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- ÍNDICE - ABDOME/GENITU RINÁRIO PARACENTESE INDICAÇÕES CONTRAINDICAÇÕES MATERIAL TÉCNICA COMPLICAÇÕES AVALIAÇÃO COMPLEMENTAR ABDOME/GENITU RINÁRIO PARACENTESE A paracentese é um procedimento simples, bastante realizado nas enfermarias clínicas e cirúrgicas. Pode ser diagnóstica (estabelecer causa de ascite) ou de alívio (retirada de maior volume de líquido em paciente com ascite de grande monta). Há de se ressaltar ainda o importante papel deste exame nos pacientes cirróticos que internam com descompensação de seu quadro clínico, nos quais a paracentese é de fundamental importância para estabelecer ou afastar o diagnóstico de PBE. Sempre que possível, a paracentese deve ser guiada por ultrassonografia, particularmente em ascites de pequena monta, a fim de evitar lesões acidentais de vasos, alças intestinais ou bexiga. Na prática, a maioria das paracenteses envolve ascite de grande monta, sendo realizada “às cegas”, ou seja, sem ultrassonografia. VIDEO_01_CPMED_EXTENSIVO_APOSTILA_23 INDICAÇÕES ● Ascite de início recente: diagnóstico do tipo de ascite; ● Suspeita de PBE; ● Terapêutica (paracentese de alívio). CONTRAINDICAÇÕES Absolutas ● CIVD; ● Evidências clínicas de fibrinólise. Relativas ● Gestação; ● Aderências de alças intestinais; ● Obstrução intestinal — passar CNG antes da paracentese; ● Distensão vesical — passar cateter vesical antes da paracentese; ● Não puncionar sítios infectados, com hematomas, cicatriz cirúrgica ou com vasos ingurgitados visíveis. VIDEO_02_CPMED_EXTENSIVO_APOSTILA_23 MATERIAL A paracentese deve ser um procedimento estéril. Serão utilizados: ● Gorro e máscara. Óculos de proteção são opcionais; ● Capote, luvas e campo fenestrado estéreis; ● Material para degermação e antissepsia (ex.: clorexidina degermante + tópico, ou povidine degermante + tópico); ● Kit estéril para antissepsia com gaze, cuba e pinça própria (ex.: Foerster, Cheron); ● Anestésico local, agulha 22G e seringa 5–10 ml para anestesia; ● Cateter periférico do tipo “Jelco” calibroso (ex.: 14 ou 16G) e seringa. TÉCNICA → Informe o procedimento ao paciente e obtenha seu consentimento. → Posicione o paciente em decúbito dorsal, preferencialmente com a cabeceira discretamente elevada. No caso de ascite pouco volumosa, o ideal é o semidecúbito lateral (45º) para o lado a ser puncionado. → Colocar máscara, gorro e realizar a degermação e antissepsia das mãos e antebraços com material apropriado (escova contendo povidine degermante, por exemplo), secando-as com compressas estéreis (geralmente disponíveis no kit junto ao capote). Vista o capote e calce as luvas estéreis, tomando o cuidado de não contaminá-las. → Prenda a gaze estéril na ponta da pinça própria (Foerster ou Cheron) e realize a degermação do sítio de punção com um degermante (três gazes) e, posteriormente, a antissepsia, utilizando o antisséptico tópico/alcoólico (mais três gazes). As nossas duas principais opções são o povidine degermante e tópico, e o clorexidina degermante e tópico. → Após a antissepsia, coloque o campo estéril sobre o paciente. → Observe, na figura a seguir, os melhores pontos para punção: ● Mais usado: dividir a distância entre a crista ilíaca anterossuperior e a cicatriz umbilical, inserindo a agulha na junção do 1/3 inferior com o 1/3 médio — algumas referências apontam para uma localização 5 cm cefálica e 5 cm medial à espinha ilíaca anterossuperior, o que dá praticamente no mesmo. O lado esquerdo é melhor que o direito (o ceco, à direita, é mais fixo que as alças contralaterais, aumentando o risco de perfuração); ● Opção: 2 cm abaixo da cicatriz umbilical; Obs.: na paracentese guiada por ultrassonografia, obviamente não vamos precisar puncionar exatamente esses pontos. O próprio exame nos mostrará os sítios com maior acúmulo de líquido e maior segurança para punção. → Existem técnicas especiais para a inserção da agulha, de modo a evitar o extravasamento de líquido ascítico após o procedimento. Uma é a inserção formando ângulo oblíquo com a pele, de modo que pele e peritônio sejam perfurados em posições distintas (vide setas da ). A outra é a “técnica em Z”: a punção é feita perpendicular à pele, porém esta é puxada 2 cm em direção caudal antes da inserção da agulha. Após a retirada do cateter, a pele volta à sua posição normal (vide ). Figura 1 - Ponto ideal para paracentese. FIGURA 2 FIGURA 2 VIDEO_03_CPMED_EXTENSIVO_APOSTILA_23 ● A primeira agulha a ser inserida é a mais fina, de 22G, que será utilizada para anestesia: primeiro é feito um “botão”, para posterior anestesia do subcutâneo e do peritônio, sempre aspirando antes de injetar o anestésico. Você já pode tentar localizar o líquido ascítico com essa agulha! ● Após a anestesia, inserir o jelco conectando à seringa, utilizando o mesmo orifício da anestesia. Idealmente, imagine o abdome do paciente (geralmente globoso) como uma grande esfera e aponte para o centro da mesma. Uma vez atingido o líquido ascítico, avance mais 2–5 mm, cuidadosamente, antes de retirar a agulha, deixando apenas o cateter. O que vem a partir daí depende do nosso objetivo: ● Paciente já cirrótico com suspeita de PBE: 20 ml geralmente são suficientes para Figura 2. citometria total e diferencial e cultura; ● Paciente com ascite a esclarecer: retirar 40–60 ml para citometria, bioquímica, bacterioscopia (Gram e Ziehl-Neelsen) e culturas (BK, bactérias, considerar fungos). Para a citologia oncótica, é interessante retirar o maior volume possível de líquido, a fim de aumentar a sensibilidade do exame. Para tal, podemos adaptar nosso cateter a um tubo coletor, que levará o líquido ascítico até um recipiente próprio; ● Paracentese de alívio: após punção, adaptar cateter a tubo coletor, que levará o líquido ascítico até um recipiente próprio. Não confunda: Citometria = contagem de células (observar se há predomínio de mono ou polimorfonucleares, além dos critérios para PBE); Citologia (oncótica) = pesquisa de células neoplásicas no líquido — na técnica mais usada (cell block), o líquido é centrifugado, sendo a parte mais densa que contém as células, incluída em blocos de parafina para confecção de lâminas. Lembre que é necessário repor albumina em caso de drenagem de mais de 5 litros de líquido ascítico. E se o líquido ascítico parar de sair? ● Reposicionar delicadamente o cateter, sem retirá-lo (pode estar momentaneamente obstruído por omento ou alça intestinal); ● Colocar o paciente em decúbito lateral (para o lado da paracentese); ● Exercer discreta compressão sobre a parede abdominal; ● Após o procedimento, retirar o cateter e cobrir a área com curativo compressivo. Atenção! Toda paracentese de alívio em que for retirado volume superior a 5 litros, é necessária a reposição de albumina. Albumina humana a 20%: repor 6 a 8 g/L (litro de líquido ascítico retirado). COMPLICAÇÕES São raras, incluindo hemorragia, hematoma, perfuração intestinal, perfuração vesical e perda contínua de líquido. Mas como prevenir estas complicações? ● Hemorragia/hematoma: não puncionar pele com vasos ingurgitados visíveis. Corrigir distúrbios da hemostasia antes do procedimento (controverso); ● Perfuração intestinal: preferir lado esquerdo (o ceco, à direita, é mais fixo que o sigmoide, aumentando o risco de perfuração à direita), evitar sítios de cicatriz cirúrgica (pode haver aderência de alças) e instalar CNG antes da paracentese em caso de obstrução intestinal; ● Perfuração vesical: pedir que o paciente urine antes do procedimento, ou instalar cateter vesical antes da paracentese; ● Perda contínua de líquido após retirada de cateter: puncionar pele e peritônio em pontos diferentes (agulha oblíqua ou técnica em Z). Costuma responder bem à compressão com curativo. AVALIAÇÃO COMPLEMENTAR Na paracentese diagnóstica, o principal dado laboratorial para análise é o gradiente de albumina soro-ascite (GASA ou SAAG = Albumina Sérica menos Albumina do Líquido Ascítico): ● ≥ 1,1 = transudato = hipertensão porta (cirrose hepática, ascitecardíaca); ● < 1,1 = exsudato = doença peritoneal (exceto no caso de proteína total sérica < 2,5 g/dl, quando sugere ascite nefrótica). Entre as ascites exsudativas com proteína sérica > 2,5 g/dl, as principais causas são: ● Tuberculose peritoneal (testes específicos para BK +); ● Carcinomatose peritoneal (citologia oncótica +). Além disso, a bioquímica também pode trazer dados importantes: ● Proteína total, glicose, LDH: caso elevadas, ajudam a diferenciar a Peritonite Bacteriana secundária da primária (PBE); ● Triglicerídeos: aumentados na ascite quilosa; ● Bilirrubinas: aumentadas na ascite biliar; ● Amilase: aumentada na ascite pancreática. Quanto à citometria: ● Contagem elevada de leucócitos: predomínio de polimorfonucleares sugere infecção (ex.: PBE = PMN > 250/mm³), enquanto predomínio de mononucleares (linfócitos e monócitos) sugere tuberculose peritoneal, neoplasias e colagenoses; ● Grande número de hemácias pode ocorrer devido à acidente de punção, neoplasia, tuberculose... Para avaliar PBE em líquido hemorrágico, corrigir contagem de PMN pelo número de hemácias (para cada 250 hemácias, subtrair um PMN); ● Citologia oncótica: positiva na carcinomatose peritoneal por cânceres gastrointestinais e de ovário, porém negativa nos hepatocarcinomas. Quanto maior o volume analisado, maior a sensibilidade; ● Exames bacteriológicos: bacterioscopias (Gram e Ziehl-Neelsen) têm baixa sensibilidade. A cultura é um pouco melhor, mas para tuberculose peritoneal o método diagnóstico mais sensível é a biópsia.