação de gaze úmida em feridas secas. As compressas acabam por aderir à ferida e durante a sua retirada levam consigo partes de tecido necrótico e também tecido saudável. É um tipo de desbridamento doloroso não seletivo e, exatamente por isso, deve ser realizado com muito cuidado. É idealmente utilizado em úlceras com muito tecido necrótico solto (esfacelos). → Enzimático: consiste na aplicação tópica de enzimas proteolíticas como colagenase, fibrinolisina e desoxirribonuclease para remoção do tecido necrótico. Essas enzimas atuam acelerando o processo local de degradação do tecido necrótico. As substâncias tópicas podem provocar irritação da pele adjacente à ferida, bem como o aumento do exsudato. → Autolítico: o princípio é fechar o ferimento com curativo semioclusivo (transparente) ou oclusivo (hidrocoloide/hidrogel) e deixar que o próprio processo cicatricial degrade o tecido necrótico. Esse método é raramente utilizado no Brasil. O ferimento deve possuir pouco ou nenhum exsudato e a presença de infecção completamente descartada. Durante a realização do desbridamento, o médico deve buscar por sinais de infecção local e retirar as áreas suspeitas. Manifestações como celulite das bordas, descarga purulenta e secreção com odor fétido são bem sugestivas. A investigação da infecção é continuada após o desbridamento e envolve radiografias do local, hemograma, hemocultura e culturas do fundo da úlcera. Nessas, a presença de organismos maior do que 105 por grama de tecido é considerada infecção. Nos casos de suspeita de osteomielite a ressonância magnética é um excelente exame para elucidação diagnóstica. O padrão-ouro para pesquisa dessa infecção seria a cultura de fragmentos de biópsia óssea. A antibioticoterapia deve ser iniciada de acordo com o tipo de infecção (partes moles/osteomielite) e terá cobertura para, pelo menos, Gram-positivos de pele e anaeróbios. CUIDADOS LOCAIS FIGURA 5. LARVAS DE LUCILIA SERICATA. SAIBA MAIS Biocirurgia Existem situações em que a retirada precisa do tecido necrótico é necessária, mas o desbridamento cirúrgico está contraindicado devido à exposição de estruturas como tendões, ossos ou articulações. Uma opção nesses casos é a aplicação de larvas de algumas espécies de mosca (ex.: Lucilia sericata) na ferida. Essas larvas produzem enzimas capazes de destruir o tecido necrótico sem que o tecido são seja afetado, promovendo um desbridamento surpreendentemente eficiente. São os cuidados diários que devem ser tomados com as úlceras de pressão. São frequentemente relegados à enfermagem. No entanto, o médico sempre deve avaliar a úlcera, bem como fazer orientações diretas sobre o tipo de curativo a ser empregado. O que devemos observar no exa me da úlcera? ● Aspecto geral da úlcera, identificar o tipo de tecido no fundo da úlcera; ● Aspecto do curativo; ● Avaliar pele adjacente à úlcera; ● Se há presença de dor e se o seu controle está adequado; ● Busca ativa de complicações, como infecção local. Como avaliar a evolução do tratamen to? A evolução da úlcera é anotada diariamente em detalhes no prontuário do paciente. Para uma avaliação menos subjetiva do ferimento, é comumente utilizado o escore "PUSH", que leva em consideração características da úlcera como o tamanho, tipo de tecido no fundo da úlcera e presença de exsudato. Tipo de tecido do fundo da úlcera (Escore 0) – ferida fechada ou recoberta: a ferida está completamente coberta com epitélio (nova pele). (Escore 1) – tecido epitelial: para as feridas superficiais, aparece como um novo tecido róseo ou brilhante (pele) que se desenvolve a partir das bordas ou como ilhas na superfície da lesão. (Escore 2) – tecido de granulação: tecido de coloração rósea ou vermelha, de aparência brilhante, úmida e granulosa. (Escore 3) – esfacelo: tecido de coloração amarela ou branca que adere ao leito da ferida e apresenta-se como cordões ou crostas grossas, podendo ainda ser mucinoso. (Escore 4) – tecido necrótico (escara): tecido de coloração preta, marrom ou castanha que adere firmemente ao leito ou às bordas da ferida e pode apresentar-se mais endurecido ou mais amolecido, comparativamente à pele ao redor. É importante lembrar que a cicatrização de feridas é realizada pela granulação, reepitelização, contração e formação de cicatriz seja qual for a sua classificação. Esses processos acontecem mesmo por sobre os músculos. Dessa forma, não existe um desesca lonamento no estadiamento de úlceras. Uma úlcera do tipo III não regenera para uma do tipo II para posterior cicatrização. Ela cicatriza diretamente por segunda intenção. Como fazer o curativo? Que téc nica utilizar? O curativo de uma úlcera de pressão deve ser trocado todo dia. A ferida deve ser lavada com solução fisiológica e cautelosamente limpa com gazes. Não se deve aplicar degermantes tópicos diretamente sobre a ferida. Cabe lembrar que os cuidados diretos com a úlcera não são um procedimento "estéril", não necessitando de campo, capote ou luvas estéreis. O tipo de curativo a ser utilizado dependerá das características da úlcera. Úlceras com grande quanti dade de exsudato Deve ser realizado um curativo do tipo absortivo. O desejado é que a maior parte do exsudato seja absorvido, mas que o ambiente tecidual permaneça ainda com umidade suficiente para uma cicatrização adequada. São empregados com essa finalidade os alginatos de cálcio, as espumas e as hidrofibras. Úlceras secas A ausência de umidade impede a distribuição de fatores de crescimento local que estimulam a reepitelização da ferida. Dessa maneira, alguma umidade local é desejada e pode ser obtida através de curativos com gaze umidificada com soro fisiológico, filmes transparentes, hidrocoloides ou hidrogéis. CUIDADOS GERAIS São os mesmos que já foram referidos para prevenção da úlcera de pressão. Ênfase deve ser dada aos métodos de redistribuição de pressão e no controle dos fatores de risco modificáveis. CUIDADOS CIRÚRGICOS O fechamento cirúrgico das úlceras de pressão pode ser realizado das seguintes maneiras: ● Fechamento direto; ● Fechamento com enxerto; ● Fechamento com retalho. SAIBA MAIS Curativos vacuoassistidos ● Um novo de tipo de curativo vem revolucionandoa abordagem das úlceras de pressão. Os curativos vacuoassistidos, utilizados inicialmente em paciente peritoneostomizados, vêm sendo aplicados com grande sucesso no manejo das úlceras de pressão. Trata-se de aplicação de uma pressão subatmosférica de maneira constante ou intermitente sobre um curativo à base de esponja. Esse curativo permite a diminuição do tamanho da ferida com indução ativa da formação de tecido de granulação e cicatrização por segunda intenção sem necessidade de enxertia ou aplicação de retalho. Eles necessitam de troca menos frequente, diminuindo tanto o desconforto do paciente quanto da equipe de enfermagem. Quando comparado aos curativos convencionais, ele demonstrou que é capaz de, além de aumentar os percentuais de cura, diminuir o número de bactérias que colonizam a ferida e também a sua variedade. Poucas são as contraindicações a esse método, sendo a anticoagulação uma contraindicação relativa. Maravilhoso, não? No entanto, há um porém. Permanece sendo um tratamento demasiadamente caro e não há, até o momento, estudos que comprovem o seu custo-benefício. O fechamento direto é raramente utilizado, já que cria tensão na sutura. Lembre-se de que o ferimento já é exposto à pressão óssea, o que pode alterar significativamente o prognóstico da cirurgia. O emprego de enxertos por ser efetivo, entretanto, possui indicações limitadas. Como não possuem vascularização própria, os próprios fatores que levaram à úlcera provavelmente provocaram isquemia no tecido enxertado. São utilizados em pacientes com úlceras rasas, leitos bem vascularizados e que não estejam sujeitos a forças de cisalhamento (grande minoria dos pacientes). O fechamento com retalho é a cirurgia mais comumente empregada, já que sua espessura e vascularização próprias permitem melhores resultados. Os retalhos mais utilizados são o miocutâneo e o fasciocutâneo, ambos com suas desvantagens específicas. Enquanto o músculo apresenta uma boa vascularização, ele é muito mais sujeito a nova isquemia pela manutenção da pressão. A fáscia é menos sujeita a isquemia, no entanto é menos resistente às forças de cisalhamento e à pressão em si, além de possuir uma vascularização menos "robusta". Quando indicar a cirurgia? Todo paciente com úlcera em estágio III ou IV deve ser avaliado para a necessidade de cirurgia. A avaliação deve ser individual e baseada nos fatores de risco apresentados pelo paciente. Não existe fórmula mágica para saber se um paciente é cirúrgico ou não. É importante perceber que a maioria dos pacientes submetidos à cirurgia apresentam recidiva local a despeito do reparo realizado. Assim, sempre é necessário reavaliar se as medidas conservadoras estão sendo adequadamente realizadas antes de indicar a cirurgia para fechamento da úlcera. Qual cirurgia realizar? A indicação do tipo de cirurgia está diretamente ligada com a localização da úlcera de pressão. Independentemente do local, algumas orientações devem ser seguidas: ● O retalho deve ser grande, maior do que o necessário para fechar a úlcera. Em caso de recorrência ele pode ser avançado novamente; ● Como as linhas de sutura são a parte mais fraca da reconstrução, deve-se evitar que as mesmas passem pelos pontos de pressão. Vamos ver, sucintamente, o manejo cirúrgico das principais úlceras de pressão. Úlceras sacrais São úlceras comuns em pacientes que permanecem por períodos prolongados em decúbito dorsal. O tratamento de escolha é o retalho miocutâneo de glúteo máximo. O tempo inicial da cirurgia consiste no desprendimento da inserção óssea de todo ou parte do músculo. Após, pode se avançar ou rodar o músculo de forma que o mesmo cubra a região da úlcera. O retalho pode conter somente o músculo ou levar a pele junto consigo Úlceras isquiais São geralmente secundárias ao uso de cadeira de rodas sem acolchoamento adequado ou com mudanças de posição insuficientes. Aqui existe uma taxa anormalmente alta de recidiva já que a grande maioria dos pacientes retorna a se expor às mesmas condições no pós-operatório. A escolha do procedimento é variada, mas devemos considerar que o procedimento a ser realizado não deve atrapalhar futuras cirurgias no mesmo local. As técnicas classicamente utilizadas são o retalho em V-Y do jarrete e a transposição do segmento inferior do glúteo máximo, obedecendo o trajeto da artéria glútea inferior. No retalho V-Y de jarrete, a pele e músculos da parte posterior da coxa são seccionados em "V" e avançados até que a região da úlcera seja completamente coberta. Após, é realizada a síntese dos tecidos em "Y". Um pouco abstrato não? Preste atenção na sequência (FIGURA 6). FIGURA 6. (FIGURA 7). Já a transposição do segmento inferior do glúteo máximo é mais parecida com a técnica empregada nas úlceras sacrais. A diferença é que aqui será utilizada a parte inferior do músculo. Uma vez desinserido, o segmento muscular é rodado, com ou sem a pele, de forma que fique por sobre a região acometida FIGURA 7. (FIGURA 8). Úlceras trocantéricas Estão relacionadas ao decúbito lateral e a cadeiras de roda desproporcionais ao usuário. O retalho de escolha é o miocutâneo do músculo tensor da fáscia lata. Durante a cirurgia o músculo é seccionado em sua extremidade distal e rotacionado ou transposto em direção à úlcera. A pele acompanha o músculo em conjunto FIGURA 8. (FIGURA 9). TRATAMENTO – RESUMO Estágio I: é o alerta que uma lesão mais grave pode ocorrer. Cuidados locais + revisão das medidas de prevenção. Estágio II: desbridamento e avaliação de infecção + cuidados gerais + cuidados locais. Estágio III: desbridamento e avaliação de infecção + cuidados gerais + cuidados locais — avaliar indicação cirúrgica. FIGURA 9. Estágio IV: desbridamento e avaliação de infecção + cuidados gerais + cuidados locais — avaliar indicação cirúrgica. VIDEO_02_CPMED_EXTENSIVO_APOSTILA_15